O Diário - Capítulo 14

Um conto erótico de Dr. X
Categoria: Gay
Contém 1514 palavras
Data: 05/04/2020 13:10:18

Mais um capítulo. Postarie outro em breve

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O Diário

Capítulo quatorze – Beijo reivindicado

Nos afastamos devagar, mas ele não me soltou e eu via dor em seus olhos verdes. Suas mãos estavam repousadas sobre minha cintura, me desvencilhei de seus braços e andei rapidamente até meu quarto, trancando a porta assim que passei por ela Me atirei na cama em estado de torpor, o perfume do Leonardo impregnado em minha pele. Do lado de fora do meu quarto ele ofegava recostado sobre a porta, podia sentir sua inquietação entrar pelas frestas, perfurando a atmosfera do cômodo como um enxame de facas.

Não sei se foi impressão minha, mas dos muitos sons que vinham de sua direção, distingui soluços. Quando percebi, lagrimas silenciosas desciam pela minha face, mas eu não soluçava, sequer chorava. Eram lágrimas fujonas daquelas que brotam sem permissão, sem sequer serem notadas. Não são de tristeza ou de alegria, são de quando o corpo não suporta a intensidade das emoções e você se depara assim, lacrimejando. adormeci daquele jeito, com a face molhada.

Acordei cedo: fui à praia para correr um pouco, não teria essas regalias no novo apartamento. Mas se bem eu tinha carro, então poderia ir à praia quando desejasse. Segui para casa e fiz café da manhã, preparei um monte de coisas que sabia fazer: bolo de laranja, tapioca, panqueca e ovos mexidos. Demorei certo tempo para me vestir, troquei de roupa umas cinco vezes. Fiquei mais do que esperava arrumando meu cabelo de frente ao espelho do banheiro, tomei o café animadamente e fui trabalhar.

O dia estava lindo, sol e vento na medida certa. Eu andava sorridente pelo hospital, só faltava saltitar, nem me lembrava da última vez que sentira tanta alegria assim. As enfermeiras estranharam e um colega de trabalho, o Márcio, perguntou o porquê de tanta felicidade. Respondi não saber, e ele me disse “prefiro você assim, sorrindo, fica mais bonito ainda”. Eu já vinha suspeitando dele, mas aquilo era a confirmação. Ele havia me cantado e o pior, dentro do hospital!

Aquele era meu dia, o Márcio era muito bonito! Melhor ainda, um médico competentíssimo, muito culto e inteligente. Devia ter seus 28 anos.

O melhor daquele dia foi poder passar aquela alegria súbita para os pacientes, poder compartilhar esperança com eles, mesmo num momento desconfortável. Ao final do dia fui conversar com meu preceptor para lembrá-lo que eu faltaria os dois dias seguintes para organizar a festa. Ele concordou e eu voltei direto para casa. Fiz o jantar: bife com purê de batata, estava delicioso. Sentamos o Léo e eu à mesa para jantarmos e enquanto nos deliciávamos, meu celular tocou. Não possuía o número na minha agenda, atendi e uma voz rouca do outro lado da linha falou:

— Doutor Felipe?

— Pois não — Disse-lhe.

— Sou eu, o Márcio, tudo bem? Desculpa ligar assim, durante a noite, mas eu quero saber se você não gostaria de ir a uma festa comigo?

— Oi, Márcio. Tudo bem sim. Quando vai ser?

— Já está sendo haha. E então?

— Olha, infelizmente não vai dar, mas podemos no ver no Luau daqui a dois dias.

— Tudo bem, te vejo lá! Boa noite, lindo!

— Boa noite haha.

Quando olhei para Leonardo, ele estava com uma feição de raiva. O garfo que estava em sua mão havia sido entortado contra o prato. Perguntei o motivo da atitude, mas ele não respondeu. Apenas se levantou e levou seu prato a pia, dizendo que depois lavaria a louça. Eu fiquei lá com a cara de trouxa, ele estava com ciúmes?

Eu mesmo lavei tudo, arrumei a cozinha e de quebra organizei a dispensa, pois me mudaria na semana seguinte. Tomei remédio para dormir pois não queria pensar em nada que acontecera naquela noite.

Acordei com o nascer do sol e rumei para o novo apartamento, queria passar uma demão de tinta no teto. Comecei bem cedo, pois a tarde iria buscar os ornamentos do luau, para assim ter mais tempo no dia seguinte. O serviço era fácil, na verdade era só retocar algumas partes que estavam escurecidas. Umas 08h00min da manhã o Léo chegou para me ajudar, reclamando de novamente não tê-lo chamado para ajudar.

