Capítulo 23
Ivan entrou no quarto sorrindo, abraçando Victor.
_ Ainda não está pronto, meu solzinho?
Para a sua surpresa, Victor o olhava sério.
_ Aconteceu alguma coisa?
_ Eu vou deixar vocês dois conversarem. Tchau, Vitinho._ Virgínia deu um beijo no rosto de Victor._ Tchau, Ivan.
_ Tchau, Virgínia.
Quando a menina saiu, Ivan sentou ao lado de Victor segurando a sua mão. Ele estava preocupado.
_ O que houve, meu amor?
Victor puxou a mão e mirou nos olhos de Ivan.
_ Eu quero que você seja sincero comigo.
O coração de Ivan bateu acelerado. Por uns segundos, pensou que Victor poderia ter descoberto tudo sobre o ataque que sofreu.
O empresário acariciou os cabelos do namorado.
_ Você ainda gosta do Gael?
Ao ouvir essa pergunta, Ivan sentiu como se tivesse tirado um peso das costas. Respirou aliviado e sorriu.
_ Qual é a graça?
_ Ah, meu amor, que bobagem.
_ Não é bobagem! Olha isso. Você gosta dele e está me usando para fazer ciúmes pra aquele...ai que ódio! Eu sou mesmo muito burro! É claro! Por isso que você não ia com a minha cara.
Ivan pegou o envelope e olhou todos os papéis.
_ Como isto foi parar na sua mão?
_ O seu amado me mandou. O grande amor da sua vida, como você disse nas cartas.
_ O grande amor da minha vida é você.
_ Deixe de mentira, Ivan!
_ Eu não estou mentindo. Tudo isto aqui é antigo. Bem antes de nós começarmos a namorar. Olhe a data desta carta aqui...é de 2001, você nem era nascido.
_As mensagens dos prints são atuais.
_ De cinco meses atrás.
_ Mesmo assim, Ivan! Isso significa que você ama o Gael desde 2001. Você disse em uma das mensagens que apesar do tempo e da distância e mesmo namorando a Carla, você ainda o ama. Um amor tão forte assim não acaba de uma hora pra outra.
"Puxa, eu te amo tanto! Como você teve coragem de brincar com os meus sentimentos desse jeito?"
_ Ei, chega! Eu tive uma história com o Gael sim. Mas, não era amor. Eu achava que era, mas era coisa boba de criança, ilusão. Eu soube o que é o amor depois de você. É a ti que eu amo.
Ivan segurou as faces de Victor com as duas mãos e o beijou.
_ Você é o meu amorzinho. Nunca duvide disso. O imbecil do Gael está com o orgulho ferido. Por isso, ele mandou essas porcarias pra você. Ele quer nos irritar. Mas, eu não vou permitir que nada atrapalhe o nosso amor.
_ Eu não consigo entender.
_ Eu e o Gael tivemos um namorinho de criança. A gente trocava cartas e eu, como um menino bobo, achava isso o ápice do romantismo. Tanto é que as cartas são bregas. Um dia, o meu pai nos flagrou ... Eu não gosto nem de lembra daquele dia.
"Eu apanhei muito. Parece que ainda dói até hoje. Ele me mandou para a Suíça para me afastar do Gael.
"Eu nunca superei essa mágoa. Criei um ódio tão forte dentro de mim, que desejava vencer o meu pai a qualquer custo. Voltar e concluir aquele namoro que ele tanto impediu. Eu confundi rebeldia com amor. Estava confuso, queria ter o Gael de qualquer jeito e comecei a insistir com ele, mas o Gael recusava e a minha raiva foi aumentando. Eu confundi toda essa merda com amor, porque até então, eu desconhecia esse sentimento. Eu fiz algo horrível..."
A imagem de Victor sendo acertado com taco de beisebol fez com que Ivan se sentisse uma criatura mais repugnante. Ele puxou Victor para si e o abraçou forte.
