ESCRITO POR SANTINO PEIXOTO:
— Kleber!!! — gritei ao ver o carro do Francisco passar por cima da moto do Kleber.
A chuva dificultou a minha visão, mas eu tenho certeza do que vi. O Ford K vermelho do professor Francisco acelerou e se chocou com a moto do Kleber. Após a batida, o carro perdeu o controle e bateu contra uma árvore.
Todos os alunos correram para ajudar o Kleber. Não lembro direito o que aconteceu, mas entrei no modo Santino centrado e pedi para alguém ligar para o resgate.
A cena era desoladora. O Kleber estava deitado no chão com várias escoriações pelo corpo. O baque o fez voar por vários metros e ralar parte do braço direito.
Ele usava a farda da assistência onde trabalhava. Uma blusa social azul claro que estava vermelho escuro. O desespero tomou conta de mim, quando percebi que o osso do ombro do Kleber havia furado a camisa.
— O professor está bem? — perguntou um dos alunos.
De repente, todos as pessoas que observavam começaram a dar dicas como, por exemplo, não mover o corpo, ter cuidado ao retirar o capacete e imobilizar a coluna do acidentado. Levantei e peguei o Sérgio pelo colarinho da camiseta. Ordenei que ele mantivesse o Kleber calmo e vivo.
— Fica aqui com ele. Se acontecer alguma coisa com o Kleber, eu juro que te amo. — ameacei.
Não sou o tipo de cara violento. Nunca fui. Mas, ao ver o Kleber agonizando no chão, andei em direção ao carro do Francisco. Em seguida, abri a porta e o tirei de dentro. Não tive noção da minha força, porém, o professor caiu longe.
Ele ainda estava zonzo devido à batida e saiu se arrastando pelo chão molhado. Pisei na costa dele e coloquei todo o meu peso. De repente, a Giovanna apareceu e pediu para que eu não fizesse nenhuma merda.
— É tarde demais! — exclamei ficando de joelhos, virando o Francisco e desferindo vários socos.
Lembrei de tudo o que sofri até aquele momento, as ofensas e pessoas que se achavam superior a mim. Não liguei para as consequências, apenas queria me livrar da dor que eu sentia.
Em um ato de desespero, a Giovanna se lançou na frente do professor e quase a acertei. Olhei para as minhas mãos cobertas de sangue e comecei a chorar, não conseguia segurar a emoção. Caí sentado no chão e ela me abraçou.
— Por favor, Santino. Por favor. — ela pediu me abraçando forte, sem se importar com o sangue e minhas mãos machucadas. — Não faz isso. Não faz isso.
— Eu quero matar ele, Giovanna. Cansei de ser humilhado. Cansei de sempre ser julgado pelo meu tamanho. Cansei de perder. — revelei em prantos, enquanto as minhas lágrimas se misturavam com a chuva que insistia em cair.
— Santino. Você não está mais só. — a Giovanna falou tocando no meu rosto e virando para a esquerda, onde o professor estava caído.
O Enzo e André prenderam o professor Francisco com uma corda. Eles haviam ligado para a polícia e pediram os vídeos dos alunos que gravaram o acidente criminoso. Depois, ela apontou para o Sérgio, que havia tirado o capacete do Kleber e imobilizado o seu pescoço, usando as pernas para deixa-lo confortável.
— Ponha uma coisa na sua cabeça, Santino. Você não está só. — ela garantiu levantando e me oferecendo a mão.
A ambulância da faculdade chegou e minha atenção voltou para o Kleber. A chuva caia ainda mais forte e alguns curiosos se mantinham entretidos com a confusão. A policia também apareceu e os meus amigos mostraram as provas para os policiais.
Os socorristas agiram de forma rápida. Eles desceram a maca, então, uma mulher verificou o estado do Kleber e confirmou a fratura exporta. Ela pegou uma tesoura e cortou a camiseta dele, acho que para analisar melhor o ferimento.
A mulher pediu a ajuda do Sérgio para levantar o Kleber e coloca-lo na maca, sem mexer a cabeça dele. Em sincronia, eles conseguiram, mas devido ao movimento, o Kleber acordou gritando de dor.
— Obrigado, rapaz. — agradeceu a mulher que com a ajuda de seu colega colocou o Kleber para dentro da ambulância.
— Santino... — o Sérgio tentou encostar em mim. — Eu...
