ESCRITO POR SANTINO PEIXOTO:
Churrasco? Ok. Bebidas? Ok. Música? Ok. Convidados? Temos dois, se contar o Thor. Ele estava alegre demais, correndo por toda a extensão do jardim interno. O Kleber parecia preocupado, acho que com medo do cachorro sair da linha.
— Thor! — ele exclamou, colocando as mãos na cabeça ao ver o cachorro tentando cavar um buraco na grama.
— Ei, deixa. Ele está se divertindo. — falei, pegando no ombro de Kleber e tentando tranquilizá-lo.
— Eu sei, mas fico sem graça. Se ele quebrar algo...
— O que importa hoje é diversão. Você está tenso. — comentei, ficando parado atrás dele e pegando em seus ombros. — Vamos tomar algo? A Giovanna está à caminho. O Sérgio não acordou ainda. Aproveita comigo?
— Tudo bem. Eu desisto. Essa sua carinha de menino pidão é demais para mim. — Kleber se virou e me abraçou.
Os nossos corpos estavam roçando um no outro. Engraçado como os hormônios masculinos agem de forma rápida. Damos um beijo demorado, quente e com gosto de hortelã. Ok. Confesso, fui covarde e me afastei do Kleber, não queria passar dos limites.
Enquanto Thor corria para todos os lados, chamei o Kleber para o bar que ficava ao lado da piscina. Decidi preparar um drink especial para ele. Não sou o melhor barman do universo, mas consigo me virar nos 30.
No misturador, coloquei leite de coco, suco de maracujá, groselha, leite condensado, gelo e, claro, vodka. Para fazer uma gracinha, e mostrar os meus dotes, balancei a coqueteleira e despejei o drink no copo.
— Temos um especialista? — o Kleber perguntou ao me ver preparando o drink. Ele estava fofinho escorado na mesa.
— Nem um pouco. — como não sei receber elogios, mudei a direção da conversa e perguntei se ele queria morango picado na bebida.
— Pode ser. — ele respondeu se aproximando, e me olhando de forma estranha.
Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de ser notada. Porém, o meu tamanho (altura e peso) não me deixa passar despercebido. Só que o olhar do Kleber não é de maldade. Ele gosta e eu também.
Para agradar o meu crush, coloquei um canudinho de guarda-chuva no copo. O grande momento chegou, o Kleber provou e fez um suspense digno da Ana Maria Braga. Eu fiquei ansioso, queria saber o resultado e um sorriso se abriu na boca dele. Era a resposta que eu queria.
— Bom dia, Santino. — desejou Sérgio passando por nós. — Baixa renda. — se referindo a Kleber.
Eu não sei como ele conseguia ser tão desagradável com os outros. O Sérgio estava usando apenas uma sunga amarela e sandálias. Cantarolando uma música qualquer, ele pegou uma garrafa de Vodka, abriu e tomou vários goles, sem fazer qualquer tipo de careta.
— Uau. Ele pode ser insuportável, mas aguenta uma birita. — comentou Kleber rindo e dando mais um gole no drink.
— Sim...
Não tenho tempo de responder, pois, a Giovanna avisou que estava entrando no condomínio. Não queria deixar o Kleber sozinho com o Sérgio, porém, precisava receber meus convidados. Na calçada, vi um carro diferente chegar. Era um Golf vermelho. De dentro, saem Giovanna, Yuri, Zedu e Richard, ou seja, a família completa.
Logo atrás deles, quem estacionou foi o Enzo, amigo de Kleber e, claro, o André também. A gente meio que virou um grupinho, principalmente, quando vamos lanchar ou participar dos eventos da faculdade.
Essa foi a primeira vez que recebi amigos em casa, então, fiquei sem jeito para recebe-los, porém, a Giovanna era ótima em quebrar o gelo e soltou uma palavrão quando viu a minha casa.
Fiz um pequeno tour na parte de baixo da casa. Para fazer uma piadinha, o Richard puxou o celular e ficou tirando algumas fotos. Eles comentavam sobre os móveis e a estrutura, mas para mim, aquilo já era rotineiro.
Quando chegamos, o Kleber respirou aliviado e percebi que o Sérgio estava dentro da piscina dando braçadas de um lado para o outro. O idiota saiu da água como se estivesse em um videoclipe de funk, todo molhado e em câmera lenta. Ninguém merecia ver aquela cena ridícula.
— Gente. Que visão! — exclamou Enzo com a boca aberta e arrumando os óculos de grau.
— Concordo. — soltou Giovanna, tentando disfarçar sem sucesso .
Apesar das nuvens carregadas, o mormaço dominava a temperatura, ou seja, aproveitamos bastante. Os funcionários da casa prepararam uma mesa do lado de fora. De início, eles serviram apenas entradas e frios. Conectamos o celular do Kleber na caixa de som e nos divertimos bastante.
Não vou mentir, a mamãe fez um ótimo trabalho com a área de lazer da nossa casa. Além da piscina, o espaço contava com uma jacuzzi, mesas e espreguiçadeiras e, claro, o bar (queridinho dela). Pedi para meus amigos deixarem suas coisas nas meses e se divertirem.
Uns pularam na água, outros ficaram pegando um bronze. Fiquei responsável pelos drinks e decidi preparar três opções. O Kleber foi um ótimo auxiliar e cortou todas as frutas. A gente conversou bastante e rolou até um beijo rápido. Entre uma bebida e outra, ele fazia questão de se esfregar em mim.
