Estou apaixonado. Isso é um fato. Os dias se passam e quero ficar cada vez mais perto do Kleber. Também descobri mais sobre o que gosto e não em um relacionamento, por exemplo, adoro quando ele beije o meu pescoço, mas detesto que acaricie minhas orelhas. Vai entender, né?
Ainda não chegamos "naquele momento", só que não tenho pressa. As coisas acontecem organicamente, dessa forma, tenho a chance de me surpreender.
Os dilemas de uma ficada passaram anos luz de mim. Na minha adolescência, o máximo que cheguei perto de outro homem foi quando o Renan me prendeu dentro de um lixeiro com o Rafael, outra vítima de bullying.
Parando para analisar o meu currículo de humilhações, percebi que o Renan sempre teve voz ativa para com o Sérgio, mas porque ele nunca lutou contra esse sentimento ruim?
Outro pensamento que me atingiu foi sobre o grau de dificuldade do ensino superior. A faculdade era mais complexa do que imaginei, os prazos ficavam mais apertados e precisávamos lidar com professores exigentes, pelo menos, no curso de design é assim.
Fechei minha parceria com a Giovanna, porém, estávamos nos desdobrando para entregar um trabalho de Teoria da Cor. Deveríamos produzir uma mandala separando as cores quentes e frias.
O Ponto de encontro ficou sendo a casa dela, apesar de ser uma bagunça, no bom sentido que a palavra bagunça possa ter. Não sei explicar, mas existe uma energia positiva naquele espaço.
Em uma quinta-feira chuvosa, finalmente, pude conhecer o Zedu. Ele era um homem bonito e alto, a pele morena ficava em evidência sobre as roupas claras.
Passei dias stalkeando o Yuri e Zedu, então, o sentimento era tipo conhecer uma celebridade. Diferente do namorado, o Zedu, que descobri se chamar José Eduardo, não tem muitos pelos e zero barba. Sua fala é mansa e clínica.
Ele estava sentando em uma poltrona, de frente para Giovanna e eu. Conversamos sobre diversos assunto aleatórios. Não demorou muito e o Yuri chegou e sentou no braço da poltrona.
Realmente, os dois eram fofos juntos. Um completava o outro. Será que o Kleber e eu seremos assim no futuro? Eu queria muito que isso se tornasse realidade, um namorado para cuidar de mim. Os meus pensamentos são massacrados pela Giovanna que contou toda a minha história para o seu irmão e o namorado dele.
A Giovanna era o tipo de pessoa que não tem medo de emitir sua opinião sobre qualquer assunto, no caso, o meu relacionamento com o Kleber. Ela explicou para os dois que estávamos saindo há semanas e nada de rolar um pedido formal de namoro.
Eu travei, quase um sistema de defesa natural do meu corpo. Não conseguia pensar em nada para dizer. Eles esperaram o comentário meu sobre, porém, escutaram apenas o cricrilar dos grilos, que faziam a festa após a chuva.
— Bem, talvez ele esteja nervoso. — soltou Zedu pegando na coxa de Yuri e apertando, simbolizando uma troca de palavras.
— Sim. Santino, olha, todo mundo tem o seu tempo. Não foi fácil fisgar esse peixão aqui. — passando os braços em voltado do pescoço de Zedu. — Ainda mais que o Zedu não era assumido.
— Verdade. Te dei muito trabalho, né? — perguntou Zedu sorrindo e tocando no queixo de Yuri. — Santino, tenha paciência. E não caia nas paranoias da Giovanna não.
— Verdade. Por isso que ela ainda é encalhada. Até o Richard, o Richard tem namorada e olha que toda semana ele tenta colocar fogo em alguma coisa. — brincou Yuri mandando um beijo para Giovanna que fez uma careta engraçada.
— Não existe homem para mim no Brasil. — respondeu Giovanna jogando os cabelos para o lado direito.
Para jantar pedimos pizza. Às quintas, a família da Giovanna gostava de fazer uma sessão especial de cinema. Quase todos sentaram no chão. A dona Olivia e Carlos preferiram ficar no sofá.
Acanhado por acompanhar um pouco daquela rotina, sentei ao lado da Giovanna e apoiei um travesseiro na cabeça. O Yuri deitou e Zedu o usou como travesseiro.
O filme da noite foi "Moulin Rouge - Amor em Vermelho". Que espetáculo. Eu não sou o tipo de pessoa que curte musicais. Não entendo como do nada, um grupo aleatório de pessoas consegue executar a mesma coreografia. A atuação da Nicole Kidman beirando a perfeição e o Ewan McGregor (deusdomeucoração) cantou igual um anjo.
Terminei a exibição com lágrimas e consegui limpar os olhos antes do Zedu ligar a luz. Recebi o convite para dormir na casa deles, afinal, a chuva ainda persistia em cair e vários pontos de Manaus começaram a alagados. Por sorte, algumas roupas do Yuri serviam em mim e segui para o banheiro.
— Ei, Santino. — Yuri chamou a minha atenção, enquanto eu seguia para o banheiro.
— Oi. — soltei parando e esperando ele se aproximar.
— Usa esse pijama. Acho que ele é mais confortável. — me entregando uma camiseta e o calção. — Escuta. Não liga para as besteiras da Giovanna. Ela é minha irmã, eu a amo, mas às vezes ela consegue passar do ponto.
