Regina estava no Salão Espelhado, nua, sendo preparada para outra sessão no “Salão da Tecnomagia Sexual”.
Corri até a entrada do Laboratório. Parecia que o Dr. Eldon já sabia que eu iria lá, pois estava do lado de fora.
“- Dr. Eldon, eu pressinto que o Sr. não me contou tudo o que aconteceu ontem.”
“- Vamos a um lugar onde possamos conversar em privado” E me levou a um depósito no corredor do laboratório. “- Mas temos que ser breves”
“- E então, Doutor?”
“- O que fiz ontem foi por pena de vocês.”
“- Como assim?”
“- Sua esposa ficava o tempo todo perguntando por você, dizia o quanto o amava, que sentia que algo ruim ia acontecer enquanto a máquina ia trabalhando...então, retirei o dispositivo dos órgãos sexuais dela, e a energia que extravasou provocou o buraco negro.”
“- E por que o Sr. disse ‘pena’?”
“- Porque a máquina extrai os sentimentos de amor, paixão, afeto real da pessoa. Pode resumir para ‘Ágape’. Não é o sentido geralmente dado a essa palavra, mas é para diferenciar do afeto entre amigos, por exemplo. Waite crê, assim como vários membros da Agência, que para um Agente atinja o seu potencial máximo, não pode se apegar profundamente a ninguém.”
“- E como a máquina faz isso?”
“- Eu soube do seu caso com o vibrião astral. Mais ou menos como aquilo, e como foi feito com parte da névoa rosada, assim que chegaram aqui...só que feito eletromagneticamente, em nível psíquico e astral .”
“- E fizeram isso com Diana, para que não se apegasse a Drake.”
“- Como descobriu?”
“- Diana disse que a amizade dela com Drake ‘não deu liga’ , mas ambos trepavam com outros sem problema. E as câmeras ocultas eram para ver se os efeitos da máquina seriam duradouros.”
“- Impressionante!”
“- Deduzo também que esse “Ágape” é guardado em esferas, como aquela neblina...e sob um sigilo. O que acontece se o frasco for rompido?”
“- Ainda não vi acontecer, as esferas são muito bem guardadas. Mas deduzo que, se o frasco romper, a energia volta à pessoa. Talvez, se estiver perto, seja melhor. Venha. Mas não podemos perder tempo, logo devem chegar.”
O Dr. Eldon me mostrou um cofre, onde havia várias esferas, todas com um sigilo...o mesmo desenho, que procurei memorizar. As esferas eram do tamanho aproximado de uma bola de tênis, mas espelhadas, talvez para evitar a saída de luz ou algo assim.
“- Doutor Eldon, muito obrigado. O Sr. ajudou muito.”
“- Mas Regina...ela ainda irá lembrar de você, de toda sua vida juntos, mas não sentirá nada de mais profundo. Por ninguém. Será a “espiã perfeita” de Waite. Seguindo as regras das Irmandades, fazendo sexo, mas sem nada além de uma amizade superficial . Isto é terrível para um casal apaixonado como vocês dois”
“- Doutor Eldon, o Sr. certamente tem um frasco vazio desses...”
“- AHHHH...Estou percebendo que você tem um plano. Já li nos relatórios que sua capacidade analítica é acima da média.”
“- Vamos dizer que eu prefiro minha esposa viva, mesmo que distante, a ela perdida em um buraco negro com o Terror do Abismo...então, vamos deixar Waite usar a máquina e sossegar, depois eu faço minha parte. Apenas cuide para que ela não se machuque em nenhum momento.”
“- Obrigado digo eu, novamente , Número Um. Vocês são pessoas boas.”
De novo aquela frase “Vocês são pessoas boas”. Havia alguma coisa mais além do que eu percebia. Mas a realidade é sempre mais do que o que percebemos com nossos sentidos limitados. Deixei o Dr. Eldon continuar os eu trabalho.
Fui ao Salão Espelhado novamente. Minha esposa estava deslumbrante. Sempre era, mas quando se arrumava, impressionava mais ainda. Nua, então, era algo de sobrenatural.
“- Querida, você está lindíssima!!”
“- É sempre bom ouvir isso, amor... mas você me parece triste. O que é isso? Uma lágrima?”
Não consegui esconder. O que iria passar nos próximos dias talvez fosse demais para mim.
Mas ela não poderia saber, ou tentaria explodir a máquina, isso poderia ter consequências terríveis. Eu teria que fazer funcionar o meu plano. E isto iria envolver, um pouco mais tarde, Diana e Drake, e enfrentar pessoalmente Waite e, talvez, Nguvu.
