Capítulo 1 — Rey
Uma vida boa, com fama e dinheiro... era o que eu esperava como a maioria das pessoas. Um adolescente que gostaria de ser um ator. Desde criança eu participava de peças teatrais na escola. Tinha uma memória boa e, sempre conseguia decorar grandes falas. Fazia parte do grupo de teatro desde sempre.
Não tinha muitos amigos, exceto os que também faziam parte do grupo de teatro, todos eram mais velhos. Estava com 13 anos, na sétima série quando, uma aluna nova, vinda do interior entrou para o grupo. Ana era dois anos mais velha que eu. Foi amor à primeira vista, não um amor sexual. Em poucos meses, já éramos melhores amigos. Ana era linda, sua beleza chamava atenção de todo mundo. Passou a ser a protagonista, junto comigo em todas peças.
Ana não tinha pretensão de ser atriz, o que eu achava um desperdício, pois, ela tinha muito talento, além da beleza que a ajudaria muito. Foi Ana que me ajudou a descobrir que eu era gay. Quando ela me disse isso, eu fiquei chateado. Pensar em ser gay era um absurdo, mesmo no fundo sabendo que aquilo poderia ser verdade. Eu não tinha trejeitos, mas era verdade que eu não sentia atração por mulheres, a menos que eu me esforçasse muito.
Meus pais não aceitariam essa ideia, talvez a minha mãe, mas meu pai nunca. Fui criado naquele padrão de família tradicional. Tinha que estudar, fazer faculdade, casar, trabalhar, ter filhos e morrer. Sempre mantendo uma boa aparência. E meu pai sabia muito bem como manter a aparência de uma família feliz.
Meu pai era visto como o típico pai e marido perfeito. Mas a realidade era bem diferente. Não conversávamos muito, ele não gostava da ideia de ter um filho ator, mesmo adorando ver filmes e séries. Ele também não era um bom marido. Eu não acreditava que um bom marido pudesse ser infiel.
Minha mãe ao contrário era uma mulher guerreira, enfermeira em um hospital público, trabalhava naqueles horários doidos. Sempre fomos mais próximos e ela sempre me apoiou nas minhas escolhas. Não sabia se ela me apoiaria se eu escolhesse ser gay, como se existisse escolha para isso.
Eu não me preocupava, meu objetivo era me formar no ensino médio, me mudar para o Rio de Janeiro e fazer um curso de teatro. E essa ideia não agradava em nada aos meus pais. Minha mãe dizia que eu poderia ser ator, mas antes, teria que fazer uma faculdade, caso não desse certo essa vida de artista. Meu pai dizia que somente quando eu fosse adulto que eu poderia fazer o que quisesse, mas que não iria me manter em outra cidade para estudar teatro. Eu tinha alguns anos pela frente, então evitava discutir.
Aos 15 anos de idade, já terminando o primeiro ano do ensino médio, não tinha vida sexual. Os rapazes da escola que eram gays, alguns inclusive do grupo de teatro, não me atraíam, e com os garotos héteros, eu não tinha nenhuma chance. Às vezes, entrava na internet em salas de bate papo, conversava com alguns homens, nos masturbávamos pela câmera. Cheguei a encontrar com alguns, foi assim que recebi o meu primeiro boquete e peguei em um pau pela primeira vez. Depois de um tempo, tive coragem de chupar também, desde que o pau do cara fosse bonito e estivesse limpo. Mas sexo mesmo nada, ainda era virgem.
Naquele final de ano eu estava triste, Ana iria se formar. Ela entraria na faculdade e sairia do grupo de teatro da escola. Nada teria mais graça para mim. Ana me chamou para ser o seu par na festa de formatura, ela havia terminado recentemente um relacionamento. Daniel, seu ex, era lindo, o tipo de garoto popular que praticava esportes e era amigo de todos, apesar de um pouco metido. Sempre dizia para ela que se ele desse bobeira eu pegaria, ríamos bastante disso.
Ana também era virgem, dizia sempre que se guardaria para alguém especial, teve alguns namorados durante os três anos que estávamos na mesma escola, mas terminava o namoro porque os garotos sempre queriam mais dela, nunca estavam satisfeitos com beijos, sarros, punhetas e até alguns boquetes.
Era o dia da festa, estávamos na minha casa nos arrumando. Meu pai nos levaria ao salão. Ana estava linda, deixou meu pai babando. Eu olhei para ele com cara feia. Ele nunca tentou nada com a Ana, mas se ela desse alguma abertura, acho que ele não perdoaria. Nunca gostei quando ele falava de mulher comigo, primeiro porque eu não gostava e segundo por ser um desrespeito com a minha mãe.
Chegamos à festa, era um salão grande e bem arrumado. Já estava cheio, com os formandos e seus familiares. A família da Ana não foi à festa, pois moravam no interior. Ana morava apenas com sua avó, uma senhora de mais idade, morava sozinha desde que o seu marido faleceu, o avô da Ana. A dona Selma não quis morar com nenhum dos seus filhos, Ana achou uma boa vir para a cidade estudar e fazer companhia para a avó. Ideia que agradou a todos os familiares.
— Quem sabe hoje você não pega alguém? Tem muitos convidados bonitos. — Ana disse.
— Quem sabe? — Respondi sorrindo.
A festa estava ótima, eu não estava preocupado em pegar alguém, sabia que eu era novo demais para atrair olhares, meu rosto ainda infantil entregava os meus 15 anos.
Passamos horas bebendo e dançando juntos, até que resolvemos nos separar para sentir mais o ambiente, dar uma volta pelo salão. Reparei um rapaz bonito, não devia ter mais que 18 anos, não era aluno do colégio, estava vestindo um terno preto e sem gravata. Cumprimentei de longe e ele sorriu. Passei por ele, parei em uma ponta do salão, não demorou muito e ele veio até mim. Ficamos conversando por um tempo. Ele disse que tinha completado 19 anos no mês passado, estava na faculdade e procurava por um estágio. Contei para ele sobre os meus planos de ser ator e me mudar para o Rio. A conversa fluía de forma agradável.
— Vamos para um lugar mais tranquilo. — Ele disse.
Concordei e saí contente do salão, vi a Ana conversando com o Daniel. Eles estavam se abraçando, pareciam que tinham feito as pazes e reatado o namoro.
Sozinho no estacionamento com aquele garoto bonito, eu fui em sua direção para lhe dar um beijo. Ele desviou e sorriu, um belo sorriso. Ele tirava o seu cinto, desabotoava a sua calça, desceu o zíper e colocou o seu pau duro, fino e torno para fora.
— Vem. — Ele disse.
Eu não estava acreditando naquilo. Aquele cara que eu estava curtindo só queria receber um boquete.
— Deixa pra lá. — Eu o dispensei.
No caminho de volta para o salão não vi a Ana, entrei e fui procurá-la. Não a achava em lugar nenhum. Fiquei um tempo parado e bebendo até que ela me achou.
— Estava te procurando. — Eu disse.
— Aí que ódio. — Ela respondeu ignorando o que eu disse.
— O que aconteceu? — Perguntei.
— Aquele babaca. Chegou todo romântico e querendo voltar, dizendo que me amava. — Ela disse.
— E isso não é bom?
— Se fosse verdade seria. Estava tudo bem, estávamos ficando até que ele disse que era pra eu dormir com ele, num motel. Ele já havia reservado para depois da festa.
— Confiante ele.
— Escuta só Rey. — Ela disse, suas bochechas estavam vermelhas. — Eu disse que não. Ele me soltou e disse que hoje iria transar de qualquer jeito, que não terminaria o ensino médio virgem.
— Que babaca!
— Eu o mandei catar coquinho.
— Eu também não tive sorte. Estava conversando com um cara que parecia muito gente boa, mas só queria um boquete.
— Pra mim essa festa já deu. Vamos embora?
— Vamos, mas não sem antes... — Eu disse.
— O quê?
— Levarmos a nossa parte, afinal pagamos caro pelo convite. — Eu disse rindo.
Partimos, andando com nossas taças na mão, duas garrafas de champanhe, uma ainda fechada e a outra aberta. Não era perigoso andar pelo bairro àquela hora da noite, mas era algo que nunca faríamos se estivéssemos sãos. Depois de muito andar, conversar e terminar a primeira garrafa, pegamos um táxi e fomos para a minha casa.
Entramos em silêncio para não acordar os meus pais, fomos direto para o meu quarto e abrimos a outra garrafa.
— Sabe que eu acho que o Dani tinha razão. Entrar na faculdade virgem não deve ser legal. Vou fazer 18 anos, acho que eu já tinha que ter dado. — Ana disse rindo.
— Você não vai inventar de ligar pra ele agora. Amanhã vai estar toda arrependida. — Eu disse.
— Queria que fosse com alguém especial. Alguém que eu amasse. Tipo você. — Ana sorriu. — Por que tinha que ser gay?
— Talvez eu não seja 100% gay. — Eu disse sorrindo e pulando em cima dela.
Ficamos deitados na cama rindo, até que paramos e nos encaramos. Ana era linda. Não seria nenhum sacrifício. Eu a beijei. Ana retribuiu o beijo. Quando terminamos, voltamos a sorrir.
— Você quer mesmo fazer isso? — Ela me perguntou.
— Quero. — Eu respondi. — E você?
Ana respondeu que sim com a cabeça. Nos beijamos novamente, um beijo de verdade que me deixou excitado, olhei para baixo e vi o volume do meu pau, que na época tinha uns 17cm. Ana olhou e sorriu.
Nos despimos. Ficamos apenas com as roupas íntimas. Deitamos novamente e voltamos a nos beijar, deslizávamos as mãos pelos nossos corpos e nos apertávamos. Ana me deixou deitado e beijava o meu corpo, tirou a minha cueca e colocou o meu pau em sua boca.
— Rey, o que acha do meu boquete? — Ela perguntou.
— Horrível. — Eu respondi rindo. Ela me deu um tapa. Eu peguei a sua mão e chupei os seus dedos mostrando como deveria ser feito. Ela aprendeu e me dava prazer, eu gemi. — Agora sim, perfeito.
Ela sorriu e voltou a me beijar. Enquanto eu a abraçava, tirei o seu sutiã. Desci até os seus lindos seios, beijei e chupei os seus mamilos. Eu gostei daquilo. Ana gemia baixinho, ela também estava gostando.
Ana tirou a calcinha sem se levantar da cama.
— Agora é sua vez. — Ela disse, queria que eu a chupasse.
— Eu não sei o que fazer. — Respondi sorrindo. Chupar um pau era fácil, mas uma boceta?
— Explore com a sua língua eu vou te guiando. — Ela disse.
Achei aquilo um pouco nojento, mas fiz. Ana me dizia o que eu devia fazer, onde passar a língua e onde tocá-la, ela gemia e se contorcia. Senti quando ela gozou, senti os espasmos na sua boceta e ficando ainda mais lubrificada.
— Você tem camisinha? — Ela me perguntou.
Eu peguei a camisinha, coloquei no meu pau e deitei sobre ela, fazendo a posição de papai e mamãe. Ana encaixou o meu pau no seu buraco e pediu para que eu fosse bem devagar.
Senti o quentinho e o molhado da sua boceta, a cabeça do meu pau estava lá dentro, algo não me deixava ir além. Quando eu tentava Ana reclamava de dor. Passei a pincelar o meu pau em sua boceta até que ela voltou a gemer de prazer, aproveitei o momento e a penetrei de verdade. Ana gritou e eu a beijei, fiquei parado por um tempo rebolando sobre ela. A sensação era ótima, por algumas vezes quase gozei.
Ana permitiu que eu continuasse, comecei o entra e sai com o meu pau dentro da sua boceta enquanto nos beijávamos, ficamos alguns bons minutos assim. Senti que Ana estava mais uma vez para gozar, ela apertava firme as minhas costas e gemia. Eu meti mais rápido, me permitindo gozar também. Nos beijamos e eu saí de dentro dela.
— Foi bom pra você? — Eu perguntei sorrindo.
— Foi sim, foi especial. — Ela respondeu. — E pra você?
— Foi muito bom. — Eu respondi. — Mas ainda gosto de homem.
Eu e Ana disparamos a rir. Levei a mão até o meu pau para tirar a camisinha e ela não estava lá. Eu a procurava pela cama.
— O que está procurando? — Ana me perguntou.
— A camisinha. — Eu disse. Ana se levantou e me ajudou a procurar. Acendemos a luz e nada.
— Reynaldo, você colocou mesmo a camisinha?
— Claro! Você viu.
— Mas ela não está em lugar nenhum.
— Só tem um lugar então que ela pode estar. — Eu disse apontando para a sua boceta.
— Nem brinca.
— Deve estar aí dentro — Eu disse. — Deita aí, deixa eu ver.
Ana constrangida deitou na cama. Eu a tocava onde meu pau estava minutos atrás.
— Você não sente? — Perguntei.
— Não, apenas os seus dedos. — Ela disse.
— Achei. — Eu disse. Senti quando meu dedo tocou o látex. Com um pouco de dificuldade eu tirei a camisinha lá de dentro.
Depois de tudo passado começamos a rir do acontecido.
— Vamos ter história da nossa primeira vez. — Eu disse.
Ana sorria. Vestimos nossas roupas íntimas e dormimos ali abraçados. Meus pais não comentaram quando no dia seguinte, Ana tomou o café da manhã com a gente.
Sem as aulas e sem o grupo de teatro, nos encontramos poucas vezes. Ana foi para o interior passar as férias com os seus pais. Quando voltou, passou grande parte das férias procurando emprego. Ela já tinha passado no vestibular e conseguido um financiamento estudantil, mas precisava de ter renda. Nos encontramos já no final da semana. Ela estava abatida.
— Que cara é essa? — Eu perguntei assim que a vi.
— Não estou passando bem desde que voltei de viagem. Vomitando todo dia. Sem contar que tenho andado a cidade inteira deixando meus currículos. — Ana se explicava.
— Não deve ser algo que você comeu, senão já teria melhorado. Pode ser dengue. E só tem um tipo de remédio que pode tomar, senão piora. Vamos no posto de saúde, eu vou com você. — Eu disse.
Depois de muito insistir, Ana foi no posto. Uma consulta básica e pedidos de exame de sangue. Por sorte, dois dias depois estava pronto. Ana buscou o seu exame e foi para a minha casa.
— O que aconteceu? — Eu perguntei assustando vendo a minha amiga com os olhos inchados como se tivesse passado as últimas horas chorando. Ana não respondeu apenas me abraçou e chorou.
— Não importa, eu estarei do seu lado. — Eu disse. Imaginava que ela descobriu uma doença grave e provavelmente incurável. Peguei um copo de água e a entreguei.
— Rey, eu estou grávida. — Ela disse.
Me senti aliviado, pelo menos ela não estava morrendo. Ela me olhava com aquela cara ainda assustada, foi quando a minha ficha caiu.
— Grávida?
— É, não sei o que vou fazer. Você é só uma criança. Eu ainda sou uma criança. — Ana disse.
Por mais que nos achássemos adultos, diante de uma situação daquela éramos sim duas crianças, faltavam alguns dias para completar os meus 16 anos.
— Calma, daremos um jeito. — Eu disse.
— Que jeito Rey? Eu moro com a minha avó, como vou cuidar de uma criança e de uma senhora idosa? Como vou trabalhar e fazer faculdade? Minha vida acabou.
— Podemos nos casar. Eu te ajudo nisso. — Eu disse.
— Me poupe Rey, você é uma criança e é gay. — Ana disse.
Não gostei de ser chamado de criança, não com essa conotação. Fui muito homem para fazer aquele filho. Resolvi relevar diante ao desespero da minha amiga.
— Vou falar com a minha mãe. Vamos pensar nisso juntos. — Eu disse.
Minha mãe e meu pai chegaram praticamente juntos naquele dia. Avisei que a Ana jantaria com a gente e que tínhamos algo importante para dizer. Meus pais olharam desconfiados e sorrindo. Acredito que eles imaginaram que iríamos dizer que estávamos namorando.
Fiquei na dúvida se dava a notícia antes do jantar e os fizesse perder o apetite ou depois e eles terem uma má digestão. A falta de coragem me fez postergar. Antes de sairmos da mesa, minha mãe perguntou qual era a novidade.
— Não é bem uma novidade, é uma notícia e não sei bem como vocês vão reagir. — Eu disse deixando meus pais preocupados.
— O que foi meu filho? Algo grave? Você e a Ana mal tocaram na comida. — Minha mãe disse. Meu pai olhou de rabo de olho para os nossos pratos.
— A Ana está gravida. — Eu disse de uma vez.
Meu pai fechou a cara, era claro que ele achou aquilo um absurdo, uma garota solteira grávida era um horror para ele, talvez não pior que ter um filho gay. Minha mãe deu um sorriso sem graça.
— Achei que agora que a Ana estava solteira vocês iriam começar um namoro, sempre achei linda a amizade de vocês. — Minha mãe disse. — Voltou com o Daniel minha filha?
— Não senhora. — Ana respondeu.
— Ele já sabe? — Meu pai perguntou.
— Não senhor. — Ana respondeu.
— Tem que falar com ele. Ele tem que assumir tudo. Não é porque você está sem os seus pais aqui que algum garoto vai abusar de você. Se precisar eu vou falar com ele. — Meu pai disse. Fazendo o papel do pai da Ana.
— O Daniel não é o pai. — Eu disse.
— Meu Deus Ana, quem é o pai? — Minha mãe perguntou.
— Eu mãe. Eu sou o pai. — Eu disse.
— Mas você é uma criança. — Minha mãe disse.
Estava cansado de ouvir aquilo, terceira vez no mesmo dia e não foi a última.
— É meu o filho. Aconteceu, foi no dia da festa, que a Ana dormiu aqui. — Eu disse.
— Por que não se protegeram? — Minha mãe perguntou. Ana chorava baixinho.
— Usamos camisinha, mas algo deu errado. Ela escapou. — Eu disse constrangido.
— E quem já sabe disso? — Meu pai perguntou.
— Só vocês, ficamos sabendo hoje. — Eu disse.
— O que vão fazer? Se casar ou tirar? — Meu pai perguntou.
— Ronaldo! — Minha mãe o censurou. — São duas crianças.
— Nenhum dos dois. — Eu disse.
— Ou casa ou tira. — Meu pai disse, ignorando a minha mãe.
— Não. — Ana disse. — Não vou tirar esse bebê e não vamos nos casar, nós somos apenas amigos. Não vou me casar só que estou grávida.
— Prefere ser mãe solteira? — Meu pai perguntou.
— Ronaldo, chega! — Minha mãe disse se levantando da mesa e colocando os pratos na pia. Meu pai se calou. — O corpo é da Ana e ela decide o que vai fazer.
— É um absurdo vocês, todos religiosos cogitarem um aborto. — Eu disse bravo. — Tirar uma vida? As coisas mais absurdas da igreja vocês seguem, mas quando lhes convém, resolvem ignorar? Meu Deus, estamos no ano 2000.
— Meu filho, não é isso. — Minha mãe disse.
— Eu sei que você não pensa assim, mãe. — Eu disse e me virei para o meu pai. — Você acha um absurdo uma mãe solteira, acha um absurdo uma pessoa homossexual, acha um monte de absurdo por aí, mas aborto pode? Ser infiel pode? — Eu disse.
— Me respeita moleque. — Meu pai berrou.
— Então que o Senhor se dê ao respeito. Se quer seguir o que prega a sua igreja, siga em tudo, não só o que lhe convém. — Eu disse. Deixando o meu pai calado. — Eu e Ana vamos ter esse bebê.
— E vai sustenta-lo como? — Meu pai perguntou.
— Se vocês não puderem ajudar, nós daremos um jeito. — Eu disse.
— É claro que vamos meu filho. — Minha mãe disse.
Encerramos a discussão. Ana voltou no final de semana para a casa dos pais e deu a notícia. Eles encararam melhor do que o meu pai, pelo menos foi o que ela me disse. Seus pais a convenceram a ficar em sua cidade, junto da família, Ana tinha alguns irmãos mais novos, sua mãe era dona de casa e poderia ajudar a cuidar da criança. Uma de suas primas iria se mudar para a casa da avó, assim como Ana fez, iria estudar e fazer companhia para a dona Selma.
Na escola, não demorou muito para que eu ficasse popular, como o cara que fez um filho na gostosa da Ana. Foi graças a essa fama que um cara muito gato do terceiro ano se aproximou de mim. Anderson era um cara bonito, sarado, e jogava futebol.
Chegou até mim perguntando da Ana, como ela estava, se havia mesmo voltado para o interior, se estava mesmo grávida e se eu era mesmo o pai. Depois de contar a história ele sempre se aproximava. Contava que gostava de ver as nossas peças, perguntava quando teria uma próxima, se eu gostava de futebol e me chamou para vê-lo jogar algumas vezes.
Percebendo a sua insistência em se aproximar de mim e imaginando a possibilidade de não ser uma simples amizade, eu aceitei. Anderson jogava bem, marcou um gol e no final do jogo veio até mim.
— Que bom que finalmente veio. — Ele disse.
— É, hoje consegui um tempo livre. Virei empregada doméstica dentro de casa. — Eu disse. Meus pais me pagavam por isso e eu juntava o dinheiro para ajudar a Ana.
— Que bom, fiz um gol pra você. — Ele disse rindo, eu sorri sem graça. — Vai fazer o que agora?
— Nada. — Respondi.
— Vamos lá pra casa, é aqui perto, a gente joga videogame e faz um lanche. — Ele me convidou. Fiquei na dúvida, mas depois da sua insistência, acabei aceitando.
Anderson saiu do vestiário em menos de dois minutos com mesma roupa do jogo e com a sua mochila na mão.
— Eu tomo banho em casa, não vou deixar você esperando. — Ele disse quando se aproximou e me chamou para ir embora.
Sua casa era mesmo perto, fomos conversando sobre o jogo, apesar de não ser bom em campo eu gostava de futebol.
— Preciso de um banho. — Ele disse assim que entramos na sua casa que estava vazia.
Fiquei parado na sala enquanto ele andava de um lado para o outro, jogando a mochila no quarto, buscando a toalha na lavanderia. Voltou apenas de cueca e demostrando um belo volume. Anderson entrou no banheiro e ligou o chuveiro.
— Reynaldo! — Ele me chamou.
— Oi. — Eu disse aparecendo na porta do banheiro. O box de vidro era opaco. Anderson estava lá dentro e eu via sua silhueta.
— Entra aí, vamos conversando. — Ele disse.
Entrei tímido e me sentei no sanitário. Anderson abriu uma greta do box para conversar melhor comigo. Consegui ver o restante do seu maravilhoso corpo que estava escondido pela cueca. Ele estava excitado e vendo aquilo também me excitei. Ele queria me provocar, lavou bastante o pau. A conversava continuava, sobre as meninas gatas da escola, sobre as do grupo do teatro e tentava arrancar de mim como a Ana era na cama.
Anderson desligou o chuveiro e abriu o box se expondo completamente, inclusive o seu pau. Ele se enxugava e sorria.
— É isso que dá ficar conversando sobre essas coisas. — Ele disse.
Eu sorri de volta, esperei ele sair do banheiro para me levantar, não tinha motivos, mas estava sem graça de mostrar que também estava excitado. Apesar de estar claro o objetivo dele em me levar até a sua casa, existia 1% de chance de eu ter entendido tudo errado.
Anderson colocou uma bermuda larga sem cueca e ficou sem camisa. Disse que eu podia ficar à vontade também. Mas fiquei sem graça, eu não tinha aquele físico que ele possuía. Começamos a jogar videogame e Anderson sempre voltava no assunto de mulheres. Seu pau estava duro, acho que ele permanecia excitado desde a hora do banho. Andersom pegava nele e sorria.
— Acho que você vai ter que dar um jeito nisso daí. — Eu disse.
— É, preciso bater uma punheta. — Ele disse rindo pegando no pau. — Anima? Coloco um videozinho.
— Coloca aí. — Respondi sorrindo.
Não havia mais dúvidas, algo iria rolar. Meu coração estava disparado, Anderson seria a minha primeira pessoa do mundo real, não era como um encontro marcado pela internet em um shopping ou dentro de um carro. Aquilo era novo para mim e eu estava doido para experimentar.
Anderson colocou um filme pornô e trouxe um rolo de papel higiênico. Assim que o filme começou, ele tirou a bermuda e se sentou na beirada da cama, totalmente nu. Seu pau era bonito, pelos claros e bem aparados, suas pernas eram bronzeadas, do formato da bermuda para baixo mal tinham pelos, a parte tampada pela bermuda era branca. Sua bunda também branca, era grande e aparentemente muito dura, eu tive vontade de tocá-la.
— Fique à vontade. — Ele disse.
Abaixei a minha bermuda junto com a cueca até o meu pé. Anderson olhou para o meu pau duro e sorriu, não era muito diferente do dele, exceto pela nossa cor, o meu pau tinha a cor da sua pele bronzeada enquanto o dele era bem branco.
Depois de um tempo, ignorávamos o vídeo e nos encarávamos batendo nossas punhetas. Anderson passava a mão de leve pelo seu próprio corpo. Aquilo pareceu um convite para mim, mas tive medo em aceitar.
— Minha mão doeu. — Ele disse e eu sorri. — Bate pra mim.
Não pensei duas vezes e o toquei, sentir o seu pau na minha mão e escutar o seu gemido foi extremamente prazeroso. Anderson deitou na cama e deixava que eu o masturbasse.
— Me chupa Rey. — Anderson pediu. Foi a primeira vez que ele me chamou de Rey. Por mais que que eu quisesse, tive medo.
— Não posso fazer isso. — Eu disse.
— Por que não? Somos amigos, estamos dando uma mãozinha um para o outro.
— Mãozinha é uma coisa. — Eu disse. E mesmo assim, era só eu que estava dando uma mãozinha para ele.
— Relaxa Rey. — Anderson disse se levantando e me empurrando para eu me deitar em sua cama.
Ele segurou o meu pau e aproximou o seu rosto, passou a língua na cabeça do meu pau e deu um beijo. Eu quase gozei, senti meu pau se lubrificando. Anderson engoliu o meu pau e me chupava. Depois de um tempo ele mudou de posição trazendo o seu pau até o meu rosto.
Nos chupávamos ao mesmo tempo. Meu primeiro 69, não demorou muito, gozamos. Depois de saciados, Anderson preparou um lanche para gente e eu fui embora, ainda meio bobo e me sentindo apaixonado.
Como fazia diariamente, liguei para Ana e perguntei como ela estava. Contei da minha experiência com o Anderson, ela ficou feliz por mim e disse que também estava conhecendo alguém. Era um homem uns 10 anos mais velho, filho de um fazendeiro rico e que de acordo com ela, ele estava bem apaixonado.
Me aproximei cada vez mais do Anderson, sempre que ia para a sua casa, acabávamos nos chupando, nem precisava mais de um filme pornô.
— Seria estranho se a gente se beijasse? — Eu o perguntei no nosso terceiro encontro.
Anderson sorriu e me beijou. Nesse dia tivemos a nossa primeira vez.
Nus em sua cama, Anderson beijava todo o meu corpo, me virou de bruços e lambia a minha bunda, aquilo era gostoso. Ele tirou a língua e colocou o dedo. Do dedo ele enfiou o pau. Não foi nada gostoso, eu estava tenso e senti dor. A minha sorte foi que o Anderson não demorou muito para gozar.
Ele saiu de dentro de mim e deitou ao meu lado. Nos beijamos mais uma vez e ele desceu até o meu pau para me chupar.
— Eu também quero. — Eu disse. “Te comer”, não tive coragem de dizer. Anderson sorriu e se deitou de bruços.
Eu chupei a sua bunda como ele fez com a minha, depois o toquei. Quando me preparei para enfiar o pau para dentro dele, ele se virou. Me deixou deitado na cama e subiu em mim. Eu segurei meu pau e ele se sentou bem devagar. Depois de um tempo ele cavalgava, senti um prazer enorme e demorei para gozar. Anderson estava com o pau novamente duro e eu o tocava. Gozamos praticamente juntos.
Sexo com penetração era a nossa nova rotina, nos revezávamos sempre, Anderson me ensinou a sentir prazer também sendo passivo.
Antes das férias de julho, tivemos uma peça. Fui o protagonista, estava sem a minha parceira de palco, mas para minha surpresa, Ana foi com o namorado me assistir. Ela se encontrou com algumas amigas e exibia a sua barriga de seis meses.
Fiquei muito feliz em vê-la e também fiquei feliz com o apelido que ganhei naquele dia, galã. Apelido dado pelo Anderson e pela sua turma que foram assistir à peça, eu estava fazendo novos amigos. Como um galã que se preza, eu mantinha a minha sexualidade escondida, entrei na academia com aquela turma. Queria ter um corpo mais definido, como o de um ator novo que entrou em uma novela do horário nobre. Que por coincidência, além de parecermos muito fisicamente, tínhamos o mesmo nome.
No dia 17 de setembro de 2000, veio ao mundo o meu filho, exatos nove meses após a sua concepção. Quando eu o vi e peguei no colo, ele ainda não tinha uma semana de vida. Fomos visita-lo no primeiro final de semana após o seu nascimento. Eu senti aquele amor, algo grande e inexplicável que eu não tinha palavras, eu chorava como uma criança enquanto aquele bebê no meu colo olhava para mim com um sorriso no rosto, seus olhos azuis brilhavam.
Eduardo, era o nome dele. Foi fácil escolher o nome, brigamos apenas pelo apelido, eu queria Edu, enquanto Ana preferia Dudu. Minha mãe carregou o neto e brincava com ele.
— Olha que coisinha mais linda da vovó. — Minha mãe disse.
— Eu sei que é meu filho, mas ainda tem cara de joelho, ou de um velhinho. Mas tem um sorriso lindo. — Eu disse.
— Deixa de ser bobo, menino. — Minha mãe disse. — Você também era assim quando nasceu, agora está aí rapaz, homem, lindo.
— E agora... pai! — Eu disse.
Minha mãe estava certa, voltei no mês seguinte no feriado de outubro. Edu estava maior, com o seu rosto bem formado, pela clara como da Ana e cabelos escuros como os meus e os olhos que deixaram de ser totalmente azuis, passava a ter também uma tonalidade verde.
A cada nova visita era uma surpresa. Pelo menos uma vez por mês eu ia visitar a Ana e o meu filho. Ela estava muito feliz. O seu namoro estava sério e pelo que eu vi, o namorado tratava bem o meu filho.
Mais um ano se passou, passei para o terceiro ano. Anderson e seus amigos, ou seja, os meus novos amigos, também haviam se formado. Na escola estava sozinho mais uma vez. Ainda encontrava com os rapazes na academia, mas no decorrer do ano, um a um foram se afastando por conta da faculdade, dos estágios e dos novos amigos.
Eu e Anderson terminamos de forma natural, a convivência foi diminuindo, a intensidade dos beijos e sexo também. Não teve um pedido de separação, assim como não teve um pedido de namoro.
Mais experiente, mais velho, mais bonito e mais consciente do meu corpo e do que eu gostava, não foi difícil arrumar algumas paqueras. Eu não tinha a mesma cara e nem o mesmo jeito de quando tinha 15 anos. Dois anos, um relacionamento e um filho me fizeram amadurecer.
Infelizmente as visitas ao meu filho não foram tão frequentes como no ano anterior e isso me deixava triste. Nas férias de julho, Edu passou o mês inteiro comigo. Minha mãe adorou, até o meu pai curtiu o netinho em casa. Devolvê-lo foi triste.
Finalmente havia formado, o sonho de ir para o Rio de Janeiro estava distante, quase impossível. Eu teria que trabalhar para sustentar o meu filho. Foi esse o combinado com o meu pai.
Ana que me convenceu a não desistir do meu sonho. Disse que eu devia ir sim, que ela não estava precisando de ajuda financeira, que podia muito bem manter o nosso filho até eu me estabilizar no Rio.
— Quero te ver famoso e na TV, imagina o orgulho do Dudu vendo o pai em uma novela. Esse é o seu sonho Rey. Vai atrás dele. Sei que terá um belo futuro pela frente e sei que assim que tiver condições você volta a ajudar. — Ana me disse quando fui passar a virada de ano com ela.
Ana me mostrou também o seu anel, estava noiva. Havia sido pedida em casamento durante o Natal. Minha amiga estava radiante.
No final de janeiro, a contragosto do meu pai, fui para o Rio. Fiquei a primeira semana na casa de uma prima da minha mãe, tempo suficiente para visitar algumas repúblicas que eu já tinha visto na internet e antes de fechar, queria conhecer os moradores.
Achei uma com pessoas bacanas, próxima à escola para atores de um famoso diretor de TV, onde eu pretendia estudar. Aquela escola era a porta de entrada para muitos artistas na televisão. O curso não era barato, eu precisava de um emprego. Fazia alguns bicos de garçom, em uns bares famosos e em festas. Consegui juntar um bom dinheiro contando com as gordas gorjetas.
Em poucos meses iniciei o curso. Era maravilhoso, diferente de tudo que achava que sabia sobre atuar. Enquanto na escola eu era o melhor, ali eu não me destacava. Não consegui nenhum papel importante nas peças. Mas algumas campanhas publicitarias deram certo, inclusive em propagandas para TV.
Depois de um ano de curso, o famoso diretor me chamou para conversar.
— Reynaldo, você sabe que eu sou sincero. — Maia disse.
— Eu sei. — Percebi que vinha bomba.
— Você não é um bom ator. — Ele disse na lata. Senti caindo sobre mim um balde de água fria. — Você pode ficar aqui, refazer esse curso três ou quatro vezes e não vai adiantar.
Senti aquele nó na minha garganta, eu não queria chorar na frente dele.
— Você tem futuro, mas não como ator. Tem que se dedicar naquilo que você é bom.
— A minha vida inteira sempre quis ser ator. É a única coisa que eu sou bom e você me diz que eu não sou. — Eu disse segurando as lágrimas.
— Você não é, todos aqui são melhores do que você. — Ele disse. Eu abaixei a cabeça, não consegui segurar e lágrimas escorriam dos meus olhos. — Eu também, não sou um bom ator. Mas sou um bom diretor. E vejo muito de mim em você. Das peças que vocês preparam, a que você dirigiu foi a melhor, foi de nível profissional. Já tem um tempo que estamos reparando isso em você.
— O que você quer dizer? — Eu perguntei enxugando os meus olhos. Depois de ser massacrado, eu estava sendo elogiado?
— Largue o curso, faça um estágio comigo, acho que você tem muito potencial para ser um grande diretor. Eu não tenho um curso de diretores, então faça um estágio comigo.
“Filho da puta. Por que não disse isso antes de dizer que eu era um péssimo ator? ” — Pensei.
— Aceita filho? — Ele me perguntou.
— Mas é claro! — Eu respondi. Ele abriu os braços e me abraçou.
Era um estágio não remunerado, mas eu deixaria de pagar o curso e ficaria ali, vivendo aquilo que era a minha paixão e aprendo a fazer algo que segundo ele, eu possuía um talento natural.
A vida no Rio de Janeiro era maravilhosa, jovem, bonito, frequentando rodas de artistas, convivendo com pessoas fantásticas, de mente aberta, era quase a realização de um sonho.
Conheci muitas pessoas interessantes, homens, mulheres, jovens, velhos, famosos, não-famosos. Em muitos eventos haviam drogas, mas nunca usei nada muito pesado, participei de algumas orgias, mas sempre com proteção. Estava vivendo a minha vida, a minha juventude, aprendendo que o mundo era muito maior do que a bolha em que eu vivia. Sentia me realizando com isso.
Mais de um ano fazendo estágio, acompanhando o Maia na escola de atores, nas gravações de novelas e até mesmo na produção de um filme. Novamente ele me chamou.
— Seu estágio acabou. — Ele disse.
— Você está me demitindo ou me contratando? — Perguntei antes de deduzir o que passaria na cabeça daquele homem.
— Nenhum dos dois. É a hora de você caminhar sozinho. Te inscrevi para uma bolsa em Los Angeles. Vai estudar cinema. Quando voltar, você me procura. — Ele disse me deixando sozinho absorvendo tudo aquilo.
Voltei para casa, na minha cidade, havia tempos que não visitava os meus pais. Contei para a minha mãe a novidade que ficou muito feliz por mim. Meu pai não se importava.
Visitei também a Ana e o meu filho, ele estava um rapazote, lindo, iria completar 5 anos de idade.
— Vem no papai. — Eu o chamei. Ele não quis vir.
— Ele está tímido. — Ana disse.
Tive medo que ele tivesse esquecido de mim.
— Edu, você sabe quem sou eu? — Perguntei.
— Papai Rey. — Ele respondeu sorrindo. Não resisti àquele sorriso. E o abracei, mordia e o beijava. Edu sorria e gostava.
Passamos o dia brincando. Já era noite, estávamos sentados na sala quando Edu escutando o barulho de um carro gritou:
— Papai chegou.
— O que é isso? — Eu perguntei.
Ana me olhou sem graça, o seu marido estava chegando e entrava em casa. Edu pulava em seu pescoço.
— Oi Rey. — Francisco me cumprimentou com o meu filho em seu colo. Respondi apenas com um aceno na cabeça.
— Ele tem dois pais agora? — Eu perguntei.
— Rey, você tem que entender, o Francisco é o meu marido, é a figura paterna do Dudu. Ele sabe que você é o pai dele. Mas todos os amiguinhos dele têm um pai presente. — Ana disse. — E o Dudu te adora, adora falar do papai Rey, não é filho?
Ana pegou o filho do colo do marido e se sentou com ele no seu colo.
— Olha Rey, tenho um assunto delicado pra te falar. Desde que me casei, mas nunca achei a oportunidade, talvez agora nem seja. Mas você vai embora do país, ficar muitos anos fora. — Ana disse.
— Eu não sei se vou, primeiro tenho que ganhar a bolsa, e se ganhar ainda não sei como me manter lá. — Eu disse.
— Eu sei que vai dar tudo certo. — Ela disse e ficou calada me olhando.
— Então, que assunto delicado é esse? — Eu perguntei.
— O Francisco, já tem um tempo ele quer assumir o Dudu. — Ana disse.
— Como assim? — Perguntei
— Adotar como meu filho. — Francisco disse.
— Mas ele já tem pai. — Eu disse. — Além de ser chamado de papai e enquanto eu sou papai Rey, você quer tirar o meu nome da certidão dele?