— Saia da minha casa hoje mesmo. — pedi sem olhar para o Sérgio.
— Por favor...
Mais uma vez, não pensei nos meus atos. Apenas soquei o Sérgio, que caiu deitado no chão, mas sendo amparado por alguns amigos da faculdade. Eu não estava com tempo e/ou vontade de ter qualquer tipo de interação com o Sérgio.
— Alguém vai com o rapaz? — perguntou o socorrista, assustado com o que presenciou.
— Eu vou. — falei, levantando, a minha mão trêmula e machucada, mas com uma ferida maior no coração.
— Os meninos ainda estão com os policiais. Avisa para qual hospital vão levá-lo, por favor. — Giovanna pediu, pegando no meu ombro e indo em direção ao André e Enzo.
Entrei na ambulância e comecei a chorar quando o Kleber gritou. A socorrista tentava estancar o sangue com um pano seco e limpo. Alguém fechou a porta com violência e eu me assustei.
— A pressão dele está caindo. — avisou a mulher, depois de plugar alguns fios no peito de Kleber.
— Santino! — gritou Santino olhando para mim. — Eu não fiz nada, eu juro! Aaaaah!!!
O chão desmoronou sob os meus pés. Os olhos do Kleber estavam em pânico, talvez, pela mistura da dor e medo. Eu me senti um bosta. Me senti culpado por tudo o que aconteceu. Se eu não tivesse agido, dessa forma, infantil e idiota, nada disso teria acontecido.
Passamos por um buraco e a ambulância tremeu, o Kleber não suportou a dor e desmaiou, outra vez. Achei melhor assim, não teria forças para ouvir mais o desespero dele. Fomos levados para o hospital 28 de Agosto, um dos mais conhecidos da cidade.
Um outro grupo de socorristas já estava na frente do hospital. Foi tudo muito rápido, eles retiraram a maca da ambulância e eu tive dificuldades para acompanhar.
Um homem pegou no meu ombro e negou a minha passagem para a próxima sala. Ele perguntou se eu era acompanhante, fiz que sim com a cabeça. De forma seca, o homem pediu para que eu me dirigisse ao balcão de informações.
O meu corpo tremia de frio, devido ao ar-condicionado, e a tudo que vivi nos últimos minutos. Ao contrário do segurança, a moça do balcão foi solicita e gentil, conseguiu responder todos os meus questionamentos. Entreguei os documentos do Kleber para preencher o prontuário e precisei responder algumas perguntas.
— São só essas informações? — questionei esfregando uma mão na outra.
— Nossa, suas mãos. Se quiser passar no ambulatório. — sugeriu a moça.
— Tenho que esperar o meu...
— Moço, ele vai ser bem assistido. Agora, você precisa se cuidar também. Só preciso da sua identidade. — pediu a moça que parecia ser uma boa pessoa.
A pele dos meus dedos estavam em carne viva, realmente, usei uma força que não existia dentro de mim para dar uma lição no professor Francisco e Sérgio. Cada vez que a adrenalina saia do meu corpo, a preocupação me consumia a mente.
O hospital tem um cheiro tão característico, uma mistura de álcool com produto de limpeza. O enfermeiro que me atendeu estava apático, com certeza, deveria estar dobrando o plantão.
Com um algodão, o homem passou um remédio para esterilizar os ferimentos. Em seguida, solicitou uma série de medicamentos para dor, tomei sem reclamar, pois, queria que a dor dentro do meu peito desaparecesse, só que, infelizmente, ninguém descobriu esse remédio.
Voltei para a sala de espera e os meus amigos já estavam lá, até mesmo o Sérgio, passei por ele e abracei a Giovanna. Ela acariciou o meu rosto e garantiu que tudo ficaria bem.
— O professor Francisco foi levado para a delegacia. Entregamos todas as evidências para a polícia. O vídeo é horrível. — disse Enzo tirando os óculos e enxugando às lágrimas, com certeza, chocado com a violência que Kleber foi atingido.
— Como ele está? — quis saber André que segurava a mochila do Kleber.
Não conseguia responder, apenas chorava abraçado com a Giovanna. O Enzo se ofereceu para comprar água, na esperança de me acalmar. Sentamos em uma área mais afastada. O acidente do Kleber passava em um looping infinito na minha cabeça.
