Quando saí do banho, Danilo não estava em casa. Tinha saído com meu padrinho e meu pai para fazerem compras. Aproveitei para dar uma volta na praia e ver o pôr do sol. Realmente Geribá é uma delícia. Fui caminhando para o canto esquerdo e de longe avistei um grupo reunido em torno de um cara de bermuda laranja que fazia slackline. Ao me aproximar reconheci o Igor. Ele era bonito não só molhado pela água do mar, mas também de suor.
-Novinho! – Disse Pedro ao me avistar. Ele estava no grupo junto com a Roberta e mais um monte de gente.
Fui apresentado a todos, enquanto não me distraía dos movimentos de Igor na corda. Ele, porém, parecia indiferente à minha presença. Somente depois de algum tempo foi que nos falamos.
- Quer tentar? – Perguntou-me sem me olhar.
- Sim.
Subi na corda e não consegui manter o equilíbrio por nem 3 segundos. Todos riram, inclusive eu.
- Tenta de novo.
Subi mais uma vez, só que Igor me deu equilíbrio, ao me segurar pela cintura.
- Olha para um ponto fixo.
Eu parecia que ia cair e minhas pernas não paravam de se mexer.
- Flexiona os joelhos. Isso, novinho, isso. Boa.
As mãos de Igor eram ao mesmo tempo firmes e macias.
- Viu? Não é tão difícil. É só pegar o jeito.
- Se eu treinar mais, eu vou pegando.
- Com certeza.
Ficamos alternando na corda e ele fazia várias posições difíceis. Era um exibido, mas eu gostava de vê-lo fazendo aquilo. Eu tentava fazer igual e levei alguns tombos engraçados na areia. Ele ria e eu também. Cansamos da corda e atiramo-nos na areia. Uma mulher sentou-se perto dele e ele deitou a cabeça no colo dela. Minha bola murchou na hora, pois imaginei que aquela fosse sua namorada.
Eles estavam bebendo cerveja e me ofereceram. Resolvi aceitar, porque meu dia estava complicado. O melhor a fazer era tentar relaxar. Não demorou muito e eles acenderam um baseado que foi passando de mão em mão. Eu nunca tinha fumado e pude imaginar que levaria uma bronca daquelas se chegasse com cheiro de maconha em casa. Considerei que já estava sendo muito adulto por já estar bebendo com eles e recusei o cigarro.
- Eduardo! – Ouço me chamarem com um tom repreensivo.
Era Danilo. Os olhos arregalados por me ver ali. Escondi a cerveja, mas era tarde demais.
- Fala ae, primo do novinho. – Cumprimentou Igor.
Imediatamente todos foram cumprimentando Danilo, que, em poucos instantes, encontrava-se com uma lata de cerveja em uma mão e um cigarro de maconha na outra. Ele não sabia o que fazer. Não esperava ser logo recebido e integrado ao grupo. Não demorou muito e ele já estava conversando animadamente com duas mulheres mais velhas que o acharam muito fofo.
Já esperava que ele ia ficar com uma delas e o Igor com sua namorada. De novo, quem estava sobrando era eu. Tonto de cerveja, fui saindo de fininho e retomei a caminhada que fazia antes de me deparar com o grupo. Queria ir até o final da praia. Quando eu voltasse, recolheria o Danilo, ou o que tiver sobrado dele e voltaríamos para casa.
Achei que tivesse saído sem chamar a atenção, mas estava enganado.
- Novinho! Espera! – Igor vinha correndo na minha direção.
- Oi, brother. – Queria parecer descolado e carioca com ele.
- Fugiu?
- Não. Vim dar uma andada.
- Quer ir até o final da praia?
- Sim.
- Vamos. Vou com você.
- Sua namorada não vem?
- Não é minha namorada. É minha irmã. Sou solteiro e você?
- Também.
Eu não podia reclamar tanto assim da vida afinal. Fomos caminhando juntos e eu dava muitas gargalhadas, porque o Igor era engraçado e eu estava meio bêbado.
- Linda a sua bermuda laranja. Eu te vi de longe com ela. – Arrisquei.
- Parece um sinalizador.
- Sim! Hahaha! Pelo menos se você estiver perdido no mar, vão te ver de longe.
- Tem razão. Como eu não quero ser visto de longe agora, toma. – Disse ele tirando a bermuda e entregando-me. Ele estava com uma cueca branca muito linda.
Eu fiquei sem palavras por uns instantes, até que resolvi falar.
- Você vai ficar de cueca?
- Quer que eu tire?
Resolvi parar de falar, porque não estava sabendo lidar com aquela situação.
- Vamos correr. – Sugeriu e, sem esperar minha resposta, saiu correndo. – Vem, novinho.
Eu saí correndo atrás dele, segurando a bermuda laranja nas mãos. Ele corria na frente e eu podia ver a potência das suas pernas peludas e imaginar a rigidez de seus glúteos. Corremos por um tempo e Igor, de repente, voltou-se para o mar e entrou na água.
- Vem, novinho! – Chamou-me.
