Sinopse: Sexta-feira com pizza e novidades, uma conversa definitiva e revelações que marcam o início da segunda semana do ano letivo.
***
- Amiga, que cara é essa? - a ruiva perguntou espantada no momento em que abriu a porta e me viu - Discutiu com o Eric de novo?
- Não! - entrei, trocamos um abraço e andamos até a mesa de jantar onde nos sentamos - Não tem a ver com o Eric, mas eu chateei uma pessoa que não merecia.
- Como assim?
- O Felipe tá aí?
- Tá no quarto terminando de trocar de roupa. Mas conta o que houve?
Ouvimos a porta do quarto se abrir e o Felipe veio na nossa direção onde deu um beijo no topo da minha cabeça.
- Como você tá? - ele me encarou fazendo um carinho nos meu cabelos. Usava uma regata cinza e bermuda surfista preta.
- Tô indo - ele deu a volta na mesa e se sentou de frente pra mim com os cabelos molhados e os fios como sempre espetados para o alto.
- Vai conta!
- O Frederik me convidou pra ir ao cinema e eu recusei!
- Meu... Deus... - ela tampou a boca com as duas mãos, arregalando os olhos que exaltou ainda mais a cor verde.
- Peraí, quem é Frederik? - o mais velho questionou sem entender e olhando para nós duas.
- Tô me sentindo uma monstra por ter feito isso - falei com a cabeça baixa.
- Mas por que você recusou?
- Melissa!
- Ué e qual o problema? O seu professor gato não te trocou por uma mulher mais velha? Nada de errado em você dar o troco!
- Caramba Nívea, sua fila já andou?
- Não, Lipe. Não aconteceu nada. E além disso, eu não tenho mais certeza se o Eric está com alguém. Na verdade, eu não tenho certeza de mais nada. Nós marcamos de conversar amanhã. Vocês me levam até lá?
- Levamos sim. Aliás, isso é um bom motivo para te contarmos a novidade. Já volto! - Ele se levantou da mesa, andou a passos rápidos corredor adentro e entrou no quarto.
- Qual é a novidade, amiga?
- Você já vai saber - ela me respondeu sorrindo.
Rapidamente ele voltou, se sentando onde estava, deixando um chaveiro personalizado da faculdade de Direito no meio da mesa com três chaves.
- Certo... É esta a novidade? - encarei os dois - Um chaveiro?
- Exato, do meu mais novo apartamento.
- Tá brincando? - foi a minha vez de ficar espantada - Você vai se mudar?
- Não. Vou continuar morando aqui como sempre. Vou para lá apenas nos finais de semana.
- Que legal, Lipe! Mas como aconteceu? Você juntou dinheiro e os pais de vocês ajudaram?
- Mais ou menos - ele começou a explicar - É uma herança de família por parte da minha avó paterna que eu ganhei em forma de dinheiro. Recebi uma parte quando eu fiz dezoito anos e no ano passado completando vinte e um recebi a outra parte.
- E com essa primeira parte você comprou o seu carro não é isso? - perguntei tentando entender a situação.
- Sim. O restante ficou rendendo durante esses anos, meu pai se tornou o responsável por ele, enquanto eu estudava... Isso eu nunca entendi direito, então deixei nas mãos dele. E aí no ano passado, depois do meu aniversário, eu e ele começamos a procurar um apartamento legal sem fazer alarde. Fechamos o negócio no fim de Janeiro.
- E ele fica aqui no bairro?
- Fica em Ipanema, algumas quadras da praia mas dá pra ir a pé. Ele não é muito grande, tem só dois quartos mas eu gostei.
- Que legal, fico feliz por você, de verdade. E os móveis?
- A cama do quarto eu fiz questão de escolher - a ruiva falou com os olhos na tela do celular - Bom que nossos pais não desconfiaram da escolha e ela é enorme.
- A cozinha toda eu ganhei de presente da minha madrasta e semana que vem os móveis da sala de estar e jantar vão ser entregues. Por enquanto só tem a TV montada na parede com um móvel de madeira e a internet instalada. Isso eu fiz questão.
- Se você não tivesse marcado com o Eric, a gente ia te chamar pra conhecer ele, amiga.
- Não vai faltar oportunidade.
- Convida o Eric também, Nívea. Quero dizer... - ele parou de repente se tocando do que tinha falado - Se vocês se acertarem.
- Mesmo se estivéssemos bem, ele não ia aceitar, Lipe. Ainda mais você convidando os seus amigos da faculdade. Esqueceu que não podemos ser vistos juntos?
- Quanto a isso, você não precisa se preocupar porque nenhum amigo meu sabe da novidade. Você é a primeira que não é da família a ficar sabendo.
- Nossa, me sinto honrada - falei e comecei a rir. O amor da minha mãe e boas notícias realmente possuíam o poder de me fazer sentir melhor.
- Descobri que sou o cara chato que odeia casa cheia. Além disso, esse ano eu termino a faculdade e o semestre vai ser puxado demais. Coloquei mais matérias pra ficar com apenas duas no próximo e o trabalho de conclusão.
- Entendi. Então aos sábados acabaram as saídas de vocês?
- Essa é parte legal - Melissa sorriu pra mim - Ao invés de sairmos, eu e o Fê vamos pro apê dele, sacou?
- Sim. Vai ser tranquilo.
- E sobre você e o Eric, vamos continuar te levando até a casa dele mas vai depender também do que vocês conversarem amanhã.
- Ah Lipe, eu nem sei mais o que pensar de tão confusa e cansada que eu estou.
- Vocês precisam resolver essa situação logo. E acho que você deve confiar nele. Acreditar no que ele te disse.
- A situação mudou.
- Mudou? Por que? Ah, por causa desse menino! Quem é o Frederik?
- Meu amigo de turma. A Diretora estava em sala e pediu pra ele se tornar de novo o representante. Ele aceitou e eu lhe dei os parabéns. Aí, ele me agradeceu me chamando de parceria. E sem querer, ele falou na frente da turma inteira, na aula do Eric, sobre o jantar no sábado passado em que nos encontramos.
- Caralho... - soltou o palavrão pausadamente - e agora o Eric está pensando...
- Está pensando que eu e meu amigo estamos ficando. Foi uma coincidência, não aconteceu nada.
- E hoje foi o convite para o cinema?
- Isso. Eu não aceitei.
- É, realmente a situação mudou. E eu não queria estar na sua pele.
Suspirei calada e no mesmo instante o meu celular começou a vibrar em cima da mesa.
- Ah, não... - meu coração disparou ao olhar para a tela.
- Quem é? - Melissa olhou para o aparelho que não parava de vibrar - É o Eric?
- É. Eu não sei se quero falar com ele - comecei a sentir o aperto sufocante na garganta.
- Deve ser importante Nívea, atende.
- Deixa eu atender - a ruiva se ofereceu pegando o meu celular - mas os dois tem que ficar de boca fechada - pediu deslizando o dedo na tela, colocando no modo viva voz - Alô? Oi Eric!
- Melissa?
- Ela mesma!
- A Nívea tá aonde?
- Ela tá aqui em casa comigo e com o Fê. Mas foi no banheiro. Hoje tem pizza.
- Entendi.
Eu prestava atenção na conversa e o tom sério da sua voz do outro lado da linha continuava. Não tive dúvidas de que ele ainda estava chateado com o que aconteceu na segunda-feira.
- Você quer que ela te retorne?
- Não, não precisa. Que horas vocês vão sair daí amanhã?
- Ah... Por volta das dez da noite - ela olhou pro Felipe que confirmou com a cabeça - Por quê?
- Eu tô indo aí buscar ela. Só dá o recado, por favor. Vou ficar dentro do carro esperando na rua da esquina do prédio de vocês.
- Tá bom, eu falo com ela.
- Certo, vou voltar pra sala de aula agora. Tô ligando daqui do corredor. Obrigado, Melissa.