_ Eu te conheci e você me tirou da escuridão, me fez conhecer o verdadeiro amor. Um sentimento bom, puro e leve. Você desperta o melhor de mim. Eu não sou mais o mesmo depois de você. Meu amor por você é imensurável.
Victor se comoveu com as palavras do namorado. Respirou aliviado acreditando que Ivan dizia a verdade.
_ Eu não consigo não sentir ciúmes. Só de pensar em você tocando em outra pessoa, dizendo que a ama, isso me deixa tão triste e com tanta raiva ao mesmo tempo. Ainda mais o Gael que está no mesmo nível que você. Ele é bonito, tem mais grana do que eu, tem mais experiência na cama...ai que ódio!
Victor enxugar as lágrimas.
_ Pare de dizer como se o Gael fosse melhor do que você, porque ele não chega aos seus pés. O Gael é tempestade e você é aquele lindo sol que surge por trás das nuvens depois que a tempestade vai embora. Sempre majestoso, iluminado, aquecendo a minha vida. Você é o meu solzinho. Não precisa se preocupar nem com o Gael e nem com ninguém.
_ Você jura?
_ Vem cá, lindinho.
Ivan beijou o rosto de Victor, o queixo e por fim a boca.
_ Eu não quero que você tenha contato com o Gael. Não quero que você fique perto dele.
_ Com todo prazer. Aliás, nós não somos próximos.
_ Mesmo sendo primos?
_ Eu não sou um cara muito família. Agora enxuga essas lágrimas, que esse rostinho é muito lindo para ficar triste. Vai se arrumar que temos que sair.
_ Eu estava preocupado por não ter um look tão formal para o coquetel e você aí de calça jeans, camisa Polo e sapatênis, bem estilo hétero top.
_ Ofensa gratuita uma hora dessas? Assim você me magoa, lindinho.
Ivan o beijou.
_ Eu não vou vestido assim. Ainda vamos passar na minha casa antes de irmos. E eu tenho uma surpresa para você.
_ O que é?
_ Se eu disser deixa de ser surpresa.
_ Eu odeio ficar curioso.
_ Confie em mim. Você vai gostar. Agora, se livre dessas porcarias.
_ Com todo prazer.
Victor tentava rasgar as cartas e não conseguia devido a mão paralisada. Ele sentia nervoso e com raiva. Percebendo isso, Ivan as tomou das mãos de Victor e as rasgou até ficarem bem picadinhas.
_ Acabou esse assunto.
Ivan o beijou.
_ Eu pensei que você morasse numa casa. Não imaginava que era um palácio!_ Victor dizia observando a mansão maravilhado._ Se bem que um príncipe só poderia viver num palácio mesmo.
De todos os cômodos da casa, o que mais encantou o menino foi o cinema particular.
_ Amor, você tem uma sala de cinema em casa! Isso é incrível! Eu tô me sentindo no shopping. Victor dizia olhando o local e passando a mão nas poltronas de veludo.
_ Que foda vê série nessa telona. Imagina jogar vídeo game! O bom é que você nem precisa sair para ir ao cinema, basta descer as escadas. Se bem que vocês milionários sempre se isolam das outras pessoas. Vocês nunca estão em lugares públicos. É cinema particular, barco particular, avião particular. A minha mãe sempre diz:"É mais fácil vê um espírito de um ente querido desencarnado do que um pobre vê um milionário de perto". Mas, você vive aqui sozinho? Deve ser muito solitário.
_ Sim. Mas, o dia que você vier viver comigo esse problema será resolvido.
Um sorriso iluminou o rosto de Victor, que se atirou nos braços de Ivan e o beijou.
_ Você tá falando sério mesmo? Pensa em morarmos juntos?! Meu amor, isso seria a realização de um sonho! Sabe, eu sempre observava aqueles casais homossexuais apaixonados e se casando. É algo tão raro no nosso meio que eu sempre tive medo de não viver isso. Agora contigo, eu vejo que o amor é possível pra mim. E que é muito bom sentir isso.
