Capítulo 49
Adrian correu para retirar o sobrinho enfurecido de cima de Ivan.
_ Por que você fez isso comigo? Eu te amo tanto!
Victor não conseguiu manter as forças nas pernas, e deslizou nos braços do tio.
_ Eu também te amo.
O loiro se contorceu de raiva, tentando partir pra cima do marido.
_ Ama porra nenhuma! Quem ama não tenta matar! Você ficou todo esse tempo falando de amor, mas era tudo mentira! Pra você eu não passava de um intruso! Um obstáculo que te impedia de ficar com o seu primo! Você quis me matar para me tirar do seu caminho e como não conseguiu, se casou comigo pra provocar o Gael!
_ Não! Não! Não é verdade! Eu me casei com você, porque te amo. Meu amor, não há um dia na minha vida que o remorso não me castigue. Me dói profundamente saber que fui capaz de te causar tanto mal. Justo a você que é tão bom. Que só me fez feliz...
_ Cala a boca! Cala a boca, seu mentiroso! Me solta, tio! Me solta!
_ Não, carinho. Você precisa se acalmar.
_ Eu não preciso me acalmar! Eu quero morrer! Era muito melhor se esse monstro tivesse conseguido me matar, agora eu não estaria sentindo esta dor insuportável!
O coração de Ivan se despedaçava ao ver Victor naquele estado por sua culpa. O menino gritava desesperado como se lhe tivessem açoitado a carne.
Ivan se ajoelhou novamente diante do marido.
_ Me perdoa, por favor? Me perdoe? Você não merece tudo isso que está sentindo! Eu deveria morrer por te causar tanto sofrimento.
_ Deixe de ser fingido, que esse papel de bicha dramática está ridículo em você. Como teve coragem de fazer o que fez com o Victor e ainda se casar com ele?! Você me dá nojo, seu demônio! Você merece morrer sim, seu monstro!_ gritou Virgínia chorando solidária ao amigo.
_ Eu sempre me apoverei só de pensar que alguém tentou me matar. Eu não fazia ideia de quem era. Você tem noção do quanto isso me machucou? Eu tive pesadelos durantes noites e você, psicopata, estava ali, me acalmando. Me fazendo me sentir seguro nos seus braços, monstro! Eu tinha medo de todos. Temia sair na rua e cruzar com o agressor sem fazer ideia de quem fosse, mas na verdade o agressor era você..._ Víctor sentia dificuldades para falar.._ era você... o homem que eu amo... que me fazia feliz! Como eu sou burro!
_ Você não é burro, meu amor. Ele que te enganou. Enganou a todos nós se fingindo de bonzinho. Eu estou com tanto nojo de você, Ivan. Eu quase perdi o meu sobrinho por sua causa! Tanto eu quanto o Gael sofremos todo esse tempo sentindo uma culpa que é sua!
Ivan não tinha forças emocionais para dizer nenhuma palavra. Sentia raiva de si mesmo e dor por saber que estava perdendo o amor da sua vida. Somente chorava jogado no chão.
Victor se agarrava nos braços do tio e chorava descontrolado. Virgínia se compadecia da dor do menino e o abraçou.
_ Amigo, você não merece nada disso. Não merece.
Victor se soltou dos braços da amiga e se aproximou de Ivan. Ajoelhou no chão para olhar nos olhos do seu agressor.
_ Olha pra mim!
Ivan manteve os olhos nas mãos, chorando.
_ Olha pra mim, porra!_ Victor gritou.
Ivan o olhou com os olhos vermelhos devido ao choro.
_ Eu tenho horror a você! Você faz a ideia do mal que me causou? Faz?! Não digo só pela mão paralisada, o coma e os danos cerebrais irreversíveis. O pior de tudo é saber que foi você quem fez isso comigo! Justo você. A decepção destroçou o meu coração! E agora? O que faço com esse maldito amor que tenho por você? O que eu faço? Tá doendo tanto.
Ivan só conseguia chorar.
_ Eu te amo... eu não quero te perder... Você não merece nada disso...
_ Venha, carinho. Vamos embora. Já acabou!
