Último capítulo
As pessoas se aproximaram curiosas da casa para verem de perto o corpo que saia carregado num saco preto. Alguns vizinhos filmavam em seus celulares, outros apenas observavam comentando uns com os outros. Para eles esse espetáculo era raro no local e não queriam perder nenhum detalhe.
Viaturas de polícia, faixa amarela isolando a casa e os peritos se assemelhavam a uma cena de um thriller policial de uma série de TV.
Contudo, além do corpo, a grande estrela do espetáculo era a bela mulher de cabelos longos e pretos que caminhava em direção a uma viatura acompanhada de um policial. Com as roupas sujas de sangue e os olhos vermelhos devido ao choro, Rose seguia sem olhar para ninguém a sua volta, sentindo um misto de medo e alívio.
_ Uma mulher tão bonita não pode ser uma assassina._ comentou um homem.
_ As bonitas é que são as mais perigosas._ disse uma mulher com uma criança no colo._ Olhe aquela faca não mão do perito. Deve ser a arma do crime.
A mulher apontava para uma faca suja de sangue embalada a vácuo .
Bruno chegou na delegacia desesperado. Foi acompanhado de Jonas e um advogado.
O jornalista tremia de nervosismo.
_ Ela não pode ficar presa! A minha mãe não merece passar por isso.
_ Calma, amor. Foi legítima defesa. Tudo vai ser resolvido.
_ Será, Jonas? Está tudo errado! Eu não posso permitir que...
_ Bruno, cale a boca e deixe o doutor resolver._ advertiu Jonas, olhando sério para Bruno._ Você precisa se controlar.
_ Gustavo invadiu a casa e já havia uma queixa de violência domésticas contra ele feita pela a sua mãe. Ela está machucada, ou seja, não resta dúvida que foi legítima defesa. Eu vou acompanhá-la no interrogatório e eu te garanto que ela será liberada em seguida.
_ E depois disso? O que poderá acontecer?_ perguntou Bruno apreensivo.
_ Será instaurado um inquérito policial para investigar o caso. Mas não há o que se preocupar.
E assim foi feito.
Após o interrogatório, Rose foi levada para a casa de Jonas para passar a noite.
Renata recebeu a notícia da morte do irmão por uma ligação que Jonas fez quando estava na delegacia.
Em casa, Renata relatou a Marília e Matheus o que havia acontecido. Ela não sentia nem um pouco de tristeza pela morte do irmão, mas estava abalada com toda a situação de violência ocorrida.
_ Misericórdia! _ disse Marília fazendo o sinal da cruz no rosto._ Meu Deus que desgraça!
_ Ele que procurou. Espero que agora esteja ardendo no fogo do inferno._ Matheus disse tranquilamente cortando as unhas.
_ E sobre o enterro? Quem vai resolver? O Bruninho?
_ Não, Marília. Tanto o Buba quanto a Rose não têm a menor condição psicológica de lidar com isso. Terá que ser eu, que sou irmã. Ainda bem que o Rogério me liberou mais cedo. Daqui a pouco, eu vou na funerária e no IML vê como vai ficar.
_ Eu vou falar para o Marquinho ir contigo.
_ Ah, mãe! Deixa aquele merda ser enterrado como indigente. É o que ele merece.
_ Não é assim, Matheus. O Gustavo era ruim mais era o seu tio e o mau era ele e não a sua mãe.
_ Ele fez muito mal a minha mãe também. Tia Rose fez muito bem em meter a facada naquele desgraçado. Se ela não tivesse feito isso, ele teria a matado.
'Aliás, e o colégio? Você também tinha direito sobre ele. Agora com o Gustavo morto, tem mais ainda... Se bem que terá que dividir com o talarico do Bruno.'
_ Não, meu filho. O Colégio foi vendido antes do Gustavo morrer.
_ Uh, é! Ele podia fazer isso? Você também era herdeira!
