Me joguei no sofá, aliviado por estar de volta em casa; aquele ambiente que tinha sido meu refúgio durante o término com meu ex e que era também agora. Fui até a cozinha depois de um tempo tomar um copo de água e escutei a campainha tocar.
- Oi?!
- Marcelo, sou eu. Deixa eu entrar, vamos conversar – ouvi a voz de Caio do outro lado.
- Não quero. Já vi tudo que tinha pra ver, vai embora
- Eu não vou, você tem que me escutar.
- Não tenho nada
- Abre, Marcelo, por favor. Deixa eu falar e depois eu prometo vou embora se você quiser
- Está bem, rápido.
Caio entrou e eu fechei a porta ainda sem olhá-lo. Indiquei o sofá e me sentei de frente a ele. Ele assim como eu ainda usava as roupas da festa, apesar das dele estarem um pouco desarrumadas o que só me fez sentir pior ainda por dentro. Ele reparou meus olhos observando o amassado de sua camisa.
- Me desculpe – ele falou ajeitando a camisa – foi uma coisa idiota, não sei o que tava pensando, acho que só queria dar o troco de ontem.
- Troco de que? De vir na minha porta me insultar?
- Me desculpe por isso também, eu perdi a cabeça, não devia ter sido grosso com você, não tinha direito...mas aquele cara tava aproveitando de você tá frágil pra dar em cima de você.
- Aquele cara é Adonis, meu primo, e ele não tava se aproveitando de nada, não fez nada...
- Ahh sim – ele falou não contendo uma expressão aliviada – me desculpe de qualquer jeito.
- Eu que fui trouxa de não fazer nada. Um cara gente boa, me querendo e eu me segurando não sei por que; enquanto você fica por aí se agarrando com a primeira galinha que aparece.
- Me desculpa, eu sou impulsivo, mas olha eu também não consegui nem fazer nada além com ela. Entramos pra casa e logo me afastei, estava sem um pingo de tesão e ao mesmo tempo me sentindo culpado por fazer você sentir mal.
- É exatamente isso que você faz, eu me sentir mal...sem contar que ainda continua de rolo com o Jorge, nem sei pq deixei você entrar aqui de novo, acho não temos mais nada pra falar...
- Marcelo, eu vou te contar tudo, por favor me escuta até o fim. Eu não me orgulho do meu passado, mas eu juro que eu jamais pensei em você do jeito que falou.
- Como uma das suas cadelas?- falei não me controlando.
- Isso, desde a primeira noite que conversamos eu senti algo diferente. Eu gostei de você.
- Gostou? Sei
- Gostei. Marcelo eu posso já ter aprontado de tudo quanto a sexo como você viu, mas eu nunca amei ninguém. Eu desconhecia isso, só aconteceu com você. Eu fiquei confuso no início queria negar pra mim mesmo que tinha algo a mais; mas eu não conseguia parar de pensar em você.
- É mesmo? Até quando me mandou mensagem no dia seguinte após comer a cadelinha
- Até – ele falou engolindo seco- eu não tirava você da cabeça, o sexo nem tinha mais a mesma graça
- sei...e naquela terça também você não me tirava da cabeça? Por isso que preferiu ir encontrar outra puta do que me encontrar.
- Eu estava confuso, não queria admitir que estava na sua. Pra mim sexo foi sempre putaria, nunca amei ninguém. Eu mantive sim minha vida de putaria enquanto saía com você no início, resistindo; mas a cada vez eu sentia menos graça até que parei.
_ Parou de que? transar? Ou cobrar?
- Marcelo, isso é mentira desse filho da puta do Jorge
- Não cobrava dele né, ele me disse “porque transava bem”, e que você consolou ele depois que terminou com o João. E pelo visto continua consolando até hoje, já que ele é seu informante.
- Eu juro que isso é mentira. Olha pra mim, por favor, Marcelo – ele falou e quando vi já estava sentado do meu lado levantando meu rosto – Eu posso ter feito muita putaria na vida, mas não estou mentindo sobre isso. Eu não fiquei nenhuma vez com o Jorge depois te conheci e não cobrava sexo, não preciso disso. Fazia sexo unicamente pelo prazer. Eu até bloqueei ele, ontem ele me mandou mensagem do celular de um amigo.
- Vai embora, Caio.
- Você não percebe que é justamente isso que ele quer? Ele ficou puto quando neguei ficar com ele por estar com você e deve ter ficado mais ainda por ter interferido no namoro.
- Isso não importa. Não consigo ficar com alguém assim.
- Mas eu mudei, eu juro. E mudei por você – Caio falou com os olhos cheios de água tentando pegar minha mão que eu puxei me levantando e afastando dele.
- Eu não consigo apagar o que vi da minha mente, não consigo nem encostar em você sem repulsa
- Marcelo, eu te amo. Nunca amei ninguém assim. Não te amo só pelo sexo. Te amo por tudo, ninguém nunca me tratou como você, nem meus pais. – Caio falou se aproximando e me pressionando contra a parede, agora sem esconder as lágrimas
- Caio eu não...
