Eu poderia dizer, em poéticas palavras e comparações confusas, como estou me sentindo. Mas para quê? Se eu posso resumir tudo isso em um vazio. Eu sempre abominei essa ideia de sofrer por alguém, mas, só quem realmente já sentiu um sentimento verdadeiro por um indivíduo, vai entender. Por mais livre e soltos que sejamos, quando perdemos uma conexão que prezamos muito, é impossível não sentir a dor da perda.
Desde ontem eu estava deitado naquela cama. Já havia chorado tudo o que tinha para chorar, e provavelmente meu estoque de lágrimas já havia se esgotado. Ao que parecia, a famosa "fossa" havia chegado para mim. Desliguei meu celular e qualquer outro meio que alguém conseguisse se comunicar comigo. Só queria ficar sozinho e colocar a mente no lugar. Minha mãe e meu pai, vez ou outra batia a minha porta para perguntar se eu estava bem ou trazer comida. Eles não sabiam o que tinha acontecido, mas meu pai ficou sabendo da possível paternidade do Pedro e ligou os pontos.
— Filho? - perguntava ele batendo a porta. Ele abre-a lentamente e com cautela, então se aproxima de mim, que estava deitado de bruços. — Você conversar agora?
— Não pai. Estou bem! - digo, as palavras saíram arranhadas.
— Eu sei... sobre o Pedro! - meu coração apertou — É por isso que você está assim?
Eu queria virar para ele e dizer que não, mas infelizmente, aquele era o real motivo. Ao invés de dar-lhe alguma resposta, apenas continuei como estava, imóvel. Meu pai, vendo que não foi produtivo, apenas passou as mãos pelos meus cabelos e se levantou, caminhando em direção a porta que, a minutos anteriores, ele havia entrado.
— Quando se sentir confortável, pode procurar por mim. Certo? Fica bem, boa noite. - prontificou-se, antes de fechar a porta e enfim sair.
Outra vez em minha própria companhia, apenas fechei meus olhos e quando acordei, já não tinha mais luz do sol. As minhas costas doíam, e eu estava com uma vontade enorme de fazer xixi. Corri pro banheiro, e depois de aliviado, senti o peso de ficar horas sem comer nada. Já era madrugada, e provavelmente ninguém deveria estar acordado. Desço rapidamente para a cozinha e vejo o que há para comer, e que de preferência já estivesse pronto. Por sorte, ou melhor, pela minha mãe, vi um pote de lasanha com meu nome escrito na geladeira.
Após esquentar tudo e pôr refrigerante em um copo, subi para comer em meu quarto. Sentei no chão, para não correr o risco de sujar minha cama, apenas ficando encostado nela. Já havia se passado muitas horas com meu celular desligado, e que falei pros meus pais que não queria receber ninguém, meus amigos deviam estar preocupados. Pensei. Procuro por meu celular, e assim que o religuei, várias notificações chegaram ao mesmo tempo. Algumas de ligações perdidas e outras dezenas de mensagens, do Pedro, da Julia, do Alex...
Li por ordem, começando pela Julia, que dizia que precisava urgentemente falar comigo, a mensagem era de 1 dias atrás. Na mais recente, ela me perguntava se eu estava bem, pois o Pedro havia dito-a, que eu estava mal, porque nós nos desentendemos. Respondi a minha amiga, que, apesar da hora, respondeu-me rapidamente. Conversamos por mais algum tempo, e após uma série de questionamentos, ela me diz que vai dormir. Me despeço, e então vou respondendo outras pessoas, que provavelmente, só visualizarão pela manhã. Bloqueio o telefone, e me deito em minha cama, para enfim, dormir. Porém, assim que fechei os olhos, ele começou a tocar. Quem poderia ser, eram quase uma da manhã?
— Oli? - diz a outra voz, assim que atendo, e logo soube quem era.
— Oi, Alex! Aconteceu alguma coisa? - perguntei preocupado.
— Eu é quem pergunto! Te ligo e mando mensagens há dias. Fui em sua casa duas vezes, seu pai me contou que você estava meio mal e não queria receber ninguém... Tá tudo bem? Isso tem a ver com aquela noite? - perguntou ele. Por uns segundos pensei no que iria responder.
— Não, claro que isso não tem a ver com você. Eu só, estava em uns dias ruins. Eu juro que não é nada pessoal com você! - tranquilizo-o.
