Mais um capítulo!
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O Diário
Capítulo onze - Palavras do passado
Sentir o Leonardo me abraçando era de uma intensidade imensurável, eu me odiava por sentir aquilo por ele depois de tudo que ele me fez, mas admito que não recusei aquele abraço, pelo contrário, retribui. Eu sei o que é ter um pai doente.
Evitei olhá-lo nos olhos, apenas o chamei e mostrei-o onde ele deveria dormir. Ofereci algo para comer, mas ele recusou dizendo já ter jantado. Virei-me e voltei ao meu quarto. Deitei, mas se eu disser que dormi aquela noite, terei mentido. Bom, já que não iria dormir mesmo, resolvi estudar (vida de médico é Phoda). Passei algumas horas estudando e planejando detalhes do Luau, sem fazer barulho, não queria atrapalhar o Leonardo. Faltava uma hora para amanhecer o dia e eu estava preocupado, pois teria plantão e trabalharia em dobro. Como o sono já estava perdido, decidi ir à praia que não era muito longe (dava para ir andando mesmo). Sentei-me num banco próximo a um quiosque e vi o sol nascer. Não sei se já disse, mas o nascer do dia é o momento mais mágico do dia, em minha opinião, me dá energia.
Já que teria que trabalhar bastante, resolvi meter o pé na jaca. Passei na padaria comprei pão fresquinho e fui pra casa. Fiz um café da manhã que modéstia à parte ficou divino. Lavei a louça e umas roupas minhas, limpei o chão e lustrei os móveis da sala. Fiz tudo em silêncio, pois não queria acordar meu hóspede. No fim estava suado e sujo, tomei um longo e relaxante banho e me enrolei na toalha. Quando abri a porta do banheiro, de cara com ELE ACORDADO. Fechei a porta imediatamente, acho que ele nem me viu, mas deve ter se assustado com o barulho.
— Tá tudo bem? — me perguntou.
— Tá sim! — Gritei do banheiro. Eu não sabia o que fazer e estava desesperado. Por sorte tinha um jaleco pendurado atrás da porta, vesti tapando meu abdômen e com a toalha enrolada na cintura sai em disparada para meu quarto, trancando a porta assim que entrei. Não sei o que deu em mim, mas não queria que ele me visse sem roupa. Da última vez que isso aconteceu... Bem, vocês sabem...
Arrumei-me para o trabalho. Como já estava acostumado com noites curtas de sono, não fiquei com olheiras. Pus meus óculos escuros e me dirigi à sala. Ele estava sentado no sofá, mexendo em seus pertences, SEM CAMISA. Eu não e devia ter visto aquilo: ele tinha um corpo perfeito. Ainda bem que pensei rápido e o informei que só voltaria de madrugada. Falei para pegar a cópia da chave que estava na porta, pois eu tinha uma extra comigo e me despedi.
Aquele dia foi normal pela parte da manhã, faltavam três semanas para a festa na praia e tudo já estava pronto. A surpresa mesmo foi durante à tarde, quando Wilson e Leonardo entraram no meu consultório . Leonardo estava tenso, velando para que seu pai não falasse demais outra vez, mas ele nos surpreendeu.
— Olha, rapaz — disse pra mim — Muito obrigado pela ajuda que você está dando, eu estava errado sobre você.
— Tudo bem. — Respondi.
A todo o momento evitava olhar para Leonardo, que me encarava desde que entrara na sala. Fiz o exame físico, chequei os exames laboratoriais e encaminhei um pedido de cirurgia para o seu Wilson. Quando os dispensei, na saída, Leonardo me elogiou pelo café da manhã e eu, de cabeça baixa, agradeci.
Tudo ocorreu muito bem até a hora do plantão, onde tive que drenar um tórax de um paciente que se acidentou, foi minha primeira intervenção cirúrgica e fiquei super tenso.
Terminando tudo, estava muitíssimo cansado quando cheguei a meu AP estava rastejando de sono. Caí no sofá morto de preguiça. Senti um papel em baixo de mim e era a foto de uma mmenina, loirinha de olhos castanhos claros. Na hora me lembrei da Lívia e imediatamente a Alice me veio à cabeça. A filha da Lívia deveria ter uns cinco anos naquela altura. Como estava linda!
Tomei banho caindo de sono e fui me deitar. Acordei 11 da manhã do dia seguinte, tomei um longo banho de água gelada e fui cuidar da casa. Léo provavelmente estava no hospital com seu pai, então eu decidi fazer um pouco de macarronada pra comer. Acabei teendo que dividir o pouco que havia feito com ele que chegou minutos antes de eu terminar de preparar.
Conversamos muito naquela tarde, mas eu evitei falar do passado. Perguntei apenas sobre sua família e sobre a Alice e, embora ele parecesse inquieto com alguma coisa, acabou não revelando o quê. Fui para a academia mais cedo e demorei um pouco por lá para fugir do Leonardo. Tinha medo de tocar em feridas que eu não tinha certeza se já haviam sido cicatrizadas, então eu preferia evitá-lo. Desde quando o encontrara ainda não olhado diretamente em seus olhos porque eu temia o perigo daqueles magnéticos olhos verde esmeralda.
Aquela semana passou rapidamente sem grandes emoções. Eu o evitava ficando até mais tarde no trabalho ou dobrando o tempo na academia. Eu sempre gostei de agir na defensiva. O pai dele seria operado na noite daquela data.
O dia foi meio pesado e eu estava um pouco deprimido devido àquela rotina e ao fato de ter me negado tempo livre, então fui à pediatria ver as crianças. Levei uma historinha para ler pra uma garotinha com pneumonia, contei a história e ela me agradeceu. As crianças possuem o sorriso mais confortador que eu conheço, são anjos! Em meio às risadas ouvi um pigarroe quando levantei meu olhar, encontrei Leonardo sorrindo na porta. Me despedi da garota e de sua mãe e segui de encontro à ele. Fomos andando pelo corredor e ele me contava como o pai estava se preparando para cirurgia. Eu olhava para o vazio e palavras ecoavam em minha mente:
“Eu juro, por meu ser e por minha existência, que nunca mais amarei outra vez.”
CONTINUA...