_ Não era. O seu avô passou o colégio para o nome do Gustavo quando ainda estava vivo. Ele temia que eu destruísse a empresa da família._ Renata disse em tom de deboche._ E no final das contas foi o filho favorito que fez isso com os seus escândalos de perversão sexual.
_ Pena que aquele velho desgraçado não está vivo para vê isso.
_ Oh, menino, pare de ficar xingando os mortos que isso atrai coisa ruim pra dentro de casa!
_ Vó, ele expulsou a minha mãe de casa quando ela era só uma menina comigo no ventre. E se não fosse a senhora nem sei o que teria acontecido conosco. Por isso, que eu te amo._ Matheus beijou o rosto de Marília que sorriu.
_ Mas mesmo com todas as dificuldades, a minha mãe se esforçou muito para estudar e trabalhar, hoje é uma administradora e deu a volta por cima. E o outro lá, só arruinou tudo. Bem-feito para aquele velho idiota. Eu tenho tanto orgulho de você, mãe!
_ Oh, meu amorzinho.
Renata abraçou e beijou o filho, emocionada com as suas palavras.
Devido a divulgação na imprensa, o velório de Gustavo contou com a presença de muitas pessoas, na grande maioria por curiosos sedentos por tragédia.
Como era esperado, Rose e Bruno não compareceram.
Lúcia andava amargurada com a vida. Tratava mal todas as enfermidades que cuidavam dela. Descontando nas profissionais toda a sua amargura. Contudo, ao vê na TV, a notícia da morte de Gustavo, a mulher deu uma gargalhada e agitava os braços comemorando.
_ Deus é Justo! Deus é Justo! Ele tarda, mas não falha!
A enfermeira estranhou os gritos e correu até a sala para saber o que havia acontecido.
_ O que houve, dona Lúcia?
_ Ele morreu!
_ Ele quem?
_ O desgraçado que me deixou deste jeito! Agora ele não passa de um monte de carne pobre. Vai virar comidinha de verme.
Cida, abre uma garrafa de champanhe. Vamos comemorar.
_ Credo, dona Lúcia! Eu sou cristã! Não comemoro a morte de ninguém não. Nem mesmo de um criminoso. Deus é quem deve julgá-lo.
_ Ah, então eu comemoro sozinha. Não preciso de você. Hoje eu estou muito feliz.
Avançamos alguns longos meses.
Renata planejava empolgada a ceia de natal, que naquele ano contaria com a presença de Rose.
Depois da morte de Gustavo, as duas ficaram próximas devido a solidariedade que Renata prestou a Rose, com apoio emocional, nascendo entre elas uma amizade.
Matheus temeu que Bruno e Jonas fossem convidados para a ceia de natal e antes de Renata dizer algo já advertiu que não ficaria satisfeito com a presença dos dois.
_ Eu não os convidei. Eles vão passar a noite de natal na casa da avó do Jonas. Você não precisa se estressar por causa disso.
_ Eu não estou estressado. Só acho que não tem lógica. Eu não tenho sangue de barata.
_ Tudo bem, meu amorzinho. E o Patrick? Eu o convidei ele te confirmou se vem?
_ Sim. Aliás, tenho novidade, que será revelada na noite de natal.
_ Ah, mas você não vai me torturar desse jeito me deixando curiosa! Fale logo!
_ Calma, mamãe! Aguarde até amanhã.
_ Matheus!
O loiro limpou a boca com o guardanapo e levantou da mesa e deu um beijo no rosto da mãe.
_ Agora eu tenho que ir. Senão vou chegar atrasado no trabalho.
Renata estranhava as atitudes que Matheus tomava ultimamente.
Há uns meses atrás anunciou que queria trabalhar, o que Renata não concordou a princípio.
_ Pra que trabalhar? Não te falta nada! E além do mais você precisa se dedicar aos estudos.
_ Há muitas pessoas que trabalham e estudam ao mesmo tempo. Eu não sou de vidro, mãe. Sou competente o suficiente para dar conta dos dois.
