The hidden diary - Final

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 15833 palavras
Data: 08/01/2021 14:36:38

The hidden diary - Final

Londres, meados de dezembro de 2014. Havia um mês que minha residência tinha terminado, mas eu ainda continuava trabalhando no hospital a fim de conseguir pagar o aluguel do apartamento e me manter. Chovia muito e fazia frio naquele final de tarde quando voltei para casa e encontrei um envelope postado na Nova Zelândia na minha caixa de correspondência. Uma palpitação me agitou e me fez subir as escadas de dois em dois degraus, tamanha a curiosidade de ler o conteúdo da carta. Precisei tomar um copo d’água depois de entrar no apartamento vencendo os quatro andares antes de rasgar o envelope. Quase explodi de alegria ao ler que tinha sido aceito para compor o quadro clínico de médicos de um hospital que estava sendo construído na capital, Wellington, e que, conforme mencionava o texto, iniciaria as atividades na segunda-feira da última semana de fevereiro de 2015, com uma reunião das diversas equipes antes da abertura oficial das portas para a população no início de março. Era a resposta a um anúncio que havia sido publicado no quadro de avisos do hall da universidade procurando profissionais médicos para compor o quadro clínico do novo hospital, e para o qual eu havia me candidatado enviando um currículo que foi assinado por alguns dos meus professores atestando minhas qualificações. Acabaram-se os anos de penúria, festejei, quando precisava economizar cada penny para dar conta dos meus custeios, uma vez que meu salário como residente, de pouco mais de £2.400/mês, mal cobria minhas despesas. Além de um salário bem razoável, acrescido de inúmeros benefícios, eu receberia um extra da ordem de 35% para assumir a chefia da equipe de anestesistas, especialidade que resolvi seguir. Eu já havia pesquisado e conversado com pessoas da Nova Zelândia que me asseguraram que os custos rotineiros, e até o valor dos aluguéis eram muito menores do que em Londres, para apartamentos bem mais amplos e bem localizados na capital do país. Sempre vivi de forma espartana, e o salário atraente seria o suficiente para ter uma vida confortável até mesmo na velhice, à depender da minha capacidade de economizar.

Nos dois encontros que tive com o Rafael depois da chegada da carta, não tive coragem de lhe dizer que meus dias na Europa estavam contados. Eu planejava ir ao Brasil antes de assumir o cargo no hospital em Wellington, passar o Natal com meus pais e estender a estadia até o fim do Carnaval em nossa casa de praia. Esperei até a hora do Rafael se despedir de mim quando o levei até o aeroporto no final de semana que ele viera passar comigo, para lhe contar minha intenção de passar o fim de ano com meus pais. Do novo emprego não soltei uma única palavra. Não sei o que me levou a agir assim. Sem uma explicação que me satisfizesse, eu não queria passar por outra despedida, outro adeus com ele; os do Carlos e do Colin tinham me devastado, e eu não precisava de mais esse. Ao mesmo tempo, eu já começava a sentir remorsos por agir dessa maneira, sem lhe contar a verdade, ou sem lhe dizer um – até mais – mesmo que isso nunca mais fosse acontecer. Eu havia repudiado tanto esse homem pela primeira impressão que ele me causara, havia tentado me convencer que meu interesse e, portanto, meus encontros dos últimos meses com ele eram apenas sexuais; por que então me sentia tão abalado com a possibilidade de nunca mais vê-lo?

- Todo esse tempo? – questionou ele, após eu lhe contar meus planos. – Até o Carnaval? Ubatuba vai estar cheio de gaviões durante o verão, não me vá cair nas garras de algum deles, entendeu? Por que esperou até agora para me contar que vai ao Brasil? Vou sentir sua falta! – emendou, visivelmente contrariado.

- Cheio de artimanhas como você é, não será difícil encontrar um buraco onde enfiar essa estrovenga safada. – devolvi.

- Por que não acredita no meu amor por você? Se digo que vou sentir sua falta, é porque é verdade. Você não é apenas um cuzinho onde eu me satisfaço. É tão difícil acreditar que eu te amo? – retrucou ele, o que me deixou com mais remorso ainda, uma vez que aquele beijo discreto que trocaríamos antes de ele entrar na sala de embarque e aquele – tchau – seriam os últimos que partilharíamos. Deixei suas perguntas sem resposta, o nó que estava na minha garganta podia se transformar em choro a qualquer instante, e tudo o que eu não queria era um adeus de novela mexicana. Eu nunca bendisse tanto a pontualidade britânica como naquele dia, o quarto de hora de que dispúnhamos, antes do voo dele partir, não deixou espaço para aquela conversa continuar.

Fiquei de ligar antes de embarcar para o Brasil, isso eu ia cumprir. Também lhe contaria tudo nessa ligação que, por não poder se estender demais, seria minha aliada para colocar um fim no nosso relacionamento. Enquanto bolava a maneira como lhe daria a notícia, fui me dando conta de que o Rafael também tinha agido estranhamente durante todo o nosso último encontro. Ele parecia estar com o pensamento distante, por vezes ficara longos períodos calado, taciturno. Tive a impressão que também tinha algo para me contar e estava juntando coragem para tal. Se ele estivesse planejando me dar o fora, seria providencial, pensei comigo mesmo. Eu não teria que me preocupar com remorsos. Mas, se esse fosse o caso, por que ainda se declarou para mim? Devia ser outra coisa a perturbá-lo.

No dia aprazado para minha viagem, quando fiquei de ligar, fui pego de surpresa por uma ligação dele antecipando-se para me desejar uma boa viagem, um bom Natal e Ano Novo, boas e merecidas férias e todo esse blá-blá-blá.

- Quando você voltar tenho uma surpresa para você! Mas, vou precisar me antecipar um pouco e, infelizmente, te revelar parte dela, pois preciso que você pense a respeito e me dê a sua resposta assim que desembarcar em Londres. – disse ele, numa euforia que eu podia sentir apesar da distância.

- Surpresa? – indaguei preocupado. Por pouco não lhe revelei toda a verdade. Eu estava sendo cruel lhe omitindo que não haveria mais volta a Londres, que não nos veríamos mais, que aquela despedida no saguão do London City Airport tinha sido definitiva.

- Sim, uma enorme surpresa! Pelo menos acho que é assim que você vai encarar o que tenho a te propor. – continuou.

- Espere Rafael, antes de continuarmos essa conversa, preciso te contar uma coisa muito importante. – interrompi-o, pois já não aguentava mais prolongar aquela situação.

- Aposto que não é tão importante quanto eu querer que você venha morar comigo na Nova Zelândia, Wellington, para ser mais exato. Eu consegui uma transferência, com um cargo bem melhor, numa agência de crédito parceira da empresa onde estou, atuante em toda a Oceania. Não é fantástico? Já imaginou, você e eu vivendo nosso amor juntos num país totalmente novo e vibrante? Com o término da sua residência você está livre, não está? Pode conseguir um emprego por lá, ou só ficar cuidando da nossa casa. Quero comprar uma casa só para nós dois! – interrompeu-me ele, me deixando boquiaberto, com os olhos marejados, tão perdido que demorei a conseguir articular uma resposta. Esse homem me ama a ponto de me incluir em seu projeto de vida e o que faço eu? Omito que estava prestes a lhe dizer que estava dando novo rumo à minha vida e que ele não estava incluso nesse plano. Me senti a mais vil das criaturas, e feito uma criança arrependida de ter feito uma traquinagem passível do castigo dos pais, comecei a chorar.

- Alô! Pedro? Pedro, você está me ouvindo? Alô, Pedro! – dizia a voz dele. Enquanto minhas pernas tremiam.

- Alô!

- O que aconteceu? Por que não me responde?

- Por que não te mereço! – balbuciei. Ele notou que eu estava chorando.

- Eu não disse que era uma tremenda surpresa! Mas, também não precisa se pôr a chorar só por conta disso! – retrucou. – Então, você tem um tempinho para me dar a resposta e se planejar. Eu queria que fosse uma surpresa de verdade, daquelas que você só ia descobrir quando tudo já estivesse concluído. Mas, como ela envolve muita coisa, não deu para ser um segredo até a última hora. Ficou feliz? – quem era esse novo Rafael? Quem era esse homem que eu julguei tão mal, tão severamente? Quem era esse homem que estava me dando todo seu amor, depois de eu nunca ter lhe dado um mínimo de esperanças? Certamente, um homem que não merecia me ter em sua vida, um homem que podia encontrar alguém muito melhor do que eu, com minha mesquinharia, meus segredinhos, minhas omissões.

- Perdão, Rafael! Perdão! – eu chorava copiosamente, que criatura abominável eu era.

- O que deu em você?

- Nada! Nada, não. Eu não mereço o seu amor!

- Não diga bobagem! Você merece tudo e muito mais do que sou capaz de te dar. – sentenciou ele, aumentando o desprezo que eu sentia por mim mesmo.

Os dias passavam e aquilo continuava martelando na minha cabeça. Na véspera do Ano Novo, disposto a não carregar nenhuma situação mal resolvida para o novo ano, fiz uma chamada no Whatsapp com o pretexto de desejar bons auspícios ao Rafael. Faltavam alguns minutos para a virada em Luxemburgo quando ele atendeu a ligação em meio a uma barulheira de fundo. Pediu-me alguns segundos para se refugiar num local mais tranquilo e mal me deixou falar. Minha ligação tinha-o deixado mais eufórico do que já estava, na festa de comemoração com uns amigos, a felicidade dele era tão contagiante que eu a podia sentir mesmo havendo um oceano entre nós. Ele engatava um assunto no outro, todos relacionados com a nossa suposta mudança para a Nova Zelândia. A minha determinação de lhe contar toda a verdade ia sumindo a cada minuto que ele relatava seus projetos para nossa vida futura. Despedimo-nos mais uma vez sem eu ter tido coragem de falar o que tinha feito. Era um dia tão especial, ele estava numa festa se divertindo, seria de uma insensibilidade grotesca acabar com essa felicidade num dia como aquele, argumentei comigo mesmo, para justificar a falta de coragem para lhe revelar tudo.

Em Ubatuba, com a família toda reunida como de costume, meu irmão não demorou a notar minha preocupação. Durante uma caminhada pela praia, contei a ele que havia reencontrado o Rafael, como mantivemos encontros sexuais nos últimos meses naquele ir e vir quinzenal, e como deixei de lhe contar sobre o novo emprego, apesar de ele também estar se mudando para Wellington, porém, sem saber que eu omitira o fato de ele não estar incluído nos meus planos nessa mudança.

Meu irmão e o Rafael tinham sido amigos na época em que ele namorava minha prima. Não tiveram mais contado após o Rafael se mudar para o exterior. Ele me contou como o Rafael tinha terminado o namoro com a nossa prima; repentina e, de certa forma, até grosseiramente, dizendo que estava terminando por que ela não caberia em seus planos futuros. Esse tipo de atitude do Rafael era típico dele naquela idade. A boa situação financeira da família lhe dava lastro para grosserias e petulância, como eu bem sabia. No entanto, meu irmão me garantiu que no fundo ele não passava de um moleque mimado, irresponsável, mal-educado e se achando o dono do mundo. Mas, que isso mascarava um sujeito até certo ponto tímido e boa gente. Eu afirmei ao meu irmão que era exatamente por conhecer esse lado obscuro de sua personalidade, que eu tinha muitas reservas em relação ao Rafael. Que nosso encontro casual em Luxemburgo não me inspirou a continuar mantendo qualquer tipo de relacionamento com ele. E também, que na minha cabeça, nossos encontros sexuais não passavam de um passatempo para ambos, não resultando em nada além disso.

- Não é o que está me parecendo. – afirmou meu irmão. – Se fosse apenas isso, você não estaria se sentindo tão mal por tê-lo enganado. Melhor dizendo, enganado não, omitido que estava dando um rumo na sua vida sem ele. Foi exatamente isso que ele fez com nossa prima. Portanto, não há porque você se sentir culpado. – emendou.

- Sinto que faltei com a verdade! Foi estupido de minha parte, não sei porque agi assim. Seria tão fácil ter dito – Adeus, estou seguindo minha vida. Valeu! Nossos encontros foram ótimos, mas acabam aqui – teria sido mais honesto.

