Capítulo 60
Sentado na cadeira de balanço, na sacada da varanda, Victor sentia os fios dourados dos seus cabelos serem embalados pelo vento que vinha do mar. O barulho das ondas e o canto das gaivotas os proporcionava uma paz preciosa.
A casa estava silenciosa. Andréia e a empregada Deise foram juntas à feira para fazer as compras da semana e Renato à academia como fazia diariamente. Victor tinha apenas a companhia do seu cachorrinho Tito, que adormecia ao seu lado na outra cadeira.
Por mais que os seus belos olhos azuis fitavam o mar, a sua mente estava longe dali. Viajava pelo passado, onde era feliz nos braços de Ivan. Lembrava dos beijos calorosos do marido, tocando nos lábios e sentia o calor da sua pele.
No peito uma saudade pungente. A ausência de Ivan ainda era muito dolorosa para ele.
Perguntava-se se Ivan sentia o mesmo. E como resposta se dava um "não". "Se ele sentisse a minha falta, não teria sumido. Ligaria para saber como estou. Na certa arranjou outra pessoa, ou até pessoas. Está sorrindo, festejando, curtindo a vida sem nenhum peso na consciência por ter quebrado o meu coração. "
Mesmo com esses pensamentos, Victor não conseguia mais nutrir ódio por Ivan. Com o decorrer dos últimos nove meses, a dor da saudade preencheu todos espaços do seu coração, não deixando nenhum espaço para o ódio.
No entanto, sentia vergonha por sentir falta do homem que o prejudicou. Sentia-se constrangido imaginando as críticas que receberia da família e amigos por ainda amar o marido. Se auto julgava tolo. E por isso, reprimia a sua saudade, ao ponto de se sentir sufocado e desabar no choro quando estava só.
Cansado, fechou os olhos e relaxou o corpo, deixando-se ser embalado pela cadeira.
O aroma do perfume francês do amado invadiu o seu narizinho delicado. Sentiu o toque das mãos macias do moreno sobre a sua pele, o deixando arrepiado. Quando sentiu os lábios serem beijados, abriu os olhos e sorriu ao vê o amado materializado na sua frente.
Ivan não tinha mais o mesmo aspecto de quando partiu. Havia recuperado a sua beleza e vitalidade. A tristeza e tormentas do seu olhar foram convertidas num brilho irradiante junto com o seu belo sorriso. Era a mesma expressão de felicidade que tinha no dia do seu casamento.
A alegria o dominou por completo. O coração festejava batendo acelarado em festa pelo retorno do amado. O medo dos julgamentos alheios evaporou como fumaça no ar.
A felicidade foi expressa num abraço abrigo e num beijo demorado.
_ Minha vida! Você voltou?!
_ Ainda não. Mas, estou voltando, meu Solzinho.
Victor fechou os olhos para sentir o toque dos dedos do moreno explorando a sua face. Sentiu os lábios macios beijarem o seu rosto e despertou com o beijo da mãe.
Ficou feliz em vê-la. Abraçou-a buscando carinho e proteção.
_ Eu te amo, mãezinha.
_ Eu também te amo, meu amor. Mas, você poderia ter ido para o quarto dormir. Assim você acabar tendo complicações na coluna.
Andréia franzio o cenho olhando para o rosto do filho. Girou para o lado para ver melhor o hematoma.
_ O que é isso, Víctor?
_ Eu caí no calçadão ontem à noite.
_ Isso não tá parecendo marca de queda. Está parecendo...não quero nem imaginar que seja o que eu estou pensando... aquele desgraçado não...
_ Não, Mãe! Eu realmente caí. Estava andando distraído e não vi uma casca de banana no chão. _ Victor mentia assustado. Sabia que era difícil enganar a mãe.
_ Victor, se você tivesse caído no chão por causa de uma casaca de banana, teria caído com o rosto virado pra cima.
_ Virou CSI isso aqui? Credo, mãe!
_ Meu amor, se o Ítalo fez isso contigo não há porque mentir... Eu vou acabar descobrindo.
_ Eu não estive com o Ítalo depois que ele saiu daqui. Eu juro que estou falando a verdade.
Victor se sentia como um bicho acuado. O coração batia acelerado e sentia uma secura na boca. Para tentar mudar o foco da conversa perguntou se a mãe havia comprado as mangas que havia pedido.
_ Ela comprou sim. Mas, reclamou de lá pra cá do preço. _ respondeu Deise, gritando da cozinha.
