Uma chamada perdida

Um conto erótico de Edverdade
Categoria: Homossexual
Contém 1517 palavras
Data: 09/06/2020 23:23:15

Era a terceira vez seguida que o celular tocava. Claro que eu não ia atender. Ele devia estar bêbado. Não cederia dessa vez. Chega. Não podia mais permitir que ele mexesse com a minha cabeça dessa forma. Desliguei o celular. Eram 4 da manhã. Ainda conseguiria dormir mais duas horas antes do horário de levantar. Isso se eu conseguisse voltar a dormir.

Não demorou muito. Fui sentindo aos poucos a escuridão me envolver. O sono foi vindo sem eu perceber, e eu só notei que estava cochilando de novo quando a voz dele me trouxe de volta, quase como se eu estivesse submergindo.

Abre aqui? -

Não era possível. Na última briga eu tinha pedido que ele me esquecesse. Que nunca mais voltasse. Ele não pode estar na minha janela.

Eu zei que você tácordado. - Eu tinha que atender. Meus pais tinham sono leve. Eu não poderia permitir que eles acordassem e vissem aquela cena.

Abri a janela, e ele estava ali, precariamente encostado na minha parede. Seus olhos pareciam sem foco. Sua boca mais vermelha que nunca. O cabelo preto desgrenhado, e a camiseta branca manchada em alguns pontos de bebida respingada. Pude identificar dois ou três sabores de Askov. Ou teria sido Corote dessa vez?

Ele segurou minha mão, como que me cumprimentando. Puxou minha mão pra eu me aproximar dele. A outra mão ele colocou na minha nuca, e pressionou na direção dele, pra que meu rosto se aproximasse do dele. Seus olhos fitavam a minha boca.

Obrrigadu. Euzabia que po djia contar com você. Porrrque você é meumelhor amigo. Zempre foi. E eu sei que zempre vou poder contarrr com você. - ao terminar a frase, pousou o dedo fedido de cigarro nos meus lábios.

Senti o cheiro putredo de álcool. Tive que me afastar pra não vomitar.

Ja faz anos que isso não é mais verdade. - respondi - Eu tenho uma prova importante amanhã. Era pra eu estar dormindo.

Você não pode falarassim. Não pode dishconsiderar tudo o que acontezeu.

Eu não desconsidero. Foi você quem desconsiderou. Eu só tive que lidar com tudo sem você.

Você é mais forte que eu. Sempre foi.

Ele tinha razão. Ele era o atleta. Bom em todos os esportes. Que nunca perdia uma briga. Tinha uma postura nata de liderança e ninguém questionava isso. Não porque ele impunha medo nas pessoas, mas porque todos naturalmente o seguiam. Quando ele falava, as pessoas naturalmente faziam silêncio pra escutar. No entanto esse era o Julho que as pessoas viam no dia-a-dia. Só eu sabia que esse Julho na verdade era uma armadura. O verdadeiro Julho era muito frágil.

-Entra logo antes que meus pais acordem.

Segurei firme sua mão direita, e puxei, lhe dando apoio pra subir na janela. Ele subiu, mas na hora de passar pra dentro se desequilibrou, e caiu por cima de mim. Dor. Barulho.

A janela dos meus pais se abriu.

Cristian? - minha mãe perguntou, sonolenta, da janela dela. De onde ela estava só dava pra ver a janela aberta, mas não o chão, onde Julho estava desmaiado por cima de mim.

Oi mãe. Eu to bem. Tropecei aqui no escuro. O carpete que você colocou me salvou.

E você reclamando dele. Fecha essa janela. - ouvi ela murmurar algo pro meu pai, e fechar a janela do quarto dela.

Fiquei ali no chão, processando por um segundo o que fazer. A dor e o choque da queda passaram, e agora eu havia notado a respiração mal cheirosa e quente do Julho no meu pescoço. Seu corpo era pesado e rígido. Pra um cara de 18 anos, ele tinha mais músculos que a maioria. Tirei ele de cima de mim. Ele continuou desmaiado.

Anda, você precisa de um banho. Esse carpete é novo. Não posso deixar você estragar ele.

Ele não se mexeu. Cutuquei ele de novo. Bati. Empurrei. Deu trabalho, mas consegui levá-lo pro banheiro. Consegui reformar meu quarto depois de começar a trabalhar, e agora eu tinha meu próprio banheiro pra não precisar competir com meus pais.

Ele tirou a camiseta, se contorcendo, sem controle dos próprios braços. Com os pés ele tirou os tênis, e quase caiu de novo, mas eu o segurei. Ele se colocou de pé e se afastou. Virou-se pra mim, sério, e me olhou nos olhos. Eu o encarei, sem saber o que esperar. Morrendo de medo dele cair de novo no meu banheiro. Ele levou a mão até o botão da calça, e o abriu, olhando fixamente pra mim. Eu comecei a ficar tenso. Não queria que aquilo acontecesse de novo. Ou queria?

Ele desceu o zíper, lentamente. Abaixou as calças. Tentou se desvencilhar delas, mas perdeu o equilibrou novamente e se apoiou na parede. Ficou ali parado.

Não vai me ajudar? - ele disse, com os olhos fechados, sem desencostar da parede. Me aproximei. Me abaixei em frente a ele, o ajudei a tirar as calças, e notei um grande volume na boxer preta dele.