E assim fez, Matheus conseguiu uma vaga como secretário num estúdio de decoração. O fato de ser fluente em inglês e a mãe ser amiga da proprietária foram fatores cruciais para obter a vaga.
Renata acreditava que Matheus desistiria do emprego nas primeiras semanas, devido ao cansaço. Contudo, se surpreendeu com a persistência do rapaz.
No fundo Renata temia a independência e o amadurecimento do filho, já que assim aos poucos ele estava se tornando um homem e deixando de ser o seu menininho.
Para a sua maior decepção, na noite de natal, Matheus comunicou a família que a partir de Janeiro iria morar com o namorado, que ambos estavam pesquisando um lugar para alugar, já que a casa de Patrick era muito pequena.
Renata quase engasgou com a rabanada ao ouvir a notícia.
_ Mas você é muito jovem para sair de casa!
_ Mãe, eu tenho dezenove anos! E ano que vem faço vinte. O passarinho não pode ficar no ninho o resto da vida.
Para tentar amenizar o clima Rose abraçou Matheus e Patrick os parabenizando.
_ Eu sei que o Patrick é muito organizado e limpinho, já Matheus é bagunceiro e preguiçoso, espero que você ponha esse menino nos trilhos._ disse Marília a Patrick.
_ Você é a minha avó ou minha inimiga?_ brincou Matheus sorrindo.
_ Pode ficar tranquila, dona Marília. Eu vou pôr esse menininho nos eixos. E pode ficar tranquila também, minha sogrinha. Eu vou cuidar direitinho do seu filho.
_ Bom, eu gosto muito de você, Patrick e faço gosto da relação de vocês. Mas...Eu vou sentir falta do meu bebê. Por que vocês não alugam uma casa aqui por perto? Aqui na rua ao lado tem duas para alugar. Eu posso até pagar o aluguel para vocês.
Matheus gostou da ideia, ao contrário de Patrick, que não via problema em morar perto da sogra, mas não queria receber ajuda financeira dela e por isso recusou.
_ Eu não me incomodo, Patrick. Eu gosto de ajudar.
_ Eu sei, minha sogra. Eu sei o quanto você é gente boa, mas não quero explorar a sua boa fé. E o Matheus precisa crescer e isso inclui assumir responsabilidades. Nós vamos dividir as despesas, como qualquer casal adulto deve fazer. Eu agradeço muito que tenha nos oferecido a sua ajuda. De coração mesmo. Muito obrigado, mas precisamos fazer as coisas do jeito certo.
Matheus ficou desapontado com a recusa do namorado, queria sim continuar recebendo ajuda financeira da mãe para economizar o seu dinheiro. Porém não quis contrariar o namorado.
_ Bom. A faculdade do meu filho eu posso continuar pagando, porque só o salário dele não dá conta de arcar com despesas de uma família, mesmo sendo dividida, e pagar a faculdade. Mas vocês vão morar por aqui por perto? Ah, vai ser tão bom ficar pertinho de vocês, meus amores.
Eles concordaram e alugaram uma das casas da rua ao lado. E mesmo a contra gosto de Patrick, Renata continuou a pagar uma mesada a Matheus, fato esse que o loiro manteve em segredo.
Depois da meia noite e todos estavam reunidos conversando. Matheus recebeu uma mensagem no Whatsapp de um número desconhecido em sem foto.
Para a sua surpresa era de Jonas.
"Oi, Matheus.
Aqui é o Jonas. Tive que arranjar outro chip para poder te mandar esta mensagem pq vc me bloqueou no outro número.
Sei q faz tempos q ñ nos falamos. Vc tem tds os motivos do mundo p está bravo comigo. Eu fui um canalha contigo e vc ñ merecia.
Hj, depois de td q aconteceu e do novo rumo q a minha vida tomou. Adquiri maturidade o suficiente p perceber o quanto fui imaturo e tenho coragem de te pedir perdão.
Agora fazemos parte da mesma família e ñ gostaria de ter uma convivência ruim contigo. Eu tenho um carinho enorme por ti e um grande respeito pela nossa história.