— A Bruna. — soltei chamando a atenção dos meus amigos e, em seguida, chorei por causa da dor que isso traria para a mãe do Kleber.
— Gente, a mãe do Kleber. Ela ainda está na tua casa? — perguntou Giovanna nervosa.
— Eu não sei. — respondi, com medo da reação da Bruna.
— Vamos atrás dela. — afirmou Enzo me entregando a garrafa de água. — O guincho está retirando a moto do Kleber da faculdade. Acabei de receber a mensagem de um colega nosso.
— Espera, Enzo. — peguei a minha carteira, tirei um dos meus cartões e segurei na direção do Enzo. — Pega esse cartão para...
— Santino. — Enzo pegou no meu pulso e fez um sinal de negativo com a cabeça. — Não se preocupa. Seu foco agora é o Kleber. A gente cuida de tudo.
— Eu vou na tua casa, Santino. Pegar algumas roupas, você pode ficar gripado. — se ofereceu Giovanna. — Sérgio, fica com o Santino. Eu não vou demorar. — ela me beijou e saiu com o André e Enzo.
Ainda arisco e, após levar um soco daqueles, o Sérgio se aproximou e sentou ao meu lado. Eu não conseguia olhar para ele. Depois de tudo o que passamos, o Sérgio conseguiu trair minha confiança, fez algo pior do que o bullying do ensino médio.
— Santino, por favor. Você é minha família...
— Família? Família? — perguntei mais vezes do que gostaria, ainda sem olhar para o Sérgio. — Temos uma ideia muito diferente do que família significa.
— Eu errei, ok. Eu não sou perfeito, Santino. O Francisco me procurou e encheu minha cabeça. E, somando o fato de que eu não fui com a cara do Kleber, tipo, tudo ficou muito confuso. Desculpa. — Sérgio parecia realmente arrependido, mas o meu coração continuava magoado.
— Vai se lascar. — levantei e andei um pouco, o Sérgio me seguiu e pegou no meu ombro. — Seu. — virei com raiva e dei um tapa no rosto do Sérgio. — Eu odeio você! Eu odeio você! — gritei fechando as mãos e batendo no peito do Sérgio que não reagiu. — Eu odeio você!
Mais uma vez não contive às lágrimas, chorei tanto que perdi as forças e fiquei de joelhos no chão. O Sérgio me abraçou e continuou dizendo que estava arrependido.
A equipe de segurança se aproximou, pensando que fossemos causar algum tipo de confusão. O Sérgio levantou a mão como sinal de que estava tudo bem e levantamos.
Voltamos para as cadeiras e ficamos em silêncio. Os segundos se transformaram em minutos, os minutos em horas e não tivemos notícias do Kleber. A Giovanna chegou com uma muda de roupas para mim e Sérgio, ela também usava uma roupa diferente, as peças eram da minha mãe.
A Bruna entrou desesperada na sala de espera e seguiu para o balcão de informação. Ela fez um barraco para que o médico a atendesse. Ao me ver, a mamãe correu e me abraçou.
Não demorou muito e assistente social do hospital apareceu para dar informações sobre o Kleber. Se eu soubesse, teria feito um escândalo mais cedo.
De acordo com o boletim, o Kleber havia quebrado o ombro esquerdo, torcido o pulso direito e sofrido escoriações pelo corpo. Ela explicou que ele passaria por uma cirurgia, mas o banco de sangue não estava operando por causa do baixo estoque.
— Nós podemos doar? — André perguntou, sendo o mais rápido do grupo a fazer o questionamento.
— Claro, mas o tipo sanguíneo do paciente Kleber Viana é muito raro. — anunciou a assistente social, analisando o prontuário do Kleber. — É o tipo B.
— O meu é A. — Giovanna e André, falaram juntos, de forma desanimada.
— O meu é O positivo. — saltou Enzo.
— O negativo. — falei, ficando desesperado, ao lembrar que os gays não podem doar sangue.
Há alguns anos, o Ministério da Saúde voltou com a restrição à doação de sangue por gays, mesmo com o baixo estoque do material nos hemocentros.
Torci para um milagre, porque o Kleber precisava de uma cirurgia de emergência. De repente, o Sérgio se levantou e afirmou ter o sangue tipo B.
