Cheguei a pensar que minha belíssima esposa, Regina,estava começando a ter delírios de grandeza.
Mas não era possível, ela havia arriscado a vida para nos transportar no tempo e no espaço para antes de tudo começar, e vivermos nossa vida, apenas nós dois.
Só que não deu certo... Meister, o Mago Negro, descobriu Regina, e tivemos que retornar.
Estávamos tomando nosso café da manhã com Drake, o Chefe da Agência.
Regina havia pedido que ele ficasse mais um ou dois dias, para participar de rituais sexuais que iriam energizar o Cálice que continha o sêmen de oito de nós, mais a tornozeleira dela.
Terminamos nossas refeições, e Drake falou:
“- Vou entrar em contato com a Agência, explicando tudo.”
“- Até o...?”
“- Obviamente, o setor da Agência que contatarei será o Círculo Mais Interno, que tem ciência da Profecia, incluindo o...”
“- Mas o que essa Profecia tem de tão importante, e qual papel Regina tem nisso?” Perguntei.
“- Se eu disser que tem relação com o Fim de tudo o que existe, você vai considerar importante o suficiente?” Drake falou, com um ar muito sério.
“- Aimeudeus!!! Quero voltar pra casa!!” Regina falou, meio brincando, mas meio assustada também.
“- Sério?”
“- Sério. E se Regina tem a possibilidade de fazer contato com as Deusas Primordiais, da Verdadeira Irmandade, então será essencial para que possamos enfrentar isso!”
“- Puta que pariu! Puta que pariu!! Eu só me meto em encrenca!! PORRA!!” Regina ficou nervosa mesmo...
“- Amor... e pensar que a gente só queria dar uma ‘apimentada’ no nosso relacionamento... agora estamos perto de presenciar uma catástrofe de proporções cósmicas...”
“- Mais ou menos isso”, falou Drake. “- Quando vimos o que Regina pode fazer, vislumbramos uma esperança. Mas Meister e Nguvu queriam , além disso, se apropriar de Regina e de sua energia também para fins pessoais. “
“- Drake, sei que não tem nada a ver agora, mas , embora Meister seja um caso perdido, acho que ainda vou ter que ter uma conversa séria com Nguvu.”
“- E por que?”
Ela olhou para nós dois.
“- Vocês repararam que ele voltou do plano dos ‘Mussushus’ sem grandes sequelas? Isso pode significar que, no Grande Esquema das Coisas, ele possa ter uma função, uma missão. E seria melhor tê-lo como aliado em vez de inimigo. Amor, você ainda tem a chave da Gaiola de Castidade?”
“- Tenho, você sabe que está presa na sua coleira”
“- Então pode me dar, por favor?”
“- Você é quem decide”, falei.
Ela pegou a chave. Antes, fez alguns gestos mágicos, depois esfregou a chave em sua bucetinha, fez mais alguns gestos, proferindo umas palavras estranhas, e entregou a Drake.
“- Esses gestos, essa esfregada... Isso quer dizer alguma coisa?” Ele perguntou.
“- Claro que sim”, ela disse, rindo, “- Mas ele ainda não está livre do seu compromisso de submissão a mim. Quando eu quiser, marcarei uma reunião com ele, e conversaremos.”
Eu e Drake olhamos curiosos. Regina sabia coisas que ninguém poderia ter aprendido em Irmandades no plano físico.
“- Podemos ir junto com você? É na sala do Connor, não?” Ele ia contatar a Agência.
“- Claro que podem, vamos...”
Chegamos à sala de Connor. Laylah estava lá, ajudando na monitorização. Interessante, porque normalmente as mulheres se dedicavam a estudos esotéricos, aprendendo dança, técnicas sexuais, participando de rituais e servindo aos Adeptos e Hierofantes.
“- E aí, tudo bem?” Perguntei a Connor.
“- Tudo bem...” ele respondeu.
“-...só que ainda estamos esperando por mais umas aulinhas...” falou Laylah, olhando para mim.
Regina me olhou, mas procurou não demonstrar ciúmes, em vez disso sorriu e disse a ela:
“- Vamos combinar, veja quando fica melhor para vocês,é só me procurar.”
