Não sei se já disse para vocês, mas Carol trabalha na Universidade em que estudava e, com a promessa de volta às aulas, foi chamada para voltar e auxiliar no planejamento. Sendo assim, eu tinha uma semana para ajeitar minha situação com a Bruna, que não me respondia mais, provavelmente por ciúmes da Carol.
- E quando você vai? - perguntei.
- Você podia me levar no final de semana, porque vou começar na segunda.
- Ah, tudo bem.
- Ai a gente pode ir no sábado e você volta no domingo, pra não ter que pegar a estrada no mesmo dia. Acho que não tem ninguém lá mesmo. Só se aquela Bruna estiver lá ainda.
- Ela está sim.
Mas que droga! Como eu falo uma coisa dessas sem pensar?
- Como você sabe?
- Aquele dia ela comentou que trabalha em um clínica de dentista... ou de médico, sei lá, ai por isso não pode ir pra casa - pelo menos eu pensei rápido e consertei minha cagada.
A semana passou voando e nada da Bruna me responder. Então, lá pela quinta-feira, resolvi abrir o jogo e contar que a Carol ia voltar.
PEDRO: Não sei pq vc tá brava, mas a gente precisa conversar logo. A Carol vai voltar pra República essa fim de semana. As coisas que aconteceram entre nós precisam ficar só entre nós.
Ela pelo menos visualizou essa mensagem, mas respondeu apenas com um "huuum", que na verdade, não dizia nada.
PEDRO: é sério, dá pra gente conversar?
E aí ela sumiu mais uma vez, e não tive mais notícias.
No sábado, dia em que fui levar a Carol, fiz questão de sair bem cedo para que tivesse tempo de voltar no mesmo dia, por mais que ainda não tivesse decidido o que faria, porque não sabia o que era pior: ficar lá com a Bruna e a Carol, ou deixar as duas sozinhas.
Eu desloguei do instagram fake e apaguei todas as mensagens enviadas e qualquer outro vestígio do meu celular, para o caso de Bruna aprontar alguma, aí eu poderia simplesmente negar e acho que conseguiria convencer a Carol. Afinal, era o namorado de muitos anos contra uma maluca desconhecida.
No meio do caminho, inventei que precisava ir ao banheiro e parei em uma loja de conveniências. Mas na real, era a últiam tentativa desesperada de falar com a Bruna.
PEDRO: Estamos quase chegando aí. Por favor, não fala nada.
Mais um vez, ela sequer visualizou. Eu segui meus "protocolos de segurança" e apaguei mensagem e desloguei o perfil fake.
Acho que a viagem nunca passou tão rápido como naquele dia e logo eu estava estacionando na garagem da República. Achei estranho que tivesse outro carro ali, mas pensei que podia ser de outra das meninas, então fiquei até mais tranquilo. Mas quando entramos na sala, a mesma onde eu e Bruna fizemos tanta coisas tivemos uma surpresa: Bruna estava aos beijos com um rapaz no sofá.
Em alguns segundos eu senti um milhão se coisas: raiva, angústia, ciúmes, tive vontade de matar os dois, mas senti também um pouco de alívio. Afinal, se ela já estava com outro, eu não fui mais do que uma transa qualquer.
Quando os dois perceberam nossa presença, pararam os beijos e iniciou-se uma troca de olhares constrangedora.
- Ai meu Deus, não sabia que vocês chegariam tão cedo... me desculpem - Bruna falou parecendo realmente estar constrangida - acho melhor você ir. Depois a gente conversa.
O rapaz concordou e logo saiu. Era um homem bonito até, era extremamente comum, um mauricinho desses de academia, com corpinho bombado, e usando camisa pólo. Não pude deixar de sentir vontade de segui-lo e dar uma tijolada na cabeça dele.
- Você é a Carol, certo? - Bruna cortou meus pensamentos, cumprimentando minha namorada - mil desculpas pela cena. Não conta nada pra Márcia, por favor.
Ela pediu com a aquele sorrisinho sapeca que me encantou, nem mesmo com a raiva que eu estava, conseguiria negar.
- Não, pode deixar. Não vou falar nada - Carol respondeu sorrindo - é seu namorado?
- Ah... é complicado. Você é o Paulo, não é? Você que veio aqui pegar uns livros.
- É Pedro, mas, sim, fui eu.
Ela me cumprimentou com uma aperto de mão, pediu licença e foi para o quarto. Eu entendi que estava tudo bem, ajudei a Carol a levar as coisas para o quarto e fui embora na sequência.
Assim que saí da garagem, saquei o celular e entrei correndo no meu perfil fake e vi que Bruna estava online.
PEDRO: A gente precisa conversar sobre alguma coisa?
Ela visualizou imediatamente e respondeu.
BRUNA: Sim, você tá aonde?
PEDRO: Aqui embaixo, só saí da garagem.
BRUNA: Posso ir aí?
PEDRO: Sim, mas disfarça.
Pelo que ela me contou, ela disse para a Carol que, nessa hora estava guardando as roupas que iria sair com o suposto namorado, e poucos minutos depois ela saiu pelo portão.
- Primeiro, eu quero pedir desculpa por tudo - Bruna falou já dentro do carro, enquanto eu acelerava pela rua deserta -. Eu sei que não agi certo essa semana e imagino pelo que eu te fiz passar sem saber como seria minha reação quando vocês chegassem.
- Não, você nem imagina como foi - eu falei num tom bem ríspido -, mas o que aconteceu? Estava ocupada demais com seu namoradinho?
- Ok, eu mereci essa. Mas mantenha o respeito, por favor. Você não é assim comigo.
- Tá... Tá... o que houve?
- Fiquei com ciúmes, caramba. Eu sozinha em casa, só conseguia imaginar o que vocês estavam lá fazendo na casa dela. Fiquei triste. Eu te falei que o que aconteceu entre a gente não é comum pra mim.
Quase falei sobre o rapaz de novo, mas segurei a língua.
- Eu sei que errei - ela continuou -, mas eu não sabia como reagir. A única vez que eu me apaixono por alguém, e esse alguém tem namorada. Eu fiquei com raiva, só isso.
Apaixonada. Ela estava apaixonada.
- E o rapaz? Foi por raiva também?
- Sim, eu só queria te esquecer. Juro que não foi planejado. Achei que vocês chegariam mais tarde. Ele estuda comigo, e o encontrei na academia hoje. Eu não estava pensando direito... me perdoa.
Eu encostei o carro. Não fazia a menor ideia de onde estávamos. Era uma espécie de rua residencial antiga, com aqueles casarões típicos das capitais e estava totalmente vazia. Olhei pra ela pela primeira vez desde que entrou no carro e percebi que algumas lágrimas estavam escorrendo de seus olhos.
- Você está realmente apaixonada por mim?
- Sim, estou. Mas não precisa falar nada, eu sei...
- Eu também estou apaixonado por você - eu cortei sua fala.
Hesitantes, nós nos aproximamos aos poucos. Até que a distância era suficiente para eu lhe roubar um beijo. Segurei-lhe pela nuca e a beijei, com muito sentimento. Naquele momento, o bombadinho nem passava pela minha cabeça, até mesmo porque o que ela estava me dando, ele nunca chegaria perto de receber.
- O que vamos fazer agora? - ela perguntou quando nós soltamos.
- Não sei, mas será que tem um motel aqui por perto?