Espero que possa me perdoar.
Feliz Natal e um próspero ano novo. "
Matheus visualizou a mensagem e não respondeu.
Patrick percebeu que Matheus ficou sério ao ler a mensagem.
Na hora de dormir. Matheus se aproximou de Patrick e o abraçou por trás, beijando o seu pescoço.
_ Neném, até que a minha mãe agiu bem. Eu achei que ela faria um drama danado. Mas mesmo que ela desaprovasse, eu manteria a minha decisão de morar contigo. Eu vou te fazer muito feliz. Assim como você tem me feito durante todos esses meses. Eu te amo tanto.
Patrick virou de frente para Matheus e o beijou na boca.
_ Eu também te amo. Meu bem, eu vi que você ficou chateado com uma mensagem. O que houve?
Matheus deitou de barriga para cima e disse olhando para o teto numa expressão séria.
_ Era mensagem do Jonas.
_ E o que ele queria?
_ Me pedir perdão pelas cagadas que fez. Disse que agora reconhece o erro e que como fazemos parte da mesma família, já que é casado com o meu primo, né, quer ter uma boa convivência comigo.
_ E o aí?
_ Eu não respondi. Eu tinha bloqueado ele, mas o... enfim, adquiriu um número novo para falar comigo.
_ Você vai perdoá-lo?
Matheus o olhou com seriedade.
_ O que você acha?
_ Eu acho que não é bom guardar mágoas. Não fez bem para a saúde mental.
_ Você é um anjo mesmo. Nem do monstro do seu pai você guardou mágoas, mas eu não sou como você. Por mais que não há mais nenhum sentimento de amor pelo Jonas, eu não quero conviver com ele e com o Bruno como se nada tivesse acontecido. O que eles me fizeram foi um golpe muito baixo.
_ Mas você não precisa conviver com eles. Não precisa está no mesmo local ou manter contato virtual. Mas, não deveria guardar mágoas. Deixar ser consumido por uma raiva que só vai te levar à ruína. Eu não estou falando de tampar o sol com a peneira, estou falando de libertação.
"Um novo ano se aproxima e nós vamos dar um passo que vai mudar as nossas vidas. Seria muito bom se começassemos sem nenhum peso do passado. Eu te amo muito, Matheus. Digo isso porque quero o melhor pra você. '
Matheus sorriu.
_ Por que raio eu não fiquei com você antes de namorar o Jonas? Eu teria sido muito mais feliz.
Matheus o beijou.
Os meses avançaram novamente. Matheus e Patrick viviam juntos e felizes na casa em que alugaram.
O casal havia recebido o convite do casamento de Olívia e Rafael, que seria celebrado dali há três meses.
Como Patrick era muito amigo de Olívia, foi convidado junto com Jonas, Cinthia, Betinho e outras amigas do casal para ser padrinho do casamento, convite esse que foi aceito.
Patrick e Olívia se tornaram ainda mais próximos quando ambos se tornaram colegas de trabalho numa agência de publicidade.
Estamos no mês de abril. No dia da coleção de grau e festa de formatura da turma de formandos que Olívia e Patrick faziam parte.
Matheus estava orgulhoso do companheiro. Passou dias pensando no que Patrick o dissera sobre perdoar Jonas e ficou apreensivo em saber que o encontraria na festa.
De fato Jonas sendo irmão de Olívia não poderia deixar de ir à festa de formatura da irmã e fez isso acompanhado do esposo.
Cinthia e Betinho se aproximaram da mesa em que Patrick estava com Matheus e Renata. Ela correu para ele sorrindo com os braços abertos.
_ Parabéns, viaadoooo! Que orgulho! Agora eu tenho dois amigos publicitários.
Patrick a abraçou.
_ Biii, apesar de não ter sido convidado por ti e sim pela Olívia e de você ter se afastado de mim, eu fico muito feliz com a sua realização. Parabéns, amigo.
_ Obrigado, Betinho.
_ Eu queria te dar um abraço, mas tenho medo do seu maridinho me morder.
