Corações refugiados - сердца беженцев = Serdtsa bezhentsev
Voyshelk, Yagor e eu, Patrey nascemos com diferença de alguns meses do mesmo ano, no início da década de 1990, nos blocos de edifícios 62 da vulica Kamiennahorskaja, em Kammenaya Gorka, um bairro a noroeste de Minsk, capital de Belarus, onde os habitantes de diversas profissões, receberam primordialmente residências subsidiadas por um motivo ou outro. Crescemos jogando bola nas praças e nos terrenos baldios do entorno pisoteando a grama que o curto verão tentava fazer brotar ou, montando esculturas com a neve do inverno, que depois desmanchávamos para atirá-la uns nos outros, com os demais garotos da vizinhança. Frequentamos a mesma escola dos arredores, num país que ainda guardava muito do regime socialista soviético, apesar de haver recentemente declarado sua independência logo após o fim da União Soviética, tanto em suas construções, como em muitas de suas políticas daquele regime, especialmente no controle estatal da economia e, no oficialmente não admitido regime ditatorial que, Lukashenko, eleito presidente da república no mesmo ano em que nascemos, começava a implementar. Belarus continuava sendo o último país do mundo onde a URSS parecia nunca ter caído. Ruas mantém os nomes de antigos heróis soviéticos ou homenageiam acontecimentos relevantes do período comunista. O idioma russo continua sendo ensinado nas escolas como segunda língua, e estátuas de Lenin e Stalin sobre pedestais de mármore ornam praças por todo o país. Numa rua próxima à Praça da Independência no centro da capital, o edifício neoclássico e estalinista, continua mantendo seu nome e as funções secretas do Comitê de Segurança do Estado, a KGB, com a mesma estrutura organizacional que tinha quando a nação era uma república soviética. E, desde os dias de nossa infância, ainda exerce atividades de espionagem e de polícia repressora. Para um segmento da população bielorrussa, o passado soviético não é visto como um período de estagnação econômica nem de repressão, uma vez que em Belarus a experiência comunista foi muito melhor do que em outras repúblicas soviéticas. Por conta disso, alguns símbolos soviéticos e a própria KGB não são vistos como ilegítimos, embora haja um crescimento dos que não concordam com essa legitimidade que, continua associada à repressão, à dissidência política e, às prisões de opositores dos governantes.
Naquela época, minha amizade com Voyshelk e Yagor estava imune às questões estatais, éramos apenas garotos nos divertindo sem preocupações outras que não ir bem nos estudos, comportar-se como exigiam nossos pais, e estabelecer relacionamentos cujo futuro nos era totalmente incerto.
Voyshelk era o primogênito na casa do major Alexander Khodkevich, um ex-agente da antiga KGB que tinha em suas funções burocráticas dentro do Comitê a nulidade de uma mesa num gabinete decorado ao estilo estalinista e, nos círculos sociais do terceiro escalão, uma importância e deferência que se resumia a sua patente. Em casa, junto a esposa e filhos, era um déspota que regia suas atitudes pela frustração e pelo álcool. Na infância, Voyashelk imitava orgulhoso a glória que julgava haver em seu pai, impondo-se sobre os garotos com a mesma determinação que o pai lhe impunha os castigos. Com isso, envolvia-se constantemente em brigas, desafiando opositores até mais velhos do que ele e, contando sempre com seu físico musculoso e privilegiado para subjugar os inimigos que ia angariando. Ele e eu nos dávamos relativamente bem, nossas discordâncias nunca chegaram às vias de fato, nem tanto por eu não me atrever a entrar numa contenda corporal com ele, onde certamente levaria a pior, mas pelo meu poder de persuasão, com o qual ele não se atrevia a competir. No fundo, um admirava o outro pelo que lhe faltava na personalidade e, um gostava do outro justamente por esse equilíbrio de forças. Dentro de casa, ele só contava com a companhia de duas irmãs que absolutamente não lhe inspiravam desafios que seu gênio irrequieto exigia. Isso ele compartilhava comigo e com o Yagor.
Yagor Mokhovich era o caçula de um casal de professores universitários, o pai lecionava na faculdade de Direito e a mãe na de Ciências Sociais da Universidade Estatal de Belarus. Desde cedo notava-se seu tino para seguir a profissão do pai, era ele quem assumia a liderança nas discussões entre a garotada, apontando, sem medo de criar inimigos, quem tinha invadido ou transgredido o direito do outro. Na maioria das vezes, conseguia que seus argumentos levassem a uma reconciliação, ou ao menos a um entendimento entre as partes. Minha amizade com ele se estabeleceu pela proximidade de nossos apartamentos, éramos vizinhos de corredor do mesmo bloco da vulica Kamiennahorskaja, e nossos pais também eram amigos. Com o Yagor nunca cheguei a ter uma discussão, por mais boba que fosse. Até nossos brinquedos costumávamos compartilhar e, por eu ser filho único, ele assumiu o papel de irmão que eu não tinha. Os adultos se espantavam como havíamos chegado a essa intimidade que não encontrava obstáculos muitas vezes enfrentados por irmãos legítimos. O que nos diferenciava, era que o Yagor sempre se mostrou mais destemido e ousado do que eu, a quem ele achava que precisava incitar para que as coisas acontecessem. Ele era um garoto grande, espadaúdo, atlético, trazia em sua genética uma mistura de eslavos ocidentais e orientais, o pai polonês e a mãe bielorrussa. Era através de seu porte físico que ele intimidava os garotos que mexiam comigo, e com o qual ele também queria que me sujeitasse as suas vontades. Na maioria das vezes funcionava, ele e eu tínhamos uma maneira muito semelhante de pensar, mas quando discordávamos eu tinha que enfrentar sua presunção fingindo concordar com ele.
Tanto o Voyshelk quanto o Yagor tinham em mim um elo em comum. Talvez, se não fosse eu, eles jamais teriam se tornado amigos. Ambos achavam que, por eu ser filho único e carecer de companhia devido a profissão dos meus pais, dois médicos que quase nunca estavam em casa, cabia a eles me vigiar e controlar meus passos, como se eu fosse uma criança que precisava de uma mão para ser guiada pelo caminho. Como para mim, de fato, era mais importante não me sentir solitário, eu aceitava a interferência deles sem muitos questionamentos. Com o passar dos anos, nós saindo da infância e entrando na adolescência, notei que se criava uma certa competição entre eles para estabelecer quem tinha mais direito a se intrometer nos meus assuntos. Essa competição era fruto dos hormônios que iam dia-a-dia determinando mais as suas atitudes, me transformando numa espécie de vítima de seus ímpetos.
Nos primeiros anos de nossa infância, além das brincadeiras, o que firmou e consolidou nossa amizade foi a dificuldade de aprendizagem que o Voyshelk começou a apresentar na escola. A molecada gozava dele toda vez que a professora pedia para ele ler algo em voz alta ou quando o mandava ao quadro-negro para completar algumas palavras inserindo as sílabas faltantes. Era algo tão simples e banal, mas ele se via diante de um enorme desafio que acabava deixando-o nervoso e errar o exercício. Diante da professora ele se retraía, mas quando a gozação acontecia sem a presença dela, ele partia para cima dos garotos a socos e pontapés, o que lhe rendia uma ida à sala do diretor e um castigo certeiro. Eu nunca ria dele, pelo contrário, ajudava-o a se vingar dos moleques movido pela solidariedade e pelo carinho que tinha para com ele, o que em algumas ocasiões também me levou à sala do diretor, e a carregar por alguns dias alguns hematomas e escoriações pelo corpo, deixados pelos socos que levava. O Yagor só intervinha quando me via envolvido na briga, pois tomava mais as minhas dores do que as do Voyshelk, embora não o admitisse.
Eu era, senão o melhor, um dos primeiros da classe. As letras e palavras, juntamente com os números e contas, eram mais uma distração prazerosa para mim do que uma dificuldade a ser vencida. O Yagor não ficava atrás, seu desempenho sempre alcançava boas notas. Quem ia se distanciando era o Voyshelk, o que muitas vezes, fazia com que se zangasse conosco, como se tivéssemos uma parcela de culpa por suas notas ruins. Convenci o Yagor a me ajudar a melhorar o desempenho escolar do Voyshelk, fazendo as tarefas de casa juntos. A princípio ele relutou um pouco, pois já naquela época percebi que ele tinha ciúmes da minha afinidade com o Voyshelk, que ele sempre afirmava ser maior do que aquela que eu tinha com ele. Porém, ele acabou se dispondo a ajudar, o que levou nós três a passarmos ainda mais tempo juntos. Como os meus pais eram os mais ausentes, costumávamos passar as tardes estudando na minha casa. O Yagor e eu tínhamos dificuldade de entender porque o Voyshelk não conseguia fazer coisas tão simples como somar 5+3 ou trocar as sílabas de palavras de uso cotidiano quando precisava escrevê-las ou lê-las. Quem acabou desvendando o mistério foi minha mãe, nos vendo fazer as tarefas de casa sentados ao redor da mesa da cozinha enquanto ela preparava antecipadamente o jantar antes de seguir para seu plantão no hospital. Ela pediu que o Voyshelk escrevesse umas palavras, que ditou, numa folha de papel que arrancou do meu caderno. Pipoca virou popica e futebol virou tefubol. Em seguida, pediu que ele escrevesse duas frases que estivessem em sua mente – o memino vai coretar o cadelo agora e eu caudo sosse grade cero ser pocilial – foi o que curiosos o Yagor e eu lemos no pedaço de papel.
- Não é assim que se escreve! – exclamou de imediato o Yagor, querendo se exibir mostrando a forma correta de escrever o que o Voyshelk tinha errado.
- Vou quebrar a sua cara, seu bosta! – revidou o Voyshelk, empurrando a caneta e a folha de papel para longe.
- Calma meninos! Não quero brigas aqui dentro da minha casa. – exclamou minha mãe com severidade. – Essa confusão que você faz com as sílabas quando lê e escreve tem nome, sabia? Chama-se dislexia. – esclareceu minha mãe.
- O que é dis... dis... – perguntamos eu e o Voyshelk simultaneamente.
- É um distúrbio de aprendizagem, uma condição que faz você se confundir quando precisa ler ou escrever alguma coisa. A professora de vocês nunca disse nada para você ou aos seus pais, Voy? – questionou ela. Chamar o Voyshelk de Voy tinha sido invenção minha, que ele não gostava de ouvir saindo da boca da molecada, mas que o fazia esboçar um discreto sorriso quando eu o chamava assim.
- Não, senhora Sokolov! Ela nunca disse nada.
- É verdade mãe, não disse não! – confirmei em apoio ao meu amigo, mesmo não tendo certeza disso.
- Vou passar na sua casa antes de ir para o hospital e conversar com sua mãe. Você vai precisar da ajuda de um especialista para compreender e corrigir esses enganos que comete. Não é nada que não se possa consertar, e também não significa que você não seja tão inteligente quanto todos os outros garotos da escola, ok Voy? – como pediatra minha mãe sabia como lidar com crianças, e naquela tarde tive a certeza de que ela passou a ser a segunda pessoa que podia chamá-lo de Voy sem revoltá-lo.
- Quer dizer que ele é doente, senhora Sokolov? – questionou o Yagor.
- Doente é você seu bobão! – explodi em defesa do Voy.
- Vamos controlar esses ânimos e essa boca, meu rapaz? – advertiu minha mãe, recriminando minha atitude.
- Não, Yagor, ele não tem nenhuma doença. Como eu disse, ele é tão inteligente quanto você e o Patrey. – reafirmou minha mãe. Mesmo assim, fiz uma careta na direção do Yagor.
Depois de sugerir aos pais do Voyshelk uma consulta com o neurologista e o psiquiatra do hospital para alguns exames, ela lhes indicou um serviço especializado e multidisciplinar para o tratamento. A dislexia do Voy era de grau leve e, em poucos meses, vimos a progressão de seu desempenho escolar melhorando sensivelmente. Ele nunca chegou a ser um aluno brilhante nem no ensino fundamental nem no secundário, mas o apoio que eu e o Yagor lhe dávamos continuando a fazer as tarefas escolares juntos, permitia que ele avançasse de uma série para a outra.
Nosso trio sofreu um abalo com a chegada de uma família a um dos blocos de apartamentos da vulica Kamiennahorskaja. Entre as duas filhas do casal, Olesya Sackovsckaya, a mais velha, tinha a nossa idade, quinze anos. O Voyshelk e o Yagor a consideravam a mais linda das meninas tanto do condomínio, quanto do colégio e, como todo moleque movido a testosterona naquela idade, pareciam dois idiotas quando na presença dela. Junto com outra galera, eles faziam de tudo para impressioná-la, como pavõezinhos enfunados agitados pela dança do acasalamento.
- Não sei o que vocês veem nessa garota! É bonitinha, eu concordo, mas nada além disso! – respondia eu, quando os dois perguntavam minha opinião.
- Nada além disso? Você deve ser cego, ela é muito da gostosa! – retrucavam eles.
- Ou não gosta de garotas! – aventou o Yagor, com um risinho malicioso. Parti para cima da cara dele como um leão enfurecido. Depois de lhe acertar alguns socos, nenhum na cara como eu queria, pois sua força física e sua agilidade eram superiores a minha, levei uma porrada que fez meu nariz sangrar. Tão logo viu o que tinha feito, aproximou-se de mim querendo me amparar.
- Precisava fazer isso, seu idiota! Olha o que você fez! – berrou o Voy enfurecido, assim que me viu amparando as gotas de sangue que pingavam do meu nariz com a mão toda trêmula.
- Desculpa, Patrey! Não quis te machucar, juro! – exclamou o Yagor.
- Mas machucou, seu imbecil! – e sem esperar por alguma resposta, o Voyshelk o jogou no chão e os dois rolaram trocando socos e pontapés.
- Parem! Vocês dois se transformaram em dois idiotas depois que essa garota chegou aqui. – berrei ensandecido, mais pelo ciúmes que sentia dos dois do que pelo nariz machucado.
Só que a coisa não parou por aí. Olesya tinha o dom de seduzir os moleques, e não foram apenas o Yagor e o Voyshelk que tiveram o gostinho de entrar na bucetinha dela. Em menos de meio ano após sua chegada, uma boa leva dos garotos mais assanhados do condomínio já tinha enfiado suas rolas entre as pernas da garota. Isso não impediu que sua obstinação se voltasse para mim, considerado pelas adolescentes do colégio e do bloco em que morávamos, o garoto mais tesudo. Acabei, sem querer, despertando a inveja da molecada, que me incitava a pegá-la num cantinho escondido qualquer. Acontece que eu não tinha vontade nenhuma de desvendar os mistérios que se escondiam entre as pernas dela, e começava a achar que havia algo de errado comigo, uma vez que era o único a desperdiçar uma chance dessas.
Enquanto isso, crescia a animosidade entre o Voyshelk e o Yagor. Outrora podia-se dizer que eram bons amigos apesar de algumas rusgas e, subitamente, estavam se transformando em dois inimigos depois que ambos descobriram que estavam fodendo a mesma garota e, que cada um achava, estava apaixonada só por sua pessoa. De nada valeu a minha intromissão tentando convencê-los que não eram os únicos a quem a Olesya fica dando bola, e tentando remendar uma amizade que caminhava para o fim. Não demorou muito e nosso trio se separou. Se eu estava em companhia do Voy, o Yagor não se aproximava, se estava com o Yagor, o Voy agia da mesma forma. Os dois unidos no mesmo time fazendo gols contra o time oposto de garotos ficou sendo coisa do passado. Eu fui o que mais sofreu com essa separação. De uma hora para a outra, a estabilidade que eu sentia cercado pelos dois havia desaparecido.
Cerca de dois anos depois, com o advento de uns pelos esparsos crescendo na cara e no peito, juntamente com a exacerbação dos que cresciam desde alguns anos ao redor do pinto, a rebeldia do Voyselk o levou a ter problemas com o pai, que se via diante de um galinho empertigado querendo ciscar em seu terreno. O major Khodkevich não era muito bem quisto entre os vizinhos por sua inclinação fácil à bebida e às suas atitudes intimidadoras que julgava lhe serem de direito por conta da farda e do posto que ocupava no Comitê de Segurança do Estado. Ver seu filho questionando sua autoridade debaixo do mesmo teto, ao deixar seu comportamento de adolescente rebelde sem freios fazer com que o Voyshelk agisse como bem quisesse, foi criando um clima tenso no outrora lar submisso dos Khodkevich.
Eu estava lá naquela tarde fria de janeiro. Enquanto a neve caía abundante diante das janelas da sala, aumentando os quarenta centímetros que cobriam tudo lá fora, o major, o Voy e eu estávamos acomodados diante da televisão para assistir ao jogo da final entre o FC Dinamo Minsk, nosso favorito, e o FC Bate da Vysshaya Liga. As tardes ociosas de domingo eram o pretexto para o major abusar do álcool. Ele já estava alto, rindo à toa ou berrando palavrões sem se importar com as duas filhas menores. O Voy tinha insistido muito comigo para assistirmos ao jogo na casa dele, um lugar que eu não gostava de frequentar por nunca ter me sentido confortável no clima daquela casa. Ao final do primeiro tempo, a mesinha da sala contava com uma garrafa de vodca Syabrovka quase pela metade, além de meia dúzia de latinhas prateadas de 500 mililitros de cerveja Krynitsa já completamente vazias, duas das quais, haviam sido consumidas pelo Voyshelk, enquanto eu continuava me esquivando da permanente oferta do major para que experimentasse ao menos um copo de vodka. Aproveitando o intervalo, o Voy foi em direção ao banheiro para mijar, não sem antes esbarrar na mesinha bamba e derrubar a garrafa de vodka espalhando cacos de vidro e o precioso e fétido líquido pelo chão. A cara do major Khodkevich, já normalmente corada, ganhou um rubor efervescente e uma profusão de impropérios começou a sair de sua boca espumando uma ira incontrolável. Eu cheguei a tremer na poltrona onde estava sentado, não acostumado a presenciar esses ataques de fúria. O – Vá se foder! – exclamado pelo Voyshelk fez o major se erguer do sofá e desferir uma sequência de socos no filho, enquanto de sua boca continuavam espumando insultos que se podia ouvir reverberando por todo edifício. O Voy começou a revidar os socos, e eu, paralisado, não sabia se devia ou não me meter naquela briga entre pai e filho. O quebra-pau assumiu tal proporção, que a mãe do Voy veio tentar conter os ânimos, sem sucesso. Desesperada, ela tentou segurar o marido, em notória vantagem devido ao seu corpanzil contido em um metro e noventa de músculos trabalhados nos exercícios militares, o que o deixou ainda mais furioso. O Voy apanhava, mas uma ira que parecia ter sido cultivada ao longo do tempo, fazia-o acertar o pai com a potência de uma musculatura que também vinha se desenvolvendo a olhos vistos.
- Por favor, parem! Para Voyshelk, para! Berrei apavorado com o desfecho daquilo.