— Eu até achei que estivesse bloqueado, mas o Pedro me falou que também não estava conseguindo falar com você. Até tentei te ligar pelo celular da tia Isa, mas, dava no mesmo. Eu... - senti sua voz tremer — Eu chorei, só de pensar que tinha estragado a nossa amizade. - terminou. Fiquei com dó dele, o Alex era um cara muito fofo e especial.
— Alex, escuta! Você não estragou nossa amizade. Muito pelo contrário! Você é uma das melhores coisas que me aconteceu nesses últimos meses e nem se eu estivesse louco, iria me afastar de você. Eu me sinto muito bem em sua companhia. - digo sincero. Eu realmente gostava dele. Ouço-o dar um suspiro aliviado.
— Ah, que bom ouvir isso! Eu só tenho mais uns dias aqui, e, não queria ir embora com você chateado comigo. Também queria ver você, mas que bom que está tudo esclarecido. - ele dá uma pausa e ri do outro lado — A verdade é que estou carente e muito sensível, desculpa esse mini surto. Por mim eu invadia seu quarto agora, só pra pedir um abraço. - rio também, penso por alguns segundo e então respondo-o.
— Então vem! Quando você chegar, manda uma mensagem e eu abro a porta. - digo.
— O que? Sério? - questiona espantado.
— Sim! Pode vir! Faz de conta que é uma festa do pijama de última hora. A gente assiste um filme e come umas besteiras, mas você vai ter que passar numa conveniência para comprar. - explico.
— Claro, claro! É... Então, vou cuidar aqui. No máximo em vinte minutos eu chego! - concluiu ele empolgado. — Até daqui a pouco.
Assim que o Alex desligou o telefone, me levantei e fui novamente ao banheiro. Estava com uma aparência péssima, então, tratei logo de tomar um banho, enquanto ele não chegava. Depois de devidamente limpo, arrumei a pouca bagunça que tinha no meu quarto e me deitei para esperá-lo. Era pouco mais de 1h40 quando ele me mandou mensagem dizendo que já estava na minha porta. Desci para recebê-lo. Em suas mãos, ele carregava duas sacolas com comida, como havia pedido. Ele abriu um sorrisão quando me viu.
— É boa noite ou bom dia? - perguntou.
— Não sei. Enquanto tiver escuro pra mim é noite. - respondo sorrindo também. Ele entra, me dá um abraço e eu fecho a porta, subindo para o meu quarto, em seguida.
— Você tá bem, né? - questionou-me, enquanto sentava na beirada da cama.
— Sim, agora estou! Então, qual filme vamos assistir? - digo tentando não entrar naquele assunto.
— O que você escolher para mim, está bom! - ele diz. Pego meu notebook que estava na minha gaveta e ligo-o, entregando para ele.
— Faz assim. Vai escolhendo, que eu vou lá na cozinha, pegar uns copos e uma tigela. - digo, já caminhando rumo ao andar de baixo. Na volta, quando estava prestes a subir a escada, minha mãe apareceu.
— Oliver? Ainda acordado? - me questiona. Gaguejo um pouco para falar, e ela rapidamente me enche com novas perguntas — Por quê está com dois copos? Tem alguém com você lá em cima?
— S-sim mãe. É... É o Alex! - respondo meio a contragosto. — Ele veio me fazer companhia. - minha mãe me olha meio desconfiada. Tenho certeza que aquilo aumentaria ainda mais suas paranóias em relação a nós dois.
— Hmm, entendi. Acho que precisamos conversar muito, não acha? Sobre você e... sobre essas suas visitas noturnas. - diz ela.
— Não precisamos mãe. Eu estou bem e o Alex é só um amigo que veio prestar apoio emocional. - rebato-a. — No mais, boa noite para senhora. - despeço-me dela, indo para meu quarto, sob protestos e tentativas de chamar minha atenção com perguntas. Ao chegar novamente no meu quarto, encontro o Alex deitado, comendo salgadinhos, com o laptop no colo. — Então, qual filme escolheu? - perguntei-lhe, deitando ao seu lado.
— Vingadores! Você gosta? - pergunta, tentando me deixar confortável.
