Ma Petite Princesse - 2° Temporada - XI (Eric)

Um conto erótico de Ana_Escritora
Categoria: Heterossexual
Contém 11443 palavras
Data: 12/09/2021 18:50:49
Última revisão: 05/11/2024 02:29:31

Sinopse: Vivendo um semestre sobrecarregado, Eric começa a sentir as consequências físicas por causa da sua decisão profissional.

Ao lado da sua amiga e confidente, um encontro inesperado pode fazer com que surja um mal entendido afetando o romance secreto que vive com a sua aluna.

****

O ano não começou fácil para mim...

Voltei para casa na primeira semana de janeiro após vários dias de descanso ao lado dos meus pais em Santa Catarina e, apesar do momento de alegria na família em testemunhar na noite de Natal o pedido de noivado do meu irmão Thomas à sua namorada, chegar ao Rio sabendo que ainda faltaria pouco mais de um mês para ter a Nívea novamente nos meus braços virou uma tortura. O recesso escolar e universitário se tornaram os piores períodos do ano pra mim após aquela Pequena ter invadido a minha vida e o meu coração.

Nívea voltou para o Brasil no fim de janeiro a tempo de comemorar o seu aniversário de 16 anos com os pais e eu tinha planejado algo especial para nós: um jantar a dois no meu apartamento. Infelizmente, o meu plano foi por água abaixo após a Luciana telefonar no início daquela manhã me chamando para uma reunião de última hora.

Cheguei no Campus e me encontrei com ela e o Reitor na sala de reuniões. E mais uma vez, igual no ano anterior, havia surgido uma nova proposta de trabalho. O professor de Literatura Francesa que lecionava de noite estava enfrentando um problema de saúde muito sério e teria que se licenciar do cargo por tempo indeterminado e com isso, a minha chefe sugeriu o meu nome apesar da opção de uma nova contratação. Eu receberia o valor em dobro pelas horas de aula por ser de noite. Não tive muito tempo para pensar porque as aulas começariam na semana seguinte e sendo assim, aceitei de imediato. Passei todo aquele dia discutindo as questões do novo contrato, as turmas e o conteúdo das disciplinas. Deixei o campus quase no início da noite e só tive tempo de ir rapidamente ao shopping para comprar um presente para Nívea, deixá-lo em casa e ir me encontrar com ela.

Reencontrá-la após tanto tempo fez o meu coração saltar e ela estava linda como sempre. Nunca me cansaria de admirar aquele rosto perfeito cujo pedaço do céu estava naqueles olhos.

Mas o azul se transformou em uma tempestade cinzenta no instante em que revelei que não iríamos mais nos encontrar após as aulas, quando ela dividiu comigo a alegria em ser novamente a minha aluna. Nívea não aceitou o fato de que eu iria começar a dar aula de noite e imaginou que eu a teria trocado por outra mulher. Um completo absurdo e não consegui convencê-la da única verdade. Ela ficou magoada demais.

Fiquei dias tentando entrar em contato para explicar a situação mas ela possuía algo em si mesma que era fugir de um conflito o máximo que podia, até não ter saída e então finalmente enfrentá-lo. Confidenciei para a Luciana sobre a chata discussão que tive e ela me deu a opção de voltar atrás que então contrataria outro professor. Imediatamente eu rebati negativamente a proposta e por mais que fosse difícil, a Nívea teria que aceitar pois eu estava fazendo isso, pensando no nosso futuro juntos.

O ano letivo começou e para a minha desagradável surpresa, Nívea estava se tornando amiga do representante de turma recém escolhido com direito a ir jantar com ele no sábado anterior e também com os pais. Frederik era o nome dele. Eu era péssimo em decorar o nome de um ou outro aluno mas neste caso, rapidamente eu fiz questão de gravar pois ele estava se tornando próximo da Ma Petite. Eu não deveria me intimidar, sabia do amor que a Nívea sentia por mim mas eles eram da mesma idade, merda! Para uma adolescente feito ela, se deslumbrar era fácil, principalmente pelo fato dela nunca ter tido amigos no colégio. Precisei controlar o ciúme que corroía cada músculo do meu corpo e manter o profissionalismo em sala de aula. Mesmo assim eu não conseguia tirar os meus olhos de onde ela estava sentada e minha mente começou a pensar um monte de merdas em torno dos dois. Era ridículo eu me sentir assim mas não consegui evitar, principalmente após chegar na portaria e flagrar os dois indo embora para casa juntos no mesmo carro, no fim do primeiro dia de aula. Telefonei feito um louco e nada dela me atender.

Eu precisava ser paciente e agir feito o adulto que eu era.

No fim daquela noite, Nívea decidiu me atender e lhe dei um ultimato para que a nossa situação se resolvesse. No sábado ela veio para a minha casa e tivemos uma conversa muito difícil pois não aceitava de jeito nenhum se sentir deixada de lado por causa do meu trabalho. A ameaça de que ela colocaria um ponto final na nossa história foi um golpe que eu não esperava receber. Imaginar a minha vida longe dela e, ao mesmo tempo, tão perto seria desesperador. Eu a amava. Amava como nunca tinha amado nenhuma outra antes e só em pensar que outro poderia tocá-la, era uma coisa que me enlouquecia.

Abri meu coração após esse possível término e enfim, Nívea se rendeu dizendo o mesmo, me deixando aliviado. Revelei com toda tranquilidade de que não havia nenhuma outra na minha vida e a prova disso foi demonstrar o meu amor em sua forma carnal. Matamos a saudade um do outro após tanto tempo longe. Uma noite inteira nos tornando um só por incontáveis momentos.

Mesmo feliz e aliviado por termos reatado, o sentimento de ciúme novamente veio à tona ao entrar em sala de aula na segunda-feira seguinte, ajeitar o meu material na mesa e dar de cara com aquele garoto sentado ao lado da Nívea. Ambos estavam conversando sobre algo que eu não conseguia entender pois o faziam em voz baixa, mas o que me irritou foi o fato dele quase estar engolindo aqueles lábios perfeitos e que eram meus, de tão próximo um do outro que estavam. Além disso, eu não estava entendendo o motivo deles dois estarem sentados um do lado do outro. O que estariam conversando de tão importante que ninguém poderia ouvir? Fiquei observando e eles nem sequer notaram a minha presença em sala.

''Nada de ciúmes, Eric! A Nívea te ama e é importante para ela ter novos amigos!'' era o que eu repetia para mim mesmo.

A turma entrou em completo silêncio ao perceber que eu observava os dois com uma boa dose de paciência e risinhos por parte de um ou outro aluno surgiram, pois eles ainda conversavam tranquilamente. Foi quando o Patrick, filho do casal de jornalistas mais famosos do país, chamou pela Nívea e ela tomou um susto ao me ver ali, fazendo os alunos caírem na gargalhada. Conseguia ser um anjo até sendo pega de surpresa e morrer de vergonha. Fiquei chocado comigo mesmo ao brincar com a situação. Isso fazia parte de algo que eu colocaria em prática, após um pedido que ela me havia feito e com muito custo o concretizei depois da sabatina sobre o livro do bimestre atual em que prontamente respondeu todas as perguntas que eu fiz sobre ele.

Acabei adotando uma postura mais tranquila em sala de aula e mesmo ainda um pouco sério, decidi enterrar o meu lado carrasco e insuportável que eles tanto temiam. Não foi fácil, mas fiz isso apenas pela Nívea.

Consegui me encontrar com ela no primeiro dia de Carnaval. Mesmo odiando o tumulto dos blocos eu não poderia perder a oportunidade de tê-la junto comigo, a ''raptei'' da mãe e da melhor amiga sem que as duas percebessem e tirei ela da multidão que desfilava sempre pelo bairro cuja concentração era na faculdade. Relembramos dos bons tempos em que ela ia se encontrar comigo no meu carro, desta vez com ele parado no estacionamento há poucas quadras de onde eu morava. Transar com ela de bumbum empinado me levava à loucura.

Estávamos bem e conversávamos sobre tudo até o fato dela ficar se perguntando se a melhor amiga era mesmo apaixonada pelo seu meio irmão.

As semanas de aula ocorreram normalmente. De fato, mudar o meu jeito de lidar com os alunos do ensino médio fez com que eu me aproximasse e conhecesse um pouco melhor cada um deles. O muro que eu havia construído por um ano letivo inteiro me impedia de enxergar o quanto eram dedicados com a minha disciplina embora alguns demonstrassem ser mimados. Com eles, eu me tornava um pouco mais rígido mas sem grandes tensões. A parte divertida disso tudo foi que após eu ter divulgado o meu perfil no Instagram, choveram seguidores sendo a maioria as minhas alunas, incluindo a Nívea que voltou a me seguir sem causar desconfiança.

