Sinopse: Sentir a chateação de um, tomar conhecimento dos sentimentos e rejeitar o convite do outro... Tudo isso faz com que Nívea se sinta em um labirinto sem saída. Mas nada melhor do que o verdadeiro amor e carinho de alguém especial para aliviar a angústia em seu coração.
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Dei um salto na cama ao receber de novo a chamada. Procurei ficar calma e arrastei a tela aceitando a ligação.
- Oi.
- Jantar sábado à noite, carona para casa após a aula e depois? - a voz do outro lado soava ríspida e com ironia - Qual o próximo passo?
- Você me viu indo embora?
- É, eu vi! Quando eu cheguei na portaria, vi você com o seu mais novo amigo, - falou com deboche a última palavra - um outro homem e os três entraram no carro!
''Então foi por isso que ele me telefonou quando eu já estava dentro do carro, indo embora...
- Foi só uma carona, Eric... - falei com calma - o Frederik e o motorista dele foram muito gentis e me deixaram em casa. Foi só pra isso que você me ligou? Pois não te interessa saber com quem e como eu vou embora pra casa - eu não conseguia disfarçar a tristeza - Você agora tem coisas mais importantes pra se preocupar.
- Nívea, escuta uma coisa: eu não sou mais nenhum moleque da sua idade! Nós vamos resolver isso olhando nos olhos um do outro, entendeu bem?
- Você vai terminar comigo? - perguntei, sentindo a angústia apertar na garganta e os olhos ficarem úmidos pelas lágrimas.
- Eu só quero entender o dia de hoje.
- Entre eu e o Frederik não aconteceu nada. Nos tornamos amigos.
- Mesmo? Então eu te espero sábado aqui em casa pra você repetir tudo o que acabou de me dizer.
Era uma conversa que eu não podia mais adiar e ouvi-lo daquele jeito me deixava nervosa, pois a última coisa que podia acontecer era que o Eric sentisse raiva de mim.
- Você vem ou não, Nívea?
- Você vai terminar?
- Vamos conversar.
- Eu vou.
- Ótimo. Vou te esperar no mesmo horário de sempre. Tenha uma boa noite.
Ouvi a chamada se encerrar.
Fiquei um pouco mais tranquila ao pensar que iríamos, em poucos dias, nos acertar. Meu coração criou uma ponta de esperança com a possibilidade do Eric ter desistido de dar aula de noite e assim voltaríamos a nos encontrar de tarde. O único problema seria inventar uma desculpa para não ir embora com os meus amigos mas isso era algo que eu poderia pensar depois.
***
Eram pouco mais das 17h da tarde de quarta-feira. O professor de inglês havia autorizado o Frederik a sair dez minutos mais cedo para estar presente na reunião, com a diretora e os outros representantes de turma, que ocorria no auditório. Após o sinal tocar, encerrando mais um dia de aula, eu, Gabriele e Patrick deixamos a sala e decidimos ir para a biblioteca esperar a reunião terminar e voltarmos para casa.
Como sempre, o lugar estava tranquilo. Entramos em uma das pequenas salas privadas com porta e poderíamos conversar sem ser em voz baixa.
- Estou até agora sem acreditar no comentário que a sua mãe deixou no meu vídeo, Nívea! - Gabriele comentou não escondendo a alegria.
- Quando minha mãe elogia, pode ter certeza de que é sincero. E aliás, ela convidou você e os meninos para irem lá em casa.
- Ah, meu Deus, ela quer me conhecer??
- Faz questão - afirmei com a cabeça repousada na minha mochila em cima da mesa.
- Nós vamos sim, Nívea - Patrick confirmou sentado de frente pra nós duas enquanto lia uma revista em quadrinhos do Batman - E vamos também combinar de você passar o final de semana lá em casa. Convida a Melissa também.
- Claro. E tem muita gente da nossa idade onde vocês moram?
- É o que mais tem! Sexta-feira à noite, toda nossa galera se reúne no bosque que fica no meio do condomínio - a irmã falou - É o nosso ponto de encontro.
- Meu Deus, tem até bosque?
- Pra conhecer tudo por lá, leva quase o dia inteiro. Mas aí combinamos de vocês irem depois das provas. É mais tranquilo e quem vai gostar vai ser o Frederik - ela sorriu e piscou pra mim o que fez meu coração parar de bater por alguns segundos.
- Como assim? - levantei a cabeça querendo ter certeza do que estava pensando.