Adrian levantou o sobrinho e o abraçou.
_ Venha, eu vou te levar para a minha casa. Vai ficar tudo bem.
_ Eu quero a minha mãe! Eu quero a minha mãe!
_ Eu vou ligar pra ela. Vou pedir para que vá a minha casa. Vamos Virgínia. E você, Ivan, não se atreva a se aproximar do meu sobrinho. Não se atreva a tocar as suas garras nele novamente. Porque não me importa se você tem dinheiro, poder, influências ou um exército de seguranças. Se fizer mal ao meu sobrinho novamente, eu te mato!
_ Vamos, eu levo vocês. _ disse Luíza.
A mulher olhava para o irmão com nojo e raiva.
Ivan observava Victor ir embora e erguia os braços, chorando gritou:
_ Eu te amo, Victor! Eu te amoooo!
Do lado externo da casa, Virgínia disse:
_ Eu preciso pegar a minha mochila.
_ Vá lá e pegue algumas coisas do Vitinho, um casaco e a carteira dele. Amanhã eu venho pegar o restos das coisas do meu sobrinho.
_ Eu vou contigo._ disse Gael.
Victor entrou no carro de Luíza chorando. A mulher segurou na mão do menino e ele deitou a cabeça sobre o ombro dela.
Virgínia e Gael entraram na sala e encontraram Ivan jogado no chão chorando. Ela o olhou com ódio e subiu as escadas correndo.
Gael se aproximou do primo.
_ Está feliz, Gael? Você está feliz por ter consguido a sua maldita vingança?
_ Não. Eu não estou feliz, porque não sou como você. Tá me doendo ver o Victor naquele estado. Você é um ser das trevas, que se alimenta da dor alheia. Causou mal a ele e a família. Ficou durante todo esse tempo me destruindo quando me acusava de ser o responsável pelo o que aconteceu com o Victor, enquanto na verdade o culpado era você.
'Você fede, Ivan. Você fede a crueldade. Realmente, você não merece viver.'
_ Eu já morri, Gael. Eu acabei de morrer.
Virgínia desceu as escadas trazendo nas mãos o que foi buscar.
_ Vamos, Gael, não quero ficar mais um minuto respirando o mesmo ar que esse monstro.
Ambos saíram da casa, deixando Ivan desolado.
Andréia gargalhava sentada numa mesa de bar com Renato e alguns amigos. Todos estavam felizes tomando cerveja e comendo batatas fritas como tira a gosto. Ao fundo, um pagode tocava por um grupo amador.
A mulher sentiu o celular vibrar dentro da sua bolsa, que estava no seu colo.
Era Adrian.
_ É o Adrian. Eu vou me afastar um pouco para atender._ ela disse ao pé do ouvido de Renato.
Alguns segundos depois, Andréia retornou com uma expressão de preocupação.
_ O que aconteceu, meu amor?
_ Eu não sei direito. Parece que Vitinho brigou com Ivan e está na casa do meu irmão. Eu vou até lá. Eles nunca brigam e parece que desta vez foi sério. Só espero que o Ivan não tenha feito nada de grave com o meu menino. Senão eu nem sei do que sou capaz de fazer._ Ela dizia ajeitando a alça da bolsa no ombro.
Renato ficou extremamente preocupado. Presumiu que a verdade havia sido revelada.
_Eu te levo.
_ Não, precisa, amor. O meu irmão mora aqui perto. Na outra rua. Eu vou andando mesmo.
Ela deu um beijo de despedida no namorado e se despediu dos amigos.
_ Qualquer coisa me ligue, linda.
_ Tá bom, lindo.
Renato pensou em Ivan. Se a verdade havia sido revelada, o amigo necessitava da sua ajuda.
Ivan se comportava de maneira descontrolada ultimamente e Renato temia que o amigo fizesse alguma besteira.
Tentou ligar para ele, mas não era atendido.
Despediu -se dos amigos e foi o mais depressa possível para a casa de Ivan.
Ainda jogado no chão, Ivan chorava desesperado chamando por Victor.