O que estava me incomodando realmente durante o intervalo das aulas era o Frederik parecendo um verdadeiro urubu em torno dela mesmo eles sendo apenas bons amigos. O modo apaixonado como ele a olhava era um verdadeiro teste para o meu auto controle e essa proximidade talvez se tornaria uma pedra no meu sapato.

Em mais uma noite de sábado em que fiz amor com ela, senti que a Nívea não era a mesma das outras noites em que estávamos juntos. Mesmo sendo carinhosa como sempre, estava distante e seu corpo mostrou isso. Receosa, ela contou o que se passava: aquele verme maldito que ousou tocar nela, finalmente tinha sido pego pela polícia após ser flagrado assediando uma jovem também adolescente. No entanto, o que me deixou indignado foi a Nívea, com o apoio dos pais dos seus melhores amigos, esconder isso dos pais dela. Essa postura em não querer preocupá-los me revoltava, principalmente por se tratar de algo tão sério. Além de não ter ficado preso, existia o risco dele procurá-la e lhe fazer algum mal. Minha conduta profissional era inexistente desde o exato instante em que eu a beijei pela primeira vez e se esse maníaco a tocasse novamente, eu o enviaria pessoalmente direto para o inferno.

Mesmo preocupado, ela me convenceu de que tudo estava sobre controle e que ele não se aproximaria dela. Eu prometi a mim mesmo de que não iria me envolver tanto na relação entre a Nívea e os pais mas era algo realmente difícil. Ao mesmo tempo em que entrei na necessária zona de conforto por manter nosso relacionamento em segredo, eu me sentia na obrigação de alertá-la sobre determinadas decisões que tomava. Fazia isso por zelo e por amor devido à sua imaturidade em não perceber o quanto essa história era tão grave.

***

Dois meses com uma nova rotina e eu já sentia os efeitos da minha escolha. O cansaço físico e mental me dominava por completo e as coisas que eu almejava após chegar em casa quase onze horas da noite eram um bom banho frio, um lanche rápido e cama para, no dia seguinte, começar tudo de novo.

Ainda assim, nos sábados de noite eu procurava dar todo o amor, carinho e atenção que a Nívea merecia pois não era justo trazê-la pra ficar junto comigo e não fazer outra coisa além de dormir.

Mais uma semana de provas se iniciava e era um período de mais trabalho, dias antes e depois. Antes por ter que prepará-las e depois ter que corrigí-las no sábado, lançando as notas em seguida. Além das correções, as aulas da semana seguinte teriam que estar prontas.

Era fim de tarde de quarta-feira, o relógio na tela do meu celular marcava cinco e meia quando o guardei no bolso da calça e o último aluno me entregou sua prova, meia hora antes do previsto para o término, me cumprimentando de forma amigável no que eu fiz o mesmo e saiu da sala em seguida. Chovia e fazia frio desde o início da semana, mas nascer e crescer no sul do país e depois viver cinco anos na Europa, convivendo com temperaturas acima dos 20 graus somente no Verão era algo normal pra mim. Óbvio que eu estava usando roupas para a ocasião. A jaqueta grossa e preta por cima da blusa de moletom fino, também na cor preta, ajudavam a me manter aquecido do ar condicionado que gelava a sala de aula.

Estava em pé arrumando as provas na mesa e colocando os blocos das folhas dentro de um envelope, me preparando para deixar a sala quando ouço saltos de sapato pelo piso.

- Ei! - levantei o olhar da mesa e a vejo com o celular e uma pequena bolsa de mão - Tá livre agora?

O som do salto fino ecoava pela sala vazia e eu ficava me questionando como ela conseguia ficar o dia inteiro em cima deles sem sentir dor. As mulheres eram muito mais fortes do que nós homens poderíamos imaginar. Luciana também estava protegida pelo frio usando uma blusa de lã bem grossa de mangas longas até o pulso, com a gola larga no pescoço na cor bege e uma calça preta que combinada com os sapatos visivelmente torturantes.

- Seis e meia eu começo as provas do turno da noite - respondi, voltando a arrumar o material.

- Ótimo, você tem uma hora livre. Um lanche agora, que tal? A cafeteria daqui do lado do campus ficou linda depois da reforma.

- É, ficou mesmo. - sorri, suspirando profundamente e relaxando os ombros. Um silêncio se formou entre nós dois.

- Tem certeza de que foi uma boa ideia?

- Sobre o quê? - voltei a encará-la enquanto ela me observava.

- Sobre assumir as turmas do turno da noite.

- Foi uma ótima ideia. A remuneração está valendo a pena e você sabe o motivo dessa minha decisão.

- Eu sei. Está pensando no seu futuro com a Nívea.

- Acertou.

- Mesmo com o cansaço gritando no seu rosto? Pensa bem Schneider, no próximo semestre eu posso contratar algum professor no seu lugar, você sabe que eu tenho essa autonomia.

- Vamos tomar o café ou não? - mudei de assunto na mesma hora, colocando a minha mochila nas costas e ajeitando as alças nos ombros.

- Vamos... - ela suspirou rendida e não insistiu mais - Deixa a sua mochila na minha sala e depois você a pega de volta.

- Tá ótimo.

Desliguei o ar condicionado pelo controle remoto, o deixei encostado na mesa junto à parede e saímos, após apagar a luz da sala e fechar a porta. A movimentação pelos corredores era tranquila pelo horário, pois muitos estudantes ainda deveriam estar fazendo suas provas. Ao chegar na sua sala, apenas deixei minha mochila na cadeira, peguei a minha carteira em uma das bolsas laterais e saí, no que ela imediatamente trancou a porta com a chave.

- Sei que ainda é cedo, mas já pensou sobre o que vai apresentar na semana de seminários em agosto? - ela me questionou enquanto caminhávamos rumo ao pátio e à saída.

- Comecei a fazer algumas pesquisas e separando o material. Estou mergulhando na Revolução Francesa e a influência da Literatura na época.

- É um ótimo assunto. Não vai faltar alunos querendo se inscrever.

- Eu espero. Mas em julho poderei pesquisar com mais calma.

- Quem está histérico com isso é o André, o Coordenador de Direito. Quer que haja uma palestra sobre Direito Empresarial e não encontrou nenhum advogado do ramo.

- E por que não?

- Ele quer o Diretor de uma grande multinacional como palestrante e homens desse meio são muito ocupados.

- Entendo.

Alguns estudantes estavam sentados pelo pátio e assim ainda estava tranquilo. Mesmo sendo um local a céu aberto, o frio não intimidou a presença deles sentados pelo chão ou nos bancos de praça.

Chegando na calçada em direção ao café, o vento gelado parecia que iria cortar o meu rosto e ajeitei a gola da jaqueta em torno do pescoço. Em frente ao café, felizmente ele não estava muito cheio. Com o fim da reforma, o lugar ficou mais aconchegante e espaçoso me fazendo lembrar do meu primeiro emprego em Nice.

Nos sentamos e logo em seguida uma jovem garçonete, usando um avental preto e blusa branca, muito simpática veio nos atender entregando dois cardápios.

- Tanta coisa boa que vocês servem que fica difícil escolher - minha chefe comentou, enquanto olhava o cardápio e a moça deu um meio sorriso simpática - Você vai escolher o quê? - me perguntou.

- Bom, acho que vou voltar aos meus tempos de criança. Vocês servem achocolatado, não servem?

- Servimos. Você vai querer que seja quente?

- Sim, por favor.

- Apenas a bebida? - ela perguntou enquanto anotava em um pequeno bloco.

- Bom... Er... - eu olhava o cardápio e vi a parte dos sanduíches - Eu vou querer um sanduíche com queijo branco.

- Certo. E você? - ela voltou a sua atenção para a Luciana.

- Vou querer um café preto e aquele croissant delicioso de queijo com presunto que vocês servem. Eu espero que tenha. Do contrário, eu falo com o gerente, ele é o meu amigo! - ela brincou.

- Temos sim - a moça sorriu em meio à anotação - Com licença - e saiu, indo em direção ao balcão.

A mesa que escolhemos era colada à parede onde colocamos nossos celulares, carteira e a pequena bolsa no canto e havia outra do nosso lado, formando assim quatro lugares. Fiquei de costas para a entrada, o que me impossibilitou ver quem entrava e saía do local, diferente da Luciana que ficou de frente pra mim observando tudo e todos.

Conversamos alguns assuntos sobre a faculdade enquanto esperávamos pelos nossos pedidos e de repente a expressão da minha chefe mudou, quando percebi que ela olhava na direção da entrada.

- Ora, ora, ora... - ela abaixou o olhar, apoiando o cotovelo na mesa e esfregando levemente a testa com a mão como se estivesse disfarçando - Uma presença ilustre entrando agora - ironizou.

- Quem? - perguntei sem virar o rosto.

- Sua digníssima e elegantíssima sogra, uau... - falou baixinho.

- O quê?? - Me virei imediatamente e então a vi.

Era ela. Helena Toledo.