— Claro! Quem não? - respondo sorrindo. Neste momento, peguei o refrigerante que ele havia trazido e colocava-o nos copos que que havia pego. Ele sorri de volta. Depois de alguns minutos, ele dá play no vídeo e o filme começa. A sequência, era Vingadores: Ultimato.
Nos primeiros minutos do filme, conversávamos vez ou outra. Eu tirava alguns dúvidas sobre os personagens e ele pacientemente me explicava. Em alguns momentos, desfocava do filme e sem querer olhava para ele, que parecia concentrado. Ele era tão bonito quanto o seu primo, mas, com uma personalidade totalmente diferente. Com certeza, sentirei falta ver ele quase todos os dias, como nessas férias.
— Que perfume bom você está usando. Qual é esse? - pergunto curioso, ao sentir sua fragrância amadeirada.
— Esse aqui? Sabe que nem sei? Eu ganhei da tia Isa, há um tempo atrás. - ele diz, me encarando rapidamente.
— Muito gostosa essa fragrância. - comento inocentemente e percebo um sorriso malicioso em seu rosto. — O que foi? Tira esse sorrisinho da cara! - digo sorrindo também.
— Não foi nada, oxe! Não posso rir também? - diz com bom humor.
— Sei! - digo, fingindo acreditar nas suas boas intenções.
Voltamos a prestar atenção no filme, mas já estava sentindo meus olhos pesarem, e quando dei por mim, já estava em um sono leve, mas o suficiente, para que eu percebesse, seu cuidado por mim quando ele se deu conta que eu estava praticamente dormindo. Ele gentilmente se levantou da cama, desligou o computador e recolheu a bagunça, cobrindo metade do meu corpo com o cobertor, logo depois. Também senti quando ele se deitou ao meu lado, e por uns breves segundos, acariciou minha testa e eu me senti tão bem ali, que em menos de um minuto, dormi profundamente.
Não sei por qual motivo, mas, naquela noite, eu sonhei com ele. Um sonho estranho, mas, prazeroso. Não era mentira que eu o via com uma beleza digna de um deus grego, e foi assim que eu sonhei com ele. Num campo, numa época distante, com vestimentas da época e fazendo um piquenique, enquanto nos olhavamos e sorríamos um para outro. Acordei sorrindo desse sonho bobo.
Me senti um adolescente idiota na puberdade quando descobre o primeiro crush. Mas, o Alex não era o meu... Oh, droga. Vê-lo ali, do meu lado, dormindo, foi tal como reproduzir o sonho novamente, mas em versão real. Senti um aperto no peito e então percebi claramente, que o que eu sentia por ele, não era só admiração. Mas como isso era possível? Eu ainda tinha sentimentos fortes pelo Pedro, mas, de uma maneira esquisita, estava começando a sentir pelo Alex.
Lembrei do nosso beijo, naquela noite na orla e do quanto fiquei mexido durante alguns dias. Lembre do que ele havia me dito e da forma que ele cuidou de mim na noite passada. Minha cabeça parecia que ia explodir. Levantei-me da cama, e resolvi fazer algo que não fazia a muito tempo, para espairecer. Correr.
Ainda era cedo, o sol tinha raiado a poucas horas e as ruas vazias do bairro denunciava isso. Em meus fones de ouvido, uma música tocava, e eu, mesmo que erradamente, cantava junto a ela, enquanto virava curvas e mais curvas. Não queria pensar em nada. Após aproximadamente uma hora que eu estava correndo, resolvi voltar para casa, e em uma rápida parada para beber água, sinto um carro se aproximar, e parar ao meu lado. Os vidros se abaixaram, e quem eu vi ali dentro, não me agradou nem um pouco. Voltei a caminhar, mas a pessoa desceu e veio em minha direção, me puxando pelo braço.
— Oli, por favor! - pediu-me com certo desespero. Respirei fundo, e então o encarei.
— Não temos nada para conversar! - respondo indiferente.
— Não precisa ser assim, Oliver. - ele diz.
— O que? O que que não precisa ser assim? - questiono-o, fingindo inocência. Ele baixou a cabeça.
— Eu... só passei aqui... para te dizer que o resultado saiu... - disse, num tom quase inaudível, mas que eu entendi bem. Demorei um tempo, até processar tudo, enquanto ele tentava formular algo para dizer. — O resultado deu positivo! - enfatizou novamente, ainda sem me olhar nos olhos.