— Rey, não é assim. Você sempre será o pai dele. — Ana disse. — É só um papel.
— Se é só um papel por que isso parece importante para vocês? — Perguntei.
— Estou pensando no futuro dele, na segurança, na herança. — Francisco disse.
— Faça um testamento, melhor, faça um filho seu. — Eu disse.
— O Francisco não pode ter filhos. — Ana disse.
— Sinto muito, mas esse é meu. — Eu disse.
— Rey, eu amo o seu filho como se fosse meu. Pode ser bom pra todo mundo. Posso te ajudar a ir para Los Angeles, posso pagar o seu curso e sua moradia lá. — Francisco disse.
— Vocês querem que eu venda o meu filho? — Eu perguntei.
— Não é assim. — Ana disse. — O Francisco só quer te ajudar.
— Enquanto ele é menor de idade, só podemos fazer isso se você autorizar, mas quando ele completar os 18 é ele quem decide. — Francisco disse.
— Rey, não precisa decidir nada agora, só pense nisso. — Ana disse.
— Eu não esperava isso de você. — Eu disse. Abracei o meu filho e saí daquela casa.
Voltei para a casa dos meus pais. Contei o que me propuseram.
— Acho que você devia aceitar. — Meu pai disse.
— Não acredito que você apoia essa loucura, mas também o que esperar de alguém que queria que o garoto nem tivesse nascido.
— Você não quer ir embora, não está precisando de dinheiro? Podia até ajudar a gente. Estou desempregado, sua mãe está se mantando de trabalhar. Ela não queria te dizer nada, mas estamos ao ponto de perder essa casa. — Meu pai disse.
— É verdade isso mãe? — Eu perguntei.
— É sim meu filho, mas não precisa se preocupar, não precisa aceitar isso pela gente. — Ela disse.
— Mas o que você acha disso mãe? — Eu perguntei.
— Rey, o Francisco já é pai dele, assim como você. Não vai ser um papel que vai definir isso. Eles não vão apagar a memória do Edu e ele vai esquecer que você é o pai e que nós somos os avós. — Minha mãe disse.
— Então você acha que eu devo aceitar? — Eu perguntei.
— Acho que você deve fazer o que achar melhor. Só acho que nada vai mudar, meu netinho tem o seu sangue e o seu DNA.
Voltei para o Rio com aquilo na cabeça. Dias depois, tive a resposta que eu havia conseguido a bolsa. Eu tinha que tomar uma decisão rápida, as aulas começariam no final de agosto.
Maia achou um absurdo eu cogitar a possibilidade de negar aquela bolsa. Disse que muitas pessoas venderiam até a mãe por uma oportunidade daquela. Ele não sabia que para eu conseguir ir, teria que vender o meu filho.
Foi uma decisão difícil, que me fez ficar várias noites sem dormir, tanto antes como depois de toma-la. Liguei para Ana e disse que aceitava a proposta. Informei quanto eu precisava para me manter em Los Angeles e do valor que meus pais precisavam para quitar a hipoteca da casa. Disse que pagaria tudo assim que conseguisse e que teria apenas uma condição:
— Vocês não vão deixa-lo se esquecer de mim. Que ainda sou eu o seu pai, e que, o amo. Ele tem que saber que não foi vendido ou trocado. — Eu disse.
— Claro Rey, ele vai saber que você também é pai dele. E que fez o que é o melhor pra ele. — Ana disse.
— E que eu o amo. — Eu disse.
— Claro. — Ana disse.
Comprei a passagem partindo da minha cidade, era a forma de despedir dos meus pais e do Edu. Meu pai satisfeito por não perder a casa, fez o favor de buscar o meu filho no interior para passar alguns dias comigo antes da minha partida.
Para a minha surpresa na hora da minha viagem, Ana apareceu no aeroporto, ela disse que queria se despedir de mim. Me deu um abraço apertado e me agradeceu, disse que me amava.
E eu parti. Não tinha ideia que voltaria para o Brasil apenas doze anos depois.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 2 – Edu
Não tinha muito contato com o meu pai biológico. Ele foi embora para os Estados Unidos quando eu tinha 5 anos de idade. O contato foi ficando cada vez mais raro. Eu sentia que meu pai, Francisco, ficava triste cada vez que a minha mãe me chamava até o computador para eu ver o Rey.
Francisco, por toda a minha infância e adolescência, foi a minha referência paterna. Um bom pai que me deu muito carinho e amor. Acho que eu já o chamava de pai desde quando aprendi as minhas primeiras palavras. Por causa do Francisco, também me afastei dos meus avós, os pais do Reynaldo.
Minha mãe sempre gostou muito do Rey, sempre dizia que eu fui fruto de uma amizade verdadeira. E essa amizade nunca acabou.
Reynaldo havia decidido não voltar para o Brasil, havia acabado o seu curso e estava trabalhando em Hollywood. Ele mandava fotos com artistas famosos e participou de produções importantes do cinema. Eu achava aquilo bem legal, mas não podia demostrar em respeito ao Francisco.
No meu aniversário de 12 anos, eu já me achando um adulto, recebi uma chamada do Rey pela internet. Todo feliz ele cantava parabéns, me desejava várias felicitações.
— Obrigado Rey. — Eu disse.
— Obrigado Rey? O que aconteceu com papai Rey? — Ele perguntou.
— Não sou mais criança. — Eu disse. Minha mãe e o Francisco estavam atrás de mim — E você também não é mais meu pai.
— Que história é essa? O que é isso Ana? — Ele disse. Minha mãe olhava sem graça para a tela. Olhei para Francisco que sorria, o que me deu mais coragem para continuar me impondo a falar daquela forma.
— Eu não sei quem é você. Só sei que me liga, trabalha com artistas famosos, me manda fotos, autógrafos e presentes. Isso não é ser pai. Eu já tenho um pai que inclusive, é o nome dele nos meus documentos. — Eu disse.
— Edu, então vem pra cá, vem passar suas férias comigo. A gente se conhece melhor. Te apresento a cidade, você vem comigo para os sets de filmagens, conhecerá os artistas que você gosta, você vai adorar. De quem você gosta? Sua mãe disse que você é um bom ator, quem sabe não virará uma estrela aqui em Hollywood? — Rey disse.
Era uma proposta tentadora, mas olhei mais uma vez para o meu pai que não ficou feliz com aquilo.
— Obrigado Rey, mas não. Realmente te agradeço e agradeço mais ainda por você ter me dado para um pai maravilhoso. Esse foi o seu melhor presente pra mim. Obrigado. Tenho que ir, tenho muita coisa pra fazer hoje. — Eu disse me despedindo. Tanto Rey como Francisco estavam emocionados, mas por motivos totalmente opostos.
Eu saí do computador deixando minha mãe conversando com o Rey. Meu pai veio atrás de mim e me deu um forte abraço, dizendo que muito me amava.
Acho que Rey percebeu que eu não era mais seu filho e nunca mais insistiu para falar comigo. Mas continuava conversando sempre com a minha mãe.
Francisco não era um homem ciumento, exceto quando o assunto era o Reynaldo.
— Não entendo porque ainda fica de papo com esse homem, se nem com o Dudu ele conversa mais. — Francisco disse para a minha mãe.
— Você sabe muito bem porque ele não fala mais com o filho. E sei que você adora isso. — Minha mãe respondeu. — Mas não se esqueça que o Rey é meu amigo. Era meu amigo antes de te conhecer e vai continuar sendo.
As poucas vezes que meus pais discutiam, eram por causa do Rey, que estava milhares de quilômetros de distância.
Hoje vejo que o Francisco me forçava a escolher um lado, mas na época, eu achava que eu mesmo fazia as minhas escolhas. Por isso, nunca contei na escola que eu tinha outro pai, que ele era um famoso diretor de cinema, nunca mostrei as fotos e os autógrafos de famosos que ele havia me enviado. Francisco desprezava aquelas fotos, por isso eu também tentava as desprezar.
Minha infância foi maravilhosa, nunca dei problemas para os meus pais, era um bom aluno, eu o ajudava nas coisas da fazenda, gostava de praticar esportes e gostava de teatro. Mas foi na adolescência que as coisas começaram a se complicar.
Aos 13 anos, na idade de descobertas, tive minha primeira relação sexual e não foi com uma garota. Tudo começou com uma brincadeira. Estava com alguns amigos na cachoeira, resolvemos nadar pelados. A curiosidade em ver outros garotos nus, nos deixaram excitados. Não demorou muito e estávamos brincando um de afogar o outro e aproveitando para relarmos uns nos outros. Naquele dia não fomos além, no final da tarde, pegamos as nossas bicicletas e voltamos para casa.
— Dudu, posso dormir na sua casa hoje? Aí vamos juntos para aula amanhã. — Marcinho pediu.
Era comum dormirmos nas casas uns dos outros, meus pais nunca se importaram. Marcinho então foi dormir na minha casa. Coloquei um colchão no chão ao lado da minha cama e ficamos de papo.
— Achei legal a gente nadar pelado hoje. — Marcinho disse com um sorriso malicioso. — Eu gosto de ficar pelado.
Eu apenas sorri. Marcinho esperava que eu dissesse algo, mas eu não disse.
— Está calor aqui né? Por que a gente não dorme pelado? — Ele disse.
— Pode dormir. — Eu respondi.
— Aí não, você também tem que tirar o pijama. — Ele disse.
Concordei com a cabeça e Marcinho começou a se despir. Reparei que ele já estava excitado. Marcinho deu uma pegada firme no pau e sorriu para mim, esperando que eu também tirasse a minha roupa. E eu tirei.
— Vamos ver quem tem o pau maior? — Ele sugeriu.
— Claro que você ganha, o seu está duro. — Eu disse.
— Então deixa o seu duro também, quem tiver o pau menor paga uma prenda.
Não precisei de muito esforço para deixar o meu pau duro, visivelmente o meu parecia maior, o meu era reto e bem proporcional, o do Marcinho era inclinado para a esquerda.
— O meu é maior. — Eu disse.
— Peraí, deixa eu ver. — Marcinho disse. Ele mediu o seu pau com a sua mão e depois mediu o meu. — Tem o mesmo tamanho.
— Não tem não, o meu é maior.
— Fique em pé. — Marcinho pediu. Eu me levantei e Marcinho veio na minha direção se aproximando do meu corpo. — O pau que encostar no outro é maior.
Marcinho se aproximou mais, nossos corpos quase colados e o meu pau encostou na sua virilha primeiro.
— Eu disse, o meu é maior.
— É Dudu, você ganhou. Eu pago a prenda então. — Marcinho disse levando a mão no meu pau e me masturbando de leve. Meu pau pulsava em sua mão. Era a primeira vez que outra pessoa me tocava.
Minhas pernas estavam bambas, me sentei na cama enquanto Marcinho continuava a me masturbar, eu gemia baixinho para não acordar os meus pais. Me deitei deixando as minhas pernas para fora da cama. Marcinho trocou a mão que me punhetava.
— Dudu fecha os olhos. — Marcinho pediu.
— O que vai fazer? — Perguntei.
— Só fecha os olhos.
Eu fechei. Senti que Marcinho me olhava, ele parou de me masturbar e segundos depois senti a cabeça do meu pau sendo molhada. Marcinho passava a língua no meu pau, eu sentia os seus lábios e gemi.
Marcinho abocanhou todo o meu pau e me chupava. Não tinha ideia que um boquete seria tão gostoso.
— Para, para. — Eu pedi.
Marcinho não parou, com isso gozei na sua boca. Marcinho continuou me chupando, deixando a porra escorrer de volta para o meu pau. Ele começou a se masturbar ainda com o meu pau dentro da sua boca. Não demorou muito e ele também gozou melando toda a sua mão. Peguei um par de meias e cada um usou um pé para se limpar.
Nos deitamos e, mesmo aliviado depois da melhor gozada da minha vida, até aquele momento, eu não conseguia dormir.
— Marcinho tá acordado? — Eu perguntei e ele respondeu que sim. — Como você sabia fazer isso? Você já fez isso antes?
— Já sim. — Ele respondeu.
— Você é gay?
— Não sei. Eu curto essas coisas.
Eu não conhecia nenhum gay pessoalmente, tinha aquela imagem estereotipada que via nos filmes e na TV, e das piadas que meu pai fazia. Marcinho não era como nenhum deles. Ele era um garoto simples, de família humilde, o pai dele, bem ogro, trabalhava e morava na fazenda do meu pai. Marcinho pedalava por mais de 30 minutos todos os dias para ir para escola. Tinha um corpo bonito, umas pernas grossas, uma bunda grande, era um pouco mais baixo do que eu. Não tinha barriga, cabelo sempre cortado com máquina, uma pele morena de quem pegava muito sol e um rosto comum. Não era bonito como eu ou como os outros meninos da nossa turma.
— Com quem você já fez? — Perguntei.
— Não posso falar — Ele respondeu.
— Pode sim, eu guardo segredo.
— A primeira vez foi com o meu tio.
— Qual tio? — Perguntei.
Marcinho tinha vários tios e de várias idades, os irmãos do pai dele todos mais velhos, alguns moravam na cidade e trabalhavam em fazendas perto. Os irmãos da mãe dele já eram mais novos. Imaginei que poderia ser o Vandinho, ele tinha uns 20 anos e morava com o Marcinho, trabalhava na fazenda do meu pai e sempre foi muito simpático. — O Vandinho?
— Sim, não vai falar que eu te contei. — Marcinho me disse.
— Você disse que ele foi o primeiro, depois teve outros?
— Sim, mas não posso te contar. — Marcinho disse.
— Cara, claro que pode. É alguém da turma? — Perguntei. Marcinho sinalizou que sim com a cabeça.
Nossa turma era composta por mim, o popular, o fato do Francisco ser um dos fazendeiros mais ricos da cidade, eu gostar de esportes e fazer as peças de teatro me faziam bem popular. O Marcinho, o mais pobre, estudava na mesma escola porque meu pai pagava. O Candinho, o lerdo, um rapaz bonito, não muito inteligente, mas muito bom em matemática, era filho do dono do maior supermercado da cidade e o Afonso, o novato, havia entrado na escola aquele ano, era um ano mais velho que o resto da turma, acabou perdendo o ano por ter morado fora do país com os pais, Afonso era negro, com traços finos e olhos escuros, pelo que eu havia visto mais cedo, tinha um pau enorme.
— Com os dois — Marcinho confessou.
— Vocês fazem essas brincadeiras e nunca me contou nada? — Perguntei chateado. Me senti excluído.
— Você nunca tinha dado margem para essas brincadeiras, não até hoje na cachoeira. Tinha medo de falar e você não entender. Que fosse igual ao seu pai. — Marcinho disse.
Francisco realmente era muito preconceituoso, mas eu não via nenhum problema nessas brincadeiras, fiquei chateado por terem escondido isso de mim. Virei para o canto e dormi. No dia seguinte na escola eu não dava papo para os meus amigos. Marcinho contou para o Candinho e para o Afonso o que rolou na noite passada e por isso no fim da aula os garotos tentavam se justificar e diziam que agora não haveria mais segredos entre a gente.
Eu os perdoei e voltamos com a nossa a amizade, ainda mais forte que antes. Nos encontrávamos na cachoeira, nadávamos pelados, batíamos punheta juntos e uns para os outros. Marcinho era o único que nos chupava.
Uma tarde, estava em casa quando Afonso e Marcinho apareceram por lá.
— Está sozinho aí? — Afonso me perguntou.
— Estou sim. — Respondi. Afonso e Marcinho se entreolharam com um sorriso safado — O que pega?
— Convenci o Marcinho a dar pra gente. — Afonso disse sorrindo. — Ele quer que você seja o primeiro porque o meu pau é muito grosso.
— Isso é sério? — Perguntei para o Marcinho.
— É sim. — Marcinho respondeu.
Fomos para o meu quarto. Afonso tirou camisinhas do bolso e disse:
— Pega um creme.
Fui até o quarto dos meus pais e peguei um hidratante da minha mãe. Quando voltei para o meu quarto Marcinho estava de quatro na cama e Afonso chupava a sua bunda. Eu estranhei aquilo, mas tanto Marcinho como Afonso pareciam gostar.
Afonso me convidou a chupar o cu do Marcinho, me explicou como eu devia fazer e eu gostei. Depois de chupar o cu do Marcinho e ver como ele piscava, coloquei a camisinha no meu pau, passei o hidratante na bunda dele e o penetrei.
Fui devagar para evitar os gritos de dor do Marcinho, deixei ele recuar com a bunda em direção ao meu pau. Afonso ficava olhando aquilo cheio de tesão. Quando Marcinho se acostumou com o meu pau dentro dele, eu comecei os movimentos, pouco tempo depois, estava gozando com um prazer incrível. Mesmo depois de gozar meu pau continuava duro. Afonso não me deixou continuar, estava sedento para meter no Marcinho também.
Vi Afonso metendo aquele pau grande e grosso no meu amigo, Marcinho gemia ainda mais. Afonso sabia meter e aguentava por muito tempo. Eu ainda de pau duro fui para frente do Marcinho e dei meu pau para ele chupar. Marcinho era preenchido na frente e atrás e ele gostava. Afonso o segurava pela cintura e batia em sua bunda. Não demorou muito, nós três estávamos gozando.
Afonso foi embora logo depois de gozar. Disse que depois repetiríamos. Afonso por ser mais velho, com o corpo mais desenvolvido e por ser novo na cidade, sempre ficava com algumas garotas na pracinha da igreja. “Não devia ir além dos beijos na boca, se fizesse sexo com alguma garota, por que ia querer transar com o Marcinho?”, eu me perguntava.
Dias depois, o Candinho também fez parte da festa, foi depois de comer o Marcinho que o Candinho resolveu nos chupar e dar também. E assim fomos passando os dias, os meses e os anos.
Afonso foi o primeiro a ter uma namorada e a fazer sexo com uma garota, mas não o impediu de continuar com as brincadeiras, eu também tive uma namorada. Depois de fazermos sexo pela primeira vez, decidi parar com as brincadeiras. Acabei me afastando um pouco dos meus amigos e ficando mais com a minha namorada. Francisco a adorava, gostava de nos ver juntos.
Eu já estava com 17 anos, iniciando o terceiro ano da escola. O meu namoro não ia bem, mas para não decepcionar o Francisco eu insistia naquilo. Mas por fim foi a garota que terminou comigo. Francisco como eu imaginava ficou arrasado.
— Parece que foi você que terminou o namoro e não o Dudu. — Minha mãe disse.
— Achava esses dois um lindo casal — Francisco disse.
— Ele ainda vai ter muitas namoradas. — Minha mãe disse.
— Pai, já não estava dando certo. E ano que vem eu entro na faculdade, vou conhecer gente nova. — Eu disse.
— Por falar em faculdade quero conversar com você sobre isso. —Minha mãe disse.
— Pode falar mãe. — Eu disse.
— Não acho que você deve fazer Engenharia Agronômica. — Minha mãe disse.
— Por que não? — Francisco perguntou.
— Porque não foi ele que escolheu e sim você. — Minha mãe disse. — Ele vai ser infeliz, ele tem arte nas veias, puxou isso de mim e do pai.
— Eu sou o pai dele. — Francisco disse batendo na mesa.
— Vou e quero fazer Engenharia Agronômica e vou estudar aqui no interior para ficar perto de vocês e ajudar o meu pai na fazenda. — Eu disse para a minha mãe para encerrar aquela discussão. — Não quero que briguem por causa disso.
Entrei para o meu quarto contente por não escutar nenhuma discussão, mas estava triste por escolher um curso que eu realmente não queria. Sempre foi esse o plano. Marcinho também tentaria o mesmo curso. Eu já tinha feito essa promessa para ele e para o meu pai. Acho que foi por isso que meu pai pagava a escola do Marcinho, pois faríamos o mesmo curso. Diferente de mim, Marcinho entendia e gostava das coisas da fazenda. Eu não queria assumir, não podia dizer em voz alta, mas a minha mãe estava certa, eu queria seguir a minha vida como do meu pai biológico. Queria viver naquele mundo do cinema, escrever roteiros, dirigir filmes, atuar. Sempre escondi as minhas vontades para não magoar o meu pai. O homem que me acolheu, me escolheu como filho e que me amava muito.
Em setembro, meu aniversário de 17 anos, recebi uma ligação do Rey. Não me recusava a falar com ele no meu aniversário ou no aniversário dele quando a minha mãe ligava. Normalmente eram conversas rápidas e eu devolvia o telefone para a minha mãe.
— Já é quase um adulto. — Rey disse. — Quero te desejar os parabéns Edu. Quero dizer que lamento muito por não ter passado grande parte da sua vida ao seu lado. Lamento o dia que autorizei a sua adoção pelo Francisco. Algumas pessoas dizem que foi melhor assim. Mas isso nunca vamos saber, não é? Espero que eles tenham te criado para ser um bom homem, que seja honesto, justo e saiba respeitar a todos. Não importando a raça, a crença ou a orientação sexual.
— Meus pais fizeram um bom trabalho. — Eu disse.
— Que bom, espero que sim.
— Então tá bom, obrigado. Vou passar para a minha mãe.
— Só mais uma coisa Edu. — Ele disse. — Estou voltando para o Brasil. Vou morar no Rio. Talvez dessa vez você aceite o convite para me visitar e a gente se conhecer melhor.
Eu fiquei mudo. Achei que aquele homem havia esquecido que eu era seu filho. Que ele nunca mais voltaria para o Brasil e que nunca faria um convite assim. Mas não, ele estava voltando e queria me encontrar.
— Edu? Está aí? Está ouvindo meu filho? — Ele disse.
— Sim, estou sim. Escutei. Vamos ver isso aí. Vou passar para a minha mãe. Tchau. — Eu disse entregando o telefone a ela.
Não contei para o meu pai sobre o convite do Rey, mas a minha mãe tratou de comentar isso na hora do jantar. Eu sabia que isso iria irritar o meu pai.
— Por que não me contou? — Meu pai me perguntou.
— Esqueci, não tinha importância. Não faz diferença pra mim se ele está nos Estados Unidos, no Rio ou na puta que pariu. — Eu disse, fazendo o meu pai rir e me dar um abraçado.
— Dudu, que linguajar é esse? — Minha mãe me censurou.
— Deixa ele. — Francisco disse.
— Não Francisco, nada disso. Não foi essa educação que demos. E você está incentivando isso só porque ele está falando do pai. — Minha mãe disse brava.
— Eu sou o pai dele. — Francisco disse nervoso.
— Ele é meu pai. — Eu disse para tentar encerrar a discussão.
— Não estou falando que não seja. Você é o pai dele, o Rey também. Prometemos isso para ele, que o Dudu saberia que possui dois pais, eu tenho palavra e vou mantê-la. — Minha mãe disse também nervosa.
— Parem os dois, é meu aniversário. Não quero briga aqui. Meu Deus é só esse homem aparecer que a paz nessa casa acaba. Vou sair com meus amigos, chego tarde. — Eu disse saindo da mesa.
Encontrei com meus amigos na praça, Afonso teve a ideia de irmos para o mirante. O mirante era no alto de uma serra que dava vista para toda a cidade. Muitas vezes, subíamos até lá de bicicletas. A noite o lugar era vazio, mas não perigoso, nada era perigoso naquela cidade. Subimos na caminhonete do Afonso que já tinha 18 anos e havia ganhado o carro do pai.
Paramos o carro lá em cima e ficamos sentados na traseira da caminhonete. Candinho levou uma garrafa de vodca e suco. Fizemos um brinde. Afonso tirou um baseado do bolso e acendeu. Foi a primeira vez que fumei maconha, teve um efeito divertido, parecia um retardado achando graça de tudo. Ficamos saudosos pelo o que já vivemos e falávamos sobre o futuro. Afonso e Candinho iriam para a capital quando se formassem, enquanto eu e Marcinho ficaríamos presos ali pelo resto das nossas vidas cuidando da fazenda. Marcinho se sentia feliz por isso. Mas eu me sentia sufocado.
— Estou sem ar. — Eu disse assustado. Talvez fosse o efeito da maconha, ou uma crise de ansiedade por encarar aquela realidade. — É sério, estou sem ar.
— Como está sem ar? Nesse vento que está aqui. — Afonso disse.
— Não consigo respirar. — Eu disse.
— Parece sério. — Candinho disse vindo para perto de mim. — Respira fundo, faz igual eu.
Eu seguia Candinho na respiração. Marcinho veio atrás de mim e massageava as minhas costas. Comecei a relaxar e gostar daquilo.
— Acho que ele já está bem. Se continuarem com isso ele vai acabar gozando. — Afonso disse rindo.
Foi o gancho para lembrarmos do tempo que tínhamos aquelas brincadeiras. Não demorou muito para relembramos na prática aquelas brincadeiras ali no mirante. Candinho me chupava e enquanto Marcinho chupava o Afonso. Nossos corpos mudaram muito nos últimos anos. Nossos paus então, nem se fala, muito maior e muito mais grosso.
Afonso pegou camisinhas no seu carro e me deu uma. Coloquei a camisinha, cuspi no cu do Candinho e coloquei o meu pau lá dentro. Ele não teve dificuldades, percebi que os garotos continuaram com as brincadeiras mesmo quando eu parei. Marcinho também aguentava o pau inteiro do Afonso. Via Afonso, um metedor nato, fodendo o Marcinho e eu o imitava ao foder o Candinho. Candinho se masturbava enquanto eu metia nele, ele gozou antes de mim, gozou com o meu pau dentro do seu cu.
Nossas brincadeiras voltaram a se tornar frequentes. Marcinho passou a dormir mais vezes na minha casa e transávamos sempre. Meu pai não estava contente com a presença constante do Marcinho no meu quarto durante as noites. Um dia ele tentou abrir a porta que estava trancada. Chamou a minha atenção para não dormir com a porta trancada quando tiver visita.
Estávamos na semana final das provas e Marcinho dormiu lá em casa para estudarmos juntos. Depois que meus país estavam dormindo começamos mais uma vez a nossa brincadeira. Tranquei a porta para impedir alguma invasão, mas não adiantou. Meu pai usou uma chave mestre e abriu a porta.
Eu já tinha comido o Marcinho, já havia gozado, mas o Marcinho ainda não. Havia um tempo que ele insistia para me comer também, eu até tentei, mas não gostei. Eu deixava, depois que eu gozasse ele deitar por cima de mim e relar o seu pau na minha bunda. Foi nesse momento, enquanto Marcinho estava por cima de mim que o meu pai abriu a porta.
— Que porra é essa? O que estão fazendo? — Ele berrou.
Eu gelei, Marcinho tremia de medo. Minha mãe se levantou e foi para a porta do meu quarto enquanto nos vestíamos.
— O que está acontecendo? Que gritaria é essa? — Minha mãe perguntou.
— Seu filho e esse infeliz estavam de sacanagem. — Ele disse.
— Meu Deus, Francisco. Esse escanda-lo porque os garotos estão se descobrindo. Me poupe, vamos voltar para a cama. — Minha mãe disse.
— Esqueci que isso pra você é normal. — Francisco disse.
— Claro que é Francisco! Vamos, deixa os garotos aí. — Minha mãe disse.
— É por isso que esse mundo está assim, perdido. Pessoas como você aceitam e incentivam isso. — Meu pai disse. E se virou para o Marcinho. — Você vai embora, não quero te ver aqui nunca mais.
— Pai. — Eu disse.
— Cala a boca! Que vergonha, que decepção. — Ele disse para mim.
— Está louco! Ele não vai embora essa hora. Vamos para o quarto Francisco. — Minha mãe puxando meu pai.
Eu não sabia o que dizer, minha vontade era de chorar como o Marcinho. Apenas nos deitamos calados, e escutávamos meus pais brigando.
— Eu tentei. Dei amor, dei carinho, pra você e pra ele. E assim que me recompensam? Achei que tinha um filho homem. — Ele disse.
— Para de drama Francisco. Ele é homem, mesmo se sentir atração por outro homem. — Minha mãe disse.
— Não, ele é um viadinho, como o pai. Que homem que se deita com outro homem? E se pra você isso não importa, saiba que pra mim sim. Não quero um filho viado. Não aceito uma aberração dessas. Está me escutando?
— Acho que a cidade inteira está te escutando. Quer saber Francisco? Eu que estou envergonhada e decepcionada, acredito que o Dudu também. Aquele garoto te ama, e em vez de conversar com ele, orientar, você faz esse escândalo. Mandou o Marcinho, um garoto que foi criado aqui dentro de casa ir embora para a fazenda uma hora dessas.
— Não quero esse garoto mais na minha casa e amanhã eu vou conversar com os pais dele. Duvido que o Márcio, bronco do jeito que é, vai aceitar isso.
— Não vai falar nada! Está entendendo? O Márcio pode matar o garoto.
— Talvez seja o que ele merece. — Meu pai disse. Escutei um barulho de um tapa. — Você me bateu?
— Nunca mais repita isso. É isso que você quer para o nosso filho? Quer ele morto? É isso que quer fazer? Espancá-lo até a morte? Saia já do meu quarto, vá dormir fora pra pensar bem nas coisas que está falando.
— Eu vou embora, você é que tem que pensar bem.
— Vai! Pode ir. Mas não pense em abrir a boca. Se contar para o Márcio o que aconteceu, quando voltar nem eu e nem o Dudu estaremos mais aqui. — Minha mãe disse.
Escutei a porta do quarto batendo e papai ligando o carro. Dormi escutando o choro abafado do Marcinho. Acordamos e fomos para a cozinha tomar café.
— Bom dia. — Minha mãe disse.
— Bom dia. — Respondi. Marcinho estava cabisbaixo, envergonhado e com medo.
— Tia, você acha que o Seu Francisco vai contar para o meu pai? — Marcinho perguntou.
— Não vai não. Ele ama muito a família que ele tem. — Minha mãe disse, ela confiava na ameaça que fez.
— Mãe, acho que a gente tem que conversar. Não quero que você brigue com o papai por minha causa, ele está certo. Eu o envergonhei. — Eu disse.
— Não meu filho, você não fez nada de errado. Seu pai tem que deixar de ser preconceituoso. Ele está se revelando pior que o seu avô Ronaldo. Vão para a escola. Quando voltar a gente conversa. — Minha mãe disse. — Marcinho, acho melhor você não voltar aqui em casa por alguns dias, só até a poeira abaixar, tá bom?
— Tudo bem tia. — Marcinho respondeu. Minha mãe o abraçou e deu um beijo no seu rosto.
Fiz a prova de forma automática, quando terminei, fui embora para casa. Nenhum sinal do meu pai e minha mãe estava em casa à minha espera.
— Então Dudu, você e o Marcinho estão namorando? — Minha mãe perguntou.
— Não mãe, claro que não. — Eu disse.
— Só ficando?
— Também não. — Eu disse e minha mãe olhava de forma desconfiada. — Não sei conversar dessas coisas com você.
— Dudu, eu sou sua mãe e muito cabeça aberta. Não se esqueça que eu era atriz, engravidei aos 17 de um garoto de 15. Isso faz de mim bem moderninha, não? — Ela disse rindo me fazendo rir também.
— Foi só sexo mãe, a gente nunca se beijou. Sempre foi só uma brincadeira. Eu nunca cheguei a dar. Você acha que o meu pai vai me entender? Eu não queria envergonha-lo, no fundo eu sabia que isso era errado. Eu quero que ele me perdoe.
— Dudu para com isso. Nem parece filho dos seus pais. Pare de fazer o que os outros esperam de você. Faça o que tem vontade, eu e o Rey sempre fomos assim. E isso não é errado, amor, prazer, sexo, nunca é errado quando ninguém te força a nada. Você fazia porque era bom, prazeroso, fazia com alguém que confiava, por favor me diga que sempre usou camisinha.
— Sim mãe, usei.
— Então não tem problema, o seu pai tem que entender.
— Ele ficou muito chateado comigo.
— E você também devia ficar chateado com ele.
— Escutei ele dizendo que eu era um viadinho igual ao Rey. O Rey virou gay?
— Ele sempre foi. E mesmo assim fizemos você.
— Por que nunca me contaram?
— Seu pai não queria que isso te influenciasse e eu nunca achei que existia necessidade de abordar a sexualidade do Rey pra você.
Percebi que eu tinha muito mais do Rey do que eu imaginava, mesmo me esforçando ao máximo para parecer e fazer tudo que o Francisco queria. Minha mãe pareceu ler meus pensamentos.
— Cada dia que passa você se parece mais com o Rey e isso é algo bom. Você não sabe a pessoa maravilhosa que ele é. — Minha mãe disse.
— Se você procurar ele, aí sim, estará morto para mim. — Meu pai disse. Não percebemos quando ele chegou.
— Eu não vou pai. Por favor me perdoe, foi só uma brincadeira que nunca mais irá se repetir, eu te juro. — Eu disse.
— Brincadeira? Homens não brincam dessa forma.
— Eu juro pai. Não vai acontecer de novo.
— Não quero você andando mais com aquele moleque, ele é uma má influência. Já avisei para o pai dele que vou transferi-lo para a escola pública. Não quero o contato de vocês.
— Precisa mesmo disso Francisco? — Minha mãe perguntou.
— Você tinha que me agradecer por eu não contar para o Márcio o que eu vi aqui nessa madrugada. E por eu esperar acabar a semana de provas na escola deles. — Francisco disse. Ele nos encarava esperando um agradecimento, que ninguém fez. — E você trate de provar que é homem arrumando uma namorada.
— Pelo amor de Deus Francisco, desde quando ter uma namorada significa ser homem. — Minha mãe disse.
— Se ele tivesse uma namorada não estaria na cama com um garoto. — Meu pai disse.
— Você está certo pai. — Eu disse tentando encerrar aquela discussão.
Meu pai não foi mais o mesmo comigo. Me afastei do Marcinho, consequentemente evitava o contato com o Candinho e com o Afonso fora da escola. E procurei desesperadamente por uma namorada, qualquer garota para mostrar para o meu pai que eu era o homem que ele esperava que eu fosse. Minha mãe desaprovava todos os meus esforços. Sem dúvida aquele foi o pior ano da minha vida.
Um dia fui com meu pai no supermercado do pai do Candinho e encontrei com os meninos na porta. Meu pai cumprimentou o Candinho, o Afonso e, fingiu que o Marcinho não existia. Fiquei mal com aquilo, mas tive que fazer o mesmo. Estava triste, apesar de todos os meus esforços, até namorar com uma garota que eu não gostava, ignorar a existência do meu melhor amigo, meu pai ainda me olhava desconfiado, com desprezo, não me dava o mesmo amor.
No meu aniversário de 18 anos, Rey me ligou. Mais uma vez me convidou para visita-lo, disse que depositou um dinheiro na minha conta poupança para que eu comprasse o que quisesse. Ele já devia ter combinado isso com a minha mãe, pois, eu nem sabia da existência dessa conta. Nunca me preocupei com dinheiro, nunca tive mesada, mas sempre tive tudo. Qualquer quantia que eu precisasse bastava pedir ao Francisco. Sem contar o cartão de credito que ele havia feito para mim. Mas achei legal ter a minha própria conta e o meu próprio dinheiro.
Agradeci ao Rey, disse que não precisava, ele insistiu muito. Disse que não era só Francisco que era rico. Rey realmente estava bem, havia ganhado um prêmio importante e estava trabalhando em um grande projeto no Brasil. Não contei para ele como estava a minha relação com o Francisco, afinal aquele homem apesar de ser meu pai biológico ainda era um desconhecido pra mim. Não podia dar mais motivos para o meu pai ficar chateado.
Foi na festa de formatura que tudo mudou. Estava sentado em uma mesa grande com toda a família. Como sempre, me sentia preso.
— Levanta daí Dudu, vai dançar com seus amigos. — Minha mãe disse.
— Acho melhor não, mãe. — Eu disse olhando para o meu pai que mantinha a mesma cara emburrada.
— O que ele está fazendo aqui? — Meu pai perguntou, ele estava falando do Marcinho que havia acabado de entrar no salão e se juntava ao resto da turma.
— Ele tem amigos aqui, deve ter sido convidado. — Minha mãe respondeu.
— Não quero dividir o mesmo espaço com ele. Vou mandar botarem ele pra fora. — Meu pai disse.
— Não seja ridículo Francisco. Os incomodados que se retirem. — Minha mãe disse.
— Então vamos embora. — Ele disse.
— Não, você está incomodado, se pra você a presença de um garoto é mais importante que a festa de formatura do nosso filho, vai embora você. — Minha mãe disse baixo para o restante da família não perceber o que estava acontecendo ali.
— Vamos embora Dudu. — Meu pai disse se virando para mim. Eu me preparava para levantar sem discutir, afinal aquela festa já estava morta pra mim mesmo.
— Não. — Minha mãe disse segurando o meu braço. — Você fica e vai se divertir com os seus amigos. A festa de formatura é um marco muito importante na vida. Divirta-se ou irá se arrepender disso amargamente no futuro.
Eu fiquei congelado, sabia que minha mãe estava certa, meu pai me encarava esperando a minha decisão. Por mais que eu quisesse agradá-lo eu não fiz, teria feito se soubesse que ir embora com ele resolveria todos os nossos problemas, mas todo o sacrifício que eu fiz naquele ano não diminuiu o seu desprezo por mim.
— Desculpa pai, mas eu vou ficar. — Eu disse. Meu pai virou as costas e partiu. Minha mãe se levantou e me abraçou.
— Vai se divertir, depois resolvemos isso. — Ela disse.
— Talvez isso não tenha mais solução. — Eu disse triste.
Me juntei a minha turma, cumprimentei os meninos, Marcinho não se dirigia a mim, estava acostumado a ser ignorado. Eu olhei em seus olhos e o abracei.
— Me desculpa por ser um babaca. — Eu disse.
Marcinho apenas sorriu. Bebemos, dançamos, nos divertimos, havia esquecido completamente que eu tinha uma namorada, ela também pareceu não se lembrar. Nosso namoro estava destinado a acabar mesmo, pois ela iria se mudar para a capital para fazer faculdade.
Minha família foi embora e eu permaneci com os meus amigos. A festa já estava acabando, mas não queríamos que aquela noite terminasse. Ficamos do lado de fora do salão, subimos na caminhonete do Afonso e ficamos conversando, dividindo um cobertor. Afonso acendeu um baseado e ficamos viajando.
Estava chapado, quase cochilando no ombro do Marcinho quando escuto meu pai gritando o meu nome. Olhei assustado e ele já estava em cima de mim. Me puxando pelo terno para fora da caminhonete.