Estava parada bem na entrada, ao lado da sua amiga loira que quase se jogou pra cima de mim no dia do seu aniversário, em que fui de última hora por motivo de força maior. Helena, além de linda, era realmente uma mulher elegante. O casaco de frio preto e longo até o meio das coxas combinava com a calça jeans escura e a blusa também preta e os sapatos scarpins vermelhos contrastavam com a sobriedade das roupas.

Junto da sua bolsa de couro no ombro, ela observava o local com um ar curioso como se fosse a primeira vez que estivesse ali. E o que eu menos queria aconteceu: seus belos olhos azuis se encontraram com os meus e seu sorriso cativante surgiu, surpresa por me encontrar. Chamou a atenção da amiga e as duas vieram nos cumprimentar.

- Professor Schneider! - me levantei rapidamente e a cumprimentei com dois beijos no rosto, logo que nos aproximamos - Meu Deus, que prazer em revê-lo!

- O prazer é meu Senhora Toledo. Como vai?

- Estou bem e nada de senhora, por favor!

- Claro... Helena - me virei para a amiga - Me desculpe...

- Marina, professor. Uma pena não se lembrar do meu nome.

- Sou péssimo com nomes, lamento. - dei uma desculpa ridícula e quando percebi, Luciana já se encontrava do meu lado - Essa é a minha chefe, coordenadora da graduação aqui da faculdade.

- Luciana Monteiro - lhe estendeu a mão - é um enorme prazer em conhecê-la, Helena. Acompanho o seu trabalho como esteticista há anos.

- Ah, fico feliz. - ela sorriu, voltando a me encarar - Então quer dizer que você também é professor universitário? Não lembro da Nívea ter comentado comigo.

- Sou sim, onze anos de profissão que completei esse ano.

- Que lindo, meus parabéns.

- Obrigado.

- Com licença - a jovem garçonete se aproximou de nós e vi que nossos pedidos já estavam na mesa deixados por ela - Vocês quatro estão juntos?

- Bom, espero que eu e a Lena não estejamos interrompendo nada - a amiga insinuou e aquilo acendeu uma faísca incômoda dentro de mim.

- Verdade, podemos nos sentar em outro lugar...

- De jeito nenhum! Sentem-se e nos façam companhia. O Schneider e eu estamos em um intervalo entre os dois turnos - e me deu um tapa nas costas fazendo meu corpo inclinar de leve para frente e me deixando sem reação.

- Sim... A Luciana tem razão. Estou com o tempo livre agora - educadamente afastei a cadeira vazia do lado da minha para que uma das amigas se sentasse e voltei para o lugar onde estava sentado e ela fez o mesmo ficando de frente para mim.

Para o meu alívio, Helena se sentou do meu lado e Marina de frente para ela. Se tivesse o poder de fuzilar a minha chefe com um olhar eu o faria e ela sabia, pois me olhou e sorriu de volta destilando o veneno debochado, escorrendo pelos lábios.

Não consegui entender o motivo da tensão me dominar. Ela não sabia absolutamente nada sobre o meu namoro com a sua única filha mas o sinal de alerta diante dela sempre surgia. Voltei meu olhar para o chocolate quente e o meu sanduíche, tentando me manter calmo e agir naturalmente como os jovens diziam. A garçonete anotou o pedido das duas amigas e se retirou. Foi quando Helena se voltou para mim.

- E então professor, pode me contar: minha princesa apronta muito em sala de aula?

- Não, de jeito nenhum - levei a xícara próximo aos lábios e assoprei um pouco a bebida antes de beber um gole - Meu sonho era que todos os meus alunos fossem iguais à ela.

- Se ela se comportar mal, pode dar um puxão de orelha. Tem a minha autorização - ela brincou.

- A única coisa que ela faz, minha amiga, é sumir em blocos de Carnaval! - Marina disparou sobre o ocorrido, fazendo a Luciana engasgar com o café enquanto o tomava. Me limitei apenas a dar um sorriso de canto. Sendo a minha amiga e confidente, era óbvio que ela sabia do que estavam falando pois eu havia lhe contado sem maiores detalhes do "sequestro" da Nívea.

- Como assim? - ela tossiu de leve, conseguindo se fazer de desentendida.

- Pois é, vocês acreditam que a Nívea me deu um susto no sábado de Carnaval? Estávamos eu, ela e a Melissa desfilando no bloco daqui do bairro e quando eu olho para os lados, cadê a minha filha? Tinha sumido!

Eu e a Luciana nos entreolhamos e ela pôs a mão na boca fingindo surpresa com o relato.

- Mas assim... - minha chefe continuou a conversa - Ela sumiu por muito tempo?

- Mais ou menos. A sorte é que o desfile estava quase no fim quando percebi o sumiço dela. O que me tranquilizou foi que tanto eu como a Melissa telefonamos para o celular e ele chamava, só que a Nívea não atendia.

- Entendi - ela voltou a beber o café abaixando o olhar.

- Quando a Lena me contou, eu falei na mesma hora: Algum gatinho da mesma idade roubou um beijo dela e os dois saíram do bloco. Ou você acha que com a idade que tem, a sua filha ainda não tenha beijado na boca?

- É claro que eu pensei nisso Marina, mas eu nunca fui uma mãe invasiva e o que importava naquele momento era saber se a Nívea estava bem. E estava pois eu consegui falar com ela logo depois.

- A Nívea parece ser o tipo de menina que realmente não lhe causa preocupação alguma, Helena - comentei - mas esses sustos que os jovens na idade dela pregam nos pais acontecem.

- Nossa, nem me fale professor. Meu coração só acalmou quando a vi virando a esquina, andando na nossa direção e finalmente lhe abracei de volta. Felizmente ela estava inteira.

- Que bom.

- É sério, Lena. Ela estava ficando com algum menino. Tenho certeza.

- Sim - ela suspirou e então a garçonete novamente se aproximou com os dois sucos que as amigas haviam pedido, colocando os na mesa - Obrigada - ela agradeceu e a moça se retirou - A beleza da Nívea chama a atenção, nada mais natural. Embora eu e o Jacques já formamos uma pequena torcida em torno do coraçãozinho dela.

Minha espinha congelou no momento em que ouvi aquele comentário após dar a primeira mordida no meu sanduíche e a tensão que permanecia pelos meus ombros pareceu aumentar.

- Frederik Bertrand! - a amiga afirmou em um tom elevado na voz demonstrando empolgação. Engoli em seco, endurecendo cada músculo do meu rosto e uma corrente quente de raiva começou a se formar pelas veias do meu corpo.

Ficou tudo muito claro. Nívea me afirmava por diversas vezes que, mesmo com ele a cercando, eles eram apenas bons amigos. Me senti um verdadeiro idiota porque o meu foco de preocupação estava completamente errado! O Frederik em si não seria o maior problema.

- Frederik? Quem é?

E eu precisava me lembrar de esganar a Luciana mais tarde. Ela sabia sobre ele e fez questão de esticar o assunto.

- O amigo da Nívea. Eles estudam na mesma turma que aliás ele também é o seu aluno, não é professor?

- Sim, ele é. - bebi mais um gole do chocolate após a resposta seca.

- Ai, me conta uma coisa: eles dois sentam perto um do outro em sala?

- Não. Na verdade, a Nívea se senta do lado da Gabriele. A que tem os cabelos repletos de cachos.

- Ah, sim. Ela é a minha fã - e começou a rir de forma contagiante - Mas é uma pena, viu? Todas as vezes em que eu e o pai dela comentamos sobre o Frederik, a Nívea vira um pimentão vermelho de tão envergonhada. Quando eu vi os dois sentados juntos no jantar com os pais dele no início do ano, eu vi o casalzinho mais lindo do mundo sendo formado!

- Bom, mesmo sendo uma adolescente, pessoalmente acho um pouco cedo ela namorar. Mas enfim, vocês são os pais! - minha chefe ponderou e a minha vontade em continuar a comer desapareceu por completo.

- Sim, além disso, nem eu e nem o meu marido falamos diretamente sobre o assunto. Ficamos apenas nas indiretas pra ela. O bom é que a Nívea é uma menina muito inteligente e percebe na hora o que queremos dizer mas ao mesmo tempo desconversa.

- Entendi.

Respirei fundo e terminei de dar um último gole no meu achocolatado. Eu não podia demonstrar o quanto eu havia me irritado com aquela constatação de que os pais da ma petite estavam sim alimentando esperanças em ver a filha namorando com outro.

- Mas então - forcei um sorriso decidido a mudar de assunto - Vocês estão de visita pelo bairro?

- Ah, professor... - Helena ficou levemente emocionada - Eu e a Mari estamos aqui porque Deus é muito bom e eu estou realizando um sonho de muitos anos.

- Mesmo? Do que se trata?

- Na próxima segunda-feira, o Espaço Helena Toledo começará os trabalhos na sua nova filial aqui nesta rua e sábado teremos a festa de inauguração. Eu custo a acreditar até agora.

