Capítulo 25
Bruno empurrou Jonas.
_ Como você se atreve?
_ Você tem que me ouvir. Eu tenho uma boa notícia. Me ouça, Bruno.
Do outro lado da porta, Matheus se aproximava sorrindo. Ao ouvir o nome e a voz de Bruno, parou espantado.
Primeiro estranho o fato do primo está dentro do escritório com Jonas. Não quis acreditar. Por isso, parou com o ouvido colado na porta para ouvir e confirmar as suas suspeitas.
_ Fale logo de uma vez. Eu não tenho tempo a perder. A minha tia está me esperando.
_ Eu quero te ajudar. Eu sei que você está passando um perrengue com o Matheus na casa da sua tia e parte disso é culpa minha.
_ Ainda bem que você reconhece. _ Bruno disse, cruzando os braços e arqueando a sobrancelha.
_ Eu aluguei um apartamento pra você. É pequeno... digamos modesto, mas muito confortável...
Matheus franziu o cenho. Imaginava qual seria o motivo de Jonas alugar um apartamento para o Bruno. Sentiu-se ofendido pela forma que Jonas se referia a ele, como se fosse um tipo de vilão.
_ Fica perto do centro da cidade e daqui da pizzaria, o que facilita muito os nossos encontros.
Matheus sentiu o coração acelerado e a respiração ofegante.
_ Que encontros? Nas horas em que o seu namoradinho te der uma folga?
_ Você não precisa ser debochado. Fica ridículo nesse papel.
_ Ridículo é você querer me comprar com um apartamento depois de vir de lua de mel com o idiota do Matheus.
_ Bruno, pelo amor de deus!
_ Você não precisa me comprar. Eu sei que sou o reserva e ele o atacante.
_ Não tem nada de atacante e reserva. Isto aqui não é um jogo.
_ Ah, é? É o que, então?
_ É amor! Eu te amo, porra!
Essas palavras atingiram Matheus como uma punhalada pelas costas. Não suportaria ouvir por mais um segundo que o homem que ama sente amor por outro. Matheus abriu a porta e entrou aplaudindo.
Jonas arregalou os olhos. Sentiu que o coração batia tão forte como se fosse saltar para fora do peito.
_ Muito bem! Bravo! Que linda ceninha de amor!
_ Matheus!
_ Não precisa gastar o seu português com clichês. Eu já sei. "Não é nada disso que você está pensando." "Eu posso explicar."
Bruno sentia-se extremamente envergonhado e temeroso.
_ Eu sou mesmo um idiota! Um idiota!
Matheus andava de um lado para o outro, penetrando os dedos entre os cabelos.
_ Como vocês tiveram coragem de fazer isso comigo? Por quê?
_ Meu amor, calma!
_ Não me chame de meu amor, sua bicha falsa! Cafajeste! Porra! Se tu sempre amou a ele, por que me envolveu nessa história? Você tem noção do quanto está me machucando?
_ Eu vou deixar vocês conversando._ disse Bruno tentando sair, mas foi puxado por Matheus, que o jogou no chão.
_ Você não vai sair porra nenhuma, Judas do caralho! Falsa! Cobra! Arrumou toda a confusão e quer tirar o corpo fora?
Matheus chutou Bruno e Jonas o segurou.
_ Me solta, seu filho da puta.
_ Matheus, fique calmo e vamos conversar.
_ Conversar é o caralho! Eu vou matar vocês dois!
Betinho ouvia os gritos de Matheus e correu sorrindo para chamar alguém. Encontrou Olivia e Rafael no corredor.
_ Gente! Gente! Tá rolando o maior barraco lá no escritório. Parece que o Matheus pegou o Jonas com o primo dele.
_ Puta que pariu! Eu avisei pro Jonas que isso ia dar merda._ disse Rafael.
_ Vamos até lá.
Os três correram até o escritório.
Jonas segurava Matheus, que se debatia, querendo se libertar dos seus braços. Bruno desejava fugir, mas os dois bloquearam a porta.
_ Matheus, calma por favor!
Matheus conseguiu soltar uma das mãos , pegou um porta retrato e golpeou a cabeça de Jonas, cortando a sua testa fazendo escorrer um fio de sangue. O jovem deu um passo para trás com a mão na testa e a cabeça baixa. Matheus o empurrou e partiu para cima de Bruno, mas foi segurado por Rafael antes de alcançar o primo.
_ Me solta! Eu vou matar esses desgraçados!
Ao vê o irmão sangrando, Olivia o acudiu desesperada e olhou para Matheus com ódio.
_ Você está maluco? Olha o que você fez!