- Volto a repetir, não se martirize, ele agiu da mesma forma; portanto, vai entender sua atitude. Agora, venhamos e convenhamos, essas trepadas que vocês davam e, que você chamou de um passatempo, não me parecem ter sido tão inconsequentes como você diz. Quem é que se dispõem a enfrentar mais de 500 quilômetros de distância, a cada quinze dias, para dar uma trepada que não significa nada? Vocês podem até ter iniciado esse joguinho na brincadeira, mas o fato de o perpetuarem por todos esses meses significa que deixou de ser uma brincadeira e acabou virando algo mais sério. – afirmou

- Imagina! Eu tinha acabado de levar o fora do Colin, por quem estava verdadeiramente apaixonado, estava carente, precisando preencher meu tempo livre com alguma distração, foi quando o Rafael apareceu, menos moleque, mais homem, com pinta de executivo bem-sucedido, e gostoso, isso não tenho como negar. Ele pode não ser um anjo de pessoa, mas é um tesão de macho, sempre foi. – asseverei.

- Transa após transa, foda após foda, vocês acabaram descobrindo que se gostam. Essa é a verdade, quer você admita ou não. Se não fosse assim, você não estaria nem aí com o que ele ia sentir ao descobrir que você partiu sem lhe dizer adeus; e ele, não teria armado todo um esquema para te levar junto com ele para Wellington. Vocês se amam, e ainda não se deram conta disso. – sentenciou meu irmão.

- Ele já me disse algumas vezes que me ama. Eu é que não sei o que sinto por ele. – afirmei.

- Só um cego não enxerga o que você sente por ele! – exclamou, aumentando minhas dúvidas e plantando caraminholas na minha mente. – Vou te contar mais um lance! Sabe aquele quebra-pau que vocês tiveram naquele fatídico passeio de lancha anos atrás? Pois bem, naquela noite que passamos forçadamente presos na ilha, o Rafael me confessou que sentia uma vontade enorme de te dar umas porradas. Perguntei a troco de quê. Ele ficou um tempo calado, criando coragem para dizer o que soltou a seguir. A bicha do teu irmão me deixa tão furioso porque quase enlouqueço de tesão por aquela bundona gostosa dele, acredita, afirmou um tanto quanto constrangido em admitir que se sentia atraído por um homossexual. Tirei o sarro da cara dele, e garanti que ia quebrar a cara dele se tocasse num fio de cabelo seu. Ele respondeu que era exatamente isso que o deixava puto da vida, nunca ia conseguir te dar umas porradas porque sabia que jamais ia conseguir te machucar. Também afirmou que você estava sendo um tremendo babaca namorando o Carlos, um viado que nunca ia te proporcionar o que você merecia na real, um macho que domasse seu gênio e fodesse sua bunda como devia ser. – revelou meu irmão.

- Esse, que você está descrevendo é ele! Agora você pode entender o porquê de eu ter implicado tanto com ele naquela época.

- Isso mudou! Você não acabou de dizer que ele é outro. Ele amadureceu, para estar no cargo que está deve ter se tornado um cara responsável e competente. As pessoas mudam! Dê uma oportunidade a ele. Conte a verdade, ele vai entender suas razões. E se, por acaso, não entender, o que você tem a perder, uma vez que garante que não sente nada por ele? – argumentou meu irmão. Só que eu estava sentindo algo pelo Rafael, o quanto e o quê exatamente, essa era a questão.

Conversei com o Rafael pelo celular mais algumas vezes enquanto curtia minhas férias no Brasil. Porém, foi só na última, uma semana antes de embarcar para a Nova Zelândia, que contei tudo a ele, que o deixei a par de que não regressaria a Londres, que estava a poucos dias de assumir meu cargo no hospital em Wellington. O súbito silêncio do outro lado me fez crer que minha revelação caiu como uma bomba em cima dele. Eu esperava por uma resposta dura, um desabafo de impropérios, que ele fosse me mandar à merda, no mínimo.

- Estou surpreso! Você não confia em mim, não é? – questionou sério.

- Não é isso! Só não quis fazer da despedida um dramalhão de novela. – asseverei.

- Eu te fiz uma proposta antes do Natal, e você ainda não me deu uma resposta. – acho que pela primeira vez passou pela cabeça dele que eu fosse recusar a vida que ele queria compartilhar comigo.

- Você é capaz de me perdoar?

- Perdoar o quê?

- Eu ter ..... – ele não me deixou continuar, interrompendo minha frase e meu raciocínio.

- Eu te amo, Pedro! Bota isso na tua cabeça de uma vez por todas. Amo de verdade! É tão difícil acreditar em mim? – questionou ele, com uma voz doce e acolhedora.

- Não, não é! Amo você também! – balbuciei, pela primeira vez com a coragem e determinação de lhe confessar meus sentimentos, sem sentir que estava fraquejando em alguma coisa.

- A ligação está cortada. Dá para você repetir, eu não ouvi direito? – a ligação estava mais do que clara e livre de interferências. O safado estava se aproveitando da minha rendição.

- Safado! Você ouviu muito bem, eu te amo! – repeti, começando a ouvir a risada dele.

Domingo, 22 de fevereiro de 2015, Wellington, Nova Zelândia – Desembarquei no aeroporto de Wellington mais grogue do que se tivesse tomado um tremendo porre, por conta do jet lag e; de ter embarcado na sexta-feira para Santigo do Chile e de lá voado até aqui, passando horas a fio ouvindo o zumbido contínuo das turbinas do avião. Hospedei-me num hotel, uma vez que na manhã seguinte teria que me apresentar no hospital. O receio de que o cansaço da viagem não me permitisse acordar, fez com que deixasse tudo quanto é alarme que tinha à disposição, aliado ao pedido que deixei na recepção do hotel para que me acordassem nem que fosse atirando um balde de água fria na minha cara. O tesudo do recepcionista atrás do balcão, um parrudo mestiço maori, riu da minha preocupação e garantiu que ele mesmo me atiraria um balde de água fria se fosse preciso, secando minha bunda com um olhar voraz e libertino.

Minha primeira impressão sobre o hospital e o pessoal não podia ter sido melhor. Pressenti que conseguiria desenvolver um bom trabalho com a equipe e me senti acolhido por eles. A chegada do Rafael estava prevista para o início de março. Ele havia me passado por e-mail o endereço do apartamento onde íamos morar, e que ele já tinha contratado a partir de Luxemburgo com a imobiliária. Ao final do expediente, resolvi pegar as chaves com o corretor e conhecer o apartamento. Não era grande, mas suficiente para nós dois. Embora o Rafael houvesse me recomendado que eu fosse me instalar lá o quanto antes, resolvi esperar pela chegada dele. Queria que ele fosse comigo fazer a compra da mobília e de tudo que fosse necessário, cheguei a ficar ansioso pela chegada dele pensando no prazer que seria ir adquirindo nossas coisas com o gosto pessoal de cada um. Durante o longo e desgastante voo eu me imaginava ao lado dele, compartilhando tudo, como um casal. Depois daquela conversa com o meu irmão, cresceu a necessidade de ele se tornar meu marido, meu parceiro, de planejarmos tudo a dois. Eu ficaria hospedado no hotel até a chegada dele, o que também facilitaria a minha vida nessas primeiras semanas.

Na véspera da chegada do Rafael eu estava mais agitado do que um mar revolto. Não havia pregado o olho a noite toda, acordava a intervalos curtos e o amanhecer parecia nunca chegar, no trabalho as horas pareciam não passar, os ponteiros do relógio não queriam se mover. Em pensamento, eu ficava imaginando em que ponto do longo trajeto da viagem ele deveria estar e, à medida que o tempo passava, o rosto dele ia ficando cada vez mais nítido, como se a lente de uma câmera estivesse dando zoom. Ele havia embarcado no aeroporto de Luxemburgo na manhã da quinta-feira, fez uma escala em Paris no mesmo dia e embarcou para Singapura onde chegou na sexta-feira pela manhã, encarou mais dez horas de voo até fazer escala em Auckland onde pernoitou antes de encarar as últimas duas horas de voo até Wellington. A chegada do voo estava prevista para as 08:10hs, mas eu cheguei ao aeroporto antes das 07:00hs movido pela ansiedade. O saguão do aeroporto estava lotado, pelos imensos janelões podia-se ver o constante pouso dos aviões na pista e, minutos depois, uma enxurrada de gente apontando pelos portões de saída. De repente, aquele rosto da minha imaginação se materializou, sedutoramente barbado devido a longa viagem, abrindo um sorriso na minha direção assim que me viu e, criando um terremoto no meu peito. A cada passo que aquelas pernas davam na minha direção, com suas coxas grossas deixando a calça justa sob toda aquela musculatura, meu coração batia mais forte. Era impressão minha ou os músculos do peitoral e braços dele estavam maiores, pois a camisa estava tão justa que parecia estar prestes a se rasgar? Não era apenas o meu olhar que estava focado sobre aquele homem másculo transbordando testosterona, diversos rostos femininos se voltaram para apreciá-lo. Mas, a única coisa que me importava, era que o dele estava focado em mim, só em mim, como se eu fosse a única pessoa a estar naquele saguão lotado. Assim que ele chegou ao alcance dos meus braços, atirei-me de encontro a ele e me pendurei em seu pescoço. Ele deixou a bagagem de mão cair a seus pés e me enlaçou pela cintura, rodopiando comigo enquanto nossas bocas se uniam num beijo saudoso, úmido e cheio de amor. Algumas pessoas passavam por nós, movendo a cabeça em repúdio à cena, outros se questionavam sobre a moral dos novos tempos e, outros ainda, abriam um sorriso como que participando da nossa alegria.

- A temporada no Brasil te fez muito bem, esse tom bronzeado me faz imaginar como não está esse corpão delicioso onde não vejo a hora de enfiar a minha pica. – sussurrou ele no meu ouvido, antes de me soltar no chão.

- Amo você, Rafael! Estava morrendo de saudades! – devolvi, deslizando minha mão sobre aquele rosto hirsuto e mais lindo do que nunca.

A caminho do hotel expliquei-lhe minhas razões por ainda não ter me mudado, ele ficou contente por poder participar da escolha e compra da mobília, mesmo que isso adiasse por mais alguns dias nossa instalação no apartamento. Minha intenção era iniciar a procura naquele sábado mesmo, mas desisti por conta da exaustiva viagem dele.

- Vou te deixar dormir um pouco para recuperar as energias! – exclamei, assim que ele saiu debaixo da ducha e veio se enxugar perto de mim.

- Não vai ser dormindo que vou me recuperar! – devolveu ele, deixando a toalha cair mesmo antes de estar completamente enxugado, e me exibindo sua verga à meia-bomba com o mais ladino dos sorrisos nos lábios. – Faz dias que tenho tido ereções constantes só pensando nesse nosso reencontro. – revelou.

Meu cu começou a piscar no mesmo instante. A visão daquela estrovenga solta e excitada me encheu de tesão. Aproximei-me dele, enfiei meus dedos nos pelos do peito dele e comecei a dar leves puxões, enquanto ele voltava a me enlaçar pela cintura, enfiava a mão no cós da minha calça e a guiava diretamente para cima das minhas nádegas. Gemi quando ele as apertou com força e colei minha boca na dele. Ele não levou mais do que alguns segundos para arriar minha calça e tomar posse da minha bunda numa sanha voluptuosa. Puxei-o até próximo da cama, fui me ajoelhando em frente das suas pernas peludas ligeiramente abertas, numa posição que favorecia pleno acesso ao seu sexo avantajado. Minhas mãos deslizaram sobre as coxas dele, subindo em direção à virilha. Uma delas se fechou ao redor do cacetão grosso e, após uns breves afagos, levou-o até meus lábios. Uma lambida na glande, que terminei de expor retraindo um pouco o prepúcio, antes de fechar meus lábios ao redor da pica fez o Rafael soltar um gemido lascivo. A pica chegou a dar um pinote quando entrou na minha boca, liberando um pouco de pré-gozo que sorvi guloso. Outro gemido dele, enquanto suas mãos agarravam minha cabeça e a enfiavam em sua virilha pentelhuda, quente e cheirosa. Com isso, a cabeçorra se entalou na minha garganta, me sufocando e me fazendo apertar os músculos de suas coxas onde eu me agarrava. Inspirei fundo pelo nariz e lutando para afastar um pouco a cabeça e fazer a glande voltar à minha boca, comecei a chupar aquela carne suculenta, cheia de vida e vontade própria. O Rafael se contorcia, sussurrava sacanagens, jurava que ia me deixar arregaçado, prometia que seria para sempre o macho que eu nunca tive. O escroto enorme balançando bem diante dos meus olhos, enquanto eu chupava e mordiscava toda extensão do caralho, me fez desejar o sumo viril que aqueles dois testículos gigantescos dentro dele produziam. O Rafael tentava se controlar adiando o gozo toda vez que o sentia a ponto de eclodir, mas o empenho e a voracidade da minha boca sugadora não lhe davam trégua.