Por alguns segundos, ambos me encararam e suspenderam a contenda. Fiquei momentaneamente aliviado. Mas, assim que o major se aprumou, começou a ofender a esposa e, com a mesma fúria que socava o filho, começou a agredi-la. No primeiro soco que a acertou, ela foi parar no chão, sobre os cacos de vidro da garrafa de vodka, contorcendo-se com a dor dos estilhaços entrando em sua pele. Eu jamais voltei a ver um brilho como aquele que se formou no olhar do Voyshelk, ódio, sede por morte, desejo de tortura, estavam sendo emitidos daquele olhar. Ele voltou a atacar o major, desta vez com a ira redobrada. As meninas surgiram nem sei de onde, choravam e gritavam, a mãe continuava se contorcendo no chão, onde tentei ajudá-la a se levantar e gritava para que os dois parassem. O major estava com o joelho sobre o peito do Voy e desferia socos na cabeça que ele tentava proteger com os braços, ia matá-lo. No meio do caos de objetos que haviam caído no chão e móveis que se moveram do lugar, eu vislumbrei sobre um aparador, um coldre com a Makarov 9mm do major. Nem sei como minhas pernas me levaram até o aparador, minhas mãos tremiam tanto que quase não consegui abrir o botão de pressão que fechava o coldre quando tirei a pistola lá de dentro. O rosto do Voy estava empapado de sangue, a sala começou a girar ao meu redor, meus braços se ergueram como se estivessem sendo guiados por um cérebro alheio ao meu, o estampido seco ecoou para além da sala e arrancou um pedaço de gesso do teto que se espalhou em migalhas sobre o chão. A briga cessou. Todos olhavam na minha direção com os olhares arregalados, eu tremia.
- Basta! – berrei, mesmo não havendo mais gritos a serem superados.
- Solte essa arma, moleque! – gritou enfurecido o major, vindo arrancá-la das minhas mãos.
- Não dê mais um passo ou eu atiro outra vez! – ameacei, embora duvidasse que pudesse apertar novamente o gatilho com os meus dedos moles como estavam.
Quando o major se deteve na expressão do meu rosto, decidiu que era mais prudente ficar onde estava. Em minutos, a polícia dava murros na porta e exigia que ela fosse aberta. O policial corpulento e jovem que se aproximou cautelosamente de mim, foi abrindo meus dedos e tirando a pistola das minhas mãos. Outro se aproximou vendo que o perigo havia acabado e me amparou quando meu corpo começou a inclinar para o lado prestes a desabar no chão. Tudo ao meu redor rodopiava feito um pião, mas eu me recusei a desmaiar, lutava comigo mesmo para permanecer consciente. Fomos levados à chefatura da polícia para dar explicações daquele pandemônio causado no bloco de apartamentos. Enquanto menor de idade, meu pai foi chamado no hospital. Desabei num choro arrependido quando ele me tomou em seus braços, garantindo que tudo sairia bem. Devido a sua patente, um superior foi requisitado do Comitê de Segurança do Estado para acompanhar o depoimento do major que, com aquele ato, estava pondo fim a sua obscura carreira sem o saber.
Havia algum tempo que a postura do major de ressaca vinha desagradando seus superiores dentro do Comitê. Ele ainda representava a velha forma de atuação herdada da KGB, e os novos ares que precisavam ser postos em prática devido às pressões de órgãos estatais e ONGs estrangeiras, além da imprensa internacional, não combinavam com seu modo de agir. A corregedoria do Comitê resolveu, num primeiro tempo, recolhê-lo a um quartel ao qual evitavam chamar de prisão, embora o fosse e, num segundo tempo, afastá-lo definitivamente da sede do Comitê, designando-o a um cargo figurativo num escritório diplomático em Baku no Azerbaijão, até sua aposentadoria. A família não o seguiu, permanecendo no apartamento da vulica Kamiennahorskaja.
Meu pai relutou em permitir que o Voyshelk dormisse em casa naquela noite, disse que eu já havia me metido em confusão demais por aquele dia, mas acabou permitindo por eu ter, ao final de tudo, saído da chefatura de polícia quase como um herói, por ter impedido com minha atitude impensada que uma desgraça maior acontecesse. Eu havia insistido porque seria a única maneira de eu mostrar minha solidariedade com o Voy que, àquela altura, já tinha um olho roxo, o lábio inferior cortado e inchado e a expressão mais sofrida que já tinha visto na cara de alguém. Até perto da meia-noite o Yagor estava conosco. Ele resolvera fazer uma trégua em suas desavenças com o Voyshelk, e levar um pouco de apoio ao amigo de infância. Quando ele se foi, me senti um pouco constrangido de ficar sozinho com o Voy no meu quarto, um lugar tão íntimo onde raramente fiz algum amigo entrar. Eu me despi para vestir o pijama, o Voy também, embora não tivesse trazido um de casa e nem pedido algum emprestado.
- O que está olhando com essa cara apalermada? Você por acaso é viado, nunca viu um pinto? – questionou carrancudo, quando meu olhar se fixou na pesada e peluda rola que pendia entre suas coxas. Eu ia soltar um palavrão, mas acabei concluindo que ele já havia sido xingado e humilhado demais num só dia.
- Não sei! – balbuciei, sem deixar de continuar admirando seu dote.
Ele veio até mim antes de eu vestir qualquer peça do pijama, tocou meu rosto e fixou o olhar no meu. Eu estremeci. Sem desviar o olhar, suas mãos começaram a descer em paralelo dos meus ombros, deslizando sobre meu tórax, alcançando meu ventre, contornando minhas ancas e rumando em direção as minhas nádegas protuberantes, que todos achavam volumosas e sensuais demais para um rapaz. O silêncio dele me assustava. Tinha-o visto fazer coisas inimagináveis naquele dia, e aquele silêncio parecia estar escondendo outras tantas disposições passando por sua mente que estava pretendendo executar, as quais não me atrevi a tentar desvendar. Num puxão, com suas mãos apertando meus glúteos, ele fez meu tronco colar no dele. Nossos rostos estavam tão próximos que eu sentia o ar que ele expelia roçar minha pele. Com um esforço hercúleo semelhante ao que precisei usar para erguer aquela pistola, levei minhas mãos aos ombros dele. Só então reparei como eram largos, fortes e másculos. Ele tocou meus lábios com os seus, quando se lembrou que estavam inchados e doloridos. Soltou um ‘ai’, antes de voltar a me beijar. Eu não sabia o que fazer com as minhas mãos, nem com os meus lábios, nem com o que estava ocasionando uma pirotecnia dentro do meu peito. O Voyshelk moveu sua boca sobre a minha, apesar da dor que aquilo lhe causava. Eu abri a minha e, suavemente, movi meus lábios sobre os dele. Senti como ele aumentou a potência de sua pegada e, lentamente, foi introduzindo a língua quente e molhada na minha boca. Um bailado movia nossas línguas, que se entrelaçavam, se bolinavam lascivamente, enquanto nossos corpos tentavam fazer o mesmo, se roçando em plena nudez alvissareira. A ereção do Voyshelk estava enorme, tocando minhas coxas. Desviei meu olhar para ela. O prepúcio havia desencapado totalmente a glande lustrosa cor de ameixa, deixando-a bem mais saliente do que a grossura do restante da pica. Esta, pomposa e içada feito o braço rijo de uma grua, formava um ângulo de aproximadamente trinta graus com o ventre musculoso dele, emergindo de um grande tufo de pentelhos pretos, entre os quais se camuflava um gigantesco saco contendo seus colhões abarrotados. Seus genitais impressionavam pela harmoniosa beleza e pelas fantasias que inspiravam. Ele viu como eu estava impressionado com eles.
- Você é viado? – perguntou, desta vez sem aquele tom rude na voz.
- Não sei! – respondi novamente, pois naquele instante, eu mal saberia afirmar quem eu era.
Ele tornou a me beijar, um beijo demorado, sensual e abrasador. Deitou-me de bruços na cama, deixando parte das minhas pernas penderem para fora, colocou alguns beijos molhados nas minhas nádegas antes de apartá-las abrindo meu reguinho, e expondo minha rosca anal rosada. A suave aragem que senti soprar sobre as minhas pregas me fez gemer. Nunca havia estado tão vulnerável, era excitante e assustador. Seus beijos entremeados com algumas mordidas sobre a minha pele lisa iam se afunilando em direção ao meu cuzinho, desencadeando espasmos que se intensificavam e fugiam ao meu controle. A avidez com que ele queria chegar até meu orifício anal o fez soltar outro ‘ai’ por ter esquecido que sua boca estava estropiada. Ele projetou a língua sobre a rosquinha para poupar o lábio ferido, movendo-a em círculos sobre as vilosidades macias que se contorciam a cada toque dele. O meu ‘ai’ diferiu do dele por não ser pungente, mas libidinoso. Nunca o toque de alguém havia causado tamanho reboliço no meu corpo como a língua o Voyshelk lambendo meu ânus. Os ‘ais’ pipocavam ora nos meus ora nos lábios dele, expressando tesão no meu caso e dor no dele. Ele se posicionou, guiou a rola em pinceladas ao longo do meu rego e, quando se deteve sobre as pregas, lambuzou-as com o melzinho aquoso que minava de sua uretra. Um impulso vigoroso enfiou a cabeçorra através dos meus esfíncteres, estirando-os e rasgando minhas pregas. Um ‘ai’ desta vez não seria suficiente para se contrapor aquela dor lancinante, como se o gume de uma faca estivesse me cortando a carne, e eu soltei um ganido angustiado.
- O que fazem acordados até tão tarde, já passa de uma da madrugada! Façam silêncio, amanhã terão que ir cedo para o colégio! – reclamou minha mãe do quarto oposto do corredor, nos fazendo lembrar que o mundo não havia parado, nem era só nosso como aquela conjunção fazia crer.
As coxas peludas do Voyshelk também tremiam, ansiosas para consumar a penetração de sua pica sedenta na maciez acolhedora do meu cuzinho apertado. Ele fazia um esforço gigantesco para se controlar, para ir metendo seu cacete aos poucos e gentilmente na minha bunda sem me fazer gritar de dor, e procurando me machucar o mínimo possível, quando seu corpo todo e sua gana irrefreada exigiam que ele fodesse meu buraquinho com a completude do tesão que estava sentindo.
- Patrey, Patrey! Que tesão de cuzinho é esse Patrey? – gemeu ele.
Estocada após estocada o membro dele se avolumava nas minhas entranhas, me preenchendo com a mais maravilhosa sensação que já havia experimentado. Ele estava tão dominado pelo prazer de sentir sua rola agasalhada que continuou estocando, mesmo quando o sacão já batia contra meu reguinho arregaçado. Eu continuava soltando uns ‘ais’ achando que aquela verga nunca ia chegar ao fim, quando ele deixou o peso do corpo dele cair sobre as minhas costas. Senti seus beijos nas minhas omoplatas, no meu cangote, na minha orelha, junto com fungadas e outros sons impudicos que ele deixava escapulir da boca.
- Ai, Voy! – gemi, completamente entregue aos seus caprichos.
Depois de um curto vaivém, ele tirou a rola do meu cuzinho, me arrastou até quase a cabeceira da cama, manteve minhas costas apoiadas e abriu minhas pernas colocando-as sobre seus ombros. Dedou aviltante e dominadoramente meu cuzinho, fixando seu olhar ganancioso na brandura do meu. Pegou novamente a caceta e a meteu em mim, observando detalhadamente minhas expressões faciais se contorcendo de dor e se regozijando de prazer.
- Meu doce e suave Patrey! – sussurrou ele, afundando todo o caralho no meu rabo.
Eu envolvi seu rosto inchado, beijei-o onde estava menos danificado, deslizei meus dedos sobre seu lábio sadio e abracei seu tronco largo e pesado. Ele mergulhava em mim como se estivesse mergulhando numa piscina aquecida num dia de inverno, movendo sensualmente seus quadris e dando ao vaivém uma cadência potente, mas carinhosa. Aquele estado no qual eu estava imerso ia muito além do deslumbramento, era a felicidade pura em seu estado mais impoluto e, o que estava vindo acompanhando o retesar do meu corpo, era o orgasmo, o auge do mais verdadeiro sentimento que já tive pelo Voyshelk. Gozei melando todo meu ventre.
- Fiz você gozar, Patrey? – questionou ele, um pouco empertigado. Respondi com um sorriso e um aceno de cabeça.
O entra e sai da pica dele no meu cu continuava, ora selvagem, ora carinhoso. Ao perceber que ia gozar, ele voltou a fixar o olhar em mim, queria acompanhar minha reação quando sentisse sua porra me umedecendo todo. Talvez também uma forma de me mostrar que era o macho, especialmente pelo que me falou depois, quando terminou de ejacular e tirou a caceta do meu cuzinho.
- Desde quando você é viado? – perguntou, com a cabeça apoiada no meu ombro, onde eu a afagava.
- Desde há pouco quando esse seu caralho enorme pulsava dentro de mim. – respondi. Achei que os minutos de silêncio que se seguiram haviam encerrado suas dúvidas.
- Eu sou macho! – asseverou.
- Eu sei! Acabei de confirmar isso, e ainda estou sentindo o macho maravilhoso que você é, escorrendo pelas minhas vísceras.
- É só para você não ficar imaginando coisas! – completou.
- Não estou imaginando nada. – retruquei.
- É bom mesmo!
Ele não se mudou para a cama ao lado que havíamos improvisado para ele passar a noite. Abraçou-se ao meu corpo e adormeceu.
As semanas seguintes foram um tanto quanto esquisitas, ele e eu parecíamos dois estranhos. Carecíamos de assunto em nossas conversas quase monossilábicas, o que jamais havia faltado até então. Acho que ambos não queriam falar sobre aquela noite, sobre o que sentimos, sobre algo que não estávamos compreendendo direito. O Yagor chegou a pensar que havíamos tido uma discussão. Com ambos negando enfaticamente, ele começou a desconfiar daquele silêncio sem causa.
- Se não brigaram, por que estão tão esquisitos um com o outro? – quis saber.
- Isso não é da sua conta, nem da de ninguém! – respondeu o Voyshelk
- Vocês transaram! – persistiu o Yagor.
- Vou quebrar a sua cara se tornar a repetir uma coisa dessas! – ameaçou o Voyshelk, agarrando o pescoço do Yagor.
- Vocês dois querem parar com essa violência! Seus idiotas! Basta uma simples palavrinha para um ameaçar de quebrar a cara do outro, coisa ridícula! – exclamei intervindo.
- Então manda seu amiguinho calar essa boca! – explodiu o Voy.
- Está me parecendo que você é o amiguinho do Patrey, e não eu! – revidou o Yagor.
- Parem! Que saco! – berrei. O Voyshelk saiu pisando firme para não partir para as vias de fato. – Contente agora? – questionei, ao que Yagor deu de ombros.
- Vocês dormiram juntos naquele dia da confusão, não foi? – perguntou, como se só lhe faltasse uma palavra para confirmar suas suspeitas.
- Não! – respondi. Ele não acreditou.
O Voyshelk e eu retomamos nossas conversas aos poucos, assim como alguns encontros clandestinos. Ele me chamava para caminhadas que iam dar nas margens da represa de Dradzy a pouco mais de sete quilômetros de casa, onde transávamos sob as copas de abetos; a uma ruina de uma velha fábrica abandonada, onde me enrabava entre as janelas em arco, sem vidros, no chão de basalto frio; ou sob os vãos das arquibancadas de concreto da quadra poliesportiva do colégio, quando ninguém mais circulava por lá, ele podia instalar sua jeba no fundo da minha rosquinha, enquanto se deixava acariciar como um cãozinho dengoso.
- Você vai se apaixonar por mim algum dia? – perguntei certa ocasião, com ele dentro de mim.
- Já estou apaixonado por você. – respondeu
- Se eu te pedir, vai ficar comigo?
- Não tenho uma resposta para essa pergunta. – respondeu. Para compensar meu olhar perdido, ele me beijou. E, me fez outra, minutos depois.
- Você já se deitou com o Yagor?
- Por que está me perguntando isso agora?
- Responda! Deixou ele te enrabar?
- Não tenho uma resposta para essa pergunta. – toda a caminhada até em casa aconteceu sem trocarmos uma palavra sequer.
Voyshelk estava com dezoito anos, idade em que éramos recrutados compulsoriamente para o serviço militar, e ele havia decidido que seguiria essa carreira quando findasse o período compulsório, além de começar a fumar e me apresentar uma garota chamada Nastya como sua namorada.
- Por que quer que eu saiba dessas suas decisões ridículas? – perguntei.
- Somos amigos, queria dividir as novidades com você.
- Mentira! Quer ficar longe de mim porque tem medo de ficar ao lado de um gay, me afasta com esse maldito cheiro de cigarro porque sabe que eu detesto, e essa pobre infeliz, sabe que está sendo usada para me fazer ciúmes? – devolvi. Eu senti que o estava perdendo e, por mais confuso e dividido que eu estivesse com relação ao que sentia por ele e pelo Yagor, achei que ele estava sendo injusto comigo.
- Agora o ridículo é você! – revidou. Não nos falamos por algumas semanas.
Ao contrário do Voyshelk, que nunca tinha expressado ou deixado transparecer o que sentia por mim, o Yagor sempre se posicionou como um irmão. Não sei se por sermos vizinhos de porta desde o nascimento, termos frequentado a casa um do outro desde que nos firmamos sobre nossas próprias pernas, termos muitas e muitas vezes dormido ora no meu quarto ora no dele, termos compartilhado nossos brinquedos como nunca fizemos com outras crianças e, crescido conhecendo todos os fatos e detalhes da vida um do outro, a questão era que parecia não haver espaço para outros naquele nosso mundo. Mesmo a participação do Voyshelk nesse relacionamento pareceu ser um empecilho na cumplicidade que tínhamos. Havia sim, uma certa competição entre os dois, quando crianças, pela minha atenção, mas nada que gerasse tensão ou desentendimentos. Após a puberdade, as coisas foram mudando sutilmente, a ponto de serem quase imperceptíveis até para nós mesmos. Os poucos meses que nos distanciavam em idade não conseguiam explicar o porquê de eu aos quatorze anos ainda não ter chegado nela, enquanto o Voyshelk e o Yagor vivenciavam a mudança do tom de voz, viam suas virilhas sendo povoadas por pentelhos cada vez mais densos, terem a musculatura de seus corpos se tornando vigorosa e, se confrontarem com suas picas experimentando vexatórias ereções em público e acordarem no meio da noite liberando poluções cada vez mais volumosas. Com as diferenças físicas entre nós três se tornando cada vez mais nítidas, eu, mesmo envergonhado, enchia meus pais de perguntas, uma vez que a temática predileta da garotada no colégio versava sobre sexo e seus mistérios. As respostas às minhas perguntas eram quase sempre as mesmas, me asseguravam que não havia nada de anormal comigo, que meninos em climas frios entravam na puberdade mais tardiamente, que eu não precisava ficar tão ansioso com isso que tudo vinha em seu devido tempo, e daí por diante. Embora eu acreditasse neles, afinal eram meus pais e ainda por cima médicos, não me conformava de ainda parecer um menininho enquanto todos pareciam estar se transformando em homens.
Não me bastassem esses questionamentos, o Yagor e seus hormônios circulando por aquele corpão cada dia mais sensual, deu para reparar na textura e no cheiro da minha pele, na bundinha roliça que sempre esteve ali deixando as calças apertadas naquela região que, até então nunca lhe tinha despertado a curiosidade, sem contar os traços suaves do meu rosto, a forma das minhas coxas, a inocência dos pequenos mamilos, tudo de repente, virou alvo de suas observações e comentários. Só comecei a me incomodar quando percebi que aqueles esbarrões e toques frequentes que ele me dava não tinham nada de fortuitos, mas eram fruto do tesão que sentia pelo meu corpo, e os responsáveis pelas ereções que aconteciam nessas ocasiões. Numa tarde em que fui fazer as tarefas escolares na casa dele, cheguei a flagrá-lo se masturbando no banheiro depois de ficar me abraçando e apertando numas brincadeiras que dera para fazer comigo. Tudo não passava disso até a chegada da Osleya, quando ele e o Voyshelk tiveram suas primeiras experiências sexuais, e acirraram aquela competição antiga que havia entre eles.