Drake ligou para a Agência por vídeo, mas pediu que fosse em particular, na sala ao lado. Connor e Laylah não tinham acesso a esse tipod e informação.
Enquanto isso, Laylah foi contando como seu relacionamento havia melhorado, descrevendo detalhes das carícias, técnicas sexuais, posições, e Connor ficava visivelmente encabulado. Mas percebi que ainda precisava melhorar.
“- Pode deixar, Connor” , eu disse, “ vamos dar umas aulinhas e você vai ver”.
Laylah sorriu . Regina a abraçou, mas vi que era para que ela não viesse para o meu lado.
Drake voltou, e fez um sinal para que o acompanhássemos. Uma vez no corredor, ele falou:
“- Tudo bem. Diana entendeu e virá hoje à noite. O Círculo Mais Interno deu o sinal verde para tudo o que Regina desejar.”
“- Porra!” Ela falou.
“- Porra o que?”
“- Isso está muito esquisito! Antes eu tinha que dar pra quem segurava a corrente, agora eu decido e todo mundo faz o que eu quero? Isso é muito foda!”
“- Drake, pelo jeito tem coisa muito, muito séria pela frente...não dá pra contar?”
“- Existem coisas que eu não posso sequer falar. O Abismo pode captar o que dizemos.”
“- Aiii o Abismo! O Terror do Abismo?” ela murmurou.
Eu pensei um pouco, e falei:
“- Então, temos que confiar na intuição de minha esposa, deixar que ela vá fazendo o que seu Ser Interior determine...aliás é o que parece estar acontecendo... e isso deve ser o que deve ser feito.”
“- Mais ou menos isso. Se Regina quer espadas, providenciaremos espadas. Se quiser um ritual sexual às três da madrugada, assim será.”
“- Então a coisa é séria, seriíssima” falei.
“- Eba, posso trepar a hora que quiser” Regina disse, rindo.
“- Amor, eu sempre topo na hora que você quer...” falei. Ela riu.
Mas logo ficou muito séria, sua expressão mudou completamente.
Ela ficou em silêncio por quase um minuto , como que captando alguma coisa, vinda de algum lugar.
Em seguida, pensou bem antes de falar.
“- Drake...eu tive uma sensação ruim agora. Nós vamos morrer nesse confronto, não é? É o que a profecia diz, não é mesmo?” Regina falou, assustada.
Drake ficou quieto e baixou o olhar.
“- Eu queria que fosse diferente. Mas há uma esperança, o futuro não é definitivo.”
“- Ai amor... que encrenca arrumei quando quis aquela Iniciação na Irmandade...” Ela me abraçou, lágrimas correram pelo seu rosto.
“- Querida, nós quisemos...e se não fizéssemos nada, o mundo iria acabar... Se temos a chance de salvar o mundo, temos que tentar. Mas eu não vou deixar que se sacrifique, eu faço o que tiver que ser feito... “
“- Ah não meu amor! Não vou aguentar viver sem você!!! O que tivermos que fazer, faremos juntos!”
Drake mudou de assunto.
“- Vou providenciar as espadas. Vocês têm carta branca para tudo o que decidirem fazer!”
“- Precisamos energizar o Cálice.” Regina disse isso como se fosse muito importante.
“- Mas antes eu quero ir para o nosso quarto e chorar bastante, ah meu amor...”
Fomos para o nosso quarto, ela se jogou na cama.
Regina chorou muito. Eu nunca a havia visto chorar tanto. O travesseiro ficou encharcado. Fiquei abraçado nela até a dor diminuir. Chorei junto.
Drake não havia dito quando seria, mas era como as e hora de nossas mortes já estivesse marcada através daquela profecia. Pela expressão de Drake, talvez a Irmandade Vermelha morresse junto conosco. Mas o mundo seria salvo. E aí? Viraríamos mártires? Santos? Lendas que seriam contadas dali a séculos?
Eu não queria nada disso, queria apenas ser feliz com minha esposa. Mas a vida tem dessas coisas, de repente muda tudo. Tentamos voltar para antes de tudo começar e não deu certo.