Victor aproveitou a intromissão da empregada e foi até a ela para dar continuidade ao assunto e desviar o foco de Andréia.
_ Realmente, está tudo caro, né mamãe?
Ela nada respondia. Somente o olhava desconfiada cruzando os braços.
_ Se não tá fácil pra senhora que é rica, imagina pra mim que sou pobre?
_ Eu não sou rica, Deise. Rico é o meu marido.
_ Se ele é rico, a senhora também é. Quando se casa o que é de um é do outro também.
_ Continue com esse pensamento sem fazer o seu pé de meia, que você vai ver aonde vai parar. Hoje em dia, uma mulher tem que correr atrás do seu. Casamento não é investimento financeiro.
_ Ah, isso é verdade, dona Andréia. A minha sobrinha mesmo se casou com um engenheiro, largou os estudos e foi levar vida de madame. AÍ levou um pé na bunda e com dois filhos pra criar teve que trabalhar de empregada.
_ É mesmo, Deise? Mas, e aí? Como ela está? _ Victor fingiu interesse na vida da sobrinha de Deise para fugir dos interrogatórios da mãe.
O almoço foi servido duas horas depois da chegada de Andréia. Ela mesma fez questão de preparar o bacalhau ao molho branco, prato favorito do marido, junto com salada de rúcula e um arroz branquinho recém saído do fogo.
Andréia gostava de expressar o seu amor pelo marido através de gestos carinhosos e cuidados afetivos, proporcionando a ele todo o conforto que um lar possa oferecer. Renato retribuia da mesma forma, agradando a mulher ao máximo que podia só para ter o prazer ver um sorriso estampado no seu lindo rosto.
Quando chegou da academia, trouxe consigo um buquê de flores diversas. Quando perguntado do porquê da atitude, se era alguma data especial que ela não se recordava ele respondeu:
_ Lógico que é uma data especial! Todos os dias ao seu lado é uma data especial.
Ela se derreteu de amor e o beijou apaixonada, provocando admiração em Victor e em Deise.
O loiro amava as demonstrações de amor do casal. Fazia-o recordar dos dias felizes que viveu ao lado de Ivan, aumentando ainda mais a sua saudade.
Victor também gostava muito do padrasto. Um dos principais motivos era pela forma gentil e amorosa como tratava a pessoa que mais amava na vida, a sua mãe. E além disso, Renato é um bom homem, sempre solícito, generoso e compreensivo com eles.
Adquiriu pelo padrasto um carinho e admiração.
Também quis agradá-lo preparando mousse de limão como sobremesa, que foi muito apreciada por Renato.
À mesa, a conversa seguia agradável. Renato relatava uma viagem que fez à Grécia e prometeu a família que a levaria nas férias.
Depois de ouvir as histórias do marido, Andréia achou que o momento era adequado para falar sobre o que julgava ser muito necessário.
_ Bom, por mais que o clima esteja agradável e almoço e sobremesa estavam deliciosos. Infelizmente, terei que falar sobre um assunto muito chato. Mas, que deva ser resolvido.
'Eu quero saber, Victor, quando é que você pretende dar entrada no divórcio?'
Victor e Renato ficaram sérios diante da pergunta da mulher.
O loiro respirou fundo e respondeu:
_ Quando o Ivan voltar.
_ Você sabe que pode pedir o divórcio litigioso.
_ Eu sei, mãe! Mas se estávamos presentes no dia do casamento. Temos que estar presentes do dia do divórcio.
_ Não precisa, Victor. Deus sabe quando o Ivan vai voltar. Se é que vai voltar. E se demorar vinte anos? Meu filho, você ainda é muito jovem! Precisa dar se livrar logo daquele psicopata. Cortar qualquer tipo de laços. Olha, eu falei com o doutor André, que é um ótimo advogado e um grande amigo, ele se formou quando ingressei na faculdade. Ele me deu uma lista dos documentos que você precisa para dar entrada. É só você enviar pra ele e eu já acertei tudo referente a pagamentos e...
Victor sentiu uma grande irritação e socou a mesma.
_ Mãe, você contratou um advogado para resolver sobre um assunto que só desrespeita a mim e ao Ivan?! Isso é invasivo! Você não tinha esse direito!
_ E por que não? Por caso você ainda quer continuar casado com o homem que tentou te matar?!