— Que desgosto. Se soubesse que você seria essa decepção eu nunca teria te adotado, nunca teria te chamado de filho. — Ele disse enquanto eu me levantada do chão.
— Pai, eu não fiz nada. Estou só conversando com os meus amigos. — Eu disse.
— Não quero você de conversa com esse aí. Eu já te falei isso. Mas você não consegue, não é? Seu sangue ruim fala mais alto do que a educação que eu te dei. Entre no carro agora. — Ele disse.
— Não. — Eu respondi em um ato irreconhecível de coragem.
— O quê?
— Eu disse que não. Cansei disso. Tem um ano que faço exatamente tudo que o senhor quer. Te falei mil vezes que aquilo que aconteceu foi só uma brincadeira, um momento, não foi nada romântico, nem nos beijávamos. Nunca mais se repetiu. Abri mão da amizade do Marcinho, me afastei dos meninos. Arrumei namoradas para te provar que sou homem. Fiz tudo que você queria. A vida inteira fiz tudo que você queria. E você continua me tratando assim. Quer saber? Cansei. Nada que eu fizer vai mudar essa imagem de aberração que você me vê. Sempre vai jogar na minha cara o sangue do Rey. — Eu disse. Respirei fundo e meu pai me olhava com fúria nos olhos. Meus amigos na caminhonete estavam estáticos vendo aquela confusão no estacionamento. — Eu não quero a sua fazenda, não quero fazer agronomia. Quero viver a minha vida, já sou maior de idade.
Meu pai andou mais alguns passos e parou ao lado da porta do carona do seu carro.
— Entre nesse carro agora. — Ele disse.
— Não. — Respondi.
Eu não acreditei quando ele tirou o cinto da calça e veio na minha direção.
— Eu mandei você entrar. — Ele disse se preparando para me bater. Vendo que eu não me movi, ele me acertou com o cinto.
Os meninos saíram da caminhonete e pediam para ele não me bater.
— Deixem. — Eu disse. — É assim que ele prova que é homem. Vamos pai, me bate.
— Eu não sou mais seu pai. — Ele disse entrando no carro.
— Eu que não sou mais seu filho. — Eu gritei.
Voltei pra casa apenas quando amanheceu. Meu braço doía e ficou com a marca da chibatada que levei.
— Eu vou embora. — Eu disse assim que entrei dentro casa em direção ao meu quarto.
Minha mãe veio atrás de mim e eu lhe disse o que se passou na madrugada.
— Eu não estou acreditando nisso. — Minha mãe disse surpresa e furiosa. Ela se levantou para sair do meu quarto, no mínimo iria brigar com o Francisco.
— Mãe, não. A culpa é minha. — Eu disse.
— Não Dudu, você não fez nada errado, ele não devia ter voltado lá, nada justifica ele te bater. — Minha mãe disse.
— A culpa é minha, eu errei a minha vida inteira. Sempre fiz tudo para o Francisco ter orgulho de mim e por causa de uma brincadeira, tudo, tudo que eu fiz foi para o ralo. Você estava certa, eu tenho que viver a minha vida, fazer aquilo que eu gosto. E eu quero ir embora, quero fazer faculdade de cinema como o Rey, quero ir para o Rio de Janeiro. E estou partindo hoje. — Eu disse.
— Dudu te apoio a fazer aquilo que você gosta, quer ir para o Rio de Janeiro fazer cinema, acho ótimo, mas não assim. — Ela disse.
— Eu não quero ficar mais nenhum minuto nessa casa. — Eu disse.
— Fica na casa dos seus avós até você se acalmar. Vamos procurar uma faculdade pra você, um lugar para você ficar no Rio. Vou ligar para o Rey.
— Não mãe. Não quero que fale com ele. Não vou procurá-lo porque o meu pai me renegou. Eu vou pra casa da vovó se você me prometer não dizer nada pra ele. — Eu disse.
— Tudo bem meu filho. Fica na casa da sua avó, vamos fazer a sua matrícula na faculdade e achar um lugar para você ficar. Eu não falo nada com o Rey e você só vai embora no final de janeiro. Combinado assim?
— Ok, mãe. — Eu disse.
Não concordava em ir embora somente no final de janeiro, mas disse o que era preciso para ela não contar nada e muito menos pedir ajuda para o Rey. Quase dois meses naquela cidade para mim era muita coisa. Assim que tivesse me matriculado e arrumado um lugar para morar, eu partiria.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 3 - Rey
Cheguei nos EUA e fui direto para o alojamento da universidade. Tinha uma vida modesta, economizava dinheiro para poder pagar o Francisco o quanto antes. Além de estudar, arrumei um emprego de garçom, como fiz quando me mudei para o Rio de Janeiro.
Conheci pessoas bastantes interessantes, tanto onde trabalhava como na Universidade. Meu colega de quarto era bem amigável, não falava muito. Tinha alguns rituais estranhos, cada dia da semana ele usava uma cor diferente das roupas, cada dia da semana comia um prato diferente à noite no quarto e, em todas sextas-feiras ele se masturbava em sua cama. Nunca cheguei a comentar nada, mas sempre me excitava quando percebia que ele batia uma punheta. Ele não era bonito, não era alguém por quem eu me atrairia, mas naqueles momentos, eu tinha vontade de ir para a sua cama e bater uma punheta para ele. Isso nunca aconteceu no tempo que dividimos aquele alojamento.
Não fiquei muito tempo na seca. Sempre recebia convites de homens e mulheres de todas as idades quando eu os servia nas boates ou nos bares em que eu trabalhava, alguns valeram muito a pena. Transar com mulheres nunca foi a minha preferência, mas aconteceu algumas vezes quando saí com casais.
Na universidade, conheci o Mark, eu já estava no terceiro período do curso, ele começou a fazer uma disciplina na minha sala. Ele era lindo, mais de 1,80m de altura, olhos azuis, cabelos claros e volumosos, braços fortes. O resto do corpo só fui conhecer semanas depois.
Mark sentou ao meu lado no primeiro dia, ele sempre chegava atrasado, tinha um sorriso bonito e simpático. No segundo dia de aula ele começou a puxar papo. Ao fim da aula, saímos juntos para um lanche. Ele ficou empolgado quando disse que era brasileiro. Ele disse que sempre quis conhecer o Rio. Contei que morei lá, mostrei algumas fotos que eu tinha no meu notebook, dentre elas, havia fotos minhas com a turma do curso de teatro, com o pessoal que eu dividia o apartamento e com alguns ficantes. Pelas fotos, Mark percebeu o que eu curtia. Pensei que isso pudesse nos afastar, mas teve efeito contrário.
Estava trabalhando em um bar, já era quase hora de ir embora, quando Mark apareceu com uma turma, me cumprimentou e perguntou se ainda estávamos abertos, ele já sabia a resposta.
— Não, já fechamos. — Eu respondi.
— É, não vamos achar mais nada aberto hoje. — Ele disse para que a sua turma também o escutasse.
— No final da avenida tem um bar privado, paga para entrar, só fecha daqui umas duas horas. — Eu disse.
— Vamos pra lá. — Disse uma garota da turma do Mark que estava abraçada com uma outra garota.
— Podem ir, acho que vou para o alojamento. — Ele disse para a sua turma, que viraram as costas e partiram para o bar que eu indiquei. — Vai para o alojamento também? — Ele me perguntou.
— Vou sim, mas daqui uns 10 ou 15 minutos. — Eu disse.
— Eu te espero.
Em menos de 10 minutos, eu estava do lado de fora do bar. Mark estava escorado no poste com um pé apoiado no poste e outro no chão. Entre seus dedos, ele segurava um cigarro e lentamente levava até a boca. Do ponto que eu estava, contra a luz eu o admirava. Tirei do bolso o meu celular que possuía uma câmera e tirei uma foto dele. Dei mais dois passos e uma nova foto. Me agachei e mais uma foto.
— O que está fazendo? — Ele me perguntou.
— Te fotografando. Não se mecha. — Respondi.
Mark se mexeu, mas para fazer uma nova pose. Tirou a sua jaqueta e levantou parte da blusa mostrando o seu abdômen definido. Eu sorri vendo aquilo e tirei mais algumas fotos.
— Você é um bom modelo. — Eu disse.
— Deixa eu ver se você é um bom fotógrafo. — Ele disse esticando a mão para eu passar o meu celular.
Entreguei. Ele passava as fotos e sorria.
— Bom, muito bom. Vejo que prestou muita atenção nas aulas de fotografia. — Ele disse.
— Sim, também já trabalhei na produção de novelas e filmes quando morava no Brasil. — Eu disse. Não precisava dizer que era apenas um estágio não remunerado. Mark acenou com a cabeça concordando.
— Esse modelo não sou eu, mas eu gostei. — Ele disse me entregando o celular e me mostrando a foto.
Me senti corado. Era uma foto minha de corpo inteiro tirada em frente ao espelho, nu e com o pau meia bomba.
— Achei que brasileiros não tinham vergonha do corpo. — Ele disse.
— Não tenho, é que não estava preparado. — Eu disse, tentando fingir que não estava constrangido. Eu não tinha vergonha do meu corpo, no teatro aprendemos a ficar à vontade, nus. Mas a situação ali com o Mark era diferente. Eu não estava num palco e ele não era um público comum.
— Entendi. — Ele disse olhando para mim.
Eu o empurrei e sorri. Ele me empurrou de volta sorrindo com um pouco mais de força. Nos olhamos sorrindo e nos beijamos.
Minha mão foi direto naquele abdômen definido que minutos atrás eu havia fotografado. Senti todos aqueles gominhos com minhas mãos. Mark segurava a minha cabeça firme e devorava a minha boca, senti aquele gosto de cigarro no seu beijo e confesso que não me incomodou. Larguei aqueles gominhos e desci a minha mão por fora do seu jeans e senti o seu volume. Aquele pau me deu água na boca. Mark desceu as suas mãos pelas minhas costas e apertou a minha bunda. Paramos de nos beijar, sorrimos novamente e caminhamos de mãos dadas até o alojamento.
— Eu te chamaria para o meu quarto, mas não estou sozinho. — Eu disse.
— Vem pro meu então, consegui expulsar todos que tentaram dividir o quarto comigo. — Ele disse.
— Então você é um bad boy?
— Apenas quando preciso.
Fomos para o seu quarto, realmente possuía outra cama vazia. Mark me jogou nela e me beijou. Ele se levantou novamente e tirou toda sua roupa, admirei o seu maravilhoso corpo. Fiquei em pé de frente para ele e mais uma vez, passei a mão pelo seu corpo e segurei o seu pau. Um pau grande, não muito grosso, aproximadamente uns 18cm, branco e circuncidado. Mark foi tirando minha roupa e beijando o meu corpo. Ele me segurou pelas mãos e me levou para o seu banheiro, tomamos um banho juntos naquele apertado espaço.
Voltamos para a cama já secos, Mark me abraçou por trás e eu sentia o seu pau duro na minha bunda.
— Calma rapaz. — Eu disse me virando para ele. Beijei seu corpo e desci até seu pau. Coloquei todo dentro da boca e o chupava. Ambos sentíamos muito prazer.
— Vem cá, eu quero você. — Ele disse.
— Você curte a reciprocidade?
— Como assim?
— Tudo que você fizer comigo eu faço com você, tudo que eu fizer pra você, você faz pra mim.
Mark me olhou desconfiado, mas eu gostava de sentir prazer total, não curtia me deitar com alguém que se limitava, que queria algo que não era capaz de dar.
— Ok. — Ele disse.
Empurrei ele para baixo para me chupar, Mark me chupou, brincava com as minhas bolas e deslizava o seu dedo até o meu cu. Ele me deixou de bruços na cama e lambia minha bunda, me penetrava com sua língua. Até que não aguentei mais de tanto tesão.
— Vem, pode vir. — Eu o chamei.
Mark colocou uma camisinha e encaixou o seu pau em mim. Senti o seu peso e ele entrando. Eu rebolava para ele se encaixar melhor. Estava com muito tesão, meu pau estava duro entre a cama e a minha virilha. A cada movimento que ele fazia eu sentia mais tesão. Mark respirava ofegante na minha orelha que me fazia arrepiar. Depois de um tempo naquele sexo gostoso ele gozou dentro de mim.
Mark saiu devagar, eu me virei na cama e ele me beijou.
— Você fuma? — Ele me perguntou.
— Não. — Respondi.
Ele foi até a janela do seu quarto e acendeu um cigarro. Eu fui atrás dele e o abracei por trás. Enquanto ele fumava eu relava o meu pau ainda duro na sua bunda. Mark me entregou o seu cigarro, eu dei dois tragos e joguei fora. Nos beijamos mais uma vez e ele desceu até o meu pau para me chupar. Eu gemia muito e o impedi de continuar.
— Deixa eu te fazer gozar assim? — Ele pediu.
— Hoje não. Hoje quero gozar dentro de você, como fez comigo. — Eu disse.
Mark ficou sem graça e deitou de bruços na cama. Eu chupei sua bunda por um bom tempo, enfiava minha língua no seu cuzinho. Mark demorou muito para relaxar, minha boca já estava quase dormente. Mas por fim ele estava pronto para me receber dentro dele. Coloquei uma camisinha e com cuidado e carinho eu o penetrei enquanto mordia a sua orelha e falava algumas indecências em português que Mark demonstrou gostar.
Gozei dentro dele, nos beijamos e dividimos mais um cigarro. Mark não me deixou ir embora. Juntamos as duas camas e dormimos juntos. Na manhã seguinte, corri para o meu quarto, tomei um banho e fui para aula, não teria aula com o Mark naquele dia.
Me dei conta que não havíamos trocado nossos números de telefones, mas mandei um e-mail que ele não respondeu. Dois dias depois, nos encontramos em sala de aula. Ele estava sério.
— Aconteceu alguma coisa? — Eu perguntei quando saímos da sala.
— Não, nada. — Ele respondeu seco.
— Parece que sim. Eu fiz alguma coisa?
— Pensei que você era um cara legal que não queria só sexo. — Ele disse.
— Mas eu sou assim.
— Por que sumiu então?
— Eu não sumi, você que me ignorou.
— Como poderia te ignorar? Se não tenho seu número e nem sei qual o seu alojamento. Você sabia onde eu morava, única coisa que eu sei é essa aula que fazemos juntos e o bar que você trabalha. Bar que eu fui ontem e antes de ontem e você não estava.
— Você foi me procurar no bar? — Eu perguntei sorrindo, ele apenas acenou com a cabeça — Naquele bar eu só trabalho uma vez por semana. Trabalho cobrindo folgas de outros garçons. E não fui no seu alojamento para não parecer que estava forçando alguma coisa. Mas por que você não abre o seu e-mail?
— Meu e-mail?
— Sim, abre aí. Vai ver que te mandei um e-mail antes de ontem, falando que curti muito a noite que passamos juntos e te passando o meu telefone para você me ligar se quisesse encontrar de novo. — Eu disse. Sentamos em uma mesinha do lado de fora do prédio.
Mark abriu o e-mail, e viu que eu dizia a verdade. Ele acendeu um cigarro e estava sem graça.
— Não costumo abrir esse e-mail da faculdade. Estou me sentindo um idiota. — Ele disse.
— Um idiota fofo. — Eu disse sorrindo.
— Me perdoa então. Podemos fingir que isso não aconteceu. — Ele disse colocando a mão sobre a minha e apertando. Eu concordei com a cabeça e sorri. Mark sorriu de volta, levantou e me deu um beijo rápido. — Tenho que ir, quando acabar minhas aulas, eu te ligo. Vamos nos ver mais tarde.
Mark se tornou o meu namorado no decorrer do curso. Eu dormia quase todas as noites no seu alojamento. Fiz amizade com seus amigos. Muitas vezes eles me seguiam de bar em bar nos quais eu trabalhava e íamos embora todos juntos.
Quando chegou no meio do curso, minha rotina mudou. Me inscrevi para os estágios. Tive que abrir mão de alguns bicos de garçom e consequentemente deixar de ganhar dinheiro. Mas eu sabia que os estágios seriam importantes para a minha carreira.
Conversava muito com o meu ex-chefe, trocávamos informações e eu pedia orientações, contava as novidades que eu aprendia na universidade. Também conversava sempre com a minha mãe e com a Ana.
Mark estava na minha frente no curso, mas sempre deixava algumas matérias para trás, para estudarmos juntos e o curso não ficar tão pesado para ele. Ele trabalhava como auxiliar de um roteirista de uma série famosinha, chegou até escrever parte de alguns episódios. Mark era apaixonado por séries e quando se formou, foi convidado para ser um dos roteiristas de uma série nova em Nova York.
Tentamos manter o relacionamento a distância, mas sem conseguirmos nos visitar por dois meses, achamos melhor dar um fim ao relacionamento de forma amigável.
Eu estagiava em uma produtora de filmes, ao fim do meu curso fui contratado como auxiliar de direção, mesma função que eu tive quando trabalhava com o Maia, mas estava ganhando em dólares. Não era muito, mas era o suficiente para alugar um quarto próximo ao trabalho.
Por causa do emprego, decidi não voltar para o Brasil. Maia me apoiou, disse para eu ficar e aprender bastante com os grandes. Ele não sabia que eu precisava ganhar dinheiro para pagar uma grande dívida, uma dívida de honra.
Foram precisos quase dois anos trabalhando muito para conseguir juntar o dinheiro para devolver ao Francisco. Que fiz questão de calcular os juros e a inflação. Neste ano, Edu estava fazendo 12 anos de idade. Foi quando recebi uma facada no meu peito. Não no sentido literal.
Entrei em contato com a Ana por chamada de vídeo como sempre fazia no aniversário do Edu. Cantei os parabéns, desejei tudo de bom para e ele agradeceu de forma seca, com um simples: “obrigado Rey”.
— Obrigado Rey? O que aconteceu com papai Rey? — Perguntei.
— Não sou mais criança. E você também não é mais meu pai.
— Que história é essa? O que é isso Ana? — Eu disse vendo a Ana pela câmera. Ela estava claramente sem graça. Não via o Francisco, mas sabia que ele estava por ali, pois Edu sempre olha para o outro lado.
— Eu não sei quem é você. Só sei que me liga, trabalha com artistas famosos, me manda fotos, autógrafos e presentes. Isso não é ser pai. Eu já tenho um pai, que inclusive, é o nome dele nos meus documentos. — Edu respondeu todo senhor de si.
Percebi que aquele homem estava tirando o meu filho de mim. Sempre me pegava pensando se eu fiz a coisa certa. Meu maior medo estava se tornado realidade, estava perdendo o meu filho.
— Edu, então vem pra cá, vem passar suas férias comigo. A gente se conhece melhor. Te apresento a cidade, você vem comigo para os sets de filmagens, conhecerá os artistas que você gosta, você vai adorar. De quem você gosta? Sua mãe disse que você é um bom ator, quem sabe não virará uma estrela aqui em Hollywood? — Eu disse. Edu olhou mais uma vez para trás.
— Obrigado Rey, mas não. Realmente te agradeço e agradeço mais ainda por você ter me dado para um pai maravilhoso. Esse foi o seu melhor presente pra mim. Obrigado. Tenho que ir, tenho muita coisa pra fazer hoje. — Ele disse cedendo o lugar de frente para o computador para a mãe.
Eu segurava as minhas lágrimas, não queria parecer fraco.
— Rey, não liga. Ele sabe que você é o pai dele também. Está virando adolescente, sabe que essa fase é mais difícil. — Ana disse.
— Você me prometeu Ana, foi só isso que eu pedi. — Eu disse deixando as lágrimas escorrerem.
— Eu não me esqueci, eu te juro que cumpri com a minha palavra e cumprirei para sempre.
Fiquei arrasado, mas sabia que de longe eu não poderia fazer nada. Brigar e insistir em ser pai só nos afastaria mais.
O tempo foi passando, trabalhando cada vez mais e ficando mais bonito. Dirigi alguns filmes e atuei em papéis de pouca expressão. Mas com um filme de baixo orçamento e atores novos eu consegui estourar. O filme foi muito bem criticado e ganhei até um prêmio por ele. Viajamos para alguns países para divulgá-lo e foi fantástico. Não tive nenhum relacionamento sério nesse período. Estive uma vez na América do Sul. Passei apenas uma noite no Brasil, foi tão corrido que não consegui visitar minha família e o meu filho. Mas foi nessa viagem que recebi um convite que não pude recusar.
Maia queria que eu dirigisse um filme com ele. Era algo novo e ele queria que tomasse frente da direção. Era uma proposta ambiciosa, que poderia dar muito certo ou muito errado. Gostei do desafio e aceitei. Quis guardar essa novidade para contar primeiro para o meu filho. Estando de volta no Brasil eu tentaria me reaproximar.
No seu aniversário de 17 anos eu telefonei para desejar os parabéns.
— Já é quase um adulto. Quero te desejar os parabéns Edu. Quero dizer que lamento muito por não ter passado grande parte da sua vida ao seu lado. Lamento o dia que autorizei a sua adoção pelo Francisco. Algumas pessoas dizem que foi melhor assim. Mas isso nunca vamos saber, não é? Espero que eles tenham te criado para ser um bom homem, que seja honesto, justo e saiba respeitar a todos. Não importando a raça, a crença ou a orientação sexual. —Eu disse.
— Meus pais fizeram um bom trabalho. — Ele respondeu.
— Que bom, espero que sim.
— Então tá bom, obrigado. Vou passar para a minha mãe.
— Só mais uma coisa Edu. Estou voltando para o Brasil. Vou morar no Rio. Talvez dessa vez você aceita o convite para me visitar e a gente se conhecer melhor. — Eu disse. Edu ficou calado — Edu? Está aí? Está ouvindo meu filho?
— Sim, estou sim. Escutei. Vamos ver isso aí. Vou passar para a minha mãe. Tchau. — Ele disse entregando o telefone para a mãe.
Conversei com Ana e contei as novidades. Ela ficou feliz por saber que eu voltaria. Disse que terminaria alguns projetos e que logo no início do ano eu estaria no Rio. Que esperava ela me visitar.
Terminei tudo que precisava e em janeiro me mudei, voltei para o Rio. Comprei um belo apartamento em Ipanema e mandei mobiliar enquanto fui visitar a minha mãe.
Ela estava bem, como sempre trabalhando muito. Ela se divorciou do meu pai dois anos após a minha mudança. Venderam a casa que morávamos e havia se mudado para um pequeno apartamento. Quando eu comecei a ganhar dinheiro, insisti em comprar um apartamento maior para ela, mas ela recusou. Disse que daria mais trabalho. Que estava bem e que era próximo ao hospital que trabalhava. Ela chegou a me visitar duas vezes nos últimos anos, realizei alguns de seus sonhos como sair para jantar com alguns artistas que ela tanto admirava.
Quando cheguei em sua casa, ela abriu um grande sorriso. Me abraçou e comemorou muito a minha volta. Ela estava bem, visivelmente cansada. Eu insistia para ela parar de trabalhar. Mas ela não queria, dizia que fazia o que ama e isso lhe dava vida e sanidade. Faltava pouco para ela se aposentar e nem a aposentadoria iria lhe parar.
Eu quase nunca perguntava do meu pai. Apesar de mandar uma mesada para ele. Realmente não me importava com o que ele fazia com o dinheiro. Meu pai se casou de novo. Com uma mulher da igreja que ele frequentava. Era pai novamente, meu irmão que nunca nem vi fotos, estava para fazer 7 anos. Eu mandava um dinheiro a mais para o meu pai nos meses do aniversário do garoto.
Meu pai também não me procurava, exceto quando eu atrasava os depósitos. Gostava de fazê-lo me procurar para pedir dinheiro. Ele que negou me ajudar quando fui para o Rio. Tive o prazer de jogar algumas verdades na sua cara, como uma vez, ele me ligou bêbado e irritado por ver uma foto minha nos jornais de fofoca americano. Como ele havia conseguido isso eu não sei. Talvez ele pesquisasse por mim na internet.
— Sabia que esse negócio de ser artista ia te transformar em viado. — Ele disse.
— Do que está falando pai? Sabe que horas são aqui? Acordei assustado, achando que aconteceu alguma coisa e o Senhor vem me ligar bêbado.
— Mais respeito que sou seu pai. Vi uma foto sua no jornal beijando um homem. Foi pra isso que quis ir pra longe? Pra ser viado? Pra dar o seu cu?
— Não pai, isso eu fazia dentro de casa mesmo. Vim embora pra ser alguém. Ter uma carreira e dinheiro pra ajudar o meu pai, um bêbado e preconceituoso. Se você tiver algum problema com a minha orientação sexual e não quiser mais o dinheiro de um viado, de um homem que dá o cu para artistas de Hollywood, eu paro com os depósitos. — Eu disse irritado.
— Deus me concedeu um novo filho. Esse sim será um varão. Com esse não irei errar.
— Que bom pra você pai. Por favor, não me ligue mais bêbado e nem nesse horário e, muito menos pra falar essas merdas. Boa noite. — Eu disse desligando o telefone.
Depois daquele dia, meu pai apenas me ligava durante o dia e perguntava sobre o depósito, nunca perguntava pela a minha vida, eu também não procurava saber sobre a dele. Sentia que eu tinha obrigação de ajuda-lo, por 18 anos ele e minha mãe me deram casa e comida, além de ajudar com o Edu até eu partir para o Rio. Mesmo ele não sendo um bom pai, não me dando carinho ou amor, eu me sentia na obrigação. Dinheiro não era mais problema para mim.
— Você vai visitar o seu pai? — Minha mãe me perguntou.
— Não. Mês passado quando ele me ligou eu disse que estava voltando. Ele não me convidou para vê-lo, nem conhecer o meu irmão, apenas se preocupou se eu continuaria com os depósitos. Ele não faz questão de me ver, por que eu faria? — Eu disse.
— E o Edu? Vai visitá-lo? — Minha mãe me perguntou.
— Eu queria muito, mas não. Ele também não quer me ver. Liguei para ele em seu último aniversário, disse que estava voltando e ele continuou frio. Mas daqui a pouco ele fará 18 anos, quem sabe não sai de baixo da asa do padrasto.
Voltei para o Rio, me encontrei com Maia e mergulhamos nos nossos projetos, discutimos sobre fotografia, roteiro, quem seriam os artistas, testes, a mescla de atores já famosos com desconhecidos era tudo fantástico.
Um dia em um restaurante com o Maia, um homem na faixa dos 50 anos, que regulava idade com o Maia se aproximou e nos cumprimentou. Maia muito cordial nos apresentou.
— Muito prazer, já te conheço de nome, mas não me recordava da fisionomia, mas tenha certeza que agora não vou esquecer. — Ele disse mostrando-se um pouco afeminado. — Conheço os seus trabalhos, são ótimos.
— Muito obrigado. O senhor também é diretor? — Perguntei.
— Não gosto desses jovens que sempre querem nos chamar de velhos, ele me chamou de senhor, Maia. — O homem reclamou, um misto de seriedade com brincadeira.
— Me desculpe, não irá se repetir. Você também é diretor, Toledo? — Eu reformulei.
— Já fui, hoje sou um acadêmico. — Toledo respondeu.
— Toledo é coordenador do curso de cinema. — Maia disse.
— E quando você vai aceitar o meu convite para dar aula na universidade? — Toledo perguntou.
— Sabe que não tenho tempo. Tenho meus projetos e o meu curso de atores. — Maia respondeu. — Faça o convite para Reynaldo.
— Você aceita? Ter um diretor jovem e renomado seria ótimo. — Toledo disse.
— Também não tenho tempo, esse novo projeto irá me consumir. — Eu respondi.
— Ora, por favor. Apenas duas turmas. Uma manhã. Traga a sua experiência para os nossos jovens. — Toledo insistiu. Maia me olhava acenando com a cabeça para eu aceitar.
— Nunca havia pensado em dar aulas. — Eu disse.
— É algo fascinante. Pense nisso. — Toledo disse me dando o seu cartão. — Me ligue.
Toledo se despediu e eu guardei o seu cartão. Maia insistia para eu aceitar. Eu fiquei na dúvida se aquele convite foi por educação, pelo fato do Maia ter repassado para mim.
— Foi um convite sincero, Toledo não o faria se não o quisesse. Eu o conheço muito bem. Ele é como eu.
— Vou pensar nisso. — Eu disse.
Resolvi aceitar o convite. Toledo me deu duas turmas, uma do primeiro e outra do último período. Dava aula apenas uma vez na semana durante uma manhã. O resto do dia, me dedicava ao novo filme que eu iria dirigir junto com o Maia. Toledo estava certo, dar aulas era fascinante, falar daquilo que eu sabia e gostava. Conhecer pessoas novas, ser respeitado e admirado fazia muito bem para o meu ego. Dividia com estudantes os meus projetos, os levava para alguns sets de filmagens e rapidamente eu era um dos professores mais queridos. Muitas vezes, alunos de outras turmas iam para as minhas aulas apenas para me ouvir.
Depois de nove meses que eu estava no Brasil ainda sem procurar o meu filho, chegou o seu aniversário de 18 anos. Não sabia o que lhe dar de presente, por isso perguntei à Ana se ainda existia a poupança que fizemos para o Edu anos atrás. Ela disse que sim e eu depositei um dinheiro para ele, não muito, mas o suficiente para poder comprar um carro popular.
Liguei para o Edu, senti a sua voz triste. Depois conversei com a Ana que me contou que Edu e Francisco não estavam bem. Que Edu além de parecer muito comigo, parecia ter puxado um pouco do meu gosto. Entendi que meu filho era bissexual. Lamentei por Francisco ser como o meu pai, um homem ignorante e preconceituoso. Imaginei como Edu estaria sofrendo com aquilo. Mas não me aproveitaria daquele momento para me aproximar.
— Ana, converse com o Edu, diga para vir me ver nas férias. Tenho um apartamento grande, você pode vir com ele. Ele precisa sair desse mundinho. Você também. Você não nasceu pra essa vida, Ana. — Eu disse.
— A vida nos leva para alguns caminhos Rey, que depois fica muito difícil fazer o caminho de volta. Realmente não quero que o nosso filho tome o caminho errado, mas ele que tem que decidir isso. Tudo é mais difícil quando nossos pais tentam tomar a decisão por nós. — Ela disse.
— Isso é verdade. — Eu disse.
— Por isso que te admiro, foi para o Rio, foi para a América, correu atrás dos seus sonhos.
— Isso tudo, graças a você. E as custas dos seus sonhos Ana.
— Não Rey, não foi às custas dos meus sonhos. Também sonhava em ter um filho, em me casar com um homem que eu amava. Não se culpe por nada meu amado amigo.
— Impossível Ana, eu carrego muita culpa. A minha sorte é que eu consigo canalizar esse peso no trabalho.
— Então está fazendo isso muito bem. — Ana disse sorrindo. — E não deixe de canalizar isso no sexo também.
— Também não deixo. — Eu disse rindo.
Era engraçado que tive alguns relacionamentos que não tiveram um início definido, foi assim com o Anderson, com o Mark e com mais alguns não tão importantes em Hollywood. O mesmo se repetia com Fábio.
Fábio era lindo, tinha 25 anos, sete a menos que eu, foi meu aluno. Ele estava no último período do curso de cinema. Trocamos olhares desde o primeiro dia de aula, mas nada aconteceu até o último dia. Ele esperou todo mundo sair da sala e sentou na minha mesa.
— Agora, você não é mais meu professor. — Ele disse.
— Teoricamente sou sim, ainda não lancei as notas. — Eu disse.
— Mas na prática, as aulas acabaram certo?
— Certo. — Eu disse sorrindo.
Fábio me puxou pela camisa e me beijou. Um beijo que eu estava esperando desde o início do ano. Nos devorávamos naquele beijo. Fábio desabotoava a minha camisa e passava a mão pelo meu peito.
— Por que você esconde tudo isso? — Fabio disse me fazendo rir. — Já sei, para os alunos não te atacarem, não é?
— Acho que esconder não te impediu. — Eu disse sorrindo e voltando a beijá-lo.
— Verdade! Não impediu, mas se soubesse que você era tão gostoso, eu não teria conseguido esperar até o final do semestre.
Fábio desceu com a mão até o meu pau que já estava duro. Ele se ajoelhou, colocou o meu pau para fora e começou a chupar.
— Você está louco? Não vamos fazer isso aqui. — Eu disse.
— Já estamos fazendo. Só vou parar quando você gozar na minha boca. Se quer que eu paro, então goza rápido.
Empurrei aquele rapaz que me olhava triste. Ainda com o pau duro e para fora, eu fui até a porta da sala e me escorei sobre ela. Assim não correria o risco de alguém abrir a porta e nós sermos pegos no flagra. Fábio sorriu quando entendeu. Veio até mim, me beijou na boca e desceu beijando todo o meu corpo e voltou a me chupar. Eu gozei na sua boca como ele me pediu.
Depois desse dia, saímos para jantar e Fábio dormiu comigo. Fábio era uma delícia na cama, tinha um pau grande e grosso. Fábio só tinha um defeito, era apenas passivo. Mesmo assim, estávamos em um relacionamento. Fábio quase sempre estava na minha casa. As vezes passava uma semana inteira. Mesmo ele querendo, não aceitei que morássemos juntos. Eu gostava de ter a minha liberdade e privacidade. Ficar sozinho.
Um novo ano chegou cheio de novidades. Maia e eu conseguimos a verba para o nosso novo filme, o roteiro estava fechado, os atores escolhidos, assim como toda a equipe. Iria iniciar mais um semestre dando aulas, continuava com as turmas do primeiro e último período.
Havia estacionado meu carro e me dirigia para o prédio quando um rapaz me chamou atenção. Parecia um pouco perdido, com uma mochila nas costas, cabelos pretos e pele clara, eu o vi de perfil e me era muito familiar. Meu filho, Edu, veio na minha cabeça na hora, mas aquele pensamento foi rapidamente embora por ser tão ilógico. “Apenas um aluno novo, se fosse o Edu, Ana teria me contado”, pensei.
Fui para a sala dos professores, tomei um café e na hora de começar as aulas, me dirigi para a sala de aula onde conheceria os futuros cineastas. Entrei na sala, dei boas-vindas a todos, me apresentei mesmo sabendo que não seria necessário e reparei sentado na terceira fileira, no canto da parece, aquele garoto que eu vi na entrada do prédio. A sua aparência era muito familiar, não só com o Edu, mas comigo também, quando tinha aquela idade. O garoto me encarava, olhava para mim direto nos meus olhos. Fiquei desconcertado. Peguei a lista de chamada e conferi, lá estava o nome do meu filho, com o sobrenome do padrasto.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 4 - Edu
Depois que mudei para a casa dos meus avós não voltei para a minha casa. Minha mãe vinha me visitar. Fiquei muito triste ao entender que o amor que o meu pai sentia por mim era tão superficial.
Minha mãe insistia em contar para o Rey que eu iria para o Rio de Janeiro, eu dizia para ela não contar, que queria morar em uma república. Eu já tinha até escolhido e entrado em contato com o responsável. Tinha também escolhido a minha faculdade, que por coincidência era a mesma que o Rey dava aulas.
Encontrei com Francisco no natal. Como sempre, a ceia, era na casa dos meus pais. Cheguei com meus avós e vi meu pai sentado em sua poltrona preferida. Por um segundo me esqueci de todos os nossos problemas e fui em sua direção para abraçá-lo. Francisco não retribuiu o abraço. Minha mãe que via aquela cena ficou muito chateada e eu extremamente triste.
— Você já escolheu o seu caminho. Não está indo embora? Não vai para o Rio de Janeiro seguir os passos daquele homem que te vendeu? Não foi isso que escolheu? — Meu pai disse.
— Francisco! Não, hoje não. É natal. — Minha mãe disse.
— Não pai. Não quero seguir ninguém, quero apenas fazer o que eu gosto. O que me fará feliz. — Eu disse.
— Inclusive se deitar com outros homens? — Meu pai disse.
Eu não respondi. Não podia mais dizer que aquilo não havia se repedido, pois havia sim. Tinha voltado com a brincadeiras com Marcinho, Afonso e Candinho. Eu gostava e não achava aquilo errado, um crime ou um pecado.
— Eu tentei por um ano inteiro fazer tudo que o senhor queria e mesmo assim nada adiantou, vejo o desprezo que me olha. O melhor que eu faço é ir embora, seguir a minha vida, fazer as minhas escolhas por mim mesmo. — Eu disse.
— Então vá! Não estou te segurando. — Ele disse.
— Chega, não vamos estragar o Natal. — Minha mãe disse.
— Já está estragado pra mim. — Meu pai disse indo para o seu quarto.
Tentei fazer daquela noite agradável, afinal minha mãe amava o natal. No final da noite peguei mais algumas coisas no meu quarto e levei para a casa da minha avó.
No Réveillon não fui para o clube da cidade como sempre fazíamos, eu e meus amigos fomos para uma festa na capital. Nos divertimos bastante, eu e o Afonso competíamos para ver quem beijava mais garotas. Marcinho entrou na brincadeira e disse que beijaria os garotos. Candinho ficou com uma garota a noite inteira. Eu ganhei, beijei 17 garotas enquanto Afonso ficou com 15 e Marcinho ficou com 7 garotos. Mesmo ele querendo dobrar a sua contagem por dizer que beijar homens era mais difícil, eu saí vencedor.
— Espero que vocês não peguem sapinho. — Candinho disse rindo, abraçando a sua garota.
Fomos para o hotel, estávamos divididos em dois quartos, mas Afonso deixou o Candinho ficar sozinho com a garota. Candinho iria perder a virgindade, bom... seria a primeira vez que ele transaria com uma garota. Com isso eu, Marcinho e Afonso ficamos no mesmo quarto. Relembramos da primeira vez que o Marcinho deu para gente e depois de um bom banho, transamos nós três.
Foi diferente, apesar de só o Marcinho ser passivo, todos acabamos por nos chupar. Foi a primeira vez que eu coloquei um pau na boca e confesso que gostei muito da sensação. Marcinho quase gozou na minha boca, enquanto o Afonso metia no cuzinho dele. Tirei o pau do Marcinho da boca deixando o seu gozo cair no meu peito. Afonso depois de gozar me chupou. Afonso também pareceu gostar de chupar, pois segurava firme na minha bunda me forçando a enfiar o meu pau cada vez mais fundo na sua garganta.
