Capítulo 2 - Uma pessoa horrível
Gabriel sentia-se uma pessoa horrível por manter os dois compromissos para o mesmo dia e horário. Pior ainda, ele que havia marcado um deles. Em sua defesa, repetiu a si mesmo que o tesão que sentiu enquanto falava com o Dragão o fez esquecer completamente do combinado com o rapaz da noite anterior. Era uma péssima desculpa, sabia disso, mas ateve-se a ela.
Ficou imaginando o que faria. Por um lado, odiava quando o dispensavam em cima da hora com uma desculpa fajuta, ou simplesmente sumiam sem dar qualquer satisfação, justamente o que estava se arriscando a fazer com um deles. Ao mesmo tempo, pelas suas experiências anteriores, era muito raro marcar algo com antecedência pelo Grindr e o encontro realmente acontecer. Nesse meio tempo, o Dragão poderia lhe dar ghosting, não falar mais nada ou até mesmo bloqueá-lo. O outro rapaz parecia algo mais garantido.
Teria sido mais maduro, mesmo que não muito honesto, ter respondido no dia anterior, »»Então, Thiago, eu acabei de me lembrar que tenho um compromisso amanhã de noite, podemos remarcar para depois de amanhã? E sim, podemos trocar whatsapp««. Arriscaria ficar sem trepar naquela noite, porém ao menos faria a coisa certa. Mas Gabriel apenas mandou o número e um emoji sorrindo.
Uma pessoa horrível, de fato.
Chegou em casa naquele dia no horário do almoço, um pouco exausto das aulas, e encontrou Guilherme sozinho na sala, jogando vídeo game, as pernas cruzadas sobre o sofá, o controle nas mãos e a postura ereta. Assim que Gabriel entrou, o companheiro de apartamento pausou o jogo e levantou-se, vestido apenas com uma samba canção dos Vingadores, exibindo displicentemente o corpo musculoso, bronzeado e depilado, esculpido em muitas horas de musculação e natação. Guilherme o cumprimentou com um abraço.
— Opa, e aí? Quer jogar? — Gabriel encarou o jogo de futebol na televisão. Conteve a revirada de olhos.
Nas quase duas semanas desde que havia se mudado, Guilherme fora com quem mais teve contato, pois era o que mais ficava em casa. Era um rapaz expansivo e também o mais desinibido dentre os moradores, provavelmente pela certeza de que, sendo facilmente considerado bonito, com seu corpo escultural e os cabelos lisos e meio despenteados, ninguém se importaria com o fato de Guilherme andar de toalha pela casa, viver de cueca sem camisa e sorrir toda vez que perguntava se Gabriel queria comer, jogar vídeo game ou se já estava de saída.
— Não, valeu, estou morrendo de fome. Vou só trocar de roupa e vir comer.
Entrou no quarto e fechou a porta. Estava ansioso. Passara o dia olhando o Grindr, esperando que o Dragão mandasse a localização, mesmo sabendo que ele mandaria apenas às dezoito horas. Viu o perfil dele online algumas vezes, em diferentes distâncias. Segurou o ímpeto de mandar mensagem, para não parecer ainda mais desesperado.
No Whatsapp, após contar seu dilema a Pedro, o amigo concordou que Gabriel adotara a melhor estratégia em ter um plano reserva, mas que deveria ao menos sinalizar para Thiago que o encontro poderia não acontecer. »»Já prepara o terreno pra desculpa, amigo««. Também no Whatsapp, Thiago perguntou se ele tomava vinho. Respondeu a este que sim, ignorando o conselho do amigo de longa data e sentindo-se um pouco mais culpado.
Pensou em desmarcar com o Dragão. Entrou no perfil e viu novamente as fotos dele. Era um homem grande. Não era exatamente musculoso, mas parecia maciço, como uma montanha. Usava o cabelo curto. Sentiu o pau começar a endurecer, mas foi salvo por uma notificação que apareceu na tela, com seu pai perguntando se Gabriel tinha dinheiro para o fim de semana.