Matheus ficou furioso com a provocação de Betinho. Sentiu vontade de começar uma briga, mas prefiriu se controlar para não estragar a festa do companheiro.
_ Afiado como sempre, né Betinho?_ perguntou Patrick._ Depois se pergunta o porquê que me afastei de você. Mas hoje eu estou imunizado de venenos, pode me abraçar que o meu marido não vai te morder. Isso ele só faz comigo em quatro paredes.
Betinho abraçou Patrick.
_ Arrasou, amor._ disse em tom de ironia.
Ao vê Jonas, próximo de Olívia, Matheus abaixou a cabeça para que esse não percebecesse que ele o tinha avistado.
Algumas horas depois, depois de consumir algumas cervejas, Matheus foi ao banheiro e encontrou com Jonas que lavava as mãos na pia.
Matheus ignorou a presença de Jonas e urinou fingindo tranquilidade.
Jonas permaneceu perto da pia, apoiando a mão sobre ela.
Matheus se aproximou para lavar as mãos, mantendo a cabeça baixa.
_ Eu gostaria de falar com você.
_ Diga._ respondeu Matheus friamente mantendo a cabeça abaixada.
_ Eu te mandei a mensagem no natal e você não me respondeu. Eu imagino que esteja magoado comigo. Mas eu quero te dizer pessoalmente o quanto eu estou arrependido de ter sido um canalha contigo. Eu deveria ter aberto o jogo desde o início.
Matheus passou a encará-lo sério.
_ Eu sinto muito por tudo. De verdade.
_ O que te fez mudar de ideia?
_ Andei pensando sobre os meus atos. Eu quero ser um ser humano melhor. E além disso, agora somos primos. Eu não quero que fique um clima chato entre nós.
_ Jonas, você pode ter se arrependido agora, mas você não tem noção do quanto o quanto você e o Bruno me machucaram. Eu amei os dois. Você como namorado e ele como um irmão. Mesmo tendo o meu jeito explosivo, eu amei vocês. E eu fui fiel a você e ganhei traições e mentiras como recompensa.
'Mas agora as coisas mudaram. Finalmente, eu encontrei alguém que me ame e me respeite, assim como eu também o amo e o respeito. E olha que eu achei que isso nunca poderia acontecer. E vou seguir a minha vida feliz como eu mereço, sem que nenhum peso do passado me atrapalhe.
Por isso, a minha resposta para o seu pedido de perdão é _ Matheus suspirou_ É não! Eu nunca vou perdoar o que você e a cobra do Bruno me fizeram. E sinceramente, eu desejo do fundo do meu coração, que vocês dois sejam muito infelizes e tenham uma vida cheia de desgraças.
Matheus saiu do banheiro, deixando Jonas para trás. Caminhava sentindo o coração pesar de tanta raiva. A sua expressão era emburrada. Com a musculatura facial pesada e as narinas abertas.
Ao chegar no salão, avistou o companheiro e a mãe dançando juntos uma música lenta. Ambos sorriam, radiando felicidade.
Matheus parou para oberservá-los. E como a luz expulsa as trevas, a raiva foi cedendo espaço para a alegria em vê juntos as duas pessoas que mais ama na vida, preenchendo o seu coração de amor, que foi expresso num sorriso.
Aos poucos, Bruno abria as pálpebras, sentindo o seu corpo ser tocado pelos lábios de Jonas.
_ Feliz aniversário, meu amor!
Bruno devolveu o sorriso que recebeu do marido.
_ Que você tenha uma vida longa, repleta de felicidades, saúde e muita disposição para foder gostoso comigo.
Bruno o abraçou.
_ Sempre com segunda intenções, safado.
Bruno acariciou o rosto de Jonas.
_ Eu te amo tanto, Jonas. Eu nunca imaginei que seria tão feliz como eu sou contigo. Apesar das nossas briguinhas é claro, você me faz tão bem. Como eu sou um homem de sorte. Mesmo sem merecer.
