[PARTE 1/6: INTRÍNSECO]
O PRIMEIRO PÊNIS adulto que vi na vida foi logo que completei meus dezoito anos, se não me foge à memória. Ele não era monstruoso ou tirante a falso como esses de revista e DVD que ainda hoje se vê. Não, não era assim. Ele era um tanto pequeno, perto desses aí, mas muito real.
Antes dele, eu não tinha tido ainda a oportunidade de perder meus olhos num corpo masculino. Corpo de moleque eu via sempre. Mas corpo de homem, com pelos, músculos desenvolvidos e tudo o mais, aquele foi o primeiro.
Foram poucos os segundos que seu pênis balançou para os meus olhos, mas até hoje me lembro dos detalhes. Os testículos, duas bolinhas amarrotadas, eram completamente tortas dentro daquela bolsa de rasa pelugem. O tronco do pênis era mediano e logo a glande rosada desenhava-se como um cogumelo com uma abertura na ponta pendida. A pelugem loura e desalinhada, típica do homem, dava cor à sua virilha. Encimando-a, os músculos tesos do abdômen desenhavam alguns gominhos inchados na barriga dele.
Não precisa me apressar tentando imaginar quem era ele, se algum amigo do futebol ou professor da faculdade. Nenhum desses. Aliás, melhor que esses. Ele era o meu pai. Foi a primeira vez que o vi assim. Nunca antes havia acontecido, por mais que eu force a memória tentando me desmentir.
Isso ocorreu num banho. Imagine você ― mas só imagine ― toda a família reunida na margem de um rio numa tarde ensolarada. Tio, cunhado, irmãs, irmão, prima, mãe e pai. Todos ou curtindo a água ou a cerveja ou a boca um do outro. O fundo musical, algum hit americano, ribombava naquelas alturas...
Meu velho, já quarentão, meu irmão pirralho Daniel e eu trocávamos as sungas num banheiro anexo a um bar ali à beira do rio. O bar estava vazio, fechado. À princípio, nem me toquei do motivo de termos entrado naquele lugar. Só quando meu pai abaixou a cueca molhada exibindo por uma brevidade de tempo seu bonito membro e a substituiu por outra seca que fui perceber que já estávamos indo embora.
Lembro-me que um dia me tranquei no banheiro de casa e, enquanto minhas mãos desceram frenéticas no meu pênis, na minha mente rolavam soltas as mais profanas sacanagens e devaneios incestuosos do meu pai em cima de mim, do meu pai me batendo, do meu pai mandando ver com força na minha bunda. Eu era virgem e tímido, e só podia fazer isso mesmo: fantasiar.
Ele era goleiro de um time de amigos. Tinha as pernas volumosas, a barriga firme, os braços rijos de aparar bola. Quantas vezes me peguei desejando aquelas coxas nuas, aqueles braços bonitos...
Nunca passou dos devaneios. O meu pai foi também o primeiro cara que desejei com vontade sem nunca, porém, o ter. E nem pudera, afinal, ele era machão mesmo. Desses que adotava filosofias religiosas e adorava foder uma boceta bem servida. Acho que nunca ousaria me tocar com outras intenções além das paternas, era contra o caráter dele e contra sua ideia de correto.
Tudo bem.
Mudando esta página, conto a vocês do meu primeiro emprego? Claro que sim. Esta é ainda uma bela história. Após o primeiro pênis, os meus olhos encontraram também a primeira paixão ― e essa, a gente nunca esquece. Pelo menos é o que dizem.
Acho que isso foi em 1992. Black Or White era a epidemia das rádios e eu adorava ouvi-la no carro, no volume último. O meu tesão pelo meu pai já diminuía nessa época, eu já era bem crescido e conseguia olha-lo sem pensar no recheio da sua braguilha. Eu e ele conversávamos muito. Dizia que já estava em tempo de eu trabalhar e ter meu próprio dinheiro para não precisar depender dele. Dizia que eu tinha tudo para ser bem sucedido em minha independência.
Confesso, foi a melhor ideia que tivemos.
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[PARTE 2/6: UM RAPAZ EM SÃO PAULO]
ME ATIREI NO centro de São Paulo, oceano bravio de gente e pedra, sem sequer saber nadar. Mas meu pai dizia que eu conseguiria, e consegui mesmo.