- De nada. Tchau - e ela desligou me devolvendo em seguida.
- Viu só? Ele estava em aula - o mais velho apontou para o celular.
- É, Ni, infelizmente tenho que dar o braço a torcer. O Eric me pareceu sincero também.
- Ele nem quis falar comigo - senti as lágrimas se formarem e as enxuguei antes que elas caíssem - Ele não me ama mais.
- Olha amiga, uma parte disso é verdade, como o Fê acabou de falar. Só que agora com o Frederik na história, mudou tudo mesmo.
- Mas não aconteceu nada! - dei um soco na mesa colocando a mão na testa - Nada!
- Nós três sabemos - Felipe ponderou - Só que o Eric não sabe e você vai ter que convencê-lo disso. Mas fica tranquila. Você ouviu? Se ele faz questão de vir te buscar é porque ele não está tão puto da vida como você pensa.
- É verdade. Mas não pensa mais nisso por enquanto - Melissa pegou na minha mão - Vamos pedir a pizza? Você escolhe o sabor, que tal?
- Eu nem sinto vontade de comer. Escolham vocês.
- Come uma fatia pelo menos.
- Tá... - suspirei - pode ser.
Ela fez o pedido e meia hora depois, o interfone tocou. Era o porteiro avisando que a pizza havia chegado.
Fiz um esforço enorme para conseguir comer a segunda fatia de pizza de frango desfiado que a Melissa havia pedido. A outra metade era de calabresa tamanho gigante. A ruiva nessas horas era sempre exagerada. Eu olhava para o pequeno prato na minha frente mas os meus pensamentos estavam bem longe dali. Na verdade, eram muitas as coisas em que eu pensava e a cada minuto que se passava, menos tempo faltava para conversar com o Eric cara a cara.
- EU SABIA! - o tapa que a Melissa deu na mesa enquanto terminava de mastigar a fatia de pizza e olhando pra tela do seu celular, estremeceu os copos e pratos e me trouxe de volta à terra firme.
- Tu tá doida, garota?
- Que susto, Meli - apoiei minha mão no colo - O que foi?
- Eu sabia que eu conhecia os seus dois amigos e irmãos que estavam com o Frederik naquele dia, amiga.
- Como assim?
- Olha aqui - ela esticou o braço, mostrando o seu celular com a tela virada pra mim - e leia.
E então eu li o título da reportagem de um site de famosos:
"O casal âncora do jornalismo nacional do horário nobre, Natália Fernandes e William Medeiros curtem férias em Paris ao lado dos filhos, Gabriele e Patrick."
- A Gabi e o Patrick são filhos de famosos? - eu olhava para foto da família tirada na beira do Rio Sena com a Torre Eiffel ao fundo, custando a acreditar. Na foto, os dois irmãos estavam abraçados com os pais no centro da foto em um dia ensolarado. Ambos usando roupas leves, típicas da estação.
- Deixa eu ver, Mel - Felipe pediu e ela passou o aparelho pra ele - Ih, é verdade! Você se tornou amiga dos filhos do casal mais famoso do jornalismo do país.
- Eu não tenho o hábito de ver televisão e nem acessar sites de pessoas famosas por isso não podia imaginar.
- Essa reportagem tem uns dois anos - a ruiva explicou - e está dizendo aqui que o casal evita ao máximo expor os filhos. Mas mesmo assim divulgaram essa foto em rede social para a alegria dos fãs.
- Eles são tão tranquilos... Agem normalmente no colégio como qualquer outro aluno.
- Isso é bom. Significa que eles não se deixaram deslumbrar pela fama dos pais - o irmão mais velho analisou - E com certeza eles gostaram de você porque viram que tu não se deslumbrou.
- Não mesmo, Lipe. Fiquei amiga deles dois como poderia acontecer com qualquer adolescente da minha idade.
Isso explicava a quantidade de seguidores da Gabriele no Instagram. E quando não ficávamos no nosso lugar secreto, apenas pelo pátio do colégio, ela e o irmão estavam no meio dos grupinhos de alunos da nossa turma e também das outras do segundo ano. Uma popularidade que acabou acontecendo naturalmente.
***
O sábado passou normalmente. Depois da aula de dança, me concentrei em estudar como sempre fiz. Se tivesse lhe dito sim, eu e Frederik estaríamos juntos no cinema e depois passeando pelo shopping durante a tarde. Talvez um beijo aconteceria. E não conseguia imaginar outro menino me beijando pois os meus lábios já pertenciam a um homem. Só em pensar que eu o tinha magoado, lhe dizendo um não, o sentimento de tristeza e culpa me dominavam. Além disso, em poucas horas eu e o Eric finalmente estaríamos a sós.
Fiquei me observando no espelho, pronta para sair. A saia jeans escuro e a blusa cor de rosa foram as roupas escolhidas para aquela noite que se tornaria crucial. O relógio na tela do celular em cima da minha cama marcava 22h10 e estava uma noite quente. Por alguma razão e, mesmo ainda entristecida, eu estava mais tranquila depois do que o Felipe havia me dito sobre o Eric vir me buscar. Nem tudo poderia ser tão ruim.
Ouvi a notificação de mensagem.
"Já estou aqui na esquina te esperando."
Depois de ler, peguei a minha pequena bolsa preta que geralmente uso para sair e calcei o par de sandálias da mesma cor. Saí do quarto e chegando na sala, meus pais estavam deitados juntinhos no sofá convertido em uma cama, assistindo a um filme francês com as luzes apagadas.
- Já vai sair, mon chere?
- Vou sim, pai - respondi sendo observada por ele e pela minha mãe já vestidos com roupas de dormir - Hoje vou conhecer o apartamento novo do Lipe e vamos ficar por lá mesmo. Ele agora vai dar um tempo nas noitadas por causa da faculdade.
- Conversei com a Cecília hoje quando nos encontramos na portaria e ela nos convidou pra ir lá assim que estiver tudo pronto.
- Sim mãe, ainda faltam os móveis da sala. Vamos ficar em meio às almofadas vendo filme.
O apartamento do Felipe se tornou a saída perfeita. Se eu e o Eric nos acertássemos, nós dois poderíamos nos encontrar todos os sábados sem que os meus pais não desconfiassem de nada.
- Eu já vou indo - dei um beijo no rosto de cada um.
- Voltem pra casa quando estiver amanhecendo. Infelizmente o Rio de Janeiro não é Lyon.
- Não precisa se preocupar, père. Voltamos amanhã de manhã sim.
No corredor, vi meus dois amigos de mãos dadas vindo na minha direção.
- E o Eric? - a ruiva perguntou baixinho.
- Já está me esperando.
- Eu juro pra você que estou igual torcedor de seleção brasileira em final de Copa do Mundo - Felipe falou e eu acabei rindo - Quero de verdade que vocês dois se acertem.
- Se eu lembrar, eu envio um emoji de coração no nosso grupo se eu e ele voltarmos, combinado?
- Combinado, amiga.
- Eu e a Mel vamos te levar até a esquina.
Deixamos o prédio e quando chegamos na esquina, haviam vários carros estacionados pelas duas calçadas. Reconhecemos logo o carro do Eric um pouco afastado do outro lado da rua, pois ele começou a piscar os faróis.
- Vou lá então - dei um abraço na Melissa e outro no Felipe - Tentarei ficar tranquila.
- Vai dar tudo certo, amiga. E se acontecer alguma coisa, eu e o Fê vamos te buscar.
- Vamos sim. Mas espero não precisar - e sorriu.
Atravessei a rua em passos ligeiros e entrei no carro, colocando o cinto de segurança sem olhar na cara dele. Era uma bobeira, mas eu ainda não estava à vontade para encará-lo e mantive o meu olhar na direção da janela. Senti o aroma do perfume que ele sempre usava pairando no carro, junto da temperatura fria do ar condicionado.
- Você está bem?
- Sim.