_ Como assim sem merecer?
_ Depois do que eu fiz.
_ Você fez o que deveria ser feito.
_ Mas...
_Xuuuu!_ Jonas pôs o dedo indicador nos lábios de Bruno. _ Você não tem o porquê sentir-se mal. E hoje é o seu aniversário, um dia mais que especial e você não vai pensar nisso nem hoje e nunca mais. A minha avó está preparando uma reuniãozinha para comemorar o seu aniversário e eu vou passar o dia inteirinho contigo. Vou te levar para almoçar no seu restaurante favorito. É assim que vamos passar o dia. Felizes.
_ Tudo bem.
_ Eu vou até a cozinha trazer o café da manhã na cama pra você, amorzinho.
_Hum, que chique! Acho que quero fazer aniversário todos os dias para ser mimado assim sempre.
Jonas o beijou antes de sair.
Bruno levantou-se e foi até o banheiro. Após urinar, foi até a pia lavar as mãos e o rosto.
Ao olhar no espelho, percebeu que a indesejada barba começava a crescer. Espalhou o creme para barbear sobre a face e ao passar a lâmina, por um descuido, cortou o rosto. Um fio de sangue escorreu pelo seu rosto, que ele limpou com a mão.
Olhou para o contraste que o vermelho do sangue fazia com a sua pele branca e recordou da última vez em que teve as mãos sujas de sangue, numa quantidade muito maior.
Sentindo inseguro com a liberdade de Gustavo, Bruno decidiu que não deixaria a mãe sozinha na casa de Cinthia. Como era o seu dia de folga, dormiu com Rose.
Ao ouvir os gritos da mãe, acordou assustado. Como estava tonto devido ao sono, demorou alguns segundos para despertar totalmente e foi caminhando até a sala.
Gustavo apontava uma arma em direção à Rose. Bruno sentiu-se paralisado devido ao nervosismo e permaneceu no corredor, sem que Gustavo percebesse a sua presença, já que o pai estava de costa para ele.
_ Sua vagabunda miserável! Você arruinou a minha vida! E ainda é burra de achar que eu deixaria essa sua pilantragem passar batida.
_ Gustavo, pelo amor de deus!
_ Cale a boca, piranha. Eu vou fazer o que já deveria ter feito há muito tempo. Já que você gosta de se exibir nos noticiários, vai ser notícia novamente, mas desta vez como mais uma vadia morta pelo ex-marido, pois é isso que você e as outras merecem.
Gustavo puxou os cabelos de Rose. Socou o seu nariz com tanta força que o fraturou, fazendo sangrar. Em seguida, socou o seu ventre e deu uma coronhada na cabeça.
Bruno sentiu o ódio ferver em suas veias. Correu para a cozinha e pegou uma faca de inox, que estava fincada junto com outras afins no faqueiro de madeira.
Gustavo poderia ter atirado em Rose, mas o barulho chamaria a atenção dos vizinhos. E não causaria tanto sofrimento como ele gostaria que causasse. Pôs a arma na cintura e as mãos no pescoço da mulher, apertando com força.
Sufocada, Rose se debatia lutando para viver. Estava vermelha, com os olhos arregalados e o rosto inchado retorcido.
_ Morre, desgraçada! Quero vê a sua vida miserável ir embora aos poucos.
Gustavo sentiu o seu cabelo ser puxado para trás com tanta força, que fez a sua cabeça doer.
Ficou surpreso ao vê que Bruno transmitia pelos olhos um ódio feroz. Bruno socou a sua garganta, o fazendo perder o ar. Com o impacto, Gustavo caiu no chão e arma caiu ao seu lado.
Ainda sem força, Gustavo tenta pegar a arma, mas essa é chutada para o lado por Rose.
Bruno subiu em cima do peito do pai e numa força movida pelo ódio enterrou a faca entre as costelas de Gustavo, que urrava de dor.
_ Seu miserável! Você nunca mais vai encostar um dedo na minha mãe, nunca mais vai por o seu pinto nojento em nenhuma menina e nunca mais vai machucar o meu marido.