_ Não, Mãe! Eu não quero continuar casado com o Ivan! Se quisesse não teria me separado dele. Mas, eu não sou mais criança! Eu tenho que que tomar as minhas próprias decisões! Você está sendo injusta comigo! Está me sufocando! Eu super entendo que esteja preocupada e que queira me proteger, mas está passando dos limites!
Renato ouvia em silêncio, feliz internamente com as palavras de Victor.
_ Eu estou muito decepcionado contigo. Estou sufocado, acuado e oprimido pela minha própria mãe! Eu deveria está me sentindo bem ao seu lado, me sentindo seguro. Mas, não é isso que está acontecendo. Com licença.
Victor levantou e foi para o quarto. Deixando Andréia em silêncio, se sentindo injustiçada.
_ Você tá vendo, né Renato? Como os filhos são ingratos! A gente faz de tudo para proteger e ainda nos acusa de sermos opressoras. A maternidade é maravilhosa, mas tem horas que é um fardo. É muito sacrifício e muita ingratidão.
_ Você vai me desculpar ou não...tanto faz. Mas, o Victor tem razão.
Andréia o olhou com espanto.
_ Andréia, ele é adulto! Somente e ele tem que decidir como e se vai pedir o divórcio. Você é a mãe dele e não a dona. Não pode se intrometer desta forma.
_ Como não posso? Eu tenho o direito divino de cuidar e zelar pelo meu filho. Eu o pus no mundo! Eu não fui boa o suficiente para protegê-lo. Eu tenho culpa nisso tudo também. Victor era minha responsabilidade quando foi golpeado e quase assassinado naquele ponto de ônibus, onde estava sozinho e assustado. _ as lágrimas começaram correr pela face da mulher._ por mais que eu sentisse que Ivan não prestava, eu não fiz nada para impedir o casamento e o meu filho teve a maior decepção da vida, sem contar que eu confiei no Ítalo e incentivei esse namoro e agora o meu filho sofre num relacionamento abusivo e ainda mente pra mim que não apanhou do namorado! Eu sou uma péssima mãe, Renato! Eu sou uma merda de mãe!
Renato levantou e a abraçou, acariciando os seus cabelos.
_ Minha querida, você não tem culpa de nada. Há coisas na vida que não podemos evitar. Não carregue o peso de uma culpa que não é sua. Você não tinha como prevê o que aconteceu com o Victor, não fazia ideia do que o Ivan havia feito e muito menos de má índole do Ítalo. Ele enganou a todos nós.
'Meu amor, eu não tenho filhos. Mas, sei por observação que se ficar se intrometendo demais na vida dele o afastará de ti. Ele vai se sentir oprimido e com medo de desabafar contigo.
Você como mãe deve orientá-lo, ser gentil e paciente. Respeitar o espaço dele. Não há nenhuma dúvida que você é uma ótima mãe, que o ama muito e que faria tudo por ele. Mas, Victor não é mais uma criança.'
_ E o que eu faço? Assisto de camarote a queda do meu filho? Eu não posso fracassar de novo. Eu tenho medo que o Ivan o faça sofrer mais do que já fez.
_ Dê a ele espaço, respeite-o. E ofereça o seu apoio quando ele precisar.
Andréia abaixou o olhar.
_ Eu só não quero que ele sofra. Eu daria a minha vida para vê-lo feliz novamente.
_ Disso não há nenhuma sombra de dúvidas, minha pequena.
Renato segurou em seu queixo e a beijou.
_ Bora tomar uma gelada?_ perguntou Virgínia sorridente.
Era o fim de mais um expediente. Numa sexra-feira, dia mais aguardado pelos funcionários da concessionária, que tinham a intenção de se reunirem num bar localizado ao lado do terminal rodoviário de Niterói.
Beber cerveja, comer espetos de churrascos misto e falar bobagens ao som de um pagodinho ao vivo era um ritual sagrado entre os colegas de trabalho. Victor sempre era convidado, mas negava a maioria das vezes devido ao ciúme do namorado. Prefiria ir para casa para evitar confusões, o que deixava Virgínia revoltada.
_ Não sei.
_ Se disser que não vai por causa do estopô do Ítalo eu nunca mais olho na sua cara.
_ Não é isso. Eu não quero mais saber do Ítalo.
Virgínia sorria satisfeita, abraçando o amigo.
_ Sério?! Até que enfim tomou vergonha na cara! Vem cá, foi ele quem fez isso no seu rosto?