Eu apenas acenei positivamente com a cabeça, já não conseguindo conter umas poucas lágrimas teimosas.
— Quer que eu diga o que? Parabéns! Só não diga que veio me pedir para ser o padrinho... Felicidades para vocês. - virei-me e comecei a andar na direção oposta novamente.
— Eu não vou casar com ela, Oli! A gente pode ficar junto. Eu vou ser o pai dessa criança, mas marido, eu quero ser só seu. - falou, me pegando de surpresa e, novamente me fazendo ter esperanças de algo que não teria futuro. Mas eu tinha de ser realista. Aquilo nunca iria dar certo.
— A questão não é só a criança, Pedro... A sua amizade, era a coisa mais importante para mim, desde que nos conhecemos. E... em menos de um mês, estragamos tudo. Não teve um único dia, em que eu não me sentisse angustiado, desde que começamos esse nosso "lance". - sentia meus olhos encherem de lágrimas mais uma vez — O fato, é que, isso não é saudável para mim.
— Eu posso reparar isso, Oli. - insistiu. Percebi que ele também estava com vontade de chorar.
— Reparar? Como você iria reparar? E tem mais, mesmo se nós ficarmos juntos, por quanto tempo você vai me manter escondido? Você vai contar para sua família e pros seus seus amigos machistas, que começou a namorar um homem? - questiono-o, mas ele apenas se calou. — Na boa, Pedro... Só, esquece que um dia a gente cogitou ser algo além de amigos. Eu não sei se, algum dia, vamos conseguir restaurar nossa amizade, mas... por ora, só quero ficar distante de você. Seja feliz na sua nova vida.
Dizer aquelas palavras para ele foi muito mais doloroso para mim, do que se imagina. Querendo ou não, ele era o cara que cresceu junto comigo. Costumávamos ser tão parceiros antes, mas, a medida que nos crescemos, fomos nos distanciando. E a cada vez que eu o reencontrava-o, ele estava mais diferente. Até chegarmos nesse ponto, em que nem eu, quanto ele, reconhecia a si próprio. Eu não queria ser o segredo de alguém. Pois, é isso o que eu seria dele. Porque, se ele fosse corajoso o suficiente, não teria nem começado algo falso com alguém que não ama, para se reafirma como homem hétero.
Voltei para casa e fui direto tomar um banho. Estava decidido. Queria chorar enquanto a água me acertava, mas não iria, não ali. Quando voltei para o quarto, o Alex, já estava acordado. Desejou-me bom dia e o chamei para comermos. Por coincidência, ou não, minha mãe preparou uma mesa com muita comida. Eu já sabia o que ela estava tentando fazer. Como da outra vez, tratou super bem o meu hóspede e tentou arrancar alguma coisa dele, novamente sem sucesso. Estava precisando muito conversar com alguém, mas, não queria falar nada daquilo com o Alex, nem com meus pais, até que pensei na Júlia. Ela merecia e precisava saber de tudo, e, eu também estava precisando dela.
Era por volta das onze da manhã quando o Alex se despediu para ir embora.
— Obrigado, por tudo! Volta quando der! - agradeço-o dando lhe um abraço, já vendo seu carona de aplicativo se aproximar.
— Eu que agradeço! - diz, retribuindo meu abraço. Indo de vez, em seguida.
Minutos depois que ele foi embora, liguei para a linda amiga, dizendo que precisava lhe encontrar. Por vez, ela não estava em casa, mas me pediu para me encontrar no parque próximo ao shopping em que ela estava. O tempo que antecedeu o nosso encontro, me deixou apreensivo, mas assim que a vi, pude relaxar, e chorar em seus braços como sempre fazia quando me sentia mal. Contei tudo para ela, desde o início. Até fiquei com medo de sua reação, mas, como sempre, ela nunca me deixou na mal. Me compreendeu e me aconselhou, fazendo de tudo em seguida para levantar meu astral. Me tratou como uma criancinha, me levando para tomar sorvete e ver os animais do parque. E de certa forma, ela conseguiu melhorar meu humor. No fim da tarde, a agradeci e segui para minha casa. Ainda naquele dia, fui contemplado por um lindo pôr do sol.
No dia seguinte, já era quase noite, e eu caminhava pelas ruas da minha casa, já bem próximo ao meu portão. Quando vi o Pedro novamente. Dessa vez, não estava em seu carro, na verdade. Olhando para minha janela. Me aproximei devagar, e pareci o assustar.
