Capítulo 33
Bruno apoiou a cabeça no ombro de Jonas. Entre lágrimas e soluços narrou o que acontecera no último encontro com os seus pais, deixando Jonas horrorizado.
_ Eu não sei nada sobre ela até então. Não sei se se recuperou ou se ainda está machucada.
Jonas ouvia atento. Sentia dó do amado e horror do Sogro.
_ Meu Deus, eu não fazia ideia de que você estava passando por todo esse sofrimento. Com certeza, deve ter alguma coisa que eu possa fazer.
_ Não há nada que você e nem ninguém possa fazer._ Bruno dizia apontando o dedo indicador para Jonas numa voz enrolada._ Ele é perigoso, cruel e...Eu o odeio muito, queria matá -lo, mas tenho tanto medo dele...Eu sou merda.
_ Ei, Ei! Não diga isso. Não se sinta mal, ele é o bandido e não você. Só não entendi o porquê ele fez isso a mando da minha mãe.
Bruno o olhou com tristeza.
_ Por causa da Gabriela.
Jonas arregalou os olhos sem entender.
_ O que tem a Gabriela?
_ Ela era minha amiga. Minha melhor amiga. Foi a primeira pessoa que eu contei sobre minha sexualidade e diferente das outras pessoas, ela me apoiou... me abraçou e disse que não havia nada de errado comigo, que o erro estava no preconceito das pessoas. Eu me sentia mais seguro com ela do que em casa.
'Mas fiz a estupidez de convidá-la para frequentar a minha casa e o Gustavo se interessou por ela. No início ele a tratava muito bem, coisa que ele não costuma fazer com ninguém. Até que teve um dia que ele ofereceu carona para levá-la em casa..."
Bruno parou e voltou a chorar.
_ E o que aconteceu?
_ Ele a estuprou.
Jonas sentiu um golpe de ódio atingir o seu coração. Fechou os punhos para tentar conter a raiva.
_ Eu nunca soube disso. Eu sabia que houve uma fase em que ela vivia triste, mas não imaginava que seria algo tão grave. Ah, mas eu vou matar esse cara!
_ Ela também tinha medo dele e por isso que, à princípio só contou pra mim. Eu fiquei horrorizado e a convenci a contar pra sua mãe. Ela resistiu por medo das ameaças que ele havia feito, mas eu disse que a apoiaria. Então, ela tomou coragem e contou para a sua mãe, que procurou o meu pai e ele ofereceu dinheiro pelo silêncio delas. A Lúcia aceitou e coagiu a filha a não denunciar. Ela foi adoeçendo de tristeza, até que... fez o que fez.
Jonas sentiu-se estranho. Sabia que a mãe não tinha boa índole, mas não esperava tamanha crueldade. Recordou-se que durante um tempo, a família melhorou financeiramente, o seu pai apareceu com um carro novo e eles compraram muitas coisas caras, fazeram viagens, mas Gabriela vivia triste.
_ Que ódio! Bando de desgraçados!
_ A culpa foi minha. Se eu não tivesse convencido a Gabriela a falar com a sua mãe, ela não teria passado por essa humilhação. Mas eu só queria ajudar. Até hoje eu não tive coragem de contar tudo isso para a minha mãe.
Ainda impulsionado pela embriaguez, Bruno narrou o dia em que Lúcia esteve em seu apartamento há oito anos atrás. Ela o reconheceu e exigiu que o rapaz se afastasse de Jonas. Como teve o pedido negado, Lúcia recorreu a Gustavo, o ameaçando.
Na época, Gustavo foi até o apartamento de Bruno e o ameaçou, dizendo que se ele não se afastasse de Jonas, Rose sofreria as consequências. O seu pai também lhe deu dinheiro para que ele fosse embora para Salvador.
_ Eu não tive coragem de me despedir de você. Eu estava sofrendo muito. Não queria a separação. Eu sabia que você sofreria, isso iria me machucar ainda mais. Por isso, fui embora como um fugitivo.
Jonas nunca sentiu tanto ódio de alguém como sentia de Lúcia e Gustavo.
_ Que desgracados! Cara, a minha mãe é um monstro! Como ela teve coragem de fazer o que fez com a Gabriela?! Porra, a própria filha! E o seu pai?! Que desgraçado! Eu vou quebrar a cara dele de tanta porrada. Em mulher ele bate, quero vê se fodão assim sob os meus punhos.
_ Não! Meu amor, pelo amor de deus! Não se aproxime dele. Ele é perigoso. Ele tem coragem de fazer o que você não tem. Ele é capaz de matar uma pessoa.