Talvez ela esperasse que eu pegasse no pênis dele. Que aproveitasse que estava de joelhos, e fizesse um oral nele. Mas eu já estava cansado desse jogo. Me levantei, e o direcionei para o chuveiro. Liguei o chuveiro, coloquei ele lá dentro, e já ia saindo, quando ele segurou o meu braço.

Tá tudo girando. Eu vou precisar da sua ajuda. - eu o fitei, impaciente. Ele não soltou meu braço. A água escorria pelo corpo dele, e molhava sua cueca. Havia resto de vômito nele, e só agora eu havia notado. Seu dedo começou a acariciar a minha pele. - por favor?

Acabei cedendo. Tirei a camisa, e notei ele olhar de canto pro meu corpo. Eu não era musculoso como ele. Era magro. Nunca tinha praticado esportes, a não ser andar de bike, que era meu meio de transporte. Peguei o shampoo e lavei o cabelo dele. Ele apenas ficou encostado na parede, sem se mover, de cabeça baixa. Parecia triste. Seu cabelo era liso e sedoso. Eu outrora amava o cheiro daquele cabelo. Outrora?

Peguei o sabonete e comecei a passar no peito dele. Subi pro pescoço. Desci de volta pro peito. Lavei as axilas dele. E o abdômen definido dele atraía minhas mãos. Não resisti. Comecei a passar o sabonete na sua barriga. Seu volume em momento algum diminuiu. E agora parecia ainda mais aparente, na cueca molhada.

Ele tentou sufocar um gemido enquanto minha mão percorria sua barriga. Sua mão pousou de leve no meu braço. Arrepio. O coração já estava acelerado, e a sensação de borboletas no estômago voltou a me assolar. A mão dele deslizou pelo meu braço até minha mão, e ele conduziu minha mão para o seu volume, rígido. Eu queria aquilo. Eu queria ele. Por mais difícil que fosse de admitir, eu ainda sonhava com aquilo e acordava molhado. A boca dele se aproximou da minha. Pressionei seu membro, arrancando dele outro gemido. Nossos lábios se encontraram. O gosto de álcool e cigarros me enojou. Mas o nojo durou apenas um segundo. Porque permeado a esses sabores desagradáveis, havia o gosto característico dele. Era como se ele tivesse o mesmo gosto do cheiro dele. Fazia anos que tinha sentido aquele gosto pela primeira vez. E mesmo assim ele ainda mexia comigo da mesma forma.

Ele tentou puxar meu corpo de encontro ao dele, mas me desvencilhei.

Você está bêbado. Não faremos isso.

Isso não te impediu antes.

Ele estava nitidamente melhor. Pode ter sido a água fria. Pode ter sido a adrenalina. Pode ter sido os dois. Mas não importava. Eu não me prestaria aquele papel novamente. Desliguei o chuveiro. Peguei a toalha. Entreguei a ele.

Vou arrumar o colchão pra você dormir.

Ele ainda tentou segurar meu braço, mas em vão.

A cabeça estava a mil. É claro que eu estava excitado também. Mas não poderia fazer nada com ele daquela forma. Ele novamente colocaria a culpa no álcool. Ajeitei um colchão pra ele, e deitei na minha cama. Ele saiu do banheiro de toalha enrolada na cintura, e parou na porta, com um olhar divertido. Olhei pra ele em resposta.

Minha cueca molhou… - disse ele mostrando uma cueca ensopada pendurada no dedo, quase pingando, e com um sorriso no rosto como se fosse a piada mais engraçada do mundo.

Por favor, não molha o carpete. - levantei, separei um pijama pra ele, e ele vestiu alí mesmo, sem vergonha de mostrar o corpo. Depois deitou no colchão dele. Não demorou até ele começar a roncar. Literalmente.

Admirei aquela cena por alguns segundos. Ele deitado de barriga pra cima, com um braço cobrindo o rosto, todo esparramado, com shorts de pijama e sem camisa, exibindo um corpo de dar inveja. O volume ainda estava ali, agora sob o tecido fino do meu pijama...

A minha vontade era de deitar ali, e me aninhar no peito dele, como nos velhos tempos. Mas isso não seria mais possível. Afinal eu era gay, e havia confundido as coisas. Nunca tivemos nada. Éramos melhores amigos, e eu desenvolvi sentimentos errados. Ele era hétero, gostava de mulheres.

E ainda assim…

Quando bêbado e vulnerável…

Era a mim que ele procurava.

Continua

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Comentários

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Foda essa situação... já passei por isso até ano passado. ... ainda bem que mudei de cidade kkkk

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SE O CARA JÁ TEM HISTÓRICO DE BEBEDEIRA E DE APRONTAR VC ACEITA PORQUE GOSTA DISSO. AFINAL AMOR DE PICA FICA. O CARA SÓ TEM TAMANHO E É SEM CÉREBRO. V GOSTA MESMO DE SOFRER, MAS DEVE GOSTAR DE OUTRA COISA TB. DECIDA-SE CRISTIAN.

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Sim, conheço uma história parecida, só que o cara "hétero" se casou e hoje é alcoólatra, o outro é meu amigo, muito bem resolvido. Aguardando a continuação.

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