LCapítulo 44
A tarde estava chuvosa e o clima um pouco ameno, dando uma trégua ao calor sufocante que assolava o Rio de Janeiro.
Sônia aproveitou para tirar o cochilo da tarde. Dormia tranquila como alguém que não tinha nenhum peso na consciência.
Foi despertada pelo toque do interfone. Acordando brava por ter a sua paz interrompida, Sônia atendeu com rispidez.
Surpreende-se ao ser informada que Ivan desejava vê-la e autorizou a sua entrada.
Sônia o recebeu vestida com um blusão cinza e shortinho de pijama preto.
Ivan entrou sério. Ao ver a mãe, sentiu o peso da mágoa pesar sobre si e respira fundo para tentar aliviar.
Dissimulada, Sônia tentou abraçá-lo, mas ele desviou.
_ Oh, meu filho, eu soube do acidente que você e o seu companheiro sofreram. Eu até fui te visitar no hospital, mas os seguranças não me deixaram entrar. Pensei em te ligar, mas não quis te estressar. Eu fiquei muito preocupada com você. Apesar das nossas diferenças, eu te amo muito. Eu morreria se te perdesse.
_ Por que você é assim? Tão pérfida, sórdida e cruel?
_ Meu amor, eu sei que você está magoado comigo por causa do jantar. Mas, eu estava com raiva pelo o que aconteceu comigo com o lance do seu pai ter descoberto as minhas puladas de cercas. Ele me traiu durante anos com a minha irmã e eu suportei tudo calada, mesmo doendo. Aí você me trai contando tudo pra ele.
'Mas já passou. Podemos esquecer tudo isso e recomeçar do zero. Podemos ter uma relação de mãe e filho.'
Ivan sorriu.
_ Você me chantageia e fala de relação de mãe e filho?! Deixe de ser falsa, Sônia. Você fica ridícula nesse papel de songa monga.
_ Eu tive que fazer isso por uma questão de sobrevivência. Você me deixou na merda.
_ E aproveitou para pôr o seu amante para me chantagear também.
_ Eu não fiz isso! O Felipe descobriu tudo sozinho.
_ Ah, jura? Ele viu nas cartas ou na bola de cristal?
_ Ele roubou o meu computador, onde estava o vídeo.
Ivan sentiu -se feliz por ter recebido a informação que queria obter.
Sônia estava disposta a mentir até o fim, pois suspeitava que Ivan trazia consigo algum objeto de escuta ou gravador.
_ Eu sei de tudo. Sei que foi você que mandou o desgraçado do Felipe e aquele outro bandido tentar matar a mim e ao meu marido, que é o único inocente no meio dessa sujeirada toda. Você queria herdar o meu dinheiro, mas se fodeu.
_ Você está louco? Eu posso ter inúmeros defeitos, mas jamais tiraria a vida de alguém. Muito menos a vida do meu próprio filho. Eu te amo, Ivan. Não te amo como as outras mães, mas te amo do meu jeito. Mas é amor. Como pode pensar isso de mim?
_ Você deve está se achando um máximo, não é Sônia? Você se acha tão esperta, mas não sabe que um bom jogador não canta vitória antes do tempo. Você não perde por esperar, sua cascavel.
'Não vá pensando que você deu a última cartada, porque essa partida está longe de terminar.'
_ Do que você está falando?
Ivan se aproximou da porta sorrindo.
_ Você não é tão esperta? Tente descobrir.
O empresário saiu sorrindo tranquilamente, deixando Sônia preocupada.
Ela fechou a porta com força.
_ O que será que essa bicha desgraçada está aprontando?
Ao chegar no térreo , Ivan cumprimentou o porteiro e pediu para conversar com ele e com os vigilantes do prédio. Ofereceu uma alta quantia em dinheiro aos funcionários para o ajudassem a executar o seu plano. Proposta essa que foi aceita.
Chegando em casa, cumprimentou o marido com um beijo longo e um abraço acolhedor.
Victor o aguardava para jantar. Havia mandado preparar um enroladinho de peixe robalo com recheio de cogumelo champion coberto com bacon, maionese de cenoura, creme de batata, brócolis e amendoim torrado.
Por mais que gostasse muito de comida caseira, a qual estava habituado, Victor procurava sempre oferecer o jantar ao gosto do marido. Queria proporcionar ao amado um ambiente aconchegante e acolhedor. O loiro amava cuidar de Ivan, pôr carinho em tudo que fazia para ele. Era uma das suas muitas formas de dizer que o amava.
Por outro lado, Ivan sentia esse carinho e o admirava ainda mais. Via em Victor a luz que faltava na sua vida. A presença do menino o fazia bem. Trazia-lhe felicidade e aconchego.
_ Está gostando do prato, meu amor?
_ Eu estou amando. Está muito bom mesmo.
_ Eu pedi a Maria que criasse um prato feito com robalo, porque sei que você gosta muito desse peixe. Ela caprichou como sempre faz.
_ Está mesmo muito bom. Vou ter que parabenizá-la.
_ Faça isso. Ela vai ficar muito orgulhosa.