- Olha pra mim, Nívea... - ele pôs a mão no meu queixo tentando puxar meu rosto mas calmamente eu a afastei.
- Você quer conversar aqui ou vai mesmo me levar para a sua casa?
Eric não disse absolutamente nada e deu a partida no carro saindo da rua onde estávamos.
Seguimos em absoluto silêncio durante todo o caminho. Apenas o rádio do carro estava ligado em uma estação qualquer, tocando uma lenta música em inglês.
🎵🎶Used to be my life was just emotions passing by
Then you came along and made me laugh
And made me cry...
You taught me why...
Baby, I'm-a want you
Baby, I'm-a need you...🎵🎶
Fiquei sentada um pouco de lado, observando o nada e tudo se passava rapidamente do lado de fora diante dos meus olhos.
Voltar ao apartamento dele depois de longos dois meses desde que nos amamos em forma de despedida, fez meu coração diminuir de tamanho. Caminhei na frente dele, deixando minha bolsa na mesa e, observando ao redor, tudo estava igual como da última vez. Continuei em pé e finalmente o encarei. Eric me observava encostado na sua mesa de trabalho com os braços cruzados. Estava com roupas normais, bermuda e camiseta sem manga que destacava os seus braços fortes. Ele também me olhava sério mas ao mesmo tempo com a expressão tranquila sem parecer estar irritado.
- Eu errei com você.
- Como assim? - Eu o olhava, tentando entender o que havia acabado de me dizer - Você errou?
- Sim - ele se aproximou de mim confirmando - eu errei - falou enquanto acariciava de leve o meu rosto com a ponta dos dedos olhando nos meus olhos - Eu não devia ter tomado essa decisão sozinho.
- Que decisão, Eric?
- De começar a trabalhar no turno da noite. Não podia ter feito isso sem conversarmos primeiro. Você já faz parte da minha vida e não foi justo. Mas infelizmente foi tudo rápido demais.
Eu olhava pra ele e sentia uma sensação boa após ouvir tudo aquilo. Era a ponta de esperança que estava grudada em mim.
- Você quer me dizer... - eu sorria sentindo sua mão acariciar meu rosto por inteiro - Quer me dizer que desistiu? Que eu e você vamos voltar a nos ver depois das aulas?
- Não, Nívea... - ele suspirou e engoliu em seco, negando com a cabeça - Eu não desisti...
- Então estamos aqui pra quê? - meu sorriso sumiu de imediato após ouvi-lo e arranquei a sua mão do meu rosto, já tomado pela raiva, e com os meus braços cruzados junto ao corpo - Pra resolver do seu jeito que é se enfiando entre as minhas pernas e ficar tudo bem?
- Não fala assim, ma petite... Você sabe que não é verdade.
- Eu não sou sua petite! - me afastei dele indo até a varanda que estava aberta para que ele não percebesse as minhas lágrimas - Você preferiu o seu trabalho do que ficar comigo!
- É isso que você pensa? Que eu não quero ficar mais tempo do seu lado?
- Não foi o que você fez? - rebati olhando para a rua.
Mesmo sendo Verão, senti um vento frio arrepiar o meu corpo e comecei a esfregar os meus braços com as mãos.
Eric novamente se aproximou de mim segurando o meu rosto. Suas mãos estavam quentes e firmes, o que me fizeram estremecer e o azul em seus olhos me impedia de desviar o olhar.
- Nívea, se eu fiz o que fiz foi pensando no nosso futuro! Acha que eu já não planejo uma vida do seu lado?
- E pra quê pensar nisso agora se eu ainda não me formei no colégio?
- Nós somos muito diferentes nessa questão. Você vive o momento e eu penso nas coisas a longo prazo.
- Eu concordo. Eu nem sei que faculdade pretendo fazer. Não sei e não penso no assunto.
- Por que você não me dá uma chance e confia em mim? Eu sei o que eu tô fazendo.
- Eu também sei. Critica tanto os meus pais que não me dão atenção porque trabalham muito e olha o que você está fazendo. ESTÁ FAZENDO O MESMO, ERIC! ME DEIXANDO SOZINHA SEM O SEU AMOR! - alterei a minha voz quase em um grito, arrancando mais uma vez as suas mãos do meu rosto e deixei o choro dominar, indo me sentar até a sua mesa de trabalho.
Eu estava cansada de implorar pela atenção e o amor dele. Mas Eric me mostrava que não iria fazer o que eu pedia. Mesmo ainda o amando, nada mais pra mim estava fazendo sentido.
- Não chora, por favor... - senti sua mão no meu ombro me acariciando - Você tem razão. No momento eu estou sim na mesma situação dos seus pais. Mas você tem que entender...
- Eu não tenho que entender nada, Eric! - permaneci sentada secando as lágrimas dos meus olhos - Você está escolhendo o seu trabalho, não é isso? Então fica com ele e me esquece!
- Como assim? - sua mão me puxou lentamente pelo braço me fazendo ficar de pé - Do que você tá falando?
- Eu vou telefonar pro Felipe e pedir pra ele vir me buscar.
- Fala Nívea! - suas mãos seguraram os meus braços mas sem me machucar - Fala olhando nos meus olhos! Vai colocar um ponto final? Não está disposta a ficar do meu lado pra ver lá na frente o resultado dessa minha decisão?
- Eu não sou obrigada.
E então ele se afastou um pouco de mim, ainda me encarando e com a expressão do rosto endurecida.
- Você quer mesmo jogar fora todos os momentos que passamos juntos? É isso? Só porque eu não vou atender ao que você me pede?
Eu o observava e comecei a imaginar como seria ficar tão perto e tão longe dele. Eric poderia pedir pra trocar de turma e não querer mais me ver ou até mesmo sair do colégio. E eu sentia meu estômago gelar de medo se isso acontecesse.
- Então faz isso, liga pro Felipe e pede pra ele vir te buscar. Só que antes, saiba de uma coisa: eu te amo. Amo como nunca amei nenhuma outra que tenha passado pela minha vida. E é uma pena que esse amor não seja o suficiente para que eu e você possamos continuar juntos, mesmo com essa minha tomada de decisão.
Ouvi-lo dizer que me amava fez o meu corpo paralisar e meu coração acelerar como todas as outras vezes em que estávamos juntos.
- Eu também te amo, Eric... - confessei o óbvio e seu rosto ficou mais leve mostrando um leve sorriso - Mas de que adianta todo o nosso amor se vamos ficar sem nos encontrar? Você está preferindo o seu trabalho do que o seu amor por mim.
- Não é só você que está sofrendo, eu também estou por causa disso. E eu não estou preferindo. É um sacrifício que infelizmente vamos precisar passar.
- Eu não sei se eu consigo...
- Claro que consegue - ele se aproximou, segurando o meu rosto e acariciando com o polegar - Estamos juntos há quase um ano e corremos todos os riscos. Nunca ninguém descobriu. Nem os seus pais, nem ninguém do colégio.
- Você jura pra mim que não tem nenhuma outra mulher? Eu nunca mais menti pra você desde a primeira vez que me pediu e agora sou eu que estou te pedindo.
- Eu juro. Você é a única.
Sentir a sua boca e a língua quente invadindo e indo de encontro à minha, fizeram meu corpo amolecer, reagir e pulsar com força entre as minhas pernas molhando a minha calcinha. Em meio ao beijo, Eric me abraçou apertado pela cintura e me levantou, me deixando na ponta dos pés. Minhas mãos deslizaram pelos seus braços e ombros chegando no pescoço onde eu o agarrei com força para que o nosso beijo não acabasse. Era tão bom ter as mãos dele passeando pelo meu corpo!
Não era nada apressado. Nossas bocas se exploravam de um jeito lento e com os meus pés de volta ao chão, uma das suas mãos acariciava a minha nuca com os seus dedos enfiados pelos meus cabelos e com a outra, seu corpo procurava se encaixar junto do meu.
