Capítulo 10
A toalha azul marinho envolvia os seus quadris. Na pele alva, havia algumas gotículas de água do banho e ela exalava um cheiro delicioso de sabonete. Os cabelos negros estavam molhados e se moviam conforme andava.
Jonas o avistou saindo do banheiro, caminhando em direção ao quarto de hóspedes.
Dani arregalou os pequenos olhos. Não esperava encontrá-lo no corredor, mas, internamente, ficou feliz em ver que Jonas o viu semi-nu.
_ Desculpe, eu não sabia que você estava em casa!
Jonas permaneceu parado olhando para o corpo de Dani. Estava em transi imaginando o que havia por baixo da toalha.
Dani percebeu o olhar do empresário e quis tirar proveito da situação.
_ Jonas, já que eu te encontrei. Você poderia me ajudar?
_ Se tiver ao meu alcance.
_ Eu comprei um sabonete novo. Mas, não estou seguro se o cheiro é agradável para os outros. Eu estou um pouco resfriado e o meu olfato está um pouco fraco._ Dani se aproximou de Jonas esticando o pescoço para que ele cheirasse. _ O cheiro é bom?
Aquele pescoço branco e magro cheirando a ervas campestres, deixou Jonas sedento por beijá-lo. Imaginou-se desfrutando com a língua e beijos. Percorrendo as mãos pelas costas e arrancando aquela maldita toalha.
Reprimiu-se em pensamento por desejar outro homem que não fosse o seu marido. Afastou-se da tentação pecaminosa em forma de um belo oriental.
_ O cheiro é bom. Eu tenho... que ir... ir para o meu quarto...
Jonas saiu às pressas, nervoso. E Dani sorriu, pondo a ponta do dedo indicador na boca.
Bruno estabeleceu uma tradição em sua casa. Toda sexta-feira reuni os amigos em sua casa para uma festinha. Eles fumam Narguilé e consomem cervejas ou vinhos. Como petiscos, ele procura oferecer um cardápio variado. Há dias que é pizza, outras churrascos e etc.
O escolhido da vez foi comida japonesa.
Bruno temia que Jonas não estivesse presente como não fazia há um bom tempo. Cabendo a Bruno esgotar o seu repertório de desculpas, para justificar para os amigos a ausência do marido.
Novamente, Jonas havia voltado a se dedicar ao trabalho, o negligenciando. Fazia algumas semanas que o casal não tinha uma noite amor.
Só via Jonas antes de dormir e quando acordava. Muitas vezes, Jonas não jantava em casa alegando não ter fome por ter comido algo na rua.
Todos já haviam chegado e Bruno não conseguia conter a preocupação expressa na sua face. O que foi percebido por Olivia.
_ Você parece tenso, Buba. Aconteceu alguma coisa?
_ O de sempre. Eu pedi muito pro Jonas vir. Mas, pelo visto ele vai faltar de novo._ Bruno disse olhando para o relógio.
_ Eu super te entendo. Rafa está no mesmo caminho que o meu irmão. Só pensa em trabalho e ganhar dinheiro. Não tem tempo pra nada. Sexo lá em casa virou raridade. Menino, tem dias que eu subo pelas paredes.
_ É cunhada, estamos no mesmo barco furado.
Dani ouvia atento. Festejava por Bruno não estar feliz no casamento. Ele não achava justo que Bruno tivesse uma vida perfeita e ele não. Por isso, se alegrava com qualquer tipo de frustração que o chefe poderia ter.
Para o alívio de Bruno, Jonas chegou a tempo de receber os amigos e aproveitar um pouco a noite.
A semana seguiu e Jonas cada vez mais focado no trabalho. Estava muito satisfeito com os lucros das suas empresas. Ele e Rafael já cogitavam em expandir a pizzaria, abrindo outra franquia.
Bruno estava muito insatisfeito com a negligência do marido. Temia ter perdido o seu amor e não despertar mais o seu interesse.
À noite, enquanto tomava banho, Bruno recordou que tinha que mandar uma mensagem para Duda sobre algo do trabalho. No entanto, havia se esquecido de pôr o celular para carregar a bateria.
Saiu do banheiro enrolado na toalha. Quando chegou no quarto, encontrou Jonas deitado, sonolento, vestindo somente uma cueca boxer preta.