- Estava sentindo falta do teu macho, não é seu safado? – grunhiu ele, instantes antes de soltar o ar represado em seus pulmões por entre os dentes e ejacular na minha boca.

Eu bem conhecia a abundância de seus gozos, sabia que tinha que ser ligeiro em engolir toda aquela porra para não me engasgar e, mesmo estando sem praticar já a algum tempo, dirigi um olhar doce em sua direção enquanto engolia um jato atrás do outro, saboreando cada um deles como se fossem os goles que garantiam minha subsistência. Ele quase endoidava de tanto tesão quando eu fazia isso, naquela submissão e devoção que o faziam se sentir o mais macho dos machos.

- Isso, engole o leite do teu macho, engole! É assim que eu gosto, essa boquinha aveludada chupando meu caralho. – proferia ele, deixando o gozo fluir abundante e solto.

Nem bem eu havia terminado de limpar todo o pinto dele com as minhas lambidas, ele me lançou sobre a cama, de bruços, terminou de arrancar a minha calça que estava embolada nos meus tornozelos e partiu para cima da minha bunda carnuda numa voracidade ensandecida. As mãos fortes amassaram meus glúteos com força desmesurada, apartaram as bandas e expuseram meu reguinho liso, comecei a sentir as mordidinhas inicialmente suaves sobre os glúteos, rebolei enquanto ele me devassava. Quanto mais próximas do rego as mordidas ficavam, mais intensas e penosas se tornavam, me obrigando a gemer feito uma cadela tendo seu cio conferido. Espasmos começaram a avassalar meu corpo, o desejo de que aquele macho entrasse em mim convulsionava minhas entranhas. A primeira linguada sobre as minhas preguinhas fez minhas nádegas se contraírem aprisionando aquele rosto que parecia estar revestido por uma lixa, pois os pelos duros e espinhosos de sua barba espetavam minha pele sensível. Soltei mais um ganido libertino assinalando que estava pronto para o coito. O Rafael se deleitava com o meu tesão, me contorcendo ansiosamente, com a minha vontade de levar pica naquele buraquinho apertado que o chamava para o pecado, para a devassidão, para o prazer desconhecido que eu havia lhe mostrado existir na primeira vez em que meteu sua rola nele.

- Ai, amor, me penetra! – murmurei, enlouquecido de tanto tesão e saudade.

- Você não deveria me pedir uma coisa dessas no estado em que estou. Vou te foder, foder como nunca te fodi antes. – grunhiu ele, observando como aquela fendinha rosada o atraia para o pecado.

Ele abriu minhas pernas, se posicionou entre elas, guiou a pica completamente dura para dentro daquele reguinho alvo e convidativo, posicionou a cabeçorra sobre a portinha do cu piscante e meteu seu membro no meu rabo. Eu senti meus esfíncteres se rasgando, aquela dor tomando conta do meu baixo ventre, minha pelve se contraindo num espasmo violento e aprisionando aquela caceta cabeçuda no meu cuzinho. Um grito ecoou pelo quarto, era a primeira vez que eu gritava daquele jeito pungente, e o Rafael teve a certeza de que tinha usado de uma brutalidade exagerada; não que isso não tivesse lhe aumentado o prazer, mas alertando-o de que aquelas pregas tinham sua fragilidade.

- Eu avisei, não foi? – rosnou ele, deixando o peso de seu corpo cair sobre o meu.

- Avisou! Sou louco por você, me fode. – gemi, pois a única coisa que eu queria era sentir todo aquele macho dentro de mim.

Aquele foi o mais intenso, dolorido e prazeroso coito que eu já tive com um homem. O Rafael parecia querer fazer parte do meu corpo, entrando tão profundamente em mim que todas as minhas vísceras tiveram que se desalojar para dar espaço àquele intruso gigantesco, que me socava a cada impulso que o quadril daquele macho dava. Era isso que a saudade, a abstinência, os desejos reprimidos faziam quando duas criaturas se davam conta de que estavam unidos por um amor sem tamanho. Os braços do Rafael envolviam meu tronco, me prendiam com firmeza debaixo dele, suas mãos apalpavam meus peitinhos, tracionavam os bichos enrijecidos pela excitação, ele chupava e mordia meu cangote, sussurrava junto ao meu ouvido que meu cuzinho apertado era mil vezes mais gostoso que uma buceta, que ele ia me arregaçar todo para eu saber que ele era meu macho.

- Eu te amo! – balbuciei, pois toda aquela convulsão no meu peito tinha esse, e apenas esse nome.

- Ah, Pedro Luiz! Repete isso para mim, repete! Acho que vou explodir de tanta felicidade, ouvindo você dizer que me ama com essa bunda envolvendo minha rola. – ronronou ele, enquanto a cadência do vaivém do seu cacete no meu rabo ia se acelerando.

Um giro malabarístico nos colocou novamente um sobre o outro, porém, desta vez, eu estava de costas, pernas abertas ao redor da cintura dele, joelhos na altura de seus ombros, braços abertos na altura da cabeça onde ele encaixou suas mãos nas minhas prendendo-as contra o colchão. Olho no olho, o caralho deslizando outra vez para dentro de mim, até o sacão se comprimir no meu rego, a retomada lenta e paulatina daquele entra e sai do caralho esfolando minha mucosa anal, meus gemidos lascivos de entrega e idolatria, e o retesamento de toda a musculatura do Rafael ganhando força. O brilho no fundo dos olhos serenos dele se intensificando, um espasmo contraindo minha pelve e me fazendo gozar, o prazer infinito da porra fluindo por conta do que eu sentia por aquele homem. O sorriso dele se abrindo ao ver que eu ejaculava envolto em prazer, um prazer que ele estava me proporcionando. O urro dele crescendo em sua garganta e assomando nos lábios contraídos, e os jatos potentes de porra encharcando meu cu, tépidos e pegajosos, aderindo as minhas entranhas onde fariam parte de mim.

- Estou pesado demais para você? – perguntou ele com a pica perdendo lentamente a rigidez toda enfiada no meu rabo, após um tempo depois de ter esvaziado seus colhões no meu cu, soltado o peso de seu corpo sobre o meu e deitado sua cabeça no meu ombro, onde as pontas dos meus dedos afagavam seus cabelos.

- Não, não está! Por mim você poderia passar a eternidade exatamente onde está. – sussurrei

- Sentiu minha falta?

- Muito! Me perdoa pelo que fiz? Quase joguei minha felicidade pela janela, antes de descobrir o quanto te amo. – confessei.

- Não tenho nada a perdoar! O mais importante é que estou onde sonhei estar, recebendo teus afagos em seus braços. – declarou.

A fadiga da viagem, o relaxamento provocado pela abundante esporrada e o meu cafuné na nuca fizeram-no cochilar. Eu senti que ele ficava progressivamente mais pesado, que o cacetão já não pressionava minha mucosa com tanta intensidade, que sua respiração ia se tornando cada vez mais espaçada e profunda, ele adormeceu em meus braços. Baixei vagarosamente minhas pernas, pois a posição forçada começava a me provocar um entorpecimento, o pau dele escorregou para fora do meu cuzinho, mesmo eu travando os esfíncteres para prendê-lo e, ao mesmo tempo, não permitir que seu sêmen vazasse. Cerca de um quarto de hora depois, ele dormindo, girou para o lado e saiu de cima de mim. Cobri-o com um lençol e fui me lavar, meu cu nunca tinha ficado tão dilacerado. O Rafael devia estar na secura há semanas.

Tiramos aquele final de semana para nós dois. Embora precisássemos nos mudar para o apartamento, resolvemos que começaríamos as fazer as compras durante a semana, após os expedientes. A ideia do Rafael não era fixar residência definitiva no apartamento que era alugado, mas sim numa casa que procuraríamos com calma mais adiante. Portanto, não íamos investir muito para deixar aquele apartamento habitável.

À medida que o tempo passava, descobrimos que Wellington era uma cidade fantástica, cheia de atrativos. A capital mais meridional do planeta com seus verões e invernos amenos, em certos dias até friozinhos exatamente como o Rafael e eu gostávamos, logo se confirmou como aquele cantinho do mundo onde viveríamos nosso amor até o último dos nossos dias. Até o trabalho parecia menos exaustivo e mais empolgante naquela cidade onde logo nos sentimos em casa.

23 de outubro de 2015, sexta-feira, feriadão do Dia do Trabalho, Wellington, Nova Zelândia – Foi quando vi a casa abandonada em Hataitai pela primeira vez. Era a surpresa que o Rafael tinha prometido me fazer, depois de se certificar que eu não estaria de plantão no hospital.

Nos dirigimos até a porta de entrada, debaixo do terraço onde ripas de madeira do forro apodrecido pendiam sobre nossas cabeças. O Rafael girou a chave na fechadura destrancando-a, tivemos que lançar nossos ombros contra a porta emperrada para conseguir abri-la sob um rangido agudo. Nem mesmo a má conservação conseguia esconder a beleza da arquitetura tanto do exterior quanto do interior da casa. Quando nova devia ter sido linda. Continuava linda, mas desmazelada.

- Vai dar um trabalhão consertar tudo isso, amor! Será que vale à pena? Se o que pode ser visto está nessas condições, imagina como não deve estar a estrutura não aparente da casa. – argumentei, embora estivesse encantado com a casa.

- Pedi que um engenheiro avaliasse a casa antes de fechar o negócio. Ele me garantiu que os custos mais elevados serão a reforma das instalações elétricas e hidráulicas que, além de superadas pelo tempo estão em péssimas condições, e o telhado que vai precisar ser refeito. No mais, ele disse que uma revitalização com a substituição de janelas e portas por mais modernas, vai deixar tudo perfeito. – sentenciou. Nos poucos meses que morávamos sob o mesmo teto, logo percebi que o Rafael era um homem precavido, meticuloso, tomando decisões apenas quando tinha se cercado de todas as informações e segurança necessários. – Quer encarar esse desafio comigo? – emendou, me puxando contra seu peito com um lindo sorriso no rosto.

- Com certeza! Você sabe que te amo, não sabe? – respondi, antes de colocar um demorado beijo naquela boca sedutora.

As obras começaram em janeiro de 2016, os verões mais secos na Nova Zelândia iam favorecer o andamento dos trabalhos da empresa que contratamos para a reforma. O Rafael e eu íamos todos os finais de semana supervisionar a progressão dos trabalhos, ocasião em que também nos encontrávamos com o engenheiro e o empreiteiro para definir alguns detalhes. Foi durante uma dessas visitas, que o empreiteiro nos questionou sobre o que fazer com o que estava acumulado debaixo do telhado, antes de removê-lo por completo.

- Debaixo do telhado? O que tem lá? – perguntou o Rafael.

- Devido à altura, é uma espécie de sótão que se podia alcançar por uma escada retrátil que já não existe mais e ficava aqui. – respondeu o empreiteiro, mostrando o alçapão de acesso ao tal vão sob o telhado. – o espaço está cheio de objetos, baús de madeira e metal, até pequenos móveis antigos como mesinhas e uma cômoda estão empoeirados e até um pouco apodrecidos devido a algumas goteiras. – esclareceu. – Jogamos tudo fora?

- Acho que sim, não é Pedro?

