Capítulo 54
Luíza recebeu com o espanto a intimação para depor sobre o atentado contra as vidas de Víctor e Ivan.
A moça não entendeu o porquê teria que depor. Fernanda racionou e chegou a uma conclusão:
_ Você era amiga do Felipe e se o Ivan e o Victor morresse, poderia se tornar uma das herdeiras junto com a Sônia. Na certa a vagabunda deve ter te apontando como uma possível mandante do crime para tirar o dela da reta. Ai que ódio daquela piranha!
_ Isso é um absurdo! A minha jamais faria isso!
_ Nós sabemos disso, mas a polícia não. Mas, tá tranquilo. Quem não deve não teme. Eu não mandei matar ninguém e a polícia há de concluir isso e chegar na tia Sônia.
_ Não sei como você pode ficar tão tranquila! Cara, já parou pra pensar que o maluco do Ivan está puto conosco por termos revelado a verdade para o Victor? E se ele se aproveitar disso para te prejudicar por pura vingança?
Luíza sentou preocupada vendo sentido nas palavras de Gael.
_ Eu não vou deixar que isso aconteça! Eu avisei a vocês para não se meterem nessa história. Eu disse para não provocar o Ivan, mas vocês não me ouvem! Agora olhem a merda que pode dar.
No dia seguinte, Fernanda pediu licença para conversar com o sobrinho patrão.
Entrou no escritório apreensiva, esfregando as mãos devido ao nervosismo.
_ Aconteceu alguma, tia?
_ Sim. Foi com a Luíza. Ela foi intimada a depor pelo atentado que você e o seu companheiro sofreram.
_ O quê?!
_ Eu quero te dizer que a Luíza era amiga do Felipe sim, mas ela não fazia ideia do mau caratismo dele. Você e a Luíza podem não se darem bem. Você tem os seus motivos para ter raiva dela, mas a minha filha jamais atentaria contra a sua vida.
_ Isso eu sei! É um absurdo ela ter que depor sobre esse caso, não tendo nada a ver com isso.
Fernanda respirou aliviada em perceber que Ivan não pretendia se vingar de Luíza.
_ Eu creio que a Sônia a apontou como mandante...
_ Faz sentido. A Sônia está sendo investigada e quis mudar a mira para a outra possível herdeira. Bem a cara dela foder com as pessoas para tentar se dar bem. Ela não tem limites. Prejudica qualquer um, se for beneficiá-la.
'Faz o seguinte tia, leve consigo a doutora Patrícia Ramos, ela faz parte da minha equipe jurídica particular. É uma das melhores advogadas do país. Ligue para ela e marque um encontro, assim ela poderá orientar a Luíza sobre o que dizer no depoimento. '
_ Eu não tenho dinheiro para pagar os honorários de uma advogada do gabarito da doutora Patrícia Ramos.
_ Eu sei que você tá na merda. Não se preocupe com os honorários, eu arco com tudo. Só ligue para ela em meu nome e marque o encontro. Eu vou conversar com o delegado que está cuidando do caso. Vou dizer a ele que a Luíza jamais cometeria algum atentado contra a vida de ninguém.
_ Muito obrigada, Ivan. Eu nem sei como agradecer.
_ Você pode começar induzindo os seus filhos a escolherem melhor as suas amizades. O Felipe não era uma companhia para a minha irmã.
_ É até estranho te ouvir chamá-la de "minha irmã ", já que nunca a aceitou por ser a filha bastarda do seu pai.
_ Não se preocupe. A Luíza não será prejudicada por causa das tramóias da Sônia. Eu mesmo vou cuidar disso.
_ Muito obrigada mesmo.
Fernanda ficou surpreendida com a atitude de Ivan. Era a segunda vez que ele demonstrava compaixão pela família dela.
Ela e advogada se encontraram na cafeteria de Luíza, onde a jovem foi orientada por Patrícia.
A princípio, Luíza ficou cismada com a ajuda de Ivan. Pensou em recusar os serviços da advogada, mas a mãe a forçou a aceitar.
Conforme o prometido, naquela tarde, Ivan foi até a delegacia e disse ao delegado que Luíza jamais faria algum mal a ele ou a Víctor. Falou sobre a boa índole da irmã, o que pesou muito a favor de Luíza.
Victor também foi chamado para depor. Foi acompanhado da mãe e o loiro também falou muito bem da cunhada.
Luíza respondeu todas as perguntas com tranquilidade sem cair em contradição nenhuma vez, o que contou muito a seu favor.
