Capítulo 61
Desde que voltou de viagem, Ivan não conseguia se conectar com a mansão. Nada mais o agradava na casa. Os móveis, a decoração, a arquitetura, o enorme jardim, a quadra de esportes, a grande piscina e tudo que havia ali foi escolhido pelos seus pais. As personalidades deles estavam em cada detalhe e em nada Ivan se identificava.
Desde que herdou a mansão, nunca havia parado para prestar atenção sobre isso. Aconteceram tantas coisas na sua vida que nunca parou para refletir.
Pensou que não havia mais necessidade de viver numa casa de quatro andares, repletas de luxos exagerados. Para ele e Victor uma casa um pouco menor bastaria.
Ivan desejou ter uma casa onde se sentisse num lar. Onde ele e o seu Solzinho se identicassem e se sentissem confortáveis.
Pensou em mudar de cidade. Victor vivia dizendo que amava viver em Niterói, a cidade que morara desde que nascera.
Víctor era apaixonado pelo mar. Ivan amava vê os lindos olhinhos azuis do seu Solzinho brilhando diante da imensidão das águas marítimas. Concluiu que Victor ficaria feliz em viver numa casa em que tivesse a praia como vista da janela.
A cada dia em que passava na mansão sentia-se mal, incomodado e que ali não era o seu lugar.
Pediu para que Fernanda entrasse em contato com uma corretora de imóveis pedindo que os oferecessem belas casas na cidade sorriso, que fossem perto da praia.
Imaginava-se sentado numa cadeira de balanço na varanda da sua casa, assistindo o pôr do sol abraçando o seu grande amor.
Apesar de estarem separados e de tudo que fez, Ivan tinha convicção de que recuperaria o seu Víctor. Estava determinado a salvar o seu casamento, lutando com unhas e dentes para isso.
A corretora o levou para conhecer vários imóveis luxuosos em Niterói e Ivan escolheu dois entre eles, que fossem confortáveis, belos, não pequeninos, mas também não de tamanhos exagerados, ou seja, de tamanho ideal para um jovem casal.
_ Esta casa é perfeita para que o senhor está procurando. E ainda temos a sala de cinema, que o senhor fez questão de ter. A vista é linda._ disse a corretora, numa casa em Itacoatiara.
Ivan caminhava pelo local, olhando cada detalhe.
_ A casa é linda mesmo. O lugar também é perfeito, mas a de São Francisco também me agradou. Vou consultar o meu marido. Ele dará a palavra final.
_ Oh, com certeza! O senhor me disse que ele gosta de praia e sossego. Eu faço a minha aposta que ele gostará mais desta.
_ Também acho. Esta é a carinha dele._ Ivan disse sorrindo.
_ Os senhores pretendem ter filhos?
Ivan ficou pensativo diante da pergunta da mulher. Nunca havia cogitado a possibilidade de ser pai. Imaginou o quão bom seria ter um filho com Victor. Olhou para a casa e imaginou uma linda menininha loira como o Víctor correndo e sorrindo pelo local. Abrindo os pequenos bracinhos para recebê-lo quando chegasse da empresa.
Teria a oportunidade em dar a criança o amor que não recebera dos pais. Isso o fez sorrir, sentindo uma paz interior.
_ Sabe que eu nunca tinha pensado nisso? Mas, agora me deu uma vontade imensa de ser pai. O meu marido é um anjo. Seria um ótimo exemplo na educação da nossa filha.
_ Então, o senhor deseja ter uma menina? Que legal! Se me permite, eu faço trabalho voluntário nesse orfanato. Se o senhor quiser fazer uma visita com o seu companheiro. _ Ela disse entregando um cartão de visita a Ivan, que olhou por alguns instantes sorrindo e guardou no bolso.
_ Eu vou falar com o meu marido. Eu vou te ligar marcando a próxima visita para que ele possa escolher a casa.
_ Que maravilha! Estarei aguardando.
Durante os nove meses que viveu fora do Brasil a saudade de Víctor era constante. A dor da distância era quase insuportável.
Tentava preencher o tempo se dedicando aos estudos e indo à festas com amigos. Mas, não era bem sucedido.
Desejava ligar para o menino, ouvir a sua voz, voltar correndo para o país, procurá-lo e implorar pelo seu perdão. No entanto, decidiu se conter. Sabia que ainda não tinha condições psicológicas para uma reaproximação e isso poderia causar sofrimento a Victor.
Quando o desejo batia, tentava procurar prazer em outros corpos, mas não obteve satisfação. O seu corpo implorava por Victor.
Um vez, contratou um garoto de programa com as mesmas características físicas e idade de Víctor. Marcou o encontro num luxuoso hotel.
Contudo, ao vê o rapaz nu, sentiu-se péssimo.
_ Não sei o porquê ainda tento me enganar. Você não é o meu Solzinho.
O rapaz o olhava com estranhamento por não entender as palavras ditas em português por Ivan. Ele dispensou o rapaz sem tocá-lo, mas pagou o programa.
Também sentia saudade de Renato. Lamentava não poder estar no seu casamento.