_Eu já falei mil vezes que não. A verdade é que eu...
_ Que você caiu. Que desculpa batida. Se você continuar dando confiança, daqui pra frente será pior. Mas, então você não tem motivos para não ir ao pagondinho do terminal conosco.
_ Na verdade eu não ando muito legal. Estou um pouco triste.
_ Saudades do Ivan.
_ Não!_ mentiu Victor.
_ Ninguém esquece um grande amor da noite pro dia e nem com um namorando merda. Você precisa se abrir pra vida. Pegar uns carinhas por aí. Por que você não dá uns pegas no Gael? Ele é gatinho. E segundo você, é bom de cama.
_ Uh, é! Agora tá amiguinha mesmo do Gael, hein!
_ Tô sim. Ele é meio maluquinho, mas é muito maneiro. A gente sai direto, já que o meu melhor amigo não sai comigo.
_ Que dramática!
_ Vamos embora.
Depois de muitas insistências de Virgínia, Victor aceitou o pedido da amiga.
A socialização com os amigos o fez bem. Sorria com as piadas ditas por eles, conversava descontraído como não fazia há tempos.
Contudo, o seu sorriso se converteu em seriedade ao vê Ítalo se aproximando da mesa deles. Virgínia ficou brava.
Ítalo se aproximou com mansidão, cumprimentando a todos e disse que queria falar com Víctor.
_ Você não tem mesmo vergonha na cara? Como se atreve a procurar o meu amigo depois de tudo que você aprontou?
_ Isso é assunto meu e dele. Não se intrometa, Virgínia.
_ Eu me intrometo sim! Você é um filho da puta.
Victor levantou às pressas, comunicando que falaria com Ítalo para evitar uma discussão entre o namorado e a minha amiga, o que deixou Virgínia revoltada.
_ Você é um sem vergonha! É por isso que esse aí te faz de capacho.
Envergonhado, Víctor se afastou junto com Ítalo. Foi conduzido até a moto do violinista.
_ Vamos a um lugar mais calmo.
_ Não acho uma boa ideia.
_ Amor, aqui não dá para conversar com esse barulho.
_ Eu não confio em você depois do que aconteceu.
_ Você tem toda razão de estar chateado comigo. Eu vacilei feio. Mas, eu prometo conversar numa boa contigo.Eu juro.
Victor aceitou ir com Ítalo, que o levou para a sua casa.
Durante os últimos nove meses, Ítalo conseguiu um novo emprego como auxiliar administrativo numa faculdade particular e decidiu alugar um pequeno apartamento para viver só e ter mais liberdade.
Quando chegaram ao local, Victor foi surpreendido com um uma toalha xadrez forrada sobre a mesinha de centro da sala.
A mesa estava posta com duas taças, frutas, biscoitos, pãezinhos todos postos em tigelas e cobertos por plásticos filmes. Havia também geléias, doce de leite e uma rosa num vaso solitária.
O violinista foi até a cozinha e retornou com uma garrafa de champanhe, que estourou e pôs o líquido nas taças, entregando uma ao loiro, que rejeitou.
_ Pra que tudo isso, Ítalo?_ Victor perguntou sério.
_ Eu te devo desculpas.
_ E você acha que vai conseguir isso me oferecendo comida? Ítalo, a gente anda se machucando muito e...
O violinista pôs o dedo entre os lábios de Victor.
_ Meu amor, eu errei muito contigo. Perdi o controle e sinto muito por isso. Mas, fiquei revoltado quando você falou do Ivan. Você sabe o quanto odeio aquele cara. Não só pelo que ele fez comigo. Nisso eu já consegui me reerguer. Consegui um novo emprego, sair da casa dos meus pais e já que não me apresentar mais nas casas culturais, me apresento por lives na internet e tenho muito mais alcançe do que tinha nos teatros.
'Ivan não conseguiu me destruir. O que mais me revolta é o mal que ele te causou. Ele quase te matou e você ainda fica pensando nele? Isso me machuca cara!'
Victor abaixou a cabeça.
_ Eu não gosto quando você fala nele. Isso impede da ferida se fechar.
_ Eu sei. Eu prometo que não vou mais falar nele.
Ítalo se aproximou de Victor e o abraçou e segurou em seu queixo.
_ Eu te amo muito, meu loirinho. Me desculpe por tudo? Vamos fazer diferente.