O Yagor pareceu ter adivinhado o que houve entre o Voyshelk e eu, tanto que nos lançou isso na cara, esperando uma confirmação que não veio de nenhuma das partes. Ele havia encasquetado com isso e ficava me questionando porque eu não deixava ele me tocar sabendo do tesão que sentia por mim, enquanto deixava o Voyshelk me foder como bem entendesse.
- Está maluco! De onde você tirou esse absurdo de que eu deixo o Voy me foder? Não fique achando que todo mundo é tarado como você, que fica passando a mão na gente e depois corre para o banheiro para bater punheta. – afirmei, durante mais uma discussão sobre aquela noite que passei com o Voyshelk.
- Não adianta vocês negarem! Eu sei que rolou sacanagem entre vocês, e continua rolando! – asseverou.
- Sacanagem é o que tem nessa sua mente pervertida!
- Então me prova que ele nunca fez nada com você!
- Como é que se prova uma coisa que nunca aconteceu? Pirou?
- Eu também quero transar com você! O Vitan enrabou o Bogdan, aquele bundudinho com furo no queixo da secunda série, durante aquela excursão do colégio até o complexo de castelos de Mir e Niazviz, e disse que um cuzinho é bem mais apertado que uma buceta. Se você deu para Voy nada mais justo que dê para mim também, quero saber como é. – disparou suas sandices.
- Você é doente Yagor! Vá se tratar! Quando você começou a andar com esse Vitan se transformou num tarado. Detesto esse sujeito, não fala de outra coisa que não sexo. E, você está ficando igualzinho a ele. Vocês querem transar com as garotas e os carinhas gays só para depois ficarem se gabando e contando para todos no colégio quem comeu quem. – revidei. – Não fique achando que vou cair na boca do povo, só porque você quer enfiar essa geringonça em tudo que é buraco. – emendei.
- Se você deixar eu fazer em você, juro que não conto para ninguém. - asseverou
- Vou deixar de ser seu amigo se você voltar a tocar nesse assunto, isso eu estou jurando! Entendeu? – devolvi zangado.
- Você sempre gostou mais do Voy do que de mim, mas sempre fui eu quem mais ficou do seu lado quando invocavam com você, não se esqueça disso! – exclamou.
- E por isso você acha que pode ficar me cobrando sexo em troca do que fez por mim? Eu nunca gostei mais do Voy do que de você, gosto dos dois do mesmo jeito.
- Se gosta de mim como diz, que custa deixar eu fazer em você? – insistiu.
- Nunca vou deixar você fazer nada comigo! – retruquei. Eu tinha dezessete anos então, mas já devia saber que – nunca – é uma palavra que se deve usar com parcimônia e sabedoria, não foi o que fiz naquela época.
O Voyshelk e eu andávamos meio estremecidos depois que ele veio com aquele monte de novidades para cima de mim. Haviam se passado alguns meses e chegado a véspera de sua partida para o serviço militar, e o fim do nosso último ano letivo do ensino secundário. Tive medo de que ele partisse sem me dizer um até breve, mas não o procurei, pois tinha tentado a algumas semanas indo à casa dele, mas a mãe me disse que ele tinha saído com a Nastya. Vai ver estão mesmo namorando sério, pensei comigo, enciumado. Ele indo servir o exército em Hrodna a quase trezentos quilômetros de casa, somado a sua determinação de continuar seguindo a carreira militar, faria com que não nos víssemos mais ou, quando muito, se ele viesse visitar a mãe e as irmãs em suas folgas por alguns poucos minutos, uma vez que dedicaria o restante para ficar na companhia da Nastya.
- Pode vir aqui em casa esta tarde? – perguntou, ao me ligar no dia anterior a sua partida.
- Claro! Não sei se sua mãe te falou, mas eu estive aí umas semanas atrás.
- Falou sim! Às 19:00 horas está bom para você?
- Está!
- Então te espero!
- Ok!
Ele sabia que o procurei e não me procurou, custava ter ligado, pensei comigo. Marcando hora como se fosse uma consulta médica ou algo parecido, entre amigos existe essa pontualidade, questionei meus botões. Tanto tempo sem nos vermos e ele mal usa uma dúzia de palavras para falar comigo, isso depois de eu ter me entregado a ele não tanto quanto desejava, mas o bastante para não nos tratarmos como estranhos. Fui para o encontro desesperançoso.
Ele estava sozinho em casa, as irmãs e mãe tinham ido visitar uma tia por parte do major. A neve tardia de abril, suja e acinzentada, ainda cobria as calçadas, mesmo assim ele estava sem camisa, enfiado num moletom surrado amarrado com um nó frouxo na cintura, o que permitia ver as duas depressões que partiam da parte baixa de seu abdômen em direção à virilha. A calefação ligada me obrigou a tirar o casaco leve que trazia por baixo da jaqueta impermeável. Da cozinha vinha um cheiro apetitoso, de algo provavelmente assado. Foi para lá que ele me conduziu depois que me livrei dos casacos pesados.
- Hummm, que cheiro delicioso! Você não disse que sua mãe não está em casa? – perguntei
- E não está! Acha que sou incapaz de preparar um jantar?
- Não, não é isso, só fiquei surpreso. – ele me parecia amistoso, alguém que oferece um jantar para um amigo íntimo antes de se ausentar por muito tempo. – É amanhã que você parte?
- Sim, no trem do meio da tarde. – respondeu.
- Serão dezoito meses. Volte depois disso, não insista em fazer a carreira militar, há tantas opções melhores.
- Melhores para quem? Esqueceu que sou disléxico, que a faculdade está longe de ser uma opção no meu caso? – questionou.
- Melhor para você, para o seu futuro! A sua dislexia praticamente desapareceu com o tratamento, e nunca te impediu de acompanhar os outros estudantes. Por que seria diferente na faculdade?
- Já tomei minha decisão!
- Não sei como vou me virar sem você! – já não havia necessidade de esconder meus sentimentos, confusos e divididos que fossem.
- Você tem o Yagor! Trate de se virar com ele.
- Não faz isso com a gente, por favor? – enxuguei os olhos, para não parecer um frouxo.
- Eu te chamei aqui para uma confraternização de despedida, não para você ficar me enchendo o saco. – o tom rude que emprestou à voz nada mais era que a dor que aquela separação estava lhe causando.
- Está bem, não vou ficar te enchendo.
A mesa num canto da cozinha, junto a uma janela que dava vista para o recém-renomeado parque Hugo Cháveza estava caprichosamente posta, com um pequeno arranjo das primeiras flores da primavera e duas velas grossas sobre suportes de vidro. Eu não havia reparado nela até o Voyshelk tirar do forno duas costeletas douradas cercadas de algumas batatas coradas e legumes assados numa travessa refratária que encaixou no centro da mesa. Ele me sorriu quando a deixou ali e sugeriu que eu abrisse a garrafa de vinho que estava próxima à pia.
- Obrigado! – balbuciei, não queria chorar, mas aquilo tudo preparado para mim tornava difícil resistir.
- Pelo quê?
- Por isso tudo, por você. – respondi.
Falamos pouco durante o jantar, outra vez parecia que estávamos sem assunto, quando havia tanto a ser dito. De quando em quando, olhávamos calados pela janela, sem o mencionar, ambos se recordavam das inúmeras vezes em que brincamos naquele parque quando não havia problemas como os de agora. Ajudei-o com a louça ao final do jantar. Ele ia ensaboando e lavando enquanto eu as secava. Suas costas largas e musculosas estavam voltadas para mim, eu as queria em meus braços. Larguei a toalha num canto e me aproximei dele. Toquei seus ombros e os beijei, deixando as mãos deslizar suavemente sobre seu tronco viril. Ele continuava lavando a louça como se não estivesse sentindo minhas mãos ardendo contra a pele dele. Eu não sabia o que dizer, pedir que me beijasse, pedir que me fodesse, confessar que o amava sem saber se isso era realmente verdade, tudo parecia sem sentido, e expressar isso em palavras me faria parecer um tolo imaturo. Era melhor deixar minhas mãos falando por mim, ao menos seria recompensado por aquela sensação maravilhosa de poder acaricia-lo. Porém, subitamente, ele largou tudo que tinha nas mãos dentro da pia, virou-se na minha direção, me agarrou com as mãos molhadas e me beijou com fúria e paixão, inclinando-me sobre o balcão da pia e arrancando minhas roupas numa sanha desesperada. Tomou-me em seus braços quando eu já estava nu e comprimiu minhas costas contra a parede, mordeu meus mamilos com força e os tracionou até eu gemer de dor. Eu me agarrava ao seu pescoço e firmava minhas pernas ao redor da cintura dele, como se estivesse montado num cavalo. Uma de minhas mãos entrou com os dedos abertos em sua cabeleira sedosa e trazia sua boca para meus peitinhos como se eu estivesse dando de mamar a um bebê. Comecei a gemer. O Voyshelk enfiou um dedo no meu cuzinho e eu gani. Com passos firmes ele me levou ao seu quarto, deslizei pelo corpo sarado até o chão diante dele. Puxei a calça de moletom para baixo, ele estava sem cueca e o caralhão duro que saltou para fora despencou no meu rosto. Segurei-o com delicadeza e coloquei a cabeçorra na boca. Encarei-o com um olhar que misturava o tesão que estava sentindo por ter aquela rola na boca e a súplica para que nunca me abandonasse. Trabalhei devota e demoradamente aquele pinto e o sacão, lambendo, mamando e mordiscando a pele quente e excitada dele. O Voyshelk grunhia, segurava a respiração para adiar o gozo, agarrava minha cabeça e a enfiava na virilha, metendo o cacetão no fundo da minha garganta. Repentinamente a porra veio, o primeiro jato espesso se esparramou pelo meu rosto; do segundo em diante, minha boca amparou todos e eu os engoli como se disso dependesse minha vida. Não era o suficiente, nem para ele nem para mim. Despi-me às pressas, simplesmente atirando as peças ao chão, eu queria que ele me visse completamente nu, que me desejasse como eu o desejava. Lancei-me em seus braços e ele acariciou meu corpo com um sentimento de posse. Puxei-o para cima de mim ao me sentar na cama, beijando-o e acariciando-o. Ele se deixou cair sobre mim, e eu fui abrindo as pernas, erguendo-as no ar, para que ele soubesse o caminho que eu queria que ele trilhasse. Ele apertava meu tronco contra o dele, esfregava o cacete entre as bandas da minha bunda, atiçando meu tesão já incendiado. Eu arfava, minha pele em contato com a dele parecia estar em brasa. Ele deu uma estocada bruta e meteu o caralho no meu cuzinho, eu gani e ele gemeu. Pensei que fosse me foder com a mesma brutalidade que me penetrou, mas, bastou a pica estar toda entalada em mim, para que ele acariciasse meu rosto e, lentamente, começasse a friccionar sua carne intumescida e dura através do meu anelzinho apertado. Eu me abria como o desabrochar de uma flor contribuindo para que o vaivém do cacete varando meus esfíncteres constritos aguçasse o tesão dele. O Voyshelk me enrabava com cuidado, sem aquele furor que usou na penetração, eu quase não precisava gemer, basta respirar na mesma cadência e intensidade com que a pica se movia no meu cu. O tesão e o prazer eram tão intensos, que minhas mãos se fechavam em seus flancos cravando os dedos nos músculos rijos. Achei que não poderia haver prazer mais completo, mas meu gozo fluindo livremente do meu pinto, me mostrou que não. Ver o sorriso discreto no semblante do Voyshelk se formando quando me viu gozando coroou meu prazer. Ele ejaculou minutos depois, tanta porra espessa e morna, que nem parecia fazer menos de meia hora que ele despejara igual volume na minha boca.
Não o deixei sair de cima de mim, fiquei abraçado ao seu tronco e acariciando sua nuca com as pontas dos dedos, ele se deixou entregue aos meus afagos, permanecendo com a cabeça apoiada no meu ombro e o corpão se encaixando em cada uma das curvas do meu. Tudo mergulhou em silêncio. Ouvia-se lá fora, ao longe, um ou outro carro passando, uma porta batendo no apartamento ao lado, vozes abafadas, uma televisão ligada, tudo chegando a nós como se fossem sons vindos de outra galáxia. De real, só havia o ruído cicioso das nossas respirações, e o tum-tum rítmico dos nossos corações.
- Você usa camisinha quando transa com a Nastya? – questionei.
- Sim!
- Sempre?
- Sim!
- Você nunca usou camisinha comigo. – afirmei
- Por que, gostaria que eu tivesse usado? – indagou, sua voz rouca me indicou que estava quase cochilando nos meus braços.
- Não! Gosto do seu sêmen! - respondi
- Patrey, Ah! Patrey! – os olhos dele estavam úmidos quando ergueu por um momento a cabeça e me encarou.
Acordamos no meio da manhã, fizera frio durante a noite e nossos corpos permaneceram enrodilhados, quando abri os olhos, o braço do Voyshelk me mantinha junto dele, e o movimento sutil das minhas pernas me indicou que a cabeçorra da rola dele estava dentro do meu cu.
- Vista-se e vá para casa! – ordenou ele, rude, como se a noite anterior não tivesse existido.
- Quero te acompanhar até a estação.
- Não! Vá embora! – obedeci. Não quis que uma discussão fosse a lembrança que ele levaria de mim.
Ao chegar em casa, o Yagor veio ter comigo. Ele havia deixado a porta do apartamento deles entreaberta, só para me interceptar quando passasse por ela.
- Onde foi que você se meteu? – eu estava triste demais para iniciar uma briga.
- Fui me despedir do Voyshelk! – confessei, embora ele já suspeitasse disso.
- Desde o início da noite de ontem? Despedida longa, não acha?
- Eu teria ficado mais tempo tentando convencê-lo a não ir, se ele não tivesse me escorraçado. – respondi.
- Ao menos juízo ele tem! – retrucou ele.
- Você não vai se despedir dele? – inquiri
- Vou! Combinamos que eu o acompanharia até a estação ferroviária esta tarde. – revelou.
- Vou com você! – exclamei animado.
- Não, não vai! Já basta o que fizeram para se despedir. Ademais, ele me recomendou que não o levasse comigo. – afirmou.
- Isso é invenção sua, o Voy jamais teria dito algo assim. – certeza do que estava afirmando eu não tinha, nos últimos tempos eu já não conhecia mais o Voy como antigamente.
- Pode estar certo disso!
- Então fale com ele, peça para não ir. – pedi
- Ele precisa ir, ele foi convocado a servir o exército, não foi um convite do qual se pode declinar se lhe der na telha. – retrucou.
- Eu sei! Mas quando terminarem os 18 meses compulsórios, peça para ele não se engajar no exército, peça para ele voltar. Peça não, insista, intime! – supliquei.
- Não! Ele precisa seguir o caminho dele. – devolveu o Yagor.
- Você está feliz com isso, não está? Era tudo o que você sempre quis, tirar ele do seu caminho! – acusei.
- Ele nunca esteve no meu caminho, você bem sabe disso! – exclamou confiante. A segurança com a qual ele fez essa afirmação me espantou.
- O que vai ser de nós sem ele? – subitamente um flash do rosto do Voyshlek com os olhos marejados quando confessei que gostava do esperma dele me veio à mente. Não consegui mais segurar aquele nó que veio apertando minha garganta desde que deixei a casa do Voyshelk.
- Você vai se acostumar! – respondeu, como se isso realmente pudesse acontecer.
O Yagor me abraçou tão apertado que mal conseguia respirar. O peito largo dele era, sem dúvida, um abrigo seguro onde eu não precisava fingir, onde não precisava mostrar que era forte, onde eu me sentia amado. Ele me deixou chorar ali mesmo no corredor, afagando meu rosto e secando minhas lágrimas.
- Vem comigo! Vou fazer com você o mesmo que o Voy fez a noite toda, e você vai ver que não está sozinho. – eu não consegui acreditar no que estava ouvindo.
- Eu odeio você, Yagor! Odeio! – exclamei furioso, livrando-me de seus braços e socando seu tórax, antes de correr em direção à porta de casa.
- Não odeia, não! Você me ama! – ouvi-o afirmando enquanto destrancava a porta.
Fiquei semanas sentindo a dor e o vazio da partida do Voyshelk. Pensei que ele fosse me ligar ou me mandar um e-mail contando como era a vida no quartel, como eu havia pedido, mas ele não o fez. E, eu sabia, não o faria nem com o passar dos meses.
No final daquele verão, o Yagor e eu entramos na faculdade, ele em direito e eu em publicidade e jornalismo na Universidade Estatal de Belarus. Nossas vidas pareciam ter ganho novo impulso, a adolescência com suas conturbações e incertezas havia ficado no passado, assim como uma miríade de recordações.
Fui para a cama com o Yagor na madrugada de Ano Novo daquele ano. Tínhamos nos juntado aos milhares de pessoas que ocuparam a Praça da Independência para assistir ao espetáculo de fogos de artifício e brindar a chegada do novo ano. Estávamos cercados de outros amigos, mas à meia-noite, quando se abraçavam e pulavam, o Yagor me apertou contra seu peito e colou sua boca à minha, lascivo e sem pudores. Entre risos e comemorações, todos acharam que aquilo não passava de um arroubo provocado pela vodka e pelo champanhe. Ele e eu sabíamos que não. Assim como eu sabia que aquele brilho em seu olhar, enquanto caminhávamos para casa sob os flocos de neve caindo junto com um vento de regelar a alma, também não podia ser imputado ao álcool. Fomos diretamente para a cama após uma ducha rápida sem nos preocuparmos em cobrir nossos corpos com alguma vestimenta. Veio o primeiro beijo, depois o segundo, outros e outros, tórridos, lascivos, com nossas línguas enlaçadas numa dança impudica e úmida. As mãos potentes do Yagor se apossavam do meu corpo que eu lhe oferecia voluntária e sensualmente, vendo crescer seu tesão por mim e aquele caralhão grosso que estava entre suas coxas musculosas. Ele afastava o corpo um pouco do meu para que eu visse seu gigantesco estado priápico e me animasse a satisfazer seu apetite. Quando coloquei aquela verga pesada toda melada na boca, sabia que já devia ter feito isso muito antes. Me empenhei como nunca em recompensar o tempo perdido, fazendo um boquete demorado naquela pica suculenta, cujo prepúcio cobria dois terços da imensa cabeçorra arroxeada. Ao fechar a mão para segurá-la, senti as rugosidades que as veias saltadas formavam sobre a pele que eu retraia com delicadeza, transportando o sangue que irrigava e enrijecia aquela tora latejante. Ele se deixava manipular, chupar, lamber, mordiscar, gemendo e bufando feito touro, por minha boca aveludada e macia que mal conseguia engolir a ponta daquela jeba. O saco que há pouco, quando ele se despiu, tinha o formato e o tamanho de uma bola de tênis, com o calor das minhas mãos o acariciando, relaxou e desceu, formando um imenso pêndulo onde os dois testículos cavalares pendiam em alturas diferentes. Coloquei cada um deles na boca, e os massageei com a impetuosidade e o tesão da minha língua. Meu troféu pelo desempenho libidinoso, foi uma farta e deliciosa esporrada que injetou o esperma esbranquiçado e espesso dele diretamente na minha garganta. As coxas dele, nas quais eu apoiava minhas mãos, estremeceram quando o primeiro jato jorrou da uretra, e ele soltou um urro, encarando satisfeito como eu engolia seu néctar viril.