Pintamos boa parte do teto do apartamento, faltando alguns retoques nos encontros com a parede, então eu subi numa pequena escada e comecei o trabalho que era mais cansativo que o anterior. O Leonardo me olhava com os cantos dos olhos, eu estava usando uma bermuda daquelas de surfista com uma camiseta velha de algodão. Ele não parava de encarar minhas costas, num determinado momento pedi que ele assumisse a tarefa porque meu pescoço já estava doendo. Ele o fez e em certo ponto na varanda, pediu-me para segurar a escada para ela não virar com ele em cima. Assim o fiz, mas me distraí com as pernas dele e em um movimento brusco quando ele se esticou para alcançar o canto da parede, a escada virou e ele despencou dela, caindo sobre mim.

Sua face de frente para a minha, seu corpo sobre o meu enquanto ele me olhava nos olhos. Tudo isso seria muito romântico, mas de repente tudo foi ficando zonzo e eu apaguei. Abri os olhos estava no meu carro, Leonardo dirigia. Disse-me que estava me levando ao hospital. Eu estava zonzo, meio grogue e apenas assenti com a cabeça. Chegando ao hospital (que não era longe) ele me ajudou a descer do carro. sentia muita dor no tórax e achei que talvez tivesse quebrado uma costela. Afinal, um homem daquele porte cair sobre você, é quase letal.

Ele me levou ao hospital onde trabalho e o Márcio, que estava de plantão, me examinou. Foi muito profissional na consulta, disse que eu teria que tirar um raio-X e para minha infelicidade, eu teria que esperar algumas horas ali, pois de observação. Aquilo significava que meu dia de trabalho havia ido por água abaixo.

O Leonardo passou o dia lá comigo, me pediu desculpas e ficou conversando comigo durante todo o tempo. Eu estava preocupado e comentei com ele que atrasaria na ornamentação da festa. Ele disse que me ajudaria no que fosse necessário. Dr. Márcio veio até a sala e disse alisando meus cabelos:

— Está tudo bem com você, não deu nada no raio-X. Você só precisa tomar uns analgésicos e ficar de olho caso sinta dispneia. Não tem contusão pulmonar e nem fraturas.

— Ai, que ótimo! — Falei me levantando. O Léo encarava enfurecido o Márcio, que parecia não notá-lo. Saímos todos e eu fui acertar com a recepção.

O Leonardo fez o jantar naquela noite: sopa de frango com legumes. Estava boa, comi e ele disse que arrumaria tudo. Pensei que ele talvez estivesse se sentindo culpado, então o confortei de que aquilo fora apenas um acidente e ele me abraçou. Ultimamente nós andávamos nos abraçando muito, sorri com essa constatação e fui tomar banho. Eu iria dormir cedo, pois no dia seguinte trabalharia dia e noite em prol desta festa, mas meu sono foi interrompido no meio daquela noite.

Acordei com um som forte de soluços que vinha da sala, saí do quarto e as luzes estavam apagadas. A meia luz que vinha da rua penetrava as persianas e deixavam o lugar envolto em penumbra, cheguei à sala e lá estava o Leonardo de bruços sobre o tapete. Eu tenho mania de andar levemente, sem meus passos sejam ouvidos, andei silenciosamente até ele e toquei em suas costas nuas. Ele se levantou num pulo, seus soluços cessaram e ele me encarou. Dentro de si ele travava uma batalha, era evidente.

Ele veio andando em minha direção, não deu muito tempo para reagir quando seus braços se enlaçaram em meu corpo e ele me puxou. Sua testa tocou na minha e nós respiramos da mesma porção de ar,. Sentia o calor da pele dele em meu corpo, atravessando o pijama que eu usava.

Um arrepio percorreu minha espinha e seu abraço ficou mais apertado. um braço enlaçado em minha cintura e o outro subindo pelo meu pescoço, deixando apenas as costas da mão o tocar. Passeou com seu polegar sobre minha bochecha e seus lábios tocaram o meu suavemente. Sentia uma corrente elétrica percorrendo nossas bocas. Depois sua língua veio gentilmente e eu, que estava em transe, correspondi ao beijo como se aquilo fosse a verdadeira razão de estar vivo. Sua boca sugava a minha com muita voracidade, quase em desespero eu diria. Era um beijo doce, frenético, veloz e amoroso. Eu havia esquecido como aquele beijo era bom e nossas bocas se encaixavam tão bem. Nossas línguas enlaçavam-se, dançando como amantes que acabam de se reencontrar após muitos anos e muitos caminhos percorridos na longa estrada da vida.

Aquilo deve ter durado mais de um minuto, mas quando Leonardo se tocou do que acabara de fazer, me soltou e me gritou um pedido de desculpas já de longe antes de fechar-se no quarto. Mas como eu poderia desculpá-lo por aquilo? Ele havia reivindicado um beijo meu e isso era justo, afinal quando se jura amor para sempre, o coração acaba acreditando.

CONTINUA...

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Comentários

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será que esse amor foi em vão???

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