_ Você sempre faz assim, Ítalo. Me machuca, aí pede desculpas e diz que vai mudar. AÍ acontece tudo novamente.
_ Eu sei. Mas, eu prometo que dessa vez vai ser diferente. Victor, você precisa entender o meu lado. Não é fácil namorar uma pessoa problemática, que está sempre triste, chorando e tendo ataques de pânico. O seu desequilíbrio emocional é um fardo. Põe-se no meu lugar.
O loiro se sentiu envergonhado pelo seu estado emocional e responsável pelas brigas do casal.
_ Vai ficar tudo bem. Eu te amo tanto que sou capaz de me sacrificar por ti. Mas, você precisa mudar o seu jeito. Ser mais compreensível comigo. Não é fácil pra mim.
O loiro permaneceu em silêncio.
_ Olha a que ponto eu cheguei? Sabia que me doeu ter te batido? Você vive dando ouvidos a invejosa da Virgínia, porque aquela garota não consegue arrumar um namorado e fica melando o namoro alheio. Ela tem inveja da nossa relação. Você dá ouvidos a ela, que vive inventando que eu te traio. Ela põe minhocas na sua cabeça e nos faz brigar. AÍ perdi a cabeça. Não sou de ferro!
'E sem contar que vive enrolando para dar entrada no divórcio. Ivan foi embora e não vai mais voltar. Eu não queria te contar, mas ele tem outro.'
Victor o olhou surpreendido.
_ Eu tenho um amigo que viu um story de um amigo do Ivan. Ele estava beijando outro cara. Ele soube que estão juntos há meses. Mas, eu tô aqui do seu lado, suportando tudo por amor a você.
Perdido, triste e envergonhado, Víctor se deixou ser beijado pelo violinista. Acreditou na mentira contada por ele e se sentiu péssimo por acreditar ser um fardo para Ítalo.
_ Vamos ficar juntinhos? Eu preparei tudo isso para nós dois. Vamos dormir abraçadinhos e amanhã de manhã eu vou te levar um delicioso café da manhã na cama. Vamos, amorzinho?
Victor fez um sinal positivo com a cabeça.
Eles voltaram a se beijar. Ítalo o despiu lentamente, beijando todo o seu corpo.
Nu, Víctor fez o mesmo com o namorado e trocaram carícias até que Ítalo pediu para que virasse de costas. Pegou o lubricante e penetrou no loiro, enquanto mordia levemante e beijava as suas costas.
Victor estava tão triste, que não conseguia sentir prazer com o ato sexual. Apenas fechava os olhos e torcia para que o namorado gozasse de uma vez.
Era uma manhã de Sol.
Do alto dos seus saltos scarpins na cor preta e usando um típico conjunto de calça da mesma cor e blusa branca, ambos sociais, Fernanda aguardava no saguão do aeroporto, com o seu smartphone em mãos, próxima ao corredor de desembarque. Ao seu lado, Walace em seu uniforme formal de segurança falava no telefone com um dos funcionários da sua equipe.
Tudo aconteceu muito rápido. Desde o momento em que recebeu o e-mail de Renato até aquela manhã, em que os seus dois funcionários o aguardavam. Ivan precisou de três dias para organizar tudo e só então, entrou em contato, secretamente, com a tia a informando sobre o seu retorno. Deixou ordens expressas em que apenas ela e Walace tomassem conhecimento da sua volta e informou o horário e número do vôo sem escalas Nova York - Rio de Janeiro. Absolutamente ninguém na empresa e muito menos a equipe que cuidava da mansão Matarazzo deveria saber do acontecimento decidido de última hora.
Ao cruzar o portão de desembarque com outros passageiros, Ivan empurrava tranquilamente dois carrinhos onde ao todo estavam distribuídas cinco malas enormes de viagem. Usando óculos escuros, uma blusa marrom e uma calça jeans mais despojada com tênis preto, avistou as duas pessoas que o aguardavam e sorriu.
Tanto Fernanda quanto Walace não conseguiram esconder o espanto ao ficarem frente a frente com o patrão, no momento em que ele retirou os seus óculos.
Ivan Matarazzo era outro. Seu semblante estava mais sereno e tranquilo e acima de tudo, saudável e bonito. Bem diferente do homem que havia deixado o país nove meses atrás: magro, apático e emocionalmente doente.
- Olá, Fernanda. Oi Walace - cumprimentou os dois com um tom baixo na voz e de forma tranquila - Que bom revê-los.