Os beijos do Eric deixaram os meus lábios que, após mordê-los de leve, escorregaram pelo meu pescoço e colo, junto da língua que me causaram um arrepio quando eu sentia os chupões molhados. Mesmo usando saia jeans, eu podia sentir o quanto ele me queria. Suas mãos começaram a levantar minha blusa e ergui os meus braços para que ela fosse tirada mais rápido me deixando apenas com o sutiã cor de rosa que eu usava. No mesmo instante eu o abracei apertado, encostando minha cabeça no seu peito onde pude ouvir seu coração bater acelerado e pensei em algo que me deixou com medo.
- O que foi? - ele me perguntou confuso, me abraçando de volta deixando um beijo no topo da minha cabeça - Não vai ficar tímida agora, vai?
- Não é isso...
- Então o que é, ma petite?
- É que já faz tempo... Desde a última vez...
- Uhum... - senti mais um beijo seu e a sua mão fazendo um carinho nos fios - E eu estou louco de saudade. Sonhar com você quase todas as noites não foi o bastante.
Eu sorri e senti meu pescoço esquentar. Eu também sentia saudade de nós dois. Me afastei um pouco, voltei a olhar nos seus olhos fazendo um carinho no seu rosto e o seu beijo na palma da minha mão surgiu.
- Você está com medo do que?
- E se doer de novo?
- Se você sentir dor, eu paro. Prometo. Continua se protegendo?
- Sim, todos os dias.
- Que bom.
Tirei minhas sandálias ficando mais à vontade e Eric pegou na minha mão me levando até a cama onde eu sentei na ponta, com ele ficando ajoelhado de frente pra mim. Nossos rostos se aproximaram para mais um beijo que fazia me sentir nas nuvens.
Eric deslizou suas mãos do meu rosto chegando até o gancho do meu sutiã, abrindo, jogando a peça para longe e exibindo os meus seios com os bicos se mostrando duros de excitação. Mas não era o bastante. Ainda sentada, sentindo o meu pescoço sendo tomado por beijos que me faziam delirar e morder os lábios, as mãos dele acariciavam a minha cintura, indo na direção do botão e o abrindo com o zíper da minha saia que, junto da minha calcinha, ele tirou me deixando nua.
- Tu es toujours belle... - falou de um jeito doce enquanto admirava cada parte do meu corpo.
(Você continua linda...)
Sem me dar conta, abri minhas pernas querendo sentir mais do que estava sentindo. Era difícil controlar o tesão úmido que só crescia. Os beijos que o Eric deixava por dentro das minhas coxas começaram a virar uma tortura tamanha era a ansiedade de ter a sua boca me provando. Minhas mãos foram parar nos seus curtos cabelos e eu queria em pensamento que ele não parasse enquanto as deslizava pelos fios.
- Eric...
Segurei um gemido tampando a boca, no instante em que senti meu grelinho inchado sendo chupado e provocado com a ponta da sua língua quente circulando naquele ponto e meu corpo inteiro se contorceu, me deixando na ponta dos pés mesmo sentada. Eric agarrou nos meus quadris, puxando o meu corpo para a ponta da cama, me permitindo abrir mais as minhas pernas e então, sua boca começou a me provar por inteiro. Se fosse possível, eu queria que aquela sensação fosse prolongada para sempre.
Joguei meu corpo levemente para trás me apoiando com as mãos, e agarrei o lençol no momento em que senti as lambidas e sugadas em cada cantinho do meu interior. A barba macia esfregando na minha pele deixava tudo mais perfeito. Não consegui segurar por muito tempo e me joguei na cama querendo aquela língua totalmente dentro de mim.
As mãos dele acariciavam por dentro das minhas coxas e da minha virilha e eu sabia que assim eu iria gozar em pouco tempo. Meu corpo se ergueu um pouco da cama correspondendo àquelas mãos firmes que fizeram um caminho passeando pelo meu ventre e a cintura, chegando até os meus seios e os dedos brincando com os bicos.
Era maravilhoso ser amada e desejada daquela forma.
Comecei a sentir o desejo que crescia aos poucos com as reações e gemidos me entregando como em todas as outras vezes.
- Vai gozar pra mim, ma petite? - ouvi a pergunta debochada da sua voz rouca em meio às lambidas lentas e deliciosas que eu sentia para cima e para baixo.
- Eu quero... - sussurrei sentindo o latejar não apenas entre as minhas pernas mas no corpo inteiro.
Comecei a rebolar na ponta da língua e Eric me provocava ainda mais dando pequenas estocadas. O gozo quente derramado foi sugado por aquela boca deliciosa que não deixou escapar nenhuma gota.
Queria mais do que eu estava sentindo. Minha respiração começou a falhar, meu coração batia descontrolado e ainda estava sendo invadida por beijos, mesmo após eu chegar ao céu. Beijos que de forma lenta foram fazendo um caminho pelo meio do meu corpo, se transformando em uma sugada forte e gostosa em um dos meus seios e o outro era tomado pela mão firme. Mesmo ainda zonza, era delicioso demais.
- Já está exausta desse jeito? - a voz provocante chegou no meu ouvido junto de uma mordidinha - Ainda nem começamos...
O abracei pelo pescoço, sentindo o seu corpo grande e forte por cima apertando os meus seios. Realmente era apenas o início da noite em que iríamos matar a saudade um do outro.
Ainda o abraçando e sentindo os seus beijos pelo meu rosto, ouvi o zíper da sua bermuda sendo aberto e minhas mãos passearam pelas suas costas largas até chegarem na parte de baixo da sua blusa querendo tirá-la. Eric a retirou rapidamente e sentindo a sua bermuda aberta, me agarrou pelas coxas e arrastei meu corpo um pouco mais até o meio da cama.
Eric enfiou suas mãos por dentro dos meus cabelos, seu beijo delicioso me deixou sem fôlego e agarrei com força nas suas costas, cravando as minhas pequenas unhas na sua pele. Mesmo de cueca, senti seu membro pulsando com força por entre as minhas pernas que abraçaram a sua cintura querendo mais e mais.
- Espera, meu amor...
- Não desgruda de mim...
- Não posso dar o que você quer sem tirar o que falta...
Ele se ajoelhou por entre as minhas pernas e começou a tirar a bermuda e a cueca ao mesmo tempo, jogando em um canto qualquer ficando nu, mostrando que queria o mesmo que eu. Molhei meus lábios que estavam secos com aquela visão e mudei de posição rapidamente, lhe segurando pela cintura e comecei a chupar bem devagar aquela cabecinha que já estava úmida.
- Aaah, ma petite... - eu chupava lento e olhava ele delirando, jogando a cabeça para trás, enquanto uma das suas mãos acariciava os meus cabelos - Que saudade dessa boquinha... Isso...
Eu sugava bem devagar querendo provar aos poucos e o sentir pulsar nos meus lábios, me fez começar a ferver no meio das pernas.
Fazer o que eu mais gostava nos nossos momentos a sós ficava tudo mais fácil. Chupava e sugava de um jeito tão gostoso que quando percebi, o membro dele estava todo na minha boca. Apoiei minhas mãos na cama e continuei as chupadas sentindo as duas mãos dele nos meus cabelos e os quadris na direção da minha boca.
- Não, ma petite... Não me faz gozar, não agora...
Ainda chupando, fui tirando minha boca bem devagar e terminei lambendo a cabecinha circulando com a pontinha da minha língua dando um pequeno beijo e o encarei de um jeito bem atrevido, me deitando na cama com os cotovelos apoiados.
- Tive que me controlar feito um louco para não gozar na sua boca...
- Que pena, você sabe que eu gosto.
Nossos olhares continuaram fixos um no outro e fui ao seu encontro ficando ajoelhada, frente a frente, igual à ele. Eric me agarrou pela cintura, apertando o meu bumbum com força e senti o seu membro ainda rígido se esfregando na minha entrada. Minhas mãos envolveram o seu ombro largo e acariciei o meu rosto no seu, lhe dando beijos carinhosos chegando até a sua boca.