— Pedro? - ele virou assutado e ruborizou.
— Oli, é... eu estava pensando em entrar, e dar um "oi" para os tios, mas... Estava pensando que você não iria gostar... - explicou-se, meio apressadamente. Ficamos em um silêncio desconfortável por alguns segundos, até ele falar novamente — Por que você contou para Júlia da gente? - questionou. Hesitei um pouco para falar.
— Porque ela é minha melhor amiga e eu precisa conversar com alguém! - falei.
— Você não tinha o direito de me expor. Eu não estava pronto! - ele disse, me decepcionando, mas não me surpreendendo.
— Sério que você está preocupado com isso? - indago. Respiro fundo. — Vai embora, Pedro. Por favor, a gente não vai ter nada e você pode voltar para sua vida hetero-normativa. Já que gostar de um homem, é motivo de vergonha para você. - virei-me para entrar, e mais uma vez ele não disse nada. Minutos depois, recebo uma mensagem dele.
"Você nunca será uma vergonha para mim"
"Mas sou covarde demais para dizer que eu te amo, para todo mundo" - 18:23PM
E foi ali, lendo esses dizeres dele, que eu percebi, que nós nunca teríamos futuro.
Mais tarde, o Alex me liga. Perguntou como eu estava e se podia passar em minha casa, para comermos uma pizza, ver um filme, conversar... e eu claro, disse que sim, afinal, adorava a companhia dele. Era quase dez da noite quando ele chegou, bateu na porta e como meus pais ainda estavam acordados, atenderam ele. Juro que foram menos de cinco minutos até eu descer, mas o suficiente para ele e meus pais engatar uma conversa que durou horas. Pedimos pizza, e comemos todos juntos, até que lá pelas onze e meia, meus pais se retiraram para dormir. Desejou-nos boa noite, e nos deixou à sós na sala.
— O sono já está batendo em mim também - digo bocejando. Olho para o Alex, e percebo que ele estava meio grogue também. — Você vai dormir aqui? - pergunto.
— Não sei. Posso? - perguntou de volta.
— Claro! O que acha de tomarmos um vinho antes de ir pra cama? - convido-o e prontamente ele aceita.
Fomos para cozinha, onde eu peguei duas taças e enchi até a metade. Ele começou a contar um pouco mais sobre sua vida e eu pude saber um pouco mais da sua infância. E a cada novo assunto, eu descobria um pouco mais daquele cara incrível. A conversa fluiu tão bem, que sem nos darmos conta, terminamos a garrafa inteira, enquanto rimos desesperadamente das besteiras que tínhamos dito. Impressionante como ele tinha o poder de me deixar leve.
— Mas você parece ser tão certinho. Quem te viu, quem te ver. - digo com bom humor, comentando um fato sobre sua vida.
— Deixa que eu levo. - diz ao me ver recolher as taças e a garrafa vazia, se oferecendo para levar.
— Vou subir logo, para ver como está a bagunça. - digo, já me encaminhando para o meu quarto. Para minha sorte, estava organizado. Apenas peguei mais um cobertor e um traveseiro no guarda-roupas para o Alex. Tão logo ele chega. — Fica à vontade. - digo para ele. Deito-me na cama, enfim relaxando as minhas costas e ele vem em seguida. — Só esqueci de uma coisa. - digo. — ele me olha curioso — apagar a luz.
— Deixa que eu apago. - se oferece ele.
— Ótimo. Eu falei isso só pra tu se oferecer mesmo. - digo e ele ri, voltando segundos depois para deitar ao meu lado. Fecho meus olhos tentando dormir e o Alex parece fazer o mesmo. Durante alguns minutos, o silêncio dominou o quarto. E quando estava quase cochilando, o Alex me chamou.
— Oli, eu acho que não consigo mais. - ele disse.
— O que você tá falando? - pergunto intrigado.
— É muito difícil ficar perto de você e não pode te beijar... te sentir... - ele se senta na cama e encara a parede. Eu faço o mesmo. — Mas... eu não quero estragar nossa amizade, Oli...
— Alex, eu... Nem sei o que dizer. - digo. E por mais alguns minutos ficamos em silêncio. Até ele dizer...
— Posso te dar um beijo?