- Seja bem-vindo de volta, doutor - o Chefe de Segurança deu as boas vindas ainda o olhando surpreso.
- Meu Deus, Ivan... - a secretária não acreditava no que via - Como você mudou!
- É, eu sei - e lhe deu um abraço, o que ela estranhou - Podemos ir?
- Cla- Claro! - ela concordou após voltar a si - Vamos sim!
- Eu ajudo com as malas - o segurança de imediato pegou os carrinhos empurrando em direção à saída - O carro está no estacionamento mas não muito longe.
- Obrigado, Walace.
Fernanda ainda estava admirada em vê-lo e seguiu ao seu lado a caminho do estacionamento. Após guardar toda a bagagem no porta-malas, Walace assumiu a direção do carro em que Ivan e Fernanda já estavam acomodados no banco traseiro. O empresário permanecia quieto e pensativo com a cabeça encostada no banco. Percebendo o silêncio em que o sobrinho se encontrava, decidiu não incomodá-lo. Nem munido do celular, ele estava. No momento em que Walace fazia a manobra para deixar o aeroporto, sentiu a mão do seu patrão sobre o seu ombro.
- Walace por favor, faça o trajeto até em casa pela orla. Quero ver as praias e as pessoas.
- Sim, senhor. Como quiser.
- Obrigado. E Fernanda, você não contou à ninguém sobre a minha volta, contou?
- Não, Ivan. Pode ficar tranquilo.
- Tá bom.
E suspirou profundamente voltando a se acomodar e com os olhos voltados para a paisagem. Em silêncio.
- Tem certeza de que não falta nenhum item do material de limpeza, Dora? A equipe responsável pela manutenção da casa virá amanhã e tudo deve estar comprado - Maria orientava a empregada da casa lhe dando as instruções na pequena e organizada sala de dispensa - Por favor, não podemos esquecer de nada!
- Não, Dona Maria. Está tudo comprado como a Senhora me passou - Dora lhe falou tranquilizando.
- Certo. Vamos voltar para a cozinha. Essa nova cozinheira está me dando trabalho.
- Ela é tão ruim assim, senhora? - as duas caminhavam pelos corredores da mansão - eu observo suas orientações pra ela mas não muito. Tenho o meu trabalho a fazer.
- Ela é esforçada e dedicada mas infelizmente não possui talento na cozinha. Com muita dor no coração, terei que dispensá-la. Ela está em treinamento há quase três meses e não acerta - lamentou - O Senhor Ivan possui um gosto muito refinado e vai sentir a diferença, quando voltar para casa, entre o jeito como eu cozinhava e o jeito dela.
- Uma pena ter que demiti-la.
- Sim, vou entrar em contato com a Fernanda e pedir uma carta de recomendação em nome da moça. Espero de coração que ela consiga outro lugar para trabalhar. Por mais que não seja habilidosa, ela precisa de um emprego.
Maria e Dora ouviram uma movimentação vinda da entrada da sala principal da mansão Matarazzo e não se espantaram.
- Deve ser o Walace. Vou falar com ele.
- Precisa de algo mais, dona Maria?
- Não, obrigada. Pode voltar ao seu trabalho.
- Certo. Com licença.
A jovem empregada seguiu na direção do segundo andar da mansão e a governanta caminhou até a sala. Ao ver as cinco malas sendo postas no chão pelo segurança e a pessoa que estava com Fernanda, Maria foi tomada por um sentimento de emoção e seus olhos marejaram. Pôs sua mão junto ao peito pois o ar estava lhe fazendo falta.
- Seu Ivan??? - o sorriso era estampado em seu rosto junto das lágrimas que rolavam sem parar. Ela o olhava sem acreditar - Como... Como assim??
No instante em que viu Maria, Ivan sorriu abertamente e foi em sua direção lhe dando um abraço caloroso, junto de vários beijos no topo da sua cabeça, que durou longos minutos.
- Como está a segunda melhor pessoa que já viveu debaixo da Mansão Matarazzo, hein? - O empresário perguntou ainda mantendo o abraço - Tenho certeza que nem sentiu saudades do chefe mais problemático que já teve, não é?
A governanta não conseguia responder tamanho era o choro de emoção. Abraçava Ivan como se fosse o seu filho. Os dois eram observados por Walace e Fernanda que mesmo sérios, estavam contentes com a cena.