- Mas que notícia maravilhosa! - Luciana sorria e eu não consegui esconder o quanto estava surpreso. Nívea havia comentado comigo no sábado anterior sobre a nova clínica da mãe mas eu não podia imaginar que seria no mesmo bairro em que eu morava e trabalhava - Então aquele imóvel que estava em reforma logo ali na frente será a sua filial? Lembra, Schneider? Eu comentei com você esses dias sobre o entra e sai de pedreiros do local!

- Sim, eu lembro. Também cheguei a ver a movimentação, materiais de construção na calçada mas jamais poderia imaginar que seria a sua clínica. Parabéns Helena, você merece!

- Parabéns! - minha chefe endossou - Aliás para vocês duas.

- Obrigada. Foram dois meses de muito trabalho. Acompanhar o andamento das obras, a Marina entrevistar candidatas para formar uma nova equipe de esteticistas e depois eu pessoalmente treinar essa equipe.

- E a obra terminou hoje em tempo de realizarmos a festa no sábado. Eu e a Lena estávamos voltando de lá.

- Pois é, a minha princesa me pediu e o cronograma da reforma foi cumprido a tempo, pois assim ela poderia ir à festa sem se preocupar com as provas que acabam na sexta-feira.

- Isso é ótimo.

- Aliás, vocês dois não querem ir à festa? Ela será bem restrita a poucos convidados e terá uma jornalista cobrindo o evento mas será o mesmo clima de descontração do meu aniversário. Você se lembra não é professor?

- Lembro sim - sorri sem jeito, sentindo um aperto entre as minhas pernas ao me lembrar de ter trepado com filha da aniversariante na saída de emergência e tentei me acomodar melhor na cadeira.

- Claro que ele lembra - a amiga enfatizou - Por pouco ele não faz mais sucesso que você sendo a dona da festa.

- Ah, isso foi verdade. Você virou o assunto lá na clínica por dias.

- Exagero de vocês - afirmei sem graça e a Luciana começou a rir.

- Mas então? Aceitam o meu convite?

- Bom... É triste mas... Terei que recusar, o sábado próximo é o qual eu reservo para corrigir as provas dos alunos e só termino no fim da noite. Principalmente neste ano em que comecei a dar aula no horário noturno e fiquei mais sobrecarregado de trabalho.

- Que pena. Mas caso você mude de ideia, deixarei o nome do casal na lista de convidados.

- Não somos um casal! - eu e a Luciana rebatemos a frase ao mesmo tempo.

- Ah, me desculpem! - a esteticista ficou claramente constrangida pousando a mão no colo - Me desculpem mesmo.

Para a minha preocupação aquela conversa novamente estava tomando um caminho perigoso.

- Tudo bem. Eu e o Schneider somos grandes amigos o que faz com que muitos pensem o mesmo, inclusive os alunos. - Luciana conseguiu tranquilizá-la - A verdade é que eu tenho uma ótima relação com todos os professores da minha equipe.

- Então Lena, lembra sobre o que eu e você conversamos? A Luciana pode te ajudar!

- Sobre o quê? - ela questionou confusa.

- Bom, é sobre uma campanha de divulgação dos serviços de estética que nós planejamos. Você trabalha no setor administrativo da faculdade?

- Eu faço parte da área pedagógica mas se eu puder ajudar em algo...

- Eu e a Marina, em nome do Espaço, gostaríamos de oferecer uma promoção exclusiva para alunos, professores e funcionários da universidade de 15% de desconto no primeiro serviço. Geralmente casas de depilação fazem o mesmo. Temos um modelo de flyer pronto para divulgação e deixarmos ele pelos setores da faculdade.

- Claro, é uma excelente iniciativa!

- E com quem eu posso falar?

- Então, eu vou te encaminhar para a diretora de marketing. - minha chefe pegou o celular, desbloqueando a tela e procurou pelo número - É a Bianca Figueiredo. Te passo o contato e vocês marcam uma reunião.

- Mas ela é solícita? Pode ser que ela não seja aberta à negociações.

- Bianca? De jeito nenhum! Todo o comércio aqui em torno tem um acordo firmado com o campus em que os alunos e funcionários ganham descontos e cortesias de tempos em tempos. E tudo isso graças à ela! Tanto os comerciantes e a Universidade saíram ganhando.

- É mesmo? Que ótimo!

- E pensar que a Lena ficou com receio em abrir a filial aqui no bairro. Eu sabia que daria certo por ser uma região universitária.

- Marquem uma reunião com a Bianca. Ela é atenta a tudo o que acontece por aqui. Marketing é uma área em que os profissionais precisam estar um passo à frente e com certeza ela já sabe que sua clínica será inaugurada. - Luciana enfatizou, entregando o aparelho para que Helena gravasse o contato no seu celular.

- Muito obrigada. Vou ligar e tentar marcar uma reunião com ela na próxima semana.

- Não se preocupem. Ela vai adorar receber vocês.

Mulheres. Sempre se entendem. - pensei enquanto as observava.

- A conversa está ótima, mas infelizmente eu tenho que ir. - Helena lamentou após terminar o seu suco - Amanhã estaremos de volta porque a equipe de limpeza vai chegar cedo para arrumar tudo. Antes de ir pro trabalho, eu quero dar uma passada aqui primeiro.

- Claro, eu entendo. Eu também já vou, tenho que aplicar prova às seis e meia.

- Realmente não quer ir comemorar conosco no sábado, professor? - Marina inclinou o corpo na mesa, exibindo o seu decote o qual os meus olhos não foram capazes de ignorar - Adoraríamos a sua presença. De vocês dois, é claro! - rapidamente ela se conteve, incluindo a Luciana no convite.

- Marina, não começa!

- Ué Lena, quem sabe não mudam de ideia.

- Faremos uma visita quando a clínica estiver funcionando. Combinado Schneider?

- Claro, iremos sim! - confirmei para as duas.

- Vamos esperar vocês nos visitarem - Helena docemente me encarou - Tenho um compromisso agora de noite. A Cecília e o Henrique, ofereceram um jantar para mim e o Jacques nos parabenizando pela inauguração já que infelizmente eles também não irão.

- Eles são os pais da Melissa e do Felipe, não é isso? Lembro deles no seu aniversário. Era óbvio que eu lembrava mas o meu cinismo era maior.

- Isso mesmo! E pela hora - ela visualizou a tela do seu aparelho - o meu anjo já deve estar em casa me esperando. Tadinha, a Nívea fica tão estressada em semana de prova. Esse jantar também vai ser bom pra ela se distrair um pouco com os amigos.

- Nívea é uma aluna inteligente, ela vai se sair bem - disse tranquilamente, não conseguindo conter o meu coração bater descompassado ao me lembrar dela.

- Eu espero que sim! - ela se levantou da mesa, colocando sua bolsa em um dos ombros e a amiga a acompanhou - Foi um prazer enorme revê-lo, professor. - me levantei para me despedir - E de agora em diante você terá a mãe da sua melhor aluna como vizinha! - O seu belo sorriso se fez presente.

- Vai ser ótimo.

Eu e Luciana nos despedimos delas e as duas amigas seguiram para o caixa do café próximo à entrada, que estava sem fila e pagaram pelo que consumiram. Acompanhei com o olhar até o momento que saíram do local perdendo elas de vista.

- Finalmente - me virei de volta na cadeira, relaxando os meus ombros e o corpo inteiro, soltando uma bufada de ar.

- Ela nem é oficialmente a sua sogra e você fica desse jeito?

- Eu não consigo evitar.

- Adorei ter conhecido ela pessoalmente e é muito mais bonita do que nas fotos em que ela divulga no Instagram da clínica. Nívea realmente herdou a beleza da mãe.

- Você a segue? - questionei enquanto a encarava, massageando a minha nuca.

- Lógico, quem não conhece Helena Toledo? Quando liguei para a clínica tentando marcar uma consulta com a própria, essa amiga loira, a Marina foi quem me atendeu e disse que eu teria de esperar uns três meses. A agenda dela é disputadíssima!

- Legal.

- E agora falando sério com você. Se um dia pretende assumir esse romance, vai ter que se mostrar mais à vontade quando se encontrar com os pais dela.

- Eu sei.

- Mesmo? Pois não é o que parece depois de tudo o que eu presenciei aqui.

- Como você acha que eu fiquei após descobrir que eles estão praticamente prometendo a filha em casamento a um garoto da mesma idade e que ainda por cima também é o meu aluno? Acha que foi fácil ouvir tudo o que eu ouvi?

- Você e a Nívea se amam. Não vejo razão para se preocupar.

- Mas eu vejo. Os pais dela não vão me aceitar.

- Quanto ao pai eu não sei porque eu não o conheço, mas acredito que você não terá problemas com a mãe. Minha intuição dificilmente falha.

- Virou vidente agora?

- Não. Além disso, existe um Plano B. Uma mulher loira, de cabelo chanel, com mais seios do que decote e pronta para te enfiar as garras.

