Os olhares curiosos se voltaram para Murilo. O rapaz caminhou pela igreja de cabeça erguida expressando superioridade, mas por dentro o coração batia acelerado, devido a ansiedade e angústia em pisar naquele lugar e está perto daquelas pessoas.
Valdemar e Mara se espantaram ao ver o rapaz entrando. e Verônica sorria e acenou para que Murilo se sentasse perto dela.
_ Como ele tem coragem de entrar dentro da igreja, sendo o que é? Esse é um lugar de pessoas decentes. _ disse Mara sussurrando para Valdemar.
O prefeito o olhava furioso. Não conseguia se conformar que Murilo estava tendo um caso com outro homem. Sentia o seu sangue ferver só de imaginar um outro tocando naquele corpo que tanto desejava. O pior para ele era não saber quem era o seu rival.
Murilo deveria ser dele. Não conseguia aceitar que o rapaz não correspondesse aos seus sentimentos. Prometeu a si mesmo que se Murilo não fosse dele, não seria de mais ninguém.
Marcelo sorria com deboche olhando para Murilo. Levantou do seu banco para dar espaço para Murilo sentar ao lado de Verônica.
_ Você cresceu, hein mijão.
O ruivo sentiu um tremor percorrendo o seu corpo. Ainda era muito difícil encarar o passado, mas sorriu e piscou para Marcelo. O que fez Valdemar espumar de ódio, deduzindo que Marcelo fosse o amante secreto de Murilo.
Tavinho e os pais subiram ao pubito. O pastor Miranda estava de pé, e Tavinho e os outros membros da igreja se preparam para ocuparem os seus lugares nas cadeiras do altar.
_ Eu vou armar uma surpresa para o Tavinho._ surrou Verônica.
_ Que surpresa?_ perguntou Murilo, também sussurrando.
_ Aguarde. Depois do culto, alguns amigos irão lá para a casa. O Tavinho está achando que será só mais um almoço de família, mas não perde por esperar. Ai, estou tão empolgada.
_ Que Deus esteja conosco nessa manhã abençoada. Vamos levantar para ouvir a palavra introdutória. _ disse o pastor Miranda abrindo a bíblia.
Todos se levantaram conforme o pastor pediu.
Murilo não conseguia prestar atenção no versículo lido pelo pastor, ao pôr os seus olhos num homem careca, gordo vestindo um terno azul. O homem era o delegado Amâncio. Ele estava tão suado, que secava o suor com lenço.
Um golpe de medo tomou conta do seu coração. Murilo queria correr dali para chorar. Ver o delegado o remeteu no dia em que esteve na sua sala na delegacia.
Amâncio era mais magro e ainda tinha um pouco de cabelos.
Por muitas insistências de dona Guilhermina, Murilo foi procurar o delegado para relatar os abusos sofridos por Valdemar.
Enquanto revivia aqueles momentos pavorosos, o delegado Amâncio o encarava expressando seriedade, intimidando o menino.
_ Você pode provar tudo isso que está falando? Com vídeos ou testemunhas?
_ Não. O tio Valdemar não fazia na frente dos outros e eu não tenho câmera. E mesmo que eu tivesse ele não deixaria filmar.
_ Então, está me dizendo que não pode provar essa difamação caluniosa?
_ Não é difamação e…
_ Cala a boca, moleque! Você tem noção da quantidade de crianças que são realmente estupradas? E você fica inventando mentiras. Eu conheço o Valdemar há anos e sei que ele não é capaz de cometer uma monstruosidade dessas. Saiba que você está preso por calúnia e difamação.
Murilo ficou extremamente assustado. Tentou argumentar, mas o delegado o algemou e o menino começou a chorar. Apavorado de medo, acabou urinando nas calças, fato que o delegado contou ao seu filho Marcelo, que não perdeu a oportunidade de humilhar o ruivo na escola o apelidando de mijão.
_ Ora, veja. Como você é porco. Dessa vez eu vou deixar passar, mas da próxima vez que inventar mentiras sobre pessoas de bem, eu te tranco lá dentro e jogo as chaves fora. Você me entendeu?
Com os olhos cheios de lágrimas, Murilo fez um sinal positivo com a cabeça.