- Por favor, Marcelo. Me perdoa, eu sei que meu passado é sujo, sei que fui um idiota no começo, mas eu juro que só tenho olhos pra você. Fica comigo, eu não posso viver sem você mais...eu te amo... te amo – ele falou me abraçando enquanto eu tentava me desvencilhar sem sucesso.
- Me solta, Caio – falei me afastando – não vou ser mais um da sua lista
- Eu não quero nada daquilo que eu tinha, nada daquilo se compara com o que eu tenho com você. Marcelo, olha pra mim, eu faço qualquer coisa. Você quer que eu seja o passivo? Eu vou ser, faço o que for pra te mostrar que pra mim você é especial.
- Eu não quero isso
- O que então?
- Quero que vá embora. Quero ficar sozinho
- Eu vou, mas eu vou matar aquele filho da puta – Caio falou limpando as lágrimas
- Nossa, vocês são iguaizinhos mesmo
- Eu e aquele cara
- sim. Ele também quando falou comigo achou que o absurdo não era ele trair, mas sim alguém contar. Você é a mesma coisa, acha que o problema é ele ter contado.
- Marcelo, eu sei do que fiz. Eu estava confuso e eu ia te contar esse meu lado, algum dia, mais pra frente. Ele não tinha era o direito de interferir só pra separar a gente – Caio falou se dirigindo a porta bufando de raiva e eu fiquei com medo do que aquele cara grandão fosse fazer.
- Caio – falei e ele se virou imediatamente antes de sair – espera, não vai fazer nada com ele – falei mais preocupado pelo que acontecesse com ele depois que matasse o Jorge nervoso do jeito que estava.
- É exatamente isso que vou fazer, arrebentar ele – ele falou nervoso e eu agarrei ele pelo braço antes de sair
- Espera – falei e ele surpreso com meu toque parou onde estava me olhando – espera, fica aqui e se acalma um pouco, depois você faz bobagem e paga pelo resto da vida.
- Você ainda me ama – Caio falou aliviado e sorriu – e é por isso que eu te amo, mesmo com raiva não deixa de cuidar de mim – ele falou e me puxou pra um abraço.
- Agora, vem e senta aqui – falei fechando a porta e levando ele pro sofá – Se acalma pra não fazer besteira, bater no Jorge não vai resolver nada.
- Não fala no nome desse... desse – ele falou fechando a mão de raiva.
- Ok, tá bom relaxa. Vou fazer um chá pra gente, acho que estamos precisando. – saí em direção a cozinha e ele me seguiu incapaz de ficar longe e se sentou no banquinho próximo ao balcão.
- Que mÊs não? Comecei vivendo um sonho, depois um pesadelo – ele falou enquanto eu colocava a água no fogo – Depois que você foi embora eu desabei, como nunca na vida, achei que tinha te perdido pra sempre. Mas aí eu acordei hoje quando tava lá na festa e decidi que não ia desistir da coisa mais importante que já aconteceu na minha vida sem tentar antes.
- Quando tava lá com a boca colada na daquela galinha? – falei não segurando a alfinetada.
- Eu só faço merda – ele falou se rendendo – mas eu juro não consegui sentir nada, só queria te causar ciúme. Quando saímos da sua vista primeira coisa que fiz foi me desvencilhar dela. Voce ve a imaturidade? Pareço um menino quando se trata de relacionamento, porque nunca tive um de verdade.
Olhei pra ele ali todo entregue enquanto arrumava duas canecas.
- Eu me senti anestesiado, quando soube – falei desviando o assunto do quadro desagradável de mais cedo. Você não é o primeiro a me trair sabe. Eu terminei um relacionamento há uns meses atrás por descobrir uma traição, você foi o primeiro que saí depois disso.
- Marcelo, me entenda. Eu não te traí, eu jamais faria isso hoje. Eu estava confuso, não querendo admitir meus sentimentos....eu só segui o estilo de vida que sempre tive por um tempo...até não conseguir mais, mas eu...
- Tá bom, Caio. Se acalma – falei sentindo ele nervoso novamente.- Acho que você já disse o que tinha pra dizer e eu também, precisamos só processar. – falei colocando os sachês nas canecas.
- Você lembra o dia que cuidou de mim doente?
- Lembro, claro.
- Quando você disse que me amava, minha vontade era falar que eu também. Fiquei remoendo aquilo vários dias depois.
- Eu sabia que era por que você é fechado mesmo.
- E quando gozamos a primeira vez, olhando seus olhos, nunca me senti tão conectado a alguém
Ficamos mais um tempinho conversando enquanto íamos tomando chá. Caio pegou as canecas e foi lavar, falando que iria embora me deixar descansar e quando foi completar o que mais ia fazer parou me olhando.
- Não vai não – falei com medo ainda de que ele estivesse pensando em sair dali e fazer uma bobagem – Dorme aqui hoje, não vou deixar você sair assim
- Ahh, Marcelo. Você é maravilhoso.
- Calma, Caio – falei pondo uma mão no peito dele que veio pra me abraçar – VocÊ vai dormir no quarto de hóspedes tá? Só não quero que faça bobagem.
- Tá ótimo, só de poder ficar aqui com você.
Preparei o quarto pra Caio, coloquei um cobertor e logo me despedi indo pro meu dormir.