_ E quem te disse que eu não tenho essa coragem?
Jonas levou Bruno e as mulheres para a sua casa. A princípio, Bruno resistiu, mas foi obrigado pelo grupo.
_ Você não está em condições de ir pra casa bêbado desse jeito._ disse Jonas.
Apesar da raiva, Jonas estava um pouco feliz por ter Bruno por perto. Levou-o ao chuveiro e o banhou, em seguida o pôs na cama e o envolveu em seus braços, o observando dormir, enquanto ouvia os gemidos de Isabel e Cinthia vindo do quarto de hóspedes. As expressões de prazer das mulheres, eram ignoradas por ele, que estava focado em Bruno e em tudo que ele o contara.
No dia seguinte, Cinthia e Isabel acordaram mais cedo e Jonas as contou as confusões de Bruno.
_ Caralho! Que monstros! Que vontade de matar aqueles dois! _ disse Cinthia, revoltada, pois odiava injustiça.
_ Merda! A Gabriela era filha dela, caralho! E a vaca só pensando em dinheiro!
E eu esses anos todos achando que o filho da puta era o Bruno.
_ Sim. Você foi injusta mesmo._ respondeu Isabel.
_ Mas a gente precisa fazer alguma coisa! Isso não pode ficar assim, Jonas!
_ Eu sei. Minha vontade é ir lá e quebrar a cara daquele sujeito e falar poucas e boas pra minha mãe.
_ Se você fizer isso só vai prejudicar o Bruno e a mãe dele. O Gustavo a tem como refém. Ele é capaz de cumprir a ameaça. _ disse Isabel.
_ Ela tem razão, Jonas. Estamos todos putos, mas não podemos fazer merda. Cinthia sorriu de repente.
_ Eureka!_ Exclamou estalando os dedos e beijando Isabel.
_ Já sei! O Gustavo consegue dominar a situação porque tem a Rose como refém. E se a gente a tirar da casa dele?
_ Tipo ajudá-la a fugir?
_ Isso mesmo, minha linda. Nós podíamos levava-la para um lugar seguro. Onde o monstro não tivesse acesso. E que ela se sentisse segura o suficiente para fazer uma denúncia. Duvido o cara bancar o machão com a polícia na cola dele.
_ Você é louca, mulher! Gostei de você._ Isabel disse a beijando.
_ Boa. Vou tentar manter a calma, o que vai ser um sacrifício, para ajudar o Bruno e a minha sogra, já que pela minha irmã eu não pude fazer nada.
_ Você era só uma criança, Jonas. Não se culpe.
_ Não estou me culpando, Cinthia. Estou lamentando mesmo.
Bruno abriu os olhos lentamente, sentindo a mão de Jonas deslizar sobre o seu rosto.
Estava perturbado devido à noite anterior, e a cabeça doía por causa da ressaca.
_ Bom dia, minha vida._ Jonas disse sorrindo, o acalmando.
Bruno o abraçou.
_ Você está se sentindo melhor?
_ Estou com muita dor de cabeça.
_ Você bebeu demais, meu João cana brava. Eu vou preparar um café amargo pra você. É ótimo para curar ressaca...Pelo menos é o que a minha avó diz.
_ Eu não posso ficar aqui. Espero que depois de tudo que eu te contei ontem, você entenda que não podemos ficar juntos. É perigoso demais.
_Xuuuu!_ Jonas pôs o dedo indicador nos lábios de Bruno. _ Eu não vou me separar de você. Você me pertence. Entenda isso de uma vez por todas.
_ Não complique as coisas, Jonas! A minha mãe...
_ Confie em mim. Eu vou tirar a sua mãe daquela casa. Vou colocá-la num lugar seguro e vai ficar tudo bem.
Bruno sentiu-se mais calmo.
_ Você tá falando sério?
_ E eu brincaria com uma coisa dessas? Bruno, eu te amo. Não vou mais permitir que nem a minha mãe, seu pai ou ninguém atrapalhe a nossa vida. Nós vamos ser felizes juntos. Vai dar tudo certo.
_ A minha vida é complicada. Eu acho que você não tem noção de com quem está lidando. Eu não quero que nada de ruim aconteça contigo. Você tem certeza que quer se envolver nisso?
_ Por você eu me envolvo em qualquer parada. Eu levaria um tiro por você.
Bruno arregalou os olhos e o abraçou novamente, mas dessa vez com força.
_ Não diga isso!
Deitado em sua cama, Matheus observava os seus pés apoiados na parede. Pensava em muitas teorias que poderiam ser o motivo pelo qual Patrick cancelou a saída ao cinema e estava o evitando ultimamente.