“- Querida , eu quero que saiba que, aconteça o que acontecer, vou sempre amar você”
“- Credo amor, parece uma despedida...você é o amor da minha vida, o que está acontecendo?”
“- Não posso dizer agora, ou podemos ter um desastre. Mas tenho um plano, que deve funcionar...você promete ter paciência e se controlar lá no Salão?”
“- Não prometo, amor...eu juro que vou fazer o possível. Vai dar tudo certo, e logo estaremos descansando naquela banheira...”
Eu sabia que não. Waite queria seus agentes como seres sem sentimentos...talvez ele conseguisse até mudar os sentimentos dela, como queria o André, lá no iate.
Ela havia sido orientada a esperar por Mestre Waite ali mesmo. E logo ele apareceu.
“- Regina, você está maravilhosa!” Ela sorriu.
“- Então vamos! Infelizmente, você não pode comer nada até o final da Fase Beta. Apenas beber um pouco dágua se tiver sede...”
Igual ao ritual onde André iria mudar a personalidade dela... os círculos mágicos no chão e no teto mostravam a ligação entre a tecnologia e a magia.
Na entrada do setor, Waite falou:
“- Daqui você não pode passar hoje. Tenho que ter a certeza que nada vai dar errado. Eu mesmo vou supervisionar todas as etapas do processo.”
Regina ia retrucar, mas falei a ela pelo nosso “link” mental:
(- Querida, não retruque, isso pode gerar mais problemas. Estarei em contato mental o tempo todo ... Te amo!) mas eu estava muito, muito preocupado...
(- Te amo muito, querido! Nada pode mudar isso!! Nunca vou deixar de te amar!!!) Fiquei ali, enquanto eles entravam.
Eu já havia visto o processo anterior, os eletrodos, os cabos, o dispositivo nos órgãos sexuais...só restava aguardar.
Sentei em uma cadeira ali perto. Lembrei de como tudo havia começado.
Éramos um casal comum, com uma vida sexual intensa. Minha esposa Regina, belíssima, sempre era elogiada por onde passava.
Antes de nos conhecermos, eu havia tido vários relacionamentos, curtíssimos, curtos, relativamente longos...e nunca havia encontrado a mulher certa. Regina também teve seus relacionamentos anteriores. Mas , quando a encontrei pela primeira vez, vi que poderia passar uma vida inteira com ela. Após algum tempo ( ela era noiva de outro cara, e não deu certo) , acabamos ficando juntos. Logo no início, ela me disse que tinha dificuldade em ter orgasmos, que era algo muito raro. Só que, em nossa primeira noite de sexo, fiz ela gozar sete vezes... algo inacreditável para ela.
Com o passar do tempo, os orgasmos foram aumentando, eu me animava e procurava estudar novas técnicas...até que achei que podíamos apimentar nossas experiências sexuais com um ménage, já que era o único jeito de ter uma dupla penetração real, e não com plugs ou vibradores.
Após algumas experiências com ménage e swing, poucas mas com pessoas legais, acabamos fazendo com um amigo meu de colégio, o Walter, que havia se separado há pouco tempo. ( Isto foi contado anteriormente)
Então, em uma vez onde o termo “Sexo sem limites” foi mencionado, acabamos sendo convidados para participar de uma certa “Sociedade Secreta do Sexo” que acabou se revalando como sendo “A Irmandade” , mais especificamente a Irmandade de Hímeros. Passamos por muitas experiências e rituais, alguns onde nossas vidas foram colocadas em risco.
Um dos Mestres da Irmandade, Meister, descobriu que minha esposa possuía uma energia sexual muito acima da média, e resolveu utilizá-la para fins próprios. Como falei anteriormente, a Magia Sexual pode alterar a realidade ou nossa percepção dela, e isso chegou a acontecer algumas vezes.
Acabamos sendo contatados pela “Agência”, um órgão secreto dedicado a investigar casos de Mestres, Adeptos ou Irmandades que estariam agindo de forma irregular ou interferindo com a Energia Mágica do planeta.
E viemos parar aqui. Até então, como um casal totalmente apaixonado, apesar de enfrentar encrencas e confusões terríveis.
Agora, através da “Tecnomagia”,Waite queria criar a “Espiã Perfeita”: Nua, terrivelmente bela, extremamente poderosa, potencialmente letal e ...sem sentimentos.
Regina, através de nosso link telepático, me atualizava:
“- Amor...colocaram o dispositivo no meu cuzinho e bucetinha. E começou a vibrar no meu clitóris. Se eu tiver um orgasmo, a máquina pode pifar...então estou me controlando.”