Ainda ajoelhado, Eric se abaixou, me colocando em seu colo e minhas pernas envolveram sua cintura para o encaixe perfeito. Suas mãos no meu bumbum e nas minhas costas me apoiaram e deslizei as minhas pelo seu peitoral e abdômen chegando no seu membro, começando uma punheta e brincando com a cabecinha na minha entrada que latejava sem controle me fazendo morder o lábio. Sua respiração também já estava falhando por querer o mesmo que eu.
- Vem, ma princesse... - ele sussurrou no meu ouvido me causando um arrepio e nem esperei muito.
Enfiei seu membro devagar, penetrando sem sentir dor e minha buceta começou a pulsar e deslizar até senti-lo todo bem fundo. Comecei a rebolar olhando nos seus olhos azuis e suas mãos grandes seguraram na minha cintura me deixando livre para fazer como eu queria.
- Aaah, Eric... - com as mãos nos seus ombros, joguei minha cabeça para trás rebolando e enlouquecendo de prazer naquele corpo perfeito.
Sua boca explorou pelo meio dos meus seios e minha buceta estava completamente encharcada com aquele membro todo dentro dela. Comecei a contrair por dentro das minhas coxas e olhando mais uma vez dentro daqueles lindos olhos, nos beijamos com todo o desejo e amor que parecia não caber dentro de nós dois.
Eric agarrou com força na minha cintura com os dois braços como se quisesse que eu e ele virássemos apenas um e seu rosto enrijeceu de um jeito que eu já conhecia.
Senti se derramar dentro de mim e o beijei com todo o amor e carinho que eu podia lhe oferecer. Os jatos eram fortes e quentes e comecei a rir jogando minha cabeça para trás sentindo o mesmo que ele sentiu poucos segundos antes. Minha buceta apertava o membro dele sem controle e enfim, gozei pela segunda vez.
Apoiei minha cabeça no seu ombro ainda sentindo meu corpo sob o efeito daquele orgasmo, respirando profundo e lento. Eric continuou comigo no seu colo e me levou, ainda enfiado dentro de mim, para o meio da cama, ficando por cima e me deixando confortável no seu travesseiro. Ajeitou minhas coxas em volta do corpo dele e sentiu o cheiro do meu perfume junto do suor no meu pescoço.
Seus beijos na minha pele me causavam um arrepio até chegarem na minha boca em forma de selinhos, nossos corpos grudados relaxavam aos poucos e eu não sabia dizer qual coração batia mais acelerado.
- Vai continuar enfiado dentro de mim? - perguntei baixinho.
- Quer que eu saia?
- Não - sorri e ele sorriu de volta com as nossas bocas grudadas.
- Fiquei muito tempo longe desse vulcão que você tem entre as pernas.
Dei um abraço em seu pescoço e correspondi aos seus selinhos sentindo sua boca quente e a barba um pouco molhada pelo suor. Com ele dentro de mim, senti minha buceta apertar seu membro e que iria gozar de novo sem ele precisar me estocar firme.
- Aaah Eric... - relaxei a cabeça no travesseiro, mordendo o lábio e começando a latejar gostoso por entre as pernas - Aaahh...
- Isso, gostosa... Goza de novo, goza...
Eric era perfeito fazendo amor comigo e eu quase coloquei um ponto final na nossa história. O que seria uma burrice sem tamanho.
***
- Você vem agora?... Não, mas é que eu queria ficar com ela aqui até a hora do almoço mais ou menos...
Deitada e acordando aos poucos, ouvi a voz do Eric que parecia falar no celular e fiquei com o coração quente com a última frase, sorrindo feito boba. Senti uma leve ardência por entre as pernas mas quando lembrei o motivo, comecei a sentir latejar gostoso e esfreguei devagar uma coxa na outra. Perdi a conta em quantas vezes Eric me fez gozar de madrugada.
- Eu te ligo quando sair com ela daqui... Tá bom então... Tchau.
A porta da varanda estava aberta e vi os raios de Sol no piso de madeira. Esperava que ainda fosse cedo para que realmente eu e o Eric pudéssemos ficar mais tempo juntos. Ao me virar pro outro lado, dou de cara com um coelho de pelúcia nas cores rosa e branco, de tamanho médio, com as orelhas caídas, embrulhado em um papel transparente com um laço de fita também da cor rosa.
- O que é isso? - perguntei, olhando com curiosidade, me sentando na cama e pegando o embrulho.
- Ora ora, bonjour dorminhoca - Eric em pé e de cueca, deixou o seu celular na sua mesa e veio para a cama onde me puxou pelas pernas, me fazendo sentar de frente no seu colo, cruzando suas pernas em forma de borboleta e começou a cheirar o meu pescoço o que me fez deixar o embrulho de lado - Esse é o seu presente de aniversário atrasado. Foi o que eu pude comprar às pressas.
- Sério?
- Uhum. Gostou?
- É lindo. Pena que não vou poder levar pra casa - falei um pouco triste enquanto olhava o presente, sentindo a sua boca sugando minha pele me causando cócegas.
- Deixa aqui. Toda vez que eu chegar em casa vou olhar pra ele na cama e me lembrar de você.
- Eu sou uma coelha, Eric? - olhei pra ele de cara fechada e seus olhos estavam inchados de sono o deixando ainda mais lindo.
- Era minha coelhinha assustada quando te fodi a primeira vez - sussurrou perto da minha boca me deixando morta de vergonha.
- Obrigada, eu amei - dei um selinho - Era o Felipe no telefone?
- Era. Queria te buscar mas pedi pra ele chegar um pouco mais tarde. Ainda são sete e meia.
- Ele não vai precisar mais ter pressa pra me buscar. Meus pais acham que eu estou com ele e a Meli.
- Como sempre foi, ma petite.
- Sim, mas agora é diferente.
- Diferente como? - ele me olhou curioso.
- O Lipe agora tem o apartamento só dele.
- Mesmo?
- Sim! Foi herança de família, ele me explicou mais ou menos na sexta-feira.
- Que bom. Ele agora vai morar sozinho?
- Vai pra lá com a Meli só nos fins de semana. E sabe o que é mais legal? - senti a euforia tomar conta de mim - Eu posso vir pra cá mais cedo nos sábados dizendo aos meus pais que nós três vamos pra lá e então o Lipe me deixa aqui. Não vai ser demais? Sábado vamos ficar mais tempo juntos! - o abracei com força, feliz com a novidade.
- É... - Eric fez uma leve carícia nas minhas costas e senti alguma coisa estranha nele. Ele não parecia tão animado como eu.
- O que foi? - voltei a encará-lo - Você não gostou da novidade?
- Sim, gostei.
- Então por que você ficou desse jeito?
- É porque a minha rotina de trabalho mudou - ele suspirou - Antes eu tinha o horário da noite para preparar as minhas aulas para o dia seguinte. E agora eu só vou ter apenas o sábado para preparar e deixar pronta todas as aulas da semana e isso vai levar um bom tempo do dia.
A lembrança da noite do meu aniversário surgiu na minha mente quando o Eric me revelou que não iríamos mais nos encontrar à tarde. Era como se um segundo golpe estivesse me atingido em cheio.
- E se eu vier pra cá mais cedo eu vou te atrapalhar? Eu prometo ficar quietinha! - pus minhas mãos no seu rosto - De verdade.
- Você nunca atrapalha, ma petite - acariciou o meu rosto do seu jeito carinhoso de sempre - Mas também não vai ser legal você chegar aqui mais cedo e eu não poder dar a atenção que você merece porque eu vou estar entupido de trabalho. E em semana de prova vai ser pior ainda.
- Entendi - abaixei a cabeça entristecida, saí do seu colo sem dizer nada e me virei na direção do presente, começando a desfazer o laço, tirando o coelho de pelúcia rosa do embrulho. Era mesmo muito bonito e macio.