Ivan anunciou que devido ao roubo de Regina, ele iria trocar todos os funcionários da casa. Que no dia seguinte, faria uma reunião geral para demitir a todos.
_ Isso é mesmo necessário, meu amor? Não é porque a Regina nos roubou, que todos irão fazer o mesmo.
_ Seguro morreu de velho.
_ Ivan, essas pessoas precisam dos seus empregos. Eu vim de uma família pobre e eu sei muito bem o quanto um emprego é necessário. Sabe, são famílias que dependem de trabalhar aqui. É o ganha pão deles.
_ Meu Solzinho, eu sinto muito pelos pobres trabalhadores, mas quando o assunto é a sua segurança eu a ponho em primeiro lugar. Eu já estou decido e a minha decisão é irredutível.
_ Mas, eu gosto da Maria. Ela tem sido tão boa conosco.
_ Não se preocupe. A Maria permanecerá. Ela é leal, honesta e é a sua amiga. Só vou manter a ela e o Walace, que também é de confiança.
_ Menos mal. Mas, esta casa é muito grande. Eu não dou conta de limpar e você não vai conseguir empregados do dia pra noite.
_ Não precisa se preocupar, Solzinho. A minha secretária vai entrar em contato com uma agência de empregos. Eles vão te mandar os candidatos e você vai escolher os melhores.
_ Eu?!
_ Sim. Eu não tenho tempo para me preocupar com isso.
_ Mas, eu nunca escolhi empregados!
Ivan levantou-se da mesa e deu um beijo na testa de Victor.
_ Para tudo na vida há uma primeira vez. Agora, eu tenho que ir ao meu escritório. Preciso enviar alguns e-mails antes de dormir.
_ Você não vai comer a sobremesa?
_ Talvez mais tarde.
Ao chegar no escritório, Ivan solicitou, via Whatsapp, a presença de Walace.
O segurança chegou imediatamente.
_ Já está tudo certo para o nosso plano. Eu já combinei tudo com o porteiro e os seguranças. Agora você já pode fazer a sua parte.
_ E pra quando o senhor quer o serviço?
_ Para esta madrugada. Pode ser?
_ Claro.
_ A sua equipe é de confiança?
_ Da mais absoluta. Só trabalho com a minha família.
_ Muito bem. Nessa sua equipe há alguma mulher?
_ Sim. A minha filha. Eu garanto ao senhor que ela é a melhor de todos. O orgulho do papai.
_ Que bom. Quero encomendar um serviço feito exclusivamente por ela. Pago um extra a sua filha.
_ Pode mandar, doutor.
Ivan o olhou sorrindo de um jeito sórdido.
O prédio adormecia durante o silêncio e a escuridão da madrugada.
Como o combinado, o porteiro forneceu a Ivan uma cópia da chave mestre para que Walace pudesse ter acesso ao apartamento de Sônia.
Um dos seguranças do prédio mexeu no disjuntor para simular uma falta de luz elétrica, e assim ter um motivo para justificar o porquê das câmeras de segurança não registrarem nada.
Walace e os três companheiros entraram usando roupas pretas e máscaras ninjas.
"Queitinha ou eu transformo o seu lindo rostinho em peneira." Foram com essas palavras ditas numa voz feminina que Sônia despertou, tendo uma arma apontada para a sua cabeça. O medo a dominou. Era a primeira vez que estava do outro lado de uma arma.
Ela se controlou para manter em silêncio vendo os outros dois, revirando o seu quarto, recolhendo o seu computador, celular, IPad e outros aparelhos eletrônicos.
Lembrou-se das palavras de Ivan e acreditou que, por vingança, o filho mandou aquelas pessoas para matá-la.
Estar diante da morte foi para ela uma agonia apavorante. Chorou em silêncio temendo o seu fim. Implorava pela sua vida. Dizendo que eles poderiam levar o que quisessem, mas que tivessem misericórdia da sua vida.
Sentiu o peso da mão da mulher bater em seu rosto.
_ Cale a boca, piranha.
Os homens exigiram que ela entregasse todos os pen drives que tivesse na casa e assim foi feito.
Ainda com a arma apontada no seu rosto, foi puxada pelos cabelos e levada até o cofre, onde foi obrigada a abrir e entregar tudo que ali havia: jóias, dinheiro, documentos e o pen drive onde tinha armazenado o vídeo de Ivan.
_ Eu quero o taco de beisebol.
_ Que taco de beisebol?
Sônia recebeu um soco no rosto e uma joelhada na boca do estômago, que deixou paralisada de dor.
_ Tá brindando comigo, piranha? Eu te mato, desgraçada!_ disse a mulher irritada.
Sônia foi até o closet, pegou um baú e por baixo do fundo falso, retirou o taco de beisebol, que estava dentro de uma caixa.
Certificando-se de que não havia nenhuma prova contra Ivan, a mulher disse:
_ Eu sei quem você é. E não adianta sumir, porque eu desço ao inferno se for preciso para te caçar. Tu pode pagar de fodona, mas eu sou muito mais perigosa que ti. Se procurar a polícia você tá fodida. Entendeu, puta?