Na idade adulta, Murilo sente raiva pela sua ingenuidade dos tempos de criança. Lamenta-se de ter tido medo e não denunciado o delegado na época.
Amâncio poderia ter investigado e até prendido Valdemar, contudo desejou obter troca de favores, já que Valdemar era chefe da Câmara de vereadores da cidade, e com isso movia os pauzinhos para que as dívidas dos impostos dos terrenos do delegado fossem perdoadas.
Quando Murilo deu por si, percebeu que o pastor Miranda estava aproveitando o culto para fazer campanha para a futura eleição do seu filho.
_ O inimigo é ardiloso e usa homens e mulheres em Brasília para destruírem a família. Logo a família que é o bem mais precioso que Deus nos deu.
'Vejam que chegaram ao ponto de quererem aprovar o casamento entre homens! Olhem o absurdo, homem se casando com outro homem e mulher se casando com outra mulher! Sodoma e Gomorra bem diante dos nossos olhos. Mas temos que levantar homens de Deus para estarem lá lutando pela defesa da família, da moral e dos bons costumes.
Certa noite, lá estava eu falando com Deus pela madrugada. Eis que o senhor me disse: "Varão, querem contaminar o Brasil com o vírus do pecado. E eu quero que você mande o seu filho para estar entre os poderosos e lutar a meu favor. Ele é um escolhido por mim e fará grandes feitos em meu nome.' _ O pastor dizia alterando a voz e toda a igreja gritava: "Glória Deus!" "Aleluia! "
Os gritos ecoavam pelo templo de forma perturbadora.
Jorginho tapava os ouvidos, mas levou um beslicão da mãe.
Tavinho sentiu o celular vibrar, e disfarçando olhou. Viu que era mensagem de Murilo. Ficou tenso ao ver que era uma foto do ruivo de quatro.
Tavinho sentiu-se mal ao ver aquela imagem estando dentro da igreja. Olhou para Murilo que sorria para o rapaz.
O pastor Miranda passou a maior parte do culto tentando convencer as pessoas a votarem em Tavinho.
_ Pelo visto há um visitante entre nós.
Todos olharam para Murilo.
_ Seja bem- vindo à casa do senhor, meu filho.
Murilo apenas sorria.
_ Como que se diz, irmãos.
Todos começaram a bater palmas e cantar:
"Visitante seja bem-vindo
A sua presença é um prazer
Visitante seja bem-vindo
A igreja ama você '
O fim do culto foi um alívio para Tavinho, pois estava louco para falar com Murilo. Mas ficou apreensivo ao ver que o seu pai se aproximou do rapaz.
_ Que bom te ter de volta na cidade e melhor ainda aqui na casa do senhor.
_ Obrigado, pastor. Eu não queria vir, mas a Verônica não me deixaria em paz se eu recusasse.
_ Mas foi bom você vir, Mirinho. Tenho certeza que Jesus tocou no seu coração hoje._ disse Verônica abraçando o primo.
_ Aqui na casa do senhor é um hospital, onde você pode ser curado das suas doenças espirituais.
_ É mesmo, pastor? Então, terei de reclamar no PROCON, porque esse serviço de cura está ineficaz. O que estou vendo de pecadores aqui dentro. E olha que de pecado eu entendo. Tenho um pecadar. Sinto cheiro dos meus iguais de longe. _ disse olhando para Tavinho, que abaixou o olhar para o chão.
_ Seu coração ainda está muito duro, mas Deus ainda há de aquebrantar. As portas da casa do senhor estarão sempre abertas para você. Quando o pecado pesar nas suas costas, estaremos aqui para te ajudar.
_ É mesmo? Quanta gentileza!
_ Fique à vontade, que eu preciso atender as minhas ovelhas.
_ Vai na paz pastor, que Deus te elimine...ops! ilumine.
_ Mirinho!_ Exclamou Verônica.
_ Murilo, eu preciso falar com você.
_ É mesmo? O que você quer com ele? _ perguntou Verônica curiosa.
"Não é da sua conta!" Essa fora a resposta que Tavinho quis dar a noiva, mas optou por ser mais educado.
_ Deus me pediu para fazer uma oração para ele. Na minha sala privada.