Bruno sentou ao seu lado.
_ Amor, você poderia me emprestar o seu celular? Eu preciso mandar uma mensagem para a Duda e o meu está descarregado.
Jonas apontou para o criado mudo, mostrando o aparelho.
Bruno e Jonas sabiam as senhas dos celulares um do outro. Enquanto digitava a mensagem para Duda, ele ficou cabreiro com a seguinte mensagem, que chegou no mesmo instante:
"Valeu pela noite de ontem. Foi a melhor da minha vida.❤"
Para o espanto de Bruno, a mensagem era de Rafael.
_ Jonas! Jonas!
_ Ham!
_ Acorda, Jonas!_ Bruno o sacudia nervoso.
_ O que foi?_ Jonas perguntou sonolento, sem abrir os olhos.
_ O significa isso?
Bruno apontou o celular para Jonas, que abriu os olhos e sorriu.
_ O filha da puta do Rafa está me zoando porque eu perdi uma aposta.
_ Que aposta, Jonas?
_ Uma aposta que fizemos.
_ Que aposta, Jonas?_ desta vez Bruno perguntava com firmeza na voz.
_ Ah, cara! É sobre futebol! Você odeia futebol. Não vai se interessar. Por que você tá com essa cara?
Bruno cruzou os braços e o olhou sério.
_ Eu acho estranho o teor da mensagem e ainda haver um emoje de coração. Isso não é jeito de um cunhado falar com o outro.
_ O que você está insinuando?
_ O que você acha que eu estou insinuando?
_ Ah, Bruno! Não vai brincar de Matheus agora, né? Você tá velho pra isso.
_ Eu odeio quando você me compara ao Matheus!
_ O Rafael é meu amigo há anos, é hétero e é o meu cunhado. Tu acha que sou tão canalha de te sacanear e sacanear a minha irmã? Porra, Bruno! Eu trabalhei o dia inteiro! Chego em casa com a intenção de descansar e você fica de gracinhas?
Bruno se sentiu ridículo pela cena de ciúmes e por ter desconfiado do marido com o seu melhor amigo hétero.
_ Você tem razão. Me desculpe?
Jonas sorriu. Segurou no queixo de Bruno e o beijou.
_ Você não precisa ter ciúmes de ninguém. Você é o grande amor da minha vida. Meu bebezinho.
_ Eu sinto a sua falta. Você passa tanto tempo no trabalho que...
Jonas pôs o dedo indicador entre os lábios do marido.
_ Amor da minha vida, eu estou com um projeto de abrir uma nova pizzaria. Creio que isso se concretize daqui a dois meses. Assim que eu estrear a nova pizzaria, nós vamos viajar.
Um sorriso iluminou o rosto de Bruno.
_ Sério, meu amor?! E pra aonde vamos?
_ Pra aonde você quiser. Inclusive, já pode preparando o roteiro e pesquisando a agência de viagens do seu gosto.
"Eu sei que tenho andado ausente, mas você é a minha preciosidade. Vou compensar tudo isso na nossa segunda lua de mel. Tá bom, bebê? Agora me dar aquele beijinho gostoso, que só você sabe dar."
Um beijo molhado celou a paz entre o casal. Dormiram abraçadinhos, aconchegados na cama.
Do outro lado da porta, Daniel ouviu toda a conversa do casal sorrindo.
A mesa do café da manhã já estava posta quando Dani desceu as escadas. Encontrou Bruno sentado a mesa digitando no notebook.
Dani passou por Neide com um sorriso sarcástico lhe dando bom dia. Ela o olhou de baixo para cima e empinou o nariz indo para o cozinha sem responder ao cumprimento.
_ Bom dia, meu querido!_ Dani o saudou, sentando ao seu lado e lhe dando um beijo no rosto.
Reparou que Bruno estava risonho.
_ Que carinha ótima! Presumo que dormiu muito bem._ Dani disse passando manteiga na fatia de pão.
_ Eu e o Jonas vamos ter uma segunda lua de mel!
_ Sério?! Como fico feliz por isso! Ah, vocês dois são tão fofos! O amor de vocês é tão puro que irradia em mim. Hoje em dia, é tão difícil casais se amarem assim, ainda mais no nosso meio. E onde será essa lua de mel?