Victor percebeu que Ivan o olhava sério.
_ O que foi? Eu disse alguma bobagem?
_ Não. Eu estou pensando o quanto esta casa precisa da sua alegria.
Um homem vestido de terno preto entrou na sala. Victor presumiu que fosse o mordomo e adorou, pois o lembrava os filmes.
_ Boa noite, doutor Ivan. Boa noite, senhor._ Victor respondeu com inclinando a cabeça._ O senhor vai para o aeroporto agora?
_ Daqui a pouco, mas já pode preparando o carro.
_ Sim, senhor. Com licença.
O motorista se retirou e Victor olhou para Ivan se sentindo confuso.
_ "Aeroporto" ? Aonde você vai? E eu?
_ Vou ao coquetel, que será em São Paulo e você, é lógico, que irá comigo, ora!
_ Em São Paulo?! Eu pensei que fosse aqui no Rio mesmo. Mas, vai dá tempo de chegar lá? A gente nem se arrumou! Que horas sai o voou?
_ Será no momento em que chegarmos.
_ Como assim?!
_ Nós não vamos num avião comum. Vamos no jatinho particular.
_ Amor, você tem um jatinho?! Que foda! Mas, eu nunca pisei num avião. Eu acho que tenho medo.
_ Se você nunca andou de avião não sabe se tem medo ou não. Pode ficar tranquilo, que é super seguro. Vamos nos vestir?
_ Eu já estou pronto.
Victor usava uma calça preta, uma blusa social branca e um sapato de couro preto, que era do seu avô.
Ivan o olhou de baixo para cima e sorriu.
_ Vamos subir, que eu vou te mostrar a sua surpresa.
O closet de Ivan se assemelhava a uma loja de grife: bem iluminado, espaçoso, com uma grande parede espelhada, e diversas roupas de grifes nas araras. Victor tentou disfarçar o fascínio, temendo que Ivan o achasse um interesseiro.
O empresário entregou um cabide com um terno pendurado, protegido por uma capa.
_ É para você.
O menino arregalou os olhos. E pegou o traje Ermenegildo Zegna de cor bege.
_ Não. Eu não posso aceitar isso. É um Ermenegildo Zegna. Amor, isso é muito caro!
_ Não se preocupe com preço. Quero que se apresente bem vestido diante de todos.
Aqui estão os sapatos e a blusa para usar por baixo do terno.
A blusa também era de grife e de cor preta.
Victor o olhava sério.
_ Não, Ivan. Eu não posso aceitar isso. Eu...
_ Meu amor, eu comprei com tanto carinho pra você. E você recusa? Assim você me ofende.
_ Desculpe é que...Eu não estou acostumado com tudo isso.
_ Pois vá se acostumando. Agora vá se trocar porque tô louco para te vê arrumado.
Quando ambos se viram vestidos com seus ternos, a admiração foi recíproca. O traje de Ivan era preto e o jovem exalava um perfume que deixou Victor fascinado. Era a primeira vez que o loiro o via vestido de um jeito formal.
_ Ivan, você é tão lindo! É o meu príncipe.
_ Olha só quem diz. Veja como você está maravilhoso.
Ivan o conduziu até diante do espelho.
_ Veja como você nasceu para usar um Ermenegildo Zegna.
_ Imagina. Se eu chego com um terno desses onde eu moro vão pensar que eu roubei.
_ Que horror! Como você é exagerado._ Ivan disse sorrindo._ Agora, vamos que o motorista está nos esperando.
Apesar do conforto da viagem, Victor se sentiu assustado temendo algum acidente. Para acalmá-lo, Ivan segurava na sua mão, tranquilizando-o.
O evento foi realizado numa mansão alugada para esse fim. A princípio, Victor ficou tímido. Prefiriu falar somente o necessário com medo de cometer alguma garfe.
