No dia seguinte, acordei cedo e tomei um banho bem demorado para tirar a preguiça. Na noite anterior, tanto a Júlia quanto o Pedro dormiram aqui em casa. Minha amiga me ajudou a cuidar dele que estava muito bêbado. Tinha pena de quando ele acordasse. Já eu, graças a minha genética, dificilmente tinha ressaca, no máximo acordava fisicamente cansado, mas não pela bebida, e sim por ter dançado a noite inteira. Ao voltar para o quarto, o dia já estava claro o suficiente, então resolvo abrir as janelas para acordar meus amigos sem precisar chamá-los. Aos poucos percebo os dois se mexerem, mas nenhum sequer se levantam.
Desço as escadas em direção a cozinha e cumprimento minha mãe que cuidava do almoço. Como não tinha nada preparado para o café da manhã, decidir ir até a uma padaria próxima a minha casa para comprar pães e salgados. Ao voltar para casa, a Júlia já havia acordado, e estava na cozinha conversando com minha mãe, enquanto tomava água.
— Sobre o quê as duas estão conversando? - Pergunto colocando as sacolas em cima da mesa de jantar e retirando o que tinha dentro.
— E te interessa? - Pergunta minha mãe — Isso é conversa de garotas.
— Só tem a Júlia de garota aqui. A senhora já está velha demais pra ser considerada isso! - Por estar de costas, não conseguia ver o que elas estavam fazendo, apenas fui surpreendido pelas sandálias da minha mãe passando centímetros a minha frente.
— Endoidou foi? - Pergunto surpreso.
— Me chama de velha de novo que a próxima vai ser certeira. - Finalizou ela. Às vezes, minha mãe podia perder a sanidade.
— Ju, senta aqui! Trouxe comida da padaria - Digo terminando de arrumar a mesa. — Vou chamar o Pedro também.
— Não vejo a hora de contar para ele a vergonha que ele passou ontem. - Diz minha amiga, um dos nossos passatempos favoritos era fazer Pedro perder o Juízo.
Já no andar de cima, empurro a porta do meu quarto que estava entreaberta e observo ele dormindo. Pedro sempre foi espaçoso, por isso sempre que vinha dormir em minha casa, dormia sozinho em um colchão, pois era extremamente doloroso dormir com aquele homem do lado, porquê ele não parava quieto nem dormindo. Ele estava deitado de bruços, e metade do seu corpo estava para fora, enquanto o cobertor, se encontrava enrolado em seu pescoço. Olhando aquela cena reparei no bumbum do meu amigo, o melhor presente dado pela puberdade a ele. Por conta das suas inúmeras mudanças de posições para dormir, sua calça desceu um pouco, deixando visível sua boxer sobre sua calça jeans apertada.
— Pedro, acorda! - Digo algumas vezes — Pedro, vem tomar café! - Chamo mais uma vez, até ele se mexer e começar a despertar soltando um curto gemido.
— Eu e a Júlia estamos te esperando lá embaixo para comer. Não demore. - Digo me encaminhando a porta.
Era muito engraçado pensar às vezes em como a nossa amizade deu certo. Éramos completamente diferentes um do outro mas nos dávamos tão bem, além de sempre, cuidarmos um do outro.
— Ju, o que você acha de irmos a praia? Tá um sol enorme lá fora! - Digo voltando a mesa
— Eu ia adorar, vamos sim. - Diz mordendo uma fatia do seu pão recheado — Cadê o Pedro?
— Já deve está descendo! - Só foi concluir minha frase e meu amigo apareceu descendo as escadas. — Olho ele aí.
— Minha cabeça tá doendo pra caralho. - Reclama enquanto desce os últimos degraus.
— Enche a cara até cair novamente. - Ironizo — Ontem você passou de todos os limites. Além de passar vergonha também. - Ele senta, mas não diz nada, apenas coloca as mãos na cabeça com os cotovelos apoiados a mesa.
— Pois é, você passou o maior vexame ontem,
Q ficou pelado e tudo! - Júlia as vezes quando queria, era má. E como bom amigo que sou, coloquei mais lenha na fogueira.
— Eu fiz o que? - Pergunta meu amigo espantado. — Isso é verdade?
— Por quê mentiríamos? E isso nem foi o pior, o auge foi quando você começou a dançar. Vocês fez todas as coreografias de grupos de kpop completamente sem roupa. - Digo tentando fazê-lo surtar.
— Mas eu nem gosto de kpop. Com certeza vocês estão mentindo. E se eu fiquei não tem problema. Sou gostoso pra caralho!