- Isso não tem graça, Luciana - rebati com o rosto tenso.

- Eu sei que não! - e se desatou a rir - Mas foi engraçado demais vê-la te devorando com os olhos toda hora e sonhando em sentar no seu colo.

- Sim, por isso fiz questão de ignorá-la educadamente dando atenção somente à Helena. - respirei fundo, voltando a olhar o lanche na minha frente cujo sanduíche havia apenas uma mordida.

- Pensando em quê?

- Não sei se... - respirei fundo, balancando a cabeça ligeiro em negação - Não sei se foi uma boa ideia esse encontro.

- Entendo, mas não tínhamos como saber. E vai ser chato demais se ela pensar o mesmo que todos os seus alunos pensam sobre nós dois.

- O que é ridículo.

- Claro que é, mas infelizmente não podemos controlar os boatos, apenas ignorá-los como fazemos tão bem.

- Vamos voltar? Já são quase seis e meia.

- Vamos sim. Hoje de noite quando você terminar com a sua última prova e antes de ir pra casa, passe na minha sala. Eu tive uma ideia.

- Sobre o quê?

- Na hora eu te explico. Não é nada sobre trabalho, fique tranquilo.

Deixamos a mesa, seguimos até o caixa e pagamos, retornando rapidamente para a Universidade.

Como tínhamos combinado, após terminar de aplicar a prova para a última turma da noite, fui até a sua sala e fiquei sem reação com que ela tinha acabado de me sugerir.

- Como é que é? Você quer que eu envie flores para a Helena?

- Exato - ela me confirmou enquanto olhava para a tela do seu computador, que estava voltado para o meu campo de visão na ponta da mesa.

- Isso é absurdo, Luciana. Helena é uma mulher casada e eu nunca enviei flores pra ninguém, nem para as minhas ex-namoradas eu fiz isso.

- Ô Senhor Ogro, escuta uma coisa: você vai enviar essas flores como um gesto de gentileza, lhe dando os parabéns pela inauguração da clínica. Não é somente para a Helena e sim para toda a equipe! Deu pra entender?

Enquanto ela deslizava o mouse, a tela exibia o site de uma floricultura mostrando vários buquês e arranjos de flores do mais diversos modelos e tamanhos.

- E por que eu faria isso?

- Por duas razões. Primeiro, já que você foi extremamente mal educado em recusar o convite para ir à inauguração no sábado, é justo que você envie esta lembrança.

- Eu não sei que horas eu vou terminar de corrigir as provas por isso recusei. E você também sabe disso.

- Certo, não discordo. E a segunda razão é: está na hora de começar a quebrar essa barreira de gelo que foi construída entre você e os pais da sua petite, não concorda? - ela argumentou sem tirar os olhos da tela.

- É, pode ser.

- Aqui - ela apontou com o cursor em cima de um arranjo - Envie esses girassóis para ela. Como é um momento de alegria pela inauguração, eles representam bem o significado de felicidade e votos de boa sorte pelo novo empreendimento.

- E desde quando você entende de flores?

- Desde o meu primeiro emprego em uma floricultura quando estava no último ano do ensino médio. Eu estudava de manhã e trabalhava depois do almoço. Acabei aprendendo alguma coisa.

- Impressionante...

- Sim. Agora vai - ela me passou o mouse - clica e faz o pedido, deixando a entrega marcada para o sábado.

- Mas eu nem sei que horas vai começar...

- Marca para o meio da tarde. Se é uma festa, terá pessoas por lá para receber enquanto arrumam tudo.

- Vou marcar para entregar às cinco da tarde. Sendo a Helena, arrisco dizer que a festa deve começar de noite.

- É um bom horário.

Luciana me passou o teclado e precisei fazer um cadastro rápido no site da floricultura para realizar a compra. O arranjo possuía três girassóis bem grandes mas não era muito exagerado. Era bonito, ornamentado com outras flores pequenas em uma base de vidro e com um laço amarelo em volta.

- Peraí, tem que enviar um cartão de mensagens? - questionei, enquanto olhava um espaço em branco no fim do pedido.

- Bom, ela precisa saber quem enviou não é mesmo? Deus do céu, me dê uma luz e me diga o que eu faço com este homem do meu lado... - ela revirou os olhos e balançou a cabeça devagar se lamentando.

- Quer me dar um desconto? Primeira vez que eu faço isso.

- Tá, deixa que eu escrevo - Pegou o teclado de volta e começou a digitar:

Para Helena Toledo e toda a equipe,

Mais uma vez, lamento pela ausência. No entanto, desejo que essa nova etapa profissional seja repleta de muito trabalho tendo como resultado, o reconhecimento e o sucesso da nova filial.

- O que acha?

- Ficou ótimo. Sem muito rodeio.

- Ok. E para finalizar...

São os sinceros votos do casal Luciana Monteiro e Eric Schneider.

- Apaga isso! Você tá doida????

- Foi mal, meu amigo. Eu não resisti - e apagou o final deixando apenas o meu nome em meio às gargalhadas.

- Quer me causar problemas não é?

- De jeito nenhum! - ela respirava com dificuldade após a crise de riso - Vou finalizar agora.

- Obrigado... Pensando bem foi uma boa ideia essas flores.

- Ela vai gostar, tenho certeza. E você ganhará pontos com a sogrinha. - sorriu.

- Vamos ver.

Peguei a minha mochila que estava na cadeira do lado, colocando nos ombros, e após ela desligar o computador e pegar sua bolsa, deixamos a sala. Finalmente mais um dia inteiro de trabalho se encerrava.

Cheguei em casa e depois de um banho e comer alguma coisa, lembrei do meu celular na minha mochila que ficava eternamente no modo silencioso. Para a minha surpresa, havia um áudio do Felipe enviado cerca de umas duas horas atrás. Atento à aplicação das provas em sala de aula eu não tinha como ouvir.

Me deitei na cama e relaxei para enfim, ouvir o que ele tinha me enviado.

▶️

''Oi Eric. Cara, me explica direito o quê que aconteceu? Quem é essa Luciana? A Nívea veio aqui pra casa mais cedo fazer companhia pra Melissa, até a hora do jantar que os meus pais ofereceram para a Helena e o Jacques. Quando eles chegaram, a Helena estava eufórica contando que encontrou com vocês dois no café, praticamente colocando a mulher em um altar de tão linda que ela descreveu. A Nívea ficou uma pilha de nervos porque a mãe ficou insinuando que ela talvez seria a sua namorada mas tentou disfarçar o máximo que podia. Ela não comeu quase nada e deu uma desculpa de que estava tensa por causa das provas. Eu sei que não tenho nada a ver com a vida de vocês dois mas assim, depois que tu ouvir esse áudio me dá um retorno e conversamos melhor.''

Merda.

Respirei fundo. Como eu esperava, aquele simples encontro me traria dor de cabeça. A Nívea estava pensando o pior de mim dependendo do modo de como a Helena relatou tudo o que aconteceu na cafeteria e mesmo tendo certeza dos nossos sentimentos, ela poderia estar com um pico de insegurança que a destruiria por dentro, aos poucos. Eu precisaria de uma boa dose de compreensão pois era uma adolescente. Arrisquei telefonar para o Felipe como havia me pedido mesmo sendo quase onze horas da noite. Após uns dois toques ele atendeu.

- Oi, Eric.

- Já vai dormir?

- Não, tranquilo. Esperei você me ligar.

- Como que ela tá?

- Então, eu conversei com ela no quarto da Melissa depois que terminamos de jantar. Tentei acalmá-la de todo jeito, dizendo que tinha uma explicação pra tudo.

- E tem. A Luciana é a coordenadora do curso de Letras e minha chefe além de ser minha amiga. Essa é a verdade.

- Beleza, agora convence a Nívea disso. Se eu já esbarrei com a sua coodenadora pelo campus eu não lembro porque só tenho contato com o André, coordenador do meu curso. Um mala sem alça.

- Nívea sabe que eu nunca seria capaz de traí-la.

- Eu sei mas mesmo assim, ela ficou muito sentida. Imaginando mil coisas, se a Luciana era realmente bonita como a mãe descreveu, falando que vocês eram da mesma idade... Essas coisas.

- Que saco - praguejei esfregando os olhos.

- Pois é, eu fiz o que deu pra conter o estrago e você fique aliviado por ter sido o meu áudio porque era Melissa que ia te enviar.

- Que bom que foi você.

- É, que bom mesmo. - ele concordou e rimos juntos.

- Eu vou deixar a Nívea quietinha e conversar com ela no sábado.

- Concordo. É o melhor por enquanto.

- Você e a Melissa irão na inauguração?

- Vamos sim, já que os nossos pais não vão por causa de trabalhos do fórum, nós iremos.

- Entendi.

- E cara, tem mais uma coisa...

- O quê?

- A festa terá um convidado especial.