- Eu gostaria de dar uma olhada em tudo antes de nos livrarmos do que não serve mais, pode ser? – questionei.

- Nem sabemos a quem essas coisas pertenceram, se estão abandonadas ali por todos esses anos, não devem servir para mais nada. – ponderou o Rafael.

- Mesmo assim, eu gostaria de examinar o que tem lá.

- Ok! Esta semana vou pedir que os rapazes desçam tudo o que estiver por lá antes de desmancharmos a estrutura do telhado. – afirmou o empreiteiro.

Não sei o que despertou meu interesse por coisas que nunca tiveram relação comigo ou com o Rafael, mas estava curioso para descobrir o que os antigos moradores tinham guardado naquele sótão. O Rafael disse que seria perda de tempo, só adiando nos livrarmos daquele lixo todo.

Realmente não havia nada de interessante naquela tralha toda que o empreiteiro amontou num canto da sala para eu conferir do que se tratava. Contudo, dois baús metálicos lacrados com ferrolhos, um pouco enferrujados, muito pesados, chamaram minha atenção. Tentei abri-los com uma talhadeira e martelo, mas foi impossível.

- Para que está se dando esse trabalho todo? – questionou o Rafael quando me viu lutando para abrir aqueles ferrolhos.

- Curiosidade! Me ajuda aqui, acho que vamos precisar de uma serra.

O empreiteiro se aproximou com uma serra elétrica e rompeu os ferrolhos. Os baús estavam cheios de livros, documentos, molduras com fotografias desbotadas, e dois cadernos volumosos de capa dura que foram encapados com couro costurado a mão, num trabalho meticuloso e artesanal. Minhas mãos tremiam um pouco quando abri a tira de couro que circundava o caderno a título de fecho e constatei que se tratava de diários, foi como se eu estivesse bisbilhando a vida alheia, me metendo nos segredos de um desconhecido. A anotação mais antiga que iniciava um dos cadernos estava datada de 2 de agosto de 1964 e dizia, numa letra esticada e tombada – há poucas horas entramos no Golfo de Tonquim, o dia amanheceu com um nevoeiro que envolve todo o USS Maddox, nossa velocidade é baixa devido a missão de vigilância eletrônica. Nem eu nem o Marvin conseguimos pegar no sono na cabine, nos camuflamos num canto junto a carcaça do filtro de ar da casa de máquinas dianteira, completamente vazia e silenciosa naquele horário. Estávamos quase a uma semana sem nos tocarmos. Tão logo nos abraçamos, ficamos de pau duro. Ele me beijou o foi me reclinando até o chão frio e metálico, onde minhas costas se apoiaram sustentando o peso dele sobre mim. Soltei um gemido que foi ensurdecido pelo ar passando sob pressão pelos dutos quando o cacetão dele entrou em mim. Ele me beijou, eu tomei seu rosto entre as mãos e ergui minha pelve fazendo com que o cacete duro dele se aprofundasse no meu cu. Ele sorriu ante o meu desejo escancarado pelo coito, e começou a me estocar com cuidado. Fui transportado ao paraíso, onde não havia sinal algum da guerra, apenas a doce sensação do Marvin me penetrando. Ele gozou rápido, antes de mim, devido ao constante estado de alerta que nos estressava, e àquela famigerada necessidade de esvaziar seus colhões sempre abarrotados de porra. Ele tirou a pica do meu cu sem nenhuma pressa, como se não quisesse sair dali. Beijamo-nos mais uma vez, doce e demoradamente. Demorada como aquela guerra na qual fomos lançados contra nossa vontade. Quase simultaneamente, como cantores afinados de um coral, balbuciamos um eu te amo. Essa era a única certeza que tínhamos na vida, pois ela própria podia acabar repentinamente com a explosão de um torpedo ou de uma bomba. – É o diário de um militar americano, eu acho, exclamei ao terminar de ler a anotação, ao que o Rafael se sentou ao meu lado para ver as páginas com seus próprios olhos.

- É o diário de um gay! – exclamou o Rafael. – A letra é tão bonita e delicada, será que ele fez essa anotação a bordo do navio? Se fez, era um sujeito corajoso, naquela época e no meio militar se fosse apanhado teriam acabado com a vida dele. – ponderou.

- Aonde fica esse Golfo de Tonquim? 1964 rolava a guerra do Vietnã, deve ser essa a guerra a qual ele se refere. Ao que parece há um ou até mais cadernos anteriores a esse, veja que ele menciona – conforme já contei em outras passagens – o que indica que ele vinha escrevendo um diário há tempos. Não é incrível? Ele não fazia registros diários, há lapsos entre as datas, alguns de semanas, até meses. – afirmei, ao verificar a datação dos registros nas folhas de papel ressequido pelo tempo. Fiquei tão contagiado pelo que acabei de ler que podia sentir meu coração batendo acelerado no peito.

- Sim, é incrível! É a vida de um desconhecido. – afirmou o Rafael, despertado pelo interesse.

O Rafael e eu resolvemos que levaríamos alguns daqueles itens para o apartamento, especialmente os dois diários, pois fomos fisgados por aquelas poucas frases que lemos como peixes no anzol. Nossos empregos exigiam muito do nosso tempo, era comum o Rafael trazer serviço para casa e ficar horas diante do computador, assim como eu chegar muito além do expediente, retido por algum caso mais complicado. A demanda pela reforma da casa nos roubou ainda mais daquele precioso tempo que tínhamos de folga, e os cadernos ficaram esquecidos numa estante da sala junto com os demais documentos e fotografias encontradas no baú.

O empreiteiro havia nos prometido a entrega da reforma para a semana que antecedia o feriadão nacional do Queen’s Birthday, comemorado a primeira segunda-feira de junho, e assim foi. Mal dava para reconhecer a casa após a reforma. Em meio ao jardim reconstruindo, havia agora uma construção ampla e assobradada de linhas elegantes, um telhado que realçava seus volumes e imensos janelões de vidro restaurados que permitiam a entrada de muita luz e da exuberante paisagem que se descortinava colina abaixo. Ela devia ter sido exatamente assim quando recém construída, sabe-se lá a quantos anos atrás. A mudança aconteceu na quinta-feira antes do feriado, quando o Rafael tirou dois dias de folga e eu fiz trocas na minha escala de plantões. Não havia muito o que transportar, basicamente nossas roupas e alguns eletrodomésticos e outros pequenos itens, pois toda a mobília para a nova casa havia sido adquirida e planejada em cada detalhe. Apesar disso, só conseguimos pernoitar pela primeira vez em nosso quarto no sábado à noite, quando tudo estava devidamente instalado. Era uma noite fria, os ventos austrais, já normalmente incessantes, estavam mais intensos naquela noite e aumentavam a sensação de frio que os 8°C do termômetro apontavam. Mesmo assim, deixamos abertas parte das portas de correr de vidro que davam para a varanda do nosso quarto, a fim de permitir que o ar marítimo entrasse no quarto e diluísse um pouco o cheiro remanescente da tinta das paredes. No horizonte, lá embaixo, as luzes da cidade junto a orla pareciam pequenos diamantes fulgurando na escuridão. O Rafael estava debruçado no gradil da varanda apreciando a vista, quando fui até ele e o abracei pela cintura.

- Feliz com sua conquista? – perguntei, ao beijar seu rosto.

- Nossa conquista! – corrigiu-me ele prontamente.

- Nossa conquista. – repeti, quando ele passou o braço no meu pescoço e me puxou para junto dele.

- Estou muito feliz! Estou feliz por você estar aqui comigo, estou feliz pela casa, ficou linda, não foi? Sou o homem mais feliz desse universo por ter o seu amor. – afirmou.

- Ficou sim, ficou linda! Obrigado! – exclamei.

- Obrigado, pelo quê?

- Por essa casa, por seu amor, por ser esse homem maravilhoso, por você fazer parte da minha vida! Amo muito você! – devolvi, cravando mais intensamente meus dedos em sua cintura.

- Está me bajulando?

- Um pouco, mas estou particularmente agradecendo o presente que você é na minha vida. – confessei.

- Você sabe que daqui a pouco eu vou te comer em cima daquela cama, não sabe? – indagou, deixando-se acariciar feito um cachorrão dengoso.

- Sei! Estou sonhando com isso desde hoje de manhã. – revelei, fazendo charminho.

- Amo quando você me olha com essa cara safada. – retrucou ele

- Cara safada, eu? É a minha cara tão inocente de sempre! – respondi.

- Inocente? Sei! É a tua cara quando está pedindo pica, seu safado! – exclamou rindo.

- Você já me conhece tão bem assim? – questionei, excitado e seduzindo meu homem.

- Conheço o suficiente para saber quando esse cuzinho está piscando de vontade de sentir minha rola. – respondeu convencido, dando-me uma agarrada que me colou ao seu tórax e, juntando sua boca à minha para meter aquela língua devassa em mim, como um preâmbulo do que estava para meter no meu corpo.

Fiquei imóvel junto à cama deixando que ele me despisse lentamente, tocando ora seus dedos, ora sua boca nas partes que iam ficando expostas. Ele gostava de ir se apossando de mim assim progressivamente, enquanto eu o deixava me capturar sem obstruir aos seus avanços. Seus olhos brilhavam de cobiça à medida que eu ia ficando desnudo, enquanto uma ereção ia se formando entre suas coxas. Eu ia me excitando a cada lampejo daquele olhar lhe confirmando que era o dono exclusivo do meu corpo e do meu ser. Quando eu estava completamente nu, ele começou a me beijar, eram beijos misturados a mordidas que iam entorpecendo meus lábios e minha consciência, fazendo com que eu me rendesse aos seus desejos mais primais. Tal como as dele, minhas mãos ficavam impacientes, sedentas de vontade de tocá-lo, de afagar aquele tronco com seus pelos esbanjando virilidade. Ele se entregava a esse capricho, pois sabia que era o caminho que o conduziria infalivelmente para dentro do meu cuzinho. Naquela noite, chupei sensual e demoradamente sua ereção, sorvendo seu tesão transformado em pré-gozo almiscarado. Minutos depois, ele enfiava a jeba rija no meu cu, cobrindo-me como se eu fosse uma fêmea a ser inseminada, sob gemidos libidinosos de dor e prazer.

Colina do subúrbio de Hataitai, Wellington, primavera deHavíamos praticamente nos esquecido dos cadernos, até que um dia o Rafael, procurando pelos recibos de umas contas, voltou a colocar os olhos neles.

- Vamos continuar guardando esses cadernos e os outros itens que estavam naqueles baús? – perguntou ele, enquanto eu preparava nossa janta na cozinha.

- Até havia me esquecido deles com toda essa correria. Podíamos esmiuçar o conteúdo e tentar descobrir mais alguma coisa sobre o tal militar gay, o que você acha? – devolvi.

- Tudo bem! Você ficou sensibilizado com o que leu, não foi?

- Fiquei. Imagina que loucura dois caras se amando, transando escondidos num destroyer durante a guerra do Vietnã. Devem ter sido pessoas com uma história de vida muito rica. – respondi

- Você não sabe se eles se amavam ou se só estavam dando uma rapidinha por falta de opção. Também fala como se eles estivessem mortos, mas pense bem, 1964, eles podem estar vivos em algum canto por aí. Se você imaginar que eram soldados ou marinheiros com cerca de uns vinte e três a vinte e cinco anos de idade quando estavam no serviço militar, que é o que costuma ser, hoje eles teriam uns 75 a 77 anos de idade, perfeitamente possível que estejam vivos. – argumentou o Rafael.

- É mesmo! Será que eram os antigos donos da casa? Só pode ser!

- O vendedor de quem a adquiri era o banco. Um processo judicial transformou o banco em proprietário do imóvel. – revelou

- Será que eles se separam de forma litigiosa?

- Você acha que eles viveram juntos, como nós, como um casal? Você é um romântico incorrigível, só porque leu que dois caras treparam a bordo de um navio já acha que estavam apaixonados e viveram uma vida de conto de fadas. – retrucou ele, zombando da minha imaginação.