- Eu sinto muito, princesse - senti seu braço na minha cintura e sua outra mão afastando os meus cabelos do ombro com seus beijos lentos chegando até a minha nuca - Mas eu tenho que ser sincero com você.
- Tudo bem - eu olhava para o meu presente - Combinamos de não ter mentiras entre a gente. Eu vou me acostumar aos poucos com o seu novo trabalho. Então vamos continuar nos vendo só de noite?
- Eu paro tudo o que eu estiver fazendo pra esperar você chegar e nossas noites de sábado vão continuar sendo as mesmas.
Me afastei um pouco do carinho que estava recebendo apenas para colocar o coelho de pelúcia no meio da cabeceira da cama em cima de um dos travesseiros e voltei para os seus braços.
- Vem, deita aqui comigo... - peguei pela sua mão e ele se deitou na cama. Fiquei deitada por cima com a cabeça no seu ombro, sentindo seu braço me envolver e minha coxa esquerda entre as suas pernas.
- Você não quer tomar café? - ele deu beijo na minha testa, acariciando os meus cabelos.
- Depois tomamos - fiquei ouvindo as batidas do seu coração e fiz um carinho lento no seu rosto sentindo os pêlos da sua barba - amo ficar assim com você.
- Eu também - deu um beijo na palma - Andei pensando em arrancar ela...
- Arrancar o quê? - levantei minha cabeça, olhando pra ele sem entender.
- A minha barba.
- Ah não, Eric! Eu gosto dela - me aproximei e comecei a dar vários beijos na sua bochecha - E você fica lindo assim - ele me olhou e sorriu com o que eu disse.
- Tem feito muito calor esses dias, por isso pensei em ficar de cara limpa.
- Viu só? Você nunca faz nada o que eu te peço!
- E você consegue ficar mais linda com essa carinha emburrada!
- Eric, é sério!
- Você tá sendo injusta...
- Não estou, não! - me afastei dele ficando com as pernas dobradas de joelhos e com os braços cruzados - Você disse pra mim antes da minha viagem que ia ficar mais legal com a turma e não ficou!
- Eu te disse que ia pensar! - ele começou a fazer um carinho na minha coxa - É diferente.
- É por isso que o Frederik não te suporta!
Ops...
- É mesmo, mocinha? - seu rosto fechou ao ouvir aquele nome - Pois foda-se, se ele me suporta ou não - se levantou, ficando sentado e ajeitou o travesseiro na grade da cama atrás das costas - a única coisa que eu quero dele e do resto da turma são as médias nas provas acima de nove, entendeu bem? O que me faz lembrar que eu e você temos que conversar sério sobre o seu novo amiguinho.
- Não sei se eu e o Frederik vamos continuar amigos.
- Por que não?
- Convite para ir ao cinema.
- O quê?
- O próximo passo. Jantar na noite de sábado, carona para casa e um convite para ir ao cinema com ele. Foi esse o próximo passo.
- Ele teve a coragem de te convidar pra sair?
- Teve, ué. E eu recusei. Por isso que eu acho que não vamos mais ser amigos.
- Hum... - ele continuou a me encarar, analisando meu rosto - Isso confirma o que eu penso sobre boa parte dos garotos daquele colégio. São uns moleques mimados que não aceitam ouvir um não como resposta.
- O Frederik não é assim...
- Ah, e você ainda vai defender?
- Eu perguntei se ficaria chateado e ele me disse que não. Ele sabe que eu tenho alguém.
- Como assim ele sabe? Sabe sobre eu e você, Nívea?
- O Frederik não sabe que é você. Eu disse que namoro escondido dos meus pais, pedi segredo e ele me prometeu guardar - me aproximei sentando no seu colo - ele nem imagina quem seja essa pessoa.
- E você acha que pode confiar nele? - continuava a analisar meu rosto.
- Acho. E se acontecer de nós dois ficarmos bem, você não vai me proibir de ser amiga dele, Eric.
- Eu não vou te proibir de nada - ele ajeitou uma mecha do meu cabelo colocando atrás da orelha - Fico feliz que você fez amigos. Mas também não posso esconder que vou morrer de ciúmes toda vez que ele se aproximar de você.
- Mas é você quem eu amo... - o abracei pelo pescoço e seus dedos deslizavam pra cima e pra baixo devagar pela curva da minha cintura - Você não acredita em mim?
- Acredito, ma petite...
- Então... - sorri para ele, que recostou sua cabeça na cabeceira e continuava a me admirar.
- Eu não consigo mais imaginar a minha vida sem você.
- Eu também não... - lhe dei vários selinhos e Eric fazia o mesmo, colando e apertando os seus lábios nos meus - Você vai continuar com a barba?
- Vou.
- Me promete?
- Prometo.
Ficamos nos amando pela manhã e paramos apenas para tomar café. Nesse tempo, eu me pegava pensando sobre a decisão profissional que o Eric havia tomado. Eu não podia brigar com o meu coração em relação ao meu amor por ele, mas também não sabia dizer em como isso iria nos atingir de verdade. Juramos nós dois que não teria mentiras na nossa relação.
Amor e confiança. Eram esses dois sentimentos que seria a força do nosso relacionamento.
***
Faltavam cinco minutos para as 7h00 quando meu pai me deixou na porta do colégio. Estava feliz e tranquila por ter reatado com o Eric, no entanto teria que me preparar para o desprezo que eu receberia do Frederik, da Gabi e do Patrick.
A movimentação de alunos pelo corredor do primeiro andar estava normal como sempre e então fui até a cantina comprar a segunda parte do meu café da manhã.
Ao chegar no pequeno pátio, vejo um homem alto, bem vestido com uma blusa social branca e calça preta conversando com uma das atendentes do balcão que praticamente se jogava para ele toda sorridente, mesmo estando do lado de dentro. De imediato, o reconheci por causa da cabeça raspada e os ombros largos.
- Sr. Evandro? - perguntei no momento que me aproximei.
- Senhorita Nívea! - ele sorriu docemente após se virar e me ver - Bom dia! Como foi o seu fim de semana?
- Bom dia. Fui bem obrigada. - rapidamente a atendente voltou ao que estava fazendo quando me viu - O Frederik, o Patrick e a Gabi estão por aqui?
- Já foram para sala. Quando eles subiram eu vim até aqui a cantina apenas para fazer um lanche.
- Ah sim.
- Veio lanchar também?
- Sim... Na verdade, vim comprar alguma coisa para comer agora e durante as aulas da manhã - olhei para os sanduíches naturais expostos na vitrine do balcão e me virei para a atendente - Com licença, vou querer esse sanduíche natural de atum - apontei para o vidro -, um suco de uva e um pacote de biscoito recheado.
- Total de catorze e cinquenta.
Coloquei minha mochila pra frente do meu corpo abrindo o zíper e peguei meu cartão para pagar o pedido. Quando fui entregar para a moça, a mão do Sr. Evandro pousou sobre a minha.
- Me deixe fazer essa gentileza, senhorita.
- Ah não, senhor... Não precisa.
- Me acha tão velho assim para ser chamado de senhor?
- Bem, na verdade não - sorri sem graça - É a força do hábito.
- Então me chame apenas pelo nome e me deixe pagar o seu lanche, certo?
- Tá bom - acabei concordando mesmo me sentindo sem jeito - mas é só dessa vez. Obrigada.
- De nada - sorriu para mim. Evandro era mesmo um homem bonito e jovem. Por isso que causou toda a empolgação na moça que me atendeu.
Ele tirou a carteira do bolso, pegou uma nota de vinte reais e entregou para a atendente, que guardou no caixa lhe dando o troco logo em seguida. Ela pegou uma embalagem de papel, colocando dentro dele o sanduíche e a pequena garrafinha de suco, me entregando junto do biscoito que guardei dentro da mochila.