- Patrey, meu tesão! Eu sempre soube que no dia em que isso fosse acontecer, você saborearia o leite do teu macho, como um bezerro faminto. – murmurou ele.
O Yagor passou um bom tempo bolinando minha bunda, apertando meus glúteos, abrindo as bandas, mordendo as nádegas, lambendo a rosquinha rosada que se escondia bem lá fundo do rego estreito e carnudo, enfiando e girando o dedo devasso na portinha do meu cu. Deitado de bruços, meu corpo se contorcia de tanto tesão, me fazendo mover sensualmente as pernas, empinar a bunda e oferecer meu cuzinho feito uma cadela no cio. A cabeça melada do cacetão estava apontada diretamente sobre minha fendinha anal corrugada e, num impulso abrupto, o Yagor a meteu em mim. Gani mordendo o travesseiro e, enquanto rebolava feito uma gazela, ele foi atolando seu membro poderoso nas minhas entranhas. Quanto mais ele me preenchia, mais eu gania, e ele me cobria como todo bom macho reprodutor faz. Antes mesmo de ele terminar de meter a rola toda no meu cu, eu gozei em meio àquela dor lancinante e o prazer de estar unido ao corpo do meu macho. Ele parecia saber do prazer que estava me proporcionando, algo que há muito ele queria fazer, pois sabia do poder que aquilo tinha para nos unir. Deixei que ele liberasse todo o tesão que sentia por mim, deixei que me arregaçasse, que me deixasse marcado como se fosse uma rês cuja posse lhe pertencia.
- Você é meu, Patrey! É só meu, sou seu macho! Vou inseminar esse teu cuzinho delicioso como você nunca foi inseminado. – grunhia ele, estocando meu rabo e socando minha próstata até eu gemer de dor. Ele estava me provando que mesmo com o Voyshelk distante e desaparecido, a competição pelo meu cu continuava.
- Você nunca precisou duvidar disso, nunca! Você sempre foi meu macho, e mais, sempre foi o amor da minha vida. – confessei, pela primeira vez.
- Eu não duvidava! Mas o tesão que sinto por você me obriga a deixar isso expresso não apenas em palavras, mas no que sinto por você, e na chancela da minha porra. – devolveu ele, liberando o jorro potente de esperma em jatos mornos sobre minha mucosa anal esfolada, juntamente com um som rouco que emergia de sua garganta.
O Yagor e eu assumimos nossa relação que, contudo, permaneceu escondida à exceção de algumas poucas pessoas, entre elas nossos pais. Em Belarus a atividade homossexual é legalizada, embora continue altamente estigmatizada, e vista por grande parte da população como uma doença psiquiátrica. Os direitos LGBT continuam severamente limitados, discriminação, violência e abuso, fazem parte do cotidiano e não são punidos, o que leva muitos gays a esconderem sua condição, como meio de se protegerem. Foi pelo que o Yagor e eu optamos, embora ele não se mostrasse tão omisso nesse assunto quanto o Voyshelk. Sei que boa parte dessa postura vem do ciúme que sente de mim, da necessidade que tem de deixar claro que não há espaço para outro macho em se tratando de mim. Muitas vezes me vejo na necessidade de conter sua exaltação, quando, como um galo empertigado, ouriça a crista e estufa o peito ante um incauto que me passe uma cantada.
Eu sonhava com nossa união, achava que ela seria naturalmente efetivada quando estivéssemos formados e engajados em nossas profissões. Todas as transas que vinham acontecendo entre nós teriam um objetivo maior, assim pensava eu. Porém, pouco depois de obtermos nossos diplomas, vi que isso não ia acontecer tão naturalmente quanto eu desejava, que teríamos que construir um caminho para isso acontecer. Quis o destino que não apenas uma bifurcação se apresentasse como única opção do caminho a seguir, mas várias.
Meus pais estavam descontentes com suas carreiras, a economia estatizada do país, os remunerava com salários não condizentes com suas capacidades e formações e nas longas e exaustivas jornadas de trabalho. Não teriam mais muitas décadas pela frente para conseguirem uma estabilidade garantida na velhice. Decidiram deixar o país e se mudar para a Alemanha, onde salários muitos superiores e jornadas menos estafantes já tinham levado alguns de seus colegas. Nunca me separei deles, e não estava disposto a fazê-lo agora, especialmente, por que o Yagor havia se engajado numa organização internacional de direitos humanos com sede na França e tentava, há semanas, me convencer a acompanhá-lo. Eu havia recentemente conseguido meu primeiro emprego num complexo de mídias canadense, que englobava televisão, imprensa escrita e mídias digitais, como correspondente internacional de assuntos ligados aos países do leste europeu. Tanto o domínio do idioma russo quanto a facilidade de circulação pelas ex-repúblicas soviéticas, me abriu as portas para esse emprego. No entanto, o que me fez tomar uma decisão frente a tantos caminhos, foi o fato de eu sentir que o Yagor andava muito mais empolgado com suas causas políticas do que com o nosso amor. Tentei até compreender seu ponto de vista, era a primeira vez que ele tinha a oportunidade de defender seus pontos de vista e os direitos alheios como sempre fez durante todo o tempo em que eu o conhecia. Mas, sentir que isso aparentemente estava acima do que sentíamos um pelo outro, doeu e me levou a me mudar com meus pais para a Alemanha. Ele garantiu que, mesmo assim, estaríamos próximos um do outro, que nem a distância nem suas atividades o afastariam de mim, que uma vez estabilizado, ele e eu teríamos toda uma vida pela frente para vivermos nosso amor num pais mais livre e tolerante. As minhas certezas não eram tão concretas quanto as dele, mas eu precisava seguir em frente. Ficar em Belarus já não fazia mais nenhum sentido para mim, tudo que me ligava àquele lugar já não existia mais.
Como eu havia suspeitado, aos poucos o Yagor e eu fomos nos afastando, envolvidos com nossas ocupações e pela falta de conjunção dos nossos corpos que ia, pouco a pouco, esfacelando nossa união. Conheci outros homens, mais presentes, mais interessados no meu carinho, mais dispostos a me mostrar o quanto seu sexo podia fazer por mim e pelos meus desejos. O estranho é que não conseguia me fixar em nenhum deles. Vivia sempre procurando algo que eles não tinham, ou não sabiam como dar. Poucos desses relacionamentos duraram mais do que um ou dois anos, e eu me tornei um errante à procura de algo que nem mesmo eu sabia bem o que era.
O Yagor passava pelo mesmo dilema, embora nunca me deixasse saber de seus relacionamentos que, inclusive, jurava não existirem. Conhecendo-o como eu o conhecia, nunca acreditei nele. Uma de suas maiores dificuldades, desde a puberdade, era manter aquele cacetão dentro da calça e longe de uma fenda acolhedora. Afora todas essas intromissões em nossas vidas, continuávamos a manter contato, em trocas de e-mail esporádicas, em datas comemorativas, em ocasiões de extrema carência que nos levavam a percorrer quilômetros para viabilizar uma foda que depois de consumada, se juntava às outras recordações do passado. Em outras ocasiões, nossos caminhos se cruzavam por conta de nossas profissões, tendo eu algumas vezes entrevistado o Yagor como líder oposicionista de alguma política opressora nos países do leste europeu, ou dado visibilidade aos assuntos que defendia em meus artigos jornalísticos. Com isso, o elo entre nós nunca se quebrou, apesar de não ser o que ambos almejavam.
Eu vinha fazendo uma série de reportagens, até com entradas ao vivo nos telejornais, e escrevendo artigos dando um panorama da instabilidade política pela qual Belarus vinha passando desde que Sviatlana Tsikhanouskaya iniciou a unificação da oposição ao presidente, exigindo sua saída do poder que foi conquistando com sucessivos aumentos de mandato e eleições fraudulentas perpetuando-o no cargo há 26 anos, e dando ao governo ares de ditadura. Marchas e protestos traziam milhares de pessoas às ruas, exigindo democracia, e eram duramente reprimidas por tropas militares em diversos pontos do país. Essa inquietação social me levava a fazer três, até quatro voos mensais até Minsk, para acompanhar, registrar e dar visibilidade aos protestos.
O Yagor também voltara a Minsk, mas para fomentar os rebeldes, espalhar as falcatruas e corrupções no governo, além tomar pessoalmente parte da organização dos protestos de rua. Ele me enviara um e-mail pouco antes do seu voo de Paris para Minsk, me pedindo para cobrir os protestos e torná-los visíveis à comunidade internacional. Com o aval dos meus empregadores que disputavam com outras mídias o ineditismo e a exclusividade das informações, parti para mais uma jornada de coberturas. À medida que obtinha entrevistas exclusivas com os líderes opositores, conversava com a população para obter sua opinião e acompanhava e registrava a ação truculenta da polícia e do exército, enviando o farto material para além fronteiras, vinha percebendo que meus passos estavam sendo monitorados por agentes do Comitê de Segurança do Estado. Encontrei-me com o Yagor num dos QGs da oposição onde fui abastecido de mais informações e no qual, apesar do constante entra e sai de militantes ele encontrou um canto e um tempo para foder meu cuzinho. A agitação não nos concedia muito tempo, mas ele me fez sentir como estava saudoso do meu corpo. Não chegamos a ter meia hora, mas ao deixar o QG minhas pregas estavam rasgadas, ardendo, e meu baixo ventre encharcado do sêmen pegajoso dele. Sentei-me num café numa rua menos agitada do centro da cidade e, numa velocidade urgente, digitei dois artigos que ilustrei com fotografias feitas com a câmera do meu celular durante os protestos daquela manhã na Praça da Independência e as enviei ao meu redator-chefe no Canadá. A caminho do hotel, recebi uma mensagem dele, me informando que eu teria cento e dez segundos para transmitir um apanhado dos acontecimentos daquela manhã uma entrada ao vivo durante o telejornal noturno daquele dia. A repressão violenta às manifestações tinha enchido as ruas de militares numa demonstração de força do governo, e dado à cidade uma aparência de campo de batalha. Minhas imagens e meus textos refletiam essa tensão e chegavam aos mais remotos cantos do mundo, junto com as matérias de outros jornalistas estrangeiros que afluíram à cidade em clima belicoso.
Às três horas da madrugada meu quarto de hotel foi invadido por meia dúzia de homens, alguns fardados e dois vestindo ternos baratos, que usaram o cartão da recepção para abrir a porta e me arrancar da cama. Os dois homens corpulentos de terno eram seguramente agentes do Comitê de Segurança do Estado que traziam à tiracolo os outros quatro militares, todos garotões musculosos que mal cabiam em suas fardas para dar ares de importância e intimidação ao que tinham para me dizer. O que liderava o grupo, mais maduro, de terno, me fez ressuscitar a figura do major Khodkevich, e me fez sentir um arrepio percorrer minha coluna. Eu bem sabia o que um homem como aquele era capaz de fazer para galgar um posto na hierarquia daqueles gabinetes obscuros do edifício da Avenida da Independência esquina com a Ulitsa Komsomol’skaya. Ele se aproximou tanto do meu rosto que pude sentir o hálito fétido de tabaco e má higiene oral sendo exalado quando me intimidou, agarrando meu queixo e apertando-o com força.
- Dorogoy mister Patrey Sokolov, vy sami vzyali nas v etot vizi! = Caro senhor Patrey Sokolov, o senhor mesmo nos levou a essa visita! – começou em russo, com um risinho debochado, enquanto os demais olhavam para as minhas coxas e para a bunda onde o tecido do short do pijama estava enfiado no rego.
O outro sujeito de terno andava pelo quarto, deslizava as pontas dos dedos de uma mão sobre todas as superfícies, abriu meu notebook que estava sobre a mesa próxima à janela, ligou-o e começou a vasculhar meus arquivos.
- Isto é uma propriedade particular, os senhores não têm o direito de violar a minha privacidade. – afirmei, tentando disfarçar o tremor que havia em todo meu corpo. O sujeito que me segurava apertou novamente meu queixo com mais força, enquanto o outro continuava abrindo páginas e arquivos.
- Somos nós quem decidimos o que é privado nesse país, e certamente as imagens e os textos que o senhor enviou mundo afora, não se enquadram nessa situação. – afirmou arrogante, o que chefiava o grupo. – Nós só estamos aqui para garantir que o senhor não envie mentiras sobre o governo deste país para as nações que estão armando um complô para destituir o presidente e criar uma anarquia em nosso território. – emendou.
- Estou apenas exercendo minha função de jornalista, que é informar a população dos fatos. – revidei, dando um soco na mão do sujeito para que soltasse meu queixo. Ele riu da minha ousadia.
- Tome cuidado, senhor Patrey, tome muito cuidado com o que escreve e divulga! Incitar rebeliões é crime nesse país, o senhor pode estar sujeito a muitas cláusulas da lei. – ameaçou, ainda rindo sarcasticamente.
Como havia me soltado, ele pegou meu iPhone 12 ProMax sobre a mesa de cabeceira e examinou-o com despeito.
- Belo brinquedinho, não acha, senhor Sokolov? Deve valer uma pequena fortuna, eu suponho. Uns € 1500, ou mais? – questionou irônico.
- Certamente alguns milhares de rublos bielorrussos! Muito provavelmente mais do que o senhor ganha por mês exercendo sua nobre função! – devolvi no mesmo tom sarcástico. Seu rosto se fechou e a mão formou um punho cerrado. Os garotões militares se entreolharam, deviam me considerar um louco por ousar me dirigir nesses termos àquele representante da força de segurança do Estado, ou muito corajoso. Foi a primeira vez que tiraram aqueles olhares de cobiça da minha bunda avantajada metida naquele short sumário.
- Desbloqueie-o! – ordenou irado. Atendi a ordem, pois sabia que qualquer recusa minha podia me custar muito caro. Ele o examinou, embora eu notasse que estava se atrapalhando no manuseio.
- Difícil para o senhor lidar com uma tecnologia tão moderna, não é? – tripudiei, o que fez surgirem alguns discretos esboços de sorriso no rosto dos militares, especialmente no que tinha uma estrela bordada nos galões sobre o ombros e, para cujo azul hipnotizante de seus olhos meu olhar se desviava, apesar de toda a tensão pela qual eu estava passando.
- Eu seria bem mais cauteloso ao fazer afirmações, senhor Sokolov! – exclamou, puto por ver sua autoridade sendo espezinhada. – Receio que seja obrigado a confiscá-lo, será uma perda significativa para o senhor, não será? – emendou.
- Nem tanto! Mas seguramente o senhor vai satisfazer seu desejo de se exibir aos seus comparsas com algo tão valioso. – devolvi, uma vez que ele o estava simplesmente roubando valendo-se de sua posição, e não o confiscando como queria me fazer crer.
- O senhor joga muito bem com as palavras, senhor Patrey! Devo parabenizá-lo! – exclamou.
- É meu trabalho! – meus revides o estavam deixando sem paciência. Ele devia ter imaginado que intimidar um garotão novato seria tarefa fácil, e mostraria aos seus acompanhantes o quão hábil e poderoso ele era. Ao ver tudo indo por água abaixo, começavam a lhe latejar as veias das têmporas, e todas as humilhações que teve de passar para chegar naquele cargo, começavam a injetar uma raiva crescente em seu peito. – Terminou aí, Vasyli? – perguntou impaciente e espumando ao sujeito que vasculhava meu notebook.
- Não há outros arquivos com conteúdo diferente daquele que já foi divulgado, - esclareceu o sujeito.
- Então creio que nossa visita se encerra por aqui, senhor Sokolov! – exclamou o chefe.
Ao passar rente à mesa, ele desferiu um violento soco sobre o notebook, fazendo com que pedaços de plástico saíssem voando, depois pegou o que restou e o atirou contra a parede.
- Tenha uma boa noite, senhor Patrey Sokolov! Não nos obrigue a lhe fazer mais uma visita. A próxima não será tão amistosa, posso lhe assegurar! – exclamou, antes de enfiar a mão bem profunda e devassamente no meio das minhas nádegas, e caminhando em direção à saída. Dois dos garotões chegaram a ajeitar as picas dentro das calças quando olharam embasbacados para aquela mão entrando tão libertina na minha bunda. Eu tremia feito uma vara verde quando eles bateram a porta e eu corri para trancá-la. No dia seguinte mudei de hotel, ciente de que dali em diante teria que ficar mudando minha localização com frequência, se quisesse continuar exercendo meu trabalho sem colocar minha vida em risco.
A divulgação dos resultados da última eleição, dando nova vitória de 80% do último ditador europeu, sobre sua adversária política, Svetlana Tikhanovskaya, que precisou fugir do país devido à repressão, foi a gota d’água e o estopim para que milhares de revoltosos saíssem às ruas de diversas cidades em protestos reprimidos com forte ação policial e militar. A Praça da Independência e seus arredores em Minsk estavam abarrotadas de manifestantes naquele domingo frio e chuvoso, militares, policiais e agentes infiltrados prendiam as pessoas sem conseguirem provar quais leis tinham descumprido, o simples fato de estarem nas ruas e nas manifestações já era motivo para o cárcere. Havia uma estimativa de que 830 pessoas tinham sido presas no país naquele único dia, entre elas, colegas jornalistas que cobriam as manifestações. Embora estivesse usando meu colete fosforescente identificando minha função com a palavra – PRESS – estampada no peito e nas costas, fui vítima por parte de militares fortemente armados de alguns safanões e empurrões, um dos quais me fez perder o equilíbrio e cair, enquanto registrava o desenrolar do manifesto. Quatro jornalistas estrangeiros estavam sendo levados a um quartel quando resolvi seguir o comboio policial que os conduzia. No quartel já havia centenas de presos aglomerados em salas numa balburdia sem tamanho. Infiltrei-me para conseguir captar algumas imagens e comecei a entrevistar pessoas que tinham sido espancadas e torturadas e estavam com ferimentos espalhados pelo rosto e corpo, alguns bastante feios que escondiam prováveis fraturas ósseas debaixo do sangramento. De repente, reconheci no meio dos militares que desciam os cassetetes sobre aqueles que ainda não se calaram apesar da ordem para fazê-lo, um daqueles garotões que estiveram no meu quarto de hotel. Naquela madrugada a fisionomia dele me despertou a atenção não apenas pelo vigoroso corpo distribuído em mais de um metro e noventa de altura, como também por seus olhos profundamente azuis e os ângulos másculos de seu rosto. Ele foi um dos que ajeitou a rola quando o agente do Comitê de Segurança do Estado apalpou depravadamente minha bunda. Ele também me reconheceu e, ao notar que ele vinha na minha direção, comecei a correr em direção à saída. Corri em zigue-zague entre a aglomeração para tentar driblá-lo, mas não consegui, ele me alcançou poucos metros antes do portão de ferro que dava para a rua.
- Pare! – ordenou, com uma voz grave e potente. Continuei a correr, a rua seria minha única salvação. – Pare! Estou mandando! – repetiu, quando sua mão conseguiu agarrar meu colete e me puxar para trás.
- A imprensa ainda é livre nesse país! Estou devidamente identificado e você está cometendo uma arbitrariedade! – exclamei, quando ficamos cara a cara.
- Isso de pouco vai te valer se o pegarem aqui dentro. – devolveu ele, me deixando confuso.
- O que dizer com isso? É uma ameaça? – indaguei, embora o olhar dele não me parecesse belicoso.
- Quero dizer que não estará seguro se continuar por aqui. E seria um pecado se esse corpo escultural sofresse qualquer arranhão. – eu mal podia crer no que estava ouvindo.