- O Frederik não para de falar de você desde depois do jantar de sábado, Nívea - Patrick fechou a revista e me encarou - Tenho certeza que ele tá parado na sua.
- Não, Patrick - engoli em seco - O Frederik e eu somos apenas amigos. Igual a minha amizade com vocês.
- Mas você não acha ele um gato?
- Acho Gabi, ele é bonito. Igual o Felipe, irmão da Melissa. Ele é lindo e mais velho que eu e mesmo assim nunca rolou nada. Mas por que isso? O Frederik por acaso pediu a vocês...
- Não - Patrick me interrompeu - Ele não pediu nada à gente. Ele nem imagina sobre essa nossa conversa aqui.
- As garotas lá de onde nós moramos são loucas por ele. E claro, ele não deixou escapar nenhuma. Já ficou com quase todas.
- Mesmo?? - fiquei espantada com o que eu tinha acabado de ouvir - Eu pensei que o Frederik fossesanto? Só porque ele te trata bem? Continua pensando isso que tu vai quebrar a cara - e começou a rir me deixando receosa.
Será que tudo que eu havia pensado sobre o Frederik era mentira?
- Sssshiiuu Patrick, para com isso! - Gabriele deu a bronca no irmão e logo se virou pra mim - Nívea, não precisa ficar com medo, o meu irmão é um imbecil! O Frederik te trata bem porque é o jeito dele. Tudo bem, ele já ficou com várias meninas mas ele não destrata nenhuma delas. Por isso elas são loucas por ele. Porque sabe respeitar.
- Ele nunca namorou?
- Você está sentada do lado da ex-namorada dele.
Eu demorei para processar o que tinha acabado de ouvir com uma expressão de espanto no rosto. Gabriele e Frederik foram namorados!
- Gabi...
- Ficou em choque?
- Eu não imaginava... Por quanto tempo vocês namoraram?
- Quase um ano e meio. O Frederik foi meu primeiro tudo, tudo mesmo. Você entende né?
- Entendo. E por que vocês não estão mais juntos?
- Porque eu sentia vontade de ficar com outros garotos e não era legal com ele trair. Então eu terminei. E acabei descobrindo minha atração por homens mais velhos.
Estava, enfim, explicada a tara dela pelo Eric.
- Mas ele ficou bem?
- Ficou. Tão bem que continuamos amigos. Uma amizade desde a infância não tinha porque acabar também.
- Eu falei aquilo em deboche, Nívea. O Frederik é do bem.
- E eu sendo a ex, te digo com certeza de que ele não é nenhum escroto. Fica tranquila.
Era estranho pra mim saber que um namoro de duas pessoas que eu achava tão legais não ter dado certo. Mas achei bonito da parte da Gabriele terminar antes que acontecesse uma traição.
- E você não sente vontade de namorar de novo?
- Eu? Ah, não. Ainda sou jovem. Quero só curtir - de repente ela para e me encara - Peraí? Você é do tipo romântica?
- Isso é ruim?
- Não! Meu Deus, você é perfeitinha para o Frederik.
- Nisso eu concordo com a minha irmã. O nosso amigo adora garotas do seu jeito.
- Entre eu e ele não vai acontecer nada!
- Tá bom - Gabriele se conformou - No fundo eu também acho que vocês podem ser bons amigos. Mas que ele não vai parar de falar em você tão cedo, isso não vai.
Suspirei fundo pensativa. Parecia que alguma força maior e desconhecida crescia em torno de mim e do Frederik querendo que ficássemos juntos. Primeiro os meus pais que me falavam indiretas e naquele momento, uma conversa reveladora sobre o meu amigo.
Eu não me sentia atraída por ele mesmo possuindo várias qualidades. Meu coração pertencia ao Eric por mais que ele não estivesse merecendo. E pensar nele ainda doía. Imaginar, mesmo que por poucos instantes, que talvez eu não teria mais o seu amor me deixava aflita internamente.
***
Para matar a saudade que me consumia, me conformei apenas em ver o Instagram do Eric no que ele carinhosamente postou uma foto da sua família quando viajou para Sul para comemorar o Natal e o Ano Novo. Mesmo tendo as notificações do seu perfil ativadas, era nítido que ele não ligava muito para rede social e a prova disso foram os quase dois meses de atraso na postagem, rs. Na foto, ele e o irmão mais novo estavam sentados no chão e os seus pais no sofá. A câmera estava posicionada em um ângulo baixo mas que enquadrava os quatro. Era impressionante a semelhança dele com o pai e eu nunca me cansaria de admirar, de me deixar hipnotizar por aquele rosto perfeito que derretia o meu coração com os sorrisos fechados quase sempre debochados.