- Quem?

- Um representante de turma que você conhece bem.

Aquilo estava virando um pesadelo, não havia outra explicação. Como se eu não já tivesse uma bomba relógio que caiu no meu colo para ser desarmada, surgia uma outra ainda pior.

- Tá de brincadeira?

- Queria mesmo estar. A Helena convidou ele que vai junto dos pais e a Gabriele, a amiga dele e da Nívea. Enfim, sua aluna.

- Aham.

- Ela também comentou que deixou o seu nome na lista de convidados. Repensa esse convite, Eric e aparece lá. Apenas para ficar perto da Nívea como foi em outubro.

- Não vai dar pra ir, Felipe. São três turnos de prova pra corrigir e deixar pronta as aulas da semana. Nem sei que horas eu vou terminar tudo.

- Te entendo, eu também me entupi de disciplinas esse semestre pra ficar livre delas o máximo possível a partir de agosto com o trabalho de conclusão. Tô estudando feito um louco. Mas assim... No seu caso, não dá pra deixar pro domingo?

- Domingo é o único dia que eu me permito não fazer nada depois de passar a manhã com a Nívea.

- Tá certo. Eu vou ficar de olho nela pra você. Claro que não posso evitar deles dois se aproximarem.

- Tudo bem, eu te agradeço assim mesmo e confio nela. Agora, me tira uma dúvida: que horas vai começar a festa?

- A Helena marcou pra sete da noite pois vai ter imprensa cobrindo o evento. Por quê?

- Não, nada. Só fiquei curioso. - disfarcei o questionamento e concluí que o horário de entrega das flores estava perfeito.

- Tá bom, vou ficar na esperança de você mudar de ideia.

- Infelizmente não posso. Mas, de novo, obrigado por tudo.

- De nada, cara. Amigos são pra isso mesmo.

- Tá certo. Vou lá agora, amanhã começa tudo de novo.

- Valeu então, tchau.

- Tchau.

Realmente, o ano não estava sendo nada fácil.

No dia seguinte, estávamos eu e a Luciana na hora do almoço, dentro do restaurante lotado, sentados em um lugar bem discreto. Me servi com carne vermelha, salada crua com arroz e feijão e ela com o prato repleto de salada verde.

- E o que você estava prevendo, de fato aconteceu?

- Infelizmente.

- Concordo com o que o seu amigo Felipe te disse. Melhor você e a Nívea conversarem mesmo no sábado. Até porque ela também está em prova.

- É o melhor a se fazer.

- Sinto muito, meu amigo. De verdade.

- Tenho certeza que despertou nela o sentimento de insegurança que surgiu no início do ano quando disse que iríamos ficar afastados.

- Sei como é, o famoso gatilho.

- Hã? - franzi o rosto confuso.

- Linguagem de jovem, você não entenderia, deixa pra lá. Mas foi isso o que aconteceu.

- Eu nunca falei sobre você pra ela, então isso piora e muito as coisas.

- Ela deve estar chateada sim mas vai te entender. Ou talvez não vá, uma vez que ela não é obrigada a encarar as coisas com maturidade. A idade permite.

Suspirei e dei uma garfada no pedaço de carne fora do ponto.

- Como você vai fazer pra encontrar com ela?

- Vai ser o mesmo esquema de sempre mas como a festa vai ser aqui e eu não sei que horas vai terminar, vou ficar de plantão na porta do meu prédio e ver como o Felipe vai levar ela.

- Entendi.

- Vou começar cedo preparar as aulas da semana e corrigir as provas no sábado.

- Não vou me cansar nunca de admirar a sua dedicação, sabia? - e sorriu pra mim.

- É... - sorri de volta - E agora por uma razão muito maior.

- Realmente. E essa reserva financeira que você está montando será importante. Caso nada dê certo, ao menos você ficará confortavelmente melhor em questão de grana.

- Isso tem que dar certo.

- Vou torcer.

***

Sábado. Nove e meia da noite. Foi a hora em que finalizei absolutamente tudo.

Estava sentado na minha mesa de trabalho, diante de duas provas, observando o empate entre as notas mais altas tiradas pelos alunos do segundo ano da turma 2A. Ambos obtiveram 9,8. Sorri enquanto olhava para um dos pequenos blocos de seis folhas, pois a nota daquela aluna eu já esperava. No entanto, o resultado da prova do lado me surpreendeu. Revisei a correção e sim, a nota correspondia ao número de acertos. Retirei dois décimos por causa de um erro ortográfico. Enfim, se o representante da turma estudou para isso então foi merecido. O que me deixou incomodado foi a coincidência por justamente eles dois terem atingido a maior média. Eles estavam se encontrando para estudar? Puta que pariu, eu já estava começando a ficar paranóico e não podia deixar isso me dominar.

Tirei meus óculos, deixando os na mesa e estiquei meus braços e o corpo para o trás depois de me levantar da cadeira, ouvindo os estalos de cada parte dos meus ossos e musculatura. O cansaço mental era pior refletindo em uma dor de cabeça chata mas que eu sei que diminuiria em poucos minutos.

Voltei a ligar o meu celular que deixei desligado o dia inteiro para não desviar o meu foco. Eram várias as notificações, incluindo publicações da Nívea no Instagram mas eu deixaria para ver em um outro momento.

Ao colocar o aparelho de volta na mesa, ele começou a vibrar com uma ligação do Felipe.

- Alô.

- Terminou tudo?

- Nesse instante - respirei fundo.

- Eu e a Melissa estamos aqui em frente ao seu prédio na beira da calçada te ligando tem uns vinte minutos. Só não desistimos e voltamos para a festa porque vimos daqui a luz do seu apartamento acesa.

- Eu liguei o celular agora.

- Imaginei isso.

- Eu já vou descer, me dá uns dez minutos.

- Tá legal.

Encerrei a chamada e fui no banheiro lavar o rosto e me aliviar. Por incrível que pareça, após uma semana de frio, o Sol apareceu no sábado o que seria ótimo para a festa da inauguração. Helena era mesmo uma mulher de sorte com tudo conspirando ao seu favor.

Voltei para a mesa e calcei os meus chinelos, pegando o meu chaveiro dentro da mochila e deixei o meu apartamento com o celular na mão. Desci as escadas e chegando na portaria, os dois irmãos me avistaram na beira da calçada. Ele muito bem vestido com blusa social azul escuro e calça preta e ela, usando vestido na cor vinho o que me deixou espantado.

- Você vacila muito, mas mesmo assim eu te perdôo! - ela esbravejou com o seu tom de voz naturalmente histérico. Dei um sorriso fechado e a beijei nos volumosos cabelos ruivos, dando um aperto de mão no irmão em seguida.

- E a amiga de vocês, cadê? - perguntei enquanto olhava para o aparelho.

- Ficou na festa. Não tinha como trazê-la aqui, pelo menos não agora. - o irmão mais velho justificou.

- E correu tudo bem?

- Foi tudo muito bonito, o discurso de agradecimento da Helena foi emocionante.

- Nossa, como ela chorava. - a irmã completou - Até eu que tenho uma rocha no lugar do coração, me emocionei também. Mas aí depois que eu comi uma torta de frango, passou - ela começou a rir - O buffet contratado foi o mesmo do aniversário da Dona Helena.

- Que bom. E a Nívea? - voltei a olhar sério para os dois.

- Então... Ela se divertiu boa parte do tempo, estava feliz pela mãe mas tinha certos momentos em que estava dispersa, distraída. Percebi uma certa pontinha de tristeza no olhar mesmo estando na nossa companhia e dos dois amigos da escola.

- Ela deve estar pensando tudo errado.

- Ficou feio essa sua amiga aparecer do nada né, Eric? - a ruiva criticou - Você queria o quê?

- Não quer ir com a gente na porta da clínica? A maioria dos convidados já foram, a festa tá quase no fim. - Felipe sugeriu.

- Não sei, eu prefiro esperar a Nívea aqui.

- Vem, vai ser legal. Pelo menos vocês se vêem caso ela não queira vir pra cá.

- Ela não quer passar a noite comigo? Te disse alguma coisa? - fiquei tenso com aquela possibilidade.

- Quando nós conversamos na quarta-feira de noite, eu te aconselhei a deixar ela quieta e vocês se encontrarem agora de noite. Mas não te garanti que ela iria querer ficar com você.

- Mas eu preciso conversar com ela!

- Eu sei. Por isso eu tô te falando pra você vir com a gente. Se a Nívea te ver quem sabe...

- Ou então ela voa no seu pescoço!

- Sem piadinhas, Mel!

- Tá, eu vou.

Caminhamos por alguns minutos até a porta da clínica onde haviam alguns carros parados pela calçada, algo bem incomum na rua durante aquele horário. Ficamos nós três perto de uma árvore na calçada e perto da porta da entrada, Helena estava se despedindo de duas mulheres, provavelmente convidadas da festa. Usava um vestido vermelho muito elegante com mangas curtas com um decote quadrado e discreto. Desta vez usava um sapato mais alto. Após se despedir, se surpreendeu ao me ver e parecendo que desfilava sobre os saltos, veio me cumprimentar.