- Aonde quer chegar com essa conversa? Vai me prender também, ou vai me deixar seguir meu caminho?
- Se fosse te prender certamente não seria aqui, mas sobre uma cama. Quanto a te deixar seguir seu caminho, eu ouso te perguntar se você não estaria disposto a cruzá-lo com o meu. – ele falava com tanta naturalidade e confiança que fiquei abismado.
- Isso, por acaso, é uma cantada? – perguntei, simpatizando com a audácia dele.
- Se é assim que você quer chamar, por mim tudo bem. Mas eu ficaria feliz se pudéssemos nos encontrar esta noite, Patrey, depois que eu deixar o trabalho e, quem sabe, tomarmos uma cerveja juntos, longe do tumulto das ruas. – não me contive e ri.
- É assim que você reprime os revoltosos, convidando-os para um encontro? – caçoei.
- Não estou convidando um revoltoso, seu colete deixa isso bem claro. Estou convidando um cara tremendamente gostoso com o qual eu teria muitos outros planos que não o de reprimi-lo e encarcerá-lo.
- Você .... você não existe! – eu tropecei no início da frase, pois tive vontade de mencionar seu nome, mas me toquei que não sabia como ele se chamava.
- Artem! Imenso prazer! – exclamou, parecendo adivinhar meus pensamentos, e tomando uma das minhas mãos entre as suas, confortavelmente quentes e poderosas. – Existo sim, e gostaria de te provar o quanto eu existo. – emendou, com um sorriso ladino.
- Foi só uma maneira de dizer. Dá para ver que você existe, sem que haja qualquer indecisão quanto isso. – devolvi, o que o deixou contente, tendo praticamente como certo que, dentro de poucas horas, seu cacete estaria alojado entre as nádegas opulentas que o seduziram quando o short apertado do pijama estava sendo mastigado por elas, imagem que ele ainda guardava bem viva em sua memória.
- Não quero te pressionar, mas infelizmente tenho pouco tempo para reiterar meu convite. Não é nada prudente eu ficar aqui conversando com você, enquanto aquela confusão lá dentro continuar. – argumentou, me encarando tão obstinadamente que eu fiquei tentado a aceitar o encontro e o que viria na sequência dele. O volume que havia entre suas pernas era, com certeza, uma fonte inesgotável de prazer.
- Onde? A que horas? – minhas perguntas abriram um enorme sorriso no rosto dele.
- Me deixe seu número de telefone, não sei quando serei liberado, ligo quando estiver livre e te digo onde. – respondeu.
- Esse número não é privado, é da empresa para a qual trabalho. – esclareci, até porque eu não queria que ele tivesse meios de me localizar futuramente.
- Passo no seu hotel, então. Pode ser?
- Ok! Ficamos combinados assim. – ele não ia me encontrar no hotel, mas se eu ainda estivesse sentindo a comichão que estava atiçando minhas preguinhas anais, eu daria um jeito de estar lá. – Até depois, Artem! – exclamei, estendendo-lhe a mão em despedida.
- Até mais tarde, Patrey! – ele acariciou a palma da minha mão com seu dedo médio, olhou em volta para se certificar de que não estávamos sendo alvo de olhares alheios e discretamente levou-a à boca, colocando um beijo úmido nas costas dela. O pauzão dele estava atravessado sobre a perna direita, duro como o cano da pistola que estava no coldre amarrado a ela.
Saí dali com a intenção de seguir para o meu novo hotel, pois tinha imagens em vídeo e material suficiente para digitar um ou dois artigos e enviá-los à sede da TV, antes que pudessem ser arrancados de minhas mãos à força. No meio do caminho, recebi uma ligação do Yagor pedindo que fosse encontrá-lo com urgência num edifício em ruínas nos arredores da cidade; estavam torturando jornalistas e civis presos naquela tarde, e ele queria o apoio da mídia quando ele e outros militantes da organização que liderava fossem abordar os militares e expor seus abusos.
Além de ermo, a localidade que ele me indicara parecia não ter visto uma alma humana há muito tempo, tudo estava imerso no silêncio quando o motorista do taxi estacionou próximo à construção decadente.
- Espere aqui um momento, por favor. – pedi, pois temia ter caído numa armadilha.
- Este lugar está abandonado há anos, não vai encontrar ninguém por aqui. – disse o motorista, receoso de me deixar sozinho naquele lugar.
Caminhei até a construção com o mato chegando na altura dos meus joelhos. Não havia ninguém; mas por todo lado no chão e paredes carcomidas havia manchas de sangue coagulado, e recente. Voltei correndo ao taxi, o local devia estar sob vigília. Tentei ligar para o Yagor, após uma ligeira demora, e um chiado de alguns segundos, começavam os toques de chamada, e a ligação entrava na caixa de mensagens. Na segunda tentativa, me toquei de que meu número estava sendo captado, o celular do Yagor havia sido grampeado.
- Buceta! Que merda! – exclamei, no banco de trás, fazendo com que o motorista me indagasse sobre o que eu tinha dito.
Pedi que ele me deixasse a alguns quarteirões do meu hotel, as ruas estavam lotadas e a melhor opção seria seguir a pé. Agora o serviço de inteligência do Comitê de Segurança do Estado tinha o número do meu novo celular, logo estariam no meu encalço, pensei comigo. Se grampearam o celular do Yagor, é porque o capturaram, senti uma pontada funda no peito e, revendo em minha mente aquelas manchas de sangue na construção abandonada, comecei a temer pela vida dele. O que fazer? Será que já estavam atrás de mim? Se voltasse ao hotel, seria pego, concluí. A chuva continuava caindo, menos volumosa, mas tinha trazido um vento frio com ela e a noite desceu mais rápido. Andei alguns quarteirões à esmo, me decidindo o que fazer. Com a cabeça rodando à mil, a imagem da pica do Artem voltou a povoar meus pensamentos. Um espasmo sutil e gostoso travou meu cuzinho. O caralho dele, mesmo dentro da calça, tinha seguramente mais do que um palmo, dar aquele macho um pouco de afeto não me faria mal algum. Até porque, já fazia algumas semanas que meu namorado tinha me dado o pé na bunda, depois de se cansar das minhas constantes viagens e ausências que o obrigavam a se contentar com algumas punhetas, ao invés das carícias dos meus esfíncteres. Meu antigo hotel ficava a doze quadras de onde eu estava, seria uma longa caminhada, mesmo assim, eu chegaria até ele mais ou menos no horário em que o Artem havia previsto estar livre. Passava das 20:00 horas quando estava a uns duzentos metros na calçada do hotel, quando fui puxado para junto da vitrine de uma loja coberta de tapumes. Soltei um grito, achando que tinham me descoberto e me torturariam até eu confessar inclusive o que não fiz.
- Você não pode ficar aqui, estão à sua espera no lobby do hotel. – era o Artem. Ele estava à paisana, mas em serviço, os tumultos não permitiram que fosse dispensado. – Tem outro lugar para onde possa ir e ficar em segurança? – perguntou preocupado.
- Sim, acho que sim! – respondi, embora estivesse começando a achar que já não havia mais um lugar seguro para mim na cidade em que nasci.
- Então siga para lá! Rápido! Que lugar é esse? – perguntou. Hesitei em responder, só aquele par de olhos azuis me dizia que eu podia me abrir.
- Outro hotel. – respondi. Se ele não fosse tão sincero como eu supunha, ao menos teriam que percorrer muitos hotéis na cidade antes de me encontrarem.
- Infelizmente ainda moro com meus pais, senão te levaria para lá. – disse ele.
- Nem sei como te agradecer! Deixe comigo, vou me virar. Estarei seguro, vou me cuidar. – afirmei, para tranquilizá-lo.
- Eu gostaria de acreditar nisso, Patrey! O único lugar em que estaria seguro seria debaixo de mim com esse tesão de bunda encaixado na minha virilha. – sentenciou, me prensando contra a vitrine e colando sua boca avidamente à minha, enquanto sua pelve simulava os movimentos de uma penetração.
- É bom saber disso! – devolvi, um pouco tímido diante de tamanha demonstração de cobiça. Corri, literalmente, em direção ao meu novo hotel.
Deixei a placa de – NÃO PERTURBE – presa à maçaneta da porta do meu quarto. Dois dias fora de circulação, dificultaria o trabalho de me encontrarem. Aproveitei para escrever três reportagens e enviá-las ao meu redator, permanecendo praticamente todo o tempo dentro do quarto. Da minha janela dava para acompanhar o movimento na rua, e foi o que me distraiu nesse período.
- Patrey? Patrey Sokolov? – perguntou a voz feminina do número não identificado que apareceu na tela do meu celular. Eu ia desligar, mas a aflição naquela voz me levou a responder.
- Quem é? – perguntei.
- Arina! Sou amiga do Yagor. Tenho que ser rápida, creio que nossos números estão sendo rastreados. – disse apressadamente. Meu coração quase saiu pela boca.
- O que aconteceu com o Yagor? Ele está bem? Onde ele está? Eles o feriram? – eu parecia uma matraca.
- Ele foi baleado. Fomos emboscados pelo exército e ele levou um tiro no abdômen. – disse a voz tumultuada, respirando ofegante enquanto falava.
- Ai, meu Deus! Como ele está? Onde ele está? – eu berrava, minhas pernas me obrigaram a procurar sustentação na cadeira onde havia digitado os textos.
- Eles o operaram, removeram o projétil e suturaram parte do fígado que o projétil lacerou. Ele está na UTI do Bol'nitsa Skoroy Meditsinskoy Pomoshchi, com previsão de liberação para o quarto no final da tarde de amanhã. – foi explicando.
- E como ele está? Ainda há riscos na recuperação dele?
- Os médicos me garantiram que ele está bem dentro das possibilidades, que agora só depende do organismo dele reagir, e dos cuidados que devem ser tomados. No entanto, o maior risco que ele está correndo independe do tiro e da cirurgia, vão matá-lo se o encontrarem. – ela começava a pausar as frases, temendo revelar mais do que devia. – É por isso que precisamos da sua ajuda. Temos que tirá-lo daqui o quanto antes, mesmo não totalmente recuperado. No hospital eu me passei por sua mulher e justifiquei o tiro como tendo sido resultado do ciúme dele por um suposto amante que eu teria. Eu apresentei documentos falsos na internação. Mas a polícia está fazendo uma varredura em todos os hospitais para ver se encontra revoltosos feridos nas manifestações. – explicou ela.
- Pare de falar! Se estivermos sendo grampeados a situação dele pode piorar. Você precisa tirá-lo daí o mais rápido possível. Onde posso te encontrar?
Ela marcou comigo num café, ambos seguimos para lá nos certificando de não estarmos sendo seguidos. O lugar não parecia ser bem frequentado, desocupados e usuários de drogas pareciam ser os clientes assíduos do local. Ela me explicou como fariam o resgate do Yagor naquele início de noite, mas não sabiam para onde levá-lo depois disso, pois os endereços deles já faziam parte dos locais monitorados pela polícia.
- Vou dar um jeito! – exclamei, embora não soubesse como. – Me diga se ele está bem. – de repente, não consegui segurar as lágrimas.
- Depois que levou o tiro, durante todo o trajeto na traseira coberta de lona de um caminhão do exército, onde havia outros feridos, ele não parava de falar seu nome. Um dos nossos militantes, em melhor estado, disse que ele pedia para não morrer antes de reencontrar seu único e grande amor, e então, balbuciava seu nome sem parar, até que perdeu os sentidos quando o puseram numa maca e entraram com ele no setor de emergências do hospital. – revelou ela.
- Eu o amo desde a infância! – exclamei, aos prantos. Ela deu um sorriso condescendente.
Despedi-me dela e comecei a andar apressado pela calçada molhada pela garoa que começara a cair, para onde estava indo, nem eu mesmo sabia. O 62 da vulica Kamiennahorskaja, sim, era isso, me disse a luz que subitamente clareou meus pensamentos. O Voyshelk ou a mãe e as irmãs dele ainda deviam morar lá. Não me negariam abrigo e ajuda, em nome da nossa antiga amizade. Entrei num taxi e passei o endereço, tremendo de excitação. Rever o Voyshelk mexia comigo, aqueles olhos transbordando doçura, aquela boca que tantas e tantas vezes havia deixado meus lábios entorpecidos com seus beijos lascivos, o peito largo e vigoroso onde deitava minha cabeça depois de ele esfolar meu ânus com sua verga calibrosa, suas mãos alisando meu corpo e me fazendo flutuar nas nuvens, eram tantas as recordações.
Toquei a campainha insistentemente, até que uma velha com um lenço amarrado à cabeça à moda das antigas matronas russas apareceu na porta do apartamento vizinho. Irritada, ela me disse que o morador só voltava no final da tarde, mas que devido aos últimos acontecimentos, podia ser que nem voltaria. Não, ela não saberia me dizer o nome do morador. Era um sujeito esquisito, que mal conversava com os vizinhos, e tinha ficado pior depois que a esposa e a filha o deixaram, disse a velha. Mas, usa farda! Acrescentou revelando assim, tudo o que sabia a respeito do ocupante daquele apartamento. Era o Voyshelk, concluí. Só podia ser. Até para não ficar circulando pelas ruas criando uma oportunidade de ser localizado pelos agentes do Comitê de Segurança do Estado, sentei-me em frente a porta do apartamento onde tantas vezes estivera na minha infância e adolescência. A velha não gostou, voltou para dentro de casa como se minha presença a tivesse ultrajado.
Ao ouvir passos firmes subindo o lance de escadas, por volta das 18:00 horas, um arrepio atravessou me corpo. Era o Voyshelk. Grande, ele havia crescido um bocado depois da última vez que o vi, há doze anos, muito mais musculoso, forte, quepe militar debaixo do braço esquerdo, passadas decididas que mostravam as coxas musculosas distendendo o tecido da calça e, o sorriso que se abriu assim que me reconheceu. Ergui-me ligeiro, e me atirei em seus braços, que se fecharam ao meu redor com tanta força que senti minhas costelas comprimindo meus pulmões. O beijo que me impediu de proferir qualquer palavra, começou intenso antes de ele me prensar contra a parede do corredor e enfiar sua língua na minha boca como se estivesse me fodendo. O quepe dele caiu no chão, suas mãos inquietas vasculhavam meu corpo como se estivessem procurando por algo valioso. Eu tremia, abria minha boca e retribuía aquele beijo saudoso, enquanto minhas preguinhas anais entravam em convulsão.
- Como é bom ter você de volta! – exclamou ele, quando se deu por saciado com o beijo.
- Estou tão feliz por ter te reencontrado! Senti muita saudade sua! – devolvi.
- Você está tão lindo, duvido que os homens tenham te dado um tempo para sentir saudades minhas. – afirmou.
- Que homens? Me acha tão leviano assim? – questionei.
- Não te acho leviano, mas sei da capacidade que esse corpo tem de seduzir. Eu mesmo sempre fui vítima dele.
- Vítima ou algoz? – ele riu, voltou a me apertar em seus braços e me deu um novo e demorado beijo. – Vai me violar aqui fora mesmo no corredor? Sua vizinha já se invocou comigo, se nos flagrar fazendo obscenidades vai ter um colapso.
- A velha Iria Kravchenko? Ela que vá cuidar de seus gatos e me esqueça, ou a farei ter pesadelos. – a aspereza em sua voz me fez crer que ele já tivera desavenças com a velha. – Vamos entrar, ao menos assim ninguém terá motivos para se escandalizar com o que estiver fazendo com você. – emendou, como se a razão de eu ter procurado por ele estivesse ligada aos nossos antigos encontros sexuais.
Não deixei que nossa conversa para resgatar os acontecimentos dos últimos doze anos durasse mais do que meia hora, eu tinha pressa, o Yagor tinha pressa, meu tempo para colocá-lo em segurança estava correndo.
- Preciso muito da sua ajuda! – eu não sabia como ele ia encarar meu pedido, e comecei a temer sua reação.
- Andou se metendo em confusão? Precisa que eu te livre de um tarado cobiçando sua bunda? Ou quer que eu tire o seu atraso? – zombou.
- Não! Preciso que me ajude a trazer o Yagor para cá!. – ele pareceu não entender o pedido.
- O Yagor? O que tem ele? Pensei estava na França, metido com organizações incitadoras de rebeldes em países que não rezam pela cartilha dos americanos e seus cúmplices? – devolveu. Logo vi que a maior barreira que teria que vencer, era sua filosofia, seu pensamento socialista e ditatorial. Quase pensei em desistir do meu pedido, podia estar entregando o Yagor de bandeja para seus perseguidores. Mas eu não tinha opção, não havia outra maneira de salvá-lo sem a ajuda do Voyshelk.
- Levou um tiro dessa polícia opressora comandada pelo presidente ditador. E eu preciso tirar ele do hospital onde está antes que eles resolvam terminar o serviço. – revelei.
- O quê? Você está louco! Não me diga que você também faz parte desses arruaceiros que estão aí pelas ruas, comprando ideias impostas pela OTAN e seus aliados? Se ele levou um tiro é porque estava arrumando confusão. – a expressão amistosa que havia em seu rosto quando cheguei, desapareça por completo.
- Esqueça a política, esqueça ideologias, lembre-se de como éramos amigos, somos amigos, melhor dizendo, pois alguns anos de afastamento não acabam com uma amizade, nem com nossos sentimentos mais verdadeiros. Me ajude a salvar a vida dele, por favor, Voy? – usar o diminutivo de seu nome, coisa que apenas eu fazia, deixou-o calado por uns minutos e perdido em lembranças.
- Sabe que o que está me pedindo é impossível. Eu sou um militar de carreira, não posso trair minha pátria. Terá que se virar com a ajuda de outros, e contar com a minha benevolência e silêncio para não colocar todos vocês na prisão. – afirmou.
- Você mudou tanto assim? Teus sentimentos por mim se perderam no meio da disciplina militar? Tornou-se um homem tão insensível que se opõe a estender a mão para seus melhores amigos? – questionei. Ele passou a mão pelos cabelos, deu um soco no móvel que estava ao lado.
- Você não tinha o direito de vir à minha casa me pedir uma coisa dessas! Não posso te ajudar! – em seu íntimo travava uma batalha entre o justo, o amor e o dever.
- Eu não o faria se tivesse outras opções, juro! Nunca quis o seu mal, ou que qualquer coisa prejudicasse sua felicidade. – por um momento achei que ele viria me apertar em seus braços vendo a minha aflição. Ele se manteve impassível, me acolher junto dele seria uma demonstração de fraqueza. – Por favor, Voy, não me recuse manter nosso amigo vivo. – acrescentei. E então eu fui até ele, enfiei meus dedos entre os espaços dos botões de sua camisa e puxei delicadamente os pelos do peito dele.
- Além de viado, virou puta? Se vendendo para salvar a pele de um cara que na adolescência só queria enfiar a pica no seu cu?
- Eu iria muito além disso, se a vida de qualquer um de vocês dois dependesse disso. – respondi. Meus dedos acariciando seu peito acalmaram sua obstinação.
- Se o Yagor está num hospital se restabelecendo de uma cirurgia delicada, como quer trazê-lo para cá? Não há como cuidar dele aqui!
- Isso já está tudo planejado, eu só preciso que nos dê abrigo, eu cuidarei dele, você não precisa fazer nada, só nos dar um teto e manter a nossa localização em segredo. – começava a sentir um alívio ao vê-lo aceitar a possibilidade de nos dar abrigo.
- Nossa localização, porquê? Você também está sendo procurado?