O menino imaginava que o evento seria como nas novelas, pessoas elegantes segurando uma taça de champanhe, falando baixo, homens fumando charutos ao som de músicas instrumentais. Para a sua surpresa, as músicas eram eletrônicas como nas baladas, as pessoas gargalhavam e falavam alto. O que mais o espantou foi o consumo de drogas ilícitas sem nenhum receio.
Ivan apresentava Victor a todos sentindo muito orgulho do namorado. A sua felicidade estampava o seu rosto e brilhavam nos seus olhos. Sentia-se tão leve, como nunca se sentira antes.
Renato o observava e se agradava com o que via. Ele conhece Ivan desde menino e sempre teve um carinho por ele.
Decidiu que não contaria nada sobre o namoro de Ivan para Sônia, pois desejava preservar a felicidade do casal.
_ Renato, quero que você conheça o Victor. Amor, esse é o meu amigo e braço direito na empresa. Não sei o que seria de mim sem ele. Aliás, vocês dois são os homens mais importantes da minha vida.
_ Nossa, que honra está no mesmo patamar que o famoso e aclamado Victor. Para o Ivan, é você no céu e você na Terra, porque em deus ele não acredita. Muito prazer, Victor, o novo amor do meu chefe.
_ "Novo amor" não. O verdadeiro amor. O amor da minha vida._ Após dizer essas palavras, Ivan o beijou.
_ Prazer, seu Renato.
_ Sem formalidades. Pode me chamar de Renato.
Filho de um importante engenheiro da construtora Matarazzo, Felipe acompanhou o pai no coquetel. O jovem não ficou satisfeito ao vê Ivan e Victor juntos no local.
Amigo de Gael, Felipe comprou as dores do amigo e passou a sentir antipatia pelo casal. Tinha Victor como um traidor interesseiro. Observou o casal com a expressão brava.
Quando Victor foi ao banheiro, Felipe o seguiu.
Ao veê Felipe entrando no local, Victor pulou de susto. Para a sua sorte, ainda não havia aberto o zíper da calça.
O publicitário trancou a porta e lançou sobre Victor um olhar ameaçador.
_ Você não tem nenhum um pingo de vergonha na cara, não é mesmo?
_ O quê?! O que você tá dizendo? Aliás, o que você está fazendo aqui, Felipe?
_ Você é muito cretino mesmo. Trair o meu amigo dessa maneira suja com o primo dele que não vale merda nenhuma. Tudo isso só para encher o cu de dinheiro. Até terno de grife está usando.
"E só de pensar que naquele dia estava pagando de santinho, dando chiliques na sauna. Como se fosse um santo no meio dos depravados. Ah, deixe de ser sonso, garoto. De santo você não tem porra nenhuma. E pelo terno, o preço do seu programa é bem alto."
_ Eu não vou admitir que você fale assim comigo. Você não tem esse direito. Vê se toma vergonha na cara e vá tomar conta da sua vida.
_ O Gael não merece essa sacanagem. Vocês dois me dão nojo.
Victor percebeu que Felipe estava um pouco alcoolizado.
_ A minha família não tem grana como a sua, e eu não sou um play boy como você, mas se há algo que me difere de ti é a minha educação. Se quiser descer o nível com barracos, procure alguém disponível para isso.
O loiro caminhou em direção à porta, e pôs a mão na fechadura para abri -la. No entanto, Felipe o segurou.
_ Você se acha, né brinquedinho de playboy?
_ Me solta!
Victor empurrou Felipe e saiu do banheiro a procura de outro para usar.
Sentindo um hálito cheirando a álcool no seu ouvido, Ivan olhou para trás para vê de quem se tratava.
_ Talarico morre cedo. Fica ligado.
Felipe estava com os olhos vermelhos e um sorriso cínico. Afastou-se de Ivan indo para a o bar.
O empresário o olhou sério. Não gostava e nunca gostou de Felipe e muito menos do seu atrevimento.