- Não acredito que você mora aqui no bairro, professor! É isso mesmo? - ela sorria e seus olhos azuis pareciam dois faróis de tão iluminados que ficavam durante a noite e com a maquiagem preta ao redor deles.

- Isso mesmo. - lhe dei um sorriso - Terminei o trabalho agora e o Felipe me telefonou.

- Primeiro me surpreende com as flores e agora essa novidade. Elas são lindas, quando vi o seu cartão mal pude acreditar. Foi muita gentileza sua.

- Que bom que gostou. São para dar sorte.

- Obrigada, eu e toda a equipe vamos precisar.

- E... A Senhorita Martin? Onde está? - perguntei sentindo o meu coração bater acelerado.

- Nívea? Está lá dentro com o pai e os amigos dela. Foram tão gentis em aceitarem o convite. O menino Frederik eu já sabia que viria com os pais mas a Gabriele me surpreendeu. Achei que ela não viria por causa dos pais dela, não é mesmo?

- Concordo. Não é bom ela se expor com tanta frequência.

- Pois é, mas além dela ter vindo, Natália e William foram tão gentis como você e também enviaram flores me desejando sucesso. Acabou que ela dividiu a atenção comigo entre os dois fotógrafos e a jornalista que cobriu a festa. Normal.

- E falando nela... - Felipe apontou.

Olhei para a porta da clínica e vejo a jovem de cabelos pretos e cheio de cachos vindo alegre na nossa direção usando uma calça preta de couro, sapatos de salto preto bem mais extravagantes que o da dona com uma blusa branca de alças finas com uma renda no decote. Era estranho e engraçado vê-la usando roupas normais uma vez que estava sempre com o uniforme tradicional do colégio.

- Professor Schneider! Que máximo te encontrar aqui!

- Boa noite, Senhorita Fernandes - lhe cumprimentei amigavelmente - Como vai? O seu irmão não veio?

- Estou bem. Então, o Patrick está participando de um campeonato mundial de games que começou hoje e se ele ficar entre os cinco finalistas da etapa nacional, ele se classifica pra etapa da América Latina e depois se ganhar de novo ele vai para a etapa mundial. Por isso, não veio. A competição começou oito da noite.

- Tomara que ele consiga.

- Eu não entendo nada de games, mas sei que tem essas classificações.

- E finalmente, estou conhecendo a minha maior fã, professor - Helena a abraçou de lado - O que ela tem de cachos, tem de alegria. Você e a Melissa são muito parecidas.

- É, Dona Helena, a Nívea me falou.

- Mas eu sou ruiva!

A essa altura eu já estava ficando ansioso pois nada dela aparecer do lado de fora. Estaria me evitando?

- Ah, olha ela ali! - na mesma hora, Melissa apontou com euforia.

Não prestei atenção em mais nada. Meus olhos se voltaram totalmente na direção daquela princesse que me enlouquecia todas as noites de sábado, deixando como lembrança o seu doce perfume nos meus lençóis após ir embora no dia seguinte pela manhã. Como conseguia ficar mais linda do que já era? O vestido branco de manga redonda, decote discreto, com inúmeras bolinhas pretas espalhadas pelo tecido e razoavelmente apertado no corpo, destacava os seus quadris e o bumbum redondo e empinado junto de um sapato cor de rosa com um pequeno salto. A última coisa que poderia acontecer era todo o sangue do meu corpo ir parar onde não deveria por entre as minhas pernas com aquela visão perturbadora. A bermuda preta felizmente disfarçou a situação e respirei fundo tentando pensar em coisas broxantes mesmo com o meu pau reagindo de forma dolorida.

Mas não estava sozinha. Mesmo na porta, ela olhava para dentro do local e em seguida seu pai também bem vestido apareceu ao lado de um casal com um jovem rapaz. Frederik Bertrand.

Ao me ver, Nívea não demonstrou surpresa. Veio até mim com ele do lado e se manteve em uma expressão séria que eu não conseguia decifrar e parou ao lado da mãe. Os olhos azuis que eu tanto amava pareciam enigmáticos.

- Oi, Professor...

- Olá, Senhorita Martin. Bonito vestido.

- Merci. - e sorriu de maneira forçada.

Uma formalidade necessária entre nós dois mas que era de uma total estupidez e eu me sentia um perfeito imbecil em fazê-la. O que mais desejava era levar a Nívea embora dali e ficar enterrado por entre aquelas pernas arrancando dela inúmeros gemidos debaixo do meu corpo, por mais tímidos que fossem.

- Mora por aqui, professor? - Frederik quebrou a atmosfera nebulosa que pairou entre eu e ela me fazendo voltar a atenção pra ele.

- Moro sim, senhor Bertrand. Como vai?

- Bem. - ele estendeu a mão e lhe retribui o gesto. Não podia negar que ele era mesmo um rapaz muito educado embora ele tivesse um certo receio em falar comigo - Deve ser bom voltar para casa a pé.

- Sim, eu ganho tempo e não me estresso no trânsito.

- Legal.

- Crianças, vamos embora! - a mulher que estava ao lado do Senhor Martin e do marido os chamou em frente a porta.

- Antes da gente ir, conta pra gente professor: qual foi a nossa nota na prova? - Gabriele me perguntou com os olhos vibrantes esperando que eu revelasse algo tão importante. Precisei decepcioná-la.

- Bom, essa informação vocês saberão na segunda-feira, 13h40 da tarde.

- Droga!

- Vocês aguentam de ansiedade até lá - brinquei e todos riram.

- Vamos Gabi?

- Vamos sim, Fred. Tchau galera. A festa foi linda Dona Helena.

- Está mais do que convidada para uma consulta.

- Vou aparecer.

Os dois amigos se despediram de nós e é claro que ele não perdeu a chance de abraçar a Nívea dando um beijo carinhoso na sua testa. Após observar os quatro irem embora em um carro preto luxuoso, a mesma tensão que senti na cafeteria ao encontrar com a Helena surgiu mil vezes pior ao ver o marido se aproximando e ficando ao lado da esposa e da filha.

- Professeur, Schneider! Que prazer em revê-lo! - me estendeu a mão em um cumprimento firme e sorriu de modo simpático - Foi um belo arranjo de flores que enviou para a inauguração.

- Imagine, foi apenas uma lembrança pela minha ausência.

- Então Jacques, a Nívea pode ir comigo e com a Melissa hoje para Ipanema? - Felipe parecia que estava lendo os meus pensamentos. Observei Nívea calada e ela não demonstrou vontade de ir.

- Você quer ir mon chére? Amanhã eu vou levar você e sua mãe para almoçar fora. Finalmente teremos um momento a sós, em família.

- Nós voltamos para casa antes do almoço, eu garanto.

- Pode ir, filha! Você merece depois dessa semana toda em prova.

O silêncio dela em não dar uma resposta, a resposta que eu esperava ouvir parecia que não ia ter fim.

- Tudo bem, eu vou...

- Ótimo. - a mãe sorriu e pegou o marido pela mão - Você vem comigo, meu amor? Vou falar com a equipe do Buffet.

- Oui.

- Com licença, gente. Felipe, cuide dela por favor.

- Não se preocupe Helena.

- Foi um prazer revê-lo, Professeur Schneider.

- Igualmente, Monsieur Martin.

O casal, para o meu alívio, retornou para dentro da clínica me deixando a sós com a filha. Voltei a olhar dentro daqueles lindos olhos e peguei na sua mão pequena beijando o dorso e a palma. Ela não recuou, permitindo o meu gesto dando um sorriso pequeno

- Melhor você ir com a gente pra Ipanema, amiga. Nem precisa soltar do carro. É só o tempo do Eric ir te buscar de volta.

- Melissa tem razão, ma petite... Assim seus pais não desconfiam.

- Pode ser.

***

Entrei com a Nívea de volta pro meu apartamento com os braços em torno da sua cintura, caminhando pelo corredor e cheirando o seu pescoço. O perfume dela era uma droga a qual eu não queria me desintoxicar.

Me sentei na beira da cama e a coloquei sentada na minha coxa esquerda, deslizando minha mão pela sua coxa macia por baixo do vestido e abocanhei com mais urgência o seu pescoço em um chupão, querendo sentir o sabor daquela pele tão perfeita.

- Eric... - ela gemeu meu nome baixinho quando meu dedo polegar alcançou o tecido fino da sua calcinha massageando a carne úmida e macia - Espera... - pediu, tirando a minha mão por entre as suas coxas. Meu pau já pulsava por dentro da bermuda querendo aquele corpo tão pequeno de formas redondas.

- O que foi, meu amor?

- Nada... Só estou um pouco cansada... - abaixou o olhar meio sem jeito.