Decidiu procurá-lo na concessionária, numa manhã de segunda-feira. Estava temeroso de encontrar Andréia no local e isso causar transtorno ao amigo. Por isso, ligou para Renato marcando uma reunião as escondidas.
Renato o recebeu com extrema facilidade. Estava louco de saudades.
Abraçou-o sorrindo, permanecendo em seus braços por alguns segundos. Ficou satisfeito em vê-lo com uma boa aparência.
_ Você está ótimo, Ivan! Até mais bonito como de costume! E olha que eu achei que isso seria impossível! Como essa viagem o fez bem!
Ivan se esforçou para conter a emoção.
Eles foram a um bar ao lado da loja, onde conversaram muito. Renato falou sobre o quanto a sua vida mudou depois da partida de Ivan. Falou do casamento, da lua de mel, dos negócios e do seu sagrado Flamengo.
Ivan também narrou pouco sobre a sua vida, dizendo apenas o básico. Não queria estragar a conversa falando sobre suas mazelas.
Depois de algum tempo, perguntou por Víctor e Renato contou tudo sobre as mudanças na vida do menino e o seu conturbado relacionamento com Ítalo.
Ivan sentia muita raiva ouvindo sobre o tema, o semblante era de preocupação.
_ Tudo isso é culpa minha. Se eu não tivesse feito o que fiz, o Víctor jamais estaria com aquele cretino. E que desgraçado! O Víctor é maravilhoso! Tê-lo é uma dádiva. É sempre bondoso, carinhoso e gentil, como aquele desgraçado se atreve a fazê-lo sofrer?
_ Ninguém mais aguenta essa situação. Nem mesmo a família que era a favor no início não suporta mais o Ítalo. Ele enganou a todos pagando de bom moço. Ele é manipulador de um jeito cruel.
_ Eu sei bem como ele é. Já caí muito no joguinhos dele. O cara fazia de tudo para me irritar e eu saía como o desuquilibrado e ele como a minha vítima. Eu tô ligado.
_ E o que você pretende fazer?
Ivan o olhou sorrindo, arqueando a sobrancelha .
_ Inverter os papéis.
Renato o olhou desentendido.
_ Jogar com as mesmas cartas que ele joga com as pessoas.
_ Como assim? Não entendi.
_ Você vai entender. E mudando de assunto, e o meu amorzinho? Está trabalhando hoje?_ Ivan perguntou animado.
_ Sim. A essa hora ele já deve está na loja. Você quer vê-lo?
Ivan sorriu.
_ Eu preciso pedir um favor a ele.
Renato sorriu.
_ Vocês têm muito que conversar.
A concessionária estava vazia de clientes naquela hora da manhã. Victor estava sentado, apoiando o queixo na palma da mão, pensativo com uma expressão serena e sorridente.
_ Com essa cara feliz só pode tá pensando na pica do Léo Stronda._ disse Virgínia, sentando ao lado do amigo.
_ Seria um ótimo pensamento, mas desta vez não estou. Sabe Virgínia, esta noite eu tive um sonho maravilhoso! Sonhei que era pai de uma linda menininha loira. Ela era encantadora! Tinha uma gargalhada gostosa de criança pequena e uns olhinhos verdes como os da minha mãe e os cilícios grandes como os do Ivan.
_ Ih, amigo, será que você tá grávido? O problema será na hora de parir.
_ Você e as suas piadinhas bobas como você.
Helena, a gerente, se aproximou dos dois e eles levantaram imediatamente com medo de levar um sermão.
_ Morcegando de novo, né? Vocês são demais. Estou de olho.
_ Ah, Heleninha, só um pouquinho. A loja tá vazia._ disse Virgínia fazendo beicinho.
_ Tudo bem. Vou fingir que não vi. Víctor, o Renato quer falar contigo. Disse que está chegando e quer que você o aguarde no escritório dele.
Victor estranhou e, ao mesmo tempo, ficou curioso.
O tempo caminhava a passos lentos. Para não ser consumido pelo tédio, Víctor jogava no seu smartphone.
Ouviu a porta se abrir lentamente. O perfume francês pairava no ar, fazendo o seu coração bater acelerado. A ansiedade pulsava no seu peito, sentindo a presença tão desejada.
Sorriu e olhou para trás.
Foi dominado por um golpe de felicidade ao ver Ivan diante de ti sorrindo, vestindo uma calça jeans preta rasgada nos joelhos, uma blusa social de mesma cor dobrada até o antebraço e os belos cabelos negros brilhosos.
O loiro não conseguia reagir com racionalidade. As lágrimas escorreram com intensidade. Abraçava a si mesmo, com a cabeça abaixada, soluçando de tanto chorar.
Ivan sentia uma alegria imensa em ver o seu grande amor. Estava ainda mais lindo de quando se fora. Havia cortado o cabelo e conseguia mover a mão defeituosa, o que deixava Ivan extremamente feliz.
Ambos sentiram os seus corações serem preenchidos por ternuras. Uma conexão se estabeleceu entre eles e os seus corpos se atraíram como imãs num abraço caloroso.
_ Meu Solzinho!
Victor nada conseguia dizer, apenas o abraçava forte, desejando que nunca mais partisse.
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