- Creio que sim! Tenho feito umas matérias sobre a situação política no país. Parece que alguém não gostou do que escrevi e remeti à imprensa estrangeira. Quase fui estuprado numa das últimas madrugadas por um agente do Comitê de Segurança do Estado e sua equipe no quarto do hotel em que estava hospedado. – revelar, mesmo exagerando um pouco, que alguém se arvorara a me violar, iria fazer o Voyshelk ceder, eu tinha certeza disso.
- Como é que é? Quem foram essas pessoas? Esse ‘quase estuprado’ quer dizer o quê? O que foi que fizeram com você? – ele estava exaltado outra vez, felizmente não contra mim e meu pedido.
- Não sei quem eram. Dois eram agentes do Comitê de Segurança, tinham todas as características, um vasculhou meus arquivos no notebook enquanto o outro me ameaçava e se valia de sua autoridade para abusar de mim, depois roubou meu celular e espatifou o notebook contra a parede, na frente de quatro militares, soldados e um tenente, pelas insígnias na farda. Mas isso não é o que importa, minha preocupação no momento é outra.
- E só agora você vem me pedir ajuda? – questinou estrarrecido. Comecei a rir. – O que foi? Eu disse alguma coisa engraçada?
- Há pouco ficou bravo comigo porque vim te pedir ajuda, e agora me questiona porque demorei a fazê-lo. Decida-se se vai me expulsar da sua casa ou se vai me dar abrigo, e ao Yagor. – foi a vez de ele colocar um sorriso contido no rosto.
- Ah, Patrey! .... – ele ia continuar, mas o interrompio que é que eu faço com você? – terminei, pois ele havia repetido essa frase centenas de vezes. Dessa vez ele sorriu com vontade, achando graça das minhas palavras. – Me beija? – emendei ligeiro, me pendurando em seu pescoço. O beijo começou suave, curtos e sutis toques de lábios, e evoluiu para algo tão primitivo e voraz quanto um coito, com as mãos dele entrando pelo cós da minha calça e amassando minhas nádegas em extremo tesão.
Antes que aquilo se transformasse realmente num coito, eu o interrompi e liguei para a Arina comunicando que havia encontrado um local para o Yagor se recuperar. O Voy não me deixou participar do resgate no hospital, nem de ir ao encontro dos companheiros do Yagor, não me deixaria correr mais riscos e, se eu não estivesse de acordo, podia dizer adeus à sua ajuda. Fiquei roendo as unhas, andando pelo apartamento feito um alucinado, olhando para aquele relógio cujos ponteiros haviam resolvido parar no tempo. Lá embaixo, no estacionamento, começou uma pequena movimentação depois que um carro estacionou numa vaga. Não era a polícia, nem os militares. Eu já não sabia mais em quem acreditar e no que pensar. Só o Voyshelk desceu, era o carro dele. Além de olhar atentamente ao redor, ele destrancou a porta do hall de entrada do edifício, voltou para junto do carro e, com a ajuda de outros dois sujeitos, carregou o corpão de um terceiro. Yagor, meus lábios pronunciaram de tanta felicidade. Desci correndo de encontro a eles, mas fui recriminado assim que o Voyshelk me viu.
- Eu não mandei você esperar no apartamento? – ele usou a mesma voz que usava com seus comandados, não me importei.
Assim que entramos no hall iluminado, e meus olhos viram o estado do Yagor, sedado ou entorpecido, não dava para saber, comecei a chorar. Seu rosto estava desfigurado, e uma larga faixa de ataduras envolvia seu abdômen musculoso. Ele parecia um moribundo.
- Vá para cima! Verifique se está tudo livre para que possamos levá-lo. – ordenou o Voyshelk, obedeci como se fosse meu pai me mandando lavar as mãos antes do almoço quando era criança.
Quando o colocaram na cama do quarto que outrora pertencera às irmãs do Voyshelk, e os dois sujeitos foram embora, deixando um envelope com as medicações que o Yagor precisava tomar e uns números de telefone, caso precisássemos que providenciassem alguma coisa, eu me sentei na beira da cama, levei minhas mãos até aquele rosto irreconhecível, e deixei que as lágrimas descessem para purgar toda dor que estava em meu peito.
- Não fique assim! Vamos cuidar dele. Tudo vai dar certo. – asseverou o Voyshelk colocando suas mãos pesadas nos meus ombros, depois de acompanhar os sujeitos até a porta.
- A respiração dele está tão fraca! E esse rosto, o que fizeram com o rosto do nosso amigo, Voy, o que fizeram? – reclinei meu tronco de encontro as pernas do Voy e ergui meu rosto na direção do dele.
- Você está impressionado! Ele vai ficar bem. – como eu queria acreditar nele.
Os dias das duas primeiras semanas passavam sem que se observasse uma melhora nas condições do Yagor. Uma enfermeira que a organização para qual o Yagor dava suporte jurídico, também militante, veio fazer as trocas das bolsas de medicamentos injetáveis que o Yagor recebia por um acesso venoso, assim como da nutrição parenteral que o sustentava. As explicações e orientações dela me deixaram mais tranquilo, ao menos agora eu não me sentia um inútil e sabia como cuidar dele. Enquanto o Voyshelk seguia diariamente para o trabalho mantendo sua rotina como se nada estivesse acontecendo, eu passava horas sentado próximo ao Yagor, observando-o como uma ave de rapina, para identificar qualquer mínima mudança que indicasse que ele estava se restabelecendo. Quando a enfermeira ia embora, eu voltava para junto dele, acariciava seu rosto menos inchado, afagava aquele tronco viril e sussurrava – amo você, meu amor – ao mesmo tempo que pedia para ele melhorar.
- Não precisa ficar de plantão ao lado dele o tempo todo! Os ferimentos dele vão se curar sem que você precise ficar acariciando esse inconsequente revoltoso o tempo todo. – dizia o Voy, querendo parte daquele carinho que tinha para dar. Fui até ele e o abracei. Ele estava sem camisa. Beijei o peito dele, e introduzi dois dedos no cós da calça, após desafivelar o cinto.
- Obrigado por nos ajudar! Voltamos a ser um trio, o que não deixava que nada e nem ninguém se metesse conosco, lembra?
- Você não precisa se vender para mim, só causa disso!
- Grosso! Você apenas se transformou na versão adulta do Voyshelk bronco e xucro da adolescência. Acha que só porque estou te acariciando estou me vendendo? Que sou incapaz de dar afeto sem pensar em levar um macho para a cama? – questionei.
- Sou grosso, sim! E você bem sabe o quanto, não sabe? Minha grossura te fez gemer muito, se é que você se esqueceu.
- Nunca esqueci de um só segundo que passei com você, e disso você também sabe, já que está me cobrando lembranças.
- Ah, Patrey! – antes de ele continuar, começamos a rir, ambos conheciam de cor aquela frase.
No segundo dia no apartamento, um porta-retrato sobre a cômoda do quarto do Voyshelk chamou minha atenção. Uma moça loira, de traços delicados, tinha a seu lado uma menininha que devia ter uns quatro anos de idade, ambas sorriam para a câmera. Uma noite, enquanto eu lavava a louça da janta e ele me ajudava a secar, me atrevi a perguntar quem eram as duas correndo o risco de trazer recordações dolorosas a ele, embora suspeitasse que fossem sua esposa e filha.
- Katerina, minha ex-esposa e Sofie, nossa filha. – respondeu direto, sem demonstrar qualquer abalo.
- Posso perguntar onde estão?
- Em Homiel, na casa dos pais dela. – suas respostas curtas me indicavam que não era um assunto do qual gostava de falar.
- Por que estão lá e não com você? – ele demorou a responder, certamente se fosse outro a fazer a pergunta ele não responderia
- Nos separamos!
- Por quê? – outro silêncio prolongado
- Descobri que não a amava o suficiente para aguentar sua aporrinhação. – a objetividade dele me espantou.
- Não teria sido o contrário?
- É você quem sabe por que me separei dela?
- Não, não sou eu. Conheço você, conheço seu gênio, conheço como sabe ofender quem te ama. – afirmei.
- Pois então, se me conhece tão bem, por que veio me procurar quando precisou de ajuda para salvar o seu macho?
- Porque me enquadro entre aqueles que te ama. – respondi. Ele se calou. – O Yagor não é meu macho, só para constar!
- Não é porque você não deixa!
- Não diga besteiras! Você não sabe nada sobre meus sentimentos.
- Não é difícil de adivinhar!
- Sempre me espantei com a sua habilidade de afugentar as pessoas que tentam se aproximar de você. Ainda posso ver como distribuía socos quando as pessoas não concordavam com suas ideias. Nunca havia dialogo, só pancadaria.
- Se sabe disso, não devia ficar aí me provocando.
- Foi isso que você com ela, não foi? Espancou-a como seu pai espancava sua mãe.
- Cala essa boca! Cala a tua boca, viado do caralho! – o copo que ele secava foi se espatifar contra o armário suspenso sobre a pia, alguns estilhaços atingiram meu braço, e três pontinhos de sangue afloraram da minha pele. – Suma da minha frente antes que eu jogue você e seu macho no meio da rua! – rosnou furioso.
Caminhei compassadamente até o quarto que dividia com o Yagor, sem demonstrar que aquelas palavras haviam de alguma forma me assustado ou intimidado. Encostei a porta e chorei. O coração do Voyshelk sempre foi blindado para mim, talvez não só para mim, mas para todos, só que isso me machucava como ele não fazia ideia. Havia dois dias que o Yagor abrira os olhos depois da cirurgia, nos curtos períodos em que ficava desperto, tinha me reconhecido e segurado minha mão nas dele. A enfermeira havia substituído alguns medicamentos que ele tomava através do soro, por sua apresentação em comprimidos.
- O que foi? Por que está chorando? – a voz dele ainda era mole, como se pronunciar as palavras lhe exigisse muito esforço.
- Não estou chorando! Está se sentindo melhor? Está na hora da sua medicação noturna. – respondi, sem olhar diretamente para o rosto dele.
- Não quero esses comprimidos, eles me dão muito sono. Quero conversar com você. – devolveu.
- Precisa tomar todos eles para ficar bom. Quero te ver saindo dessa cama o quanto antes.
- Prefiro que você entre aqui e fique comigo! – o primeiro esboço de um sorriso apareceu no semblante dele. Ganhou um beijo nos lábios completamente sarados.
Era cedo, mas resolvi me despir e dormir. A briga com o Voyshelk me deixou cansado. A porta do quarto chiou e ele entrou, passou os braços pela minha cintura e beijou meu ombro nu. Eu havia apagado a luz e não conseguia ver seu rosto. Ele me encoxou e percebeu que eu estava só de cueca.
- Me perdoa! – sussurrou no meu ouvido, junto com um beijo molhado.
- Sou eu quem te deve desculpas. Não precisava ter falado o que não devia. – devolvi, deixando que o peso do meu corpo se reclinasse contra o dele.
- Vem comigo! – eu sabia que isso ia acontecer. Desde o momento em que nos reencontramos eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu ia sentir aquele homem dentro de mim.
Ele me guiou até o quarto dele, praticamente na mesma posição em que me pegou, enleando minha cintura e caminhando com o corpo colado ao meu. Ele não se preocupou em fechar a porta, apenas a encostou um pouco. Estávamos sós no apartamento, o doente no quarto ao lado, sob efeito de remédios, não contava; a presença dele ao menos não contava para o que pretendia fazer comigo.
Quando me soltou, parecia perdido, como se não soubesse o que fazer, ou temesse fazer o que não devia. Ficou me observando sem dizer nada, contudo seu olhar fazia um discurso. Voltei a me aproximar dele, enfiei novamente as pontas dos dedos onde os pelos do peito dele eram mais densos. Ele continuava imóvel e impassível, sempre gostou quando eu brincava com seus pelos, desde quando começaram a crescer em seu tronco. Fiquei nas pontas dos pés para colocar um beijo em seus lábios, ele era uns doze centímetros mais alto do que eu. Fui prendendo os lábios dele com os meus aos poucos, delicadamente, me encaixando entre os dele e mudando de posição a cada vez que fazia a apreensão. Suas mãos voltaram a pegar minha cintura, depois foram deslizando vagarosamente para as nádegas, quando a presença da cueca cobrindo meus glúteos começou a incomodá-lo, ele a puxou para baixo, e suas mãos tocaram diretamente minha pele. Também começou a ficar de pau duro, o que levou meus dedos lentamente do peito para a barriga dele, penetrando, aos poucos e sensualmente, a calça, até que toda minha mão se fechou sobre seu membro. No instante do toque, houve uma distensão mais pronunciada que fez o membro quase dobrar de tamanho. Ele soltou o ar entre os dentes. Desabotoei a calça e soltei o bichão pesado, que livre, continuava latejando e crescendo, fazendo emergir a ponta da cabeçorra do prepúcio que se retraía, como uma embalagem que vai ficando pequena para o conteúdo. O Voyshelk sempre gostou de me exibir seu falo, orgulhava-se do dote vultuoso com o qual foi agraciado e, particularmente comigo, deleitava-se pela maneira como eu o admirava e afagava. Na puberdade, quando começou a comparar o tamanho do dele com o meu, milímetro a milímetro, costumava dizer que não queria que o meu crescesse muito, que eu já tinha uma bunda grande e não precisava de um pinto grande também. Ao ver o dele deslanchando e o meu praticamente estagnado, disse que se eu quisesse um pinto grande, ele me daria o dele, mas com a condição que fosse dentro do meu cuzinho. Por muito tempo ele me aporrinhou com essa conversa, até o dia em que eu concordei com a proposta dele, que acabou se materializando alguns meses depois, quando me desvirginou.
Ajoelhei-me aos seus pés e coloquei a pica do Voyshelk na boca, um gemido contido ecoou pelo quarto. Há doze anos eu não sentia o aroma daquela verga, mas o reconheci no mesmo momento em que meus lábios se fecharam ao redor dela, um perfume almiscarado, penetrante, levemente resinado que vinha acompanhado de um sutil sabor salgado do pré-gozo, e um odor de canela do escroto.
- Não vai me chupar? – perguntou impaciente.
- Estou primeiramente matando a saudade do seu cheiro, posso? – devolvi.
- Onde você está fungando só tem cheiro de suor, pois ainda não tomei banho, urina que impregna o prepúcio e desde os últimos minutos, talvez desse melzinho que está saindo da minha rola. – respondeu.
- Engano seu! – afirmei, relatando tão detalhadamente como mencionei acima, cada um dos aromas que eu identificaria como sendo dele mesmo de olhos vendados.
- Consegue sentir tudo isso na minha pica? – questionou, entre surpreso e lisonjeado. Eu acenei com a cabeça que sim, ele sorriu.
O Voyshelk sempre foi duro na queda, eu já estava há mais de quinze minutos mamando aquela caceta e, apesar do tesão que o fazia contorcer-se buliçosamente, ele reprimia o gozo. Quando transávamos com mais frequência, eu havia desenvolvido uma tática de encará-lo com um olhar suplicante, como o de um mendigo implorando por uns trocados, que sempre funcionava, fazendo-o ejacular em segundos. Porém, a tática não estava se mostrando produtiva, pensei que tivesse perdido a habilidade, que ele já não se entusiasmasse mais tanto pela minha boca, pois devia ter conhecido outras mais engenhosas.
- Não adianta ficar me tentando e torturando, vou galar seu cuzinho como você jamais foi galado. – asseverou. Foi bom saber que não havia perdido a habilidade.
- Se você fosse uma mulher há muito tempo eu já teria te engravidado. – afirmou.
- Gostaria que eu fosse uma mulher? Tantas vezes você deixou claro que não ficaria comigo por que você é macho e eu viado. Se eu fosse mulher ficaria comigo, me amaria?
- Não, gosto e amo você do jeito que é. Um Patrey mulher não combina com você, não daria ao teu corpo as peculiaridades que me atraem e me fazem sentir tanto tesão por ele.
- Sente tesão por mim?
- Por que me pergunta se sabe que sim?
- Porque é a primeira vez que você me diz isso, e é gostoso de ouvir. – afirmei.
- Safado!
- Se sente tesão pelo meu corpo, e me acha safado, enfia esse bagulhão em mim.
Ao ouvir minhas palavras quase despejou o gozo na minha boca, foi por um triz que não perdeu o controle. Impediu-me de recolocar a jeba na boca, pois não ia suportar muito mais, ao invés de me deixar continuar chupando, abaixou minha cueca e enfiou um dedo no meu cu. Gemi o nome dele.
- Deita na cama, safado! – ordenou, eu obedeci, após me livrar de vez da cueca.
Ele terminou de se despir, engatinhou até onde eu estava cercando meu corpo com seus braços e pernas. Puxei-o pelo pescoço até a altura que me permitiu beijar sua boca, molhei-a com meus lábios, e o provoquei até ele enfiar a língua dele nela. Ele me virou de bruços, beijou minhas costas e, com a ponta da língua, deslizou sobre os ossos da minha coluna até alcançar o rego, abriu-o, lambeu minha rosquinha pregueada, enfiou outra vez um dedo nela, tomou posição e guiando a pica com a mão, meteu-a no meu cuzinho. Meu grito saiu antes que eu afundasse o rosto no travesseiro com o intuito de abafá-lo. O Voyshelk adulto não mudara seu jeito de penetrar um parceiro ou parceira, continuava bruto, insidioso e acurado. Era através da reação de quem estava penetrando que ele determinava com se consumaria a inserção daquele pauzão, que muito bem se prestaria como artifício de tortura. Depois de me ouvir gritar é que ele se dava conta do quão apertado eu era, e de que me rasgara. Nunca pedia desculpas por seu arroubo, era o olhar que o fazia, e eu sempre fui vulnerável a esse olhar. Ele me estocou com cuidado, mesmo assim gemi, mais pelo tesão saudoso que sentia por aquele macho do que pela dor que se alastrava nas minhas entranhas. Uma vez ele me confessou que gostava de me ouvir gemendo durante o coito, que meu gemido parecia o de um gatinho ainda de olhos fechados que não encontrava a teta da mãe. O vaivém daquela pica grossa estocando meu rabo me levou ao delírio, quanto mais eu empinava a bunda com mais força ele me estocava. Quando a cabeçorra socava minha próstata eu gania, sem que isso perturbasse a sanha com que ele me fodia. Repentinamente ele parou, soltou o corpo sobre o meu, arfando, e me confessou que nunca mais encontrou um cu como o meu, um cu que se entregava da maneira como o meu se entregava a ele.
- É porque você é especial, é único, Voy! – balbuciei.
Ele girou meu corpo para que ficássemos de frente, ergueu minhas pernas e tornou a meter o caralho na minha rosquinha. Envolvi-o em meus braços, afaguei sua nuca e o beijei. Os movimentos do quadril dele recomeçaram, a caceta deslizava até o fundo do meu cu, voltava até onde os meus esfíncteres travados retinham a saliência da cabeçorra sem deixá-la escapulir, e tornava a mergulhar na minha carne rija. Explodindo de prazer comecei a ejacular. Ele tomou meu rosto nas mãos e me beijou demoradamente, enfiando a língua e me fodendo a boca com ela. Depois transformou esse beijo devasso num beijo amoroso, suave, doce. Gozou como tinha prometido, jatos potentes injetavam seu néctar viril, espesso e pegajoso, no meu cuzinho. Quando parou, ficou me encarando, estava chorando. Afaguei seu rosto e, com a ponta dos polegares, desviei suas lágrimas.