Fui parar na porta da Josh & Lander com um punhado de rabiscos num portfólio. Quem me atendeu foi ele, e daqueles olhos nunca hei de me esquecer.
O nome dele era Alex. Alex Kotze, mais especificamente. Não estranhe o nome, ele não era brasileiro. Tinha o sotaque engraçado e parecia engasgar facilmente nalgumas sílabas. Foi ele quem recebeu o meu currículo e, dias depois, me entrevistou.
Ficou encantado com meus dons artísticos e elevou a profissional o que para mim não passavam de rabiscos que eu fazia por hobbie.
Tinha as sobrancelhas expressivas, grossas, e os olhos muito tranquilos, quase ao ponto de puros. O rosto liso, ossudo, semblante masculino e lábios bem desenhados no meio da barba deixava a sua imagem próxima à daqueles caras de outdoors. É. Ele não parecia mesmo brasileiro. Indaguei-lhe de onde vinha. Ele respondeu, abrindo um sorriso de dentes maravilhosos:
― África do Sul.
Fiquei mais encantado ainda e temi não estar sendo discreto o bastante com os meus olhares sobre ele. Me senti bobo, mas era só temor. No fim fui admitido, mas pulemos para a parte onde nossos corpos se encontraram sob um luar de brisa fria.
Era véspera de Natal.
Um manto de pisca-piscas ornamentava as fachadas e alpendres das casas por onde os meus olhos passavam. No rádio do taxi, não se falava noutro assunto senão o caso de Jackson e do garoto Chandler. Nunca acreditei naquilo. Um rei como ele, das alturas de seu trono, não faria mal ao mais vil dos seus plebeus.
Alex me esperava numa esquina agasalhado duma jaqueta que deixava o seu tronco sensualmente viril. Uma jaqueta, aliás, bem no estilo das que Jackson vestira nos anos 80. Lembro-me que saí do táxi e lhe estendi a mão em cumprimento e ele a apertou firmemente:
― Boa noite ― disse, me desarmando outra vez com seu sorriso.
― Boa noite, Alex!
Pusemo-nos a caminhar sob o teto da noite enquanto conversávamos aleatoriedades. Na manhã daquele mesmo dia eu tinha lhe telefonado dizendo que tinha algo importante a contar. Eu não podia segurar mais tempo. Estava certo disso. Ia me declarar àquele homem pronto para receber um sim ou, no contrário, um soco na cara e um 'tchau, bichona'.
Eu já tinha até decidido sair do emprego caso ele reagisse mal, mas eu iria fazer aquilo, eu precisava dizer a ele.
Sentamos no banco de uma praça bem iluminada. Diferente do centro da cidade, que fervilhava, ali estava calmo. Ao nosso redor tinham alguns pinheiros de natal e duendes a ornamentar os canteiros que dividiam a avenida.
Olhei para ele e engoli em seco. Eu suava. Minha língua estava áspera no céu da boca. Desviava os olhos para o chão e depois tornava a foca-lo. Estava nervoso, não sabia como começar. Foi então que ele começou:
― Tem problema, amigo? ― Ele me perguntou, com seu sotaque característico.
Ele parecia atento ao meu nervosismo e senti que ele buscava me estabilizar ou mesmo confortar, fosse com os olhos calmos que me fitavam ou com o sorriso ladino aberto para mim.
― Quer dizer algo para mim? ― ele continuou.
Lembro-me que me levantei daquele banco e fiz menção de ir embora. Eu não sabia o que fazer, sentia medo, não poderia suportar a simples ideia dele tomar raiva de mim. Eu já estava envolvido antes mesmo de estar. Fugia dali a passos largos sem lhe dar qualquer resposta quando a voz dele me alcançou, com a mesma calma de costume:
― Se você tiver coisa pra me falar, pode falar.
Eu me voltei para ele ainda que relutasse. Ele continuava sentado com os braços esticados no espaldar do banco. Os olhos de menino e o meio sorriso de expressão perfeita, porém, teimavam em me acalmar.
― É que também tenho coisa pra falar pra você ― ele concluiu.
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oi, oi, oi povxs
se você chegou agora (atrasadx...), dá uma olhada que tenho vários contos aqui. no meu wattpad também publico com mais frequência: @BlascoJesus <3