Estou feliz em acordar hoje.
Tenho um ótimo motivo pra sair da cama: logo mais eu encontraria Gilberto no trabalho e eu mal podia esperar pra vê-lo. Dentro de mim uma sensação gostosa se formava. Um calor e ao mesmo tempo frio e uma confusão feliz de vivacidade e euforia.
Nelson percebe meu semblante feliz e me questiona qual era o motivo de tanta alegria. Ao passar pela minha cabeça sobre contar pra ele o que tinha acontecido entre eu e Gilberto, congelei. Apesar do sexo com Nelson ter sido maravilhoso, não passou disso, sexo. Eu e ele não podíamos conviver mais como colegas e nada mais do que isso, mas uma pulga ficava atrás da minha orelha ao pensar sobre tudo aquilo. Eu não queria que Nelson soubesse que eu e Gilberto estávamos nos aproximando e caso eu e meu amor platônico nos conhecêssemos melhor, a última coisa que eu queria era afugentá-lo com o fato de que eu era uma cadela no cio.
De repente me senti mal por ter transado com Nelson.
Eu podia ter evitado aquilo e não faria diferença alguma. Bem, talvez não houvesse um segredo que acabaria confundindo as coisas e me custando a reputação. Eu queria que Gilberto me enxergasse com doçura e encanto, não como um objeto sexual compartilhado de mão em mão. Eu achava que por ser gay jamais me preocuparia com tal situação, mas ao pensar que Gilberto se sentiria desconfortável com a ideia de eu ter transado com seu amigo, as coisas mudavam de perspectiva.
“Tudo bem?”, Nelson me pergunta envolto na toalha. O sol da manhã ilumina os olhos dele que parecem mais azuis do que nunca. Nelson parecia incrivelmente bonito naquela luminosidade matinal e aquela polidez de banho recém tomado. Me perguntei se não tivesse me apaixonado por Gilberto, se eu e ele emendaríamos num caso. E se manteríamos por muito tempo. E se eu o atacaria ali mesmo, arrancando sua toalha e abocanhando seu pênis.
Sorri do pensamento maluco.
“Tudo, tô meio pensativo", confesso enchendo a caneca de café.
“Apaixonado, você quer dizer", Nelson reforça o nó na toalha que ameaça escapulir do quadril dele.
“Quem dera", eu me concentro no café, sem querer deixar nada escapar.
“Desse jeito vou acabar ficando com ciúme”, Nelson se aproxima e acaricia minha orelha.
E então eu percebo que ele se encontra bem na minha frente. Ele bloqueia a luz do sol que vem do basculante e as gotículas de água em sua pele fazem com que ele se assemelhe a um filtro de edição do instagram. Eu seguro a caneca e observo o peitoral peludo, seguido da barriga também peluda e aquele volume que eu conhecia muito bem logo abaixo.
E de repente eu me dei conta: Nelson estava me cantando.
E aquela investida me deixou confuso. Eu já não podia aceitar aquele convite sem pestanejar, sem que minha cabeça não se voltasse a Gilberto. Que por sua vez era amigo de Nelson. Eu sei que parecia exagerado e até patético (muitos no meu lugar aproveitariam o melhor dos dois mundos), mas aquilo era diferente. Eu realmente tinha sentimentos por Gilberto e eu não sabia se era de fato correspondido, mas minha paixão era alguém de poucas palavras, mas que me deixou repousar a cabeça em seu peito e não desaprovou o gesto. Eu sei que não significava uma transa, um beijo ou até mesmo a promessa de alguma coisa. Mas era alguma coisa e eu não conseguia ignorar isso.
“O que você tá fazendo?” eu repouso a caneca na mesa.
“O que você acha?”
Nelson desfaz o nó na toalha e ela cai no chão.
Esse gesto teatral me atinge de uma proporção que eu jamais pensei que podia atingir. Fico tonto e trêmulo e uma sensação já conhecida me invade por completo. Minha consciência esperneia e grita pra que eu não sucumba àquela ideia, mas um arrepio me atravessou a espinha. O suor brota da minha testa e meu coração palpita num ritmo que parece quase se fazer ouvido. E de repente toda aquela camaradagem e familiaridade que eu remetia a Nelson se dissipou e eu só conseguia enxergar na minha frente o roteiro do filme pornô mais excitante. E eu era o protagonista.
Ele pega minha mão a aproxima do pau dele.
Ficamos em silêncio e eu estou perplexo demais para contrariar. Sinto um fio de calor vir da região das minhas nádegas e de repente o animalesco toma conta das minhas ações.
