Capítulo 36
A madrugada foi longa. Ivan passou horas acordado no escritório. Movido pelo desespero, bebeu muitos copos de Uisques e fumava demasiado.
Não conseguia se acalmar. O medo de perder Victor e a raiva os consumiam.
_ Eu não posso perder o Victor. Não posso! Eu preciso me livrar daqueles dois. Caralho! Que merda!
Do outro lado da porta, Victor o ouvia sem entender o porquê de Ivan correr risco de perdê-lo. Ele pensou em entrar e pedir satisfações, mas devido ao estado alterado do noivo, temeu não conseguir resposta e iniciar uma briga.
Na mesa do café da manhã, Victor permanecia em silêncio. Ivan não dormiu no quarto e isso o deixou angustiado.
Ivan desceu ainda vestido apenas um short do pijama e sentou em silêncio.
_ Você não dormiu na nossa cama hoje.
_ Eu não consegui dormir. Passei a noite no escritório. _ disse pondo açúcar no café.
_ Você chegou alterado. Eu ouvi o quebra quebra. O que aconteceu?
_ Eu me aborreci no jantar. Problemas de negócios. Coisas que você não entenderia.
_ Casais costumam conversar sobre os seus trabalhos. Quando o meu avô era um metalúrgico, ele conversava com a minha avó sobre os problemas do trabalho. Era uma forma de desabafar.
_ Mas, eu não sou o seu avô!_ Gritou Ivan socando a mesa.
_ Você está mentindo pra mim! Eu ouvi você dizendo que não ia me perder e que teria que dar um jeito neles. Quem são eles? E por que você me perderia?
Nessa hora o coração de Ivan bateu acelerado. Ficou por alguns segundos em silêncio sem saber o que dizer. O medo ficou mais intenso. Respirou fundo tentando encontrar uma resposta.
_ Eu cheguei puto da cara. Perdi muito dinheiro num investimento mal feito. Eu estava com tanta raiva que misturei Uisque com baseado. Devo ter falado muita coisa sem sentido. Não me lembro.
Victor abaixou a cabeça. Ficando calado.
Segurou na mão do Ivan o olhando com doçura.
_ Aconteça o que acontecer eu sempre estarei do seu lado, Ivan. Nós somos companheiros de vida.
Ivan se sentiu um pouco confortável. Queria muito que as palavras de Victor se realizassem. Que mesmo depois de saber a verdade pudesse ter o perdão do amado.
Beijou a mão de Victor várias vezes, jurando para si mesmo que faria de tudo para mantê-lo ao seu lado.
_ Eu te amo! Te amo muito. Você é a única coisa na minha vida que a faz valer a pena. Eu só quero que fique ao meu lado. Me prometa que nunca vai embora.
Victor saiu da sua cadeira e sentou no seu colo, deitando à cabeça no seu ombro e assim permaneceram em silêncio por alguns segundos.
_ Você não vai à empresa hoje, Ivan?
_ Vou mais tarde.
Quando Maria entrou trazendo torradas, Ivan pediu para que ela mandasse Walace ir ao seu escritório.
_ Mandou me chamar, doutor?
_ Entre.
Walace entrou sério. Estranhou vê muitos objetos quebrados pelo chão, mas permaneceu discreto.
_ Sente-se.
O segurança obedeceu.
_ Walace, eu te contratei porque você foi muito bem recomendado por alguns amigos e sei que fazia alguns serviços para o meu pai. Sei da sua competência como segurança e que faz alguns serviços com muita discrição e sem deixar rastros. Foi por esse motivo que te pago muito bem. Ganha mais aqui do que ganharia por aí.
'O Victor é muito importante pra mim e eu quis garantir que ele estaria muito seguro.'
_ O senhor quer apagar alguém? É o cara que estava conversando com o seu Victor?
_ Não. Esse é o menor dos meus problemas. Você me garante que não deixa nenhum rastro?
_Isso eu garanto com toda certeza. Já prestei alguns serviços para o seu finado pai.
_ Muito bem.
_ Eu faço bem feito. Mas, cobro extra e cobro bem.