Todos da pizzaria ouviram os gritos. Renata reconheceu a voz de Matheus e foi até o escritório.
_ Meu Deus! O que está acontecendo aqui?
_ Está acontecendo que o seu filho é louco!
_ Louco é a puta que te pariu. O seu irmão está me traindo com esse verme do Bruno.
_ Como assim?
_ Eu vi, mãe! Eu vi essas duas bichas desgraçadas se pegando aqui dentro. E o Jonas ainda teve a coragem de dizer que ama o Bruno! Me fez de idiota esse tempo todo.
Renata olhava para Bruno decepcionada e ele abaixou o olhar.
Lúcia entrou no local e ao vê o filho ferido ficou horrorizada.
_ Meu filho! O fizeram com você?
_ Foi esse louco do Matheus que machucou o meu irmão. Desiquilibrado. Você poderia ter matado ele.
_ Essa era a intenção.
_ E ainda é abusado. Você é louco. Se afaste do meu filho.
_ Eu vou me afastar sim, jararaca! Pra mim o seu filho tá morto. Acabou essa porra de namoro.
Matheus se debateu e empurrou Rafael.
_ Me solta, porra! Acabou! _ disse retirando a aliança e jogando em cima de Jonas.
Jonas segurou no seu braço.
_ Vamos conversar. Eu posso explicar tudo.
_ Eu já entendi. Não precisa me explicar nada. Você ama o Bruno e me fez de palhaço.
_ Não! Eu não te fiz de palhaço. E eu te amo.
_ Gente, vamos nos acalmar. Vamos dar uma respirada. Cuidamos do ferimento do Jonas e aí vocês conversam.
_ Não tem conversa nenhuma.
_ Tem sim. Matheus, por favor! E vocês? Saem todos daqui. Me deixem a sós com o meu namorado.
_ Ex namorado.
_ Vamos embora, meu filho. Você não merece toda essa humilhação. Que decepção, Bruno.
Bruno saiu do escritório correndo.
_ Por favor, Renata. Deixa eu conversar com o Matheus?
_ Ele não quer conversar com você.
_ Eu vou trazer um copo com água e açúcar. Pra vcs se alcamarem. Não tem condições do Matheus sair daqui nervoso desse jeito._ disse Rafael saindo.
_ Betinho, Olivia e Mãe, saem daqui.
_ E a sua ferida? _ perguntou Lúcia.
_ Eu estou bem. Agora sai daqui.
Os três se retiraram. Olivia temia outro chilique de Matheus e Betinho lamentou por perder mais conteúdo para a fofoca que faria com Patrick.
Rafael retornou com o copo d'água e saiu em seguida.
_ Renata, por favor nos dê licença.
_ Você quer ficar ou quer ir embora, Matheus?
Matheus abaixou a cabeça com os olhos cheios de lágrimas.
_ Se quiser, a gente vai agora mesmo. Você não é obrigado a ficar aqui.
_ Eu vou ficar. Daqui a pouco eu vou embora.
_ Estou te esperando no corredor. Qualquer coisa grite.
Renata olhava para Jonas sentindo asco e saiu.
Matheus sentou na cadeira, e abaixou a cabeça na mesa desabando a chorar.
Jonas estava temeroso. Não queria perder o seu grande amor. Desejou morrer de arrependimento.
_ Meu amor, eu nem sei o que dizer. Eu... sou um idiota mesmo. Eu não te mereço. Me perdoa?
Matheus ergueu a cabeça para olha-lo. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. E com a voz trêmula disse:
_ Você não tem noção do quanto me machucou. Você estraçalhou os meus sentimentos. Eu posso não ser o perfeito, o melhor namorado do mundo, mas dei o meu melhor pra você. Desde o dia em que te conheci, antes mesmo de você me pedir em namoro eu não deixei que homem nenhum tocasse em mim. Fui totalmente fiel a você, tanto no meu corpo quanto nos meus sentimentos. E olha que eu recebi muitas propostas. Mas não. Eu fui fiel, dei não pra todo mundo... como eu sou um idiota.
Jonas não tinha palavras para expressar os sentimentos de culpa, vergonha e medo de perder o namorado.
_ Você sempre o amou. E por que ficou comigo? Por que me envolveu nisso? Por mentiu que me amava?
_ Eu não menti. Eu te amo. Te amo muito. Eu não quero te perder.
_ Mentiroso! Eu ouvi você dizer que ama o Bruno. Se fosse só sexo eu até que poderia perdoar. Mas amor?! Isso é muito forte!
_ Matheus, eu te amo!
_ Pare de sustentar esta mentira! O que você tá querendo com tudo isso?