Tomamos banho nós três e foi embaixo do chuveiro que eu chupei o Afonso. Isso me deixou excitado e eu comi o Marcinho ali mesmo. Depois que o Candinho perdeu a virgindade e a garota foi embora, ele veio para o nosso quarto todo empolgado, contando como foi boa a sua primeira vez, ele ficou excitado e mais uma vez brincamos. Eu chupei o cuzinho dele e depois enfiei o meu pau. Candinho teve que dar para os três e, ele deu sorrindo. Também quis chupar o seu pau e, chupei até ele quase gozar. Dormimos um pouco e no final do dia saímos novamente.
Passeamos pela cidade que estava vazia devido ao feriado. Afonso e Candinho mostraram onde iriam morar e estudar. Lamentei por me afastar dos meus amigos, mas estava contente por mim, finalmente tinha voz e coragem para dizer o queria da minha vida, de fazer o que gostava sem me sentir preso.
Marcinho estava feliz, tinha passado na faculdade rural de Engenharia Agronômica e realizaria o seu sonho. O sonho que o meu pai tinha para mim.
Voltamos para a cidade no dia seguinte, depois de mais uma noite cheia de brincadeiras, dessa vez sem o Marcinho, que conheceu um rapaz no bar que estávamos e passou aquela noite com ele.
O mês de janeiro passou devagar, tamanha a minha vontade de ir para o Rio de Janeiro. Uma semana antes do início das minhas aulas, eu parti. Minha mãe e meus avós me levaram até a rodoviária. Chegaria mais rápido indo de ônibus do que me deslocar até a capital e pegar um voo.
Às seis da manhã peguei um táxi que deu uma volta gigantesca, mas maravilhosa pela zona sul da cidade. Me perguntei por que nunca havíamos viajado para o Rio de Janeiro. Meu pai sempre gostou mais de mato, poucas vezes fomos para praia e, mesmo assim, nunca para o Rio. Talvez meu pai, Francisco, soubesse como eu iria ficar apaixonado por essa cidade e queria evitar isso.
Cheguei no apartamento onde moraria, no bairro das Laranjeiras, bem perto do metrô. Era quase sete horas da manhã quando entrei naquele prédio arrastando uma enorme mala e com uma pesada mochila nas costas.
Fui bem recebido pelos meus novos colegas. Moravam três pessoas naquele apartamento. Cris veio me receber, era um rapaz baixinho, cabelo curto, brinco em uma orelha e uma voz mais fina, apesar de me cumprimentar com um aperto de mão firme e forçar uma voz grossa.
— Seja bem-vindo Eduardo. — Ele disse. — Eu sou o Cris.
— Obrigado. — Eu respondi tirando a minha mochila e colocando sobre a mala.
— Venha! Vou te mostrar o seu quarto. — Ele disse. — Esse apartamento é meu, bem, é alugado, mas eu sou o responsável por ele.
— Ele é o xerife. — Disse um rapaz bonito, da minha altura, vestindo apenas uma cueca. Sua pele era morena como a do Marcinho, pelo visto aquele garoto gostava muito de praia. — Prazer, sou Samuel.
— Prazer, Eduardo. — Eu disse. Samuel passou em direção à cozinha, olhei para trás enquanto ele passava, sua bunda era grande. Cris olhava para mim sorrindo e me levou até o meu novo quarto.
Era um quarto pequeno, com uma cama de solteiro, uma cômoda com uma TV média em cima e uma arara, dessas que ficam em lojas de departamento, substituindo o guarda-roupa.
— Deixe as suas malas aí, vou te mostrar o resto da casa. — Cris disse. Ele me mostrou os outros três quartos, o dele era um quarto grande com um banheiro. Ficava na ponta do corredor, era literalmente o dobro dos outros, o primeiro à esquerda, era o quarto do Samu, um pouco maior que o meu, ele tinha um guarda-roupa e uma cama de casal. O quarto estava limpo e a cama feita, mas reparei em uma das portas do guarda-roupa aberta, uma grande bagunça. — Esse é o quarto da Mama. — Cris apontou para o quarto ao lado do Samuel que estava com a porta fechada. E me mostrou o banheiro que dividia parede com o meu quarto.
Entramos na cozinha que era grande, vi a improvisada lavandeira e um quarto de empregada que servia de depósito.
— Tem um banheiro ali, a Mama e o Samu chegaram num acordo que, o número dois, deve ser feito lá. — Cris disse rindo. Eu sorri de volta.
— O que estão falando de mim? — Um rapaz mais moreno, aparentava ter de 25 a 30 anos, usava tranças em seu moicano e era bastante afeminado, disse.
— Mama, esse é o Eduardo. — Cris me apresentou.
— Prazer. — Eu respondi. Fiquei com medo de chamar aquele cara mais alto do que eu de Mama.
Mama me olhou de cima embaixo. E fez uma careta se recusando a pegar na minha mão.
— Aff, mais um privilegiado. — Ele disse.
— Privilegiado? — Perguntei.
— Não liga para a Mama, ele sempre acorda de mau humor. — Cris disse.
— Homem, branco e hétero. — Ele disse. — Criado em berço de ouro, tá na cara que é um riquinho. Com papai pagando o apartamento e a faculdade aqui no Rio, não é? Isso é ser privilegiado, querido!
— Você não me conhece. — Eu disse.
— Conheço vários como você. Vai me dizer que estou errado. — Mama disse.
— Está sim. Não é meu pai que vai pagar a minha faculdade. — Eu disse. Depois de dizer, percebi que eu estava errado, pensava apenas no Francisco como o meu pai, mas era com o dinheiro que Rey me deu de aniversário que eu pagaria o meu curso e a minha moradia, isso fazia com que Mama estivesse certo sobre mim. Tive que pensar rápido em outra coisa. — Eu não sou hétero.
— Você é gay? — Cris me perguntou sorrindo.
— Bom, eu não sei. Já transei com homens e mulheres. — Eu disse.
— Piorou! Mais um hétero-normativo em cima do muro. — Mama disse.
— Para com isso Mama, ele é bi. — Cris disse.
— Bi não existe, são gays e lésbicas em cima do muro. Que não tem coragem de se assumirem apoiados pela hétero-normatividade. — Mama disse.
— Não precisa discutir Eduardo, Mama é assim mesmo. — Cris disse.
Mama virou o rosto. Samuel que estava sentado, escutando tudo enquanto tomava o seu café da manhã mantinha um sorriso no rosto. Me senti envergonhado.
Fui até o meu quarto e me deitei um pouco. Acordei por volta das 10 horas da manhã. Estava sozinho em casa, aproveitei para tomar um banho, desfiz minha mala e fui para a rua conhecer a região onde moraria. Eram muitas pessoas na rua, uma diversidade tão grande que me fez sorrir. Fiz um lanche em uma padaria, peguei o metrô e fui até Copacabana. Tudo era mais bonito pessoalmente, eu sentia a vida. Já conhecia quase toda a zona sul do Rio, só de pesquisar pela internet.
Passei o dia inteiro na rua. No final do dia, fui para o Arpoador ver o famoso pôr do sol. Fiquei arrepiado ao ver as pessoas aplaudindo quando o sol sumiu no horizonte.
Desci daquela pedra e fui em direção à Ipanema pegar o metrô de volta. Passei na frente de um supermercado e apenas por curiosidade olhei lá para dentro. Vi um homem bonito, na faixa dos 30 anos, acompanhado por um outro cara, também muito bonito na faixa dos 25 anos. Aquele homem chamou a minha atenção, não consegui parar de olhá-lo, era o Rey, o meu pai biológico. O cara que estava com ele percebeu o meu olhar e me olhou de volta sorrindo. Fiquei sem graça e me afastei. Não consegui ir para o metrô, esperei os dois saírem do supermercado e os segui. O tal cara, percebeu e até acho que comentou com o Rey. Quando o Rey se virou para olhar pra mim eu despistei, me escondi atrás de uma banca de revista. Eu os segui por mais um quarteirão e vi o Rey entrando num prédio. Dei um tempo e fui até o porteiro. Perguntei se o homem que havia acabado de entrar era o Rey.
— É ele sim. Quer que chama? — Ele me perguntou.
— Não precisa. — Eu disse.
— Vocês são parentes, não são? Você é a cara dele. — Ele disse.
— Não, não somos não. — Eu disse fugindo daquele prédio e voltando para a minha nova casa.
Aproveitei a semana livre para fazer vários passeios. Mandava fotos para a minha mãe e para os meus amigos. Eu sabia que encontraria com o Rey na faculdade e eu estava certo de que não queria encontra-lo antes. Apesar disso, todas as vezes que eu ia para Ipanema eu parava em frente ao seu prédio, olhava para cima e tentava imaginar qual daquelas varandas era a dele. Me perguntava quem era aquele cara bonito que estava com ele e que sorriu para mim.
O Rey era muito bonito, reparei em seu corpão, por mais que o cara que estava com ele fosse bonito, Rey conseguiria alguém melhor, isso era fato. Não sabia porque eu odiava aquele cara. Mas só de me lembrar dos dois naquele caixa do supermercado me deixava excitado. E eu acabava me masturbando imaginando os dois transando. Quando gozava, me sentia culpado por aqueles pensamentos. Talvez Francisco estivesse certo, eu era doente.
Em casa eu evitava Mama, ele sempre vinha com assuntos chatos, tudo que qualquer pessoa falava estava o ferindo de alguma forma. E para se defender, mesmo sem motivo, ele atacava. Mama era o mais velho da casa, tinha 26 anos, estudava à noite e trabalhava durante todo o dia. Descobri que Cris era homem trans, seu nome de batismo era Cristina, ele é pansexual e muito bem resolvido com isso. Samuel não trabalhava, passava os dias na praia e as noites em bares. Como ele se sustentava, ainda era um mistério para mim, já que não recebia ajuda dos pais. Todos eram universitários. Mama estudava direito, assim como o Cris e Samuel fazia administração.
Eu via pouco o Samuel, mas sempre quando estava em casa, desfilava apenas de cueca e vê-lo assim também me deixava excitado. Acho que eu estava numa fase e em uma cidade que exalava feromônios, quase sempre estava de pau duro e pensando em sexo. A falta de sexo também podia ser a causa disso, afinal antes de viajar estava transando todos os dias.
No primeiro dia de aula fui junto com Samuel e Cris até o metrô. Cheguei na faculdade e fiquei perdido em qual dos prédios deveria entrar. Descobri qual era o meu e encontrei a minha sala, me sentei em um lugar vago na parede, sempre gostei de sentar encostado na janela ou na parede, mas no Rio sentar na janela não era bom, o sol batia, percebi isso só de colocar a mão na mesa. Duas garotas que chegaram juntas, sentaram perto de mim. Elas estavam conversando, pararam apenas para dizer bom dia e continuaram o papo.
— Dizem que a aula dele é maravilhosa. — A de cabelos preto disse.
— Não só a aula, né amiga? Ele também. — A loura respondeu.
— Isso é! Mas dizem que ele é gay.
— Artista não tem sexo, amiga.
— Não sei amiga, apesar de não parecer gay, nunca tive notícia dele na companhia de mulheres, só de homens.
— Isso porque ele não me conheceu ainda. — A loura disse fazendo uma pose me fazendo rir.
Elas olharam para mim e também sorriram.
— Eu sou Jéssica. — Disse a morena. — Essa piranha louca é a Estela.
— Amiga, eu não sou louca. — Estela disse nos fazendo rir ainda mais.
A sala foi se enchendo e logo depois o professor chegou. Eu já havia visto os horários, sabia que seria o Rey, meu professor todas as segundas de manhã. Ele chegou se apresentando. Ele era engraçado, parecia muito simpático. Ele ainda não tinha reparado em mim. Pensei que talvez ele não me reconhecesse. Não tinha rede social e acho que a última vez que nos vimos na câmera foi no meu aniversário de 12 anos. Mas eu estava errado, ele me viu naquela sala, olhou nos meus olhos e acabou se perdendo em seu raciocínio.
Rey foi até a sua mesa e pegou a lista de alunos. Por ordem alfabética, pediu cada um para se levantar e dizer o seu nome e, porque escolheu o curso de cinema, percebia que ele sempre olhava para as pessoas que se apresentavam e para mim. Chegou a minha vez.
— Meu nome é Eduardo. Escolhi cinema porque acho maravilhoso esse universo. — Eu disse. Rey continuava me olhando, não chamou o próximo da lista, por isso continuei. — Por muito tempo eu neguei isso, meu pai queria que seguisse outros caminhos, minha mãe sempre me apoiou, dizia que eu tinha arte no sangue.
— Tenho certeza que sim. — Rey disse e chamou o próximo da lista.
Depois das apresentações ele disse que seria uma aula leve, pediu para fazermos uma roda.
— Muitas vezes, quando começamos um curso, não entendemos o que de verdade iremos aprender no decorrer dele. Como as coisas funcionam e como é o futuro da profissão, que não é fácil. Imaginem vocês, uma novela ou um filme, têm vários atores, e muitas vezes um ou dois diretores. Se a carreira de ator é difícil, imaginem a de um diretor. Vamos usar essa aula para discutir sobre isso, para conversamos, para fazermos aquelas perguntas que vocês têm vergonha de perguntar por parecerem estúpidas. — Rey disse. — Quem quer começar?
Ninguém respondeu, acho que todos ficaram tímidos, ninguém queria fazer uma pergunta estúpida para o Rey.
— O curso de cinema não forma só diretores, certo? — Um aluno perguntou.
— Correto, não é só isso. Podem sair daqui vários críticos, diretores de todas as áreas como artes, som, fotografia, que é algo que eu também gosto muito... efeitos, roteiristas. O curso te dá um leque muito grande de opções. Muitos atores também buscam esse curso para uma formação superior e abrir novos campos. Mas é obrigação de vocês buscarem o aprendizado e se inovarem. Temos disciplinas hoje que não existiam 20 anos atrás. O cinema anda muito próximo com a tecnologia, por isso podem surgir novas áreas no futuro. O cinema começou mudo e hoje existem efeitos especiais perfeitos. Estamos em constante evolução. E nós, eu também porque ainda sou jovem, — Rey disse rindo. — Somos o futuro da sétima arte.
A aula passou voando. As perguntas foram surdindo, Rey nos dava respostas inteligentes e nos fazia refletir. Nos surpreendemos quando o outro professor chegou na porta da sala, pois já tinha dado a hora da próxima aula. Não percebemos nem que perdemos o intervalo entre as aulas.
Antes de sair da sala, Rey se aproximou de mim. Senti que fiquei gelado e meu coração disparou.
— Edu, você pode me esperar no final da aula? — Rey disse. Eu apenas acenei que sim com a cabeça. Eu não tinha aberto a minha boca desde o início da aula quando tive que me apresentar.
— Ele quer falar com você! — Estela disse surpresa. — Vocês se conhecem?
— Ele é amigo da minha mãe, estudaram juntos. — Eu disse sem graça.
Não tive coragem de dizer que ele é o meu pai. Rey nunca tinha dito que tinha um filho, também nunca disse que não. Acho que nunca perguntaram isso para ele em nenhuma entrevista.
A segunda aula não foi tão boa quanto a primeira. Não apenas por não conseguir me concentrar, pensando em como encarar o Rey, mas meus novos colegas também não acharam a menor graça.
Ao final da aula decidi ir embora, caminhava em direção à saída do prédio quando escutei Rey me gritando:
— Edu! Edu!
Eu parei e o esperei chegar até mim.
— Vem comigo, vamos almoçar. — Rey disse.
Eu o segui calado até o seu carro que estava parado bem em frente ao prédio. Entramos no carro e Rey me encarava, eu não conseguia imaginar o que ele estava pensando, por algumas vezes ele abriu a boca para falar algo, mas se calou. Ligou o carro e começou a dirigir.
— Por que não me disse que viria pra cá? — Rey me perguntou.
— Não achei que era importante. — Eu respondi.
— Como não? Há anos que eu venho te chamando para me encontrar, ir pra Hollywood, vir aqui para o Rio. E simplesmente descubro que você está morando aqui e será meu aluno. — Rey disse irritado.
— Desculpa, mas não acho que tenho essa obrigação. — Eu disse. Não gostei dele falando comigo daquela forma.
— Me desculpa Edu. — Rey disse me surpreendendo. — Estou feliz por você está aqui.
Eu o encarei desconfiado.
— Passei todos esses anos que estive fora pensando em você, em podermos ficar juntos, nos conhecer, eu ser seu pai de verdade. Você não tem ideia do quanto eu sofri por estar longe de você. Por ter deixado outro homem te criar. Fiquei chateado por descobrir que você está aqui dessa forma. Por vocês terem me excluído dessa forma da sua vida. — Rey disse.
— Tudo bem. — Respondi.
— Vamos almoçar e depois fazer um passeio. Vou desmarcar todos os meus compromissos para gente passar o dia juntos ok?
— Não precisa, eu já conheci bastante da cidade.
— Já? Você chegou quando?
— Na semana passada.
Rey demonstrou mais uma vez seu descontentamento.
— Está morando onde? — Ele perguntou.
— Em uma república, em Laranjeiras.
— Venha morar comigo. — Rey disse. Eu não respondi e ele continuou. —Tenho um apartamento grande, de frente para o mar, em Ipanema. Você vai gostar, terá um quarto só pra você.
— Já tenho um quarto só pra mim. Eu agradeço, Rey.
— Tudo bem, talvez seja cedo pra isso, vamos dar um tempo para você me conhecer melhor.
— E pra você também.
— Eu já te conheço Edu, e amo você desde o dia em que nasceu.
Fiquei sem graça. Eu não conseguia ver o Rey como pai, como alguém que eu amasse e que me amasse. Se Francisco que foi um pai para mim, me deu amor e carinho, deixou de me amar, como eu podia acreditar que o Rey me amasse. Me lembrava de poucos momentos com o Rey. Quando eu era criança, me lembro do dia em que ele partiu para os Estados Unidos e que estava chorando quando me abraçou no aeroporto, eu o amava naquela época, mas eu era apenas uma criança.
Me virei para a janela e percebi que estávamos chegando em Ipanema. Entramos com o carro na garagem do seu prédio.
— Achei que iríamos almoçar em algum restaurante. — Eu disse.
— Iríamos, mas quero te mostrar a minha casa. Vou pedir para entregarem o almoço aqui. — Rey respondeu.
Entramos em seu apartamento, era no sexto andar. A sua sala era gigante, um bonito lustre no teto, alguns sofás. Era dividida confortavelmente em quatro ambientes. Ao fundo, havia uma enorme varanda. Institivamente eu me dirigi até lá. Era um dia de sol, a praia estava cheia para um dia semana.
— Escolhi esse andar pois é alto o suficiente para ver toda a vista e baixo o suficiente para vermos as pessoas daqui, não aquelas formiguinhas. — Rey disse sorrindo.
— Boa escolha. — Eu respondi devolvendo o sorriso. Realmente era tudo muito lindo.
— Vem cá, quero te mostrar uma coisa. — Rey disse me pegando pela mão. Fiquei sem graça ao sentir o seu toque, ao atravessar toda aquela sala e seguir por um grande corredor até a porta de um dos quartos de mãos dadas com ele. — Veja esse quarto.
Era um quarto bonito, grande com uma casa de casal, todo decorado em diversos tons de azul e cinza, todo mobiliado com guarda-roupa, painel para TV, mesa para estudos. Parecia esses quartos de demonstração, de revista. Atrás da cortina havia uma porta de vidro que dava acesso para a varanda.
— Bonito. — Eu disse. — Muito bonito.
— É o seu quarto. — Rey disse. Eu olhei sem entender. — Em todas as casas que eu moro eu monto um quarto para você, para o dia que você resolver me visitar.
Eu não tinha palavras para responder.
— Quando resolver vir, compro uma TV e um computador pra você. — Rey disse apontando para os lugares vazios. Seus olhos brilhavam. Eu me sentia cada vez mais sem graça.
Escutamos um barulho na porta da sala e fomos ver. Era o mesmo cara que eu vi no supermercado com o Rey no dia que eu cheguei no Rio.
— Oi Rey, está em casa? — O rapaz disse surpreso.
— É a minha casa né, Fábio. — Rey disse rindo olhando pra mim, foi aí que tal do Fábio reparou em mim.
— Hum, quem é o garoto? Vai dizer que finalmente trouxe um ativo pra gente. — Fábio disse rindo me olhando de cima a baixo e caminhava em direção ao Rey para lhe dar um beijo na boca. Rey sem graça virou o rosto.
— Menos Fábio. Ele é o meu... — Rey disse e me encarou. Eu abaixei a cabeça — Filho.
— O quê? Filho? Desde quando você tem um filho Rey? — Fábio perguntou.
— Desde quando ele nasceu. — Rey respondeu sorrindo apontando para mim.
— Pior que vocês se parecem mesmo. — Fábio disse me encarando. Era verdade, a semelhança era grande, não ia demorar muito para alguém na faculdade reparar nisso também. — Ele vai morar aqui com você?
— Sim — Rey respondeu.
— Não. — Eu respondi junto. Fábio olhou sem entender.
— Ele vai sim, quando ele quiser. — Rey disse.
Se antes eu já não queria morar com o Rey, imagina agora sabendo que ele e esse Fábio moravam juntos.
— E o que está fazendo aqui Fábio? — Rey perguntou.
— Estava na praia, resolvi subir aqui para tomar um banho e pegar uma muda de roupa que havia deixado aqui. — Fábio respondeu.
— Não quero que venha aqui sem me dizer nada. — Rey disse.
— Rey, você quem me deu a chave da sua casa. — Fábio disse.
— Mas não para usá-la ao seu bel-prazer. Me avise toda vez que decidir ou precisar vir aqui, tudo bem? — Rey disse calmo. Percebi que apesar de ter a chave, Fábio não morava lá e que Rey não ficou satisfeito em vê-lo entrando ali.
O porteiro tocou o interfone informando que o almoço havia chegado e que o rapaz do restaurante estava subindo.
— Se tivesse me avisado que viria, teria pedido comida para você. — Rey disse para Fábio. — Pode ir tomar banho e pegar a sua muda de roupa.
Fabio entrou para a suíte enquanto Rey abria a porta para o entregador. A cozinha do Rey era linda, toda em inox. Rey tirou as embalagens das sacolas chiques do restaurante e colocou sobre uma bancada.
— Pedi massa, afinal todo mundo gosta de massa e você não é do tipo que faz dietas certo? Pelo menos não precisa — Rey disse passando a mão na minha barriga. Estremeci com o seu toque — Pedi também carnes de boi e de Frango grelhadas. Pode se servir.
Rey me entregou o prato e os talheres. Me servi e comemos na mesa na daquela enorme cozinha.
— Gostou? — Rey me perguntou enquanto almoçávamos.
— Sim, muito bom.
— Quer comer mais? — Rey perguntou quando finalizei o meu prato.
— Não, muito obrigado, estou satisfeito. — Respondi.
Fábio entrou na cozinha, sem camisa exibindo o seu tanquinho e muito perfumado.
— Quer almoçar Fábio? — Rey perguntou.
— Achei que não tinha comprado pra mim. — Fábio disse.
— Veja aí na bancada. — Rey disse.
Fábio se serviu e sentou ao meu lado.
— Diz aí... — Fábio disse pra mim.
— Dizer o quê? — Perguntei.
— Sei lá, qualquer coisa. Não sei nem o seu nome. Qual a sua história?
— Eduardo, vim para o Rio para estudar. — Respondi por educação. Não tinha a mínima vontade de conversar com ele.
— Ele é meu aluno. Descobri hoje que o Edu havia se mudado pra cá. — Rey disse.
— Por que nunca me falou dele? — Fabio disse.
— Porque era complicado. — Rey respondeu.
— E agora não é mais? — Fábio perguntou.
— Não, ele está aqui. — Rey respondeu sorrindo.
— Há quanto tempo estão juntos? — Perguntei. Rey ficou claramente sem graça.
— Seis meses. Nos conhecemos há um ano, seu pai me deu aula ano passado, mas apenas quando me formei no meio do ano que ficamos juntos. — Fábio disse. Era estranho outra pessoa além da minha mãe se referir ao Rey como meu pai.
— E vocês não moram juntos? — Perguntei.
— Não. — Rey respondeu.
— Seu pai gosta de privacidade. — Fábio disse. E eu entendi o seu recado.
— Você está morando onde? — Fábio me perguntou.
— Laranjeiras. — Respondi.
— Perto de mim, moro em Botafogo. Eu sou carioca mesmo, mas minha família mora toda na zona oeste. — Fábio disse.
— Bom Rey, muito obrigado, mas já vou embora. — Eu disse me levantando.
— Não Edu, vamos passar o dia juntos. — Ele disse.
— Deixa para outro dia. Obrigado pelo almoço. — Eu disse.
— Então deixa eu te levar em casa.
— Não precisa.
— Eu faço questão. — Rey disse levantando da mesa.
Rey foi ao banheiro e voltou com a chave do seu carro nas mãos. Virou para o Fábio e disse que depois precisavam conversar. Fábio se despediu de mim com um sorriso e uma piscada. Eu despedi de forma seca.
Pegamos o carro e fomos em direção a minha casa. Rey me contava momentos aleatórios da sua vida e dizia que sempre se lembrava de mim. Ele realmente parecia contente ao meu lado. Já em Laranjeiras eu o guiei até o meu prédio.
— É aqui. — Eu disse quando chegamos. — Obrigado.
Rey não me deixou sair do carro. Me puxou em um abraço, ele não me soltava. Entendi que ele não me soltaria até que eu retribuísse. Também o abracei. Senti o agradável cheiro do seu pescoço. Senti o seu peito colado ao meu e nossos corações, ambos acelerados e batendo juntos. Rey me abraçou mais forte, e eu fiz o mesmo. Ele passou a mão na minha nuca e no meu cabelo, ele me afastou um pouco e olhou pra mim. Sentia meu coração batendo ainda mais rápido. Por um segundo pensei que Rey me beijaria. E por um segundo eu quis aquilo.
— Estou tão feliz em te ver. — Ele disse voltando a me abraçar e me dando um beijo no rosto. — Vou te ligar, quero te encontrar de novo. Tudo bem?
Mais uma vez não consegui dizer nada. Apenas concordei com a cabeça. Saí do seu carro e percebi que estava excitado. Senti nojo de mim mesmo.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 5 - Rey
Depois do susto de encontrar com o meu filho na minha sala de aula, eu o convidei para almoçar comigo. Tivemos um tempo juntos bem agradável, apesar de quase estragar tudo logo no início, irritado por nem ele, nem a mãe, me contarem que ele havia se mudado para a mesma cidade que eu. Consegui me acalmar e levei o Edu para a minha casa, mostrei o quarto que montei para ele e me pareceu gostar, apesar de recusar o convite para morar comigo.
Fábio apareceu de surpresa na minha casa, não gostei dele entrando no meu apartamento como se fosse sua casa, lhe dei a chave para facilitar os nossos encontros e não para ele usar a casa ao seu bel-prazer.
Almocei com Edu e Fábio, fiquei sem graça quando eles começaram a falar de mim, nunca tinha pensado em como contar para o meu filho que eu era gay. Ele aceitou numa boa. Acredito que a Ana e o Francisco já tinham comentado isso com ele. E fiquei feliz em saber que Edu não era um hipócrita, que ficou com garotos e depois sairia julgando os outros.
Edu não quis passar o resto do dia comigo. Disse que já conhecia a cidade e que tinha que ir. Eu o levei em casa, deixei no bairro das Laranjeiras e antes que ele pudesse sair do carro eu o puxei para um abraço. Edu ficou parado e eu não o larguei. Ele me abraçou de volta, tinha anos que eu não abraçava o meu filho. Era estranho, havia perdido 13 anos de sua vida. Mais de dois terços da vida dele, era muita coisa. Ele não era mais um garotinho de 5 anos que eu carregava no colo e sim um homem.
Senti Edu cheirando o meu cangote, meu coração disparou. Eu o abracei mais forte e ele retribuiu. Eu o afastei daquele abraço e segurei no seu rosto. “Como você é lindo”, pensei, admirando a sua beleza.
— Estou tão feliz em te ver. — Eu disse lhe dando um beijo no rosto e o abraçando. — Vou te ligar, quero te encontrar de novo. Tudo bem?
Edu concordou com a cabeça e saiu do carro. Percebi que ele estava tímido na minha presença, falou pouco, mas senti que ele também gostou no nosso encontro.
Enquanto voltava para casa não conseguia pensar em outra coisa além do seu lindo rosto. No rádio tocou uma música que não poderia ser mais propensa para o momentinho. All Star e eu ia cantando junto pensando no Edu:
— “Estranho seria se eu não me apaixonasse por você... O sal viria doce para os novos lábios... Colombo procurou as Índias mas a Terra avisto em você... Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras... Satisfeito sorri quando chego ali... E entro no elevador... Aperto o 12 que é o seu andar... Não vejo a hora de te encontrar... E continuar aquela conversa... Que não terminamos ontem, ficou pra hoje...”
Cheguei em casa e me surpreendi com Fabio lá estirado no meu sofá com o celular na mão.
— Uai! Você ainda está aqui? — Perguntei.
— Você disse que precisávamos conversar. — Fábio respondeu.
— Não precisava ser agora. — Eu disse. Fábio me olhou sorrindo, percebi que ele preferia o conforto do meu apartamento.
— São coisas simples. Uma já disse mais cedo, não quero você aparecendo aqui sem me avisar. A chave é pra quando combinarmos, você não ter que esperar eu chegar na portaria ou na rua. — Eu disse.
— Entendido. — Fábio responde. Voltando a olhar para o celular.
— Outra coisa é que não gostei quando disse para o Edu que eu gosto de privacidade. Tinha acabado de convida-lo para morar comigo e você dizendo aquilo o fez desanimar.
— Isso não Rey. Primeiro que ele já tinha dito que não iria morar aqui. — Fábio disse deixando o celular de lado e vindo na minha direção. — Segundo eu disse a verdade. Você disse que gosta da sua privacidade, você mesmo que disse isso, quando recusou deu vir morar com você.
— É diferente morar com alguém que você está namorando e um filho. Tem ideia do que é para um pai ficar 13 anos longe do filho e agora ter a oportunidade de voltar a conviver com ele?
— Não tenho ideia. Mas estou feliz. Pela primeira vez disse que estamos namorando. — Fábio disse me beijando.
— Eu aqui falando do meu filho e você preocupado com rótulos do nosso relacionamento? Estou falando sério. Quero o meu filho comigo.
— Rey, relaxa. Quer saber, acho que não é uma boa isso. Colocar um adolescente, um desconhecido dentro de casa.
— É o meu filho Fábio e a minha casa.
— Rey, você nunca tinha falado desse filho, ele é mesmo tão importante assim? — Fábio me perguntou como se eu estive mentindo.
— Claro. Nunca disse nada pois, sempre foi muito difícil pra mim. Mas é o meu filho, eu o amo mesmo que ainda seja um desconhecido.
— Tudo bem Rey, só relaxa. — Fábio disse vindo por trás de mim e fazendo uma massagem.
Gostei de senti-lo atrás de mim. Do seu toque em meus ombros e nuca. Estava mesmo precisando daquilo. Estava mesmo precisando de um homem atrás de mim. Levei a minha mão até o corpo do Fábio, na esperança dele ficar excitado e ser ativo comigo. Apalpei o seu pau, mas estava mole.
Eu já sabia que Fabio só ficava de pau duro quando tinha um pau no seu cu. Esse era um dos motivos que não queria assumir um relacionamento com o Fábio. Ele não me completava, sua companhia era legal, seu corpo era uma delícia, mas na cama eu sentia falta de um macho. Algumas vezes já havia comentado isso com ele. Ele insistia em trazermos mais alguém, um ativo. Disse que tinha alguns amigos e conhecia alguns profissionais. Eu não sou careta, longe disso, já aprontei muito. Mas não era algo que eu estava procurando no momento. Ser apenas ativo não era tão ruim.
Fábio tirou a minha camisa e beijou a minha nuca, me abraçou por trás, desabotoou a minha calça e me deixou nu. Estufei a minha bunda para ele, mas Fábio me virou, colocou o meu pau na sua boca e começou a me chupar. Me puxou para o meu quarto, me jogou na cama e montou em mim. Nos beijávamos, meu pau externamente duro voltou para a boca do Fábio, estiquei meu braço até uma gaveta e peguei uma camisinha. Abri e entreguei para o Fábio colocar no meu pau. Ele pegou a camisinha e colocou na boca e encapou o meu pau.
Fábio sentou no meu pau e cavalgava. Eu passava a mão pelo seu corpo e toquei no seu pau estava endurecendo. Fábio gemia, eu o masturbava, gostava de tocar naquele pau enorme. Me inclinei e o coloquei na boca. Não demorou muito e gozei. Fábio continuava cavalgando e gemendo, meu pau ainda estava duro dentro dele. Eu voltei a me deitar e comecei a pensar no Edu. Aquele abraço que nós demos, o seu rosto bem próximo ao meu, a sua respiração ofegante e principalmente naquele rosto lindo.
Fábio gozou no meu peito me despertando dos meus pensamentos. Ele caiu sobre mim e me beijou.
— Eu poderia dormir aqui hoje. — Ele disse.
— Hoje vou jantar com o Maia. Desmarquei meus compromissos e ele disse que queria conversar comigo. — Eu disse.
— Quando vai me levar para jantar com ele?
— Um dia que for propício.
— Rey, você também não me ajuda. Estou desempregado, fazendo bico de modelo. Caralho! Qual a vantagem de namorar com um pica das galáxias se ele não me ajuda em nada.
— Então namora comigo para conseguir vantagem?
— Claro que não Rey, eu gosto de você e você é muito gostoso. Entendo você não me colocar nos seus projetos, mas me ajuda na network. —Fábio disse me beijando.
— Em um momento oportuno Fábio. — Eu disse me levantando.
Saí do quarto pela varanda e lá acendi um cigarro vendo a vista, o sol já estava mais baixo, mas ainda estava quente. Peguei meu o telefone e liguei para o Edu. Ele não atendeu, mas eu insisti. Podia fazer o papel de chato e perguntar se ele não queria falar comigo ou simplesmente ignorar o fato que ele estava rejeitando as minhas ligações. Por fim ele atendeu.
— Oi Edu tudo bem? Tem planos pra hoje à noite? — Eu disse e antes que pudesse pensar em alguma desculpa eu continuei: — Vou jantar com o Maia, queria te levar, acredito que como qualquer estudante de cinema você tem a vontade de conhecê-lo, certo?
— Tenho sim, mas é que tenho aula amanhã cedo. — Edu respondeu.
— Não vamos demorar, será só um jantar eu te pego aí às 19 e te levo de volta. Pode ser?
— Não sei Rey.
— Edu é um jantar com o Maia, comigo e com o Maia. Duas gerações de diretores que estarão juntos em um projeto infame e secreto. — Eu disse. — Foi esse o título que deram em uma coluna sobre o nosso novo projeto. Tem certeza que não quer participar desse jantar?
— Talvez seja melhor eu não ir, é um projeto secreto. — Edu disse.
Respirei fundo.
— Não será secreto para você meu filho. Vamos comigo. Te pego às 19.
— Ok. — Ele disse desligando o telefone.
Desliguei o telefone satisfeito, percebi que eu teria que ter muita paciência como Edu. Paciência, algo tão raro nos diretores. Olhei para trás e Fábio estava lá em pé me olhando com cara feia.
— Não vai me levar para jantar com o Maia, eu doido para ir. Mas ficou aí no telefone suplicando para levar aquele garoto que nem gosta de você. — Fábio disse bravo.
— Caralho Fábio! Vai ficar escutando as minhas ligações agora? Aquele garoto é o meu filho. Ele pode não gostar de mim ainda, mas eu vou conquistar o seu amor. E para de ciúmes que isso não faz o seu tipo.
Fábio não respondeu, se jogou no sofá e pegou o seu celular. Tomei banho, fiquei pronto e já estava impaciente para buscar o Edu. Fábio queria ir embora, mas como eu disse que o levaria até a sua casa, ele me esperou.
Liguei para o Edu dizendo que estava chegando e quando parei o carro na porta do seu prédio ele já estava me esperando.
— Você já conheceu a Barra? — Perguntei.
— Não, ainda não. Só fui até o Leblon. — Edu respondeu.
— Que bom, vou passar com você em um dos pontos que eu adoro dirigir, vai ver a vista do Vidigal. A praia de São Conrado e o Elevado das Bandeiras. Tenho certeza que vai achar lindo.
— Legal. — Edu respondeu.
Ele sempre ficava tímido e de poucas palavras comigo. Bem diferente do que Ana me falava dele. Um rapaz inteligente, bem despojado e para frente. Essa parte do meu filho eu ainda não conhecia e queria muito conhecer. Durante todo o caminho eu ia puxando assunto, mas Edu respondia quase sempre monossilábico. Admirava a vista e o pôr do sol daquele dia de verão.
— Bonito, não é? — Eu perguntei. Edu concordou com a cabeça. — Ainda não conheci outro lugar tão belo.
Chegamos ao restaurante e nos sentamos na mesa indicada pelo garçom, Maia ainda não havia chegado. Pedi um vinho que eu sabia que o Maia gostava, perguntei ao Edu se ele bebia. Edu sorriu e aceitou. Finalmente ele abriu a boca e contou um pouco da sua vida, disse que costumava beber com os amigos já há alguns anos. Mas que nunca foi d e beber muito.
Estávamos finalizando a primeira taça quando Maia chegou.
— Maia. — Eu disse me levantando, Edu olhava para ele meio bobo. — Deixa-me apresentar o Edu...
— Não precisa, é a sua cara. — Maia respondeu abraçando o Edu.
— Muito prazer, é uma honra te conhecer. — Edu disse.
— Honra maior é ser filho do Reynaldo. — Maia disse sorrindo para mim. — Como o tempo passa Rey, você está ficando velho. Outro dia você me mostrava uma foto desse garoto, era de um aniversário. Quatro ou cinco anos de idade.
— Era de 5 anos. — Eu respondi. — O tempo passa mesmo.
— Agora está aí, já um homem. Já tem 18 anos? — Maia perguntou.
— Sim, e está na faculdade. Fazendo cinema, meu aluno. — Eu disse com orgulho.
— Coisa boa, então vai puxar o seu pai. — Maia disse deixando o Edu constrangido.