_ Victor! Victor! Eu te amo, meu Solzinho! Eu te amo! Eu não posso viver sem você!
A tristeza o consumiu por completo. O que mais o doía era ter causado tanto sofrimento ao menino. A culpa pesava sobre o seu corpo.
_ Meu neném. O que foi que eu fiz?
A dor estava insuportável para ele.
Levantou-se e subiu as escadas. Caminhou em direção ao quarto que fora de Raúl.
No seu devaneio viu o velho para sentado na cama ao lado de Sônia. Ambos sorriam, satisfeitos com a sua desgraça.
_ Você é como nós. É o nosso fruto._ dizia a imagem de Sônia, gargalhando maligna com a cabeça erguida para cima.
_ Você é uma vergonha! Eu tenho nojo de ter um filho pederastra! Eu preferia que tivesse morrido. É melhor um filho morto do que um filho veado!_ dizia Raúl Matarazzo com o seu ar de superioridade.
_ Seus desgraçados! Tudo isso é culpa de vocês, seus merdas!
Ivan correu até o cofre e pegou o revólver que foi do seu pai. Olhava-o chorando.
Pegou um folha de caderno e uma caneta. Com as mãos trêmulas escreveu as seguintes palavras:
"Víctor, eu te amo. Eu não quero que você sofra. Eu quero pegar toda a sua dor e levar comigo. Quero que seja feliz. Me perdoe?"
Ivan estava fora de si. Somente a dor falava e agia por ele.
Chorava segurando o revólver, com a arma apontada para a própria cabeça, girava com o dedo no gatilho.
Renato entrou na casa chamando por Ivan, que não o ouvia, devido ao delírio.
Preocupado, ele subiu as escadas. O seu coração batia acelerado. Gritava pelo amigo pelos corredores, abrindo as portas dos quartos.
Seus olhos se arregalaram com a visão de Ivan chorando, apontando o revólver para a cabeça.
_ Ivan, pelo amor de deus me entregue essa arma. Não vá fazer nenhuma besteira...por favor!
_ Eu sou uma pessoa horrível! Eu sou como os meus pais... Não! Eu sou pior, porque machuquei a única pessoa que eu amo! Nem amar eu sei!
_ Você precisa se acalmar! Me entregue a arma e vamos conversar.
_ Ele é um anjo. Sempre foi bom pra mim. Vivemos um amor tão lindo...Eu estraguei tudo... ele é a minha vida... agora está sofrendo por minha causa...Eu não mereço viver... Todos os Matarazzo são perversos... raça ruim que deve ser extinta da face da terra.
_ Você não é como os seus pais. Você fez muitas coisas ruins, mas também tem um lado bom. Você pode mudar. Eu vou te ajudar a ser uma pessoa melhor. Eu vou fazer de tudo. Agora não faça isso. Você é importante demais pra mim.
_ Vá embora daqui! Eu não quero que veja. Vá embora!
_ Eu não vou! Por favor, Ivan. Me dê essa arma.
_ Ele se foi... ele se foi...
_ Mas pode voltar. Pra tudo na vida há um jeito. O Victor te ama. Ele está magoado, mas quando tudo esfriar, ele pode te perdoar.
_ Ele tá sofrendo, Renato. Por minha culpa!
_ E vai sofrer muito mais se você fizer besteira. Já imaginou o trauma que você vai causar no menino? Victor tem um coração muito bom. Ele vai se culpar pela sua morte! Você sabe o quanto o remorso dói. Você quer que o Victor sinta isso que você está sentindo?
Ivan girou a cabeça negativamente.
_Então, me entregue a arma e vamos conversar. Não cause mais dor ao Victor. Se não se importa com você mesmo, se importe com ele.
Ivan deslizou a arma para baixo do rosto e a ergueu entregando a Renato, que a pegou rapidamente, com medo de Ivan mudar de ideia.
Renato abraçou o amigo querendo protegê-lo de si mesmo. Ivan chorava descontrolado.
_ Vai ficar tudo bem. Tudo vai se resolver. Eu estou contigo, meu querido. Eu estou contigo.
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