Patrick não cortou relações oficialmente e nem houve nenhuma briga. Contudo, se mostrava frio e pediu para trocar a monitoria com uma estudante. Ele ainda pensava nas palavras de Betinho e temia sofrer por causa de Matheus.
O loiro pensou em não mais fazer rodeios. Precisava resolver aquela situação que tanto o angistiava.
Mandou uma mensagem para Patrick por Whatsapp.
_ "E aí? Blz?"
Patrick visualizou e pensou por alguns segundos se deveria ou não responder e decidiu pelo sim.
_ Oi, Matheus. Td bom?
_comigo sim. E contigo?
_ Estou bem.
_ bem sumido, q vc quer dizer? Vc sumiu, quase nem fala comigo. Nem é mais meu monitor. Vc tá bravo comigo? Te fiz algo?
Patrick pensou no que dizer e usou como desculpa o fato que andava muito ocupado, pois estava no penúltimo semestre antes da formação e estava adiantando o TCC.
_ Eu vou sentir a sua falta quando vc se formar.
_ Sério mesmo?
_ Vou sim. Aliás, já estou sentindo. Eu gosto da sua companhia.❤
_ Eu tbm gosto da sua 🥰.
Num momento de coragem Mateus, levantou-se sentando cruzando os calcanhares e digitou:
_ Eu tenho uma coisa para te contar.
_ Manda.
_ Tô gostando de um carinha.
Nessa hora o coração de Patrick bateu acelerado. Pensou no quão burro foi de ter se afastado de Matheus durante alguns dias , dando margem para outro se aproximar. Teve medo de prosseguir com a conversa, mas também não queria parecer enciumado.
_ Que massa! Diz pra ele.
_ Eu disse.
Patrick temeu que Matheus estivesse namorando e se arrependeu de ter dado ouvidos a Betinho.
_ E aí? O que ele disse?
_Ele disse: "Que massa! Diz pra ele" 😉
Patrick sorriu atônito.
_ 😂😂😂 Vc ñ existe, Matheus.
_ 😜 Quer sair comigo hoje a noite? Podemos ir à um bar LGBT.
Patrick ficou sério pensando que Matheus queria levá-lo ao Espaço São Jorge.
_ Que bar?_ perguntou sério esperando que Matheus dissesse Espaço São Jorge e com isso cortaria relações.
_ No Queens of Brazil. Dizem que o lugar é foda. Mas vamos só nos dois. O Betinho só atrapalha.
Patrick sorriu aliviado.
_ Vamos, Patrick? Eu prometo que não mordo.
_ Que pena, Matheus. Eu pensei que vc mordesse. 😎
_ Só se vc quiser. 😈
Matheus aguardava ansioso pela chegada de Patrick. Ao vê-lo entrando no bar, caminhando em sua direção, sentiu o coração bater acelerado, e foi tomado por onda de felicidade.
Patrick sorriu e o abraçou.
_ Eu estava com saudades de você. _ Matheus disse acariciando o rosto do amigo, que respondeu que também sentia saudades.
_ Eu nunca tinha vindo aqui. Gostei do lugar, Matheus.
_ A Cinthia me recomendou. É a primeira vez que venho aqui também. Eu queria um lugar em que pudéssemos ficar longe dos malditos olhares homofóbicos.
Eles se sentaram. Patrick pediu um drink sem álcool, recomendando o mesmo para Matheus, que abriu mão da sua vontade de consumir bebida alcoólica para agradar o amigo.
Diferente dos outros encontros, Matheus não falou muito, apenas ouvia Patrick falar sobre a sua vida e projeto de TCC e de como estava empolgado para ingressar no mercado de trabalho como publicitário.
O loiro apoiova o queixo nas palmas das mãos, com os cotovelos na mesa, sorrindo com o olhar. Quando pôs a mão na mesa, sentiu Patrick tocá-la acariciando.
_ Eu gosto de você.
_ Olha só! Matheus Ferraz, o cara que há alguns meses cuspiu na minha cara, agora dizendo que gosta de mim! Que tipo de feitiço há no seu drink?
_ No drink nenhum, mas no seu olhar com certeza há. É algo que tem uma força que me leva pra você. Que me faz querer ficar perto de ti, que me faz sentir felicidade em recebo um bom dia seu, um abraço amigável, que me dá um quentinho no coração.
'É diferente de tudo que eu já senti na vida. Não é aquela paixão avassaladora que eu sentia pelo Jonas, é paz, é brisa, é algo que me faz bem.'
Patrick ouvia sério.