_ Eu estou em dúvida entre Amsterdã ou Grécia.
_ Que dúvida cruel!
"Você não vai a lugar nenhum, seu mongol." Pensou Dani, olhando sorrindo para Bruno.
_ Eu gostaria de fazer uma pergunta. Há quanto tempo o Jonas e o Rafa são amigos?
_ Desde que são crianças. Eles se conheceram no ensino fundamental. Estudaram na mesma escola. O Rafa era apaixonado pela irmã mais velha do Jonas, mas ela não dava bola pra ele, por achá-lo um pirralho. Aí a Olívia era a fim dele, e ele a achava muito pirralha.
"Resultado: a Olívia cresceu, perdeu o interesse pelo Rafa e ele teve que lutar para reconquistá-la."
_ Então é uma amizade de longa data? E muito firme, porque ambos são sócios.
Bruno o olhou desconfiado.
_ Por que você está interessado nesse assunto?
Dani abaixou o olhar, aparentando medo.
_ Daniel! Olhe pra mim!
_ Não é nada. É só curiosidade mesmo.
Dani o olhou como se quisesse dizer algo, deixando Bruno ainda mais desconfiado.
_ Daniel, se você sabe de alguma coisa me diga. Eu não aceito ser feito de idiota.
_ Eu... bom... Eu não sei se devo dizer. Eu gosto de você, Bruno.
_ O que você tem a dizer?
_ Eu posso ter visto errado.
_ O que, Daniel?!_ Bruno perguntou nervoso.
_ Eu não quero causar intrigas. Talvez, eu tenha visto errado. Mas, por outro lado, você foi tão bom pra mim! Me abrigou quando eu mais precisei. Não é justo que você não fique por dentro do que está acontecendo.
_ Fala logo!
_ Você promete que não conta pra ninguém sobre o que eu vi?
_ Prometo! Fale logo!
_ No dia da festinha, eu quis ir ao banheiro. Como o daqui de baixo estava ocupado, acabei indo no do seu quarto. Ao entrar, vi que Rafael e Jonas estavam lá dentro. Eles ficaram desconcertados ao meu ver. Eles não estavam fazendo nada. Mas, eu achei estranho os dois dividindo o mesmo banheiro.
Bruno ficou sério, aparentando nervosismo.
_ Você é um homem bonito e atraente, com todo respeito. O Jonas é sortudo em te ter como marido. Além do mais, você é inteligente, educado e muito agradável. Eu não entendo como o Jonas troca a sua companhia pela a do Rafa, já que passam a maior do tempo juntos. Até a Olívia está reclamando da ausência do marido.
_ Eu nem sei o que dizer, Dani.
Para Bruno tudo fazia sentido. Ele ligou a informação de Dani ao comentário de Olívia e a mensagem mal explicada no celular.
_ Eu não acho justo que você fique nessa situação. Você é um homem decente e fiel ao seu marido. Talvez, o Jonas também seja fiel a você. Mas, não merece ficar com essa dúvida, que pode te incomodar.
_ Essa dúvida me incomoda sim. Eu amo o meu marido... não quero acreditar que ele seria capaz de...
_ Peço que não me leve a mal. Posso te dar uma sugestão?
_ Diga.
_ Não recomendo que pergunte nada ao Jonas. Se ele for inocente pode ficar ofendido e se for culpado, inventar uma mentira.
_ O que devo fazer? Não posso ficar desse jeito.
_ Eu conheço um ótimo detetive particular. Ele é super discreto e muito competente. Entregue nas mãos dele. E assim você se livra da culpa e não ofende o Jonas.
_ Ah, eu não sei se devo...
_ Eu vou te passar o número. Aí fica a seu critério se vai contratá-lo ou não.
Dani passou o número de contato do detetive para Bruno via Whatsapp.
_ Bom, agora tenho que ir para a redação. Tenho que preparar os relatórios que a Duda me pediu. Você vai pra lá hoje?
_ Mais tarde.
_ Ok. Até mais, honey.
Dani se despede de Bruno com um beijo no rosto e sai mastigando uma maçã.
Bruno permaneceu com os olhos fixos na tela do celular olhando para o número do detetive Dario.