_ Eu sei. Quanto a isso não há problema. Por enquanto, eu só quero que evite que esses dois não se aproxime do Victor._ pelo celular ele mostrou as fotos de Sônia e Felipe._ Se eles teimarem você apela para a força bruta.
_ Pode deixar.
_ Sobre o assunto do serviço extra, nós conversaremos depois. Me faça o favor de pedir que alguma das meninas para virem limpar o escritório. Pode se retirar.
_ Com licença, doutor.
Assim que Walace saiu, Ivan foi até o antigo closet do seu pai e abriu o cofre, retirando uma mala preta, contendo um revólver.
Quando criança, Ivan aprendeu a atirar com o avô. Ele adorava praticar tiros no sítio da família e era bom de mira. Depois de Fernanda, era a ele a quem o seu avô sentia orgulho por aprender tão bem.
Antes de ir à empresa, Ivan foi para a escola de tiros. Fazia um tempo que não atirava. Acreditou que estaria enferrujado, mas estava tão bom quanto antes, acertando o alvo várias vezes.
Victor convidou Virgínia para ir à sua casa. Os adolescentes passaram a manhã na piscina.
Depois de uma hora, Maria chegou trazendo um drink sem álcool para o casal de amigos, que sentaram a beira da piscina para beber.
_ Eu tô com problemas.
_ Você?! Queria eu ter os seus problemas morando numa mansão dessas, curtindo uma piscina em plena quarta-feira.
_ O Ivan está esquisito. Ele chegou alterado, quebrando tudo no escritório. Houve uma hora em que eu ouvi dizer que não ia me perder.
_ Ele estava drogado?
_ Ele disse que sim.
_ Tá explicado.
_ O Ivan aprontou com o Ítalo. Ele ferrou o Ítalo comprando a cafeteria para demiti-lo, depois prejudicou a carreira dele dando um jeito de impedi -lo de se apresentar em casas culturais. Eu acho que Ivan e ítalo estiveram juntos ontem e tiveram uma briga feia.
_ Se isso aconteceu foi bem feito para o Ítalo.
_ Virgínia!
_ É verdade. O cara sabe que você é comprometido e fica dando em cima de você. E ainda desafiou o Ivan. Ele tá pedindo pra se ferrar.
_ Ah, o fato do Ivan usar o dinheiro para prejudicá-lo tá ok pra você?
_ Normal. É assim que homens como ele resolvem as coisas.
_ Eu não acredito que você está passando pano.
_ Talarico morre cedo.
_ Você tá insuportável hoje.
_ Ah, qual é, Vitinho? Pra que esquentar a sua cabeça com isso? Vai vê que ele chegou alterado por outro motivo. Sei lá, coisa envolvendo negócios. Essa gente detesta perder dinheiro mesmo tendo muito.
_ O problema é que o Ítalo me beijou.
_ O quê?! Por que você não me contou isso, bicha?
_ Estou contando agora. Foi lá na sorveteria.
_ E?
_ "E " nada. Eu tô com medo do Ivan te tido algum conflito com o Ítalo e ele ter contado para o Ivan.
_ Relaxa, não foi isso.
_ Como você tem tanta certeza?
_ Se fosse isso o Ivan chegaria soltando os cachorros pra cima de você.
Victor se sentiu aliviado. Percebeu que as palavras da amiga faziam sentido.
_ Eu estou muito nervoso. Eu sei que o Ivan não está bem.
_ Vamos fazer o seguinte: vamos conversar com o Renato. Ele é amigo do Ivan é braço direito nos negócios. Com certeza, ele sabe o que está acontecendo. Aí ele te conta e você sossega o facho.
_ É. Vamos lá na empresa? A essa hora o Renato está lá.
Um sorriso iluminou o rosto da menina. Ela se animou com a chance de conhecer a sede da construtora. Imaginando ser como uma das grandes empresas que vê nas novelas.
A recepcionista os olhos desconfiada. Pensou o que dois pirralhos eram ousados de irem perturbar a paz do doutor Renato.
_ Então, podemos subir para falar com o Renato ?_ perguntou Victor .
_ Doutor Renato pra você. E é claro que não. Isto aqui é uma empresa séria.
_ Você sabe com quem está falando?_ perguntou Virgínia.
A recepcionista a olhou debochada.