Avanço sobre Nelson e abraço aquele corpo de macho, aquele corpo de músico de meia idade, progressista, nem hétero, nem gay. Nem uma coisa, nem outra. Ele é tudo. E eu mergulho nesse tudo. Ele retribui e me pega do mesmo jeito que ele tinha feito na nossa primeira transa, só que melhor, porque dessa vez ele está sóbrio. Eu sabia que eu era irresistível. Aquela era prova. Eu tinha cansado de ser inseguro, de não me achar atraente o suficiente, de não ser visto. Agora eu era o pedaço de carne mais apetitoso, a bunda mais deliciosa que Nelson tinha apalpado.
“Você é tão gostoso", eu deixo a boca escapar o que o tesão provoca.
“É?”, Nelson sorri em satisfação.
Eu beijo o pescoço dele, cheiro o peito, aquele peito peludo e viril. Eu sinto aquele pênis quente na minha barriga e logo eu também estou sem roupa. Nos esfregamos, nos cheiramos e eu ouço o barulho dos tapas que Nelson dá na minha bunda. São tapas fortes, sonoros, do tipo que se escuta a uma légua de distância. Mas eu não sinto dor, não há espaço no meu corpo pra dor, tudo o que o preenche é desejo. E tudo o que eu queria naquele momento era dar pra Nelson.
Não sei como chegamos ali, mas de repente estamos na posição 69.
Nelson invade sua língua no meu ânus de uma forma tão intensa que parece que a cabeça dele vai entrar em mim. Eu retribuo a carícia engolindo o pau dele com tudo. Engasgo e tusso algumas vezes, empolgado e investido que estou de tesão. Ofegante, me concentro nas bolas e logo eu sinto o cheiro da minha saliva que banha toda a extensão do sexo de Nelson. A língua dele me penetra tão profundamente que me pergunto se ele era muito talentoso com ela ou se tinha uma língua avantajada e quase gigantesca.
É uma sensação deliciosa. Principalmente porque sinto os pelos faciais dele pinicarem meu rabo lisinho. Ele cospe, lambe e cospe mais uma vez e parecemos estar numa competição pra quem lambuza mais o outro. Sexo é nojento e nada higiênico às vezes.
E Então Nelson me faz sentar na cama. Eu sento sobre os meus pés, como uma gueixa ou uma professora de yoga. E ele me abraça por trás e eu não sabia que essa posição podia doer tanto no começo. Então de fato, sobrava um espacinho pra dor naquele momento.
“Ah, caralho!”
A voz de Nelson ressoa pelo quarto e eu sinto que vou gozar se ele der mais um desses berros de macho dele.
E então o som das nossas peles batendo uma na outra.
Nelson se apoia nas mãos e se inclina pra trás, me penetrando com força. Eu tento me manter o mais empinado possível e na dança, vamos pouco a pouco nos afastando, feito uma gangorra. Nelson inclinado pra trás, mas com o quadril pra frente, me comendo. Eu me inclinando pra frente, mas forçando a lombar, empinando meu rabo o máximo que consigo.
Eu amava aquele clímax gostoso, aquele momento de prazer máximo, mesmo que eu não precisasse me tocar pra isso. Ou ejacular. Era um prazer sensorial indescritível, aquele homem nu a me penetrar com tanta força e rapidez.
Nelson então me abraça como eu faria com um motociclista e nós caímos no colchão dele. O pênis dele entra com tudo e se ali tivesse um espelho próximo, nos veria abraçados, extasiados de prazer.
Ele solta um grito gutural e goza.
Ele tira a camisinha e a joga no chão que cai, agora obsoleta.
Nelson parecia tão gostoso ali deitado, peludo com o pênis mole. Eu tinha uma queda por homens comuns, homens que não precisam ter um tórax definido ou entradas demarcadas na pélvis. Eu adorava como a barriga de Nelson estufava quando ele respirava e como os pelos da axila dele eram ligeiramente loiros. Eu queria que ele ainda estivesse duro pra que fizéssemos de novo, mas a julgar pelo estado ofegante e exausto dele, me contive e não insisti em reanimá-lo.
Eu passo a mão na barriga dele e sinto os pelos dele me fazerem cócegas quando meus dedos deslizam na pele dele. Adoro o cheiro dele também. Adoro o rosto dele avermelhado e suado de sexo. Adoro como ele não recua quando eu o abraço e quando eu beijo a bochecha dele (ainda não sentia vontade de beijá-lo na boca) e o quão íntimos parecemos.
E então uma imagem me vem à cabeça.
Gilberto.
Me preparo pra sair da cama, mas Nelson me segura com uma força abrupta.
Nem que quisesse eu conseguiria me livrar da força dele. A mão dele me dá um tapa na bunda e o dedo do meio dele invade meu ânus sem cerimônia.
“Aonde pensa que vai? Você é minha agora.”
E sem pensar duas vezes eu e Nelson nos beijamos.