Sônia permaneceu em silêncio e levou um tapa tão forte, que caiu no chão.
_ Eu perguntei se você me entendeu?
_ Sim. Eu entendi._ Sônia respondia sem olhar para a mulher.
_ Muito bem. Agora eu tenho um recadinho para te dar. O remetente não quer se identificar. Mas fez questão de te deixar um aviso. Disse que você entenderia.
A mulher sorria. Ela era uma negra alta e corpolenta. Praticava vale tudo numa academia clandestina.
Jogou Sônia no chão novamente e chutou a sua barriga e costela. Em seguida, subiu em cima de Sônia e disparou vários socos, até que o rosto da loira ficasse sangrando e inchado.
A mulher olhava com gosto para o resultado do seu trabalho. E cuspiu na loira a pedido de Ivan, era uma forma do empresário demonstrar o seu ódio pela mãe por ter tentado matar Victor.
Eles sairiam do apartamento levando todas as provas que Sônia tinha contra Ivan. A mulher se viu desesperada por não ter mais nada para ameaçar o filho.
A equipe repetiu o mesmo processo na casa se Felipe, que foi bem mais fácil por não haver ninguém no local.
Quando chegou a mansão, Walace mandou uma mensagem para Ivan, que o aguardava acordado. Não conseguiu dormir devido a ansiedade.
Recebeu Walace em seu escritório, que relatou todo o acontecido e o entregou todos os objetos.
Ivan os olhava sorrindo, sentindo a plena sensação de liberdade. Finalmente, poderia se livrar do casal de chantagistas e viver sem medo de perder o seu grande amor.
Nunca esteve tão grato a alguém como estava a Renato por ter lhe dado essa ideia.
Na manhã seguinte, procurou o delegado, que era o seu amigo, e registrou uma queixa contra Felipe e Armando.
_ Por que você não me procurou antes, Ivan? Assim eu já teria posto os dois vagabundos na cadeia.
_ Eu tive que resolver um probleminha antes. Mas, agora está tudo certo. O único problema é que eu soube que o Felipe sumiu. Deve ter fugido.
_ Isso não teria acontecido se você tivesse me acionado assim que ocorreu o crime. Mas, pode deixar que eu pego aquele desgraçado.
_ Eu te ajudo. Contrato detetives particulares. Te pago um extra para se dedicar muito bem ao caso. Quero os dois vagabundos presos. Como eu te disse, tenho certeza que a minha mãe está envolvida nisso. Ela é mentora.
_ Você tem provas?
_ Não. Mas, você pode conseguir.
_ Posso sim. Consigo fazer os vagabundos confessarem tudo. Fica tranquilo, irmão. Esses canalhas vão pagar pelo que fizeram.
Após sair da delegacia, Ivan pediu para que o motorista o levasse até o porto, onde o seu iate estava ancorado. Pediu ao capitão que o levasse para o mar. Num lugar isolado.
Olhou para o taco de beisebol sujo com o sangue de Victor, recordando da noite do atentado. O seu coração doeu de tristeza e culpa.
Com toda raiva, atirou o maldito objeto ao mar, junto com os outros objetos comprometedores, exceto o celular de Sônia, que depois de ter o vídeo apagado foi entregue ao delegado para ajudar na localização de Felipe, caso esse tente fazer contato com a loira.
Ivan respirou aliviado. Ainda o doía o sofrimento que causou a Victor, desse peso ele nunca irá se livrar.
Contudo, sentia-se seguro em saber que o seu segredo estava muito bem guardado nas profundezas do mar.
Chegou em casa ao entardecer, e foi recebido com carinho rotineiro.
_ Amor, eu vou retirar o gesso amanhã. Graças a deus! Eu não aguento mais esse troço.
_ Que bom, meu Solzinho.
Victor percebeu o brilho nos olhos de Ivan. O moreno tinha uma expressão serena que não tinha há dias.
_ Aconteceu alguma coisa boa, meu amor? Você está com uma expressão ótima!
_ Aconteceu sim. Aconteceu você na minha vida, my sunshine. Você não tem noção do bem que me faz. Do quanto me salvou.
_ Te salvei do quê?
_ De mim. Do meu lado mau que me dominava. Agora eu serei bom por você. Farei de tudo para ser o homem decente que você tanto quer e te dar muito orgulho. Vou me dedicar a cuidar de ti. Te fazer o homem mais feliz deste mundo.
_ Ah, Ivan! Você é tão maravilhoso! Eu te muito, meu anjo.
Num beijo eles declararam um ao outro o amor que reinava em seus corações.
Sônia ficou furiosa pelo ocorrido. Vê o seu rosto desfigurado diante do espelho a fez urrar de raiva.
_ Você me paga, Ivan! Se acha que venceu está muito enganado. Eu vou te ferir onde mais te dói: vou acabar com a bicha burra. Será um prazer te ver sofrer vendo o seu amorzinho ser destruído.
E-mail para contato: letrando@yahoo.com
Obs: Já sei que terá leitor reclamando que o Ivan está malvado demais 🙄