- Sou um facínora como meu pai! Ela me deixou porque dei umas surras nela! Você sabe que eu não presto, não sabe? Que homem bate em quem o serve na cama? Só um ser desprezível como eu! – ele ia despejando toda sua tristeza e arrependimento, pois sabia que se nesse mundo havia alguém que o conhecia e amava, essa pessoa era eu.
- Procure-a, diga que se arrependeu, diga que ainda a ama, que vai cuidar e proteger a ela e à filhinha de vocês. Mostre a ela esse Voyshelk maravilhoso que está aqui comigo agora. – sugeri.
- Isso não é mais possível. Ela está casada. Um homem, melhor do que eu, está cuidando delas. – revelou. Eu não sabia mais o que dizer, por isso o mantive aconchegado nas minhas entranhas e o afaguei até ele cair no sono e dormir feito um bebê, talvez em paz como há muito não se sentia.
Levantei-me cedo na manhã seguinte, o Voy dormia a sono solto, o sexo tinha feito bem a ele, o que me deixou feliz. Era sábado, ele não precisava seguir para o trabalho, por isso deixei-o na cama, saindo de fininho para que meus movimentos não o despertassem. Também estava preocupado com o Yagor, tinha o deixado sozinho desde a noite anterior, e estava no horário de ele tomar a medicação. Ao contrário do Voyshelk, o Yagor estava acordado, sentado na cama com as costas reclinadas na cabeceira. A cara não era de bons amigos e, quando entrei no quarto, ele lançou um olhar em direção à cama ao lado, intacta, e franziu ainda mais o cenho.
- Bom dia! Já acordado? Sinal de que o ânimo está voltando aos poucos. – cumprimentei, dando um beijo em suas bochechas, e colocando dois comprimidos entre seus lábios.
- Onde esteve? – perguntou, segurando meu pulso com força.
- Cuidando do meu outro doente! – respondi sincero, e contente por perceber que ele já tinha forças suficientes para apertar minha mão daquele jeito. Ele não me soltou de imediato, talvez tivesse pensado que eu iria mentir, inventando alguma desculpa esfarrapada para não dizer que tinha passado a noite com o Voyshelk, mas resignou-se ante a minha resposta.
Para minha felicidade o Yagor melhorava a cada dia, permanecia mais tempo sentado e vigilante, tinha um apetite de leão, dava alguns passos sem ajuda, embora eu corresse em sua direção para apoiá-lo e evitar que a fraqueza ocasionasse alguma vertigem e ele caísse. Quando lhe convinha, para ganhar meus cuidados, ele ainda se fazia de doente, especialmente nas refeições, tinha que ser eu a lhe colocar as colheradas de sopa na boca, ou as garfadas de suas comidas prediletas, que eu me dispunha a preparar. Outros momentos de pura firula aconteciam quando tinha que banhá-lo, eram ‘ais’ e ‘uis’ o tempo todo, porém tinha que ser eu a ensaboá-lo e secá-lo, pois alegava e fingia ainda não estar em condições para isso.
- Trate de não abusar, seus pontos ainda são frágeis, você ouviu o que a enfermeira recomendou. Além disso ainda está fraco para fazer estripulias por aí! – afirmei quando ele teimou em querer sair da cama e se engraçar para o meu lado.
- Tenho forças sobrando para não precisar mais ficar preso nessa cama feito um inválido. É só você olhar para isso aqui para confirmar. – sentenciou, me exibindo sua ereção todo animadinho para transar.
- O que está te sobrando é muita safadeza e falta de juízo, por isso se mete em confusão e está aí nessas condições! Devolvi.
- Vem fazer amor comigo, vem? Vai negar carinho aos desejos de um moribundo? – provocou.
- Não use essa palavra nem brincando! – respondi zangado. Ele estava lindo, havia emagrecido, mas continuava uma tentação irresistível com a pouca roupa cobrindo seus músculos.
- Vem, senta aqui! – pediu, apontando para o colo e a ereção.
- Você não pode forçar o abdômen! Deixa de ser tarado! – no entanto, meu cuzinho não pensava com a mesma severidade que eu, mesmo estando esfolado por ter abrigado o Voyshelk entre suas preguinhas. Tirei sensualmente a roupa diante do olhar cobiçoso dele. Sentei-me sobre suas pernas, que ele abriu ligeiramente pouco antes das nádegas tocarem suas coxas peludas. Tomei seu rosto nas mãos, estava na hora de fazer a barba dele, constatei ao sentir as palmas das mãos sendo pinicadas, e o beijei. Ele me puxou para junto dele, o que fez minha bunda parar sobre sua ereção.
- Não faça força! – adverti-o com seriedade.
- Você é que manda, eu só obedeço! – devolveu com seu cinismo vitimizado.
Rebolei fazendo a ereção deslizar no meu rego. Ele apalpava e amassava meus glúteos tomado pelo tesão. Ergui um pouco as ancas e fui sentando devagar fazendo o cacetão deslizar lentamente para dentro do meu cuzinho. Ele não tirava os olhos do meu rosto onde as expressões desenhavam minha aflição e dor da penetração na rosquinha rota. Quando estava todo dentro de mim, me beijou, e eu retribuí rebolando mansamente para não machucá-lo. Eu podia sentir a verga pulsando e bulindo meu cu à medida que erguia minha bunda e voltava a me sentar nela. Me toquei de nunca termos transado naquela posição e, ver o prazer dele estampado tão próximo do meu rosto, atiçou meu tesão. O Yagor estava mesmo precisando acasalar, pois não fiquei rebolando e mastigando a pica dele por mais do que dez minutos quando ele agarrou minhas ancas e encheu meu cu de porra. Me desmanchei em dengos antes de levantar e sair de cima dele. Um pouco do esperma cremoso gotejou do meu rabo antes que pudesse fechar as pernas, fazendo-o sussurrar – tesudo gostoso – ao me beijar antes de me soltar.
- Está tudo funcionando! – balbuciou sorridente, como se tivesse descoberto um tesouro, pela performance do falo.
- É, está tudo funcionando, seu libertino! – retruquei, fazendo-o abrir um sorriso largo, e erguer os braços reclinando a cabeça nas mãos juntadas em concha.
- Ainda não foi como eu gostaria, mas já é um recomeço.
- Pois eu gostei bastante! Foi uma variação prazerosa em relação a ficar sempre por baixo, com você montado em mim, enfiando esse cacetão conforme dá na sua veneta. Ele riu.
Quando fui à cozinha preparar o café, o Voyshelk entrou, meio sonolento e esfregando os olhos, veio diretamente ao meu encontro, pelado, e me abraçou, me deixando sentir sua ereção matinal através da camiseta que eu estava usando e que mal chegava a cobrir completamente a minha bunda. Estremeci só de pensar nele a enfiando no meu cuzinho esporrado. No que eu estava me transformando? Me senti uma cadela de rua que os machos cobrem ao sentirem que está no cio.
- Por que não me esperou na cama? Sabe o que eu quero fazer com você, não sabe? – sussurrou junto ao meu ouvido, lambendo minha nuca. Carente como o Voy estava, seria uma crueldade negar-lhe meu corpo.
A cada domingo, os protestos nas ruas da capital e de cidades maiores continuavam pedindo a renúncia do presidente, que a fuga para a Lituânia, da Svetlana Tikhanovskaya, a fim de não ser presa pela repressão, só conseguiram atrair mais alguns milhares de pessoas. Também a continuidade dos meus artigos chegando regularmente à mídia internacional, fez com que meu nome passasse a figurar na lista de perseguidos pelo regime, onde o do Yagor já constava a um bom tempo. Eu temia sair às ruas, temia ser reconhecido por algum agente do Comitê de Segurança do Estado e ser levado a uma chefatura para ser interrogado e torturado, pois era assim que os opositores estavam sendo tratados. Sair de Belarus estava se tornando urgente. Em seu último e-mail, meu redator me aconselhou a deixar o país, pois minha integridade física já não podia mais ser garantida depois de o presidente acusar que nações estrangeiras estavam inferindo em assuntos internos para destitui-lo do poder e, de que usaria de todos os meios para garantir a estabilidade política em Belarus. Esses meios que ele citou eram velhos conhecidos da comunidade internacional, uma vez que ainda seguiam a mesma lógica daqueles empregados por Putin na Rússia para mantê-lo no poder, repressão ferrenha, torturas e sumiço de opositores.
Membros da organização de direitos humanos à qual o Yagor pertencia, também vieram nos alertar que nossa presença em Minsk estava sob forte risco. Tinha sido a enfermeira que cuidava do Yagor, juntamente com a Artina, a nos trazer o recado para fugirmos o quanto antes. Havia até um esquema planejado para nos levar à fronteira da Lituânia, uma vez que nossa saída por algum aeroporto muito certamente não seria permitida.
- Viu no que você se meteu! – argumentou o Voyshelk.
- Só fiz o que minha consciência mandou. Nos dias de hoje não é mais possível admitir ditaduras, cerceamento de direitos civis, sujeição a uma economia engessada e empobrecedora numa sociedade civilizada. Sei que você tem consciência disso, assim como outros milhares de militares, portanto, não deveriam continuar dando apoio a esse lunático que em 26 anos no poder está acabando com a economia e tirando direitos políticos. – retruquei.
- Tudo bem, concordo que está na última hora de nos livrarmos desse sujeito, mas não você envolvido diretamente nisso. – ele me abraçou protetoramente, eu sabia qual era sua grande preocupação.
O esquema para levar ao Yagor e a mim à segurança do outro lado da fronteira me foi explicado por dois companheiros do Yagor no bar do Lobby do Hotel Europe na vulica Internacyjanaĺnaja, numa tarde chuvosa da última semana de novembro. Foi um desatino eu ter concordado em me encontrar com eles justamente onde circulavam muitos estrangeiros, inclusive jornalistas, e onde o Comitê de Segurança havia espalhado agentes em cada esquina, conforme o Voyshelk havia previsto. Foi um custo para convencê-lo a me deixar ir ao encontro, especialmente sem ele. Mas eu não queria vê-lo envolvido nessa história mais do que já estava, pois seu futuro seria incerto se descobrissem que ele acobertava dois procurados em sua casa. Como militar, seguramente seria acusado de alta traição, e Belarus ainda mantinha a pena de morte em sua legislação.
Eu mal havia dado uns passos na calçada ao sair do encontro no hotel quando fui abordado. Os ternos baratos, o físico avantajado dentro deles, a disciplina dos gestos, me diziam que eram agentes do Comitê. Tentaram parecer educados na ironia da abordagem ao me solicitarem os documentos. Entreguei minha identidade de cidadão bielorrusso, o que segurava o documento em sua mão gigantesca, desviava o olhar da fotografia do documento para o meu rosto esboçando um risinho de escárnio. A qualidade e o corte fino do sobretudo que eu estava usando revelava tratar-se de uma peça importada, cara, acessível a alguém de posses, deixando-os pouco à vontade com a abordagem.
- O senhor está hospedado no Europe, senhor Sokolov? – perguntou, mesmo assim, o que tinha meu documento em mãos.
- Não! Vim apenas tratar de negócios. – respondi.
- Devo concluir que seja empresário, então. – continuou ele, o outro agente já começava a se sentir acuado e inseguro.
- Pode-se dizer que sim! – a resposta o deixou confuso, mas não o intimidou. – Aqui mesmo em Belarus?
- Não! – ele sabia que continuar insistindo podia lhe custar uma advertência por parte de seus superiores, se eu tivesse influência política nos altos escalões do governo, o que era comum em abastados que financiavam boa parte das corrupções cometidas pelo governo. O outro o encarava suplicando em pensamento que ele acabasse logo com aquilo.
- Então o senhor deveria portar um passaporte. – persistiu.
- Como cidadão bielorrusso? Creio que o agente está um pouco perdido na legislação do nosso país, não está? – quando o chamei de agente o abalo que sofreu se expressou em seu rosto, a autoconfiança e a empáfia sumiram como que por encanto.
- Uma boa noite, senhor Sokolov! – exclamou, me devolvendo o documento. Assim que se virou, deu de cara com o Artem e outro militar fardados. Pensei que o sujeito fosse ter um colapso ali mesmo.
- Algum problema? – perguntou o Artem, encarando os sujeitos com desdém.
- Acredito que não, tenente! Estes senhores estavam me confundindo com um estrangeiro, ou com algum desses revoltosos que vem agitando as ruas. – respondi, sorrindo amistosamente para o Artem.
- Lamento a confusão, até já pedi desculpas ao senhor Sokolov. – gaguejou o sujeito, não sustentando o olhar no Artem e no outro militar.
- Creio que a parte das desculpas o agente esqueceu, mas de qualquer forma está tudo esclarecido, o pobre coitado só estava cumprindo ordens. – afirmei. O que deixou o agente humilhado e espumando de raiva.
- Dispensados então, senhores! – exclamou o Artem, batendo continência. Ri quando os dois praticamente correram para longe dali, como crianças fugindo de uma bronca.
- Bom revê-lo! – exclamou o Artem, num tom bastante sedutor na voz branda.
- Também estou contente em te rever. Está se tornando um hábito você vir em meu socorro, muito obrigado!– respondi, deixando-o feliz. Ele me apresentou o amigo, outro oficial bastante jovem como ele, acrescentando que esteve me procurando pelos hotéis do centro da cidade para o encontro que acabou não se realizando.
- Como você acabou de constatar, estou me esquivando desses agentes. – eu não sabia se o amigo dele pensava como ele, portanto, fui cauteloso.
- Não se aflija, o Yuri é como eu, não nos empenhamos em seguir ordens ditatoriais. Há prazeres muito mais compensatórios nessa vida. – o safado não tinha me esquecido, eu podia jurar que, dando uma pequena brecha, ele me levaria a um quarto de hotel ali próximo e me foderia até estar saciado, muito provavelmente levando o amigo para apimentar ainda mais a trepada.
- Fico feliz de saber! A mentalidade do povo está mudando, o que é vital se quiser viver numa democracia. Mas, isso é secundário a alegria que nosso reencontro me deu. – afirmei, o que o fez sacar um pedaço de papel e uma caneta do bolso em me escrever seu endereço e número de telefone.
- Vou esperar que entre em contato! Para o que precisar, e para aquilo que está em suspenso.
- Obrigado, Artem! Te conhecer foi muito, muito bom!
- Até breve, Patrey! Pode ser melhor ainda, você sabe! – devolveu esperançoso. Eu devia mesmo não estar no meu juízo perfeito, com o Voy e o Yagor perseguindo meu cuzinho sem descanso, eu ainda ficava jogando charme para esses dois caras parrudos e sexys, alimentando seus desejos libidinosos. Só um maluco faz isso.
O dia D havia chegado. Eu estava uma pilha de nervos. Não bastasse o pavor de sermos pegos durante o trajeto, o Voyshelk havia encasquetado que iria conosco até a fronteira com a Lituânia, único país que, nos últimos meses, estava deixando opositores do governo Lukashenko cruzarem a fronteira sem grandes problemas. Ele estava nos obrigando a desistir do esquema montado pelos colegas do Yagor na organização humanitária, e aceitar que ele fosse dirigindo o próprio carro até a Lituânia.
- Você não vai se não for como eu estou sugerindo. Se ele quiser ir, que vá. Mas, não colocando sua vida em risco. – impôs o Voy, sem aceitar argumentos em contrário.
- Se fizermos o que está sugerindo, sugerindo não, mandando, estaremos os três em risco, ao invés de dois. Eu vou com o Yagor conforme planejado, pois teremos suporte durante a fuga, e você fica, sem que alguém possa vir a te acusar de ter dado fuga a opositores. E está acabado! – firmei pé.
- Veja só esse rabudo dando uma de macho, Yagor! Era só o que me faltava! Vai ser como eu estou determinando ou não vai ser, vocês escolhem. – sentenciou o Voy.
- Você está acabando com a minha paciência, Voyshelk Khodkevich! Quem você pensa que é para me dar ordens? Não sou um dos teus soldadinhos para me sujeitar as suas sandices sem questionamentos, entendeu? – retruquei zangado. Ele não detestava quando eu o chamava pelo nome completo.
- Eu vou te mostrar quem eu sou com isso aqui! – devolveu ele furioso, pegando na pica.
- Vocês dois vão parar com essa discussão ridícula? Eu vou sozinho, terei ajuda dos meus colegas e vocês dois ficam aqui, quebrando o pau ou trepando até chegarem a um acordo, entendidos? – questionou o Yagor num tom de voz elevado que era para nos intimidar.
- Então vá! Foi você quem se meteu nessa confusão, então resolva-a sem colocar o Patrey em risco, pois isso eu não vou permitir. – retrucou o Voyshelk.
- Eu já tomei minha decisão! Vou com o Yagor e fim de papo! Sou adulto, maior de idade e vacinado, não recebo mais ordens de ninguém! Nem mesmo as suas, Voyshelk Khodkevich!
- É o que veremos! – continuou ameaçando o Voy, irredutível e turrão como sempre.
- Quando os colegas do Yagor chegaram, por volta das 23:00 horas, como combinado, e ele e eu descemos até o estacionamento em frente aos blocos de edifícios, o Voyshelk desceu conosco como se fosse nos ajudar com a bagagem e se despedir. Porém, ao chegarmos junto ao carro no qual estavam os amigos do Yagor, o Voy sacou sua pistola e deu voz de prisão aos dois. Ficamos estarrecidos, e os dois começaram a suspeitar que havíamos preparado uma cilada para apanhá-los.
- Ficou doido! – berrou enfurecido o Yagor. – Seu traidor desgraçado! Vou quebrar essa sua cara traiçoeira com as minhas próprias mãos! – mas ele ainda estava sem condições físicas de enfrentar o Voy de igual para igual.
- Chega! Seus panacas imbecis! Querem chamar a atenção da vizinhança para que sejamos realmente todos presos antes mesmo de tentarmos fugir? Abaixe essa arma, Voy! Ou eu mesmo a arranco das tuas mãos, ou você dá um tiro em mim, você escolhe! – intervi exasperado.
- Saiam daqui! Eu mesmo vou levá-los até a fronteira sãos e salvos, não se preocupem! – garantiu o Voy aos dois amigos do Yagor que, ainda assustados, não hesitaram em aceitar a determinação do homem que estava colocando em risco suas próprias vidas.
- Puto! Eu te odeio, sabia? Sempre foi assim, desde criança. Se não for como você quer, ninguém brinca, não era sempre assim? – questionei furioso.
- Vamos pegar o meu carro e partir o quanto antes, temos um longo percurso a percorrer e temos que aproveitar a madrugada quando a vigília nas rodovias é menor. – determinou o Voy. Não nos restava outra opção senão seguir com ele.
Havia um ar de triunfo na cara que o Voy queria deixar transparecer serena, embora eu conseguisse identificar um sorrisinho maroto por baixo da máscara com a qual ele queria ser visto, quando pegou a rodovia M6. O trajeto de pouco mais de duzentos quilômetros até Salcininkai na fronteira de Belarus com a Lituânia, não era o mais curto, mas aquele onde havia menos bloqueios e vigilância policial, e onde a chance de sermos parados àquela hora seria bem menor. E ainda, se porventura fossemos parados num bloqueio, o Voyshelk usaria sua patente militar para dar uma justificativa ao transporte de dois civis, cidadãos bielorrussos.
- Você sabe porque tive que agir assim, você não me deu escolhas. E, sabe que eu jamais concordaria com você se o Patrey corresse algum perigo. – sentenciou o Voyshelk, procurando se justificar e ficar novamente numa boa com o Yagor.