Tivemos um jantar agradável. Maia me contou como foi o encontro com a equipe do filme, ele ainda sentia um incomodo com o roteiro. Ele sentia que alguma coisa estava faltando e não sabia o que era. Para mim estava tudo ótimo, já havia alterado o que eu achava necessário.
— Sobre o que é o filme? — Edu perguntou.
— Você não contou para o seu filho? — Maia me perguntou.
— Não contei para ninguém. — Respondi.
— Sobre incesto. — Maia respondeu.
— Hum. — Edu disse.
— Não pareceu chocado. — Eu disse.
— Essa geração não se choca com mais nada. — Maia respondeu.
— Na TV brasileira já teve “Os Maias”, baseada na obra de Eça de Queirós, “Engraçadinha”, e até o filme “Do começo ao fim”, onde o incesto é entre dois irmãos, homens. — Edu disse.
— Essas obras já têm muito tempo. E a maioria da população não são como os jovens de hoje. Tenho certeza que esses programas fariam muito mais barulho hoje. — Eu disse.
— Não deixa de ser verdade. Mas ainda estamos fazendo o mais do mesmo. Ainda estamos muito próximo de “Os Maias”. — Maia disse.
— Eu já sugeri usarmos dois homens. — Eu disse.
— Ficaria uma cópia do filme que seu filho citou. — Maia retrucou.
Mudamos de assunto, sabia que se redéssemos, ficaríamos horas ali dando murro em ponta de faca e nenhuma ideia nova surgiria. Falamos sobre a faculdade, Edu fez algumas perguntas curiosas e inteligentes para nós. Percebi que conversávamos muito mais quando tinha mais alguém junto. Podia ver como ele era inteligente e tinha um lindo sorriso.
— Pensando aqui, eu tive uma ideia. — Maia disse quando acabamos de jantar. Ele olhava para mim e para o Edu com um sorriso malicioso. — Se nosso filme for sobre pai e filho?
Eu me contorci na cadeira, Edu olhou para o prato vazio e não nos encarou.
— Essa é a reação que eu esperava. — Maia disse sorrindo.
— Isso é perigoso Maia. — Eu disse. — Nossa sociedade é cheia de tabus, é pior que incesto entre irmãos.
— É por isso que devemos fazer. — Maia respondeu e virou para o Edu. — E o que você acha garoto?
— Eu não sei. Realmente não me recordo de nada parecido. — Ele disse.
— É isso Rey, era algo assim que estava faltando. Precisamos mudar o roteiro. — Maia disse.
— Será um escândalo. — Eu disse
— O escândalo é necessário. — Maia disse.
— “Mas ai daquele por quem o escândalo vier”. — Eu disse, citando Jesus. Me recordava de muitas passagens bíblicas devido a minha educação religiosa, meu pai evangélico e minha mãe católica. Maia ficou calado, ele não era religioso. — Isso vai nos atrasar todo. Já estamos com quase tudo pronto para iniciar as filmagens.
— Rey, esse será o filme. Não entende como isso será criticado. — Maia disse.
— Isso pode ser o fim das nossas careiras. — Eu disse. — É quase como romantizar a pedofilia. Um envolvimento assim de pai e filho.
— Então vamos montar um roteiro que fique claro que nunca existiu pedofilia. — Maia disse.
— Pode ser algo como se pai e filho viveram separados muito tempo e se reencontraram depois que já era maior de idade. — Edu disse.
— Esse garoto é bom. — Maia disse para o Edu. — Pensem nisso. Monte o conceito Rey, sei que você consegue.
Edu ficou feliz com o elogio, mas não conseguiu me olhar nos olhos durante aquela noite, não consegui entender o motivo. Nos despedimos do Maia e fomos embora. No caminho de volta, Edu ficou admirando a vista, agora o mar estava do seu lado.
— Você poderia dormir lá em casa hoje. — Eu disse.
— Tenho aula amanhã cedo. Se você não puder me levar em casa eu posso pegar o metrô ou um táxi.
— Não é isso. Claro que posso te levar. Mas queria ficar mais tempo com você, conversar mais. Parece que você não consegue conversar comigo quando estamos só nós dois. — Eu disse, deixando o Edu sem graça. — Temos que mudar todo o roteiro do filme agora. Criar um novo conceito, um resumo da história, definir seus atos.
— Temos? — Edu perguntou. — Eu também? Vai querer a minha ajuda?
— Claro. Por que não? Foi você que teve a ideia do pai e do filho se encontrando anos depois. Vou adorar passar um tempo com você e trabalharmos juntos.
— Seria legal participar disso. Mas hoje tenho que dormir em casa, tenho aula amanhã cedo, tenho que preparar as minhas coisas e já está tarde.
— Então amanhã depois da sua aula vá até a minha casa. Podemos almoçar e trabalhar nisso. — Eu disse.
Edu apenas concordou com a cabeça. Quando chegamos na porta do seu prédio, Edu não saiu correndo do carro, ele ficou parado me olhando e por fim disse:
— Então tá. Até amanhã então. — Ele disse.
Eu me inclinei até ele e o abracei. Edu retribuiu o abraço e saiu do carro mais uma vez sem graça. Eu sorri e vi que ele se corou, retribuindo um lindo sorriso. Eu fiquei esperando-o entrar no prédio, mas ele também ficou me esperando partir. Por fim partimos juntos.
O resto da noite fiquei pensando no que Maia queria. Depois de todo o trabalho que havíamos feito, tudo pronto para as gravações, começaríamos praticamente do zero. Claro que as locações e a maioria dos atores, poderiam ser aproveitados, mas o roteiro... começaríamos do zero.
Não estava confortável com essa ideia de um drama de pai e filho. Me causava arrepios. A ideia do Edu, de um pai e filho se reencontrarem após alguns anos, poderia amenizar o impacto, mas essa era a nossa própria história. Não podia escrever algo assim, não da forma que eu estava me sentindo, não depois de abraça-lo daquele jeito. Tinha medo de criar um personagem que permitiria eu ver e amar o meu filho de outra forma.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 6 – Edu
Depois de passar a tarde recluso no meu quarto. Me segurando para não me masturbar, tentando não pensando no Rey. Meu telefone tocou e era ele. Rey me chamou para jantar, além de nós, seria com o Maia também, um diretor muito foda de quem Rey foi estagiário quando começou a trabalhar com cinema e TV. Morrendo de vontade, mas meio sem jeito, acabei aceitando o convite.
Empolgado, entrei para o banho correndo. Passado um tempinho, Samuel estava batendo na porta.
— Anda logo! Preciso sair. — Ele berrou.
— Já vai. — Eu respondi.
— Abre aí, deixa eu ir fazendo barba enquanto você termina o banho.
Achando que não tinha nada de mais, abri a porta e ele entrou. Percebi que ele olhou para todo o meu corpo, reparou no meu pau que estava meia-bomba e foi para a pia enquanto eu voltava para o chuveiro.
— Vai sair também? — Samuel me perguntou.
— Sim, vou jantar fora. — Eu respondi.
— Bom, já está fazendo contatos? Depois podemos trocar alguns, se quiser. — Samuel disse e eu realmente não entendi o que ele quis dizer.
Terminei meu banho. Estava me enxugando, quando abri o box vi Samuel totalmente nu com o seu pau enorme e mole. Foi impossível não reparar, se mole era assim, imaginei duro. Samuel percebeu que eu o reparei e sorriu.
— O chuveiro é todo seu. — Eu disse indo para o meu quarto.
Tive dificuldade para escolher uma roupa boa. Precisava ir ao shopping. Na minha cidade eu não tinha muita vaidade, também lá, não precisava de roupas bacanas para sair. Passava quase o dia inteiro de uniforme e quase nunca saia. Muitas das minhas roupas acabaram ficando pequenas. Desde que Francisco virou a cara para mim eu não havia comprado roupas novas.
Depois de pronto, fui para a sala. Cris e Mama estavam por lá. Quase dei meia volta pelo olhar da Mama para mim. Pela sua expressão, parecia que eu estava fedendo. Cris me cumprimentou e me elogiou. Sentei ao seu lado.
— Você está bem? Parece nervoso? — Cris me perguntou.
— Tenho um jantar, vou encontrar com dois cineastas muito importantes. — Eu disse. No mesmo momento, Samuel também entrou na sala.
— Sério Samu? Não tem uma semana que ele chegou e você já está levando-o para a seguir nessa vida? — Mama disse. Eu fiquei sem entender nada.
— Me tira dessa Mama, eu não tenho nada com isso. — Samuel disse.
— E pra onde vocês estão indo? — Mama perguntou.
— Ele eu não sei, pergunta pra ele. E pra onde eu vou, não te interessa. — Samuel disse.
Eu poderia responder a Mama, mas Samuel estava certo, não interessa para ele.
— Não me interessa e nem precisa me responder, sei que você está indo prestar seus serviços, seu michê de quinta. — Mama disse sorrindo.
Achei que os dois iriam começar uma briga, mas Samuel foi até a Mama e lhe deu um beijo no rosto.
— Tchau pra vocês. — Samuel disse se despedindo e piscando um dos olhos para mim.
— O Samuel é garoto de programa? — Perguntei.
— Sim. — Mama respondeu.
— Não. — Cris respondeu ao mesmo tempo. Os dois se olharam e sorriram.
— É logico que sim. — Mama disse.
— Não Mama! Você sabe que não. — Cris respondeu.
— Qual a diferença do que ele faz para um garoto de programa Cris? — Mama disse.
— O que ele faz? — Eu perguntei curioso.
— Se prostitui. — Mama respondeu sorrindo.
— Para com isso Mama. O Samu tem alguns encontros, normalmente homens mais velhos que lhe dão muitos presentes. — Cris respondeu.
— Se prostitui, eu disse. — Mama reafirmou.
— Mama, o Samu não fica na rua se anunciando. Ele curte Sugar Daddy. — Cris disse.
— Ah Cris, isso é só mais um nome que inventaram para os garotos de programa. São esses novinhos bonitinhos, quase sempre ativos ou héteros, que querem montar em cima de uma bicha velha e mal-amada. — Mama disse.
— E que tenha dinheiro, né? — Eu disse. Pensei que, para a Mama ser uma bicha velha e mal-amada, faltava alguns anos. E lhe faltava muito dinheiro para ter alguém como o Samuel disponível para ele.
— E ter dinheiro. — Mama respondeu como se eu tivesse lhe dado razão em tudo. — E você, pequeno Eduardo?
— Eu o quê? — Perguntei.
— Está seguindo esse caminho também? — Mama me perguntou.
Cris olhou para ele com censura.
— Não, claro que não. Vou jantar com um professor da faculdade e um amigo dele, são diretores de cinema.
— Hum, sei... — Mama disse não acreditando em mim.
— Ele é um amigo de infância da minha mãe. São amigos até hoje. — Eu disse me explicando sem saber o porquê. Não consegui simplesmente dizer que ele é o meu pai biológico.
Mama pareceu satisfeita com a minha resposta e Cris mudou o assunto. Pouco tempo depois eu desci para esperar o Rey. Entrei em seu carro e senti o seu perfume, era muito bom. Me senti constrangido em perguntar qual era o nome, mas eu sabia que assim que fosse possível iria em uma loja comprar um igual.
Rey fez um caminho com uma vista simplesmente maravilhosa. Chegamos ao restaurante, Rey pediu um vinho e começamos a beber. Pouco tempo depois, Maia chegou. Ele de cara já sabia que eu era filho do Rey. O jantar foi ótimo, adorei ver aqueles dois conversando sobre cinema. Eu ficava babando vendo Rey tão bonito, tão inteligente, tão senhor de si.
— Sobre o que é o filme? — Eu por fim perguntei.
— Você não contou para o seu filho? — Maia perguntou para o Rey.
— Não contei para ninguém. — Rey respondeu.
— Sobre incesto. — Maia respondeu.
— Hum. — Eu disse.
Acho que Rey e Maia esperavam outra reação de mim. Eu disse que não existia grandes novidades em incesto. Rey disse que as pessoas se chocariam muito mais hoje em dia do que as produções feitas anos atrás. E o assunto foi mudando e rendendo, minha timidez havia passado e tentei absorver o máximo de informações e conhecimentos daqueles dois. Até que Maia voltou ao assunto do seu filme.
— Pensando aqui, eu tive uma ideia. Se nosso filme for sobre pai e filho? — Maia disse olhando para mim e para o Rey.
Abaixei a minha cabeça e encarei o prato. Me senti corado. Será que ele percebeu a forma que eu olhava para o Rey? Será que ele percebeu que por mais que eu tentasse negar, eu estava desejando aquele homem?
— Essa é a reação que eu esperava. — Maia disse sorrindo.
Rey dizia que a sociedade já estava cheia de tabus e que pai e filho era pior que irmãos. Maia me perguntou o que eu achava. Eu disse que não me recordava de nada parecido.
— Isso pode ser o fim da nossa careira. — Rey disse. — É quase como romantizar a pedofilia. Um envolvimento assim de pai e filho.
— Então vamos montar um roteiro que fique claro que nunca existiu pedofilia. — Maia disse.
— Pode ser algo como se pai e filho viveram separados por muito tempo e se reencontraram depois que o filho já era maior de idade. — Eu disse.
Maia me elogiou, eu fiquei feliz, mas me sentia muito constrangido. Não conseguia encarar o Rey e com medo do Maia ler algo em mim. E ficamos assim o resto da noite. Rey me trouxe em casa, antes me chamou para dormir na sua casa, mas recusei.
— Queria ficar mais tempo com você, conversar mais. Parece que você não consegue conversar comigo quando estamos só nós dois. Temos que mudar todo o roteiro do filme agora. Criar um novo conceito, um resumo da história, definir seus atos. — Rey disse.
Fiquei sem graça por ele ter notado que ficava tímido na sua presença. Que eu não sabia como agir. Não conseguia vê-lo com um pai. Não conseguia vê-lo com um homem qualquer, também não era como eu via Marcinho e os meninos. Era diferente. “Mas... Diferente como?”, eu me perguntava.
Rey disse que queria minha ajuda para montar um novo roteiro. E pediu para, no dia seguinte, eu ir até sua casa. Paramos na porta do meu prédio, ao mesmo tempo que eu queria sair correndo eu fiquei congelado dentro do seu carro. Algo dentro de mim me fazia ficar ali, sentindo aquele perfume, ao lado daquele homem.
— Então tá. Até amanhã então. — Eu disse.
Rey se inclinou e me abraçou. Eu o abracei de volta, senti o seu corpo ao lado do meu e mais uma vez fiquei excitado. Saí do carro e fiquei parado na porta do prédio esperando o Rey partir. Ele não ia embora, por isso fingi que entrei e o vi arrancando o carro, seguindo a rua até dobrar a esquina.
Meu pau estava duro dentro da minha calça apertada, tentei ajeita-lo, mas continuava marcando. Escutei uma risada atrás de mim e me virei sem graça.
— A situação tá brava aí? — Samuel disse. — Ninguém resolveu pra você não?
— Não saí com essa intenção. — Eu disse.
— E eu te avacalhei na hora do banho né? Nem deu pra socar uma. — Samuel disse com naturalidade. Mais uma vez sorri sem graça e entrei no elevador.
Não era um elevador grande, então não tinha nenhuma necessidade de o Samuel ficar tão perto de mim. Olhei para cima.
— Não tem câmera aqui. — Ele disse.
— Não era isso que eu estava olhando. — Respondi.
Samuel se aproximou ainda mais, parando com o seu rosto perto do meu e o dorso da sua mão esbarrando no meu pau por cima da calça.
— Não sou um Sugar Daddy. — Eu disse.
Samuel sorriu.
— Vejo que o assunto foi eu, depois que saí de casa. — Samuel disse me deixando sem graça.
— Desculpa, não quis dizer isso. — Eu disse enquanto o Samuel abria a porta do elevador. Eu o segui calado até dentro de casa, ele entrou no seu quarto e eu no meu.
Estava trocando de roupa quando Samuel vestindo apenas uma cueca, invadiu o meu quarto.
— Eduardo, deixa eu te falar o que rola de verdade. — Samuel disse.
— Não precisa. — Eu disse. Pela sua cara essa não era a resposta certa, não era o que ele aguardava. — Mas se quiser, pode falar. – Complementei, para não ficar aquele clima chato.
— Vamos começar com você me chamando de Samu. — Samuel disse.
— Tudo bem, Samu. — Eu disse vestindo uma bermuda. Sentei no meio da cama enquanto ele sentou na ponta.
— E você? — Ele perguntou e eu fiquei sem entender. — Du, Dudu, Edu?
— Dudu. — Eu disse. Mas pensei melhor, Dudu era como minha mãe e Francisco me chamavam, era aquele rapaz do interior. Não queria ser mais aquela pessoa. — Não, melhor Edu.
— Certo, Edu. — Samuel disse.
Samuel contou que não era garoto de programa. Disse que sempre quis uma vida melhor. A primeira vez que ele ficou com um homem de verdade, tinha apenas 14 anos, naquela época, ainda morava com os pais. Esse homem, era mais velho e foi um primo gay que os apresentou. O primo era poucos anos mais velho, era somente passivo, Samu desde sempre transava com ele. O tal homem que o primo o apresentou lhe dava alguns agrados em troca do Samu deixar ser chupado e até comer as vezes. Samuel contou que gostou dessa vida. E de acordo com ele, parecia ter um imã para casos assim. Ele disse que nunca procurou por nada.
— Com o passar do tempo, eu já rapagão, comecei a frequentar a zona sul. Não precisava voltar para casa de tão longe, porque sempre encontrava alguém com um convite de um lugar para passar a noite e também tinha a conta paga. Alguns eram só zueira pra ganhar uma bebida, ter um lugar para dormir, eu deixava fazer um boquete, mas tinha outros que eu curtia, comia com gosto e até beijava na boca. Foi assim que conheci o Ailton e vim de vez aqui pra zona sul. — Samu disse.
— Ele é seu namorado? — Eu perguntei. Samu sorriu.
— Não, não. Homem casado não tem namorado. Não há cobranças. Só preciso estar disponível.
— Casado? — Eu perguntei, sem querer pareceu um julgamento.
— Ele é casado, eu não.
— Desculpa. Não quis parecer que estava te julgando. Eu entendo, é que é meio novo pra mim essas coisas. Fui criado no interior, meu pai era bem cabeça-dura e tradicional. Não me entenda mal.
— De boa Edu. Eu vi que você é um cara cabeça aberta, um pouco assustado. Mas agora que você soube o que rola comigo e pela minha boca, me fala aí de você.
— Eu não tenho nada pra dizer. — Eu respondi.
— Tem sim. No dia que chegou disse pra Mama que já transou com homens, e hoje foi sair com dois homens.
— É... já transei com uns amigos, mas hoje não foi esse tipo de encontro.
— Mas você ficou na vontade, não ia sair daquele carrão naquele estado. — Samuel disse olhando para o meu pau.
— Não sei explicar o que está acontecendo comigo. — Eu disse.
— Já transou desde que chegou?
— Não.
— Está só na punheta?
— Sim, mas hoje nem isso consegui. — Eu disse. Samuel me olhou sorrindo. — Não foi porque você entrou no banheiro. Era pelo o que estava na minha cabeça. — Samuel pareceu não entender. — A pessoa que estava na minha cabeça.
— Qual o problema?
— Não posso me masturbar pensando nela, é errado, tipo muito errado.
— Edu, Edu. Não existe essa de “é errado”, quando temos desejos. Bom, não seria uma criança né? Porque isso sim é errado.
— Não, claro que não. Credo! Não, não era uma criança.
— Então relaxa e goza.
— Se fosse simples assim.
— Então deixa eu te ajudar. — Samu disse. Ele tinha um sorriso bonito e safado, seus dentes eram brancos e perfeitos, sua boca rosa como se estivesse de batom, dava um lindo contraste com a sua pele bronzeada. Ele me tocou e meu pau ficou duro como pedra na sua mão.
Eu sorri e ele me beijou. Seu beijo era bom. Samu segurava na minha cabeça com a outra mão, me empurrou na cama e se deitou ao meu lado. Eu passei a mão na sua bunda, uma bunda grande e bonita que me chamou atenção desde a primeira vez em que eu o vi.
Enfiei a minha mão por dentro de sua cueca e peguei naquela bunda firme, eu o alisava e cheguei ao seu pau, que também estava duro.
— Pensa que sou a pessoa que não sai da sua cabeça. — Samu disse.
— Não. Não quero pensar em ninguém, só em você. — Eu respondi.
Samu voltou a me beijar. E foi descendo pelo meu corpo me beijando. Eu me esforçava para pensar apenas no Samu, mas em alguns segundos eu me distraía e quando fechava os olhos imaginava o Rey. Consegui escapar daquele pensamento quando Samu encostou os seus lábios no meu pau. Senti seus lábios macios e molhados, a sua língua na cabeça do meu pau e meu pau entrando todo em sua garganta. Eu gemi.
Samu me olhou e pude ver um sorriso se formando, ele voltou a me chupar eu segurei pelos cabelos e o ajudava no movimento rápido que ele fazia no meu pau. Não demorou muito eu gozei em sua boca. Samu continuou chupando e acumulando toda a minha porra na boca. Ele se levantou e cuspiu pela janela, me fazendo rir.
Ele voltou até mim sorrindo e me beijou.
— Gostou? — Ele me perguntou.
— Muito.
— Agora é a sua vez. — Ele disse sorrindo enquanto tirava o seu pau da cueca.
Eu não estava preparado para aquilo. Não estava com vontade de chupá-lo, mesmo seu pau sendo bonito. Eu tinha acabado de gozar, meu tesão havia ido embora. Mas como eu diria aquilo pra ele sem parecer um escroto que só queria que ele me chupasse.
— Pense naquela pessoa. — Ele disse, percebendo que eu não queria chupa-lo, ele não ia desistir.
Pensei no Rey, cheguei até sentir o seu cheiro, como se ele mesmo estivesse ali. Me perguntei se o pau do Rey seria tão bonito quanto o do Samu. Segurei aquele pau e coloquei na boca. Segurava a bunda do Samu e apertava enquanto chupava todo o seu pau. Eu o chupei imaginando que o dono daquele pau gostoso fosse o Rey. Samu demorou para gozar. Imaginei que ele já tivesse gozado naquela noite. Quando percebi que ele estava para gozar tirei a minha boca e o masturbei. Peguei a minha cueca e coloquei sobre o seu pau, evitando dele me sujar ou sujar a cama. Samu me deu mais um beijo e saiu do meu quarto sorrindo. Sem dizer nenhuma palavra, sem eu saber se ele gostou ou se aquilo se repetiria. Percebi que eu estava excitado novamente, mas resolvi dormir. Teria um longo dia quando acordasse.
Dormi bem, gozar com o Samu me deu uma noite boa de sono. Na manhã seguinte, tomei café da manhã junto com meus colegas de república. Samuel agia como se nada tivesse acontecido, não sabia se aquilo era bom ou ruim. O segundo dia de aula foi muito interessante. Minhas novas amigas Jéssica e Estela, vieram puxar papo comigo.
— O Rey foi visto com o Maia ontem em um restaurante na Barra. — Jéssica disse.
— Como sabem disso? — Eu perguntei, elas sorriram.
— Temos nossas fontes. — Estela respondeu.
— Vocês estão o seguindo? Isso é doentio. — Eu disse.
— Claro que não. — Jéssica respondeu mostrando o celular. — Paparazzi.
— Nossa! Uma pessoa nem pode jantar em paz. — Eu disse.
— Amor, um restaurante que vai muitos artistas e com paparazzi na porta, eles foram lá para aparecer. — Jéssica disse.
“Será que foi uma jogada, levantar mais o assunto do filme que eles estão fazendo juntos? Que ainda é um mistério na mídia? Se for eles são muito mais espertos do que eu pensava.”
— Tinha alguém com eles. — Jéssica disse.
— É você? — Estela me perguntou.
Na foto eu estava de costas. Não dava para saber que era eu.
— Como sabem? — Eu perguntei.
— Eu disse que era ele. — Jéssica disse.
— Ele queria falar com você no final da aula, você disse que ele é amigo da sua mãe. O cara da foto parece com você. — Estela disse.
— Mas eu estava de costas. — Eu disse. Elas sorriram.
— Eduardo, me desculpa no que eu vou falar. Não me entenda mal, mas vocês se parecem muito. — Jéssica disse.
— Jéssica! — Estela a censurou.
— Estelinha, perguntar não ofende. Ofende Eduardo? — Jéssica perguntou.
— Não ofende Jéssica. — Eu respondi desanimado, já sabia onde elas queriam chegar.
— Sua mãe e ele eram só amigos? — Jéssica perguntou.
— Por favor, não comentem com ninguém. O Rey é meu pai biológico sim. Minha mãe conheceu o meu pai quando já estava grávida. — Eu disse.
Elas sorriram como se tivessem descoberto antes de todo mundo quem matou Odete Roitman.
— Meu Deus, você é filho do Rey. — Estela disse tentando sussurrar.
— Ele não é meu pai. — Eu disse. — Bom, é meu pai biológico. Nem tenho o nome dele. Por favor não espalhem.
— Eu não vou dizer nada, tudo bem que a gente é mais esperta que a maioria, mas vocês se parecem muito, daqui a pouco todo mundo vai perceber. — Jéssica disse.
Eu já imaginava algo assim, mas queria postergar isso o máximo. Apesar de que, naquele momento me senti meio órfão de pai, eu não queria que Rey me assumisse como um filho. Talvez eu o quisesse como homem. Tínhamos nomes diferentes, mas o rosto era praticamente igual.
Meu telefone tocou, era o Rey. As meninas viram o seu nome no visor do meu celular e sorriram.
— Edu, quero confirmar se você vem mesmo hoje depois da sua aula. Eu poderia te buscar aí na faculdade.
— Vou sim. Eu pego um metrô. Não se preocupe.
— Tem certeza? Eu posso te pegar.
— Tenho sim. Desculpa, tenho que desligar. — Eu disse desligando o celular.
As meninas me encararam, esperando explicações.
— Vocês vão se encontrar? — Estela perguntou. Concordei com a cabeça. — Me leva.
— Não posso. — Respondi.
— Você sabe qual o projeto que eles estão fazendo? — Jéssica me perguntou.
— Eles ainda não vão divulgar.
— Mas você sabe? — Estela reforçou a pergunta da amiga.
— Eu não posso dizer. — Respondi fugindo das minhas novas amigas antes que elas viessem com mais perguntas.
A segunda aula passou rápido. Ao terminar, fui em direção ao metrô. No caminho liguei para a minha mãe.
— Alô — Eu disse.
— Alô. — Francisco atendeu o celular da minha mãe.
— Pai! — Eu disse.
— Ana, seu filho. — Meu pai disse sem trocar nenhuma palavra comigo. Me deixando chateado.
Eu não havia falado com a minha mãe no dia anterior, só então contei que encontrei com o Rey, falei sobre o jantar, e que ele me chamou para trabalhar com ele em seu novo projeto. Ela ficou muito feliz. Perguntei como estava o meu pai e ela disse que bem.
— Pra ele eu não sou mais seu filho né? — Perguntei triste.
— Seu pai é um cabeça-dura, mas ele sente a sua falta, posso ver isso. Mas não se preocupe, isso vai passar.
— Tem mais de um ano que ele está assim mãe. — Eu disse.
— Mas não tem duas semanas que você foi embora. Enquanto você estava aqui na cidade era uma coisa, agora você longe é diferente, ele está sentindo. Quando vier no carnaval, tenho certeza que ele estará diferente, você vai ver. Você vem né?
— Vou sim. — Respondi.
Nos despedimos e entrei no metrô. Em alguns minutos eu já estava em Ipanema. Cheguei no prédio do Rey e o porteiro me deixou entrar.
— Oi Edu! — Rey disse ao abrir a porta.
Ele estava sem camisa, seu peitoral definido, sua barriga reta, sem gordura e não tinha gominhos, o que para mim deixava ainda mais atraente. Rey me abraçou e eu senti a sua pele, o calor do seu corpo e o seu cheiro, o seu perfume natural, me senti bambo. Fiquei com as mãos abaixadas, tive medo de abraça-lo e não conseguir soltar.
Entrei em seu apartamento e mais uma vez fui até a sua varanda.
— Gosto de sentir esse vendo. Mesmo que fique um pouco quente, prefiro esse ar natural do que o condicionado. — Rey disse.
— Aqui nem é quente, venta bastante. Gosto disso também. — Eu disse fechando os meus olhos e sentindo aquele vento com cheiro de mar batendo em meu rosto. Senti as mãos do Rey no meu ombro e me senti tremer.
— Está com fome? O que quer comer? Vou ligar para o restaurante. — Rey disse.
Escolhemos o prato e Rey fez o pedido para o restaurante. Rey tentava puxar papo, mas era estranho conversar com ele, mesmo tendo tantos assuntos. Eu gostava de ouvir a sua voz, de escutar o que ele tinha para dizer, de ficar na sua presença.
Almoçamos e depois fomos para a sala. Rey deitou à vontade em um dos seus sofás com o seu notebook no colo.
— Eu devia ter trazido o meu notebook? — Eu perguntei.
— Não precisa, vem cá, deixe eu te mostrar o que temos.
Rey se ajeitou no sofá e eu me sentei ao lado dele. Ele me mostrava fotos da locação, de onde passaria a história, mesmo mudando todo o roteiro todo o resto poderia ser aproveitado.
— Será um filme de época? — Eu perguntei.
— Não, apenas em uma cidade bucólica. — Rey respondeu.
Enquanto Rey me mostrava as fotos e alguns documentos no seu computador eu me inebriava com o seu cheiro. Sentia um calor enorme, minha testa suava e Rey percebeu.
— Quer que ligo o ar central? — Ele me perguntou.
— Não precisa. — Eu disse limpando o meu rosto molhado com a camisa.
— Então tira essa camisa. Quer uma bermuda, tira esse jeans. — Rey disse se levantando sem esperar a minha resposta. Foi até o seu quarto e voltou com uma bermuda dessas de academia. — Vista, fique mais à vontade, estamos em casa.
Tirei a minha camisa, Rey me olhava. Tímido, quase virei de costas para tirar a minha calça, mas não fiz. Sem olhar para ele eu tirei a minha calça e peguei a bermuda de suas mãos. Podia sentir Rey me olhando, não tive coragem de o encarar, mas sentia seus olhos. Queria saber o que eles diziam, o que eles passavam. Desejo? Curiosidade? Nada?
Realmente me senti mais confortável sem camisa e com a bermuda do Rey. Voltamos a nos sentar e a minha perna encostava na dele e me deixava excitado, com vergonha e confuso. Falamos sobre alguns aspectos do filme que não mudaria e por fim chegamos no complicado tema do filme.
— O que você acha disso? — Perguntei.
— Não importa o que eu acho. O que importa é o queremos que as pessoas que assistirem esse filme acreditem. — Rey disse fugindo da resposta.
— E queremos que achem normal?
— Não normal, mas que aceitem, que vejam que o amor tem várias formas e que pode acontecer entre um pai e um filho. — Rey disse e depois continuou. — Estava pensando, não acho que o filme devia ser de um pai que reencontra o filho anos depois
— Por quê? — Perguntei desanimado, afinal foi por dar essa ideia que eu estava ali.
— Se eles não tiveram esse vínculo o que eles seriam além de desconhecidos? — Rey me respondeu com uma nova pergunta.
— O amor pode surgir justamente no reencontro, por eles se conhecerem.
— Acha isso possível?
— Não importa o que eu acho. O que importa é o que queremos que as pessoas que assistirem esse filme acreditem. — Eu respondi usando a resposta que ele me deu minutos antes.
— Você está certo. Mas faremos o convívio do pai e do filho até o início da sua adolescência. Depois eles se separam e se reencontram quando o garoto já é maior de idade. O pai deixa de vê-lo como criança e passa a vê-lo como um homem.
— Gostei. Eles serão gays? — Eu disse. Claro que serão gays. Achei melhor explicar a minha pergunta. — Quero dizer, antes de se relacionarem?
— O filho talvez.
— Por que não o pai?
— É mais complicado, um pai tem obrigação de cuidar do filho, ele deve ser um exemplo e dar amor. Se partir do pai, tudo isso pode ser visto como se ele tivesse influenciado o garoto e não é o tipo de mensagem que eu quero passar. — Rey disse.
Ele podia ter razão, afinal não tínhamos ideia de quem assistiria ao filme e, cada cabeça seria uma sentença. Rey estava preocupado com isso. Ele demonstrou o medo desse filme ser o fim da sua recente carreira.
Ficamos mais um tempo conversando sobre o motivo que o pai se separou do filho e o motivo do reencontro. A trama central já estava definida e os dois se envolvendo. Mas para o final tínhamos visões diferentes.
— A morte vai parecer um castigo. — Eu disse. — Não acho que nenhum deles devia morrer.
— É um bom final. — Rey insistia.
— Um final triste. Porque eles não merecem um final feliz. Se amando. — Eu disse. Não podia aceitar aquele final. Não era o que eu queria para aqueles personagens, não era o que eu queria para mim e para o Rey.
Fui até a varanda e percebi que o sol já estava se pondo. Não tinha me dado conta que passamos tantas horas juntos. Rey vinha até a varanda de encontro a mim, quando o seu telefone tocou e ele voltou para atender.
— Estou sim... Na praia... Aqui. Pode sim Fábio. — Rey disse ao telefone.
Rey não parecia muito feliz. Foi até a porta do seu apartamento e abriu, alguns segundos depois, Fábio saiu do elevador e entrou com um sorriso largo no rosto. Fábio não me viu. Ele beijou o Rey e entrou na sala.
— Eu lavei os pés lá em baixo. Não se preocupe. — Fábio disse. Fábio no meio da sala desceu o seu short até o pé ficando nu.
— Fábio, estou com visita. — Rey disse.
Fábio virou para trás e me viu.
— Ih, foi mal garoto. — Fábio disse terminando de tirar a sua bermuda, ele não tinha problema nenhum em ficar pelado, pareceu até gostar. — Estou indo para o banho.
— Acho melhor eu ir embora. — Eu disse. Juntando as minhas coisas.
— Não, ainda não Edu. Fica mais. — Rey insistia.
— Outro dia, tenho que ir. Já é quase noite.
— Eu te levo.
— Não precisa. Até mais. — Eu disse saindo de sua casa.
Deixei Rey sem entender a minha repentina mudança de humor. Eu mesmo não entendia. Mas estava com raiva do Rey e do Fábio. Cara mais inconveniente. Sempre rodeando o Rey, e o que ele fazia da vida? Sempre na praia e usando a casa do meu pai para tomar banho. Me perguntava se Fábio era como o Samu e o Rey um Sugar Daddy. Percebi que fui embora sem saber quando encontraria com o Rey novamente, se continuaríamos juntos naquele projeto. Entendi que ir embora só deixou os dois sozinhos e livres para fazerem o que quiserem. E isso me deixou ainda mais irritado.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 7 – Rey
Edu viria para a minha casa. Estava ansioso e empolgado, eu telefonei para o garoto e perguntei se poderia busca-lo, ele recusou prontamente e não me deu muito papo. Eu tomei o cuidado de ligar no intervalo de suas aulas justamente para poder conversar um pouco com ele. Mas pelo menos ele disse que viria.
Quando ele chegou, eu o vi parado na minha porta com aquele sorriso sem graça, com uma mochila nas costas e aquele rosto meio infantil, meio homem. Fiz exatamente o que meu coração mandou, eu o abracei. Edu sem graça não retribuiu o abraço. Talvez aquilo fosse estranho para ele, mas não me importava.
Tentei bastante puxar assunto com o Edu, apesar de interessado, ele não era de falar muito. Almoçamos e nos sentamos na sala, eu mostrava para ele fotos das locações e falávamos sobre o filme. Edu estava suando, peguei uma bermuda minha e lhe dei para que ele se sentisse mais à vontade. Apesar da timidez, Edu trocou de roupa na minha frente, vi o seu corpo magro e definido, sem pelos, seus gominhos marcando o abdômen, sua pele bronzeada, mas com as pernas brancas acima do joelho. Assim como eram as do Anderson, o meu primeiro namorado. Reparei a sua cueca melada, não de suor, mas onde estava a cabeça do seu pau.
Não comentei nada, apenas voltamos a nos sentar. Falamos sobre alguns aspectos do filme que não mudaria e por fim no tema central. Edu me perguntou o que eu achava. Eu não sabia o que responder, por isso me esquivei. Disse que que para o filme o reencontro do pai e filho não devia ser tanto tempo depois. Edu acreditava que o amor poderia surgir justamente por este motivo.
Decidi que poderia mesclar as nossas ideias. Mas Edu não concordou com a morte de um dos personagens no final do filme.
— A morte vai parecer um castigo. — Ele disse.
Realmente isso poderia dar essa conotação para os mais religiosos. Mas esse não era um tipo de filme de final feliz. Já não era desde a sua ideia original que havia trabalhado com o Maia. Eu teria que pensar melhor nisso. Edu foi para a varanda e quando eu ia de encontro a ele tentar lhe explicar, meu telefone tocou. Era o Fábio dizendo que iria tomar um banho na minha casa.
Fábio chegou já tirando a roupa mesmo com a presença do Edu, acredito que ele não tenha visto o meu filho na varanda. Assim que ele chegou o Edu disse que iria embora. E mesmo eu insistindo para ele ficar, ele partiu descontente.
— Cadê o garoto? — Fábio me perguntou quando saiu do banho.
— Foi embora.
— Garoto estranho esse.
— Fábio, é o meu filho.
— Não disse nada de mais, só acho estranho. Meio bicho do mato.
— Foi criado no interior. — Tentei justificar. Realmente Edu tinha algumas atitudes que eu não entendia bem.
— Então vamos esquecer o garoto e falar de outra coisa. Rey, estou num tesão. Tinha cada homem gostoso no futevôlei que fiquei molhadinho. — Fábio disse vindo em minha direção e me beijando.
— Estava todo animadinho na praia então? — Eu perguntei. Não me importava dele se excitar com outras pessoas, gostava quando ele me contava coisas assim. Era legal essa transparência.
— Muito. Vamos Rey, vamos trazer um ativo. — Fábio me pediu.
— Não Fábio, já falamos sobre isso. Não quero trazer ninguém para a minha casa.
— Rey, eu sei que você sente falta, sente falta do prazer de ter um pau no seu cu. De chupar uma rola dura. Não quero que você me troque por um versátil.