- Amiga, hoje é sexta, vamos de pizza? - Melissa me ligou enquanto eu saía da sala em mais um fim de aula - Vem aqui pra casa depois que os seus pais chegarem!
- Vou sim, Meli. Só eu, você e o Lipe?
- Isso, só nós três. Além da pizza, eu e ele temos uma novidade pra te contar!
- Coisa boa?
- Coisa ótima.
- Tá bom.
- Vou ficar te esperando então, beijos.
- Beijo.
- Vamos marcar uma pizza também, Nívea - Gabriele caminhava do meu lado logo depois da chamada se encerrar - Um dia desses aí.
- Claro, vamos sim.
Saímos e ao chegar na portaria, andamos alguns metros calçada acima até o carro onde o Evandro esperava por nós. Patrick e Frederik já estavam dentro dele acomodados, nós duas entramos e então seguimos para casa.
Frederik, que sempre conversava normalmente, estava quieto. Na verdade, ele ficou quieto boa parte do intervalo, no entanto ele não me tratou mal. Nem ao casal de irmãos. ''Será que aconteceu alguma coisa?''
Chegamos em frente ao meu prédio, me despedi de todos e soltei do carro, colocando minha mochila nas costas indo em direção ao portão.
- Nívea, espera! - me virei e era ele dando a volta ao sair do carro vindo ao meu encontro.
- Oi - sorri com um misto de curiosidade.
- Desculpa, foi mal te chamar assim, eu poderia ter falado com você mais cedo.
- Não, tudo bem - eu o observava e ele parecia um pouco nervoso - O que houve?
- Bem, é que... - suas mãos se esfregavam uma na outra e ele me encarava tenso - Queria saber se você vai fazer alguma coisa amanhã.
- Amanhã? Bom, na parte da manhã eu vou pra aula de dança com a Meli, depois de tarde ela inventa algum passeio de última hora e aí voltamos pra casa. Se não rolar passeio, eu fico estudando. Por que?
- Queria te convidar pra ir ao cinema. Podemos pegar uma sessão do meio da tarde se você preferir.
- Sério? Poxa Frederik, que legal. Vai ser divertido nós quatro sairmos juntos. Posso chamar a Melissa pra ir com a gente?
- O quê? - ele me olhava e sorriu sem entender o que eu tinha falado - Nós quatro?
- Sim. A Gabriele e o Patrick, eles não vão? Aí eu falava com a Meli também!
- Bem, é que... - ele abaixou a cabeça, sorrindo e dando de ombros, coçando os cabelos atrás da nuca - O meu convite é só para você. Nós dois juntos.
Eu gelei dos pés à cabeça e comecei a sentir minha respiração faltar ao ouvir o que ele tinha me dito. Não tinha ideia de como reagir a um convite tão inesperado. Cinema a dois... Mas sabia que o filme seria o menos importante se eu pensasse nas reais intenções daquele simples passeio.
Os olhos azuis e intensos do Frederik estavam carregados de expectativa pelo meu sim e dizer não a ele iria doer em mim de uma forma inimaginável. O meu amor e respeito pelo Eric não desapareceram em pouco mais de duas semanas desde na nossa primeira briga. Tudo o que a Gabriele e o Patrick me falaram na biblioteca era verdade: o Frederik nutriu uma chance comigo.
- E então Nívea? Você aceita?
- Eu... - as palavras não queriam sair - Eu... Sinto muito, Frederik mas... Eu não posso aceitar...
- Ah... Claro... - a tristeza que se formou nos olhos dele estava me destruindo.
- Me desculpa, eu não queria que você ficasse chateado comigo...
- Não, que isso! Sem problemas... Você tem uma pessoa, não tem?
- Como assim? - o olhei estranhando a pergunta. Ele sabe de alguém?
- Ela não fez por mal, mas a Gabi comentou comigo que você recusou uma ligação quando a gente voltou pra casa no primeiro dia de aula e a chamada tinha um coração salvo ao invés do nome. Você tem namorado não é?
Eric Schneider. Amante ou namorado? Naquele instante após quase um ano juntos eu nunca havia parado para pensar em como eu poderia defini-lo na minha vida. Talvez amante fosse o mais apropriado uma vez que não assumimos diante das pessoas.
- É complicado... Os meus pais não sabem.
- Entendi.