- É só isso mesmo?

- Sim.

- Você se divertiu? - decidi deixá-la mais a vontade antes de entrar no assunto que estava a atormentando por dentro. Era nítido que a Nívea não estava bem.

- Aham. As meninas do Buffet perguntaram por você. Pensaram que iria estar presente igual no aniversário da minha mãe e fazer o mesmo sucesso. - sorri surpreso com o que tinha ouvido.

- Terminei o meu trabalho só agora de noite.

- O seu arranjo de girassóis foi o mais bonito de todos que a minha mãe recebeu.

- Mesmo? Ela recebeu muitos?

- Uhum. Quando chegamos na festa eu contei uns quinze. Mas o seu chamou mais a atenção.

- Que bom.

- Não sabia que entendia de flores.

- Não entendo. Tive uma ajudinha pra escolher o arranjo e enviar.

De imediato, ela fechou a cara e saiu do meu colo em um rompante, se afastando em direção à varanda.

- Nívea, volta aqui. Eu não quero brigar com você de novo...

- A verdade e sem segredos, lembra? - rebateu com os braços cruzados sem se virar.

- Claro que eu lembro. E sendo assim eu te digo: a Luciana é minha amiga há mais de dez anos. Se eu trabalho esse tempo todo na Universidade foi graças à ela, que me contratou me dando uma oportunidade após voltar da França com o meu diploma de mestrado. - afirmei com tranquilidade fazendo ela se virar e me olhar nos olhos - É a minha amiga e minha chefe.

- Ela é bonita?

- Não faz diferença...

- Por que nunca me falou dela? Se não fosse a minha mãe ter encontrado vocês, eu nunca ia saber.

- Me perdoa... Eu errei e deveria ter te falado sim. - Me aproximei, lhe dando um abraço e um beijo no topo da sua cabeça - Ela é uma mulher bonita, mas você é a menina que eu amo.

- A minha mãe falou tão bem dela e achando que vocês eram namorados. Tive que me segurar pra não chorar na mesma hora.

- Foi isso o que mais te assustou, tenho certeza.

Fiz com que ela olhasse nos meus olhos e sequei com a ponta dos dedos um fio de lágrima que escorria pelo seu rosto macio. Beijei com delicadeza aqueles lábios e minha língua invadiu a boca perfeita que me pertencia há praticamente um ano.

Deslizei minhas mãos pelas suas costas, abrindo devagar o zíper do seu vestido e o gancho do seu sutiã, ambos caindo no chão. Era perfeita. Nívea me abraçou em torno do pescoço e nosso beijo era faminto, de puro desejo. Nossas línguas brincavam uma com a outra em uma dança cujo som eram as batidas dos nossos corações. Ao mesmo tempo que a beijava, abri o zíper da minha bermuda tirando com a cueca e a peguei no colo, envolvendo as suas pernas na minha cintura. Senti o balançar dos seus pés e os seus sapatos voaram para longe.

Levei ela para a cama, deixando-a por cima após me deitar e mesmo de calcinha, pude sentir sua buceta ensopada se esfregando no meu pau duro igual pedra, implorando para ser explorada. Suas mãos deslizaram por baixo da minha blusa e a tirei rapidamente ficando totalmente nu.

- Ma petite... Seulement à moi... - meus olhos devoravam cada centímetro daquele corpo e as minhas mãos acariciavam suas coxas que estavam dobradas em cada lado do meu quadril permitindo que Nívea ficasse livre para chegar às estrelas.

- Eric... - seu corpo se movimentava em um vai e vem lento, jogando seu pescoço e cabelos trás e suas pequenas mãos foram de encontro às minhas onde nossos dedos se entrelaçaram - Aaah, que gostoso...

- Você que é minha gostosa...

Ela se ergueu ligeira apenas para tirar a calcinha, passando a pequena peça pelos joelhos e já sem nada, pegou delicadamente com as mãos o meu pau pela base, enfiando a cabeça na sua entradinha quente e úmida, eliminando o meu último resquício de racionalidade.

De modo lento, fui sentindo as paredes úmidas daquela delícia me apertando até se encaixar por inteiro e voltou a entrelaçar os seus dedos nos meus, começando a rebolar e quicar ditando os movimentos como queria. Nívea mordia os lábios enquanto rebolava e seus lindos seios seguiam o ritmo do seu corpo entregue ao meu, balançando frenético.

- Quero a noite toda, Eric... - sussurrava em meio ao prazer que eu lhe proporcionava e apertando nossas mãos.

Mesmo esgotado mentalmente eu jamais negaria fazer amor com ela.

- Quantas vezes você quiser, princesse...

Ela sorriu ao ouvir o que queria e continuou entregue aos desejos do seu corpo. Senti os espasmos do lado de dentro das suas coxas e percebi que ela iria gozar a qualquer momento.

- Não queria agora...

Rapidamente me levantei, ficando sentado e a segurei pelo meio das suas costas com ela dentro de mim, sem que parasse de rebolar no meu pau. Peguei seus braços me envolvendo pelos ombros e comecei a socar com mais força segurando na sua cintura.

Ficamos com os nossos rostos próximos um do outro, tanto a pele dela como a minha tomada pelo suor e sorrimos juntos feito cúmplices.

- Goza, meu amor...

Suas unhas cravaram na minha pele e um gemido despudorado saiu da sua garganta ao mesmo tempo que senti sua buceta me apertar. Não perdi mais tempo e me soquei nela feito um animal selvagem jorrando tudo na sua forma mais quente.

Caímos os dois na cama com ela por cima de mim e se aninhando no meu peito próximo do ombro. Eu ainda estava dentro dela e não fazia questão alguma de sair, pegando a por trás dos joelhos e dobrando as minhas pernas. Exaustos, nossos corpos subiam e desciam juntos buscando por ar e aos poucos relaxamos. Minhas mãos deslizaram pela parte de trás das suas coxas até o bumbum, chegando nas costas onde lhe fiz um carinho lento lhe causando arrepios.

- Je t'aime, ma petite... - depositei um beijo nos seus cabelos.

- Mesmo?

- Não acredito que você está duvidando - respondi ainda ofegante.

- Só acredito com uma condição - ela virou o rosto na minha direção, ainda deitada.

- Qual?

- Vai ter que me enviar flores. Você nunca me enviou - e fez um bico com os lábios ficando ainda mais fofa.

- Eu envio. E aí você se explica com os seus pais sobre elas. Em quem você acha que eles vão pensar? Hein?

- Droga - voltou a deitar o rosto de novo no meu peito me fazendo rir.

Por mais que eu estivesse esgotado pelo excesso de trabalho, nada poderia ser mais prazeroso na minha vida do que amar aquela doce menina cheia de amor e ternura. Eu não poderia perdê-la por nada e me tornaria um homem vazio se isso algum dia acontecesse.

Continua...

Nota da autora: eu sofro de uma maldição chamada ''Capítulos Longos sob o ponto de vista de Eric Schneider'' é um verdadeiro deja vu com o Especial hahahahah.

Eu espero que vocês gostem, escrevi com muito carinho pensando nos fãs e haters (hahaha) que Luciana Monteiro conquistou.

Teremos algum outro capítulo sob o ponto de vista do Eric? É bem possível e deixei uma pista sobre isso em forma de uma cena/passagem neste capítulo de hoje, fiquem atentos. Está fácil decifrar 😉

Ma petite... Seulement à moi... = Minha pequena, só minha.

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Foto de perfil de Ana_EscritoraAna_EscritoraContos: 63Seguidores: 173Seguindo: 34Mensagem "Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo." Toni Morrison

Comentários

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Eu fico pensando que o risco agora aumentou para o casal, já que a clínica da Helena fica perto do apê do Eric. Achei tensa a parte da lanchonete. Eu gosto da Luciana

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Geralmente essas clínicas de beleza trabalham em horário reduzido em dia de sábado e o nosso casal fica junto sempre de noite 😉

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Eu pensei na possibilidade de um vizinho der com a lingua nos dentes. Tomara q isso não aconteça.

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Amo o ponto de vista de Eric, Luciana ganhou uns pontinhos comigo, mas ainda sou desconfiada.

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Muito gostoso esse amor, carinho, cuidado do Eric com a Nivea. Eu as vezes esqueço ou nem lembro a diferença de idades deles. O Felipe é uma graça, faz um casal bem lindo com Melissa. Esses são amigos de verdade. Na espera de sábado.

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Eu fiquei aqui imaginando como seria um áudio da Melissa, pistolando pra cima do Eric kkkkkkkkk

Felipe sempre sensato. Gosto muito dele.

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Sinceramente, difícil escolher qual o melhor momento da participação da Luciana nesse capítulo hahahahahaha

Ela engasgando com o café ou brigando com o Eric na hora de enviar as flores. Que personagem maravilhosa, mesmo sendo odiada por alguns.

Capítulo perfeito mais uma vez!

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