Capítulo 16
_ Você está melhor?_ perguntou Ivan entregando um copo com água para Victor.
Depois de muito chorar, o menino se sentia um pouco mais tranquilo.
_ Estou sim. Obrigado.
_ Espero que essa mulher nunca mais venha a te perturbar. Se você quiser eu posso proibir a entrada dela aqui no hospital.
_ Você deve ser um homem muito poderoso.
Ivan permaneceu em silêncio observando Victor. Cada vez que o olhava naquele estado, sentia a consciência pesar ainda mais.
_ A minha mãe me disse que é você quem está bancando os custos do hospital. E pelo alto nível disto aqui deve ter custado muito caro. Por que você está fazendo isso por mim? Sempre pareceu que você não gostasse de mim. Até me ofereceu dinheiro para me afastar do Gael.
_ Eu fui um imbecil. Aprendi com a minha família que quando se quer algo das pessoas é só jogar dinheiro em cima delas. Eu gostaria muito que você me desculpasse por isso.
_ Você gosta do Gael?
Ivan arregalou os olhos, surpreso com a pergunta tão direta.
_ Não... não mais! Confesso que já gostei muito, mas acabou.
_ Um amor não se acaba com facilidade.
_ Eu não sei. Acho que nunca amei ninguém. Hoje, eu percebo que o que sentia pelo Gael não era amor. Era uma obsseção. Algo que me fez fazer coisas vergonhosas.
Pela primeira vez, Ivan percebeu que nunca amou o primo. Que a princípio, era um paixãozinha de adolescente e depois se tornou uma ilusão maldita. A imagem de Gael o fazia sentir raiva por ter o levado a agir como agiu com o Victor.
_ Você me perdoa por ter agido como um idiota soberba contigo?
Victor sorriu de um jeito tão doce, que fez Ivan sentir uma ternura pelo menino.
_ Tudo bem. Pode esquecer isso. Você tem sido tão bom pra mim. Eu quero muito te agradecer.
_ Não me agradeça! Nunca faça isso. Eu não faço mais que a minha obrigação.
Victor não entendeu o fato de Ivan, que não tendo nenhum tipo de relação com ele, se sentia obrigado a ajudá-lo.
_ Como assim a sua obrigação?
Ivan sentiu vontade de dizer a verdade, se ajoelhando no chão e implorar por perdão. Queria se humilhar como nunca se humilhou para ninguém, mas temeu a reação do menino. Se por raiva Victor o proibisse de ajudá-lo, ou pior, proibisse de vê-lo.
_ Se quiser me agradecer, você pode fazer algo por mim.
_ Claro. Faço qualquer coisa._ Victor disse sorrindo.
_ Promete que vai se cuidar? Que tomará todos os medicamentos, fará todas as sessões de fisioterapia e que me permitirá pagar as sessões de terapia?
_ Bom...
_ Por favor? Você não sabe o quanto isso é importante para mim.
_ Eu prometo.
Também era a primeira vez que Victor não sentia medo de Ivan. Sentia-se confortável e seguro ao lado do empresário.
Naquele momento, todos foram surpreendidos com a entrada de Gael. O publicitário trazia nas mãos um ursinho de pelúcia. Ao ver Ivan no quarto, franzio o cenho e sentiu uma onda de raiva invadir o seu peito.
_Que merda está acontecendo aqui?
Ivan compartilhava com Gael o sentimento de raiva por ter interrompido o seu momento com Victor.
_ Gael?! O que você está fazendo aqui?
_ Ora, eu sou o seu namorado! É normal que eu venha te ver.
_ Mas, eu estou internado aqui há dias e você nunca veio me visitar.
_ Eu não sabia onde você estava. A sua família fez de tudo para esconder você de mim.
_E eles têm um bom motivo para isso. Já que você deixou o Victor sozinho numa rua deserta e perigosa.
_ Cala a boca, Ivan! Aliás o que você está fazendo aqui? Deixe o meu namorado em paz.
_ Vocês não vão brigar? Por favor.
_ Ivan, eu já estou de saco cheio das suas perseguições. Eu já te disse que não quero nada contigo. Que merda! Será que você não entende que não quero mais olhar na sua cara? Você me dá nojo.
_ Que coincidência! Eu também não quero mais olhar na sua.
_ Vá embora daqui! E deixe o Victor em paz.
_ Gael, já chega! Não precisa tratar o Ivan desse jeito. Você está sendo deselegante.