- É perfeitamente plausível! O cara que escreveu no diário, cita que eles disseram – eu te amo – um para outro depois da transa. Daí eu concluir que formavam um casal. – esclareci. – Esta noite vamos ler mais um pouco daquele diário, agora quero saber como essa história termina. – afirmei

- Ao invés de ficar lendo a história de desconhecidos, eu prefiro comer essa bundinha tesuda e te mostrar o que é estar apaixonado. – sentenciou, dando um chupão na minha nuca e me encoxando contra a pia, cheio de tesão.

- Vai que nas anotações você descobre outras maneiras de se inspirar. – devolvi, empinando a bunda para que ela se encaixasse na virilha dele.

- Com esse rabão se esfregando no meu cacete não preciso de mais inspiração alguma! – exclamou e, por pouco, não me fodeu ali mesmo, antes de eu terminar de fazer nossa janta.

Encostado no ombro do Rafael, eu lia em voz alta o que aquela letra bem traçada havia escrito. Ele me ouvia compenetrado, tinha puxado minha mão para cima da pica, onde eu a acariciava sob a bermuda de seda do pijama e a sentia tomando consistência. A leitura ia confirmando tratar-se de fatos ocorridos durante a guerra do Vietnã, continuou depois que ambos deram baixa das fileiras da marinha americana. Contava como tinham vindo parar na Nova Zelândia e começado a viver como um casal gay, assim como eu havia imaginado. Havia algumas passagens tristes, como quando o narrador havia sido ferido e ficado entre a vida e a morte, ou como quando ambos foram espancados numa lanchonete em Lincoln, capital do Nebraska, de onde provavelmente era a família de um deles, que também não aceitava aquela relação que ele chamou de pecaminosa em alguns trechos. Através de alguns relatos, percebia-se que os dois tiveram que lutar e enfrentar muitas adversidades para que pudessem viver aquela paixão. Enquanto isso, o Rafael e eu mergulhávamos na experiência deles e começávamos a nos apaixonar por aquelas pessoas que pareciam atores protagonistas de um filme.

- Acho que consigo descobrir como o banco se tornou proprietário da casa, vou investigar! – exclamou o Rafael, quando encerrei a leitura por aquela noite, uma vez que ele não me dava sossego chupando meus mamilos e passando a mão na minha bunda numa insistência crescente.

- Sério? Entra em ação o detetive Rafael! – caçoei. Foi o que bastou para ele tirar o caderno da minha mão e se atirar sobre mim com a bermuda do pijama arriada e o caralhão duro feito um poste. Mal a minha calça do pijama havia chegado na altura dos meus joelhos, o dedo impudico dele entrou no meu cuzinho, eu gemi e empinei o rabo, facilitando a penetração daquela pica tão desejada.

Alguns dias depois, o Rafael chegou em casa com uma novidade, tinha descoberto o nome do antigo proprietário da casa, de quem o banco a confiscou por falta de pagamento de um empréstimo, John Bulton Fletcher.

- Já vasculhei as páginas dos dois cadernos rapidamente para ver se encontrava mais alguns nomes, mas não encontrei nada além de alguns nomes de homens e mulheres, sempre sem os sobrenomes. – afirmei.

- Seria legal se soubéssemos o nome de quem escreveu o diário, daria para continuar investigando. – retrucou o Rafael.

- E se fossemos à prefeitura? Pode ser que haja registros de antigos proprietários da casa. – sugeri. No dia seguinte, ele perdeu algumas horas para pesquisar nos registros da prefeitura de Wellington.

- Nenhuma pessoa com o sobrenome Bulton ou Fletcher foi dona de uma casa em Wellington. – disse ele, durante o jantar. – Mas, adivinhe! O arquiteto que assinou o projeto da casa se chamava Marvin Robinson, é tudo que consegui apurar. – revelou.

- Marvin! Marvin é um dos amantes do destroyer! É a paixão do nosso escritor. – exclamei entusiasmado.

- Isso é uma dedução sua, há milhares de Marvins por aí. O que garante que esse Marvin seja o do diário? – questionou.

- É coincidência demais, não acha? É ele, tenho quase certeza de que é ele, intuição. – afirmei, querendo que fosse verdade.

Semanas depois, numa tarde de folga, resolvi dar uma caminhada pelos arredores. As casas ficavam relativamente afastadas umas das outras, o que nos dificultou conhecer nossos vizinhos. Ao passar por uma delas, encontrei uma senhora cortando algumas flores no jardim e compondo um arranjo vistoso que segurava numa das mãos. Fui ter com ela, senhora Debra, se identificou. Perguntei se conheceu seus antigos vizinhos, e me surpreendi com sua resposta.

- John Fletcher, um patife! – exclamou, de pronto.

- Então a senhora o conheceu?

- Preferia nunca ter conhecido! Deu um golpe no próprio tio que terminou de criá-lo após a morte dos pais. Um sujeito desprezível! – asseverou a velha senhora

- E como se chamava esse tio, a senhora por acaso sabe?

- Robinson, acho que o sobrenome dele era Robinson. Minha cabeça já não é mais a mesma, além do que, nunca fui boa em guardar nomes. Mas, se não estiver enganada, o nome era esse mesmo. – conjecturou atrapalhada.

- A senhora sabe se algum outro vizinho conhecia os proprietários?

- Dificilmente! Todos moram a poucos anos por aqui. A vizinhança mudou muito nesses últimos anos, sabe. Casais jovens estão adquirindo as casas devido à vista espetacular que se tem da baía lá embaixo, e transformando-as em casarões valorizados. Você e sua esposa são neozelandeses? O senhor tem traços tão incomuns! – observou.

- Não, não somos! Meu marido e eu somos brasileiros! – respondi, fazendo a velhinha perder momentaneamente a espontaneidade.

- Brasileiros! Esse país fica do outro lado do mundo, não é? – retrucou, para disfarçar o fato de estar conversando com um homossexual.

- Sim, fica; dependendo da referência que se tem. – respondi, aproveitando para agradecer sua gentileza e me despedir.

Relatei o encontro com a Debra assim que o Rafael pisou dentro de casa.

- Temos mais uma pista! Um sujeito chamado Robinson! Você disse que o arquiteto se chamava Marvin Robinson, matamos a charada! – exclamei ao concluir o relato do encontro.

- O fato do arquiteto se chamar Robinson não significa que tenha sido o proprietário da casa, significa apenas que ele assinou o projeto na prefeitura. No restante da papelada, registros de posse e recibos de impostos, não tinha nenhum Robinson. – asseverou o Rafael.

- Isso quer dizer que continuamos na estaca zero? Minha intuição diz que não, que esse tal arquiteto é o Marvin Robinson que transou com o namorado no US Maddox. – afirmei.

Nem eu, nem o Rafael éramos afeitos a desistir dos nossos propósitos. Junto ao departamento jurídico da empresa onde trabalhava, o Rafael questionou se não seria possível acessar o processo no qual o banco se tornou dono da casa. Uma pista surgiu quase um mês depois. Um imbróglio familiar, mais precisamente entre tio e sobrinho virou um processo na justiça. O tal John Bulton Fletcher falsificou a escritura da casa como se ele fosse o proprietário e, com isso, fez o empréstimo junto ao banco de quem adquirimos a casa. O processo se arrastou durante anos entre ele e o tio, cujo nome era nada mais nada menos que Marvin Robinson.

- Então matamos a charada! – explodi de satisfação quando o Rafael me contou a história.

- Em termos! Descobrimos que esse tal Marvin Robinson era o verdadeiro dono da casa, e que ele pode ser o Marvin da transa daquela noite no Golfo de Torquim. – sentenciou o Rafael.

- É ele! Vai por mim, é ele! Eu sinto isso! – exclamei – E o que fazemos agora? – emendei ligeiro, antes que ele tentasse quebrar meu barato.

- Vamos pesquisar os endereços que constam no processo, talvez nos levem a novos fatos. – respondeu.

Paralelamente a nossa investigação, continuávamos a ler juntos aquelas páginas pouco antes de dormir. Alguns relatos do amor entre nossos personagens, que a cada nova informação se tornavam mais reais, nos induziam a transar tão intensa e amorosamente quanto aqueles dois amantes. A vista privilegiada que tínhamos de nossa cama enquanto fazíamos amor, ora era testemunhada por um céu coberto de estrelas, ora por nuvens carregadas que passavam ligeiras carregadas pelo vento, ora acompanhada de uma chuva torrencial caindo lá fora. Wellington está sujeita a mudanças climáticas bruscas devido aos ventos constantes que sopram no Pacífico Sul, entre o paralelo 38 e o Círculo Polar Antártico.

- Será que o dono do diário amava tanto o Marvin quanto eu amo você? Apesar do caso deles ser inspirador, eu duvido! – afirmei certa ocasião, em que o Rafael ejaculava copiosamente no meu cuzinho, me fazendo transbordar de felicidade.

- De uma coisa tenho certeza, o Marvin não tinha um amor maior por ele, do que eu tenho por você. – declarou, com a respiração acelerada e o suor empapando seu rosto que me fitava cheio de paixão.

Os endereços que conseguimos tempos depois, não deram em nada. Num caso que entrou no hospital, precisei pesquisar o prontuário pregresso de um paciente, o que imediatamente acendeu uma luz na minha mente. Nossos personagens podiam ter passado por algum hospital da Nova Zelândia numa época qualquer por algum motivo de saúde. Encarreguei uma funcionária do arquivo a pesquisar os nomes que dispunha.

- Encontrei, doutor Pedro! Marvin Robinson foi quem assinou como responsável a ficha de internação de uma pessoa chamada Gary Milford no Wellington Hospital em agosto de 2010. – disse a funcionária. Meu coração quase saiu pela boca. O dono daquela letra bonita era Gary Milford. Foi Gary quem fez amor com sua paixão a bordo do US Maddox. Foi Gary quem estava na guerra do Vietnã com o Marvin.

- O senhor está bem, doutor? Doutor Pedro? Doutor, está sentindo alguma coisa? – questionou a funcionária me encarando com um olhar arregalado enquanto sacudia meu braço.

- Hã? Ah, sim, tudo bem, obrigado! Pode me fazer uma cópia do prontuário desse paciente? – eu estava em choque, finalmente descobrimos quem escreveu o diário.

- Dos dois? – perguntou ela, antes de voltar a sua sala.

- Dois? Que dois? – eu ainda não estava atinando direito com as coisas.

- Também encontrei um prontuário de Marvin Robinson, datado de 2012, do mesmo hospital, um caso de insuficiência renal. – mencionou ela.

- Sim, por favor. Faça uma cópia dos dois.

Eu sabia que estava violando o sigilo profissional ao contar para o Rafael o conteúdo daqueles prontuários, e que podia ser punido por isso. Mas, aqueles prontuários e suas informações, passaram a ser o nosso segredo, e estaria tão ou mais seguro do que em qualquer outro lugar. O motivo da internação do Gary tinha sido um quadro de trombose venosa profunda, hepatomegalia e icterícia. Exames adicionais revelaram a presença de um tumor no pâncreas com metástases espalhadas nas cadeias ganglionares abdominais. Houve três internações num período relativamente curto. Na última folha do prontuário, com data de apenas dez meses mais tarde que a primeira, estava registrado o óbito às 14:25 horas de 06/maio/2011. Passei diversas vezes as pontas dos dedos sobre o registro, enquanto as lágrimas rolavam copiosas pelo meu rosto. Eu não saberia explicar porque tinha ficado tão emotivo com o falecimento daquele desconhecido, de quem eu só tinha lido algumas linhas num diário. Comovido, o Rafael me abraçou e tentou me consolar, o choro se intensificou quando senti o peito dele me abrigando.

No prontuário do Marvin havia o diagnóstico de uma insuficiência renal crônica, confirmado por exames, e o registro de algumas sessões de hemodiálise. Como não eram tão antigas, resolvi ir até o Wellington Hospital a procura do médico que assinou os registros. Não foi difícil ser recebido afetuosamente por ele, depois que me identifiquei na recepção do hospital. Esclareci qual era meu interesse nas informações e ele me disse que a última notícia que tivera do paciente veio de uma clínica geriátrica em Whanganui, de um colega solicitando informações da evolução da doença.