“- Aiii amor... estou meio tonta. Deve ser alguma substância que me deram. Se eu apagar, fique sabendo que eu te amo muito...”
“- Hnnnnn.... querido.... estou esquisita... está difícil pensar direito... gozado, lembrei de quando nos conhecemos ...lembra?”
“- Claro que lembro, querida! Claro que lembro! Eu me apaixonei perdidamente naquele dia”
“- Eu não, eu achava que amava aquele outro cara, estava noiva...mas depois você me conquistou, e eu me apaixonei total e completamente!”
“- Aiii amor...será que isto apaga memórias? Não quero isso...”
“- Aiiii querido...eu...” Senti que tudo escureceu para ela, e não senti mais nada pelo link. Será que ela estava bem? Eu precisava saber! O primeiro guardião que vi entrar, penetrei em sua consciência. Eu podia ter feito antes, mas interromper o processo já havia sido comprovadamente arriscado para minha esposa.
Olhei através dos olhos dele. Regina estava deitada na cama, embaixo da máquina, aparentemente bem. Não parecia pálida. Waite, em pé, segurava uma pequena esfera espelhada. O Doutor Eldon, embora entristecido, conversava com ela. A seguir, ajudou-a a se sentar.
Ela estava viva, e aparentemente bem.
Voltei ao meu corpo, eu não podia deixar Waite desconfiar de anda. Não sei como ele não descobriu minha habilidade no lance do Buraco Negro.
Instantes intermináveis se passaram, e enfim Waite e Regina saíram do laboratório. Dr. Eldon ficou na porta, vi que ele me olhava. Fez um sinal com o dedo, que entendi como “depois”.
Waite a segurava pela cintura. Eu não resisti, e a abracei:
“- Regina, está tudo bem?”
Ela me olhou fixo, com aqueles lindos olhos verdes, e respondeu:
“- Claro que está tudo bem. A máquina analisou minhas energias, foi só isso. Estou ótima.”
Mas notei uma mudança no tom de voz dela.
“- Você...sabe quem eu sou?”
“- Claro que sei! Você é o Número Um. Meu marido.”
“- Amor...”
Waite interferiu.
“- Regina acabou de passar por uma sessão na máquina, e ainda não se alimentou hoje. Ainda há tempo...”
Realmente, ela foi para o Salão Às seis da manhã, ficou lá cerca de uma hora e meia, mais duas na máquina...então, fui ao lado dela?
“- Por que não foi comer?”
“- Estava esperando você...”
“- Não precisava. Não precisamos estar grudados o tempo todo.”
Essa, definitivamente, não era a ‘minha’ Regina.
“- Mas eu queria esperar você. Não posso?”
Ela tentou ser agradável, afinal havia as regras da Irmandade.
“- Claro que pode.”
Tentei falar com ela pelo link mental
“- Amor... você está se sentindo bem mesmo?”
Ela olhou em volta, como se tivesse ouvido algo. Mas voltou a olhar para a frente.
“- Aquela sessão na máquina me deu fome. Quer sentar aqui?”
Notei que ela estava tentando ser amável. E aceitei.
“- Claro que quero sentar ao seu lado. Quem não gostaria?”
Waite olhava, curioso. Queria ter certeza que seu plano havia dado certo.
“- Mas você pode ficar com quem quiser aqui. A Laylah, por exemplo. Ela é bonita.”
Ela, com certeza, lembrava de tudo. Porém, segundo o que o Dr.Eldon havia dito, o “Ágape” dela havia sido extraído e preso em uma esfera, lacrada com um sigilo. A capacidade de amar profundamente. Sobravam as amizades superficiais apenas.
“- Não, prefiro estar com você, Regina.”
Ela começou a comer, tranquila.
Waite , por baixo da mesa, passou a mão na perna dela. Ela olhou para ele e sorriu.
Fiz o mesmo, e ela, pela proximidade, colocou a mão dela sobre a minha, em um gesto automático. Waite percebeu e ficou observando.
Regina terminou de mastigar, e falou:
“- Vocês, pelo jeito , estão querendo um ménage. Temos tempo após o treinamento, Senhor?”
A ‘minha’ Regina nunca havia falado desse jeito..
Waite, querendo provocar, falou:
“- Você não prefere escolher apenas um dos dois?”
“- Pelas regras da Irmandade, vocês dois estão querendo. Podem ser os dois. Sem problema.”
Ela dizia a verdade. Eu, como marido, e ele, porque ela havia entregue a corrente a ele. A memória dela estava perfeita. Mas com certeza algo havia mudado.
Ele falou, então:
“-Considerem isto como parte do treinamento.” E olhou para mim, bem sério.
CONTINUA