- Vai ficar o dia inteiro no colégio até a hora da saída? - perguntei enquanto abria o papel transparente do sanduíche dando logo uma mordida.
- Vou fazer uma inspeção rápida pelas dependências do colégio e depois volto para a casa da família Bertrand.
- Inspeção? - cobri a minha boca enquanto mastigava - Você sendo o motorista pode fazer isso?
- O Frederik não te contou? - ele me encarava sem entender.
- Não - dei mais uma mordida e cobri a boca - Contou o quê?
- Talvez então ele ainda vá te contar... - me deu um meio sorriso.
- Bom, eu tenho que ir. Eu não gosto de me atrasar e ainda vou ao banheiro.
- Tá certo. Tenha uma boa aula.
- Obrigada pela gentileza.
Saí ligeira da cantina e fiz o mesmo de todas as manhãs: terminei de comer o lanche no banheiro, escovei os dentes e ajeitei meu uniforme e os cabelos antes de ir para a aula.
Cheguei na sala, o professor Maurice ainda não havia chegado e alguns alunos já estavam sentados em seus lugares. Olhei para o fundo e no mesmo instante a Gabriele, que estava em pé encostada na parede com o celular na mão, acenou para mim ao me ver, abrindo um sorriso. ''Ela não estava aborrecida comigo'', pensei e um pequeno alívio tomou conta de mim. Acenei de volta. O batom da vez era na cor vinho que combinava com o arco estampado, enfeitando os seus cabelos curtos e cacheados. Patrick que estava sentado de frente também me deu um "oi" com a mão e Frederik de costas, em cima de uma mesa, se virou e ficou me encarando sério. Dei um sorriso fechado e, virando o olhar um pouco para baixo, fui me sentar no meu lugar de sempre. Coloquei minha mochila em cima da mesa e a abri, tirando o livro da primeira aula da manhã junto do estojo e algumas folhas de fichário.
- O representante e a melhor aluna sentando juntos hoje - ouvi a frase e quando olhei, Frederik colocou sua mochila jeans escuro em cima da mesa do lado da minha, sorrindo pra mim - Que tal? - arrastou a cadeira e se sentou.
- Claro, só que eu...
- Já sei, você não conversa durante as aulas.
- Isso - sorri, sentindo meu rosto esquentar.
Observei ele abrindo sua mochila e tirando de dentro uma pequena barrinha de chocolate com a embalagem vermelha.
- Pra você - ele me entregou e eu peguei - Uma prova de que a nossa amizade não azedou.
- Valeu, Frederik. Pensei mesmo que você estava aborrecido comigo.
- Não, Nívea. Continuamos amigos. Fica tranquila.
Senti um abraço por trás junto de um beijo apertado na minha bochecha direita e o dedo polegar, segundos depois, limpou a mancha de batom que teria ficado marcada na minha pele. Era a Gabriele sentada bem atrás de mim junto do lado do irmão que sentou atrás do Frederik. O quarteto fantástico estava novamente reunido para mais um dia.
- Então Nívea, Carnaval chegando, você costuma fazer o quê? Viaja? - Patrick me perguntou com os braços apoiados na mesa.
- Eu fico em casa descansando - Me virei pra ele - Vejo filmes, meus pais ficam vendo os desfiles de escola de samba na TV, essas coisas...
- Você não quer ir viajar com a gente? Vamos pra nossa casa de praia em Angra dos Reis - Gabriele fez o convite - Fala com a Melissa pra vir também. Eu vi no seu Instagram que vocês não se desgrudam. O convite então é para as duas.
- Eu também sempre viajo com eles - Frederik do meu lado confirmou.
- Tá bom, eu vou pensar e falo com vocês.
- A gente viaja no sábado de carnaval de manhã bem cedo. Nós três, o Evandro, a vovó e os nossos pais vamos em dois helicópteros. Mas tem lugar pra vocês duas sem problema. Se quiserem ir é só falar.
- Eu já sei quem são os seus pais. Vi uma foto de vocês quatro na Internet.
- Ah... - Patrick revirou os olhos - Eles são os famosos, nós não.
- Sim, eu imaginei que vocês não ligam mesmo para a fama deles. Se não fosse a Meli ter me mostrado a foto, porque ela ficou com aquela impressão na semana passada, eu nem saberia.
- O papai e a mamãe fazem de tudo para que eu e o Patrick tenhamos uma vida mais normal possível. Eles vão adorar se vocês duas viajarem com a gente.
- Bonjour! - a voz do professor Maurice desviou minha atenção e rapidamente me virei de frente pra mesa, com o sinal tocando e a turma toda respondeu de volta ao cumprimento. Mais um dia de aula que começava.
***
- Então o Evandro na verdade é o seu guarda-costas?
Voltamos nós quatro para a nossa sala bem antes do intervalo terminar e fiquei impressionada com o que o Frederik havia acabado de me revelar, após eu ter comentado com ele sobre o meu encontro na cantina. As salas de aula eram liberadas para os alunos retornarem meia hora antes do fim do intervalo e com a supervisão dos inspetores pelos corredores.
- Isso - ele me falou bem baixinho - Mas pouca gente sabe. Ele fica um pouco mais de tempo aqui no colégio pela manhã, faz a inspeção autorizada pela Direção, como ele te falou, e depois volta lá pra casa.
- Entendi. Mas por que você tem guarda-costas? - perguntei também em voz baixa quase perto do seu rosto.
- Foi um lance complicado. Um dos nossos amigos de onde a gente mora, é o filho do dono de uma empresa de aviação e sofreu uma tentativa de sequestro quando saía da escola, mas não deu certo. Mesmo assim, minha mãe ficou apavorada quando soube e meu pai achou melhor colocar um guarda-costas na minha cola só que disfarçado - seus dedos fizeram o sinal de aspas - de motorista.
- Ah, sim... E a Gabi e o Patrick não tem um guarda-costas também?
- Então. O William e a Natália fazem de tudo para eles viverem uma vida normal como te falaram de manhã não foi?
- Foi.
- Eles também ficaram preocupados com o que aconteceu e então os pais deles e os meus entraram em um acordo. O Evandro é pago para cuidar da segurança de nós três, no caminho de casa para a escola e durante os sábados quando queremos sair pra algum lugar. O dia de folga dele é aos domingos mas no início da noite de sábado, o meu pai libera ele pra descansar.
- Caramba, Frederik, que loucura tudo isso.
- Pois é - ele deu de ombros sorrindo - Mas é a minha segurança e a atenção que ele dá lá em casa são as mais importantes. E o prédio onde fica a cobertura do Patrick e da Gabi teve a segurança reforçada depois do que aconteceu com esse nosso amigo. Mesmo sendo em um condomínio.
- E você não se incomoda em ser vigiado?
- No início eu estranhei um pouco, mas o Evandro é uma cara legal. Acho que ele tem 26 ou 27 anos. Ele foi militar e tem conhecimento sobre essas coisas de segurança. O carro em que nós vamos embora tem os vidros pretos mas é por causa da blindagem.
- O carro é blindado?
- Sim. E agora o Evandro leva você pra casa também.
- Ele realmente não se incomoda em me levar?
- Que nada. O meu pai deve estar pagando a ele pra levar você em casa. Mas isso tudo que eu te contei é segredo, ok?
- Claro.
Ficamos nós dois tão atentos um com o outro conversando que não percebi o silêncio anormal em sala de aula que se formou e alguns risinhos dos alunos.
- Ô, Nívea...
- Que foi? - me virei para trás e o Frederik fez o mesmo, ao ouvir a voz do Patrick me chamar e ele continuou quieto me olhando por cima.
Me virei para frente e tomei um susto saltando da cadeira. Eric estava parado, encostado na sua mesa e olhava sério para nós dois mas não parecia estar irritado. Lindo em suas roupas de trabalho. A turma inteira começou a rir e eu morta de vergonha me ajeitei na cadeira, pegando meu livro de Literatura dentro do compartimento da mesa.