Bruno ergueu a mão para cima e enterrou a faca no peito de Gustavo.
O homem se debatia no chão. Bruno foi retirado de cima do pai pela mãe. Ele o observa se retorcer até que parou de uma vez, com a cabeça virada para o lado e os olhos arregalados.
_ Filho, você precisa sair daqui! Ninguém, além de mim e do Jonas, sabe que você passou a noite aqui. Vá embora.
Bruno estava ofegante e não conseguia proferir uma palavra.
_ Eu vou ligar para a polícia e assumir a culpa. Você tem ir embora agora.
Bruno balançou a cabeça negativamente.
_ Você vai sim. Você é jovem. Acabou de se casar e tem a vida toda pela frente. Eu não deixar que isso estrague a sua vida.
_ Eu não posso... mãe, eu...
_ Bruno, vai ficar tudo bem. O Gustavo tava armado e me agrediu. Eu ligo para a polícia e alego legítima defesa e fica tudo certo.
_ Mas mãe, eu o matei! Não posso deixar que você leve a culpa!
_ Faz o que eu estou mandando, Bruno! Vá embora pela porta dos fundos. Vá!
_ Você não pode assumir um crime que não cometeu! E além do mais a faca está com as minhas impressões digitais...
_ Eu cuido disso, meu bem. Mas, vá. Por favor! Eu te imploro! _ Rose beijou a testa de Bruno e o empurrou em direção a porta da cozinha.
Ela caminhava de um lado para o outro desesperada. Sentou no sofá apoiando os cotovelos nos joelhos, penetrando os dedos entre os cabelos longos e pretos.
Olhou para o corpo de Gustavo.
_ Desgraçado! _ disse chutando-o.
Rose retirou a faca do peito de Gustavo e a lavou muitas vezes na pia da cozinha. Ela a esfregava com muita força, a enrolou num pano de prato e a pôs no fundo da bolsa. Dias depois a jogou num valão. Retirou do faqueiro uma faca igual e a tocou muito para marcar as sua impressões digitais.
Retornou a sala e mirou no corte profundo no peito de Gustavo e a fincou com força. E passou as suas mãos no sangue de Gustavo para sujar a sua roupa e testa, antes de ligar para a polícia.
A casa estava do jeito que dona Chiquinha gostava, cheia com a família e os amigos dos netos. A idosa escolheu o melhor serviço de buffet que conhecia para oferecer o serviço do jantar. O bolo encomendou na confeitaria que mais gostava. Para ela, esse capricho, era uma forma de expressar o seu amor por Bruno, mesmo que secretamente ainda lamentava que não foi com Patrick que o neto se casou.
Bruno não convidou muitas pessoas, apenas a mãe, a tia e os amigos mais íntimos.
Para a sua surpresa, o sogro compareceu, não devido às insistências da mulher, e sim porque tinha intenção de, futuramente, pedir a Jonas ajuda financeira.
Todos aproveitavam a festa alegremente.
_ Gente, esse bolo tá uma delícia! _ comentou Olívia com a boca cheia.
_ Que bom que você gostou, minha filha. Estou pensando em encomendar o seu bolo de casamento nessa confeitaria.
_ Sério, vovó? Eles trabalham com bolo de casamento?
_ Eu não sei. Mas conheço a proprietária há anos. Garanto que ela não vai negar um pedido meu.
_ Tá tudo mundo se casando. O Jonas e Brulindo, a Olívia e o Rafael brevemente e até os inimigos mortais do Patrick e Matheus se ajuntaram. Só faltam vocês duas, rachas. _ disse Betinho apontando para Cinthia e Isabel.
Betinho não havia sido convidado por Bruno, mas se ofereceu para ir no dia em que o aniversariante esteve na pizzaria, que por educação, Bruno o convidou.
_ É mesmo. Quero saber quando a senhora vai me pedir em casamento._ Isabel disse com as mãos na cintura.