Largou o celular. Trocou a calça jeans por um short vermelho e a camisa branca por uma regata amarela estampada com abacaxis, uma roupa de casa, já que não teria mais aulas naquele dia. Na sala, o jogo continuava pausado. Guilherme estava na cozinha, esquentando sua comida no microondas.
— Tá servido? — Imaginou o que o rapaz faria se Gabriel respondesse que sim. Afinal, Guilherme encomendava sua comida em porções exatas em um programa de nutrição esportiva.
— Ah, eu vou fazer meu almoço agora. Mas obrigado.
— Tranquilo. Já tô acabando aqui com o microondas.
—Não, vou usar o fogão mesmo, se preocupa não.
Gabriel pegou os ingredientes e preparou a mesa com tudo o que precisaria, organizando também os utensílios e temperos. Gostava bastante de cozinhar e, se tivesse tempo, faria comida todos os dias. Mas, mesmo quando ainda morava com sua mãe ou passava alguns dias com seu pai, a rotina das casas era muito corrida, pois ambos trabalhavam, e Gabriel estudava e fazia estágio desde a época da escola.
Assim, durante sua infância e adolescência, a família de Gabriel tinha a tradição de preparar aos domingos as porções de comida para toda a semana, deixando para fazer no dia apenas os acompanhamentos frescos. Ao se mudar, planejava manter esse hábito, mas infelizmente, com a nova cidade e rotina, não conseguira cozinhar neste último fim de semana. Assim, resolveu preparar um filé de lombo suíno com cebola e curry e uma salada de grão de bico como acompanhamento.
Cozinhar era um ritual para ele. Um ritual que estava sendo arruinado por Guilherme, que esperava a refeição de muita proteína e pouco sabor terminar de aquecer, sentado na mesa da cozinha, assobiando.
— Está gostando daqui? — Guilherme quebrou o silêncio no momento em que Gabriel cortava e temperava o lombo.
— Olha, tem sido legal. Sinto bastante falta dos meus amigos e era mais fácil morar na casa dos meus pais, mas está sendo muito bom morar sozinho — e bem mais fácil transar, quase completou.
— Legal. Eu moro sozinho desde os dezoito anos, né? Nem sei mais como seria morar com minha mãe. Já tem quase um ano que não volto lá em casa. Da última vez, ela veio aqui. Acho que ela ia gostar de você, sabia?
— É? Bem, na minha cidade eu era famoso por ser o amigo que as mães gostam e confiam. Vamos ver se continuo tendo esses superpoderes aqui.
— Esses são os piores. Têm cara de santinho mas aprontam muito. — Guilherme riu do próprio comentário no mesmo momento em que o microondas apitou.
— Não confirmo nem nego essa informação.
— Bem, vou comer. Qualquer coisa, só chamar, ok? Sei como é estar sozinho numa cidade longe de casa.
— Tá certo. Obrigado.
Assim que Guilherme saiu da cozinha, Gabriel retirou o celular do bolso, afoito. Abriu outra vez o Grindr. Nenhuma nova mensagem. Deixou o aparelho sobre a bancada e continuou a preparação. Mais alguns minutos de silêncio e concentração, até que Guilherme voltou, jogou a embalagem plástica no lixo, abriu a geladeira, elogiou o cheiro da comida e retornou para a sala. Pelo barulho, recomeçou a partida de futebol no vídeo game.
Gabriel terminou o almoço. Já prevendo que chegaria em casa tarde, seja qual dos encontros fosse comparecer à noite, deixou o jantar pronto em uma vasilha guardada na geladeira. Ouviu o grito de Guilherme na sala ao fazer um gol no time adversário e achou melhor comer no quarto.
Sentado na escrivaninha, olhou pela janela. Era um dia claro, com poucas nuvens. Não fazia frio ou calor. Thiago estava online. Gabriel deveria mandar uma mensagem para ele, cancelando. Quase sem perceber, terminou de almoçar, enquanto alternava entre Twitter, Instagram, Grindr e até mesmo o abominável Tinder.