— Eu já me acostumei. — falei rindo.
— Eu te adicionei no Instagram. Você pode me procurar toda vez que quiser desabafar. Graças a Deus, eu tive uma rede de apoio excepcional quando mais jovem, então, ficaria feliz em te ajudar. — ele disse pegando no meu ombro.
Puxa. Essas palavras me atingiram como um soco do King Kong no Godzilla. Segurei o choro, agradeci o carinho do Yuri e andei novamente em direção ao banheiro. Lá, pude chorar sem a interferência de alguém. Eu sempre fui um garoto só, entretanto, os dias solitários ficaram para trás.
Peguei o celular e entrei no Instagram. Gritei e pulei de forma silenciosa. A solicitação do Yuri foi aceita com sucesso. Em seguida, enviei um áudio para o Kleber. Expliquei que dormiria na casa da Giovanna devido ao temporal. Ele demorou para responder e mandou um emoji de guarda-chuva.
O quarto da Giovanna era digno do Printerst. Cada lugar podia ser encontrado em uma daquelas revistas sobre decoração de casa. Após muita conversa e uma noite repousada a, fomos para a faculdade.
Com muita dificuldade, conseguimos entregar o trabalho de Teorias da Cor. O professor nos parabenizou, uma vez que fizemos a pintura da mandala em aquarela (ideia da Giovanna). No intervalo, encontrei o Kleber e fomos lanchar no Restaurante Universitário (RU). Ele parecia cansado, mas tentou disfarçar e perguntou sobre os planos para o fim de semana.
— Bem, eu não tenho nada planejado. Você não quer levar o Thor para tomar banho de piscina em casa? — perguntei, enquanto colocava catchup na minha pizza de calabresa.
— Pode ser. Só tenho que ver como vou levar o gigante. — disse Kleber coçando a cabeça.
— Eu posso pegar vocês. Não tenho problema em dar carona ao meu amigo canino. — tentei achar uma solução para o problema, porém, o Kleber desconversou.
— E o trabalho das cores frias e quentes?
— Entregamos, o professor nos parabenizou.
— Esse é o meu bebê. — Kleber levantou a mão e afagou meus cabelos. — Bebê nota 1000.
— Querem parar com esse sentimentalismo barato. — pediu Sérgio colocando a mochila sobre a mesa e sentando.
— Olha, reuniãozinha? — questionou Giovanna sentando em seguida.
Sérgio e Giovanna. Giovanna e Sérgio. Eles são tão diferentes, mas eu meio que shippava. A Giovanna tagarelou sobre o destaque que recebemos na aula. Ela revelou para os meninos que eu fiquei vermelho na frente do professor, depois ser elogiado.
Eu não sei receber elogios, na verdade, quase nunca recebi, principalmente, dos meus pais. Eles eram preocupados demais com as minhas falhas para pensarem em me elogiar. Como já disse antes: gordo demais, afeminado demais e indisciplinado demais.
Para celebrar essa conquista, decidi fazer algo que nunca pensei que faria: uma festa na piscina. O pessoal adorou a ideia, a Giovanna mais ainda. Ao chegar em casa, conversei com os funcionários e mandei uma mensagem para a mamãe, afinal, ela ainda continuava dona do local.
***
SANTINO:
- Tudo bem se eu fizer uma festa aqui em casa? É uma coisa pequena só para os meus amigos da faculdade.
MÃE:
- Você? Amigos? Festa? Não sei se fico preocupada ou feliz. (emoji de susto)
SANTINO:
- Posso ou não? (emoji entediado)
MÃE:
- Pode, claro. Pede para os funcionários trancarem todos os quartos. Não quero nada roubado, por favor.
SANTINO:
- Não se preocupe. Vai ser uma festa tranquila.
MÃE:
- Divirta-se. (emoji de coração)
***
Prêmio de mãe do ano #SQN. Comecei a andar pela área da piscina, imaginando o que poderia usar para decoração. O Sérgio apareceu só de sunga e deu um mergulho espalhando água para todos os lados. Não vou mentir, ele tem um corpo maravilhoso, algo que nunca percebi antes, vai ver era por causa do bullying.
Lembrei do meu corpo. Branco, flácido e sem atrativos. Será que eu estava fazendo a coisa certa? Tipo, o Kleber tinha um corpo maravilhoso e a Giovanna nem se fala. Convidei ainda o Enzo e André, ou seja, todos desfilariam com seus corpos padrões e eu ficaria ridicularizado.
— O Yuri! — exclamei para mim mesmo, pegando o celular e abrindo o instagram. — Posso convida-lo.
Sim. Eu não estava mais sozinho. Aos poucos, comecei a formar minha rede de apoio. Fora que o Kleber gostava do meu corpo e a Giovanna não é o tipo de pessoa que me julgaria.
— Ei, Santino! — gritou Sérgio, após emergir. — Vem. A água está uma delicia. — jogando água na minha direção.
— Tá, espera. — pedi digitando uma mensagem no meu celular. — "YURI. FESTA DA PISCINA NA MINHA CASA. POR FAVOR, ESTOU PRECISANDO DA MINHA REDE DE APOIO. PODE TRAZER O ZEDU TBM. A GIOVANNA SABE ONDE FICA. ABRAÇOS". — deixei o celular na espreguiçadeira, tirei a blusa e pulei na água.