— Não vou te trocar Fábio, sabe que nem estava procurando um relacionamento, isso simplesmente aconteceu.
— Eu sei Rey, mas você sente falta, não quero que transe por aí só pra te satisfazer, vamos fazer isso juntos. Quero você chupando o meu pau duro com outro cara te comendo. Quero te beijar enquanto você estiver de quatro dando para um macho gostoso. — Fábio dizia enquanto se abaixava até o meu pau e o colocava na boca.
— O que mais? — Eu perguntei, gostando daquela putaria que ele dizia.
— Quero você me comendo ao mesmo tempo que um macho te arromba. Quero sentir o seu corpo sendo empurrado por outro homem.
Fábio me chupou. Senti que eu babava em sua boca e ele sugava aquele liquido do meu pau. Fábio dizendo aquelas coisas me deixava com mais tesão. Mais vontade de sentir um homem dentro de mim. “Por que você não consegue ser ativo, Fábio?”, eu me perguntava.
Fabio sentou na beirada do sofá e ficou de quatro, cai de boca naquele cuzinho limpinho e lambia. Fábio se masturbava. Eu enfiei o meu dedo no seu cu e o seu pau endureceu. Eu o virei rápido e por quase um minuto senti o seu pau duro na minha boca. Voltei a lamber o seu cuzinho e fodi bem gostado.
Gozei antes do Fábio, fomos para o banho onde voltei a meter naquele rabo gostoso. Fábio ficou inclinado no chuveiro enquanto eu socava com força o meu pau dentro dele, e ele pedia mais e mais. Depois de gozar, Fábio se ajoelhou na minha frente e chupou o meu pau até arrancar mais um pouco de porra. Ele engoliu tudo.
Fomos para a cama e ligamos a TV. Fábio quis passar a noite comigo e eu deixei.
— Quando começa a gravar? — Fábio me perguntou.
— Não sei. — Eu respondi.
— Como não? Não está tudo pronto?
— Estava. Maia quer mudar muita coisa. Esse foi um dos motivos que o Edu estava aqui hoje. Ele veio me ajudar.
— Te ajudar? Como? É um garoto, está no primeiro período.
— No jantar ele teve uma boa ideia, o Maia gostou e chamei ele para me ajudar.
— Eu não posso ajudar, eu não posso saber de nada. Eu que estou dividindo a cama com você. E você simplesmente leva o garoto para jantar com o Maia e chama ele para te ajudar? — Fábio disse nervoso.
— Fábio, é o meu filho.
— É um estranho Rey. Você não o conhece e ele não parece querer te conhecer.
— Por isso mesmo estou fazendo o que posso para tê-lo perto de mim.
— Então está usando o seu filme para se aproximar dele?
— Sim, mas ele realmente tem boas ideias. Rendemos muito hoje.
— Sei. — Fábio disse com ironia.
— Está com ciúmes Fábio?
— Daquele garoto? Claro que não. Mas não acho justo você trabalhar com ele e não comigo. Sabe que estou desempregado. Meu dinheiro está acabando.
— Então vamos falar disso. O que você está fazendo para arrumar um emprego? Pelo que sei, de sábado a sábado você está na praia. Com a sua turminha de amigos, a maioria também desempregados e viciados.
— Pelo que eu sei, você é um cara importante e influente que não está me ajudando em nada.
— Se ajude primeiro Fábio. Demonstre interesse em algo. É essa carreira mesmo que você quer. Você demorou para se formar na faculdade e nunca trabalhou na área.
— Nunca tive oportunidade Rey, você sabe.
— Eu sei que a faculdade oferece vários estágios.
— Estágios que não pagam nada, quando muito, 500 reais por mês. Quem sobrevive com isso.
— Fábio, você não trabalhou quando estava na faculdade, faz algumas fotos, ganha um dinheiro e acha que não precisa trabalhar. Eu trabalhei de graça por mais de um ano com o Maia e foi muito importante pra mim. Podia muito bem ter conciliado a faculdade, o estágio e as fotos. — Eu disse. Fábio ficou calado, não tinha argumentos. — Mas agora não adianta, pensa bem no que você quer que eu te ajudo. Não vou simplesmente te colocar para trabalhar comigo ou indicar para algum lugar se você não tem certeza do que você quer.
Fábio ficou emburrado o resto da noite, virou para o lado e dormiu. Estava precisando dizer algumas verdades para ele há algum tempo. Fábio nunca me pediu dinheiro, se pedisse eu não daria. Não quero ficar com uma pessoa que seja dependente de mim. Apesar disso, sempre que eu o convidava para saímos eu pagava a conta, isso eu já acho que não tinha nada demais.
Fui dormir pensando no Edu, não recebi mensagem dele avisando que chegou em casa. Não sei por que pensei que ele entraria em contato. Também não quis fazer o mesmo para não ser muito invasivo. Dois dias que havíamos nos reencontrado e dois encontros, estava satisfeito com isso.
O restante da minha semana foi pesada. Encontrei com Maia, levei as minhas anotações, as ideias minhas e do Edu para filme. Maia ficou satisfeito, ele concordou comigo com a morte de um dos personagens, mesmo eu sabendo que deixaria o Edu triste. Queria poder fazer algo, mas não mudaríamos o final do filme.
Liguei para o Edu algumas vezes, mas ele não me atendeu e não retornou. Mas na sexta-feira no final de tarde, quando eu já estava livre, insisti e por fim ele atendeu.
— Edu, tudo bem? — Eu disse.
— Oi Rey, tudo sim. — Ele respondeu.
— Te liguei durante a semana. Você não retornou.
— Desculpa, estava cheio de tarefas.
— Quer fazer algo hoje à noite? — Eu disse. Edu ficou calado. — Vou em uma balada com o Fábio, vamos com a gente?
— Fica para outro dia. — Ele respondeu seco.
— Então amanhã, vamos curtir uma praia juntos? — Eu disse, mais uma vez o silêncio. — Já veio em Ipanema no sábado? A praia fica cheia, muitas pessoas bonitas se divertindo, você vai gostar. Podemos almoçar juntos e falar mais sobre o filme.
— É pode ser. — Ele disse.
— Ótimo então. Até amanhã meu filho.
— Até Rey.
Eu e Fábio jantamos em um restaurante na Gávea e de lá fomos para uma balada no mesmo bairro. Um ambiente jovem, alegre, liberal, divertido. Cheio de artistas. Muitos que eu conhecia apenas da televisão vinham até mim me cumprimentar sabendo quem eu sou. Encontrei até alguns ex-alunos. Estava dançando com um drink na mão quando uma garota loura e muito bonita esbarrou em mim me fazendo derramar parte da minha bebida.
— Meu Deus, me perdoe. — Ela disse com um sorriso simpático. — Te molhou?
— Sem problemas, não molhou não. — Eu respondi.
— Meu Deus! Rey. — Ela disse. Me abraçando. — Sou Estela, sou sua aluna esse ano. Adorei a sua primeira aula.
— Que bom Estela, fico feliz. Nos encontraremos na segunda-feira então. — Eu disse me despedindo.
— Espera, vamos tirar uma foto, quero mandar para o Edu e pra Jéssica. — Ela disse.
— Edu?
— Sim, seu filho. Somos amigos. — Ela disse.
Aquilo para mim foi um choque. Fiquei muito feliz. Não esperava o Edu dizendo para as pessoas que eu sou o seu pai. Era nítido o sorriso no meu rosto, percebi isso na foto que aquela garota tirou. Estela me deu mais um beijo, quase na minha boca e foi embora sorridente.
— Mais uma aspirante a atriz? — Fábio perguntou irritado. Ele não gostava muito da atenção que eu recebia.
— Não, apenas uma aluna. Amiga do Edu. — Eu disse com um sorriso bobo.
Fábio encontrou com uns amigos e insistia para irmos até a casa de um deles. Uma dessas festinhas que começam depois das duas da manhã. Eu dispensei.
— Pode ir. — Eu disse. Eu queria aproveitar bem o meu dia com o Edu.
— Sem você eu não vou. — Fábio respondeu.
— Por que não? São seus amigos, você quer ir. Vá, aproveite, divirta-se.
— Tem certeza? Então eu vou.
— Vai sim. — Eu disse. O puxei pela camisa e lhe dei um beijo. — Juízo hein, nada de perder a consciência e se fizer algo, se proteja.
— Não gosto quando fala assim. — Fábio reclamou.
— Uai? Por que não?
— Você fala como se eu fosse um drogado e que eu iria sair transando com qualquer um.
— Só quero dizer pra você ter juízo e cuidado. Sei como são essas festas. Já participei de muitas delas. Não quero te impedir de fazer nada. Apenas cuide de você e da gente.
— Parece que você está deixando eu transar com outras pessoas.
— Fábio, eu não tenho o poder de te obrigar fazer nada e nem quero. Faça o que quiser, com consciência ok? Vá lá, divirta-se. — Eu disse lhe dando mais um beijo e entrando no Uber.
Ainda dentro do carro conferi o meu celular, queria ver se havia alguma mensagem do Edu. Se comentaria alguma coisa sobre a foto. Mas nada, talvez já estivesse dormindo.
Cheguei em casa, joguei uma água no corpo e deitei nu na minha cama. Acordei apenas no dia seguinte com o meu telefone tocando. Era o meu filho:
— Rey, já estou aqui em Ipanema, você vai descer?
Olhei rapidamente no relógio já era dez horas da manhã.
— Edu, sobe aqui meu filho. — Eu disse.
Levantei rápido, coloquei uma bermuda e o esperei na porta.
— Desculpa, acabei de acordar. — Eu disse. Reparei Edu me olhando, percebi que acordei com aquele tesão matinal, isso nos deixou constrangidos. — Entra, já tomou café da manhã?
— Já sim. — Edu disse. Indo mais uma vez para a minha varanda ficando de costas para mim.
— Vou só jogar uma água gelada no corpo e a gente desce para a praia. — Eu disse. Edu concordou. Quando voltei para a sala Edu ainda estava na varanda, coloquei uma sunga e meu pau já não a marcava da mesma forma. Bati uma vitamina e descemos para a praia.
— Acho que você nunca viu tanto viado junto. — Eu disse rindo.
— Não mesmo. — Edu respondeu sorrindo.
— Esse pedaço da praia é conhecido com um ambiente gay. — Eu disse. — No verão fica assim. Depois do carnaval começa a diminuir. Mas o Rio tem turistas o ano inteiro, então esse pedaço nunca fica vazio, principalmente em dias assim, de sol.
Fomos rapidamente abordados por um funcionário de uma das barracas que nos cedeu duas cadeiras e um guarda sol. Trouxe também uma caixa de isopor e algumas cervejas bem geladas. Brindamos e bebemos.
— Acho o mar tão lindo. Sempre quis morar na praia. — Edu disse.
— Eu também. Herdou isso de mim. — Eu disse. Fazendo o meu filho rir. — Vamos entrar?
— Vamos. — Ele respondeu.
Pedi para meus vizinhos de barraca vigiarem nossos pertences e entramos no mar. Fui nadando até o fundo e quando olhei para trás, não vi o Edu. Senti um frio no peito, um medo e um pavor. Nadei de volta para o raso e lá eu o vi. Me senti aliviado.
— Achei que estava atrás de mim. Quase tive um troço. — Eu disse.
— Eu não fui. — Ele disse rindo.
— Você não sabe nadar?
— Sei sim, mas em rio, cachoeira, piscina. Meu pai sempre teve medo do mar e não me deixava aventurar. — Edu disse, fiz uma careta quando ele se referiu a outro homem como o seu pai.
— Se você sabe nadar então não tem problema, se por acaso cair numa correnteza, você nunca nada para frente e sim para os lados. Vem comigo. — Eu disse. Edu me olhou desconfiado. Estiquei a minha mão para ele. — Vêm, confia em mim.
Edu me entregou a sua mão, senti uma energia diferente percorrendo o meu corpo e se concentrando no meu pau que começou a ganhar vida. Fomos um pouco para o fundo. Edu sabia nadar bem, mesmo assim eu ficava próximo dele e não soltei a sua mão, eu não conseguia.
— Encontrei com sua amiga Estela ontem. — Eu disse puxando assunto.
— Ela me mandou uma foto. — Ele respondeu.
— Ela disse que era sua amiga.
— Verdade, é uma garota legal, meio louca, mas muito legal.
— Eu gostei dela.
— Ela e a Jéssica, outra amiga, descobriram que você é meu pai. — Ele disse.
— Você estava escondendo? — Perguntei.
— Não, não estava escondendo.
— Você disse que descobriram, pareceu que estava escondendo. — Eu disse deixando o garoto sem graça.
— É que o Francisco que me criou, eu tenho o nome dele e não o seu. Eu apenas não tinha dito nada. E você também nunca disse que tinha um filho.
— Eu tenho, e tenho muito orgulho. Mas quando eu o deixei te assumir, realmente achei que estava fazendo o melhor para nós.
— Você fez o que tinha que fazer.
— Eu errei. Hoje vejo que foi bom apenas pra mim.
— Não ia fazer diferença Rey. Minha mãe já estava casada com o Francisco. Ele iria me criar do mesmo jeito.
— Mas eu estaria mais perto, mais presente. Faria parte da sua vida, da sua infância. Seria seu pai. — Eu disse. Tive que mergulhar para ele não perceber as lágrimas que escorriam dos meus olhos.
Edu ficou sem resposta e começou a boiar.
— Isso é algo que eu nunca consegui fazer. — Eu disse.
— O quê? — Ele me perguntou.
— Boiar.
— Sério? É bem fácil, na água salgada fica mais fácil ainda. Eu te ensino. — Edu disse se aproximando de mim. — Deita e guarda o ar no pulmão. Pode bater as pernas bem de leve.
Edu segurava as minhas costas, eu sentia o seu toque no meu corpo e àquela energia percorria novamente o meu corpo me deixando excitado. Tentei esconder a minha ereção afundando a minha cintura dentro d'água.
— Não assim não. — Edu disse colocando a sua mão na minha bunda forçando o meu corpo ficar reto sobre a água.
Seu toque em minha bunda, me deixou ainda mais excitado, agora era totalmente nítida a minha ereção, percebi um casal gay que nadava próximo a gente olhando. Edu também devia ter percebido, pois quando me virei ele não insistiu para continuar a aula.
Fiquei calado, encurvado esperando a ereção passar.
— Vamos sair? — Edu perguntou depois de um tempo.
— Vamos sim. — Eu disse.
Quando voltamos a nos sentar, Edu me perguntou do Fábio. Eu contei que ele saiu depois da balada da noite anterior e que eu ainda não tinha notícias dele.
— Ele vai vir?
— Talvez só à tarde. — Eu disse. Edu pareceu feliz. Eu percebi que apesar de tímido, quando estava apenas comigo ele gostava da minha companhia.
Conversamos sobre o seu curso, sobre o filme e omiti sobre o final definido da morte de um dos personagens. Saímos para almoçar e voltamos para o mesmo lugar. Fábio me ligou dizendo que estava indo para minha casa, que iria descansar mais um pouco e depois nos encontraria na praia.
— E você Edu, namora? — Eu perguntei.
— Não. Já tive algumas namoradas. — Ele respondeu.
— E namorados? — Perguntei. Edu ficou vermelho.
— Não, nunca.
— Pode me contar.
— É verdade, nunca tive um namorado. — Ele afirmou.
Ana havia me contado que Francisco o pegou com um rapaz e fez um escândalo. Ana achava que garoto era um namoradinho do Edu, melhores amigos criados juntos... Talvez Edu estivesse com vergonha de me dizer ou talvez tenha sido apenas uma brincadeira mesmo.
— Eu nunca tive uma namorada. — Eu disse rindo. Edu sorriu sem graça. — Acho que estou errado, eu não devia ser assim.
— Como é? — Edu perguntou levantando as sobrancelhas.
— Acho que é errado. — Eu disse. Edu pareceu ainda mais assustado. — Escolher apenas um sexo. Admiro as pessoas que são bi, já li algumas coisas que no futuro todos serão bi. Queria ter nascido bi.
Edu sorriu.
— Imagina você conseguir amar, ser amado, sentir prazer de tantas formas diferentes com pessoas e gêneros diferentes. — Eu disse.
— Hoje se usa muito o termo pansexual. Porque o gênero hoje não se restringe a homem e mulher. — Edu disse e eu me demonstrei surpreso. — Eu sei disso porque um dos garotos da república é pan. Ele nasceu mulher, se tornou homem e gosta de pessoas de qualquer gênero.
— Que bacana. — Eu disse. — Então eu gostaria de ser pan.
— Mas como você pode ser só gay, sendo que você e a minha mãe...
— Edu, eu não vejo uma garota e sinto atração. Com a sua mãe foi especial, a gente se ama. Sempre tivemos muito carinho um pelo o outro, tínhamos muita curiosidade e aconteceu.
— Você nunca mais transou com outra mulher?
— Já sim, poucas vezes, nunca foi a minha preferência e na maioria das vezes não era apenas uma mulher. — Eu disse. Edu entendeu que tinha mais pessoas na cama. Ele sorriu e deu uma ajeitada na sunga. Reparei que meu filho estava de pau duro e isso me deixou da mesma forma. — O que acha de voltarmos para o mar?
— Uma boa ideia. — Ele respondeu sorrindo e saiu correndo na minha frente.
A maré estava alta e as ondas mais bravas. Edu não soube o momento certo de entrar no mar e foi derrubado pela onda que o jogou até as minhas pernas. Eu o ajudei a se levantar e mais uma onda se quebrou sobre a gente. Abraçados fomos levados pela água e jogados de volta na área. Sentia o corpo do meu filho colado ao meu. Sentia o seu pau duro e sem dúvida ele sentia o meu. Nos abraçamos forte, havia ali um desejo recíproco que me deu medo. Antes que pudéssemos nos levantar, mais uma onda passou sobre nós. Sentia água e areia sobre todo o meu corpo e Edu ainda sobre mim. Ele sorria, era lindo o seu sorriso. Conseguimos nos levantar e ambos de pau duro olhando para o mar feroz, riamos.
— Agora. — Eu disse correndo em direção ao mar e furando a onda, vi que Edu veio logo em seguida e conseguimos atravessar o local onde as ondas estavam quebrando.
— Foi uma aventura. — Edu disse rindo.
— Foi sim. — Eu disse me aproximando dele. —Veja seu cabelo está cheio de areia.
— O seu também. — Ele disse passando a mão na minha cabeça.
— Não só a cabeça. — Eu disse. Minha sunga também está cheia, desci a sunga até a altura do meu joelho para limpar. Meu pau ainda estava duro, percebi que o Edu conseguiu ver, a água estava transparente. Eu olhei para ele e ele sorriu. Ele fez o mesmo, desceu a sua sunga e tirava a areia, seu pau, que também era grande estava duro, talvez até mais que o meu. Vestimos a sunga, mergulhamos para lavar a cabeça e ficamos nadando, olhando e sorrindo um para o outro até que o tesão abaixou e saímos do mar.
Quando voltamos para a barraca, Fábio estava lá, percebi que Edu fechou a cara.
— Achei que iriam virar peixes. — Fábio disse quando chegamos. — Oi, Edu.
— Oi, Fábio. — Edu respondeu e pegando na mão de Fábio que estava esticada na frente dele. — Acho que vou embora, praia cansa.
— Mais já? Logo agora que eu cheguei? — Fábio reclamou.
— Estamos aqui desde cedo. — Eu disse.
— Fiquem mais. — Fábio pediu.
— Pode ficar Rey. — Edu disse.
— Não, estou indo também. Edu sobe comigo, tome um banho lá em casa.
— Não precisa Rey, tomo uma ducha aqui na praia mesmo.
— Claro que não Edu. Vem, sobe comigo. — Eu disse impondo. Não fazia sentido logo agora depois do dia tão agradável que tivemos juntos o Edu fugir.
— Você devia ficar com o seu namorado. — Edu disse enquanto já estávamos no calçadão.
— Fábio se vira bem aqui na praia. — Eu disse. Olhamos para trás e ele já estava rodeado de pessoas.
— Você não sente ciúmes? — Edu me perguntou.
— Eu? Não, nenhum um pouco. As pessoas têm que estar com a gente porque gostam da gente.
— Vocês são fiéis?
— A fidelidade é supervalorizada.
— Como assim?
— A lealdade e a confiança pra mim vale muito mais do que a fidelidade. E respondendo a sua pergunta, até o momento estamos sendo fieis.
— Você não se importaria se ele ficasse com outra pessoa?
— Dependendo da situação, não.
— Como assim?
— Algo aleatório, algo de momento, não. Mas não continuaria com ele se soubesse que ele tem outro namorado.
— Um relacionamento aberto então?
— Não sei, precisa mesmo ter um nome pra isso? — Perguntei sorrindo.
— Não, não precisa. — Edu respondeu.
Entramos em casa e levei o Edu até o banheiro do meu quarto. Os outros banheiros estavam sem toalhas, sabonetes e xampu, afinal eu usava apenas um. Deixei o Edu no banheiro e quando voltei com uma toalha limpa ele ainda estava de sunga.
— Pode ficar à vontade, não precisa tomar banho de sunga. — Eu disse.
Tímido, Edu tirou a sunga, seu pau estava novamente duro. Ele tampava o pau com a própria sunga.
Eu revivia o dia que tivemos, tudo que aconteceu, da forma que aconteceu até o ponto de ver aquele lindo garoto tímido de pau duro no meu chuveiro. Tudo aquilo era o suficiente para várias cenas do meu filme. Já tinha quase um roteiro pronto baseado no dia que tivemos. Eu estava inspirado.
— Pode tomar banho tranquilo aí. Eu vou para o outro banheiro. — Eu disse, saindo.
— Rey! — Escutei Edu me chamando quando eu já estava no quarto. Eu voltei para o banheiro. Edu não mais tampava o pau. Ele me encarava. — Se você quiser entrar aqui... comigo.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 8 — Edu
O restante da minha primeira semana de aula foi tranquila. Me aproximei ainda mais da Jéssica e da Estela. Ninguém mais comentou sobre eu ser filho do Rey. Mas Jéssica disse que isso iria mudar na próxima aula. Eu não sabia o que dizer pra ele, afinal não sabia se ele ia gostar da ideia de que as pessoas soubessem que ele tinha um filho.
Em casa também não teve nada demais. Samu agia comigo normalmente. Eu queria ficar com ele de novo, mas nada rolou. Consegui me masturbar todos os dias pensando nele, mesmo em alguns momentos vindo a imagem do Rey na minha cabeça, principalmente na hora do gozo. Isso ainda me fazia sentir estranho.
Rey me ligou por vários dias, mas eu não sabia o que dizer, por isso eu não atendia. Me convenci que era melhor eu me afastar. Me dedicava aos estudos e ficava recluso dentro de casa.
Em um momento de distração eu atendi o telefone sem ver, era o Rey me chamando para sair. Quase aceitei o seu convite, mas quando ele disse que o Fábio estaria junto eu recusei. Mas acabei aceitando encontra-lo no dia seguinte para irmos à praia juntos e discutirmos sobre o filme.
Sexta-feira à noite o movimento na minha casa foi bruto. Todos se arrumando para sair. Cris e Samu iriam para lugares diferentes, mas ambos me chamaram para sair com eles. Cris foi mais insistente, disse que queria me apresentar os seus amigos, mas recusei todos os convites para aquela noite. Estava incomodado de saber que o Rey estava saindo com o Fábio. Era óbvio que eles sempre saiam, eram namorados, era fato que Fábio estava sempre na casa dele. Mesmo sabendo disso tudo eu me sentia incomodado.
Talvez uma namorada fosse a solução. Estela e Jéssica eram bonitas, eu poderia namorar com uma delas. Ao mesmo tempo que eu pensava nisso escutava a voz de Mama na minha cabeça falando sobre hétero-normatividade, sobre machismo, sobre usar as pessoas.
Para fugir daqueles pensamentos que me consumiam, eu resolvi ver um filme. Tinha feito uma lista de todos os filmes que de alguma forma o Rey trabalhou. Acabei pegando no sono e acordei com o meu celular apitando. Estela havia me enviado uma foto, ela e o Rey. Ele estava bonito e sorridente, pude reparar no fundo da foto o Fábio olhando de cara feia. A primeira vez que eu vi o Fábio eu o achei bonito, e não sou o tipo de cara que fica achando homem bonito, mas a cada dia que passava eu o achava mais feio.
No dia seguinte acordei cedo, tomei o meu café e fui para Ipanema. Rey ainda estava dormindo e me pediu para subir ao seu apartamento. Ele abriu a porta e reparei como ele estava excitado. Ele entrou no banho e eu dei uma volta pela sua casa, fiquei aliviado em ver o que o Fábio não estava lá.
Descemos para a praia que estava cheia, sentamos em uma barraca, conversamos um pouco e fomos para o mar. Rey entrou correndo e foi nadando até o fundo, eu fiquei para trás apenas o admirando. Ele voltou assustado, eu disse que tinha um pouco de receio no mar. Rey me chamou para entrar com ele, eu peguei a sua mão e fomos para o fundo. Sentir mais uma vez o seu toque mexeu comigo, mesmo sendo apenas a sua mão. Eu fiquei excitado.
Rey falou sobre o encontro com a Estela na noite anterior. Aproveitei para contar que ela e a Jéssica sabiam que ele era o meu pai. A sua reação foi bem diferente da que eu esperava. Ele disse ter muito orgulho de ser meu pai e que se arrependia muito de não ter participado da minha vida. Vi que foi sincero e que estava emocionado. Pensativo comecei a boiar, achei graça quando Rey disse que não sabia.
— Sério? É bem fácil e na água salgada fica mais fácil ainda. Eu te ensino. Deita e guarda o ar no pulmão. Pode bater as pernas bem de leve. — Eu disse.
Me aproximei dele e o segurava pelas costas, senti a sua pele lisa e macia, alguns músculos se destacavam. Rey não conseguia boiar, a sua bunda afundava. Eu a empurrei para cima. Sentir a sua bunda na minha mão me deixou de pau duro. Sua bunda era firme e grande. Reparei que Rey também estava excitado, outras pessoas em volta também perceberam. Rey saiu dos meus braços e escondeu a sua ereção dentro d'água.
Saímos do mar e conversamos um pouco sobre o Fábio, sobre o curso, sobre filmes e sobre namoradas.
Depois de um tempo voltamos para o mar. A maré estava alta e as ondas bravas. Uma onda quebrou em cima de mim e me jogou nas pernas do Rey. Enquanto ele me ajudava a levantar fomos derrubados por outra, fomos rolando um sobre o outro. Aquele contato nos deixou excitado e eu adorei aquilo, apesar do medo. Gostei quando mais uma onda veio e nos manteve ali colados nos abraçando. Antes que pudéssemos nos levantar mais uma onda passou sobre nós. Conseguimos nos levantar, e saímos de onde as ondas estavam quebrando.
Eu havia gostado daquela aventura. Estávamos cheios de areia e nos limpamos, tirando até parte da sunga. Pude ver o pau do Rey ainda duro e vi que ele também reparou no meu. Quando voltamos para a praia, infelizmente, não estávamos mais sozinhos. Fábio havia chegado. Inventei que estava cansado para poder ir embora. Fábio insistiu para ficarmos, mas Rey disse que iria comigo.
— Você devia ficar com o seu namorado. — Eu disse.
— Fábio se vira bem aqui na praia.
Perguntei ao Rey sobre o seu namoro com Fábio, era uma relação diferente que eu não entendia bem, quase um relacionamento aberto. Rey, um cara maduro, um artista, viajado, tinha uma mentalidade que apesar de nova para mim, eu admirava.
Na sua casa, Rey me levou para o seu banheiro. Eu tomava banho ainda de sunga
— Pode ficar à vontade, não precisa tomar banho de sunga. — Ele disse.
Tirei a minha sunga e escondi o meu pau duro com a sunga. Rey me olhou por alguns segundos parecendo estar em outro planeta.
— Pode tomar banho tranquilo aí. Eu vou para o outro banheiro. — Ele disse me deixando sozinho no banheiro.
Em um ato impensado e de coragem eu o chamei:
— Rey, se você quiser entrar aqui... comigo.
Rey me olhou parecendo não acreditar. Foi quando percebi a merda que eu fiz. Me senti vermelho e percebi um sorriso nascendo no rosto incrédulo do Rey. Ele simplesmente abaixou a sua sunga e entrou comigo em baixo do chuveiro.
Eu com 18 anos, estava tomando banho com o meu pai. Algo que não me lembrava de ter acontecido com o Rey. Com o Francisco a última vez eu devia ter uns 10 ou 12 anos. Mas era diferente, eu não sentia tesão e nem o Francisco ficava de pau duro como o Rey estava naquele momento.
Não conseguia encará-lo, olhava para baixo e via o seu pau duro. Um pau bonito, grande, grosso que eu tive vontade de tocar e até de chupar, mas a minha coragem acabou assim que eu o chamei para entrar no banho comigo. Rey se ensaboava, via a espuma escorrendo pelo seu corpo másculo. Seu box era grande, possuía dois chuveiros, próximos um do outro, não o suficiente para nos esbarrarmos. Eu enxaguava os meus cabelos, quando abri os olhos Rey estava mais perto. Meu coração disparou, senti meu pau pulsando. Ele sorriu, reparei que ele estava com o sabonete nas mãos para me dar.
— Quer que eu passe em você? — Ele perguntou.
Não tive resposta, apenas me virei de costas e abaixei a cabeça, deixando-o passar o sabonete na minha nuca e nos meus ombros. Seu toque na minha pele nua me dava muito tesão. Meu pau pulsava e babava.
— Vire. — Rey disse após ensaboar as minhas costas.
Sem graça eu me virei. Rey passou o sabonete pelo meu peito e foi descendo até a minha virilha quase tocando no meu pau.
— Rey. — Fábio gritou da sala.
Eu e o Rey assustamos, o seu comportamento foi mais uma prova que estávamos em um caminho muito louco e errado.
— Fique aqui. — Rey disse.
Ele me entregou o sabonete, fechou o chuveiro, se enrolou em uma toalha e saiu do banheiro. Fábio já devia estar na porta do quarto pelo o volume de suas vozes.
Eu tremia, era medo e tesão junto. Liguei o foda-se toquei no meu pau e em dez segundo estava gozando. Me segurando para não gemer. Foi a punheta mais rápida e a mais prazerosa da minha vida.
Resolvi ficar mais um tempo no banheiro. Na minha cabeça tinha uma desculpa: “O Rey tomou banho primeiro e logo depois eu entrei”. Tinha que aguardar o tempo suficiente para um banho. Lavei a minha sunga, torci e vesti novamente.
Estava puto com o Fábio. Por que ele tinha que voltar? Estava na praia cercado de machos, por que ele tinha que ficar na cola do Rey? Tinha que aparecer sempre.
Voltei para a sala já vestido.
— Pronto Rey, ele já acabou, agora posso ir tomar banho? — Fábio perguntou.
— Agora pode. — Rey respondeu sorrindo.
Eu estava constrangido, queria fazer algum comentário para quebrar o clima, tipo: “Foi por pouco”. Mas não tive coragem.
— Ele voltou cedo. — Foi o que eu conseguir dizer.
— Sim. Ele quer ir em um Luau em Grumari. — Rey respondeu. Ele ainda estava apenas de toalha. Seu pau não estava mais duro.
— E você vai? — Eu perguntei.
— Só se você for comigo.
— Eu... é... mas eu não fui convidado — Eu disse gaguejando.
— Eu estou te convidando.
— Não dá, não posso. Nem tenho roupa.
— Eu te empresto. Tenho roupas que servem em você, no máximo vão ficar um pouco larga, tipo de roupa ideal para um luau na praia. Quanto você calça?
— Quarenta e dois.
— Igual eu. Está resolvido. Você vai. — Ele disse.
— Rey, vou precisar de uma roupa sua. — Fábio disse.
— Pode pegar. — Rey respondeu.
“Como esse cara é folgado”, pensei.
— Fábio, o Edu vai com a gente. — Rey disse. Fábio me encarou e eu percebi que ele não gostou da ideia. O que me deixou mais animado.
— Tudo bem. — Ele disse com desdém.
Rey me levou até o seu quarto. Fábio estava completamente nu, com o seu pau mole e uma bela bunda branca a mostra. Ele não se importou com a nossa presença. Ele procurava no guarda-roupa do Rey alguma camisa para vestir. Rey foi para o lado dele e escolheu uma para mim.
— O que acha dessa? — Rey me perguntou.
— Linda. — Respondi. Era uma camisa realmente linda, com três botões na frente de mangas cumpridas, uma cor mesclada e sem estampa.
— Era essa que eu estava procurando. — Fábio disse e Rey o ignorou.
Eu peguei rapidamente a camisa das mãos do Rey e vesti.
— Ficou ótimo em você. — Rey disse. — Não ficou Fábio?
— Ficou, melhor do que em você. — Fábio disse.
— Ficou mesmo. — Rey disse sorrindo. — Agora ela é sua.
— Sério? — Perguntei. Fábio não pareceu gostar.
— Sim, é sua. — Rey disse.
— Obrigado Rey. — Eu disse realmente feliz.
Fábio escolheu as roupas e vestiu. Rey queria me emprestar uma calça ou uma bermuda, mas a que eu fui era boa, praticamente nova e combinou com a blusa que ele me deu. Rey me emprestou um sapatênis que completou o look. Rey também se vestiu e ficou lindão.
Rey fez questão em ir no seu próprio carro. Fábio fez questão de sentar ao seu lado. Durante o caminho, Rey puxava assunto comigo, e Fábio tentava desviar para assuntos que eu não participasse. Eu passei a não me importar. Estava consciente da ligação que eu tinha com Rey e o Fábio não iria conseguir avacalhar isso. E eu não ia embora correndo por causa disso. Era a coragem que estava voltando.
Nunca tinha participado de um luau, adorei. A praia, a música, as tochas fincadas na areia. Pessoas bonitas se divertindo. Não demorou muito escutei uma voz gritando o meu nome.
— Fala sua louca. — Eu disse abraçando a Estela.
— O que está fazendo aqui? Tão longe de casa? — Ela me perguntou.
— Vim com o Rey.
— Que bonitinho, pai e filho saindo juntos.
— Pai, filho e o namorado do pai. — Eu disse fazendo careta.
— Quem é o namorado do Rey?
— Aquele ali, eu disse apontando para o Fábio que deixou o Rey conversando com um cara mais velho e estava junto dos amigos.
— Ah sim. Eu o vi na balada essa semana. Bem entojado. — Ela disse rindo, me fazendo rir. — Vem, deixa eu te apresentar uns amigos.
Estela me levou até os seus amigos, foi me apresentando como o filho do Rey.
— Estela. — Eu a censurei.
— Edu, não estamos na faculdade e você veio com ele. — Ela disse.
— Eu amo o seu pai. Acho ele tudo de bom. — Uma tal de Melissa se aproximou de mim.
— É... obrigado. Ele está aqui. — Eu disse.
— Sim eu já o vi. Mas você podia me apresentar para ele. — Ela pediu.
— Acho melhor não, o entojado está com ele. — Estela disse.
Eu não queria sair apresentando pessoas que eu não conheço para o Rey. Parecia que eu estava sendo usado. Mas o fato de que isso irritaria o Fábio me animou.
— Rey, Estela minha amiga, que você já conhece. — Eu disse enquanto Estela o abraçava. — E essa é a Melissa, amiga da Estela.
— E agora sua amiga, seu bobo. — Melissa disse sorrindo e abraçando o Rey.
Não demorou muito, Fábio apareceu. Não apresentei ninguém a ele. Mas Rey, muito educado as apresentou.
— Essa é a garota que me fez derrubar a bebida. — Rey disse rindo.
— Me lembro. — Fábio disse.
— E essa é Melissa. — Rey disse.
Nenhuma das meninas abraçou o Fábio eu fiquei feliz com isso. Fábio nos encarava como se tivéssemos que sair de perto deles, voltar para onde estávamos. Mas não saímos. Estávamos em um lugar público e o entojado foi o último a se juntar ao grupo. As meninas conversavam com o Rey e o enchiam de elogios.
— Estou morrendo de curiosidade sobre o seu novo filme. Já começaram a filmar? — Melissa perguntou.
— Ainda não. Tivemos um atraso.
— Já supliquei para o Edu me contar mais ele não abre a boca. — Estela disse.
— Faz ele bem. — Rey disse sorrindo. — Ainda estamos trabalhando nele.
— Você também? — Melissa me perguntou.
— Não, claro que não. — Eu disse.
— Não seja modesto Edu. Ele tem me ajudado muito. O Maia gostou muito das ideias dele. Tem talento o meu garoto. — Rey disse me fazendo corar.
— Só dei uma sugestão. — Eu disse.
— Sugestão que é a base para o novo roteiro. Sem contar que esse garoto me inspira. — Rey disse.
Fábio fazia cara feia. Ele achou melhor se afastar e voltar para a sua turma de amigos. Eu percebi quando ele se drogou. Levou algo até o nariz e inalou. As meninas ficavam conversando com o Rey tentando arrancar dele algo sobre o filme.
Eu resolvi caminhar um pouco, peguei uma longneck, me afastei um pouco das tochas e me sentei na areia. Me concentrei em escutar o barulho do mar. Queria que meus amigos estivessem ali comigo. Apesar de distantes, conversávamos constantemente. Sentia falta do Marcinho, não do sexo em si, mas de conversar com ele. Talvez com ele perto eu poderia contar o que estava sentindo, a confusão em que eu me encontrava. Não era assunto para falar por mensagens ou por telefone.
— O que está fazendo sozinho aí? — Rey me perguntou. Não percebi que ele estava em pé ao meu lado. — Quer ir embora?
— Não, estou de boa. — Eu respondi e ele se sentou. Ele me encarava como se a minha resposta não fosse o suficiente. — Estava pensando na minha vida. Tanta coisa aconteceu nas últimas semanas, desde que eu me mudei. Eu mal me reconheço.
— Eu te entendo. Eu passei por isso duas vezes, nas minhas duas mudanças. — Rey disse.
— Mas você não reencontrou com um pai. — Eu disse, revelando o principal motivo da minha confusão.
— Isso não. Mas a verdade é que eu gostaria de achar um outro pai. Seu avô Ronaldo nunca foi um bom pai. — Ele disse.