- Tudo bem! Pensando melhor, desta forma colocamos menos pessoas em risco. Vi nos olhos dos meus colegas o alívio que sentiram ao estarem desincumbidos dessa tarefa arriscada. – concordou o Yagor.
- Os dois são uns putos, os dois! – exclamei revoltado. – Armam o maior fuzuê e depois ficam numa boa, enquanto o palhaço aqui fica tentando colocar panos frios nas brigas de vocês. – afirmei irado. Ambos riram.
- Vamos fazer uma parada naquele posto de gasolina, com essa confusão toda, não reparei que o ponteiro de combustível não nos levaria até a fronteira. Além disso, preciso mijar. – disse o Voy.
- Também estou com a bexiga estourando. – sentenciou o Yagor.
- Depois o bobinho sou eu! Os dois suprassumos da esperteza empreendem uma fuga sem se lembrar que precisam mijar e abastecer o carro antes de partirem. Espertalhões! – retruquei, fazendo-os caçoar novamente de mim.
Assim que entramos na lanchonete do posto, percebemos que acabamos de fazer uma grande cagada. Numa mesinha quadrada, bem próxima ao balcão, onde um sujeito de rosto vermelho tentava manter os olhos abertos lutando contra o sono, havia três policiais devorando schawarmas e tomando café, provavelmente para aguentarem o plantão da madrugada. Não havíamos visto nenhuma viatura no estacionamento, mas ao me aproximar do balcão, vi que ela estava estacionada num corredor lateral próximo à entrada dos sanitários. Meu primeiro impulso foi dar meia volta e avisar o Voy e o Yagor da surpresa que os aguardava quando fossem entrar no salão. Logo vi que seria mais uma imprudência, os três policiais, bastante jovens, com idades que deviam oscilar entre cinco anos menos do que eu, me acompanharam com seus olhares de cupidez, nada disfarçados, desde que empurrei a porta do estabelecimento. Um deles, o único que estava sentado de frente para a porta de entrada, chegou a esboçar um sorriso e erguer seu copo de café na minha direção, foi quando também começou a minha tremedeira, pois os outros dois se viraram imediatamente na minha direção tentando entender o gesto do companheiro. Tanto o exército quanto as forças policiais vinham investindo e arregimentando para suas fileiras, uma rapaziada de excelente aparência, corpos vigorosos quando não bem malhados, e músculos atemorizadores sob suas fardas bem ajustadas. Por consequência, também acabavam levando para os quartéis e chefaturas, um bando de machos que ainda não tinha total controle sobre a testosterona que lhes corria nas veias. Prova disso, eram os olhares daqueles três para o principal foco do meu corpo, a bunda roliça metida no jeans bem ajustado às minhas coxas e corpo. Eu devolvi um sorriso acanhado, tentando parecer descontraído, mas estava quase me borrando de medo. Bastava um deles me abordar com uma cantada qualquer, para eu ficar sem uma justificativa plausível para estar naquele lugar àquela hora da madrugada. Isso quase estava para acontecer quando o Voyshelk e o Yagor entraram no salão e se juntaram a mim no balcão. O policial tesudo que havia me cumprimentado voltou a se sentar quando já empreendia uma abordagem, ao constatar que eu não estava sozinho. Pedi rapidamente três garrafas d´água para o sujeito do balcão para podermos sair dali o quanto antes.
- Estão seguindo para a Lituânia? – perguntou um dos policias quando já estávamos a caminho da saída. Eu gelei.
- Não, moramos em Varnakeli. – respondeu o Voyshelk com sua voz grave e firme.
- Todos vocês? – continuou o policial. Tanto o Voy quanto o Yagor logo sacaram qual era a do policial, saber se eu era das imediações.
- Não, nosso amigo aqui está visitando o país, fomos lhe mostrar a capital. – afirmou o Yagor.
- Você não parece bem! Está com algum problema, podemos ajudar? – o carinha era sexy, mas um grude.
- Está tudo bem, obrigado! Tenho uns probleminhas com meu rim e acho que ele está querendo me dar trabalho novamente. – explicou o Yagor, para justificar seu caminhar cauteloso, lento, e ainda um tanto quanto dolorido.
- Sei como é! Meu pai também sofre com cálculos renais. Boa viagem! – exclamou o policial, frustrado por não ter conseguido me abordar sem a presença daqueles dois machos que me acompanhavam.
- Não nos faltava mais nada! – exclamei quando entramos no carro. – A tua cara, seu doente renal, e a minha devem estar no topo da lista de procurados pelo regime, basta um daqueles saradões cismar de consultar os arquivos da polícia e teremos uma escolta não solicitada. Custava terem segurado um pouco mais o mijo? – ponderei apavorado.
- Não fomos nós quem chamamos a atenção deles, mas essa tua bunda pedindo pica! – retrucou o Yagor.
Estávamos a pouco mais de três quilômetros da Propuska Benyakoni, o posto alfandegário da fronteira quando o vidro traseiro do carro foi estilhaçado por um tiro. Havia duas viaturas em nosso encalço, e eu quase podia jurar que numa delas estavam os três policiais da lanchonete. O Voyshelk acelerou e mais dois tiros atingiram a lataria, ele dirigia feito louco.
- Sabe atirar? –perguntou ao Yagor que estava no banco de trás.
- Claro! – respondeu ele.
- Vocês estão malucos? Atirar contra a polícia vai piorar nossa situação. Pare o carro, Voy! – desperdicei meu latim, os dois iam fazer como sempre, seguir o que estava em suas cabeças e não na minha.
O primeiro disparo do Yagor fez com que uma das viaturas atravessasse a pista na contramão e saísse da rodovia sem controle. Que ele havia alvejado o motorista não restava dúvida, se estava vivo ou morto determinaria a extensão de nossas sentenças judiciais.
- Belo tiro para um amador! – elogiou o Voy.
- Pare o carro, Voy, pelo amor de Deus! Vamos nos ferrar quando nos pegarem. – supliquei.
- ‘Se’ nos pegarem, o que eu te garanto que não vai acontecer! – respondeu ele.
Estalos na lataria significavam que o carro estava virando uma peneira. Até então, nenhum dos tiros havia acertado nada além do estofamento dos bancos e um dos pneus, que fez o carro gingar quase fazendo o Voy perder o controle da direção. As luzes do posto da aduana surgiram à nossa frente, apesar da placa apontar um limite de velocidade de 20Km/h nos trezentos metros que o antecediam, o Voy se aproximava da chancela de uma das cabines livres a mais de 100Km/h. Do posto policial anexo, saíram dois homens munidos de AKs-74 abrindo fogo contra o carro. A chancela se espatifou quando a frente do carro bateu nela na velocidade em que o Voy vinha. Duzentos metros depois, em território lituano, e ainda seguidos por uma viatura policial daquele país, por estarmos excedendo o limite de velocidade para aquela zona, o carro foi perdendo velocidade, como se o Voy tivesse tirado o pé do acelerador. Ainda estávamos sob as luzes dos postes que iluminavam a rodovia naquele trecho, quando vi a mancha de sangue crescendo na camisa do Voy.
- Voy! Eles acertaram o Voy! – gritei feito louco. O carro ziguezagueava na pista perdendo velocidade e me obrigando a segurar o volante para não batermos contra as proteções laterais de concreto da rodovia.
Eles o alvejaram com dois tiros, um no peito e outro no abdômen, ambos vertiam um filete rutilante de sangue. Ele estava pálido demais para justificar aquela palidez só por conta do pouco sangue que saia dos orifícios queimados em sua pele. As hemorragias profusas deviam ser internas. O carro estava rolando devagar quando puxei o freio de estacionamento. O Yagor e eu descemos do carro e corremos para a porta do motorista. Não fosse o cinto de segurança, o Voyshelk teria caindo para fora. Eu gritava e gesticulava ensandecidamente na direção da viatura policial que acabara de estacionar atrás de nós. O Yagor começou a explicar a nossa situação e a pedir ajuda para o Voy. Enquanto o policial acionava uma ambulância pelo rádio da viatura, eu segurava a cabeça dele no meu colo, ele me encarava com seu olhar doce e desamparado, que eu conhecia desde a infância.
- Fim da linha! Chegou a minha hora de descer do trem, essa é a minha estação! – ele parecia delirar, mas estava bem lúcido.
- Fica quieto, não gaste suas energias, a guarda da fronteira já acionou uma ambulância, logo devem estar aqui.
- Cuida dele para mim! – pediu ao Yagor.
- Faremos isso juntos! Você bem sabe que um só não dá conta de cuidar do Patrey. – afirmou o Yagor.
- Você sempre o amou, não foi? Ia jogar fora sua felicidade para cuidar de mim como sempre fez. Não posso levar essa conta para onde estou indo, jamais conseguiria quita-la. – disse ele a mim, com a voz perdendo energia.
- Não diga bobagens! Você não vai a lugar algum! É isso que dá quando não me dá ouvidos! – ralhei
- Eu não podia estragar a felicidade da pessoa que mais amei nessa vida. Você vai entender minhas razões algum dia. – ele tossiu algumas vezes num esforço para terminar as frases.
- Fica quieto, Voyshelk! – exclamei, quando seu corpo ficava cada vez mais pesado.
- Vou ficar, vou ficar! Segura minha mão, estou com medo. – balbuciou.
- Não faz isso comigo Voy, por favor, não faz isso comigo! – exclamei quando seus olhos se fecharam e ele já não ouvia mais nada. Sacudi aquele monte de músculos sem vida, e desabei num choro convulsivo, apertando sua cabeça contra o peito e soluçando feito uma criança. Agora era definitivo, o trio se desfizera para todo o sempre. O Yagor não tinha mais com quem competir, e eu não tinha mais motivo para estar dividido.
Senti os braços do Yagor me envolvendo quando se ajoelhou ao meu lado, me aconchegando em seu tronco colossal, e achei que não suportaria mais um grãozinho de dor que fosse, quando ele passou a mão na cabeça do Voyshelk e sussurrou:
- Até algum dia, meu amigo! Jogaremos bola no verão e faremos bonecos de neve no inverno, nós três, como sempre fizemos.
Quando a ambulância chegou não havia mais o que ser feito. Depois de um depoimento na chefatura de polícia de Salcininkai fomos liberados e levados para a capital Vilnius, num ato de gentileza e solidariedade da polícia local quando constataram que éramos meramente cidadãos bielorrussos perseguidos pelo regime ditatorial.
No dia seguinte, nem uma pequena nota sobre o ocorrido na fronteira durante a madrugada saiu nos jornais de Belarus. A última coisa que o já pressionado presidente precisava era um cidadão bielorrusso mártir na oposição. Mas eu não me calei. Assim que fomos deixados no hotel em Vilnius, eu me pus a digitar um artigo contando em detalhes a nossa epopeia, enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto e meu corpo exaurido clamava por uma cama. O artigo foi manchete em inúmeras mídias por toda a Europa, alcançando as grandes e importantes nações do outro lado do Atlântico e do Pacífico, expondo mais uma das barbáries cometidas pelo governo Lukashenko. Era certo que com isso eu terminava de fechar definitivamente as portas no meu país tanto para mim quanto para o Yagor, enquanto o atual governo estivesse no poder. Mas nossa fuga e o destino trágico de um jovem major do exército repercutiu entre a população de Belarus descontente com o governo, fazendo aumentar o número de adeptos que pediam abertamente mudanças e a queda de Lukaschenko, tanto entre civis quanto entre militares.
Duas semanas depois, e após termos cuidado do funeral do Voyshelk, eu e o Yagor estávamos em segurança na minha casa na Alemanha. Meus pais nos acolheram nos três primeiros dias, tão pesarosos quanto nós dois, pois o Voy era para eles como um filho, o irmão que eles não me deram. Os pais do Yagor também nos fizeram uma visita tirando uma folga de seus cargos, o pai na Sorbonne, e a mãe na Université PSL criada em 2010, ano em que eles deixaram Belarus por melhores salários, como haviam feito os meus pais.
Eu larguei meu emprego na empresa canadense. Me sentia como se estivesse faltando um membro do meu corpo, e me questionava se ter seguido a carreira de jornalista tinha valido à pena, uma vez que o preso que paguei pela liberdade de publicar meus artigos e defender minhas opiniões tinha me tirado um dos mais valiosos tesouros da minha vida. Porém, minha fama já estava selada, e não demorei a receber propostas para continuar sendo correspondente internacional especializado em assuntos do leste europeu que em seu todo, ainda não havia alcançado a democracia em todas as suas repúblicas. Fui aceito para um cargo que não demandava mais tantas viagens para cobrir os fatos no poderoso conglomerado Betelsmann AG sediado na pequena e vizinha Gütersloh, que me permitia trabalhar alguns dias da semana em casa, em Bielefeld, para onde o Yagor e eu nos mudamos. Ele deixou de assessorar a organização para a qual vinha dando apoio jurídico e passou a advogar num escritório local, o que também lhe garantia a volta tranquila para casa nos finais de tarde, sem que sua vida corresse perigo.
Alguns meses depois, recebi um e-mail de uma das irmãs do Voyshelk no meu escritório na Betelsmann. A simples menção do nome dele no e-mail me levou às lágrimas. O enorme vazio e a dor ainda estavam no meu peito, mais vivos do que nunca. Ela queria se encontrar comigo, por isso convidei-a a passar um final de semana conosco. Ela se atirou nos meus braços quando fomos buscá-la na estação ferroviária, e choramos juntos. O Yagor tentava se fazer de durão, sempre agia assim, desde criança, mas seus olhos marejados eram a prova viva de que, também nele, as feridas emocionais ainda não estavam cicatrizadas. Dasha queria saber detalhes de como foi aquela fatídica madrugada em que o irmão perdeu a vida, e também me entregou um álbum de fotografias que estava no apartamento da vulica Kamiennahorskaja. O exército não lhes dera grandes esclarecimentos, mentira nos fatos, ao conceder a pensão à mãe do Voyshelk. Sem conseguir conter o choro, que me obrigou a interromper o relato por diversas vezes, fiz com que ela soubesse de toda a verdade, do heroísmo do irmão para deixar sãos e salvos seus dois maiores amigos.
- Você vai gostar do que ele juntou nesse álbum. – disse ela, depois do relato feito.
Folheando as páginas repletas de fotografias nas quais o Voyshelk e eu aparecíamos juntos em diversas ocasiões desde nossa mais tenra idade até as vésperas do dia em que ele embarcou para servir o exército. Em algumas também aparecia o Yagor, mas via-se claramente que todo o álbum tinha um único objetivo, guardar recordações minhas. Abaixo de uma ou outra fotografia ele havia escrito algumas palavras ligadas à imagem e, constrangedoramente, nalgumas chegou a expressar o amor que sentia por mim, não o amor de amigo, de irmão, mas o mais veemente amor carnal, a paixão que jamais conseguiu admitir. Precisei parar de virar as páginas, pois eu chorava desoladamente, passando as pontas dos dedos sobre o rosto dele nas fotografias.
- O Voy sempre foi apaixonado por você! – verbalizou ela. – Nem sempre me dei conta do que significavam os longos períodos em que ficava sentado nalgum lugar com o olhar perdido no horizonte, das crises de mau humor, dos socos que desferia em paredes e móveis. Eu era muito jovem para entender o que se passava com ele. Sempre achei que fosse por conta da desavença com nosso pai, do clima de instabilidade que reinava em nossa casa, dos desmandos do meu pai e dos choros reprimidos pelos cantos da minha mãe. Porém, ao encontrar esse álbum compreendi do que se tratava. A postura machista nunca o deixou se declarar para você, o amor clandestino que tinha que ficar sob o manto de trevas e não podia ser revelado sem que sua figura de macho ficasse abalada. – afirmou ela.
- Eu sempre soube que ele me amava e que lutava contra esse amor com unhas e dentes. Quando ficava atormentado como você mencionou, ele me xingava, queria me bater, me culpava de qualquer situação que tivesse acontecido, para poder descarregar o que trazia no peito. Ele nunca me bateu, seria incapaz de me machucar. Mas arrumava confusão com os outros garotos e com o Yagor, a quem nunca deixou de ver como seu grande e único rival. A disputa entre os dois, fosse qual fosse o motivo alegado, no fundo sempre fui eu. Eu levei anos para perceber que estava apaixonado pelo Yagor, pois o Voyshelk sempre ficava jogando seu charme sobre mim e desviava o foco dos meus sentimentos. Passei anos confuso e dividido entre esses dois turrões cabeça-dura. Eu só me decidi quando o Voy me deixou para servir o exército e me garantiu que jamais teria qualquer coisa comigo, porque ele era macho e eu um viado. – revelei.
- Ele detestava e virava uma fera quando o comparávamos ao papai, mas era como ele agia. Tanto que a esposa o abandonou depois de ele ter dado algumas surras nela, como meu pai fazia com a minha mãe. – confirmou ela.
- Nos dias em que estivemos abrigados no apartamento dele, eu joguei isso na cara dele, foi a primeira vez que tive medo de ele me dar um soco na cara. – revelei.
O Yagor e eu perguntamos se ela, a irmã e a mãe estavam precisando de alguma coisa, que nos disporíamos a ajudar se fosse preciso. Ela nos garantiu que não. A mãe recebia as pensões do major que havia falecido e do Voyshelk, ela e a irmã tinham um bom emprego e ambas estavam em relacionamentos sérios com dois rapazes também recém-formados.
- Mantenha contato comigo, Dasha. Vocês ocupam um lugar muito, muito especial no meu coração, não só pela memória do Voy, mas porque guardo boas recordações da sua família. – disse ao me despedir dela no meio da tarde do domingo, antes de ela embarcar no trem de volta.
Eu estava calado quando o Yagor dirigia para casa depois de deixarmos a Dasha na estação. Não conseguia tirar aqueles olhares de dor que pareciam sempre fazer parte da fisionomia do Voyshelk, ainda mais sabendo que muita daquela dor era responsabilidade minha. O Yagor pareceu ler meus pensamentos.
- Não se culpe tanto! Você nunca negou nada a ele, nem seu amor nem seu corpo. E quer saber do que mais, aquele safado seria o único macho com quem eu aceitaria dividir o seu cuzinho se isso pudesse trazê-lo de volta para junto de nós. – a fala do Yagor, embargada pela emoção, exacerbou minhas lágrimas, por me mostrar a dimensão do que ele sentia pelo Voyshelk.
- Eu já te disse o quanto te amo? – perguntei.
- Já, mas pode repetir milhões de vezes, sou um pouco lerdo para compreender as coisas, sabia? – devolveu ele. Eu consegui finalmente rir. Levei minha mão à nuca dele e afaguei-o no início da implantação dos cabelos, onde toques suaves tinham o poder de enrijecer, em questão de segundos, aquele cacetão grosso no meio de suas pernas. – Sabe que vou te pegar assim que chegarmos em casa, não sabe? – perguntou ele, virando seu rosto ladino na minha direção.
- E por que você acha que eu estou te acariciando? – devolvi, com um sorriso tímido. Que ele é meu homem, meu macho, sussurrei pouco depois, em seus braços, quando o primeiro jato de seu sêmen começou a encharcar meu cuzinho esfolado, e ele mordiscava um dos biquinhos dos meus mamilos, discretamente inchado pela voracidade com a qual vinha sendo abusado.
Refugiado – s.m. = Pessoa que, em razão de uma guerra ou por sua religião, etnia, orientação sexual, ideologia política etc., foi obrigada a sair de sua terra natal e se mudar para outra, por ser alvo de perseguição. Indivíduo que se mudou para um lugar seguro, buscando proteção. Quem se refugiou; pessoa que busca escapar de um perigo.