Desesperada, a mãe do Kleber implorou para que o Sérgio doasse sangue para que o Kleber pudesse fazer a cirurgia. Ele respirou fundo e concordou em fazer a doação para o alivio de todos.
A equipe médica levou o Sérgio para o local da coleta e, mais uma vez, tivemos que esperar. A Bruna estava bastante abatida, contou com o apoio da mamãe que me surpreendia a cada dia.
Depois de um tempo, o Sérgio apareceu parecendo um zumbi, descobri que ele morria de medo de agulhas. No seu braço colocaram um curativo, pois, tiveram dificuldade de encontrar um acesso.
— Santino. Eu detesto o Sérgio, mas você deveria agradecê-lo. — aconselhou Giovanna, tentando ser imparcial, apesar do ranço que sentia pelo Sérgio.
— Ele sempre pegou no meu pé, Giovanna. Você não sabe como é ser humilhado todos os dias da sua vida. O Sérgio e o Renan, transformaram a minha vida em um inferno. — contei deixando uma lágrima escorrer no meu rosto.
— As pessoas mudam, Santino. De uma forma estranha e problemática, o Sérgio pensou que estava te ajudando. Não pesa a mão, de novo. — aconselhou Giovanna fazendo a advogada do diabo.
Levantei para falar com o Sérgio, porém, ele não sumiu da sala de espera. Sentei novamente e adormeci na cadeira. Tive um sonho, na verdade, um "E se". E se eu não tivesse brigado com o Kleber, o que teria acontecido?
Em um mundo ideal, a gente teria ficado na área de convivência dos alunos esperando o temporal passar. Deitaríamos no chão, ele com a cabeça no meu colo e faríamos carinho um no outro. A Giovanna chegaria fazendo comentários sobre algum boy novo. Já o André e Enzo estariam se alfinetando, mas acabariam dividindo um x-caboquinho (sanduíche regional do Amazonas).
Infelizmente, estávamos cansados, após um dia horrível. Cheguei no hospital às 17h. Olhei no visor do celular e já havia passado das 23h.
Uma voz familiar me trouxe de volta. Abri os olho se vi Yuri e Zedu. Eles estavam em uma espécie de hotel no meio da floresta, mas voltaram no momento em que souberam do acidente de Kleber.
No meio desse furacão, achei fofo o Yuri com um chapéu de pescador e todo vermelho. E, claro, amei a atitude dos dois que provaram ser ótimos amigos, preocupados, mesmo depois do fiasco na festa.
O Yuri me chamou para um café, já o Zedu ficou conversando com os nossos outros amigos. Lado a lado, o Yuri e eu, andávamos em silêncio.
— Tino. — soltou Yuri, parando e olhando para mim. — Olha, eu sei que essa é uma situação complicada, mas você precisa seguir o seu coração. Sei que é um conselho brega, só que é a verdade.
— Yuri. — eu o abracei com toda força.
— Calma, o pior já passou. Não precisa se preocupar mais. O Kleber está recebendo os cuidados necessários. — ele garantiu fazendo carinho na minha cabeça e se afastando.
— Desculpa. — pedi, pelo abraço não programado.
— Não se preocupa. Amigos são para essas coisas. Estou feliz em estar aqui por você. Afinal, sou a tua rede de apoio, né? — perguntou Yuri me dando um segundo abraço. — Já deu tudo certo.
Nada melhor que um café e amigos para ajudar um coração machucado. Voltamos para a sala de espera. No refeitório do hospital, comprei alguns lanches para o Sérgio que foi amparado pela mamãe.
Uma outra assistente social apareceu, entretanto, dessa vez, acompanhada de um médico que usava roupas diferentes. Ele explicou que a cirurgia do Kleber aconteceu dentro do esperado e ele seria transferido para um quarto compartilhado.
Respiramos aliviados, finalmente, o Kleber se encontrava fora de risco. A assistente explicou que apenas um homem poderia fazer companhia para o paciente, pois, ele se encontrava na ala masculina. Eu me ofereci sem pensar duas vez e tive a permissão de Bruna.
— Santino, quando o Kleber acordar, por favor, diga que eu o amo. — Bruna pediu pegando nas minhas mãos e chorando. — Tudo o que eu falei foi da boca para fora.
— Ele sabe, Bruna. Ele sabe que você o ama. — eu aconselhei a beijando no rosto, mas no fundo, tão arrependido quanto a Bruna.