O sol nem havia despontado direito no horizonte quando o Rafael e eu, ansiosos, entramos no carro e nos dispusemos a percorrer os 190 quilômetros até Whanganui. A State Highway 1 que subia rumo norte do lado oeste da Ilha Norte, margeando as águas do Estreito de Cook, estava praticamente vazia naquele horário. O alvorecer ia nos contemplando com paisagens paradisíacas, pelo sistema de som do carro Charlie Puth cantava One Call Away, enquanto o Rafael e eu traçávamos planos caso encontrássemos o Marvin. O comércio começava a abrir na pequena cidade litorânea. Assim que avistamos o Mud Ducks Café, na avenida margeando o rio Whanganui, descemos para beliscar alguma coisa, pois tínhamos saído de casa em jejum, e também para perguntar como chegar a tal clínica geriátrica. Ao descermos do carro no estacionamento defronte ao edifício administrativo, o Rafael e eu nos demos as mãos, apertávamos um a mão do outro, com intensidade, era por ali que a tensão que sentíamos tinha que extravasar.

- Bom dia! Sou o doutor Pedro McDouall do Southern Cross em Wellington, a senhorita poderia me informar se vocês têm um paciente, Marvin Robinson, internado aqui? – o sorriso que havia no rosto da recepcionista era mais de assombro do que de gentileza quando fixou o olhar em mim.

- Sim, o Sr. Marvin é nosso paciente. O senhor é parente dele?

- Não, não sou. Posso falar com ele?

- Geralmente só é permitida a visita de parentes, e o horário de visitas é a partir das 10:00 horas. Mas, como o doutor veio da capital, vou ver se podemos fazer uma exceção. – informou ela.

- Por favor, é muito importante que possamos falar com ele. – insisti.

Minutos depois, veio ao nosso encalço um médico tão jovem quanto eu, mestiço maori, e se apresentou como doutor Nikau Singh. A expressão em seu rosto quando apertou minha mão tinha o mesmo ar de assombro da recepcionista, o que começou a me deixar inquieto. Ele me fez as mesmas perguntas que a recepcionista já havia feito e mais algumas. Aproveitei para saber quais eram as condições clínicas do Marvin, e as informações que ele me passou não divergiam muito daquelas que seu prontuário mostrava.

- A hemodiálise tem dado certa estabilidade ao estado clínico dele, embora estejamos desconfiando de alguns sintomas que talvez possam ser de origem cardíaca, mas só os exames poderão confirmar. – esclareceu ele. – O Sr. Marvin deve estar no jardim a essa hora, é nosso horário de banho de sol dos pacientes, vou pedir que uma das enfermeiras venha buscá-los para levá-los até ele. – finalizou.

Meu joelho esquerdo tremia ligeiramente, o momento de conhecer o antigo morador de nossa casa havia chegado. Mais uma vez passei pelo crivo de um olhar espantado quando a enfermeira se aproximou de nós.

- Bom dia! Venham comigo, é por aqui. O senhor é parente do Sr. Marvin? – questionou ela durante o trajeto.

- Não, não sou.

- Incrível! – balbuciou ela, baixinho.

Não havia mais do que dez pacientes sentados em bancos entre moitas de alfazema, delfínio, capim do Texas, astilbe e várias outras espécies que floresciam em meio a um extenso gramado, onde também pontuavam algumas árvores sob as quais estavam instalados os bancos. A enfermeira caminhou firme em direção a dois senhores que olhavam calados para o jardim cuja vista chegava até o azul intenso do mar no horizonte, emendando com o céu. Meu coração parecia querer sair pela boca. Quando nossa presença despertou a atenção dos dois velhinhos, eles se viraram em nossa direção. A expressão de um deles me atingiu como um raio, quando me agachei diante dele e sua mão, um pouco fria e trêmula, alcançou meu rosto.

- Gary! Você voltou para me buscar, meu amor! – exclamou ele, numa voz firme. O reflexo do sol em seu rosto intensificou as duas lágrimas que se formaram no canto de seus olhos.

- Sr. Marvin? – não consegui segurar choro. Por alguns segundos minha visão ficou embaçada pelas lágrimas.

- Eu sempre soube que você nunca me abandonaria! – exclamou ele.

- Senhor Marvin, o senhor está fazendo confusão, este é o doutor Mcdouall, ele veio lhe fazer uma visita. – esclareceu a enfermeira. De repente, aquele olhar doce e apaixonado que havia na face do velhinho ganhou ares de dúvida.

- Doutor? Não é o Gary?

- Não, senhor Marvin! Este é um médico de Wellington que veio lhe ver. O senhor não o conhece! – as palavras da enfermeira pareciam aumentar a confusão na cabeça do Marvin.

- Não estou aqui como médico, Sr. Marvin! Nós viemos conhecê-lo. O senhor projetou a casa onde estamos morando e eu queria conhecer o senhor pessoalmente. Também viemos lhe devolver isso aqui. – esclareci, enquanto colocava os dois cadernos em suas mãos.

- Estavam desaparecidos! – exclamou ele, deslizando os dedos grossos e ressecados sobre o couro das capas, reconhecendo imediatamente os volumes do diário. Ele voltou a me encarar, um pouco mais tranquilo, porém com o mesmo olhar doce de antes. – Você se parece tanto com ele! – emendou.

Aquele breve momento de confusão passou tão rápido quanto um Eurostar, e ele nos mostrou toda simpatia e alegria que nossa visita estava lhe proporcionando. O sol começava a ficar quente demais, quando as enfermeiras levavam os pacientes para uma longa e estreita varanda que circundava a edificação. O Marvin nos convidou a conhecer seu quarto, um espaço amplo e iluminado, que dava um aspecto asséptico ao lugar. Só então entendi o motivo daqueles olhares espantados que todos me lançaram assim que entrei na clínica. Sobre uma bancada baixa, com portas e gavetas, que corria por a extensão da parede oposta à cama, havia alguns porta-retratos, em dois deles, o rosto sorridente do Marvin aparecia ao lado de um sósia meu. Os traços eram tão idênticos que explicavam a estupefação das pessoas. O Rafael pegou um dos porta-retratos na mão e o examinou mais de perto, antes de se aproximar de onde o Marvin e eu estávamos sentados.

- Este é o Gary? – perguntou o Rafael

- Sim, é ele! – respondeu o Marvin.

- Pedimos desculpas por termos lido o diário, mas foi por isso que iniciamos a procura pelo senhor. Compramos a sua casa e, durante a reforma, encontramos os cadernos escondidos num baú debaixo do telhado. – esclareceu o Rafael.

- Não tem porque pedir desculpas! Conheço cada linha contida nesse diário, o Gary costumava fazer seus registros pouco antes de irmos dormir. Vivi os melhores anos da minha vida naquela casa que projetei para ele. – afirmou o Marvin

- E eu a comprei para o Pedro! Também somos um casal, e nos apaixonamos pela casa.

- Desejo que sejam tão felizes quanto nós fomos naquela casa.

- Obrigado! Não faz ideia do quanto isso nos alegra. O senhor pode sair da clínica, para um passeio ou uma pequena viagem? – perguntou o Rafael, eu imediatamente saquei o que ele tinha em mente.

- Posso! Estou aqui por que preciso dos cuidados que eles têm para com a minha doença, mas não sou um prisioneiro. – foi a primeira tirada de humor que ele soltou. O Rafael e eu rimos, o que o deixou feliz.

- Gostaria de passar o final de semana conosco, na sua casa? – perguntou o Rafael, confirmando minhas suspeitas.

- Se não for um incômodo!

- Será um prazer, eu garanto!

Após assinarmos uns papeis nos comprometendo a zelar pelo Marvin, um enfermeiro ser designado a nos acompanhar, a meu pedido, nos pusemos na estrada. A euforia com aquela saída deixou o Marvin falante e muito bem-disposto, ele nos confessou que há anos não fazia nada tão emocionante. Diante da casa restaurada as emoções voltaram a assolá-lo. Ele ficou parado, o olhar fixo na fachada, zilhões de lembranças deviam estar passando por sua mente, ele levou a mão aos olhos e enxugou as lágrimas, enquanto o Rafael e eu abraçados, fazíamos o mesmo. Parecia que toda a emoção contida no Marvin fluía sem filtro algum diretamente para dentro de nossas almas.

- Ela está mais linda do que nunca! – exclamou o Marvin. Ele deu dois passos em nossa direção e nos abraçou, como se dependesse daquele abraço para se manter de pé.

- Venha, vamos entrar! Espero que também aprove o que fizemos no interior. – disse o Rafael, ajudando-o a fazer aquela curta caminhada.

A empatia do Marvin nos conquistou. Poucas horas após a nossa chegada, parecia que tivemos toda uma vida em comum.

- E como foi que se conheceram? – perguntou o Rafael, pois estávamos curiosos para saber como tudo aquilo que havíamos lido no diário havia começado.

- Numa lanchonete, MealMinute, onde ele trabalhava depois de ter sido expulso de casa pelo pai na pequena Gretna onde nasceu, e vindo para a capital. Eu havia concluído a faculdade poucos meses antes, e trabalhava num escritório a duas quadras da lanchonete. Na primeira vez que entrei no MealMinute, fiquei fissurado naquele rosto que atendia os clientes com o mais doce sorriso que eu já tinha visto. Passei a almoçar lá todos os dias, só para poder ficar namorando aquele rosto. No terceiro dia, meu pedido chegou à mesa com um suco extra que eu não havia solicitado. O Gary me respondeu que era uma cortesia da casa. A partir de então, todos os dias, eu recebia, além do meu pedido, que sempre vinha muito mais caprichado do que os mesmos que outros clientes haviam feito, ora uma sobremesa, ora uma barra de chocolate, ora um suco, sempre com a mesma justificativa, uma cortesia da casa. Eu sabia que a cortesia era dele e não da casa, mas fingia acreditar, só para poder agradecer a gentileza com uma piscadela de cumplicidade, que ele recebia me mostrando seus dentes perfeitamente alinhados pela abertura de seus lábios de um vermelho intenso e úmido. Começamos a nos tratar pelos nomes, a ficar trocando olhares durante todo o meu horário de almoço, o que muitas vezes o levou a se atrapalhar com outros clientes, comprovando que sua mente estava em mim e não no trabalho que tinha que fazer. Nessas ocasiões acabávamos rindo da trapalhada dele. Eu pensava nele o tempo todo, especialmente a noite, quando começava a imaginar o corpo dele debaixo daquele uniforme, e invariavelmente acaba tendo uma ereção. Ele também se excitava com a minha presença, algo que sempre o atraiu em mim foram meus bíceps, que ele confessou mais tarde, povoavam seus sonhos de erotismo. Num imenso terreno da rua onde ficava a lanchonete, começaram a construir um edifício de escritórios, o que levou muitos operários a almoçarem na lanchonete. Eram peões, sujeitos grosseiros, vindos dos mais atrasados rincões do país, cheios de preconceitos e de uma moralidade medieval, que logo começaram a implicar com o Gary, com seu sorriso fácil, com sua gentileza desprendida, com a afetuosidade com a qual ele tratava os outros colegas que atendiam a clientela. Começaram a ofendê-lo, inicialmente por meio de frases de duplo sentido, depois com palavrões e, ousados por estarem sempre num grupo numeroso, começaram a colocar o pé no caminho dele na tentativa de derrubá-lo e às refeições que ele entregava nas mesas, chegando ao descalabro de passarem a mão na bunda dele e o convidarem a pegar em seus falos. O Gary tentava ser o menos alarmista possível, não queria perder o emprego por conta de um incidente com a clientela, e aturava tudo esboçando, quando muito, seu repúdio pelo que faziam. O proprietário da lanchonete assistia a tudo do caixa onde ficava, com a passividade de um monge, sem se importar com a humilhação que seus funcionários sofriam. Numa tarde de inverno, com a neve caindo lá fora, cinco operários da obra entraram na lanchonete com o único objetivo de arrumar confusão. O Gary foi o escolhido. Assim que ele entregou os pedidos na mesa onde os peões estavam, um deles começou a implicar com o prato que havia solicitado. Começou a xingar e atirou um copo de refrigerante no rosto do Gary, enquanto os outros riam e passavam a mão na bunda dele. Dessa vez ele não se deixou intimidar, deu com a bandeja na qual havia trazido os pedidos na cara do sujeito que lhe havia atirado o refrigerante. O sujeito se levantou e partiu para cima dele. Eu estava a duas mesas da confusão, havia assistido a tudo e, como vinha remoendo uma raiva contida por aqueles peões fazia tempo, peguei a cadeira onde estava sentado e a desci na cabeça do sujeito que espancava o Gary. Em minutos, a lanchonete virou um campo de batalha, pratos, cadeiras, e até mesas voavam de um lado para o outro. Eu só via o Gary e eu, engalfinhados com cinco sujeitos, apanhando e batendo até a chegada da polícia, quando os peões tentaram fugir e foram alcançados na rua. Com o salão devastado, o dono da lanchonete despediu o Gary, como se ele fosse o culpado por tudo aquele quebra-quebra. Meu último soco foi direto para a cara bolachuda do sujeito, que caiu no chão feito um saco de batatas. Ficamos o Gary e eu ali, na calçada, com os flocos de neve começando a deixar nossas cabeleiras brancas, nos olhando apaixonados, sem precisar de palavras para expressar o que estávamos sentindo. Ele me levou até o loft onde morava, num edifício que outrora havia abrigado uma tecelagem e, que tinha sido transformado em pequenas moradias para estudantes e jovens sem família na cidade. Eu mal sentia o meu nariz, só sabia que continuava ali porque a imagem refletida de um espelho comprovava sua presença, junto com um olho roxo e o lábio inferior sangrando. O Gary tinha um corte no supercílio que derramava uma cascata de sangue por aquele rosto lindo. Ele fazia os curativos em mim depois de interromper o sangramento em seu rosto com uma atadura comprimida sobre a ferida, nossos olhares fixos um no outro, aquela proximidade que me permitia sentir o perfume de sua pele, o toque delicado de seus dedos sobre as minhas feridas fazendo desaparecer qualquer vestígio de dor. Minhas mãos pareciam estar sendo puxadas por um imã e foram parar na cintura dele, avançaram lentamente até alcançarem o primeiro botão de sua camisa, desceram abrindo os demais e expondo aquele tronco imaculadamente branco, como aquela neve que caía diante das vidraças, dois pequenos mamilos acastanhados e salientes projetavam seus biquinhos enrijecidos, meus dedos deslizaram sobre eles, o Gary soltou a expiração excitada, meu membro chegava a doer de tão duro dentro da calça, e nossas bocas se encontraram ela primeira vez. Eu só me lembrei que estava com o lábio estourado quando senti o toque suave do dele, mesmo assim, o beijei com toda a intensidade da minha alma. Ele foi se entregando até eu o penetrar, na mais profunda e maravilhosa conjunção carnal que eu já havia tido. A partir daí, nunca mais nos separamos. Nem mesmo quando ele teve a infeliz ideia de se alistar na Marine Corps, após um desentendimento que tivemos e, para querer me provar que não dependia de mim, quis me mostrar que outros homens também o desejavam indo se infiltrar entre eles. Fiquei tão furioso com ele que fui me alistar na mesma unidade. A guerra no Vietnã era o assunto e o flagelo da época, fomos designados para ela sem opção de escolha. Quando pudemos dar baixa, graças a Deus vivos, e valorizando nosso amor como nunca, nos mudamos para a Nova Zelândia onde aquela paixão viveu seus mais afortunados momentos. É por isso que hoje estou aqui.