_ Com o presidente da república e a primeira dama?
Para a sorte dos jovens, Victor avistou Renato chegar nas portas de vidros.
_ Renato! _ gritou.
Renato se aproximou abraçando os dois.
_ O senhor os conhece?_ perguntou a recepicionista.
_ É lógico! É o Victor, o namorado do Ivan, e essa linda menina é uma amiga dele e minha também._ disse Renato beijando o rosto da jovem, que sorria.
Naquele momento, ela gelou de nervosismo. Virgínia a olhou com o mesmo deboche que foi olhada.
A mulher pediu desculpas várias vezes. Temia perder o emprego.
_ Isso é para você aprender a ser mais educada._ disse Virginia.
_ Quando for assim, você me avisa antes de dispensar alguém. Fique mais alerta, quando o Ivan souber disso ele não vai gostar nenhum um pouco.
Vendo o nervosismo da mulher, Victor se compadeceu.
_ Ele não precisa saber. O que aconteceu aqui não vai acontecer mais.
_ Com certeza não. Obrigada.
Renato os conduziu até a sua sala, onde os jovens foram servidos com café e Victor relatou tudo que havia ocorrido.
As desconfianças de Renato aumentaram ainda mais. No entanto, mostrou despreocupação para que tirar de Victor qualquer rastro de desconfiança. Presumiu que essa seria a vontade de Ivan.
_ Realmente, o jantar de ontem foi complicado. Ivan perdeu um cliente muito importante. A empresa perdeu uma boa oportunidade. Não é nada do que você precise se preocupar.
_ Viu? Foi o que eu te disse. Não tem nada a ver com aquele assunto.
_ Que assunto?_ Renato quis saber.
Victor olhou de um jeito repreensivo para a amiga.
_ Nada demais. Mas ainda estou preocupado com esse jeito do Ivan de usar o dinheiro dele para prejudicar as pessoas.
_ Esse é o jeito que os Matarazzo resolvem os seus problemas. Raúl aprendeu a ser assim e ensinou o filho da mesma forma. Ivan sempre teve tudo que quis. Você terá que se acostumar.
_ Eu nunca vou me acostumar. Isso não é o certo.
_ Vocês dois têm jeitos diferentes de conceituar o que é certo. Mas, você não precisa se preocupar. Como vão os preparativos do casamento?
_ Na correria. Ivan adiantou a data. Quer que esse casamento saia o mais rápido possível.
Depois que os jovens foram embora, Renato foi até a sala de Ivan.
_ Você chegou agora?
_ Bom dia pra você também, Renato._ Ivan disse enquanto digitava.
_ Victor esteve aqui.
Ivan o olhou espantado.
_ Aqui?! O que ele queria?
_ Me contou que você chegou louco e quebrando tudo. Victor está desconfiado que você tenha brigado com um tal de Ítalo por ciúmes dele. Você não fez nenhuma besteira, né Ivan?
_ Ah, é isso? Eu nem vi esse veado. E nem quero ver.
_ Eu te conheço quando está ciumento. Eu me lembro perfeitamente de quando você era apaixonado por Gael e morria de ciúmes do Victor. Você falava nele com ódio. Chegou até dizer que queria que ele morresse.
Ivan o olhou sério.
_ Isso é passado.
_ Ivan, o que está acontecendo contigo? Eu menti confirmando a sua história de jantar de negócios, mas não houve nenhum jantar. Eu sei que o Felipe e Sônia estão te chantageando. E você disse ontem que você não ia perder o Victor, que eles iam te pagar.
'O que aqueles dois sabem que pode te fazer perder o Victor?'
_ Não há chantagem nenhuma. Vá trabalhar, Renato!
_ Não vou! Eu sei que esses dois estão te fodendo e eu não vou deixar!
Renato olhou para Ivan desconfiado.
_ Espera aí! Você está morrendo de medo de perder o Victor a tal ponto que se humilhou perante todos da empresa e ainda sustenta aqueles vagabundos. Você morria de ciúmes do Gael de uma forma doentia...
Ivan arregalou os olhos assustado.
Renato bateu na mesa com as duas mãos.
_ É claro! Eu não acredito que...