- Você me promete que vai guardar esse segredo? Por favor!
- Claro, guardo sim. O seu namoro é tão complicado assim? Ele tem namorada e você é a amante?
- Eu só posso te dizer isso, Frederik. É uma situação complicada, mas... Eu e você vamos continuar amigos, não vamos?
- Sim, normal... - ele sorriu sem jeito.
- Tem certeza?
- Tenho. Tá tudo bem - ele sorriu pra mim fazendo um leve carinho no meu ombro - Eu tenho que ir agora.
- Tá bom, a gente se vê na segunda.
- Claro.
Meus olhos o seguiram se distanciar, dar a volta até entrar no carro e finalmente ir embora. Eu estava me sentindo um lixo humano ao ter dado um fora em uma pessoa que não merecia. Quero dizer, eu não sei se era um fora. Recusar um convite seria dar um fora? Isso me consumia enquanto eu entrava no prédio, passando pela portaria e entrando no elevador. Mesmo ele dizendo que não, o Frederik poderia sim estar chateado comigo e com isso, a minha amizade com ele corria o risco de ficar abalada. E era o que eu não queria.
Entrei em casa e fui direto para o meu quarto. Tirei minha mochila das costas e o meu uniforme, os deixando espalhados pelo chão e nem mesmo um bom banho frio conseguiu aliviar a angústia no meu peito. Eu não sabia o que fazer!
Saí do banho e fiquei deitada encolhida na cama, ainda com a toalha enrolada no corpo e os cabelos úmidos. A conversa que eu teria com o Eric poderia ser definitiva de um jeito ruim, tirei as esperanças de uma chance que o meu amigo construiu sobre mim e estava me sentindo perdida. Se o Frederik realmente fosse deixar de ser meu amigo, a Gabriele e o Patrick também deixariam por causa dele. Eles são tão legais comigo! E com isso, eu voltaria a ser uma adolescente sozinha em sala.
Eu só tinha vontade de sumir para sempre. Sem o amor do Eric, sem os meus novos amigos... Fiquei deitada deixando todos esses pensamentos horríveis me dominarem até que eles foram interrompidos por batidas na porta.
- Cheguei, meu anjo - me levantei da cama ao ouvir a voz da minha mãe, que estava na porta com a mão na maçaneta - Eu terminei os atendimentos hoje mais cedo e quase arrisquei ir te buscar na escola, mas o trânsito em dia de sexta-feira parece que piora de propósito.
- Tudo bem - falei sentindo a minha cara péssima não precisando de espelho para confirmar - E o meu pai?
- Ele me ligou dizendo que vai chegar um pouco mais tarde. Surgiu uma reunião de última hora dos Diretores com a Presidência - e infelizmente ela percebeu como eu estava - Que carinha é essa, minha vida?
- Ah mãe... - os soluços e as lágrimas no meu rosto me entregaram e eu saí da cama correndo pros seus braços - Só me abraça!
- Meu amor! - ela desceu dos saltos dos scarpins me abraçando de volta - O que houve? Me conta!
- Só quero o seu abraço, mãe. Por favor!
Ela correspondeu ao que eu pedi e me abraçou com força dando um beijo no topo da minha cabeça e deslizava com uma das mãos pelas minhas costas.
- Vem aqui - ela desfez o abraço e me pegou pela mão, me levando até a minha cama se sentando primeiro na cabeceira bem no meio - encosta aqui no meu colo.
Fiz o que ela me pediu e seus braços me envolveram novamente me dando conforto.
- Aconteceu alguma coisa no colégio?
- Não, foi tudo bem - lhe disse ainda chorando.
- Mesmo?
- Sim. Só fica comigo assim me abraçando.
- Tá bom.
Ficamos nós duas abraçadas por algum tempo até as minhas lágrimas diminuirem. O seu jeito amoroso e compreensivo eram duas das várias qualidades que ela tinha.
- Está mais calma? Quer me contar o que aconteceu? - continuou a fazer carinho nos meus cabelos dando um beijo neles e eu sentia seu colo subir e descer.
- Estou mais calma, sim...
- Que bom.
- É tão bom ficar assim com você...
- Eu também amo. Me lembra muito quando você era pequenininha e cabia totalmente no meu colo. Quando você acordava assustada de madrugada e chorava por causa do barulho dos trovões em meio à chuva.
- Eu chorava?