— Meu filho, vou no shopping comprar algumas coisas para você usar. Esse hospital é muito gelado. — mamãe falou pegando no meu ombro e mostrando que, apesar dos pesares, ela me amava ao panto de pensar no frio que eu sentiria no hospital.
Depois de alguns minutos nos despedindo. O Enzo levou Bruna e André para casa. Já Sérgio acompanhou a minha mãe e Giovanna no shopping para comprar produtos de higiene pessoal e um cobertor.
Uma enfermeira baixinha e falante me levou para o quarto do Kleber. Ela contou sobre toda a história do hospital, além de fazer um resumo da sua vida amorosa, confesso que não escutei nada, apenas concordei com um "hum".
A parte interna do hospital me deixou chocado. Muitos pacientes deitados em macas improvisadas no meio do corredor, a maioria idosos. De acordo com a enfermeira baixinha, o Kleber só conseguiu uma vaga, pois, algum paciente acabará de falecer.
— E se tá reclamando do frio, deveria dar graças a Deus, pois, no ano passado o ar-condicionado quebrou e passamos por maus bocados. — tagarelou a enfermeira parando e apontando para a placa que dizia "Ala Masculina". — Aqui é a sua parada. Se o paciente reclamar de algum desconforto você pode me procurar no ambulatório.
— Hum. — concordei balançando a cabeça.
— Ah, quase esqueci. — ressaltou a mulher tirando um adesivo do bolso e pregando na minha camisa. — Com esse adesivo você pode sair para lanchar ou usar o banheiro externo. Vai por mim, é muito melhor.
— Hum. — soltei, ficando feliz ao receber o passaporte livre do hospital.
O quarto não era grande, porém, haviam seis camas, todas amontoadas. O Kleber estava na cama localizada ao lado da janela. Me aproximei e toquei em seu rosto, às lágrimas foram inevitáveis. Parte do ombro esquerdo foi enfaixado, com certeza, por causa da cirurgia.
O rosto do Kleber estava bastante machucado também. O capacete protegeu a cabeça, só que o impacto feriu o nariz e testa dele. Eu só fazia chorar e passava a mão suavemente em sua bochecha.
— Desculpa, meu amor. Eu sinto muito. Eu errei. Fui levado pelo ciúme e não te dei o beneficio da dúvida. Eu não sei se você vai ser capaz de me perdoar, Kleber. Mas, vou passar a vida tentando me redimir. A sua mãe está arrependida, mandou eu avisar que todas as palavras foram da boca para fora. Somos humanos, né? — falei, limpando às lágrimas e voltando a fazer carinho no rosto do Kleber. — Eu fui injusto, mimado e mereço que você me odeie, nem que seja um pouco, mas, por favor, não termina a nossa história.
— Você arrependido fica tão fofinho. — Kleber falou com um tom de voz fraco, quase não consegui ouvir direito.
— Amor. — soltei. — Você precisa de alguma coisa? Quer que eu chame o médico?
— Tudo o que eu preciso está aqui. — ele disse tendo dificuldade para pegar na minha mão.
— Qual foi o dano?
— Seu... seu... seu ombro quebrou, eles tiveram que operar. O seu pulso ficou fraturado. Eu sinto muito, Kleber. — desabei em lágrimas, ao invés de ajuda-lo, eu que precisava de ajuda.
— Amorzão. Você não fez nada de errado. Eu que deveria ter contado sobre a ameaça do Kiko. Inclusive, eu vou matar esse...
— Não precisa. — falei mostrando minhas mãos machucadas.
— O que você fez? — ele perguntou levantando a sobrancelha direita.
— Digamos que ele vai comer mal na prisão. Acabou, amor. E vou me assegurar que ele não faça mal a você. — garanti pegando no rosto de Kleber e ficando emocionado.
— Gostei do amorzão ciumento. — Kleber tentou rir, sem sucesso.
Não consegui dormir naquela noite. Fiquei observando o Kleber descansar. Existe um ditado que diz: "O homem só dá valor quando perde, aí, pode ser tarde demais". Eu amo o Kleber e, apenas, a possibilidade de perdê-lo trouxe um Santino que eu não imaginava existir.
Naquela sala lotada de pacientes, eu jurei que jamais deixaria outra pessoa machucar o Kleber. Essa promessa seria para sempre.