_ Veja lá o que você vai falar, Renato!
Os olhos de Ivan começaram a lacrimejar. Há tempos queria desabafar com Renato, mas temia que, futuramente, o conhecimento de Renato sobre o atentado contra Victor pudesse afetar a relação do amigo com Andréia.
_ Sai daqui, Renato!
Ivan não conseguiu conter as lágrimas.
_ Ivan, você... Você tem alguma coisa a ver com o atentado que Victor sofreu? Foi você quem mandou fazer aquela monstruosidade com o menino por ciúmes do Gael?
Ivan abaixou a cabeça e começou a chorar.
Renato ficou chocado com o que acabou de descobrir. Para ele, Ivan seria a última pessoa do mundo a prejudicar Victor.
_ Eu ainda te avisei na época para ter cuidado com essa obsseção que tinha pelo Gael. A que ponto você chegou, porra! Que merda você foi fazer?
_ Eu estava fora de mim. Tava louco de ciúmes. Ele tava lá na parada de ônibus sozinho... Eu me deixei levar pelo o ódio e fiz o que fiz.
Ivan apoiou a cabeça nas mãos, enquanto soluçava de tanto chorar.
_ Eu sou um monstro, Renato! Eu quase matei o homem que eu amo! Ele tem pesadelos por conta disso. Acorda desesperado com medo de sofrer um outro atentado! Me dói muito vê-lo sofrer. Quando ele estava em coma , eu desejei estar no lugar dele, porque é isso que eu mereço!
'Ele só me faz me bem. Me dá amor, que ninguém nunca me deu! E eu o causei a maior dor que ele teve na vida!
'O remorso me destrói. Não há um dia em que eu não me odeie por isso. A culpa me persegue, Renato.'
Era a primeira vez que Renato via Ivan triste e se sentindo culpado por algo. Vê-lo chorar, deixou Renato compadecido.
_ Estou desesperado, Renato! Eu não quero perdê-lo! Victor é a minha vida! É a primeira vez que eu não sei o que fazer!
Renato levantou-se, pondo a mão na cabeça.
_ Eu mereço morrer! Só assim para acabar com esse sofrimento.
Renato se aproximou, preocupado. Segurou nos braços de Ivan, que chorava como uma criança perdida.
_ Não diga besteiras! Tire essa ideia absurda da cabeça! Você tá me ouvindo?
_ Eu vou enlouquecer. Eles estão me chantageando, me humilham e eu não sei o que fazer. A culpa me tortura.
_ Você tem contar a verdade para o Victor. É o único jeito de você se livrar daqueles cafajestes e aliviar essa angústia que está te matando.
_ Nunca! Isso nunca! O Victor não me perdoaria. Eu não posso perder o homem que eu amo!
_ E vai viver sob tortura? Além do mais, Victor tem o direito de saber.
_ Não tem! Nós somos felizes juntos! Eu dou tudo que ele quer e precisa. Vou dar muito mais. Vou cuidar dele! Não vou perdê-lo.
_ Se ele souber por você as chances de te perdoar serão muito maiores do que se souber por terceiros, ainda mais pelos chantagistas.
_ Ele não vai saber! Nunca vai saber! Nem que eu tenha que tomar medidas drásticas. Esse segredo nós dois vamos levar para o túmulo.
_ E você vai continuar vivendo desse jeito? Você está sofrendo, Ivan! Isso tudo está te matando.
_ Eu não me importo comigo. Eu mereço sofrer o Victor não. Como você acha que ele vai ficar se souber? Ele não merece sofrer mais do que já sofreu com essa história.
_ E o que você vai fazer?
_ Eu não sei! Estou de mãos atadas.
Sentindo dó de Ivan, Renato o abrigou nos seus braços num abraço apertado, onde Ivan se sentiu um pouco aliviado por desabafar e ter alguém do seu lado.
_ Nós vamos encontrar uma solução, meu amigo. Eu não vou deixar aqueles dois acabarem com a sua vida. Você não está sozinho.
Notas do autor: eu recebo mensagens por aqui, mas não consigo ler pq não assino o Premium e nem vou assinar. Então, quem quiser me mandar uma mensagem privada só pelo e-mail: letrando@yahoo.com