- Seu Ivan, por que não me avisou sobre o seu retorno? - ela finalmente conseguia falar e o patrão enxugava as suas lágrimas - A casa nem sequer está em ordem para recebê-lo! O seu almoço! Santo Deus, vou ter que assumir a cozinha novamente depois de tanto tempo!
- Maria, não se preocupe! - O patrão fez questão de acalmá-la afastando-se do abraço - Eu decidi voltar de última hora. Somente a minha tia e o Walace sabiam do meu retorno.
- Deveria ter me avisado!
- Eu sinto muito. Fique sossegada que eu vou pedir comida por delivery. Continue fazendo tudo normalmente. Meu quarto está arrumado?
- Sim, Senhor. Faço questão de deixá-lo em ordem!
- Ótimo.
Um outro funcionário da equipe de segurança ajudou Walace a levar as malas do patrão para o quarto. Ivan observava silenciosamente tudo ao seu redor e suspirava. Diferente de Fernanda, Maria não conseguiu conter a curiosidade.
- Como o senhor está? Depois de tanto tempo...
- Tirando o cansaço das horas de vôo, Vivendo um dia de cada vez - ele a respondeu se sentando no sofá, encostando a cabeça com os olhos fechados, no que Fernanda se aproximou sentando-se ao seu lado.
- Vai à empresa hoje, Ivan?
- Não, tia. Pode segurar tudo por lá? - ele pediu esfregando os olhos - Amanhã eu retorno. E continue mantendo silêncio sobre mim.
- Tá certo. Precisa de alguma coisa?
- Não - ele olhou na direção da tia - Gael e Luíza como estão? - perguntou, mesmo sabendo por alto como a meia irmã estava a partir do email do Renato.
- Está trabalhando feito doida, mas está mais feliz do que nunca! É outra pessoa . - ela respondeu sorrindo - A cafeteria é um sucesso! E já está com planos de abrir uma filial. Mas isso leva tempo, você sabe. E o Gael, também está ótimo. É o melhor funcionário da equipe de publicidade da empresa. A chefe dele não o larga de jeito nenhum. Tive o prazer em conhecê-la.
Ivan olhava com atenção a felicidade com que a tia contava sobre a sua meia irmã e seu primo. Voltar para casa e saber que todos aqueles, que um dia prejudicou, estavam bem era o bastante. Estava feliz? Talvez, mas tinha certeza de que se sentia aliviado.
- Que bom, tia. Notícias assim tranquilizam meu coração. É uma cicatriz que se fecha dentro dele.
Maria e Fernanda se entreolharam e entenderam o que o patrão quis dizer. Haviam muitas cicatrizes dentro do coração de Ivan, mas era impossível para elas duas, saberem quantas delas estavam fechadas em definitivo.
- Toda a bagagem já está no seu quarto, patrão - Walace anunciou após descer as escadas com o seu colega da segurança no que Ivan assentiu.
- Não se preocupe! Vou com a Dora agora mesmo desfazer suas malas e arrumar tudo do jeito que o senhor gosta! - Maria se prontificou.
- Quem é Dora? - o jovem Matarazzo perguntou curioso.
- É a nova empregada da casa. Quero dizer, nem tanto. Eu a contratei umas duas semanas depois que o senhor embarcou. É jovem, muito competente e atenciosa.
- É de confiança? - ele questionou de um jeito sério.
- Total confiança! Seus pontos fortes fortes são a discrição e trabalhar direito. Se parece muito comigo quando comecei aqui.
- Perfeito. Se você confia nela, eu fico despreocupado - falou levantando-se do sofá - Bom, vou tomar um banho. Podem voltar ao que estavam fazendo e Maria...
- Pois não Senhor?
- A moça nova é de total confiança como disse mas por favor, vá apenas você até o meu quarto e me ajude com as malas. Ela ainda ¹¹é uma estranha pra mim e eu não vou me sentir à vontade. Depois disso, me apresente à ela.
- Como quiser! - Maria afirmou com a cabeça.
A governanta, o segurança e o chefe da equipe saíram e voltaram ao seus afazeres. Fernanda encarava o sobrinho e gostava do que via. Sentia realmente que Ivan estava mudado.
- Vou voltar para a empresa. Estarei no celular se precisar de algo - Fernanda o comunicou ficando em pé se dirigindo à porta de saída.
- Está tudo bem por lá?
- Absolutamente tudo bem.
- Obrigado, tia.