_ Você está falando sério?
_ Com você eu me sinto seguro. Você me transmite confiança. E sem contar que eu te admiro muito pela sua maturidade, pela capacidade que você tem de sempre vê a luz no fim no túnel.
Patrick acariciou o rosto de Matheus, deslizou os dedos contornando os seus lábios, enquanto o loiro fechava os olhos.
_ Eu também gosto de você. Também me sinto bem ao seu lado, meu menino. Posso te beijar?
_ Deve.
Patrick fechou os olhos, inclinou a cabeça para frente beijando Matheus.
_ Você beija tão bem, Matheus! Por que eu não te beijei antes?_ disse tocando a ponta do nariz do de Matheus. Ambos estavam sorrindo.
_ Não chore mais pelo leite derramado. Me beije sempre e o quanto você quiser.
Patrick retornou a beijá-lo. Matheus penetrou os dedos entre os cabelos de Patrick.
_ Vamos para um lugar mais privado? Eu quero te curtir um pouquinho, Matheus.
_ Vamos sim!
Matheus sorriu com o coração transbordando felicidade.
_ Eu vou ao banheiro e na volta a gente pede a conta.
Matheus saiu sorrindo. Estava completamente apaixonado.
Patrick fez sinal para o garçom com a intenção de pedir a conta. Ao olhar para o lado seu sorriso desabou ao vê que Jonas chegou no bar acompanhado de Cinthia. Ele estava chateado pelo o que soube sobre a morte de Gabriela e para fazer o amigo relaxar, ela o convidou para irem a um outro bar, pois Jonas não tinha coragem de olhar para o pai, desconfiava que ele e Lúcia poderiam ter sido cúmplices.
Patrick recordou das palavras de Betinho e sentiu-se usado por Matheus.
O garoto retornou para a mesa sorrindo. Estava ansioso para ficar a sós com Patrick.
_ Aí? Vamos?
_ Você vá tomar no cu isso sim!
Matheus arregalou os olhos surpreendido com a agressividade de Patrick.
_ Como eu sou idiota! Mesmo o Betinho me avisando eu caí nesse seu canto da séria.
_ O que você está falando?
_ Você acha que pode brincar com os sentimentos das pessoas desse jeito? Se acha um Deus? Mas o errado fui eu. Eu sabia que tu és uma cobra. Eu sei o que você fez com o Ivan e mesmo assim... quer saber, Matheus? Vá procurar outro otário para participar desse seu joguinho ridículo de fazer ciúmes pro Jonas. Porque eu tô fora!_ disse apontando para a mesa onde Jonas e Cinthia estavam.
_ Patrick, eu não sabia que ele ia está aqui! Eu juro! Não é nada disso que você está pensando. Eu...
_ Você não tinha esse direito de brincar com os meus sentimentos desse jeito tão sádico.
Patrick saiu e Matheus foi atrás.
_Patrick, Por favor! Espere! Eu juro que não fiz para fazer ciúmes pro Jonas. Eu nem sabia que ele ia está aqui...Eu...
Patrick entrou num táxi.
_ Patrick! Patrick! Eu...te amo...merda!_ disse chorando batendo os pés.
Lúcia recebeu a ligação de Gustavo com um sorriso. Ele marcou um encontro em restaurante em frente a praia, para que tratassem da mesada exigida por ela.
Lúcia exigiu que o homem levasse o primeiro cheque. Já planejava comprar sapatos e vestidos novos após o almoço.
Ela pôs o seu vestido preto mais caro, escovou os cabelos louros pintou os lábios de vermelho, pôs o seu melhor perfume. Queria comemorar o seu triunfo. Queria que Jonas a visse vitoriosa, que não precisava mais do seu dinheiro. Gargalhava em frente ao espelho.
Gustavo a aguardava numa mesa que estava do lado externo do restaurante. Vestia terno bege e usava um óculos escuro. Estava com um copo com whisky mão.
Lúcia saiu do carro balançando os cabelos. Ele acenou para ela a chamando para se aproximar. A mulher atravessou sorrindo, sentindo -se a mais poderosa de todas as mulheres.
Seu caminhar foi interrompido pelo impacto de um carro prete sem placa, dirigido por um dos capangas de Gustavo.
Em alta velocidade, o carro jogou o corpo da mulher a dois metrôs, fazendo bater no capô do carro, rolando até o chão caindo com a cabeça banhando o chão de sangue. O motorista fugiu o mais rápido que pode.
Todos em volta se aproximaram para vê o acontecido. Enquanto Gustavo permanecia sentado a mesa, bebendo o seu whisky tranquilamente.