Diante de tudo isso, o nome da mulher foi descartado como uma possível suspeita de ser a mandante do crime.
_ Que bicha burra! Burra! Burra! Burra!
Sônia esbravejava socando a mesa, diante do advogado.
Ele conhecia bastante policias e detetives da delegacia de Polícia de Niterói e ficou encarregado de investigar se Victor havia feito alguma denúncia contra Ivan.
Sônia ficou furiosa quando o advogado relatou que não havia nenhuma ocorrência sobre o fato.
_ Esses veados fazem tudo por causa de uma pica! Eu acho que pancada que Ivan deu na cabeça da gazela fez ela ficar retardada. Onde já se viu não denunciar o cara que tentou matá-lo? Eu fico com ódio só de imaginar aquela cara de macarrão sem molho dizendo: "Eu vou não denunciar o meu marido"._ Sônia fazia uma voz fina para imitar Victor falando._ você tem noção do quanto isso pode me foder?
_ Por quê?
_ Porque se a idiota da bicha burra tivesse denunciado o Ivan, eu poderia dizer que o Felipe estava o chantageando e isso seria o motivo pelo qual o Ivan o matou. E foi isso que aconteceu. Ele matou o Felipe e não eu! Sabe o que mais me dá ódio? É que eu tive em mãos um vídeo em que o Ivan confessava tudo e ainda tinha o taco de beisebol sujo com o sangue do boila e as impressões digitais do outro boila. Mas, o desgraçado do Ivan pagou os capangas para me roubarem.
_ Você pode contar tudo isso para a polícia.
_ Deixe de ser burro! Se eu não tenho como provar, o Ivan vai me processar. Ele já me ameaçou. E isso pode piorar ainda mais a minha situação. Eu tô fodida, cara!
'E o resultado do pedido do habeas corpus? Saiu?'
_ Sim. É sobre isso que vim falar com você.
_ Quando eu vou sair desse buraco de rato? Eu não aguento mais ficar aqui. Não nasci para passar calor.
_ Então, infelizmente o seu pedido foi negado.
_ Como assim, seu incompetente?
_ A sua situação não é nada boa. Você foi encontrada pondo o corpo do Felipe no porta malas do carro, há as suas impressões digitais na arma do crime e ainda tem o dinheiro que você não explicou a origem. Você foi presa em flagrante, Sônia.
_ Eu não estava pondo o corpo no porta malas. Quando eu abri o corpo já estava lá dentro. Eu não teria forças para pôr o Felipe lá dentro. Isso é óbvio!
_ Mas o corpo foi arrastado até o carro. Havia escoriações e vestígio de terras nos arranhões da vítima.
_ Puta que pariu! Porra! Você é um incompetente. Eu pago uma fortuna para você resolver o meu caso e não consegue um habeas corpus? Eu não quero mais os serviços. Está dispensado.
_ Mas Sônia ...
_ Não quero ouvir mais um pio. Vou procurar um advogado decente.
_ Então, faça isso às pressas, porque você vai ser transferida para um presídio hoje mesmo.
_ O quê?! Que merda!
Sônia chegou ao presídio furiosa. Manteve-se séria durante o percurso.
Sentiu-se muito humilhada por ter que trocar as suas roupas de grife pela blusa branca e a calça caque.
Quase chorou quando teve que entregar as joias e retirar a maquiagem. A sua beleza e elegância sempre foram algo que a davam muito orgulho, agora se via dominada pelo ódio por estar vestida como uma bandida de quinta categoria.
Caminhou pelo pátio com ar de superioridade, o que não agradou nada a um grupo de cinco mulheres que a olhavam com raiva.
Sônia não tinha curso superior e sabia que teria que ficar numa cela comum.
Olhava para todas as mulheres com nojo, erguendo o nariz. Quase vomitou com o mal cheiro do local.
No corredor, indo em direção à sua cela, junto as outras novatas, ela avistou uma mulher negra e gorda, que usava um moicano e as calças para baixo mostrando a ponta da cueca. A mulher tinha fortes trejeitos masculinos e isso deixou Sônia incomodada, já que sempre fora homofóbica.
A mulher a olhou sorrindo, mordendo o lábio inferior. Sônia permaneceu olhando com ódio para a mulher, que levantou a blusa, lambeu a ponta do dedo e passou sobre o seio farto e caído, mandando beijo para a loira.
_ Que nojo!
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