- Uma saga, uma saga e tanto! – exclamou o Rafael quando ele terminou seu relato.

Ele nos contou praticamente tudo sobre como tinha conhecido o Gary, como se apaixonaram, como enfrentaram juntos a guerra do Vietnã, como vieram parar na Nova Zelândia, e como foi dolorida a perda do Gary. Eu e o Rafael ouvíamos seu relato como duas crianças curiosas ouvindo o pai contando uma história. Tudo pelo que passaram, uma vida inteira rica de acontecimentos, até suas desavenças, fazia da nossa algo quase insípido. Em cada uma de suas palavras transparecia a força e a intensidade do amor que os unia e que, com certeza, ainda estava vivo na alma daquele homem.

- Eu me apaixonei por esse rosto lindo na primeira vez que pus meus olhos nele! – asseverou o Marvin, quando o deixamos em seu quarto na clínica no final da tarde daquele domingo, enquanto deslizava outra vez sua mão pelo meu rosto ligeiramente ruborizado.

- Hoje tenho a certeza que o mesmo aconteceu comigo! – afirmou o Rafael, pegando mais uma vez aquele porta-retratos da bancada em suas mãos, onde o Marvin e o Gary, sorridentes, apareciam lado a lado em seus uniformes da marinha americana.

Estávamos um pouco cansados quando retornamos a Wellington no início da noite. Conhecer aquele homem nos fez repensar a vida. Saber que uma paixão homossexual podia ser tão intensa quanto qualquer outra foi a lição que levaríamos pelo resto da vida. Quando olhei para o torso nu do Rafael reclinado na cabeceira da cama, meu amor por ele parecia não caber no meu peito. Desisti de vestir o pijama, seria pura perda de tempo, pois o brilho no olhar do Rafael me sinalizava que íamos ter uma noite de amor tórrido e libidinoso. Livrei-me da cueca e entrei na cama, uma barraca abaixo do virol foi se formando entre as coxas do Rafael resultante da ereção que acontecia ali. Assim que cheguei no alcance de seus braços ele me puxou para junto de si, eu o beijei, acariciei aquela barba espinhenta, beijei-o repetidas vezes, afastei o virol e me sentei sobre a ereção, ele me agarrou pela cintura, chupou e mordiscou meus mamilos, e penetrou no meu cuzinho. Havia começado a chover lá fora, uma chuva torrencial acompanhada de uma ventania e raios, os trovões ribombavam dentro dos nossos corpos unidos, formando um único ser que se deleitava na mais sublime das paixões. Poderíamos viver cem anos, e o coito daquela noite ainda encontraria eco em nossos corações.

Nós havíamos combinado de ir buscar o Marvin um mês depois, para passar outro final-de-semana conosco. Queríamos que aquele homem aproveitasse seus últimos anos sabendo que havia pessoas se importando com ele. Assim, cinco sábados depois de o conhecermos, voltamos a Whanganui para buscá-lo. Havíamos chegado cedo como da primeira vez, quem nos recebeu, após a recepcionista nos pedir um tempo, foi um médico de meia-idade, trocudinho, com costeletas exageradamente longas, Dr. Shane Minihan, diretor da clínica. A expressão dele logo me deixou preocupado, e que só aumentou quando pediu que o acompanhássemos até seu escritório.

- Infelizmente o Sr. Robinson faleceu no início da noite de ontem de parada cardio-respiratória, algumas horas após a sessão de hemodiálise. Tentamos de tudo para reverter o quadro, mas foi inútil. Não houve tempo de avisá-los, e lamento que tenham feito a viagem à toa. – disse ele, pausando as palavras o que só deixava a notícia ainda mais funesta. O Rafael e eu nos entreolhamos com os olhos marejados, aquele quase estranho tinha tido a capacidade de despertar sentimentos em nós que iam muito além da amizade.

- Dr. Shane! Essa é a caixa que o senhor me pediu para trazer quando o Dr. McDouall chegasse. – disse um enfermeiro que bateu à porta e interrompeu nossa conversa.

- O Sr. Robinson não tinha parentes, pelo que soubemos. No dia seguinte ao que os senhores o trouxeram de volta do passeio, ele deixou esta caixa preparada alegando que a queria levar consigo da próxima vez que os senhores o viessem buscar. – afirmou o diretor.

- Ele não tem um sobrinho, John Bulton Fletcher? – perguntou o Rafael.

- O Sr. Fletcher morreu num acidente de carro, poucos meses depois do Sr. Robinson vir para a clínica. Embora tio e sobrinho estivessem travando uma batalha nos tribunais, foi o Sr. Robinson quem cuidou do funeral. Além dele, nunca soubemos de outro parente. O Sr. Robinson nunca recebeu visitas, até a chegada de vocês.

A caixa de papelão de aproximadamente 60x60x40 centímetros lacrada com uma larga tira de fita adesiva, ficou na estante do escritório por quase um mês. Nem eu nem o Rafael, nos aventuramos a descobrir o que continha, foi uma maneira de nos poupar de sofrimento.

- O que você acha que há na caixa? – perguntei uma manhã ao Rafael durante o café.

- Pelo peso, acho que são aqueles volumes do diário do Gary que estavam na bancada do quarto dele. Lembra que ele colocou os dois que levamos junto com os demais?

- Está disposto a ler o que esses outros cadernos contêm? – perguntei.

- Ok, vamos fazer isso! Até porque eles não podem ficar eternamente onde estão. – respondeu.

Além dos cadernos, havia dois porta-retratos na caixa, os que vimos em seu quarto, nos quais ele e o Gary pousaram em seus uniformes.

- É incrível a semelhança física entre você e o Gary! Não fosse a diferença de idade, daria para jurar que são gêmeos idênticos. – afirmou o Rafael, observando atentamente as fotografias.

- É espantoso mesmo! Não admira que o pessoal na clínica me olhava com aquela cara de estupefação. – devolvi.

Procuramos o caderno que iniciava com a data mais antiga, nos acomodamos juntinhos na varanda onde uma brisa vinda da baía refrescava o domingo de ócio, e começamos a leitura em voz alta, revezando de quando em quando. O conteúdo era tão cativante, que até as pausas para as refeições foram abreviadas. Seguimos lendo a sequência de cadernos à noite, quando íamos para a cama. Pulamos os dois, cujo conteúdo já havíamos lido, e partimos para os últimos três. O último registro feito naquele caderno que já tínhamos lido, foi acompanhado de um desenho feito a lápis, do que parecia ser um parque ou uma praça, cujo significado não conseguimos entender. No caderno que o seguiu cronologicamente, esses desenhos se tornaram frequentes, e logo percebemos que se tratava de alguma coisa relacionada ao registro que havia sido feito. Os desenhos sempre tinham no canto direito inferior, as iniciais MR, que agora sabíamos ser do Marvin. Ele passara a ilustrar com seus desenhos algo marcante que o relato do dia registrava.

Quanto tesão os relatos daqueles registros não provocaram no Rafael e em mim. As ilustrações do Marvin eram tão perfeitas, em muitas desenhando o corpo do Gary em detalhes tão nítidos que pareciam uma fotografia. As leituras costumavam terminar porque os toques de nossas peles debaixo dos lençóis clamavam por uma trepada. E, não havia nada mais maravilhoso do que pegar no sono com nossos corpos engatados um no outro, com o esperma quente do Rafael encharcando meu cuzinho, com a maciez úmida do meu cuzinho apertado aprisionando a jeba satisfeita do Rafael. Nós nos sentíamos realizados nessa união que, dia-a-dia, ia se tornando mais sólida do que uma rocha.