- Excusez-moi, professeur Schneider - falei rapidamente.
(Me desculpe, professor Schneider)
- La conversation était vraiment intéressante - ele ironizou com um meio sorriso, voltando para a sua mesa - cinq minutes que je suis entré en classe et ni même le signe vous deux avez écouté. J'espère que vous soyez en discussion sur le livre.
(A conversa estava mesmo interessante. Quase cinco minutos que entrei em sala de aula e nem o sinal vocês dois ouviram tocar. Espero que estejam conversando sobre o livro.)
- Non mais j'ai fini la lecture hier - respondi calmamente enquanto abria o livro da matéria.
(Não, mas eu terminei a leitura dele na noite de ontem)
- C'est vrai, Mademoiselle Martin? - ele permaneceu em pé entre a sua cadeira e a mesa, me encarando após ouvir a minha resposta - Que pensez-vous alors de répondre à quelques questions sur l'œuvre ?
(É mesmo, senhorita Martin? O que acha então de responder algumas perguntas sobre a obra?)
"Não Eric, você não vai fazer isso", pensei suspirando.
Eu não podia acreditar no que estava prestes a acontecer. E lá íamos nós mais uma vez.
- Vai lá Nívea, acaba com ele! - ouvi a voz do Patrick sussurrar baixinho atrás de mim. Frederik permanecia calado e apreensivo com a cena. Toda a sala estava em silêncio.
- Vous pouvez demander.
(Pode perguntar)
- Suer quoi c'est basée le scénario du livre?
(Em quê é baseado o enredo do livro?)
- Sur les expériences de la jeunesse de l'auteur.
(Em experiências da juventude do autor.)
- Bien. Sur quelle ville le caractère principal a débarqué, suite à être sauvé d'un naufrage pendant une balade de bateaux de pêcheurs ?
(Bom. Em que cidade o personagem principal aportou, após ser salvo de um naufrágio durante um passeio de barco de pescadores?)
- Ce n'était pas une ville. C'était l'île de Procida, dans le Golfe de Naples.
(Não foi em uma cidade. Foi na Ilha de Procida, no Golfo de Nápoles.)
- Très bien. Et l'histoire du livre a inspiré quel auteur romantique brésilien?
(Muito bem. E a história do livro inspirou que escritor romântico brasileiro?)
- L'écrivain brésilien José de Alencar.
(O escritor brasileiro José de Alencar.)
- Bravo. Je suis impressionné. Vous avez vraiment lu le livre.
(Parabéns. Estou impressionado.Você realmente leu o livro. )
- Oui, je l'avais dit.
(Sim, eu disse.)
Frederik começou a rir abafado após a minha resposta levemente afiada chamando a atenção do derrotado naquele jogo.
- Voudriez-vous ajouter quelque chose Monsieur Bertrand? - seu rosto perfeito se fechou no modo automático.
(Gostaria de acrescentar alguma coisa, senhor Bertrand?)
- Qui, moi? Moi pas, non.
(Quem eu? Não, não!)
- Parfait, commençons le cours.
(Ótimo, vamos começar a aula)
Eric ficou pensativo de repente e suspirou, olhando para o seu material de trabalho na mesa e em seguida seus olhos se voltaram para mim. As batidas do meu coração, onde estavam?
- Je voudrais avoir votre attention - ele pediu de um jeito tranquilo e todos o olhavam em silêncio - S'il vous plaît, je sais que tout le monde reste toute la journée à l'école. Néanmoins, faites des efforts à la maison et lisez le livre. Il n'a pas trop des pages. Si la Mademoiselle Martin a réussi, vous aussi réussissez. Peux-je compter sur vous?
(Eu gostaria de ter a atenção de vocês. Por favor, eu sei que todos aqui ficam o dia inteiro na escola. Mesmo assim, façam um esforço em casa e leiam o livro. Ele não tem muitas páginas. Se a senhorita Martin conseguiu, vocês também conseguem. Posso contar com isso?)
- Oui, professeur - olhei para trás e alguns alunos responderam, outros apenas balançaram a cabeça em um "sim".
(Sim, professor)
- Bon. Merci - E finalmente ele se sentou começando a escrever algo na ficha de chamada.
(Bom. Obrigado)
O Eric falando com calma? Sendo simpático com a turma? Ele estava fazendo o que eu pedi? Era isso mesmo?
- O professor Schneider disse "por favor" e "obrigado"? - Gabriele perguntou atrás de mim.
- Também não entendi - O irmão também ficou confuso.
As questões do livro sobre a autora Madame de Staël foram corrigidas e discutidas e depois o autor do livro que foi passado para nós se tornou o tema do dia.
Foi a melhor aula que o Eric estava dando desde a primeira vez que o vi entrar em sala de aula. Não sorriu muito, mas sempre que surgia alguma dúvida por parte de um aluno, ele explicava calmamente sem parecer impaciente. Várias vezes durante a aula eu disfarçava meus sorrisos vendo ele se esforçar em ser agradável.
***
Cheguei em casa, sentei no sofá deixando minha mochila de lado e peguei meu celular discando os primeiros números. Logo o contato do Eric apareceu e apertei o botão para fazer a chamada colocando no ouvido. Após alguns toques ele atendeu.
- Tá ocupado?
- Pra você, nunca.
- Eu posso te ligar de novo antes de ir dormir.
- Terminei de estacionar o carro agora. Pode falar.
- Obrigada por hoje.
- Foi a pior aula que eu dei nesses anos todos de profissão.
- Não foi não, Eric! Foi perfeito, eu adorei.
- Sabe que eu fiz isso apenas por você.
- Eu sei. E eu fico feliz.
- Não pense que eu vou relaxar com vocês.
- Vou convencer os pais da Melissa a matricularem ela no nosso colégio e ficar na minha turma, o que você acha? As aulas serão mais divertidas.
- Eu peço demissão na mesma hora - ele debochou e rimos juntos na linha - Tenho que ir agora, ma petite.
- Tá bom.
- Espera. Lembrei de uma coisa...
- O quê?
- O seu novo amigo vai mesmo sentar do seu lado em todas as aulas?
- Foi só hoje, o Frederik queria conversar comigo e dizer que estava tudo bem, que continuamos amigos.
- Fiquei doído de ódio quando entrei na sala e vi vocês juntos conversando, por pouco ele não engolia a sua boca.
- A minha boca é só sua.
- É sim, e ela mama bem gostoso no meu pau.
- Para com isso! - senti minha calcinha melar.
- Só falo isso pra você não esquecer. Eu tenho que ir agora, ma petite.
- Tá bom. Eu te amo.
- Também te amo, Princesse.
Desligamos, fiquei olhando para a tela e então lembrei de algo que poderia arriscar o nosso romance. Ao invés de telefonar novamente, fui ao Instagram e enviei uma mensagem privada no perfil do Eric dizendo que iria deixá-lo de seguir mas que seria por poucos dias. Pedi para ele fazer o mesmo e expliquei o motivo. Não sabia se os meus três novos amigos seriam bisbilhoteiros a ponto de verem quem eu sigo e então por segurança o fiz.
A tempestade que a minha mãe se referiu havia se afastado totalmente de dentro do meu coração. Eu apenas teria que me acostumar com novas mudanças que estavam acontecendo. Tranquila e feliz, com novos amigos e amada. Era como eu poderia me definir naquele início de ano letivo.
Continua...
Nota da autora:
Capítulo eleito por mim mesma como o meu favorito desta temporada, pelo menos até agora.
Espero que também tenham gostado, muitos pontos da história foram esclarecidos e mais uma vez eu peço à vocês ao que eu disse no Instagram, quem me segue por lá vai lembrar: Fiquem atentos aos pequenos detalhes, eles podem surpreender. Não deixem escapar nada!
Música tocada no carro: Baby I'm a want you - Bread
Contato: a_escritora@outlook.com
Instagram: /aescritora_