Talvez, se conseguíssemos retornar para muito, muito antes... sem mudar o que aconteceu de bom, apenas interferindo em alguns pontos... mas e as pessoas que ajudamos? Diana e Drake, por exemplo... Wolfe e Hawke, Price, Val... Pierce, ele ficaria sem sua amada Eos? Como resolver tudo isso? Pensei na Deusa Primordial, Zarya...
Juro que orei, rezei, implorei à Deusa que poupasse Regina de tudo isso...
Também aos deuses do Templo de Ishtar, Eos, mesmo sabendo que eles raramente se importam com os assuntos dos mortais, interferindo mais raramente ainda.
Regina havia chorado tanto que adormecera. Ela estava tendo esses orgasmos enquanto sonhava. Poderia ser minha imaginação, mas Ela teve um novo orgasmo no sono, as suas três formas apareceram, e acima delas, vi o rosto de Zarya olhando para mim, seus olhos no entanto transmitiam uma tristeza imensa. Percebi que nosso destino estava selado.
Só me restava tentar animar minha esposa, mesmo sabendo que nosso destino seria trágico. Fazer o que tivesse que ser feito, aproveitar nossos dias da melhor maneira possível, nos amando e vivendo intensamente. Como aquela música antiga dizia...” É preciso amar como se não houvesse amanhã, porque se parar para pensar, na verdade não há...”
FIM DOS MANUSCRITOS DO NÚMERO UM, EXCELSO INICIADO, CONSORTE DE REGINA, A DAMA DA NÉVOA, IMPERATRIX DA ORDEM DO CÍRCULO VERMELHO.
- Neste ponto, Um parou de escrever. Encontrei os textos após sua morte.
A referência à tal música antiga, só encontrei depois de pesquisar sobre grupos musicais do século passado, no país onde Eles viviam antes da Grande Escuridão.
Ele escrevia sempre que podia, e encontrei centenas de páginas, guardadas em um pacote dentro do Quarto Vermelho. Não havia nenhuma mensagem dizendo coisas como “Abram depois que eu morrer” ou coisas assim. Também não ouvi Ele falar nada a respeito, creio que conversava apenas com Ela sobre isso.
Creio que, depois daquele dia em que Ela soube que, embora sendo a Imperatrix do Círculo Vermelho, iria terminar morrendo, de acordo com a Profecia durante a Grande Escuridão, e chorou por três dias e três noites seguidas, Número Um simplesmente parou de escrever.
Peguei os Textos Sagrados e levei cuidadosamente ao Templo que foi construído no local do Sacrifício Final, em frente ao Portal de Pedra, mostrando - os aos outros Discípulos.
Após uma longa reunião, não conseguimos chegar a um consenso unânime sobre como descrever o que aconteceu depois disso. Então, refletimos sobre os Manuscritos, em um Ritual especial.
Em um dos Textos Sagrados, Número Um escreveu que Ele e Ela eram “iguais em essência, diferentes em manifestação”. E também “A realidade não é um fato único e objetivo, mas um caleidoscópio de possíveis interpretações desses fatos, diferentes pontos de vista, diferentes ângulos, detalhes omitidos e verdades ocultas. Nossas próprias recordações são um amálgama entre o que vivenciamos com nossos sentidos limitados e o que nosso cérebro recebeu, sendo percebidos de acordo com o que queremos ou entendemos. Realidade, recordações, sonhos e fantasias. Existe um momento onde tudo se mescla, e onde as diferenças, ocultas parcialmente por véus e refratadas através de vários planos, se tornam tênues.”
Reconhecendo a Verdade nestes Escritos, foi decidido que cada um descreveria a sua interpretação da Realidade... e assim surgiram os Novos Manuscritos, os Manuscritos do Templo.
No ano I do Grande Amanhecer
Gwenhyfar Hawke-Wolfe
Suprema Sacerdotisa do Templo da Névoa
Dedicado a Regina,
A Mais Sábia, a Mais Bela, a Mais Corajosa
A Poderosa Dama da Névoa
Primeira Imperatrix da Ordem do Círculo Vermelho
A Primeira da Verdadeira Irmandade
Que Ascendeu na Névoa e Retornará com Toda a Glória
Fim da Aventura