- Uhum. Me lembro de uma vez... E eu sempre deixava a porta do seu quarto aberta com a luz do corredor acesa. Acordei com o barulho de um trovão e meu instinto de mãe me fez ir até o seu quarto e aí eu ouvi o seu chorinho assustado. Você deitadinha com a mãozinha no ouvido com medo. Chovia muito.
- Eu não lembro.
- Você era muito pequena. Te peguei no colo e me sentei com você na sua cama exatamente como estamos agora. Eu te disse que os raios e os trovões iam passar logo. Que o Papai do Céu estava bravo e por isso ele soltava tudo aquilo junto da chuva.
- É sério? - Levantei um pouco a cabeça e olhei pra ela com os olhos inchados.
- Sim. E você acreditou.
- E eu voltei a dormir?
- Demorou um pouquinho, mas aí eu coloquei a sua caixinha de música pra tocar, você foi parando de chorar aos poucos e então pegou de novo no sono.
- O seu abraço ajudou.
- Como está ajudando agora.
Saí dos seus braços e me sentei cruzando as pernas em posição de borboleta ficando de frente à ela. Olhar dentro daquele azul dos seus olhos que eram tão ou até mais bonitos que os meus me fazia ter certeza de que a minha mãe era linda em tudo.
- Sobre a tempestade que se passa em seu coração... Vai me contar?
''E se eu contasse somente à ela sobre o Eric?'' - pensei enquanto a encarava - ''Como ela reagiria? Não, não era o momento!''
- Vai se chatear se eu não contar?
- Claro que não. Você me pediu um abraço e eu te dei. Sem perguntas.
- Me abraça de novo?
- Pelo resto da vida.
Me aproximei dela e seus braços me acolheram mais uma vez.
- Por mais que não possa parecer, eu, meu amor e carinho estarão sempre aqui meu anjo. Para você.
- Obrigada por não insistir tanto em querer saber o que eu tenho.
- Eu vou me preocupar, é claro. Mas apenas você saberá quando será a melhor hora de abrir o seu coração para mim. E eu estarei aqui, pronta para te ouvir.
- Você é a melhor mãe do mundo.
- Às vezes acho que eu não sou. Eu e o seu pai te damos tão pouca atenção...
- Vocês trabalham muito. Mas tenho certeza que me amam.
- Essa é a maior das verdades.
- Posso te pedir uma coisa? Não conta pro papai o que aconteceu comigo.
- Não conto.
- Não mesmo?
- Não. Entre mãe e filha existem segredos, sabia? - ela brincou e nós duas rimos.
Voltei a ficar sentada frente à frente e, com as duas mãos, ela me pegou pelo rosto dando um beijo.
- Nunca se esqueça disso: estarei sempre aqui.
- Não vou esquecer.
- Mais tranquila?
- Estou.
- Mesmo?
- Sim.
- Pizza com a Melissa hoje?
- Se eu não for, ela me esgana. Mas queria esperar o papai chegar.
- Eu não esperaria - ela saiu da minha cama, caminhando até os sapatos deixados no chão e abaixou para pegá-los - Reuniões assim costumam demorar.
- Não vai ficar chateada se eu for?
- Claro que não, meu amor! - ela se virou pra mim e piscou - Pode ir! Ela deve estar te esperando.
- Tá.
Minha mãe saiu do quarto e enfim, ao sair da cama me dei conta da pequena bagunça que tinha feito. Peguei minha mochila e meu uniforme do chão e os ajeitei na poltrona. Tirei a toalha do corpo deixando na cama e coloquei um vestido rosa de alças finas que iam até um pouco acima do joelho e um laço no meio dos seios com chinelos brancos. Me olhei no espelho e após pentear os cabelos, peguei meu celular na mochila e bingo! Mensagem dela.
"Vc vem ou não?"
"Vou sim, amiga. Saí do banho e terminei de me arrumar agora."
Eu ainda não estava completamente bem, mas todo o amor e carinho que eu recebi da minha mãe acalmou um pouco a tempestade que se formou no meu coração. Ainda iria ficar triste se perdesse a amizade do Frederik, no entanto, Helena Toledo e Melissa Amorim eram as duas melhores amigas que eu poderia ter na vida! Uma mais madura e experiente e a outra, totalmente direta e sincera. E o que tinham em comum? A generosidade do tamanho do universo.
Continua...
Nota da autora: quero amizades sinceras para continuarem a chorar junto comigo após esse momento tão especial entre mãe e filha. Amor materno cura tudo não é mesmo? Ou pelo menos acalenta, como foi no caso da nossa Princesse.
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