Eu tirei minha camisa e minha bermuda. Fiquei só de cueca também e entrei na água. Estava fria para cacete. Urrei de frio, mas não desisti. Igor caiu na gargalhada. Fui até ele, que ia cada vez mais para o fundo.
- Você é meio doido, não acha? – Perguntei.
- Se eu fosse doido mesmo te beijaria agora.
Fiquei sem palavras por alguns minutos.
- Você beija homens? – Perguntei.
- Não vejo problemas nisso. Você beija?
- Nunca beijei. Nem homens nem mulheres, para ser sincero.
Ele me pegou pela mão. Ficamos de mãos dadas no mar.
- Vamos sair da água. Está fria. – Convidou-me.
Saímos do mar e ficamos pulando para nos esquentar. Nossos queixos batiam de frio. Resolvemos voltar para o grupo. Eu queria beijá-lo, mas não sabia como. Quando chegamos, vi que Danilo estava bêbado.
- Dani, você está bem?
- Primo, eu te amo. Você é o melhor, primo. – Disse Danilo, completamente doido.
- Dani, você bebeu demais. Como vamos voltar para casa? Vão nos matar. – Falei desesperado. – Eu vou ficar de castigo até o ano que vem por sua causa, seu doido!
Todos riram da minha preocupação.
- Ah, adolescentes e seus problemas. – Comentou Igor debochadamente.
Eu fiquei ressentido, porque eu realmente me encrencaria e nenhum deles ia me ajudar.
- Calma, novinho. Dá água pra ele e espera um pouco. – Disse Igor.
Fiquei cuidando do Danilo por um bom tempo até ele parecer melhor. Ele estava com o olhar perdido, mas tinha conseguido ficar de pé sem maiores esforços.
- Acho melhor irmos. – Disse ao Igor.
- Tudo bem. Bom te ver de cueca. Quero te ver sem ela da próxima vez.
Fiquei sem graça, mas tomei coragem para responder.
- Bom te ver de cueca também.
Dei tchau a todos e fui amparando o Danilo até em casa.
- Dani, vamos rezar para estarem todos dormindo.
Ele nem me respondia. Estava alheio. Pelo menos não estava mais falando pelos cotovelos. Percebi que nossos pais estavam na parte de trás da casa, onde fica a piscina, a churrasqueira e o portão de acesso à praia. Resolvi contornar a casa, para entrar pela porta da frente e ir direto para o quarto.
- Dani, você trouxe a chave?
Ele não me respondia.
- Dani, você está bem? Olha pra mim.
Ele olhou-me devagar.
- Você está bem?
Ele fez sim com a cabeça e piscou os olhou lentamente.
- Dani, você trouxe a chave?
Ele olhou para o lado. Apalpei seus bolsos e não encontrei a chave da porta da frente. O jeito ia ser entrar por trás, mas sozinho. Coloquei o Danilo sentado no chão e resolvi dar a volta e abrir a porta por dentro.
- Olha o fugitivo aí! Está tarde, não acha? – Perguntou meu pai.
- Cadê o Danilo? - perguntou a mãe dele.
- Er... Ele está com uma menina. Ele disse que vai voltar logo. – Respondi. – Deixa eu ir que estou apertado.
Logo eles voltaram a conversar entre eles e eu corri para abrir a porta da frente e resgatar o Danilo. Quando abri a porta, ele estava de quatro vomitando muito.
- Dani! Ai, Dani.
Ele estava muito mal e agora todo sujo. Eu o levantei e ele se abaixou para vomitar mais. Esperei mais um pouco e resolvemos entrar devagar. Conseguimos chegar ao quarto sem sermos pegos. Eu, porém, precisava limpá-lo e fazê-lo beber alguma coisa, como um suco ou algo assim. Peguei uma cadeira de praia e coloquei no box. Tirei a roupa do Danilo e a minha e tomamos um banho frio juntos. Ele, pelo menos, ficou em silêncio o tempo todo. Coloquei uma cueca nele e fomos para o quarto. Vesti-me e fui pegar umas frutas e mais água para ele. Quando voltei para o quarto, ele parecia melhor. Estava com o olhar mais vivo, pelo menos.
- Dani. Dani, olha para mim.
Ele olhou. Realmente estava melhorando.
- Você quase me matou de susto, você sabia?
Ele fez sim com a cabeça.
- Toma água e come essa maçã que peguei para você.
Ele não estava fazendo nada sozinho. Então tive que dar água para ele e cortar a maçã. Ele comia a maçã e seus lábios roçavam na ponta dos meus dedos.
- Dudu.
- Oi, Dani.
- Dudu, obrigado.
- De nada, Dani. Agora acaba de comer e vai dormir.
- Dudu.
- Oi, Dani.
- Dudu, me beija.
- Para, Dani, você está completamente bêbado.
- Dudu, eu bati punheta pensando em você.
Fiquei sem palavras.
- Eu bato punheta com dedo no cu, pensando em você, Dudu.
- Dani, para de falar.
- Dudu, eu não sou gay, tá?
- Está bem, Dani. Não tem problema ser gay se você for.
Ele então deitou e apagou. Eu também apaguei, mas pensando no Igor.
Continua...