_ Eu não estou mentindo! Eu amo você e amo a ele!
Jonas sentiu-se aliviado por confessar.
_ Eu não queria amar os dois, mas eu amo. Eu sou completamente apaixonado por vocês. Vocês mexem comigo de uma forma que eu não tenho controle.
'Esse é o meu erro. Amar demais! Eu não sei explicar como isso aconteceu. Mas infelizmente aconteceu. '
_ Cafajeste! Eu nunca mais quero olhar na sua cara! Desejo que você e o Bruno morram. Aliás, eu quero que vocês vivam e tenham uma vida longa e rica em desgraças.
Matheus correu para o corredor com os braços abertos para abraçar a mãe.
_ Calma, meu amor! Calma, mamãe tá aqui.
_ Eu quero ir embora!
Renata o conduziu para fora e Jonas não conteve as lágrimas. Rafael entrou no escritório fechando a porta.
_ Cara, que merda que eu fui fazer! Eu perdi meu amor.
Rafael quis dizer "Eu avisei", mas decidiu ser solidário ao amigo e preferiu se calar.
_ Venha, vamos cuidar desse sangramento.
Bruno vagou pela cidade desolado. Sentia culpa, medo e vergonha. Pensava na tia e que lhe faltaria coragem para estar diante dela. Refletiu em como foi ingrato com Renata, que o abrigou e o ajudou quando mais precisava.
Sentia-se só, já que não poderia ter contato com a mãe e a tia era a sua única família. No seu celular haviam várias chamadas e mensagens de Lúcia, que foram todas ignoradas.
Foi até a casa de Isabel pedir abrigo para passar a noite. Chorou nos braços da amiga narrando o acontecido.
_ Meu Deus! Que mancada que vocês deram! Puxa ficar no escritório enquanto Matheus estava no salão! Foi muita burrice.
Bruno nada respondia. Sentia que merecia os sermões de Isabel.
Jonas não dormiu a noite inteira. Tentou ligar para Matheus, mas foi surpreendido com a voz de Renata.
_ Olha aqui, o meu filho não quer falar com você. Já não cansa tudo o que você fez? Todo o mal que causou junto com o Bruno?Eu sempre confiei em você, o recebi de braços abertos aqui na minha casa para você maltratar o meu filho? Deixe o Matheus em paz.
A mulher desligou o telefone, deixando Jonas desolado.
Matheus chorou por horas. Vestido com o pijama e os olhos vermelhos, bateu no quarto da mãe pedindo para dormir lá. Renata o abrigou nos seus braços, debaixo dos lençóis.
_ Calma, meu amor. Vai ficar tudo bem. Aquele traste não te merece. Tudo isso vai passar. Daqui a alguns dias você começar a frenquentar a faculdade, vai conhecer gente nova, fazer novas amizades, novos amores e aquele traste vai ficar onde deve ficar, que é no passado.
_ Eu não sei. Apesar de tudo eu amo aquele filho da puta. Não vai ser fácil esquecer. Tá doendo muito, mãe.
Renata o abraçava. Estava arrependida de ter defendido Bruno muitas vezes.
Pela manhã, Renata tomava café da manhã com Marília e a contou o que aconteceu.
_ Mas que Safados! O Matheus não merecia isso._ dizia Marília.
_ Pior que ele chorou a noite inteira. Só foi pegar no sono agora de manhã. Me deu uma peninha. Foi de cortar o coração.
_ Olha, eu não esperava isso do Bruno. Ele foi muito leviano. Foi pior do que o Jonas. Porque esse é um estranho e de estranhos se espera traições, mas do Bruno! Ele é primo! Ele viu o Matheus nascer! Se conhecem há tanto tempo! Mesmo depois de você tê-lo ajudado ele me vem com essa baixaria?
Bruno entrou na casa de cabeça baixa.
_ Como se atreve a pisar aqui depois de tudo que fez com o seu primo? Você não tem vergonha não, menino?_ perguntou Marília brava.
_ Eu vim pegar as minhas coisas. Não vou demorar.
Renata o olhava seriamente.
_ Marília, você poderia nos dar licença? Quero conversar com o Bruno.
Marília o olhava com ódio. Sentiu vontade de batê-lo. Matheus para ela era como se fosse o seu neto, mexer com Matheus era o mesmo que mexer com ela ou um dos seus filhos e netos.
_ Eu vou sair mesmo. Se eu ficar aqui olhando para esse aí não respondo por mim.
A mulher saiu revoltada.
Renata o olhava fixamente, numa expressão séria. Bruno não tinha coragem para encará-la, por isso manteve o olhar direcionado ao chão.