_ Tudo bem, pastorzinho. _ disse Murilo sorrindo.
Tavinho levou Murilo até o gabinete particular do seu pai e trancou a porta.
Murilo o olhou de um jeito malicioso, mordendo o lábio inferior.
_ Quer me exorcizar, pastorzinho? Vem tirar esse demônio que está possuindo o meu corpinho._ Murilo disse, massageando o pau de Tavinho. O louro de um passo para trás.
_ Está louco de fazer isso aqui? E se alguém chegar?
_ Vai dizer que você não me comer bem aqui? Meu cuzinho tá pegando fogo.
Murilo beijou Tavinho, retornando a acariciar o seu pau. Tavinho segurou a mão do ruivo.
_ Eu não te chamei aqui para isso.
_ Eu quero mamar gostoso.
_ Chega, Murilo! Dar para você me ouvir?
_ O que foi, caralho?
_ Para de xingar na igreja!
_ Fala logo o que você quer.
_ Eu vou terminar com a Verônica hoje mesmo.
_ O quê?!
_ Eu vou acabar com essa porcaria de noivado. Não posso mais manter esse relacionamento estando apaixonado por você. Depois das eleições, eu vou sair da cidade para morar em Brasília e você vai vim comigo. Vamos viver juntos.
Murilo começou a gargalhar e Tavinho ficou furioso com a atitude do rapaz.
_ Tá rindo de quê? Eu virei algum palhaço?
_ Você tá pensando que eu sou idiota como a Verônica? Benzinho, eu não sou essas menininhas ingênuas que você deflora. Não precisa mentir para mim. Eu gosto de te pegar assim, no sigilo. Só quero sentar nesse pau gostoso.
_ É isso que eu sou pra você? Um pau? Francamente, Murilo como pode ser tão babaca?
'Eu estou aqui abrindo o meu coração para você, disposto a abrir mão de tudo para viver ao seu lado e é isso que tu me fala?'
_ Você está falando sério?
_ Claro que eu estou. Eu te amo. Quando eu consegui ser um deputado, vou ser independente financeiramente do meu pai e poderemos viver juntos, com todo o conforto que merecemos.
Murilo se sentiu perturbado. Não esperava que Tavinho estivesse disposto a abrir mão de tudo para viver ao seu lado. Planejou por anos fazer com que Tavinho perdesse tudo e ficasse arrasado.
O Tavinho que ele conhecera nos tempos da escola, era um homem egoísta, mimado e capaz de tudo para manter as aparências, sempre se importando em passar a imagem de superior para as pessoas e ostentando o dinheiro e a reputação da família.
Murilo não tinha se planejado para lidar com esse Tavinho. Ele não tinha armas para lutar contra esse homem que ele desconhecia.
Tavinho se aproximou de Murilo e segurou o seu rosto.
_ Você é meu bebezinho. E merece ser muito feliz. Eu me sinto um lixo de ter te feito sofrer. Você não merecia nada daquilo.
Tavinho beijou Murilo, deixando o rapaz vulnerável e sem nenhuma reação.
Verônica novamente havia caprichado no almoço. Dessa vez serviu churrasco na piscina.
Os convidados não trajavam roupas de banho e sim shorts e camisetas. Como bons evangélicos, não queriam exibir os corpos.
Tavinho aguardaria todos irem embora para terminar o noivado. Sabia que teria que lidar com o choro de Verônica, mas decorou as palavras de consolo que a daria.
Marcelo novamente se aproximou de Murilo sorrindo. O que não agradou Valdemar.
_ Mamãe, cadê o meu tablet? _ perguntou Jorginho.
_ Está no escritório do seu pai. Deixei lá porque você fica muito tempo mexendo naquele troço.
Jorginho correu para o escritório.
Murilo foi ao banheiro e foi seguido por Valdemar, que o pegou pelo braço e o arrastou até o seu escritório, fechando a porta.
_ Que porra é essa de você ficar de risinhos com esse moleque do Marcelo? É ele que é o seu macho?
_ Você é doente, Valdemar. Para de fazer gracinhas e me deixe em paz.
_ Como se atreve a dar o rabo para aquele moleque que te humilhou? Você não tem amor próprio?
