_Você enlouqueceu, seu filho da puta?
Valdemar se levanta e parte para cima de Tavinho devolvendo o soco. O louro cai em cima do capô do carro e retorna, socando as costelas do prefeito, esse reaje dando um chute nos testículos de Tavinho.
Aproveitando que Tavinho se agachou devido a dor, Valdemar chuta o seu rosto, atingindo o nariz do louro, o fazendo sangrar.
Rapidamente, Tavinho se levanta e atinge Valdemar com um soco no olho, o fazendo cair no chão.
Tavinho inicia uma sessão de chutes em cima do prefeito.
À medida que recorda das maldades que Valdemar fez a Murilo, o louro aumenta o número e a intensidade dos chutes. Deseja matá-lo.
Algumas pessoas chegam ao local e seguram Tavinho.
Verônica e Mara tentam levantar Valdemar do chão.
_ O que você está fazendo com o meu marido?
_ Enlouqueceu, Otávio?_ perguntou o pastor Miranda.
Tavinho secou o sangue do nariz e olhou para Murilo.
_O que deu em você, Tavinho? Primeiro me destrata e agora agride o meu pai?
_ Fora da minha casa, seu desgraçado!_ gritava Valdemar. _ Nunca mais eu quero te ver aqui!
_ Vai se foder, seu merda!
_ Tavinho! Aí que vergonha! Paula estava muito envergonhada com a atitude do filho. Era a primeira vez que Tavinho xingava em público.
Tavinho entrou no carro e saiu disparado.
Sentia uma raiva perturbadora. Sentia raiva de Valdemar, do seu pai que defendeu o prefeito na época, convencendo a cidade inteira de que Murilo havia mentido.
Contudo, a maior vítima da sua raiva era ele mesmo. Odiava-se por não ter se aceitado na época. Por negar a si mesmo os sentimentos que tinha por Murilo. Sentia-se um monstro por ter machucado ainda mais o ruivo.
Tavinho estava cansado daquela cidade, da sua vida de aparência, da sua falta de liberdade de não poder ser o que é. Está no armário o doía e o irritava. Estava cansado do controle do seu pai, da igreja e de Verônica.
Só queria ir embora dali. Ir para muito longe, onde pudesse viver sem medo de se esconder, onde pudesse amar Murilo sem medo de represálias, onde pudesse proteger o amado das garras de Valdemar.
Envergonhados, o casal Miranda pediam mil desculpas a Valdemar e a sua família, mas o prefeito não estava com paciência nenhuma para lamentações. E por isso, pediu que todos fossem embora. Era muitas coisas estavam acontecendo num só dia. A briga com Tavinho, as lamentações de Verônica, mas o pior de tudo
era o caso que ele acreditava existir entre Murilo e Marcelo, isso o conrruia por dentro.
Miranda temia que essa briga prejudicasse a carreira política de Tavinho, já que contava com o apoio de Valdemar para conseguir votos. O pastor estava irado com o filho.
Marcelo estava contente com a situação, pois adorava presenciar um barraco, não só ele como toda a cidade. Barracos eram eventos mais celebrados do que o aniversário da cidade, o casamento ou a morte de alguém.
Ciranda era uma pequena e pacata cidade do interior, onde quase nada acontecia. Quando um barraco rolava, era um prato cheio para os entediados habitantes, que tinham assunto para o ano inteiro e poderiam expressar suas criatividades com as teorias da conspiração.
O boato se espalhou rapidamente. Uns diziam que Verônica estava grávida e que Valdemar brigou com Tavinho, porque o louro queria fugir da responsabilidade. Outros diziam que Tavinho tinha uma amante.
Num bar, Marcelo narrava a luta com fatos inventados, porque não tinha presenciado.
Do outro lado da rua, dois homens o observavam dentro de um carro prata de vidro fumê.
O jovem narrava a briga sorrindo e gesticulando imitando os supostos gestos dos lutadores, provocando gargalhadas em todos que estavam no ambiente.
Tavinho não queria ir para a casa. Estava nervoso demais para encarar o pai.
Dirigiu sem rumo pela cidade.
Quando anoiteceu, bateu na porta de Murilo, que o atendeu expressando seriedade.
Tavinho entrou e segurou o queixo de Murilo com a intenção de beijá-lo, mas o garoto desviou o rosto.
Tavinho ficou irritado com a atitude de Murilo. Ele não suportava ser contrariado. Segurou o rosto de Murilo com força e o beijou. Murilo o empurrou.
_ Como você pode ser tão cruel, Otávio ?_ Murilo perguntou encarando os olhos de Tavinho.
_ Não me venha defender o merda do Valdemar.
_ Que mané Valdemar?! Eu quero mais é que ele se foda! Estou falando da minha prima. Como você teve coragem de humilhá-la na frente de todo mundo?
_ Eu fiquei nervoso e perdi o controle. Também o que você queria que eu fizesse? Porra, a mina me deixou na maior saia justa na frente de todos. Eu odeio ser coagido.
_ Isso não te dar o direito de tratar as pessoas como se elas fossem lixos. Você deve desculpas a Verônica.
Tavinho gargalhou. Pedir desculpas era algo que não foi acostumado a fazer. Para Tavinho, pedir desculpas era um ato de humilhação.
_ Do que você está rindo? Eu virei palhaço?
_ Meu amor, eu não tô bem. Tive um dia difícil. Vamos ter essa conversa amanhã. Hoje eu só quero descansar com você.