— Pelo o que minha mãe fala, parece que não mesmo. A vovó quando me liga ou quando me visitava, não falava muito dele. Apenas dizia que ele me mandou um abraço.
Rey duvidava que ele tinha me mandado um abraço. Eu também principalmente depois que eles se divorciaram.
— Eu não quero ser como ele. — Rey disse.
— Você não é.
— E nem como o Francisco.
— Isso eu te afirmo com certeza absoluta que não. — Eu respondi sorrindo.
— Edu. — Rey disse e fez uma pausa. — Eu sei o que aconteceu, eu sei que o último ano não foi bom pra você.
— Eu mato a minha mãe. — Eu disse envergonhado.
— Ela me contou porque te ama. Eu queria ter feito algo na época, mas eu não sabia o quê. Achei que não seria bom chegar lá e querer ser pai assim de uma hora para outra. Mas saiba que você tem o meu total apoio. E nem preciso dizer que eu entendo né. Se quiser conversar sobre isso, ou alguma outra coisa que estiver passando aí nessa sua cabeça.
Eu o encarei, sabia que Rey entenderia a minha potencial bissexualidade. Mas não sentia a necessidade de falar disso com ninguém. Mas um outro assunto, um assunto mais complicado, que o envolve diretamente, disso eu precisava falar. Como ele estava mexendo comigo. Como a sua presença, o seu cheio, o seu toque me enchia de desejo. Um desejo que não era normal entre um pai e um filho. E eu podia apostar que ele sentia o mesmo. Nem que da parte dele fosse apenas tesão, mas existia uma química ali, era uma bomba que estava prestes a explodir e que sem dúvida faria muito estrago.
— Tem uma coisa Rey. — Eu disse.
— Pode dizer. — Ele disse.
Eu tentava elaborar o que dizer na minha cabeça, mas não conseguia. Se eu o beijasse, um beijo falaria por si? Me inclinei na sua direção me aproximei do seu rosto, Rey fechou os olhos.
Olhei em direção à festa, que ainda acontecia, quando caminhei para aquele lugar ermo, eu vi que ninguém conseguiria enxergar nada ali, não quem estivesse dentro do cercado de tochas. Mas vi três pessoas caminhando em nossa direção elas poderiam nos ver, por isso eu recuei.
— O Fábio. — Eu disse.
Rey abriu os olhos e olhou para trás.
— Olha quem está aqui. — Fábio disse.
— Estava me procurando? — Rey perguntou se levantando.
— Estava. — Fábio disse. O seu amigo começou a rir mostrando que ele estava mentindo.
— Agora me achou, vamos voltar? — Rey disse.
— Você vem ou não Fábio? — O amigo dele perguntou.
— Onde Fábio? — Rey perguntou.
— Era ali. Mas não vou não. — Fábio respondeu. Seus amigos continuaram caminhando.
Eu não consegui entender onde estavam indo e nem o que iriam fazer. Levantei e voltei para a área das tochas com o Rey e com o Fábio que não se desgrudaram pelo resto da noite.
O Rey sempre ficava na dele, era um cara mais discreto, não ficava de beijos e abraços com o Fábio. Talvez por isso que a sua sexualidade não era muito discutida. Fábio as vezes forçava um abraço ou um beijo, mas Rey com delicadeza o afastava. Eu já estava cansado, e o Rey que ficou sem beber, também. Fábio estava elétrico por causa das drogas que usou. Rey me chamou para ir embora e eu fiquei satisfeito. Fábio que não gostou muito, mas Rey não o deixou ficar.
— Você vai deixar o garoto em casa primeiro? — Fábio perguntou.
— Não, ele vai dormir lá em casa. — Rey respondeu e antes que eu pudesse argumentar ele continuou. — Amanhã é domingo e você não tem aula.
— Você quer dormir lá? — Fábio me perguntou, ele esperava que eu negasse.
— Pode ser. — Respondi. Eu estava gostando de ser do contra, pelo menos contra o Fábio. Vi o sorriso no rosto do Rey pelo espelho. Fábio insatisfeito aumentou o volume do som do carro e começou a cantar.
Em casa, o Rey estava radiante. Pegou roupas de cama novas e me levou até aquele quarto que ele disse ter feito para mim.
— Não tem ideia de como eu estou feliz. — Ele disse. — O maravilhoso dia que tivemos, e você aqui, dormindo pela primeira vez no seu quarto. Sabe o que me faria ainda mais feliz?
— O quê?
— Que você viesse morar comigo.
— Ainda é cedo. Mal nos conhecemos.
— Mas temos muita afinidade, não podemos negar isso. — Rey disse. Eu tive que concordar. — Eu sou seu pai e, você é meu filho.
— É, eu sei. — Respondi triste.
Lembrar que possuíamos esse grau de parentesco me fazia sentir errado, sujo. Ajudei Rey a trocar a roupa de cama. Rey foi no seu quarto e pegou uma bermuda para que eu pudesse dormir com ela. Assim que ele saiu do quarto eu a cheirei. Não tinha o seu cheiro, o perfume era de amaciante. Já estava deitado quando Rey voltou ao quarto e sentou na beirada da cama.
— Está com fome? Com sede? O ar do quarto está bom?
— Estou bem Rey.
— Que bom. — Ele disse passando a mão na minha canela por cima do lençol que eu estava coberto.
Ele desceu com a mão e segurou o meu pé e começou a massageá-lo. Mais uma vez seu toque mexeu comigo. Não sabia que era possível sentir tesão sendo massageado no pé. Fechei os olhos e curti aquele momento. Não me importei se era possível que o Rey visse o meu pau duro. No fundo queria que ele visse, e que me tocasse.
Antes que o Rey fizesse qualquer movimento em direção ao meu corpo Fábio abriu a porta. Me inclinei de forma a esconder a minha ereção.
— Está bem acomodado Eduzinho? — Fábio disse indo em direção do Rey e massageando as suas costas. Rey continuava com as mãos no meu pé. Rey me olhava esperando que eu respondesse.
— Estou sim. — Eu disse de cara fechada. “Cara chato, um tremendo empatada foda. E quem é ele para me chamar de Eduzinho? ”.
— Que bom. Vamos para cama Rey? — Fábio disse.
— Vamos. — Rey respondeu se levantando e antes de sair se virou mais uma vez pra mim. — Não quer nada mesmo?
— Não pai. Estou bem. — Eu disse.
Rey ficou parado, me encarava, em um ato falho eu o chamei de pai. Não consegui encará-lo. Levei minha mão rapidamente ao interruptor e apaguei a luz. Fiquei grato pelo Fábio ter puxado a porta e feito o Rey recuar.
“Talvez o Fábio não seja essa pessoa horrível que eu penso, talvez seja alguém no meu caminho para me impedir de fazer uma loucura. Cometer um crime, um pecado. Incesto é crime e pecado não é?”, eu pensava.
Fiquei aliviado quando fiz uma rápida pesquisa na internet e descobri que incesto no Brasil não era um crime. Quanto a ser um pecado, parecia que sim. Tinha algumas citações no Velho Testamento, parece que no início Deus permitia, mas depois ele proibiu. A verdade é que apesar de ter uma criação religiosa, por imposição do Francisco, eu nunca acreditei no que se dizia no Velho Testamento. Se o que está lá fosse verdade, eu já estava garantido no inferno antes mesmo de me entender por gente, seria condenado por comer carne de porco, camarão, algo gorduroso ou sangrento. Também não podia cortar o cabelo com pontas arredondadas, vestir roupas de tecidos diferentes e sexo fora do casamento e com pessoas do mesmo sexo.
Assim que terminei a minha pesquisa e ainda sem sono, me levantei. Sai pela varanda e fiquei lá fora ouvindo o barulho do mar, na avenida havia pouco movimento, alguns táxis amarelos e outros carros circulavam, alguns pedestres andavam de um lado para o outro. Realmente seria legal morar ali, ter aquele quarto e aquela vista. Mas eu não podia morar com o Rey, não sentindo tudo isso, não sem entender onde esse sentimento, esse desejo iria me levar. Não podia me precipitar. Eu estava indo rápido demais. Uma semana depois de conhece-lo eu já o desejava e dormia em sua casa.
Sem perceber, eu andava naquela varanda de um lado para o outro. Percebi que eu estava de frente para a porta de vidro do quarto do Rey. La dentro tinha um abajur aceso. Pude ver por uma fresta da cortina ele e Fábio transando. Vi Rey com os olhos fechados segurando o peito do Fábio. O Fábio olhando para cima e gemendo baixinho segurando com as duas mãos as pernas do Rey e quicando sobre o seu pau.
Meu pau ficou duro em questão se segundos. Rey tirou a mão do peito do Fábio e o segurava pela cintura guiando as suas metidas. Fábio gozou sujando o peito do Rey de porra. Rey segurou a cintura do Fábio e o fazia cavalgar ainda mais rápido. Percebi quando Rey gozou, suas pernas tremeram e ele largou a cintura do Fábio. Senti as minhas pernas bambas, senti um orgasmo sem mesmo me tocar. Havia gozado na bermuda que o Rey me emprestou. Saí pé por pé da varanda e voltei para o meu quarto. Fiz bem em ter voltado rápido para o quarto, escutei Rey abrindo a sua porta de vidro e indo para a varanda. Vi quando ele passou pela minha porta e ficou parado de frente para ela fumando um cigarro. Ele ainda estava nu e seu pau estava meia bomba.
Dormi com aquela cena na minha cabeça. Sonhei com Rey, um sonho confuso, misturando o dia na praia, o luau, e que estávamos transando em sua cama, mas que Francisco saía do banheiro enrolado em uma toalha e nos pegava transando. Nessa hora eu acordei assustado e melado.
O sol já estava nascendo, não tinha muito tempo que eu havia pego no sono, levantei, fechei a cortina e voltei a dormir. Quando acordei de verdade fui até à cozinha, estava com sede. Rey e Fábio estavam por lá. Depois dos comprimentos iniciais e do Rey querer saber se eu dormir bem, eu disse que tinha que ir embora. Recusei o convite para passar o domingo com ele.
— Tenho muita coisa para fazer, lavar minhas roupas da semana, estudar. Tenho aula com um professor que não quero desapontar. — Eu disse e Rey sorriu. — Então, até amanhã.
— Amanhã? — Fábio perguntou.
— Sim, eu vejo o Rey amanhã na faculdade. — Eu disse.
— A tá. Então até qualquer dia Edu. — Fábio disse. Demos um sorriso forçado um para o outro e Rey se levantou para me levar até a porta.
— Não quer mesmo que eu te leve?
— Não precisa, de verdade. — Eu disse.
Rey me puxou para um abraço e aquela química surgiu novamente. Senti o seu pau ganhando vida e o meu também. Rey segurou a minha cabeça e me deu um beijo no rosto. Eu o abracei.
— Me promete uma coisa. — Ele disse. Eu concordei com a cabeça sem ter ideia o que ele pedia. — Pensa em vir morar comigo.
— Vou pensar. — Eu disse.
Ficamos parados nos encarando e nos abraçamos mais uma vez e mais um beijo, um beijo no canto da boca. Entrei no elevador todo desconcertado.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 9 — Rey
O final de semana com Edu foi um marco na minha vida, aquele dia na praia, o banho, o luau...
Quando Edu me chamou para entrar no box com ele eu não acreditei. Vi meu filho, tímido, lindo e excitado. Não pensei duas vezes, me despi e entrei.
Ambos excitados, eu não conseguia desviar o olhar do seu corpo. A muito eu não tempo eu não via um garoto tão bonito, tão gostoso. E um pau assim duro, como eu queria toca-lo, chupá-lo e senti-lo dentro de mim. Pedi ao Edu para poder ensaboá-lo e ele permitiu. Tocava em seu corpo com o sabonete, sentia a sua pele nos meus dedos e quando estava próximo de tocar em seu pau, Fábio chegou em casa nos interrompendo.
Não contava com Fábio aparecendo de surpresa e interrompendo o nosso banho. O motivo era um luau que ele gostaria de ir. Convidei o Edu que aceitou. Percebi que durante aquele dia Fábio parecia querer competir com o Edu para ter a minha atenção.
O luau estava animado, Edu encontrou com uma amiga da faculdade, ficamos um tempo conversando até que Edu se afastou e eu resolvi procura-lo. Edu estava distante do luau, sentado na areia distraído. Disse que estava pensando sobre a mudança de vida, sobre me reencontrar. Acabamos falamos sobre os nossos pais e disse para o Edu que eu sabia do motivo e da briga dele com o Francisco. Ele ficou constrangido, mas eu disse que ele poderia contar comigo.
— Se quiser conversar sobre isso, ou alguma outra coisa que estiver passando aí nessa sua cabeça. — Eu disse.
— Tem uma coisa Rey. — Edu disse enquanto me encarava.
— Pode dizer. — Eu disse. Imaginava que ele iria falar sobre o que estava acontecendo entre a gente, esse clima, esse desejo, esse amor. Mas ele não disse nada, se inclinou na minha direção, aproximou do meu rosto e eu apenas fechei os meus olhos. Iriamos nos beijar.
— O Fábio. — Ele disse, me fazendo abrir os olhos.
Fábio surgiu com dois amigos, estavam indo se drogar. Devia ser alguma droga mais pesada para terem que se esconderem, mas ele mudou de ideia. Não estava gostando do Fábio cada vez usando mais drogas. Sempre achei que um uso recreativo e dentro de um limite não tinha nada de mais, assim como o álcool e o cigarro. Mas essa busca de novas drogas e novos prazeres, era de mais.
Depois de mais um tempo, voltamos para a minha casa, convenci o Edu a dormir lá, no quarto que eu havia montado para ele. Estava muito feliz com isso. Com o dia, com o amor que era obvio que sentíamos. E não podia deixar de pensar no beijo que quase aconteceu.
Convidei Edu para morar comigo, mas ele achava que ainda não era a hora, para mim já tinha passado da hora. Voltei para o seu quarto e lhe perguntei se estava bem, se queria algo, na verdade era só mais uma desculpa para vê-lo. Sentei a beirada da sua cama e o massageava. Edu ficou excitado com o meu toque e antes que eu pudesse chegar no seu pau duro, Fábio apareceu.
— Vamos para cama Rey? — Fábio disse.
— Vamos. — Rey respondeu se levantando e antes de sair, se virou mais uma vez pra mim. — Não quer nada mesmo?
— Não pai. Estou bem. — Eu disse.
Foi a primeira vez em anos que Edu me chamava e pai. Ele ficou constrangido e eu emocionado. Edu apagou a luz e Fábio fechou a porta do quarto me puxando.
Fábio estava animado. Com tesão a flor da pele, eu não podia negar que estava do mesmo jeito, mas não era por causa do Fábio e sim por Edu. O volume do seu pau marcado no short, a poucos palmos de distância, aquela imagem não saia da minha cabeça.
Fábio colocou o meu pau para fora e começou a me chupar. Eu fechei os meus olhos e imaginava o meu filho no seu lugar, imaginava a boca do Edu e não a do Fábio. Ainda com os olhos fechados, puxei Fábio para um beijo. Nos beijamos, sentia o seu corpo e o seu pau mole. Eu apertava a sua bunda e enfiava o meu dedo. Fábio gemia. Eu tampei a sua boca com um beijo. Não queria que ele despertasse o Edu.
Deixei Fábio deitado de bruços e me encaixei atrás dele. Puxei o seu corpo para deixa-lo de quatro e meti forte no seu cu. Fábio recebia bem o meu pau, senti o seu pau endurecendo e eu o segurei. Sempre gostei de sentir um pau duro na minha mão. Meus movimentos eram rápidos e profundo. Fábio abafava os seus gemidos no travesseiro. Meu tesão era grande, estava perto de gozar, mas não queria.
Deitei na cama e Fábio veio por cima. Mais uma vez fechei os meus olhos e o deixei cavalgar, apertava o seu peito. Fábio se apoiava com as mãos na minha perna e fazia o movimento de subir e descer no meu pau. Eu, mais uma vez pensava no Edu. Depois de um tempo, segurei a cintura do Fábio e o fiz cavalgar mais rápido e gozei.
Fui para a varanda fumar um cigarro. Passei em frente a porta de vidro do quarto do Edu, a cortina estava aberta e fiquei admirando o meu garoto dormindo, estava doido para entrar lá e lhe dar um beijo, o beijo que era para ter acontecido naquele luau, ou quando tomamos banho mais cedo. Mas eu não fiz, queria que tudo acontecesse quando ele estive acordado, consciente e com o mesmo desejo.
Eu e o Fábio acordamos e fomos tomar café da manhã.
— Acho que você está exagerando. — Eu disse enquanto preparávamos o café.
— Exagerando em quê? — Fábio me perguntou já ciente do assunto.
— Drogas Fábio.
— Não seja careta, foi apenas um momento de diversão.
— Se fosse eu não ia achar ruim. Mas você está se “divertindo” de domingo a domingo e isso não é saudável.
— Quer que eu faça o que Rey? Fique em casa o dia inteiro vendo TV, vendo a vida passar?
— Podia procurar um emprego.
— Você sabe que essa área não é fácil, precisa de indicação. Você quer o quê? Que eu trabalhe como vendedor de loja?
— Por que não? Você é bonito, simpático, tem senso de moda. Aposto que teria boas comissões.
— Me poupe Rey.
Escutei a porta do quarto do Edu se abrindo, por isso não continuei a discutir com o Fábio. Nossa relação não estava boa e o meu recente sentimento pelo Edu me fazia querer terminar aquele relacionamento naquela hora.
Edu entrou na cozinha e mudamos o assunto. Edu quis ir embora assim que acordou, apesar da minha insistência, ele partiu. Eu fui com ele até a porta e o abracei. Mais um abraço que nos deixou excitado.
— Me promete uma coisa. — Eu pedi. — Pensa em vir morar comigo.
— Vou pensar. — Ele respondeu.
Ficamos parados nos encarando, Edu não se mexeu e eu fui mais uma vez em sua direção, nos abraçamos e eu lhe dei mais um beijo, não foi um simples beijo na bochecha do Edu, foi mais próximo da boca, aquele beijo de canto de boca. Edu ficou um pouco desorientado e eu achei graça naquilo.
Passei o domingo escrevendo o filme, estava inspirado, já tinha definido o início, meio e fim. A noite mandei para o Maia, que horas depois disse que aquele roteiro era uma obra prima. Que já estava enviando para os roteiristas do filme desenvolver. Que antes do que imaginávamos, estaríamos iniciando as gravações.
No dia seguinte, acordei cedo e fui para a faculdade. Ia ter o prazer de ver o Edu logo de manhã. E lá estava ele, sorridente ao lado das suas amigas. Ele já estava mais solto e participativo na aula. Quando a aula acabou, percebi que Edu vinha em minha direção, mas se inibiu com vários alunos cercando a minha mesa. Vi ele saindo da sala com as amigas, olhando para mim.
No final da segunda aula, fui até a sala do Edu, mas ele já tinha saído. Decepcionado sai do prédio, mas para a minha alegria Edu estava escorado no meu carro.
— Que bom que você me esperou. — Eu disse o abraçando. Ele retribuiu o abraço. — Queria te contar que montei o roteiro, o Maia adorou.
— Eu quero ler. — Edu disse.
— Não agora. Na hora certa. — Eu disse o deixando desapontado.
— Então não vamos mais precisar trabalhar juntos?
— Não para o roteiro.
— Ah... — Edu disse desanimado virando para ir embora.
— Ei, espera. Mas esse não é único motivo para passarmos algum tempo juntos. E eu quero você trabalhando comigo no desenvolvimento do filme.
— Sério?
— Mas é claro. Almoça comigo hoje?
— Almoço. — Edu respondeu com um sorriso.
Como eu tinha compromisso logo depois do almoço, fomos em um restaurante em Botafogo. Conversamos sobre o filme, Edu queria que eu lhe contasse, mas eu neguei.
— E quando vamos começar a gravar? — Ele me perguntou.
— Em breve. Muito em breve. Acho que logo depois do carnaval.
— Que bom, assim não perco o início das gravações.
— Não vai estar aqui no carnaval?
— Não, vou visitar a minha mãe e os meus amigos.
— Por que eles não vêm pra cá? Vão se divertir muito no carnaval aqui no Rio.
— Não sei se minha mãe vai aceitar. E o Marcinho não tem dinheiro, não teria condições de ficar em um hotel e lá em casa não posso levar ninguém.
— Então resolvido. Vocês ficam lá em casa. Eu ligo para a Ana.
— Ela não vai vir sem o meu pai. Quero dizer, sem o Francisco.
— Bom, isso depende deles. Se não quiserem ficar lá em casa podem ficar em um hotel e seus amigos ficam todos lá.
— Tem certeza Rey?
— Claro, será um prazer.
— Vou falar com eles. Você fala com a minha mãe então. — Edu disse animado.
Assim que entrei no carro, liguei para Ana.
— Ana, advinha com quem eu almocei hoje. — Eu disse
— Com o Dudu? — Ela perguntou.
— Isso aí.
— Oi mãe. — Ele disse.
— Oi meu filho, que saudade de você.
— Menos mãe conversamos ontem. — Edu disse sem graça.
— Está vendo Rey, os filhos crescem e falam assim com a gente. — Ana disse rindo. — Não entendem que as mães estão constantemente com saudade dos filhos.
— Os pais também. — Eu disse sorrindo para o Edu.
— Mas vocês estão se encontrando de mais. Edu disse que passou o sábado com você, disse que foi o melhor dia da vida dele. O que andam aprontando Rey?
— Mãe... menos, por favor. — Edu disse vermelho.
— Nos conhecendo Ana. Já falei para ele morar comigo, mas ele não quer. — Eu disse.
— Isso ele não me contou. Eu ia achar bom, ficaria menos preocupada sabendo que ele está morando com você. — Ana disse.
— Está vendo Edu, a sua mãe aprova. — Eu disse. — Ana não foi isso que eu te liguei. Foi para fazer um convite. Na verdade, uma intimação.
— O que está inventando Rey? — Ana perguntou.
— O Edu vai passar o carnaval aqui, com os amigos.
— Ah não. Ele ficou de vir. Estou com saudade dele. — Ana disse.
— Então venha você. Sabe que a minha casa sempre vai estar aberta pra você. E até para o Francisco também.
— Não sei Rey. Duvido muito que ele vai querer ir. — Ana disse.
— Se não quiser, venha você. Não está colada nele. — Eu disse e Edu sorriu.
— Vocês me complicam. — Ana disse.
— Vem mãe. — Edu disse.
— Vou ver. — Ana disse.
— Está vendo Ana, ele sente sua falta também. Vem sim, eu também estou com saudade de você, de te ver, te dar um abraço.
— Vou tentar Rey. Eu te aviso. Dudu, beijo, a mamãe te ama viu.
— Viu mãe. Também te amo. — Edu disse.
Desligamos o telefone e Edu estava feliz, eu estava feliz em deixar o meu filho feliz. Edu conversava com os amigos por mensagens no celular e me disse que eles animaram.
— Só tem um problema. — Edu disse.
— Problemas servem para serem selecionados. Qual é o problema?
— O Fábio. Ele não vai achar ruim?
— Ele não tem que achar nada, a casa é minha e até o carnaval o Fábio não irá fazer mais parte da minha vida. — Eu disse.
— Vocês vão terminar? — Edu perguntou surpreso, mas feliz.
— Sim. Já não está dando certo. E eu não o amo. — Eu disse.
Edu ficou calado, eu via um sorriso nos seus lábios, ele não me encarava. Eu não tive coragem de dizer que era a ele quem eu amava que era ele quem eu desejava.
Deixei Edu na porta de casa, ele me abraçou e ficou me vendo partir. Fui para os meus compromissos e só cheguei em casa à noite. Minha sala estava suja, vi Fábio deitado no sofá dormindo. Me aproximei dele e o acordei.
— Que bom que você chegou. — Ele disse.
— Não me avisou que vinha. — Eu disse.
— Esqueci. — Fábio disse me beijando.
Reparei nas suas pupilas dilatadas e não gostei do que vi.
— Plena segunda-feira e você usando drogas. Olha o estado do chão, do sofá.
— Esquece isso. Olha Rey. — Fábio disse apontando para o pau e colocando a minha mão sobre ele. — Está duro, sente. Tira essa roupa, vou te dar uma surra de pica como você queria há muito tempo.
— Eu não quero. Fábio, o que você que te deixou assim? Parece um zumbi excitado.
— Nossa Rey, nada te agrada, nada te satisfaz. Você não é meu pai Rey. Agora que seu filho apareceu aflorou esse instinto em você? Se você não se lembra, já usamos muitas coisas juntos.
— Fábio usar uma vez na vida para divertir e curtir um momento é uma coisa, agora, usar todo dia é outra. Isso eu sempre fui contra. E isso não tem nada a ver com o Edu aparecer e sim responsabilidade. Eu arrumei um emprego pra você, mas agora estou até com medo de te indicar e sujar o meu nome. — Eu disse. Fábio me olhou e ficou calado. — Vai tomar um banho que vou prepara algo pra você comer.
Fábio obedeceu. Preparei um sanduíche para mim e para ele. Quando ele saiu do banho, parecia melhor.
— É, você tem razão. Acho que estou exagerando meu amor. — Fábio disse. Eu o encarava e ele veio em minha direção me beijar. — Me faltava ocupação, ser produtivo. Eu não sou um viciado, você sabe disso. Me fala desse emprego.
— É um programa para TV. — Eu disse.
— Eu adoro TV.
— Eu sei. Estão precisando de um assistente de direção. Eu te indiquei. Contratação quase certa, só precisa ir lá e saber, conversar.
— Ótimo, vou lá amanhã mesmo.
— Amanhã não é possível. Não é aqui no Rio, é em Sampa.
— Caralho em São Paulo? Poxa Rey nem pra arrumar algo por aqui.
— Foi o que consegui. E acho que seria bom pra você, conhecer pessoas novas, parar de sair com esses seus amigos que para divertir, têm que se drogar. Vai ser bom para você.
— Eu não sei Rey. Mudar assim.
— Você está pensando em recusar?
— Não sei Rey. E a gente, como ficaríamos. Namoro a distância não dá certo.
— Você tem razão, namorar a distância não daria certo. Mas a verdade é que mesmo aqui já não estamos dando certo.
— Então é isso? Enjoou de mim, arrumou um emprego só agora em outra cidade para se livrar de mim? Não tem coragem de terminar?
Fábio não estava de todo errado.
— Não Fábio. Eu quero te ajudar, te dar uma chance de começar uma carreira, de sair desse mundinho e desse meio que você está vivendo e que não é saudável. Eu gosto de você, se não gostasse, não estaríamos juntos a tanto tempo e muito menos iria te ajudar.
— Mas você quer terminar, não é? — Fábio perguntou.
— Eu quero que você tenha um futuro. Acho que você não deve perder essa oportunidade. Não precisa responder agora. Me fala amanhã, quando estiver pensando melhor. — Eu disse e fui para o meu quarto tomar banho.
Quando sai do banho Fábio estava na minha cama de bruços com a bunda empinada e sorrindo para mim. Não resisti àquela bunda, cai de boca sobre ela e lambi aquele cuzinho até que o Fábio me pediu para penetrá-lo. Enquanto eu o penetrava com o dedo, eu chupava seu pau que estava duro, o levava até o fundo da minha garganta e passava a língua na cabeça.
— Quero sentir o seu pau no meu cu. Vem meu macho gostoso. — Fábio pediu.
E assim eu fiz, o deixei de quatro e meti até que ele gozou. Fábio me chupou e eu gozei na sua boca.
— Eu vou aceitar o emprego Rey. Mas quero te pedir uma coisa. Deixa eu ficar aqui com você até eu me mudar.
— Deixo Fábio. — Eu disse o beijando. — Desde que você não use nenhuma droga nesse tempo.
A minha semana foi bem atribulada. Muito trabalho, revisando roteiro, discutindo com Maia e com os outros roteiristas, construindo o set de filmagens no Rio. Ligava para o Edu todos os dias e lamentava por não poder vê-lo.
— Esse final de semana não vou estar por aqui, tenho que fazer uma viagem com o Maia. Te vejo na segunda. — Eu disse.
— Tudo bem. — Edu disse.
— Beijo, te amo. — Eu disse.
— Eu também. — Ele respondeu desligando o telefone imediatamente.
Na viagem eu mandava fotos para ele. Dos locais para as novas cenas externas que iriamos gravar, ele respondia imediatamente, parecia contente em participar.
Cheguei de viagem, Fábio me esperava em casa, ele nem esperou tomar banho e já foi entrando no chuveiro comigo, fizemos sexo maravilhoso. Desde que ele decidiu ir embora e estava ficando direto comigo nosso relacionamento estava melhor. Sem pressão, sem cobrança e o sexo, maravilhoso.
Mais uma aula e mais um encontro com o Edu. Mais uma vez ao fim da aula ele estava me esperando na frente do meu carro. Fomos almoçar.
— Sua mãe te respondeu sobre o carnaval? — Eu perguntei.
— Disse que está tentando convencer o meu... o Francisco. — Ele disse. — De qualquer forma, os meus amigos vêm.
— Excelente.
— E o Fábio?
— Está lá em casa ainda. Na quinta vamos para São Paulo, para ele conhecer pessoalmente a equipe e olhar um lugar para ele ficar por lá.
— Ele já vai ficar por lá?
— Não. Começa mesmo na outra semana. — Eu disse e Edu pareceu desanimado.
Terminamos o almoço, o deixei na sua casa e mais um abraço apartado e gostoso.
— Vou tentar conseguir mais tempo essa semana pra gente. — Eu disse.
— Seria legal. — Ele respondeu.
— Seria sim. — Eu disse sorrindo. — Fica bem, eu amo você.
— Você também. Eu também.
Infelizmente não consegui tempo livre para passar com Edu, tudo seria mais fácil se ele morasse comigo, mas ele ainda não aceitava. Na quinta-feira fui com Fábio para São Paulo. Na sexta, já estava tudo certo sobre o seu novo emprego. Achamos um lugar legal para ele morar e acertamos tudo. Fábio não quis ir embora na sexta à noite. Queria ir em uma balada famosa e acabou me convencendo. Curtimos a noite juntos. E a pedido do Fábio, ficamos com um outro rapaz. Beijos abraços e sarros, não quis passar disso. Foi divertido, foi excitante, mas não estava com cabeça para mais ninguém, fiz pensando que seria uma forma do Fábio entender que realmente estávamos terminados.
Fábio deu alguns perdidos na boate e eu sabia que o motivo não era a procura de sexo e sim de drogas. Mas resolvi não implicar, as últimas semanas ele realmente ficou limpo, sinal que ele ainda tinha controle. Voltamos para o hotel e eu apaguei. No dia seguinte voltamos para o Rio.
Tive um tempo livre e liguei para o Edu, mas ele que estava ocupado. Ele queria desmarcar os estudos com os amigos para me encontrar, mas eu não deixei. Não queria atrapalhar os seus estudos.
Ana me ligou dizendo que Francisco não aceitou ir para o Rio, que ela iria sozinha, mas ficaria apenas dois dias e não todo o período do carnaval. Ela queria fazer surpresa para o Edu. E assim combinamos.
Edu estava triste pela mãe não poder visitá-lo. Eu não podia estragar a surpresa. Mas tentei anima-lo de outra forma.
— Vamos começar as gravações depois do carnaval. Você irá me acompanhar. — Eu disse. Isso o deixou um pouco mais empolgado.
— E quando vou ler o roteiro? — Ele perguntou.
— Em breve. Quero que seja um momento especial pra gente. — Eu disse e ele me olhou desconfiado.
— Você vai matar um deles, não vai? — Ele me perguntou.
— Edu... — Eu disse.
— Não Rey, você não pode fazer isso. Não pode castiga-los por se amarem, não é justo. O amor tem que vencer.
— Edu, eu tenho certeza que você vai entender. Espera meu filho, não vou desapontá-lo. — Eu disse.
Adiantei tudo que eu podia para termos a semana do carnaval tranquila. A despedida de Fábio foi bacana, fomos para uma balada com os seus amigos. Preferi não convidar o Edu, sem saber bem explicar o motivo eu não queria que ele me visse mais junto com o Fábio.
Ana chegou na sexta à noite eu a busquei na rodoviária. Fomos direto para a casa do Edu. Já na sua porta eu telefonei.
— Edu. Estou na porta do seu prédio. Qual o seu apartamento? Vou subir aí. — Eu disse.
— O quê? Por que? Espera aí, eu vou descer. — Edu disse. Ana sorria.
— Qual o apartamento garoto? Não enrola. — Eu disse rindo.
Edu respondeu e eu e a Ana subimos. Edu já estava no corredor. Não acreditou quando viu a mãe, correu emocionado para os seus braços.
— Mãe, você aqui? Disse que não vinha. — Edu disse. Olhou para o corredor para ver se tinha mais alguém. Pude perceber que ele esperava ver o padrasto.
— Junte as suas coisas, vamos lá pra casa. — Eu disse. Edu sorriu e entrou no apartamento. Eu e Ana o seguimos. Queríamos conhecer onde o nosso filho morava e com quem.
Um rapaz pequeno se levantou e nos cumprimentou. Identifiquei que era o Cris, outro garoto que usava umas tranças no cabelo e uma camiseta feminina apenas nos olhou de cima a baixo. Eu o cumprimentei.
— Mama, Cris. Essa é a minha mãe e esse é o Rey. — Edu disse.
— Seu pai né? — Cris disse. — Vocês se parecem muito. Entre, fiquem à vontade.
— Os pais do garotinho vieram checar onde ele mora? — Mama disse.
Eu sorri e me aproximei dele, me sentei ao seu lado no sofá, percebi que ele ficou um pouco assustado.
— Claro, qual pai não gostaria de saber onde o filho mora e com quem? — Eu disse. Esticando a minha mão para ele. — Sou Rey.
— Os garotos me chamam de Mama — Ele disse sorrindo. Percebi que quebrei uma barreira.
— Você me parece uma pessoa fascinante. — Eu disse. Mama mais uma vez sorriu e jogou as tranças para o lado. Cris e Edu parados em pé riam.
— De que estão rindo? — Mama olhava de cara feia para eles.
Um outro rapaz muito bonito, apenas com uma toalha enrolada na cintura, havia acabado de sair do banho entrou na sala. Ele me encarava.
— Rey? — Ele disse.
— Vocês se conhecem? — Mama perguntou. — Ah não Samu, não me diga que ele é um dos seus...
— Mama. — Cris berrou impedindo dele continuar. Mama passou os dedos sobre os lábios como se o fechasse com um zíper.
— Oi, me desculpa, mas nos conhecemos? — Eu perguntei me levantando para ver direito aquele belo espécie que estava na minha frente. Eu sabia que não tinha transado com ele. Me lembraria. Tinha pouco mais de um ano que eu estava de volta ao Rio e se fosse antes da minha viagem, aquele garoto ainda teria todos os dentes de leite.
— Cara, eu sou o Samu, Samuel. — Ele disse. E eu ainda não recordava. Ana sorria e Edu parecia confuso.
— Você conhece ele? — Edu perguntou ao Samu.
— Primeiro que ele é famoso. — Samu disse me fazendo rir.
— Famoso? Seu pai é famoso? — Mama perguntou para o Edu.
— Ele é o seu pai? — Samu perguntou para o Edu.
— É, é complicado, é o meu pai biológico. — Edu respondeu.
— Caraca aí. Eu sou primo do Fábio. — Samu disse.
— Ah sim. — Eu disse levando a mão até a minha cabeça. Eu encontrei com o Samu poucas vezes, algumas em baladas e outras na praia. Ele sempre estava acompanhado de homens mais velhos, trocava algumas palavras com o Fábio e saía. Nunca chegamos a conversar de verdade.
— O seu primo que você me contou a história é o Fábio? — Edu perguntou, parecendo saber de algo que eu não sabia.
— É ele mesmo. — Samu disse.
— Você não esteve na despedida dele, não é? — Eu perguntei.
— Não deu, eu tive um compromisso. — Samu respondeu.
— Que mundo pequeno. — Cris disse sorrindo.
— Vai lá pegar as suas coisas, Edu. — Eu disse.
— Eu te ajudo. — Ana disse seguindo o filho.
Fiquei na sala com Mama, Samu e Cris.
— Que tipo de famoso é você? Não é artista é? — Mama me perguntou.
— Se você quer dizer ator, não sou não. — Eu disse.
— Ah bom, por que se fosse com certeza eu saberia. Sei tudo dos artistas. — Mama disse me fazendo sorrir. — Que tipo de famoso você é?
— Mama ele é o diretor, o Reynaldo. Morou anos em Hollywood e agora voltou para o Brasil. — Samu disse.
— Sério? Por que alguém ia querer voltar? Você conhece muitos artistas de Hollywood? — Mama perguntou.
— Alguns. — Respondi sorrindo.
— Que tudo. E daqui, conhece muitos? — Mama me perguntou.
— Bastante. — Respondi.
— Sabia que eu já quis ser artista? — Mama disse.
— É mesmo? Você já é um artista. — Eu disse. Mama fazia poses e Cris e Samu sorriam. — É sério, você é tão caricato.
Cris e Samu riram mais ainda, Mama pareceu se sentir ofendida.
— Não se ofenda, é um elogio. Só de olhar pra você dá pra perceber que você é um ator, e dos bons. Vive constantemente um personagem, é nítido isso para quem tem olhos como os meus. — Eu disse. Mama pareceu se sentir ainda mais ofendida, o climão tomou conta da sala. Cris e Samu pararam de rir.
— O que você quer dizer com isso? — Mama perguntou sério.
— Que você tem talento. — Eu disse. Tirei o meu cartão do bolso. E estiquei para ele. — Se quiser aproveitar desse talento, me procura.
— Você é um caça talento? — Mama perguntou ainda sério.
— Acho que todo diretor não deixa de ser. — Eu disse. Edu e Ana voltaram para a sala. — Então vamos. Foi um prazer conhecê-los.
Fomos para a minha casa. Eu, Ana e Edu. Quando Ana engravidou, era assim que eu imaginava a nossa vida. Eu e Ana juntos como amigos, trabalhando como atores e criando o Edu. Só não imaginava sentir um amor diferente pelo meu filho e sim o amor que eu sentia antes de reencontrá-lo, um amor normal de pai para o filho.
— Rio de Janeiro, sempre maravilhoso. — Ana disse. — Me lembro tanto da nossa juventude.