Os meninos decidiram brincar de futebol. Apesar de estar aposentado por causa do pé, o Kleber topou a brincadeira e me abandonou com os drinks. Não fiquei chateado porque adorava ver a felicidade dele, ainda mais depois que ele prometeu um gol.
Antes de correr para jogar, o Kleber se aproximou e beijou meu pescoço. Dei uma risada sem graça e desejei boa sorte. Estava tão abobalhado que nem percebi a presença do Yuri ao meu lado.
— Posso me refugiar aqui? — ele perguntou pegando uns limões e, em seguida, a faca.
— Claro. — sacando que nenhum de nós era um exímio jogador de futebol.
O Yuri conseguia me deixar nervoso. Eu não sei explicar o motivo. Ficamos lado a lado, ele cortando limões e eu misturando os ingredientes para uma batida de morango. Conversamos sobre coisas bobas e rotineiras. Sou o tipo de pessoa que gosta mais de ouvir, porém, não é de falar muito.
— E o seu lance com o Kleber? — Yuri parou de cortar os limões por uns segundos e olhou para mim.
— Bem, eu acho. Estamos nos conhecendo ainda. Saímos, vamos lanchar e nos encontramos na faculdade. — contei, lembrando os bons momentos que passei com o Kleber.
— Entendi. E nada do pedido de namoro?
— Não. — respondi ficando nervoso e deixando cair alguns morangos no chão. — Que desastrado. — desconversei pegando as frutas e colocando na pia.
— Ei, Santino. Não precisa ficar tímido. Estava falando sério sobre ser a tua rede de apoio. O meu relacionamento com o Zedu começou muito estranho. Eu era muito inseguro, ele estava no armário. Sofremos bastante para conseguir chegar onde estamos. Um relacionamento é construído tijolo por tijolo. — espremendo os limão dentro de um copo. — Eu vou pedir ele em noivado.
— Sério?! — exclamei sorrindo, pois, gostava muito deles juntos. — Parabéns.
— Vai ser uma surpresa. Vou convidar vocês, quem sabe você não toma coragem e pede o Kleber em namoro. — afirmou Yuri jogando uma flecha imaginária na direção de Kleber que jogava futebol no jardim.
É tão bom ter com quem conversar. O Yuri é um cara inteligente e sensível. Adicionaria corajoso também nesta lista de qualidades. O nosso bate-papo foi interrompido pela Giovanna que nos assustou ao aparecer toda melada de filtro solar, mesmo que nuvens carregadas ameaçassem atrapalhar o almoço.
Graças a Deus que a chefe maligna fez um bom trabalho. Mandei uma mensagem para ela com todas as recomendações do churrasco. Pão de alho, vinagrete, farofa e muita carne. Tudo parecia muito delicioso e convidativo. A Giovanna trouxe queijo de búfala e pediu para a chefe colocar na grelha.
Quem também surpreendeu foi o Sérgio. Ele parecia mais aberto em dialogar com as pessoas, mesmo levando uma surra no futebol. Pelo jeito, Kleber e Zedu, formaram um ótimo time. Almoçamos ao som de Legião Urbana, pois, decidimos que cada um colocaria o celular na caixa de som por 30 minutos e aquela era a vez do Kleber.
Conversamos, rimos e comemos demais. Como sempre, o clima bipolar de Manaus atrapalhou e uma forte ventania começou a soprar. Uma música diferente tocou na caixa de som. Era o Kleber que recebeu uma ligação de sua mãe. Ela estava desesperada porque a chuva invadiu de novo a casa deles.
Ouvimos toda a conversa e ficamos nos olhando. Ofegante, o Kleber perguntou se o Thor poderia ficar em casa. Ele ia pedir um Uber, mas acabei me oferecendo para deixa-lo.
— Eu preciso ir ajuda-la. — ele disse colocando as coisas na mochila. — Amanhã eu busco o Thor.
— Kleber, eu quero te ajudar. — tentei dialogar com o Kleber, mas devido ao nervosismo, tal coisa ficou impossível.
— Não precisa. Essa é a minha vida, Santino. Essas coisas acontecem. Eu estou acostumado. — Kleber falou em um tom melancólico.
— Ok. Essa pode até ser a tua vida, entretanto, agora você tem a mim. Kleber, pedir ajuda não é sinal de fraqueza e nunca vai ser. Estamos saindo há quase três meses e você continua achando que eu estou brincando? Eu gosto de você. Gosto de você nos bons e maus momentos. Eu vou te ajudar. Eu vou ser a tua rede de apoio. — virei uma metralhadora de palavras e senti a minha garganta doer.
— Santino. — foi a única coisa que Kleber conseguiu dizer, antes de me dar um abraço demorado.
— Você também é nosso amigo, Kleber. Teremos prazer em te ajudar. — disse Enzo que se aproximou e pegou no ombro dele.
— Nós também. — falaram Yuri, Zedu e André.
— Eu também vou, só não entro na água. — afirmou Giovanna colocando uma toca de cabelo e nos fazendo rir.
É sobre isso. Estou apaixonado e não quero vê-lo para baixo. Nunca fiquei tão triste por ver a preocupação de outra pessoa, nem imagino o que está passando na cabeça dele. Estou aqui, Kleber. Estou aqui para o que você precisar.