Murilo sentiu raiva da arrogância de Tavinho. Sentiu vontade de descarregar as balas do revólver em cima do louro.
Tavinho era o mesmo moleque arrogante e presunçoso de outrora.
_ Você é muito arrogante e cheio de si. Se acha superior a todos. Mas, não passa de um saco de merda!
Tavinho olhou espantado para Murilo. Nunca fora tratado dessa forma por ninguém. Isso o deixou muito irritado.
Ergueu a cabeça e segurou forte no braço de Murilo, o olhando com raiva. Sentiu vontade de bater no ruivo.
Murilo sentiu pavor naquele momento. Temia ser agredido pelo rapaz. Contudo, não queria fraquejar. Suportou o ódio e o medo por Tavinho durante anos. Estava cansado de temer Tavinho.
_ Por que você está fazendo isso comigo, hein? Tudo o que eu fiz foi por você. Eu terminei o meu noivado por você, soquei os cornos daquele desgraçado e vou ter encarar o meu pai e é assim que você me trata?
Murilo engoliu o medo e manteve o olhar fixo em Tavinho. Queria chorar, mas lutou para conter as lágrimas.
_ Você não fez por mim. Fez por você mesmo. Você não se importa com ninguém. Usa as pessoas a seu favor e depois as descartam como se fossem sacos de lixo.
'Você se diverte humilhando as pessoas. Garanto que está feliz por ter humilhado a Verônica.'
_ Agora está preocupado com a Verônica? Está pagando de moralista, me esculachando, mas se deita comigo que era o noivo da sua prima. Então, você não tem moral nenhuma. '
_Isso é diferente. Você foi cruel com ela. Eu exijo que peça desculpas a Verônica.
_ Eu não fazer isso. Esquece essa história.
Murilo puxa o braço se libertando de Tavinho.
Mesmo temendo sofrer algum tipo de violência, resolveu manter-se firme nas suas palavras.
_ Ou você pede desculpas a Verônica ou nunca mais vai me ver. Eu vou embora desta bosta de cidade.
_ Você não teria coragem. Está blefando. Você mal chegou.
_ Assim como cheguei, posso ir embora. Eu joguei tudo para o alto no Rio de Janeiro para vir para cá. Posso fazer o mesmo novamente. Não tenho nada a perder.
_ Eu não vou pedir desculpas a ninguém.
Murilo foi até a porta e abriu.
_ Pode ir embora.
_ Deixe de besteiras, Murilo! Vamos dormir, amanhã conversamos sobre isso. Estamos exaustos e…
_ Não tem conversa, Otávio. Ou você se desculpa com a Verônica ou vai embora.
_ Você quer que eu volte para ela?
_ Não. Ela não merece estar com alguém como você. Mas está triste e ela merece uma retratação.
Tavinho sentia-se profundamente irritado. Odiava ser contrariado e que alguém lhe dissesse o que fazer.
Sentiu vontade de agredir Murilo para que parasse de o atormentar com essa história de Verônica.
Mas, brigar com Murilo só pioraria as coisas.
_ Eu não quero brigar com você. Eu te amo.
Murilo gagarlhou debochado.
_ Ama uma ova. Você não tem capacidade para amar ninguém. Você não consegue sentir empatia pelas pessoas. Não tem alma. Tu não passa de corpo morto, uma carcaça que anda por aí com a intenção de machucar as pessoas.
_ Vai tomar no seu cu! Vai se foder, Murilo._ gritou Tavinho antes de sair da casa.
Murilo tirou a máscara de desafiador e expressou medo do seu rosto.
Segurou o peito devido ao coração que batia acelerado.
Sentia muito assustado, mas ficou feliz em ter dominado o medo. E conseguido libertar algumas palavras que sempre quis dizer a Tavinho.
Marcelo já estava na terceira caixa de cerveja quando o dono do bar o pediu que fosse embora, porque queria fechar o estabelecimento.
Contrariado, partiu bêbado, xingando o dona do bar.
Entrou no carro e partiu.
A estrada estava escura e deserta. Marcelo dirigia ouvindo Jeremy, de Pearl Jam em volume elevado.
Um carro prata, o bateu lado.
_ Seu filho da puta! _ Xingou mostrando o dedo do meio.
O carro voltou a bater.
Irritado, Marcelo dar uma volta, fechando o caminho do carro prata.
Desce do carro furioso, xingando o motorista.
Os dois homens saem do carro e partem para cima de Marcelo, cada um segurando um porrete.
Marcelo tenta correr para voltar para o carro. Mas, os homens são mais ágeis e o detém.
Eles o jogam no chão e começam a bater com força. Atingindo as pernas, braços, costelas e espinha dorsal.
Marcelo grita agonizando de dor, por ter os ossos fraturados.
Depois de fazerem um estrago em Marcelo, os homens vão embora o deixando ensanguetado no asfalto.
Dentro do carro, eles sorriem do feito.
_ Luís, tu viu como o play boy ficou todo fodido? _ disse rindo.
_ Ele mereceu. Cara folgado. Você viu? Ele desceu do carro cheio de marra!
_ E a grana? A gente vai receber mesmo, Luís?
_ Relaxa, cara. Esse negócio é feito com gente de confiança.
Luís pega o celular e manda a seguinte mensagem.
"O serviço já está feito, doutor"
Do outro lado da tela, deitado em sua cama ao lado de Mara adormecida, Valdemar sorri ao ler a mensagem.