_ Oh, Betinho, não inventa moda não, cara._ Cinthia disse para irritar a namorada.
_ Uh, é! Por acaso a senhorita não me acha digna de ser a sua esposa?
_ Você é digna de ser mais do que isso. É digna de ser a minha rainha._ Cinthia disse beijando o rosto da namorada.
_Hum, sei.
_ Você tá falando tanto, Betinho, mas você mesmo tá encalhado.
_ Pior que nem dá para discordar, Cinthia. Tô matando cachorro a grito.
_ Mas não se preocupe não, amigo. Eu sei uma simpatia boa que em um poucos meses tu vai conseguir um boy magia. _ disse Isabel sentando ao lado de Betinho.
_ Ah, jura, racha? Então, me diz logo que simpatia é essa.
Jonas entrou na sala com caixa grande de presente nas mãos.
_ Olha, pelo tamanho da caixa o presente é bom._ Betinho disse sorrindo para esconder a inveja.
Bruno sorriu supreso.
Jonas pôs a caixa no colo de Bruno com cuidado.
_ Pra você, benzinho.
Bruno retirou a tampa da caixa e pôs as mãos nas bochechas sorrindo.
_ Ah, meu deus! Eu não acredito!
Delicadamente, ele retirou da caixa um filhote de cachorro vira-lata que Jonas resgatou da rua.
_ Que fofura! _ disse Olívia.
_ Ele é tão perfeito! Ah, meu amor, obrigado.
Bruno percebeu que o cachorrinho tinha uma chave pendurada na coleira.
_ O que é isso?
_ É a chave da nossa nova casa. A casa com piscina que você tanto sonhava em ter.
Todos gritaram.
_ Ah, Jonas! Eu nem sei o que dizer. Você quer que eu morra de amor?
_ Não. Eu quero que você viva de amor. E de preferência ao meu lado.
Bruno levantou com o cachorrinho no colo e beijou Jonas.
No dia seguinte, no café da manhã, Jonas, falava sobre a nova pizzaria que iria abrir em sociedade com Rafael, e do sonho de formar uma franquia.
Seu entusiasmo desapareceu ao perceber que Bruno estava calado e pensativo, como se não tivesse presente.
_ Bruno?! Bruno!
Bruno o olhou.
_ Você ouviu o que eu disse?
_ Desculpe, amorzinho. Eu estou um pouco distraído. Mas fale.
_ Eu já falei para você esquecer essa história. Não há o que se sentir mal. O Gustavo era um monstro. Se você não tivesse feito o que fez a essa hora estaria chorando a morte da sua mãe.
_ Eu sei. Mas não é certo tirar a vida de alguém.
_ Se for para sobreviver é certo sim. Eu não quero mais te vê triste por causa disso. Você precisa ocupar a cabeça. Aproveite que hoje é a sua folga e vai até a casa nova. Você só a viu por fotos. Vai lá olhar os detalhes e depois você pode ir comprar algumas coisas novas para casa. Compre o quiser._ Jonas disse entregando o cartão de créditos.
_ Eu tenho que ir. Há muitas coisas para resolver hoje. Eu vou vir almoçar contigo e depois volto pra rua. Você quer ir à algum restaurante? Já que você deu folga para a Solange.
_ Não. Pode deixar que hoje eu quero cozinhar. _Bruno disse sorrindo sem mostrar os dentes.
Jonas levantou-se da mesa e o beijou antes de sair.
Bruno caminhou pelo apartamento. Em seu rosto expressava uma seriedade misteriosa.
Ao entrar na sala ficou observando o cachorrinho, nomeado de Bruce, brincar com uma bolinha.
Ele caminhou até a porta que dava acesso à varanda e abriu para sentir a brisa da manhã.
Em sua mente recordava com nitidez Gustavo se retorcendo no chão com faca fincada no peito. Bruno erguia a sobrancelha e do canto da boca brotava um leve sorrisinho. Começou a se tremer imitando Gustavo se debater, enquanto soltava uma gargalhada que ecoava pela casa.