— Convencido como sempre. - Rebate Júlia
Passamos bastante tempo na mesa, conversando enquanto estávamos comendo. Depois de terminarmos e recolhermos tudo, meus amigos foram tomar banho, como quase sempre eles estavam aqui, haviam algumas roupas e pertences deles aqui. No começo da tarde, decidimos ir para praia, fiquei em dúvida se deveria chamar o Marcos, mas achei que seria estranho andar com meu ex-namorado para cima e para baixo, depois de terminarmos. No final só foi eu, a Júlia, o Pedro, e a Cecília, uma amiga da faculdade. Pegamos o carro do meu pai, e o Pedro foi dirigindo. Fomos para uma praia pouco visitada e chegamos por volta das duas da tarde, o dia estava maravilhoso.
— Hoje eu só saio daqui com uma insolação. — Diz a Júlia, tirando seus shorts, expondo a parte de baixo do biquíni. Durante o percusso de carro, ela veio conversando bastante com a Cecília, sinal de que as duas se deram bem. — Cecília, você pode passar protetor nas minhas costas?
— Claro! Vem cá. - Cecília pega o protetor das mãos de Júlia e começa a espalhar o creme na minha amiga.
— Aproveita vai passando em mim, Ju - Digo entregando o meu protetor para ela, e ficando de costas.
— Eu quero que tu passe em mim também, mas eu não tenho protetor. - Comenta Pedro.
— Vem que eu passo o meu. - Digo revezando o protetor com a Júlia e espalhando nas costas dele. Estávamos em fileira um passando creme no outro, e a Júlia passando em Cecília depois. Estendemos as toalhas na areia e nos sentamos para comer e beber o que havíamos comprado.
— Quando fomos no mercado agora a tarde, eu percebi que havia sumido dinheiro da minha carteira. Vocês acham que alguém levou ontem quando eu estava apagado? - Perguntou Pedro. Eu e a Júlia nos olhamos com cumplicidade e começamos a rir. Acontece que fomos nós dois que pegamos o dinheiro dele para pagar a corrida de Uber na noite passada, achamos justo depois do trabalho que ele nos deu.
— E é assim? Vocês simplesmente metem a mão? Isso vai ter volta. - Ameaça-nos
— Eu concordo com eles, foi uma troca justa já que eles tiveram que te carregar e deixar a festa na metade. — Comentou Cecília
— Está vendo? Já senti que vamos ser grandes amigas. - Responde Júlia abraçando-a
E assim seguiu nosso dia com bastante sol, música e conversa jogada fora. Adorava quando passava o dia assim de bobeira, curtindo o mar, a natureza. E no final ainda fomos agraciados com um pôr do sol incrível. Na volta deixamos a Cecília em casa e seguimos para a da Júlia, que preferiu ir direto para a sua. Quando chegamos na minha casa, o Pedro estacionou o carro mas nós não descemos de imediato.
— Eu não vou entrar, vou seguir daqui para casa. - Diz ele — Mas eu queria falar com você antes. - A forma como ele estava falando me deixou apreensivo.
— O quê? Fala logo! - Digo apressando-o
— Eu tô indo embora amanhã, e quero que você venha comigo. — Confesso que sinceramente eu não esperava essa resposta do meu amigo.
— Como assim indo embora? Você vai se mudar? - Só de pensar na ideia de ter meu amigo longe fez meu peito doer.
— Calma, seu louco! Eu estou indo para Goiânia ver meu pai. Vou passar uma semana na fazenda dele e queria que você fosse comigo. - Esclareceu me deixando mais tranquilo.
— Ah sim. Da próxima vez seja mais direto. Eu pensei que, literalmente, você estava indo embora, quase me matou do coração.
— Claro que não vou embora. Sei que você não vive sem mim. - Pedro sorria.
— Eu estou na última semana de aula na faculdade, mas acho que não vai ter problema eu faltar, já que atingi as médias. Você chamou a Júlia? - Pergunto.
— Não quero aquela chata uma semana com a gente. - Diz desdenhando. Reagi surpreso aquela atitude dele, mas logo percebi que não passava de mais uma das suas brincadeiras idiotas, pois ele começou a rir — É claro que eu chamei. Mas ela não vai poder ir porque ficou presa as provas finais da faculdade.
— Ah, bom. Mas enfim, eu vou. - Concluo tirando o cinto e abrindo a porta do carro, ele faz o mesmo, trancando o carro e me entregando a chave logo em seguida. — A gente se vê.
Nos despedimos e ele partiu. Assim que entrei, encontrei com a minha mãe na sala, e aproveitei para contar da viagem. Ela até que reagiu bem, pediu apenas que eu me cuidasse. Depois disso, fui para o meu quarto s peguei meu laptop para escrever um e-mail para a minha professora, indo deitar logo depois. O dia havia sido longo, mas muito prazeroso. Mas agora só conseguia pensar nessa viagem que iria acontecer amanhã de manhã.