_ Você está defendendo o Ivan? O que está acontecendo? Ele te envenenou foi isso?
_ Não, Gael! Pelo amor de deus! Eu não quero brigas.
Victor sentiu uma pontada de dor muito forte na cabeça. Fechou os olhos e levou a mão a cabeça, soltando um grito de dor.
_ Victor, o que você está sentindo?!_ Ivan perguntou preocupado, se aproximando de Victor, mas Gael o empurrou e abraçou o loiro.
_ Calma, meu amor. Vai ficar tudo bem.
Ivan saiu do quarto para chamar o médico.
_ Me desculpe, meu amor. Eu sei que fui um crápula contigo. Me sinto um monstro pelas minhas atitudes naquela noite. Mas, eu prometo que a partir de agora tudo será diferente. Eu vou ser o melhor para você.
"Você não sabe o quanto sofri durante esse tempo que você esteve aqui. Eu vou ser o melhor namorado pra você. Eu descobri que te amo."
_ Jeito estranho de amar, né Gael? Como pode ficar com outro cara na minha frente e ainda me deixar sozinho? Se você não tivesse me levado para aquele lugar horroroso nada disso teria acontecido comigo._ Victor dizia com os olhos umedecidos.
_ Eu estou muito arrependido, meu amor. Me deixe consertar as coisas?
_ Eu não sei se tenho condições de te perdoar agora. Um dia talvez, mas agora não.
Ivan entrou no quarto acompanhado do médico e de Andréia, que ficou enfurecida ao ver Gael.
_ O que você está fazendo aqui, seu traste? Como tem coragem de chegar perto do meu filho depois de tudo que fez?
_ Mãe, por favor, não brigue. Eu não estou me sentindo bem.
Por amor ao filho, Andréia conteve a vontade de agredir Gael.
_ Vamos lá, meu paciente favorito, o que você está sentindo?
_ Eu senti uma pontada na cabeça, mas a dor está ficando mais branda.
_ Eu vou te dar esse analgésico, caso a dor persista, faremos alguns exames.
O doutor Carlos Drummond entregou um comprimido e um copo com água para Victor, que ingeriu o medicamento sobre os carinhos da mãe.
_ Vai ficar tudo bem, carinho. Mamãe está aqui.
Gael, se ainda te resta um pingo de respeito pelo meu filho e eu peço que saia daqui e o deixe em paz.
_ Eu como médico recomendo que as visitas se encerrem por hoje. Acho que o nosso campeão aqui precisa descansar um pouco._ disse o doutor Carlos Drummond na tentativa de evitar uma situação conflituosa.
_ Eu vou embora. Mas, quero que saiba que vou o fazer o possível para consertar a situação entre nós, meu bem.
Gael disse essas palavras para provocar Andréia e ficou feliz, internamente, ao ver o semblante sério da mulher. Ele entregou o ursinho de pelúcia a Victor dando um beijo na sua boca para enfatizar a provocação.
No estacionamento, Ivan caminhava em direção ao carro com a intenção de ir embora, quando foi surpreendido por Gael segurando o seu braço.
_ Qual é a sua, hein? Por que está cercando o Victor? Eu soube que você está bancando os custos do hospital, até porque a família do Victor não teria dinheiro para isso.
Ivan puxou o próprio braço com força.
_ Isso não é da sua conta.
_ É sim! O Victor é o meu namorado!
_ Ah, é mesmo? E você diz isso com orgulho? Que tipo de namorado é você que usa o namorado para provocar dois homofóbicos num bar, mesmo que isso ponha a Victor em risco? E sem contar de ter a ideia de levá-lo à uma casa de orgias. Será que você não percebeu que ele não é baixo nível como você?
Gael franziu o cenho.
_ Ivan, eu não vou deixar você usar o Victor para me atingir.
_ Não me compare a você. Isso é você que está fazendo.
Ivan tenta entrar no carro, mas Gael o segura.
_ Saia do meu caminho. Eu não quero que você se aproxime do Victor.
_ Isso é ele quem tem que decidir.
_ Primeiro você prejudica a minha irmã, depois me faz perder o emprego, e agora tem algum plano maldito e está usando o meu namorado pra isso. Ivan, eu estou ficando de saco cheio de você. Não me provoque, ou acabo contigo.
_ Vamos ver quem vai acabar com quem.
Ivan entrou no carro e saiu em disparada deixando Gael para trás furioso.