Murilo estava muito exausto de discutir com Valdemar e também sentia raiva do prefeito. Por isso, resolveu provocá-lo.
_ Ao contrário de você, o Marcelo é um homem viril. Tem um pau grande e grosso e não essa micharia murcha que você tem entre as pernas.
_ Então é mesmo ele o seu macho? A sorte sua é que eu te amo, e por isso, vou te prezervar, mas aquele nojento há de pagar muito caro por tocar no que é meu.
_ Louco! Você é louco!
Murilo saiu do escritório, deixando Valdemar furioso. O prefeito despejou toda a sua raiva num vaso de flores que arremessou na parede.
Pegou o celular no bolso e fez uma ligação.
_ Alô, Chicão. Vou precisar que faça um serviçinho para mim.
Do lado de fora, Verônica pediu para que o Dj abaixasse o som, que tocava um hino e piscou para o sogro.
_ Gente, por favor. Eu tenho algo importante para dizer a todos vocês e principalmente para o meu amor.
Tavinho ficou surpreso. Não esperava essa reação da moça.
_ Eu e o Tavinho vamos nos casar no próximo mês. Eu já marquei a data do casamento tanto o civil quanto o religioso.
Todos aplaudiram, exceto Tavinho.
_ A gente ainda não havia escolhido a data.
_ Meu amor, eu sei que você é muito ocupado, por isso eu e o seu pai cuidamos disso.
Verônica disse abraçando o noivo, que a empurrou.
_ Você não tinha esse direito! Você não pode decidir a minha vida assim.
Verônica o olhou assustada. Não esperava que o namorado fosse agir daquela forma.
A mãe de Tavinho conhecia o temperamento do filho quando ficava nervoso e resolveu intervir para evitar o pior.
_ Bom, vamos aproveitar esse dia de sol maravilhoso e esse churrasquinho com a paz do nosso senhor Jesus Cristo.
Todos estavam assustados com a reação de Tavinho, que estava vermelho e expressando raiva.
Valdemar chegou na hora.
_ Eu não aceito essa palhaçada, Verônica! Eu não sou o seu marionete. Você deveria ter falado comigo e não feito essa prezepada.
_ Iiiiih, ferrou, hein Veve. _ disse Marcelo sorrindo.
Tavinho estava cheio de ódio pela atitude de Verônica. E resolveu aproveitar a situação para dar um fim no relacionamento.
_ Calma, meu filho. _ disse o pastor Miranda.
_ Calma é uma ova. Eu não vou ficar aqui fazendo papel de palhaço. Verônica foi muito irresponsável fazendo isso. Pra mim já deu. Se noiva está mandona assim, imagina depois de casada. Eu não nasci para ser capacho de mulher.
_ Mas, meu amor, essa não era a minha intenção. Eu só queria te agradar e…_ Verônica disse com o voz chorosa, o que causou pena em Murilo.
_ Não vai ter casamento nenhum.
_ Tavinho não faz isso comigo. Vamos conversar.
Verônica foi abraçar Tavinho, mas ele desviou e foi embora. Deixando os pais envergonhados .
Murilo correu para abraçar a prima e Valdemar foi atrás de Tavinho.
O prefeito alcançou o louro na garagem. Tavinho estava abrindo a porta do carro quando Valdemar chegou.
_ Que porra é essa de você falar assim com a minha filha, seu moleque?
Tavinho sentiu muito ódio de Valdemar. Lembrou -se do dia em que o prefeito esteve na casa de Murilo. Imaginar Valdemar com as mãos em Murilo o causava uma das maiores fúrias que teve na vida.
Esticou o peito e encarou o prefeito.
_ Não me chame de moleque, que não te dou essas intimidades.
_ É o que você é. Como se atreve a falar assim com a minha filha?!
_ Eu não vou ficar aqui discutindo com você.
Tavinho voltou a pôr a chave no carro e Valdemar segurou no seu ombro.
_ Volta lá agora e peça desculpas para a minha filha.
Tavinho olhou de canto para a mão de Valdemar no seu ombro. Imaginou aquela mão tocando em Murilo. Tomando por golpe de ódio despejou um soco no prefeito. O impacto foi tão forte que levou Valdemar ao chão.