— Eu também. — Eu disse. — Porque não larga tudo e vem viver comigo Ana?
— Vontade não me falta. — Ana disse sorrindo.
— O quê? — Edu perguntou horrorizado do banco de trás. Eu e Ana apenas sorrimos.
Chegamos em casa mostrei para Ana a suíte em que ela ficaria, dei tempo para ela se acomodar e tomar banho. Eu e Edu ficamos na varanda sentindo a brisa e a maresia.
— Seus amigos chegam que horas? — Eu perguntei.
— Eles virão de carro, devem chegar na hora do almoço.
— Então vamos levá-los em um restaurante. — Eu disse.
— Na verdade eu queria que a minha mãe cozinhasse. Sinto falta da comida dela. Aquele tempero de casa sabe. — Edu disse.
— Poxa Edu, sua mãe está de férias, vai dar esse trabalho para ela? — Eu disse.
— Aposto que ela vai gostar e você também. — Edu disse sorrindo.
Ana se juntou a gente e ficamos horas conversando. Edu perguntava do nosso passado, relembramos várias coisas e rimos muito. Dormimos tarde da noite e na manhã seguinte, não tão cedo fui com o Edu ao supermercado com a lista de compras que Ana montou para comprar os ingredientes para o almoço.
— Sabia que no dia que eu cheguei aqui no Rio eu te vi bem aqui nesse caixa. — Edu disse me surpreendendo. — Você estava com o Fábio.
— E você sabia que eu era eu? — Perguntei e Edu concordou com a cabeça. — Por que não falou comigo?
— Não sabia o que dizer. Eu te segui até a porta do seu prédio e vários outros dias que passei por aqui eu me sentava no banco em frente ao prédio e ficava olhando para as varandas para tentar adivinhar em qual delas você morava.
— Eu não imaginava.
— Alguma coisa me puxava pra cá. Alguma coisa me fazia querer ficar perto de você. E isso só tem aumentado.
— Você sabe que eu sinto o mesmo não sabe?
— Eu sei. — Edu disse.
Entramos de volta no prédio e deixamos as compras com a Ana e a ajudamos naquilo que ela precisava. Éramos uma família.
O celular do Edu tocou, seus amigos avisaram que estavam chegando. Liguei para o porteiro autorizando a entrada do carro do Afonso. Não demorou muito, minha casa estava cheia daqueles rapazes. Afonso, Candinho e Marcinho. Eles se surpreenderam tanto com a vista do apartamento como em ver a Ana na minha casa.
— Qual deles que foi aquela história? — Perguntei para a Ana.
— O Marcinho. — Ela respondeu apontando para o rapaz com a maior bunda. Nós sorrimos.
— Meninos venham almoçar, aí depois vocês aproveitam a praia. — Ana disse.
Almoçamos todos juntos, minha casa nunca esteve tão alegre. Passamos a tarde na praia. Caminhei com a Ana até o arpoador e ficamos esperando pelo pôr do sol.
— O Edu está fascinado por você. — Ana disse.
— E eu por ele. — Respondi.
— Ele fala de você com uma alegria, nem parece aquele garoto que me matou de vergonha quando disse que você não era pai dele.
— Eu me lembro disso. De vez em quando ele me chama de pai, sem querer, vejo que ele fica constrangido. — Eu disse rindo.
— Ele está se soltando.
— Está sim. Me sinto tão bem quando estou com ele. Nas próximas semanas vou levá-lo para trabalhar comigo no meu novo filme.
— Ele fala disso o tempo todo. Sempre soube que vocês eram muito parecidos. Sempre vi muito de você nele. A inteligência, o carinho, a bondade. Só que você sempre foi mais esperto.
— Ele é um garoto esperto.
— Não como você era. Lembro de você com 15 anos, enfrentando o seu pai naquela mesa de jantar. A forma que você falava, que se impunha. Agora que começo a ver isso no Edu, talvez isso foi culpa minha e do Francisco, a forma que o criamos. Acho que esse tempo que vocês estão convivendo juntos está fazendo muito bem pra ele.
— Não só pra ele.
— Posso ver, como você está irradiando. Pensei que era algum namorado, mas o Edu disse que você está solteiro.
— Estou sim. Essa alegria toda é por cauda do Edu.
— Isso é bom. É a felicidade de ser pai.
— Eu estou apavorado Ana. — Eu disse, Ana sorriu. O sol se punha e as pessoas aplaudiam. Ficamos admirando o sol se pôr no mar e voltamos para a nossa barraca onde os garotos brincavam com uma bola.
À noite os garotos queriam ir para um baile funk na Lapa. Me deixaram em casa com a Ana. Ficamos no apartamento bebendo vinho, conversando e ouvindo música. Tocava Eu velejava em você na voz de Maria Betânia, peguei a minha taça de vinho, acendi um cigarro e fui para a minha varanda. A música levava os meus pensamentos até o Edu.
Ana apareceu atrás de mim passando a mão nas minhas costas. Tirou o cigarro da minha mão e deu um trago.
— Tem mais de dezoito anos que eu não dou um trago. — Ela disse sorrindo. — Onde você está agora?
— Em uma situação complicada. — Eu disse, respirando fundo e pegando o meu cigarro de volta da mão dela. — Sabe o que é o gostar tanto de alguém que chega doer? — Eu disse.
— Claro que sei Rey, eu sou mãe.
— Não dessa forma, antes fosse dessa forma. — Eu disse, senti uma lágrima caindo dos meus olhos.
— Rey, você está chorando? — Ana perguntou, e me abraçou.
— Eu não consigo, Ana. — Eu disse enquanto terminava o ultimo refrão da música.
— O que está acontecendo Rey? Fala comigo. Sou eu. — Ana disse.
— Eu não consigo. — Eu repeti. Limpei as minhas lágrimas. Fui até o meu quarto e voltei com o roteiro na mão.
— Leia. Esse foi o roteiro que eu escrevi. Será o meu novo filme. Não fui eu que escolhi o tema, foi o Maia, ele quer causar. Mas tudo que eu escrevi aí foi o Edu quem me inspirou. Ele não queria que eu matasse nenhum dos personagens, mas eu não consegui. — Eu disse.
Ana me olhava enquanto foleava as páginas. Lia alguns pedaços e pulava para a página seguinte, eu não conseguia saber o que passava pela sua cabeça.
— Isso aconteceu? — Ela me perguntou.
— Não. Quase nada aconteceu. Mas é reciproco, eu sei que é.
— Eu amo você Rey, mas você não pode esperar que eu concorde com isso. — Ana disse.
— Não Ana, não espero isso. Diga que eu sou louco, que sou um doente. Que devo ir embora e nunca mais voltar. Diga isso que eu farei. — Eu disse. Ana ficou parada sem me responder. Eu a deixei ali e fui para o meu quarto, pensado em como poderia sumir de vez.
"XXXxxxXXX"
Capítulo 10 — Edu
Depois de dormir na casa do Rey eu só o encontrava nos dias que ele me dava aula e sempre saíamos para almoçarmos juntos. Era bom passar um tempo com ele. Fiquei feliz quando ele disse que o Fábio iria sair da sua vida, mas pra mim demorou tempo demais. Rey ainda convidou a mim e os meus amigos para passarmos o carnaval na sua casa. Até ligamos para a minha mãe para chamá-la também.
Nos dias que eu não encontrava com o Rey minha rotina era triste, apenas estudava, lia alguns livros e via todos os filmes que os professores comentavam na sala de aula.
Em casa, ficava mais no meu quarto, interagia pouco com o Samu e com o Cris e menos ainda com o Mama, que continuava me olhando com cara feia.
Em mais um almoço, depois da aula com o Rey eu dei a notícia que minha mãe não viria para o carnaval. Só não desistir de ficar no Rio pois, o Marcinho, Afonso e Candinho estavam animados pelo nosso encontro no carnaval.
— Vamos começar as gravações depois do carnaval. Você irá me acompanhar. — Rey me disse.
— E quando vou ler o roteiro? — Perguntei.
— Em breve, assim que passar o carnaval. Quero que seja um momento especial pra gente.
Percebi que ele estava aprontando algo.
— Você vai matar um deles não vai? — Perguntei.
— Edu... — Rey disse como um lamento.
— Não Rey, você não pode fazer isso. Não pode castiga-los por se amarem, não é justo. O amor tem que vencer.
— Edu, eu tenho certeza que você vai entender. Espera meu filho, não vou desapontá-lo. — Ele disse, mas eu já estava desapontado. Era esse o fim que merecíamos? Merecíamos ser castigados com a morte?
Dias depois o Rey me ligou. Era uma sexta à noite. Eu estava em casa no meu quarto, Samu no banho e Mama e Cris na sala vendo TV. Rey disse que estava na porta da minha casa. Queria o número do apartamento que iria subir. Achei estranho e o esperei no corredor. Quando ele saiu do elevador e olhou sorrindo para mim eu tive vontade de pular em seus braços e beijá-lo, mas vi que ele não estava sozinho. Era a minha mãe que saáa atrás dele. Eu corri em sua direção e a abracei.
Surpreso e feliz com a sua chegada inesperada eu me emocionei, queria abraçar o Rey também por sua participação naquilo, mas fiquei constrangido de fazer isso na frente da minha mãe. Por um momento pensei que Francisco também poderia estar ali. Que ele sentia a minha falta como eu sentia a dele.
Rey disse para eu juntar as minhas coisas que iríamos para a casa dele. Já estava tudo praticamente pronto, pois no dia seguinte eu iria para lá esperar os meus amigos.
Cris me vendo entrar com os dois se levantou e se apresentou. Cris logo reparou que Rey era meu pai. Mama logo ironizou a presença dos meus pais ali. Rey surpreendeu a todos indo em direção ao Mama e sentando ao lado dele. De uma forma estranha, Mama abaixou a guarda para o Rey. Samu saiu do banho e apareceu na sala só de toalha, ele reconhecendo o Rey.
— Você conhece ele? — Perguntei para o Samu.
— Primeiro que ele é famoso. — Samu disse.
— Famoso? Seu pai é famoso? — Mama me perguntou.
— Ele é o seu pai? — Samu me perguntou.
— É, é complicado, é o meu pai biológico. — Respondi, era a única resposta que eu poderia dar. Apesar do que eu estava sentindo pelo Rey, e ele ser meu pai biológico eu não conseguia simplesmente apagar o Francisco do papel de pai.
— Caraca aí. Eu sou primo do Fábio. — Samu disse.
— Ah sim. — Rey disse parecendo se lembrar.
— O seu primo que você me contou a história é o Fábio? — Eu perguntei. Era o primo que iniciou o Samu. E que arrumava companhia para ele. Me perguntava se Fábio já teria sido um garoto de programa e se Rey sabia disso.
— É ele mesmo. — Samu disse.
Fui pegar as minhas coisas no quarto e minha mãe veio comigo.
— Você está gostando daqui? — Minha mãe me perguntou.
— Até que é legal — Respondi.
— Por que não vai morar com o seu pai? — Ela disse. Ela sempre se referiu ao Rey como meu pai.
— Tenho medo. — Confessei.
— De quê?
— De não dar certo, dele não gostar de mim. — Eu disse. Antes a minha desculpa era o Fábio. Não queria ficar encontrando com ele. Mas agora o Fábio estava fora do caminho.
— Isso é impossível Dudu.
— É tão complicado mãe.
— Dudu, na sua idade nada é tão complicado assim. — Ela disse. Talvez não fosse mesmo, não como foi para ela e para o Rey que tiveram um filho tão cedo. Minha mãe me fez perceber que Mama tinha razão, eu era um privilegiado. Estava sempre cercado de amor. Meu único medo era amar. Minha mãe me abraçou, peguei a minha mochila e voltamos para sala.
— Então vamos. — Rey disse e se despediu dos rapazes. — Foi um prazer conhecê-los.
Fomos para a casa do Rey, era a primeira vez que eu os via conversando pessoalmente, pelo menos que eu me lembre, era bonito o carinho que tinham um pelo outro. Minha mãe sempre disse que eles se amavam e eu pude ver como era esse amor.
Ficamos conversando madrugada a fora, gostava de escutar os casos deles na juventude. Descobri que Rey se esforçou muito para ser presente na minha vida, até ele se mudar para a América. Me senti culpado em romper com ele quando eu tinha 12 anos, e quis culpar um pouco o Francisco também. Disse para a minha mãe que estava com saudade da sua comida, e ela contente, se prontificou a fazer o almoço no dia seguinte.
Fui com Rey na manhã seguinte ao supermercado fazer as compras para o almoço. Contei para ele que no meu primeiro dia no Rio eu o vi ali com o Fábio.
— Por que não falou comigo? — Ele perguntou.
— Não sabia o que dizer. Eu te segui até a porta do seu prédio e vários outros dias que passei por aqui eu me sentava no banco em frente ao prédio e ficava olhando para as varandas para tentar adivinhar em qual delas você morava. — Respondi.
— Eu não imaginava.
— Alguma coisa que me puxava pra cá. Alguma coisa me fazia querer ficar perto de você. E isso só tem aumentado.
— Você sabe que eu sinto o mesmo, não sabe?
— Eu sei. — Eu disse. Eu sentia. Ficou mais claro quando Rey começou a se despedir com frases como “Eu te amo” ou “Amo você”.
Ficamos como figurantes na cozinha ajudando a minha mãe. Marcinho me ligou dizendo que já estavam chegando. Rey liberou a entrada deles com o carro no prédio e foi uma festa quando nos reunimos.
Almoçamos e fomos para a praia. Marcinho não conhecia o mar e ficou impressionado. Ficamos quase todo o tempo na água enquanto minha mãe e Rey ficavam conversando.
— Eu devia ter feito o vestibular aqui. — Afonso disse. — Esse lugar é maravilhoso.
— É sim. — Eu disse.
— Eu nunca vi tanto homem bonito junto e o melhor, homens gays. — Marcinho disse nos fazendo sorrir.
— Aproveita amigo. — Eu disse. Marcinho me olhou sem graça.
— Achei que iriamos ficar, nós dois. — Marcinho disse. — Você está namorando e não me contou?
— Não estou namorando, mas estou apaixonado. É complicado. — Eu disse. Marcinho entendeu que não era hora nem o lugar de falar sobre aquilo. Não sei se Marcinho me entenderia, ele ficava com o tio, mas estar apaixonado pelo pai era bem diferente.
Mamãe e Rey saíram para caminhar. Voltamos para a areia para tomar conta das nossas coisas. Afonso trouxe uma bola de futebol e ficamos jogando até eles voltarem.
Os garotos queriam ir para a Lapa, conhecer um baile funk. Apesar de estar a mais de um mês naquela cidade eu ainda não tinha ido, não tinha companhia. Achei excelente a ideia. Minha mãe e Rey resolveram ficar em casa.
A noite foi muito divertida. Afonso ficou com algumas garotas. Marcinho paquerou a noite inteira e muitas vezes dava alguns perdidos. Candinho que era mais tímido ficou mais de boa, acabou ficando com uma garota que ficou rebolando na frente dele. E eu, eu só pensava no Rey.
Saímos de lá e estava quase amanhecendo. No uber de volta, víamos o sol nascendo praticamente no mar em Copacabana. Afonso pediu para o motorista parar e saímos do carro. Perto do forte sentamos na área, algumas pessoas caminhavam com seus cachorros e outras corriam.
— Olha o que eu trouxe. — Afonso disse mostrando um cigarro de maconha. Sorriamos enquanto ele acendia.
O cigarro foi passando de mão em mão. Ficávamos observando aquela vista.
— Temos que fazer isso sempre. — Candinho disse.
— Cara, a gente fuma maconha quase todo final de semana. — Afonso disse rindo.
— Não, eu falo de nos encontrarmos. E tem que ser aqui, aqui é o paraíso. — Candinho disse.
— É verdade. O que é aquela vista do apartamento do Rey. Se eu pudesse, eu morava lá. — Marcinho disse.
— É complicado. — Eu disse. Marcinho foi o único que me olhou desconfiado.
Fumamos aquele cigarro e fomos caminhando para Ipanema. Paramos em uma lanchonete porque a larica estava brava. Chegamos em casa, minha mãe estava na cozinha. Tinha preparado o café da manhã e para não fazermos desfeita, comemos de novo.
Rey não havia se levantado, pela varanda pude ver que ele estava acordado no seu quarto. Eu pensei em ir até ele, mas o sono me consumia. Fui dormir e acordei com a minha mãe nos chamando para almoçar. Fomos para a cozinha e Rey não estava lá.
— Onde está o Rey, mãe? — Eu perguntei.
— No quarto dele ainda. Ele não levantou hoje. — Ela disse. Eu achei aquilo estranho. — Chama ele para vir almoçar.
Fui até o quarto do Rey, bati na porta, mas ele não respondeu. Girei a maçaneta e o vi sentado na sua cama vendo TV.
— Minha mãe está chamando para almoçar. — Eu disse.
— Podem almoçar. Não estou com fome. Fiquem à vontade, a casa é de vocês. — Ele disse sem me encarar.
— Está tudo bem Rey?
— Vai ficar. — Ele respondeu tentando forçar um sorriso.
Voltei para a cozinha e contei para a minha mãe que Rey disse para almoçarmos. Ela também agiu de forma estranha.
— Está tudo bem mãe? — Eu perguntei.
— Vai ficar. — Ela respondeu.
A mesma resposta, os dois. Algo aconteceu na noite anterior eles estavam estranhos.
Fomos para a praia deixando o Rey e a minha mãe em casa. Ela disse para eu não demorar pois tinha que pegar o voo no final da tarde. E queria se despedir de mim.
Seguíamos alguns bloquinhos de carnaval que passavam pela orla. Os meninos estavam muito animados. Afonso beijando geral. Marcinho também dava alguns pegas. O bloco era bem misturado, trinta por cento homens, trinta mulheres e trinta gays, os outros dez por cento era bastante indefinido.
Voltei para o apartamento bem antes do combinado, deixando meus amigos se divertindo. Minha mãe estava sentada no sofá da sala lendo alguma coisa. Me sentei de frente para ela que colocou os papéis do lado. Vi que ela estava emocionada.
— É o filme do Rey? — Eu perguntei. E ela concordou. — Deixa eu ler. Ele não me deixou ainda.
— Se ele não deixou eu não posso deixar. — Ela respondeu colocando a mão sobre o papel. — Vem cá meu filho.
Minha mãe abriu os braços me pedindo um abraço. Eu a abracei.
— Eu te amo tanto. Se eu pudesse faria de você uma criança de novo, um bebê de colo para eu poder cuidar de você e te proteger de toda a maldade do mundo. — Ela disse ainda mais emocionada.
— Eu também te amo mãe. Mas não se preocupe, eu sei me cuidar.
— Espero que sim Dudu. Sei que você já é um adulto, mas pra mim sempre será aquele bebê. Eu não quero que você se machuque. Eu não quero que você se magoe. Eu não quero que você sofra.
— Eu estou bem mãe, estou feliz. Estou onde eu deveria estar.
— Eu só quero que você seja feliz meu amor.
—Eu também mãe. Eu também. — Eu disse a abraçando mais forte e sentindo que lágrimas também escorriam dos meus olhos.
— Vou tomar banho. Me distraí lendo e nem vi as horas passando. — Ela disse limpando os olhos e indo para o seu quarto.
Aproveitei e também tomei banho. Quando ela já estava pronta foi até o quarto do Rey.
— Eu já vou. — Ela disse.
— Espera, eu te levo. — Ele respondeu.
— Não precisa. — Ela disse.
— Ana, queria te dizer que não foi de propósito. Eu não escolhi isso. — Ele disse.
Eu os escutava, mas não entendia do que eles estavam falando.
— Eu sei Rey, toma. — Minha mãe disse entregando o roteiro de volta para o Rey. — Será um lindo filme.
— Você leu? — Ele perguntou.
— Sim. A gente não controla o amor Rey. Eu não posso controlar. Eu não posso escolher, não posso julgar. — Minha mãe disse e Rey a abraçou.
— Eu te amo Ana. — Ele disse.
— Eu também. — Ela respondeu olhando em seus olhos. — Seja feliz, cuide do nosso filho.
— Eu te prometo. — Ele respondeu. Ambos estavam emocionados. Se abraçaram mais uma vez e minha mãe voltou para sala onde eu estava. Rey veio atrás dela, só então ele me viu e rapidamente limpou as lágrimas.
— Vamos mãe, vou com você até o aeroporto. — Eu disse.
— Não precisa Dudu. Fique aí, aproveite o tempo com seus amigos. Te espero lá em casa na pascoa viu. Nada de inventarem outra coisa. — Minha mãe disse olhando para mim e para o Rey forçando uma cara séria. Nos abraçamos mais uma vez e desci com ela até a avenida para esperar o seu uber.
— Mãe o que foi aquilo que você estava conversando com o Rey? — Eu perguntei.
— Algo que nunca vamos precisar comentar. — Ela disse encerrando o assunto. — É aquele o carro?
— É sim. — Eu disse, sinalizando para o carro subir na entrada da garagem. Nos abraçamos mais uma vez.
— Fique bem meu filho. Eu amo você. — Ela disse.
— Boa viagem mãe, eu te amo. — Eu disse.
Eu a vi partir, do outro lado da avenida estavam os garotos. Marcinho atravessou correndo.
— A tia já foi? — Ele me perguntou.
— Agorinha mesmo. — Eu respondi
— Que pena, nem de despedi. — Ele lamentou.
Subimos para o apartamento e Rey estava na sala. Ele estava animado, entendi que ele e minha haviam brigado e feito as pazes. Tinha medo de imaginar o motivo, mesmo quase certo de saber qual era.
— Tem planos para hoje? — Rey nos perguntou. Olhamos uns para os outros e começamos a sorrir. Não éramos o tipo de turma de fazer planos. Simplesmente escolhíamos um destino e saíamos. — Ótimo, vamos para a Sapucaí.
— Sapucaí? — Candinho perguntou.
— Sim. Hoje começa os desfiles das escolas de samba. Vou fazer algumas ligações, conseguir um camarote pra gente. Acho bom vocês tomarem banho e descansarem um pouco, o desfile só acaba amanhã de manhã.
Fizemos como Rey disse, fui para o quarto e deitei na cama. Marcinho apareceu lá, eu dividia o quarto com ele, enquanto Afonso e Candinho ficavam em outro.
— Fala pra mim Dudu, o que está rolando. O que é tão complicado nessa vida maravilhosa que você está tendo aqui? — Marcinho disse.
— Acho que tenho que te apresentar para o Mama, ele não cansa de dizer que sou um privilegiado. — Eu disse. Um comentário totalmente desnecessário, mas eu queria ganhar tempo, pensar se isso era algo que realmente devia ser dito. Marcinho percebeu.
— Não foge do assunto, fala pra mim. — Marcinho disse. Ele se sentou no colchão que estava ao lado da minha cama, apoiou a sua cabeça na minha cama e me encarava.
— É o Rey. — Eu disse.
— O que tem ele?
— É ele, a complicação.
— Seu pai biológico é um cara muito legal, e parece que gosta bastante de você. Tudo bem que vocês estão se conhecendo só agora. Mas qual o problema?
— Eu não o vejo como pai.
— Isso é normal, foi o Seu Francisco quem te criou a vida inteira.
— Não é isso Marcinho. Meu Deus.
— Então fala Dudu.
— É ele... Eu estou apaixonado por ele. — Eu confessei.
Marcinho me olhava com a boca aberta, ele não tinha palavras e nem eu. Candinho e Afonso entraram no quarto. Afonso pulou em cima de mim na cama e Candinho deitou no colchão ao lado do Marcinho.
— Viemos ficar aqui com vocês. — Afonso disse.
Conversamos um pouco e o cansaço foi consumindo um a um. Eu fui o último a conseguir dormir. Acordei com Rey batendo na porta do quarto. Olhei para o relógio, já passava das vinte e duas horas.
— Vamos? Troquem de roupa. — Rey disse.
Ele olhava para mim e sorria. Fomos para a Sapucaí. Marcinho era o que estava mais maravilhado com tudo. Ele sempre gostou dos desfiles das escolas de samba, lembro algumas vezes que ele dormia lá em casa no carnaval e passava a madrugada assistindo aos desfiles. Fomos para um camarote e nele encontramos com o Maia. Ele me abraçou e me parabenizou pelo o que fizemos com o filme. Eu olhei para o Rey. Não tive coragem de dizer que não tinha participação naquilo. Que o Rey ainda não havia me deixado ler.
Celebridades estavam para todo lado, Rey nos disse que podíamos ficar à vontade. Ele ficou um tempo ao lado do Maia, posaram para algumas fotos, foram entrevistados por alguns jornalistas. Rey me chamou para sair em uma foto com eles. Mas eu disse que não. Ainda estava confuso. E não sabia se aparecer para o resto do mundo como filho do Rey era algo bom. Claro que ser filho do Rey era motivo de orgulho, mas não era isso que eu queria ser.
Aquele camarote tinha comida e bebida liberada, aproveitamos bastante, fomos para a sacada ver o desfile, era sem dúvida algo maravilhoso. Quando a escola de samba se afastava, íamos para a boate que tinha lá dentro do camarote. Mulheres lindas e gostosas, quase nuas se insinuavam. Homens bonitos e sarados sem camisa dançavam. Marcinho ficou de olho neles.
— Tantos homens lindos que nem sei qual é o mais bonito. — Marcinho me disse.
Fiquei aliviado por ele conversar comigo com a mesma naturalidade de sempre.
— Tente a sorte com todos. — Eu disse sorrindo e ele sorriu de volta. — Marcinho aquilo que te falei, não comenta com ninguém.
— Relaxa Dudu. Você precisa mesmo relaxar. Vem dançar comigo. — Ele me chamou.
Fomos dançar, Afonso e Candinho se juntaram a gente, depois de um tempo, senti uma pessoa bem atrás de mim. Olhei para trás pronto para dar um soco na pessoa que estava me encoxando, mas tudo que eu fiz foi sorrir, era o Rey. Ele saiu de trás de mim e ficou ao meu lado. Fizemos uma rodinha que só foi aumentando. Quando a música acabou, saí para pegar mais uma bebida e o Rey veio atrás de mim.
— Está se divertindo? — Ele me perguntou.
— Muito. — Eu respondi. Rey sorriu e passou a mão no meu rosto, eu fechei os olhos sentindo o seu toque, senti a minha perna bamba.
A boate parou de tocar, mais uma escola estava entrando na avenida e fomos para a sacada ver. Ficamos assim praticamente a noite inteira, nos revezando entre a boate e a sacada para ver o desfile. Muitos homens e mulheres se aproximavam do Rey, ele sempre muito simpático dava atenção a todos, mas não ficou com ninguém. Eu também não quis ficar com ninguém, eu só queria o Rey e sabia que aquilo não aconteceria ali no carnaval. Afonso estava aproveitando, tudo bem que levou mais foras do que beijou na boca, mas isso fazia parte da diversão. Marcinho e Candinho também se deram bem. Marcinho pegou alguns caras e Candinho eu não vi, mas ele disse que tinha beijado na boca.
Voltamos para casa, já estava amanhecendo. Passamos por alguns blocos que estavam começando já aquele horário. Se nossas pernas não doessem tanto, tenho certeza que passaríamos o dia emendando de um bloco ao outro. Chegamos em casa e apagamos. Sem a minha mãe em casa fomos para um restaurante a tarde para almoçar.
Curtimos um pouco de praia e voltamos para o apartamento no final do dia. Rey não estava lá o que me deixou preocupado. Afonso aproveitou para ascender um baseado na varanda e o Rey chegou na hora. Afonso assustado jogou o cigarro na rua. Rey entrou desconfiado, estávamos com cara de suspeitos.
— Vocês estavam fumando maconha? — Rey perguntou.
Eu abaixei a minha cabeça. Não poderia mentir para o Rey. Os garotos ficaram sem graça.
— Poxa, nem me chamaram. — Rey disse rindo.
— Eu joguei fora, achei que você iria brigar. — Afonso disse.
— Vou brigar agora, por ter jogado fora. — Rey disse acabando com o climão.
Afonso enrolou outro baseado e fumamos todos juntos enquanto contávamos histórias, bebíamos e conversávamos. Mais uma vez nem vimos o tempo passar. Nem saímos aquela noite, fomos para a cama e combinamos de acordar cedo no dia seguinte para passar o dia na rua seguindo os bloquinhos que iriam rodar pela zona sul e pelo centro da cidade.
O clima nos bloquinhos era ótimo, muita diversão e pegação. Conheci um Rey diferente, um Rey adolescente. A verdade é que ele tinha pouco mais de 30 anos e sabia se divertir.
Uma garota linda, bem novinha chegou no Rey.
— Eu sou velho pra você. — Ele disse. Ela sorriu e disse que gostava de homens mais velhos. — Olha o meu filho, como é lindo.
— É muito bonito, parece com você. — Ela disse e eu sorri. A garota se virou pra mim e me beijou, eu a beijei de volta. Rey estava sorrindo. A menina após me beijar se virou para o Rey e o beijou. Quando a garota estava partindo com suas amigas eu a puxei de volta e a beijei, queria sentir o gosto da boca do Rey que estava na boca dela. Segundos depois ela não estava mais nas nossas vistas.
— Formamos uma boa dupla. — Rey disse sorrindo, colocando os braços sobre o meu ombro e eu coloquei os meus braços na sua cintura.
Ficamos todo o tempo assim, um ao lado do outro naquele meio abraço. Hora ou outra os meninos se juntavam a nós. Beijamos outras garotas, sempre dividindo, se beijasse o Rey me beijava também, se me beijasse beijava o Rey. Chegamos a beijar uns dois ou três rapazes. Eles eram mais atirados, passavam a mão no nosso corpo e até pegavam no nosso pau. Alguns nos chamavam para os banheiros, diziam que queria nos chupar e dar pra gente. Mas não fomos com nenhum.
— Cara o Rey é muito legal. — Afonso disse, parando ao meu lado. Eu apenas concordei.
De bloco em bloco e depois de muitos beijos na boca paramos em Copacabana. Sentamos em um restaurante à beira da praia e matamos a fome. Os garotos estavam tristes por partirem no dia seguinte. Eu também estava, aquele feriadão foi tão divertido e estava gostando de ficar na casa do Rey. Tudo isso acabaria no dia seguinte. Combinamos mais uma vez de dormir cedo, aproveitar a manhã na praia, já que eles partiriam depois do almoço.
Marcinho me chamou para entrar na água enquanto Afonso e Candinho dormiam estirados na areia. Eu sabia que ele queria falar sobre o que eu lhe contei.
— Acho que você não deve se preocupar com nada, se for recíproco Dudu, aproveita. Tem que aproveitar o hoje, amanhã a gente pode não estar aqui. — Marcinho me disse.
— Obrigado meu amigo. Me sinto aliviado de você não me julgar. — Eu disse.
— Nunca Dudu. — Marcinho disse.
Senti que tinha tirado um peso das costas, me sentia menos culpado por desejar tanto o Rey.
— Mas você não acha que pode estar confundindo as coisas? Tem tão pouco tempo que vocês se encontraram, como pode estar apaixonado assim? — Marcinho disse.
— Não sei, foi tipo amor à primeira vista, e só foi aumentando, aumentando e não está cabendo dentro de mim. E eu sei que ele sente o mesmo.
— Tem certeza, ele não pode te amar apenas como um pai que está feliz por reencontrar um filho?
— Não, eu sei que não, eu sinto que não. — Eu disse. Eu queria acreditar nisso.
Nossa manhã passou rápida. Pouco tempo depois subimos para o apartamento, tomamos banho, juntamos as nossas coisas e Rey nos levou para almoçar em um restaurante lá no bairro mesmo. Nos despedimos e os garotos partiram.
— Eu já vou também. — Eu disse para o Rey.
— Não, você não vai. — Ele respondeu.
— Amanhã tenho aula.
— Não Edu. Eu tenho que resolver algumas coisas e volto no final do dia. — Ele disse me entregando a sua chave. — Espera eu voltar que você vai ler o roteiro.
Finalmente ele iria deixar eu ler o roteiro. Por alguns momentos enquanto eu o esperava sozinho dentro daquele apartamento pensei em procurar o roteiro do filme e começar a minha leitura, mas consegui me segurar. Andava pela varanda, deitava em todos os sofás, revia as fotos que tiramos no carnaval, assisti um pouco de TV e quando escureceu resolvi tomar banho.
Rey chegou eu estava saindo do banho.
— Passei na sua casa, trouxe a sua mochila. — Rey disse.
— O quê? — Eu perguntei sem entender.
— Fui lá em Laranjeiras, o Cris foi comigo até o seu quarto, peguei a sua mochila com o material da faculdade e trouxe pra você. Agora não tem desculpa para não dormir aqui. Eu te levo para a faculdade de manhã cedo. — Rey disse andando pela casa, deixou a minha mochila no quarto e foi para a cozinha, eu não tinha reação, não sabia se aquilo era legal ou muito invasivo. — Trouxe comida e comprei vinho. Vou tomar um banho, comemos e falamos sobre o filme.
Rey tomou banho, comemos em silêncio, nenhum outro assunto passava pela minha cabeça e pelo visto, da dele também não. Após o jantar sentamos na sala, Rey abriu uma garrafa de vinho e nos serviu. Ele sentou em uma cadeira de frente ao sofá que eu estava e me entregou o roteiro.
— Aprendendo a ser pai? — Eu disse.
— É um título provisório. — Ele respondeu. Comecei a ler e Rey me encarava prestando atenção em todas as minhas reações.
Um casal com uma vida normal em uma cidade do interior se separa quando o filho tinha 12 anos. A mãe resolve voltar para a sua cidade natal, uma cidade grande. Passaram-se 6 anos. O rapaz tem problemas com agressividade e havia acabado de sair de um reformatório, a mãe o despacha para a casa do pai. O pai é contra, mas acaba aceitando. O homem na faixa dos 40 anos estava em um estado deplorável, assim como a sua casa. O homem vivia bêbado e sozinho. Eles entram em conflitos algumas vezes pelo fato do pai estar constantemente bêbado e pelo garoto brigar na escola quando era chamado de viado.
Já tinha lido algumas páginas e Rey continuava me encarando. Voltei para a leitura e bebendo na sua taça de vinho. Eu também bebi a minha e o Rey tornou a enche-la.
Eles passam a se ajudar, e a conviver melhor, o pai deixa de beber e o filho torna-se uma pessoa mais calma. Juntos eles reformam a casa e se tornam amigos, Pai e filho vão tomar um banho de rio juntos, ambos ficam nus, e um repara no outro. Começam uma brincadeira de jogar água na cara um do outro, se aproximam e se percebem excitados. Constrangidos, nadam até a margem do Rio e vão embora. Na mesma noite o rapaz não consegue dormir sentindo tesão pelo pai, resolve ir para o banho. O pai aparece no banheiro e vê o filho excitado, o filho o chama para se banhar com ele. Lá eles tomam banho juntos e se tocam. Do banho vão para a cama onde fazem amor.
Era impossível não perceber a semelhança do que aconteceu entre nós dois. Principalmente quando ficamos excitados no mar e quando eu o chamei para tomar banho. Me perguntava se Rey me levaria para a sua cama se Fábio não tivesse chegado naquele dia. Encarei o Rey, me sentia excitado.
— Continua. — Rey me disse. Virei a taça de vinho e voltei para a leitura.
Ambos ficam constrangidos no dia seguinte, o pai envergonhado liga para a mãe do garoto pedindo para ela busca-lo. Quando a mãe chega e o filho descobre que o pai que pediu para ele ir embora, o garoto foge revoltado. O pai arrependido vai atrás do filho e se desculpa, um diálogo emocionante e mais uma vez eles fazem amor.
Uma passagem de tempo e eles acordam juntos dividindo a mesma cama. O pai levanta para preparar o café da manhã e o filho escuta um barulho. Corre para a cozinha e encontra o pai caído no chão.
— Você vai matar o pai? — Eu lamentei.
— Continua. — Rey pediu. Com lágrimas nos olhos, continuei.
No hospital o filho descobre que o pai tem um tumor, inoperável. Que ele já havia sido diagnosticado há mais tempo. O pai não morre, volta para casa dias depois passando bem. O pai confessa que quando foi diagnosticado ele havia recebido uma expectativa de 6 meses de vida, que o seu prazo havia acabado justamente na chegada do filho. Que ele usava a bebida para aliviar as suas dores de cabeça e o seu medo da morte. Mas que ele achou um outro remédio. O amor do filho. Dizia que já estava feliz por ganhar todo esse tempo junto com o filho. Eles se amam mais uma vez e uma nova passagem de tempo. O rapaz está feliz, indo para a faculdade e em sua carteira tem uma foto do pai.
Eu limpava as lágrimas dos olhos.
— Eu te escutei Edu, não foi um castigo, pelo contrário, foi um prêmio. — Rey disse, sentando ao meu lado.
— Eu vi isso. — Eu respondi. — Você não tem um tumor, tem?
— Não. — Rey disse sorrindo e me abraçou.
Eu sentia o calor do seu abraço, eu sentia a sua respiração, eu sentia o magnetismo de um imã. Um calafrio percorria o meu corpo. Era a melhor sensação da minha vida. Não tinha como aquilo ser errado. Ele me olhava com olhos alegres. E eu esperava por um beijo que não vinha.
— E agora... pai!?
XXX ----- xxxxx ----- XXX
Livro Completo:
E agora... Pai?! - Parte I - https://www.amazon.com.br/dp/B089MCWWSS
E agora... Pai?! - Parte II - https://www.amazon.com.br/dp/B087NQ9CGQ
Gostou deste conto? Por favor, vote, dê 3 estrelas e comente. Quero saber a opinião de vocês. Se ainda não está cadastrado no site, se cadastre é bem simples e rápido. Seus votos e comentários são muito importantes para mim.
Prometo um capítulo por semana e voltar para responder aos comentários (no espaço destinado aos comentários deste capítulo) assim que postar a continuação.
Me adicionem e sigam nas minhas redes sociais. As novidades chegam por lá primeiro.
Perfil no facebook para adicionar: www.facebook.com/Katib.Paco
Pagina no facebook para curtir: www.facebook.com/contosdopaco
Perfil no Wattpad para seguir: https://www.wattpad.com/user/PacoKatib
E-mail: newescritorbh@hotmail.com
Muito Obrigado.
Paco Katib
Escritor de Contos, Livros e Romances Eróticos Gay (Bi)