Mais de um terço das páginas finais do último caderno estavam em branco. O último registro estava datado de 04/maio/2011, a letra, apesar de continuar bonita, parecia ligeiramente tremida, como se faltasse energia na mão que a escreveu – Sinto que estou prestes a deixar o Marvin. Faz meses que não tocamos no assunto, faz meses que os exames do estadiamento do tumor vão parar na gaveta do aparador da sala, assim que regressamos das consultas. Não vale à pena falar sobre o inevitável, prefiro que ele me abrace e me penetre, deixando sua essência e sua energia em mim. Esse tem sido o mais eficaz dos inúmeros medicamentos com os quais estão me dopando. Eu o vi chorando hoje, foi pouco antes de ele dizer que estava indo dar uma caminhada na praia e não quis que eu o acompanhasse, alegando que eu devia poupar minhas forças. Mal sabe ele que eu só tenho força quando estou ao lado dele, o resto é apenas uma enorme vazio. Vim mais cedo para a cama, a última injeção de morfina me deixou com os músculos moles como gelatina, também trouxe de volta aquele enxame de borboletas azuis e amarelas dançando no ar como se fosse um balé. Está abafado e vai chover, tem sido assim nos últimos dias, acho que é o outono querendo adiar o inverno. Pedi que ele não fechasse as cortinas, o reflexo das luzes da orla nas águas da baía lá embaixo me diz que ainda existe vida nalgum lugar. Sei que ele está em algum canto da casa juntando forças para vir me consolar, como eu o amo por isso! Amo esse homem desde o primeiro que em que o vi, e soube que ele seria meu por toda a eternidade. Quando ele vier deitar, vou pedir que me possua. Mais do que nunca preciso sentir seu membro pulsando vigoroso nas minhas entranhas. Ele chegou. Está triste, tentando disfarçar que esteve chorando. Mas, os olhos vermelhos e inchados não negam. A chuva começou, está desabando pesada no telhado e provocando um tamborilar surdo, como os tímpanos de uma orquestra sinfônica tocando as Novas Canções de Amor, Opus 65, de Brahms. Estranho eu me lembrar disso agora, foi durante as nossas últimas férias, antes do diagnóstico, quando fomos à Opera de Sidney, naquele voo cheio de turbulências que deixou o Marvin enjoado. Ele está se despindo, mesmo depois de tantos anos continuou apaixonado por seus bíceps, são os mais lindos que já vi. Ele já sacou meu sorriso safado, acho que nem vou precisar pedir que coloque esse pau grosso em mim, só de me ver nu aqui ele está começando a empinar. Gosto de presenciar o tesão dele formando uma ereção. Acabo de dizer a ele que o amo. Chega de escrever por hoje, tenho algo mais interessante a fazer agora. – quando o Rafael e eu chegamos a esse ponto, minha voz estava embargada, as lágrimas desciam pelo rosto e o Rafael enxugava as dele. O registro terminava a poucas linhas do fim da página, o verso da folha estava em branco, e na página seguinte havia o desenho, a janela do quarto em que estávamos, enquadrada, mostrando um temporal noturno com raios chegando até as águas da baía, exatamente como o Rafael e eu havíamos presenciado algumas vezes os temporais que assolavam a cidade e que ganhavam dimensões catastróficas quando vistas do alto da colina. No canto inferior direito, as iniciais MR e, pouco abaixo, com uma letra com mais pressão nos traços e com os Bs, Ds e Hs inclinados para a esquerda, lia-se – Ele partiu esta tarde, senti que de repente apertou minha mão onde a dele estava encaixada há horas, seus olhos já estavam fechados por conta da morfina que a enfermeira veio aplicar, a respiração cessou. Cheguei a encostar o ouvido junto aos seus lábios, mas nada mais se movia. Olhei para o relógio no meu pulso e passava um pouco das duas da tarde, a tarde que jamais sairia da minha cabeça. O rosto lindo pelo qual me apaixonei estava sereno, se as lágrimas não estivessem embaçando a minha visão eu podia jurar que havia um delicado sorriso nele. Quando fiz amor com ele anteontem à noite, algo me dizia que seria o último, pois ele nunca tinha me acolhido dentro dele daquela forma. Foi como se ele estivesse escondendo um tesouro, mas era apenas meu membro galando seu casulo acolhedor. Até breve, Gary! – o Y tinha a perna tão longa como se o escritor tivesse deixado sua mão escorregar. Eu caí num choro convulsivo, me abriguei no peito do Rafael e choramos juntos. Amores, paixões, nunca deveriam terminar assim.

Com o tempo, nosso círculo de amizades cresceu e, toda vez que convidávamos novos conhecidos, eles nos questionavam a respeito daquela fotografia de dois militares sorrindo em seus uniformes impecáveis, que estava sobre um móvel de época encostado à uma das paredes da sala. As pessoas achavam que fossem nossos parentes. Quando explicávamos quem eram aqueles dois, e fazíamos um breve resumo de sua história e destino, invariavelmente as feições de nossos convidados se entristeciam e, não raro, havia lágrimas em seus olhos.

O Rafael estava mais arisco do que um potro indomado, não estava me dando um momento de sossego, me perseguindo com sua estrovenga priápica e; a cada oportunidade, se aproximando de mim por trás com um abraço apertado, esfregando-se na minha bunda enquanto mordiscava minha nuca. Tinha sido assim o domingo todo. Eu ficava num tesão danado, mas para que ele não pensasse que eu era fácil, fazia um charminho e fingia estar ultrajado, censurando-o com palavras que ele nem se dava ao trabalho de ouvir. Pouco antes de nos deitarmos, depois de tomarmos uma ducha juntos, onde por pouco ele não me penetrou, saiu do banheiro como veio mundo, balançando sensualmente o cacetão pesado e aquele saco avantajado. O velho truque de me seduzir com seu sexo, já bem manjado por mim, ainda funcionava mesmo após esses anos que vivíamos como um casal. Com o rabo do olho eu ficava admirando disfarçadamente seu dote enquanto abria a cama para nos deitarmos, ciente de que era uma questão de tempo para tudo aquilo estar dentro de mim. Impossível não sentir tesão ante essa realidade, da qual eu gostava infinitamente. As luzes de cabeceira acessas eram a única fonte de luminosidade dentro do quarto, e seu brilho amarelo e quente, trazia aconchego. Via-se as luzes na orla da Evans Bay lá embaixo, uma espetacular paisagem que eu nunca me cansava de admirar, ela parecia fazer parte da casa, uma vez que toda a fachada se voltava para esse lado. Cada janela parecia uma moldura, tanto de dia quanto à noite, para esta vista maravilhosa. Eu ainda estava com a toalha de banho enrolada na cintura, lancei o pijama que estava debaixo dos travesseiros sobre a poltrona ao lado da cama, sabia que não ia precisar dele naquela noite. O Rafael fingia estar mexendo numa papelada sobre a cômoda, mas estava mesmo de olho no momento em que eu tiraria a toalha, quando podia saltar sobre minha nudez e se apossar dela. Para provocá-lo, desatei a toalha da cintura com toda sensualidade, fazendo-o rir e assobiar um fiu-fiu cheio de tesão. Não demorou uma fração de segundo para ele roçar a pica, que endurecia a olhos vistos, nas minhas nádegas e me apertar contra seu peito, me aprisionando em seus braços.

- Controle-se, seu tarado! – exclamei a título de reprimenda, embora estivesse louco para sentir seu membro no meu cuzinho.

- Foi você quem me provocou, fazendo striptease particular para mim. – retrucou ele, chupando minha nuca.

- Você está impossível hoje! De onde vem tanto fogo? – questionei, pois ele já havia me enrabado três vezes durante aquele domingo.

- Culpa daquelas ostras que comemos no Ortega ontem a noite! – respondeu ele

- Comemos vírgula! Eu jamais vou colocar um troço cru e gosmento como aquele na boca! Você devorou uma dúzia delas sozinho, enquanto o Phil e Melissa dividiram a porção deles. – retruquei.

- Que culpa eu tenho se você não quis as tuas?

- Por isso é que está desse jeito o dia todo, procurando qualquer buraco para enfiar esse cacete!

- Qualquer buraco, não! Estou perseguindo o buraquinho mais macio, hospitaleiro e acolhedor que existe nesse mundo. – devolveu charmoso.

- Sei! Então trate de ser cuidadoso, porque eu já estou todo esfolado por conta dessa estrovenga. – ele riu, soltou um gemido expressando seu tesão e, me inclinou sobre a cama.

- Esfoladinho é? Confessa para mim que gosta quando te deixo esfoladinho, confessa! – eu tinha um jeito melhor de fazer essa confissão do que usando palavras. Deslizei os dedos pela nuca dele e juntei minha boca à dele, estava dada a resposta.

O Rafael me fez chupar sua pica, ele adorava quando eu o mamava. Dizia que eu tinha um boquete profissional. Para ser sincero, o Rafael, dos poucos homens que tive, era o que tinha o caralho mais gostoso e suculento de chupar. Eu gostava de me lambuzar com a porra que ele ejaculava na minha boca, da textura cremosa dela, do sabor amendoado, do cheiro viril. A sede por sexo o fez me enrabar em diversas posições. A cada nova penetração minhas pregas dilaceradas clamavam por menos ímpeto. Eu gozei sobre a toalha de banho que havia estendido do meu lado da cama para não manchar o lençol com sangue e porra, enquanto ele me cobria e me fodia num vaivém frenético, estocando a cabeçorra tão profundamente em mim que comprimia minha próstata contra o púbis, me fazendo ganir. Por mais dolorido que aquele quarto coito do dia estava sendo, eu empinava a bunda feito uma cadela no cio, para facilitar o entra-e-sai daquele cacete no meu cuzinho. O Rafael apertava meus mamilos, os pelos de seu peito suado roçavam minhas costas, aquela entrega submissa e total o deixava ensandecido, aumentando o furor de suas estocadas.

- Eu te amo, meu amor! – sussurrei num ganido pungente.

No mesmo momento, ele se retesou todo, a estocada seguinte veio mais brusca cravando o pinto completamente nas minhas entranhas e aprisionando seus testículos no meu rego estreito. A esporrada veio como um gêiser explodindo no meu cuzinho quente. Ele ofegava e ia soltando o ar por entre os dentes num sibilo sonoro, ao mesmo tempo em que os jatos de seu néctar viril escorriam pelas minhas entranhas. Ele continuou deitado sobre mim, a pica ainda dando pinotes dentro do meu cu, ia lentamente perdendo a rigidez. Os dedos de nossas mãos havia tempo estavam entrelaçados, pois foi onde me agarrei quando ele estava se satisfazendo em mim. Ele se aproximou do meu rosto virado para um lado e tocou seus lábios nos meus. A rola satisfeita não era suficiente para diminuir o tesão que ainda o dominava, por isso meteu a língua na minha boca e me vasculhou como se todo o interior do meu corpo também fosse propriedade sua. Quando finalmente saiu de cima de mim e se lançou ao meu lado, esticando os braços até a cabeça e apoiando-a nas mãos cruzadas, eu o cobri de beijos no rosto, no pescoço e no peito, antes de reclinar minha cabeça em seu ombro. Estávamos recuperando nossas energias, quando ele, de repente, abraçou meu tronco com força.

- Me prometa que nunca vai me abandonar! – exclamou, do nada. Havia melancolia em sua voz ainda ligeiramente rouca pelo esforço.

Depois de jurar que jamais o faria, fiquei imaginando o porquê de ele ter dito isso. Matei a charada quando prestei mais atenção no temporal que caia lá fora, com raios incandescentes formando ramificações como os galhos de uma árvore no céu carregado. Essa imagem, esboçada numa ilustração, de dois corpos nus sem amando diante daquelas vidraças enquanto a tempestade enchia o ar de eletricidade e água, que o Marvin havia desenhado após ter feito amor com o Gary pela última vez nunca nos abandonou. Era nela que ele devia estar pensando e, tinha sido ela a lhe instigar que eu fizesse essa promessa.

- Eu juro! – balbuciei emocionado, mesmo sabendo que cumprir esse juramento não dependia de mim.

O Rafael me puxou ainda mais para próximo dele. Ao deslizar minha mão sobre seu rosto, percebi que estava chorando. Aquele homem vigoroso, cheio de energia em seus músculos avantajados, não era um titã invencível como tudo nele deixava transparecer, minutos antes quando seu membro potente latejava em mim. Ele tinha um tendão de Aquiles. E, esse tendão de Aquiles era eu. Jamais imaginei que fosse tão forte, que a felicidade do homem que eu amo dependia de mim, da minha presença a seu lado, do meu amor por ele. Tomei sua cabeça no meu colo e o afaguei, parecia uma criança indefesa. Me senti o mais realizado e feliz dos seres viventes.

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Comentários

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Interessante, terno e romântico. Amo teus contos, principalmente quando envolvem flash back ( no, os diários). É interessante ler a respeito de casais homossexuais que ficam tanto tempo junto, no caso, durante o rsto da vida de um deles.

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Esse foi o conto mais emocionante que já li, minhas lágrimas não cessão.

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muito bom, mas descreveu um monte de macho q o Pedro podia ter pegado. mas teus protagonista passivos, mas têm mais q dois relacionamentos, quando terminam com o macho q o desvirginou eles entram celibato, até encontrar outro macho. ficar um tempo curtindo pra q?

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Insuperável! Excitante, romântico, nota mais que máxima!

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