Tinha dois textos para ler ainda, sendo que deveria apresentar o relatório de um deles na aula da manhã seguinte. Tentou se concentrar, mas achou o quarto sufocante. Guardou as fotocópias dos textos e material na mochila e resolveu estudar no parque ecológico, próximo de casa.
***
A tarde de estudos de Gabriel rendeu bastante. Conseguiu estudar e também chupou um rapaz mais novo, de cerca de vinte e poucos anos, que estava fazendo uma corrida pela pista, só de short preto, tênis, boné e óculos escuros, exibindo o corpo magro e definido. O rapaz passou por Gabriel três vezes, na primeira vez com um sorriso safado, nas duas seguintes apertando o pau.
Ao perceber o interesse, Gabriel usou a teoria de Pedro de manter o olhar por três segundos. Encarou o rapaz, que correspondeu. Gabriel o seguiu pelas trilhas. No meio das árvores, em um lugar com várias embalagens de camisinhas abertas jogadas no chão, o outro rapaz já o esperava de pau duro para fora. Gabriel se agachou e, sem nenhuma palavra, começou a chupá-lo.
Deixou, entretanto, de responder Thiago que, às quatro e trinta e seis da tarde (no mesmo horário em que Gabriel estava mamando o novinho na mata), perguntou se estava tudo certo para mais tarde. Visualizou a mensagem apenas pela barra de notificações, e se sentiu mal, depois.
Quando eram cinco horas da tarde, voltou para casa e começou a se preparar. Fosse encontrar com o Dragão ou com Thiago, pelo menos sabia que iria dar para alguém essa noite. Torcia pelo Dragão, mas não sabia bem o que esperar, ou mesmo porque estava tão ansioso. Fora uma conversa breve. Não pediu sequer fotos, não sabia sequer se ele era daquele jeito mesmo. Imaginou a decepção que sentiria se o Dragão fosse mais uma pessoa usando fotos falsas ou antigas.
No Grindr, visitou o perfil dele mais algumas vezes e começou a desconfiar de que ele não responderia. Ficou tentado a mandar uma mensagem. Decidiu que, se o Dragão não falasse nada, Gabriel também não falaria, e iria para casa de Thiago.
Depois pensou que talvez realmente deveria mandar uma mensagem para o Dragão. Ou então, esperar passar quinze minutos do horário e falar com ele. Faltando cinco para as seis, já tinha um texto pronto na cabeça sobre o desrespeito com o tempo do outro e sobre como era desnecessário dizer que ia marcar algo e desaparecer daquela forma.
Porém, às dezoito horas em ponto, recebeu a localização. O coração de Gabriel acelerou. Outra mensagem veio em seguida, com o endereço completo e, »»Te aguardo às 19h. Há alguma dificuldade para chegar?««
Verificou a localização pelo GPS. Um prédio na zona nobre da cidade, pouco mais de três quilômetros de distância dali. »»Não, só pegar um uber. Quer que eu leve algo, ou vá de algum jeito especial?««.
»»Venha para ficar disponível pela noite. E, se tiver uma jockstrap, vista aí e venha com ela também. Ao chegar, peça na portaria para subir ao apartamento do Senhor Ivankov.««
Gabriel tinha procurado algumas coisas para comprar online, inclusive jockstrap, agora que não teria que dar explicações do que recebia pelo correio. Mas ainda não havia superado a vergonha de fazer esse tipo de compras, e tinha medo do que os companheiros de apartamento poderiam pensar se vissem.
»»Sim, gostoso. Mas eu não tenho jockstrap.««
»»Apenas venha. Vou providenciar o que quero. Estou no aguardo.««
»»Até logo.««
Gabriel permaneceu encarando o celular por alguns instantes, o corpo ainda tremendo. Abriu o Whatsapp.
»»Oi Thiago. Tudo bem? Então, aconteceu um imprevisto…««
Mestre B.
***
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