A ligação
O queijo borbulhava imerso ao molho de tomate na lasanha recém posta sobre a mesa. O aroma exalava pelo ar abrindo o apetite de todos. A travessa foi posta no centro da mesa, ao lado do aparelho de jantar de porcelana portuguesa, com os talheres de ouro em volta e as taças de cristais ao lado, aguardando para receberem o vinho.
O sol de dezembro ardia sobre o Rio de Janeiro, bafejando um ar de fornalha na atmosfera. Dia perfeito para Leandro instruir os funcionários a pôr a mesa do almoço próximo à piscina.
Lurdes se agitava na cozinha, dando os últimos retoques na torta de morango que seria servida como sobremesa. Fiscalizava se não havia nenhuma manchinha nos talheres e taças.
_ Verifica bem se está tudo impecável! Você sabe como o Júlio é exigente. Ainda mais que os amigos dele estão aí...o patrão faz de tudo para manter a boa aparência. _ Lurdes alertava a Martins, enquanto limpava o suor da testa com a ponta do avental.
_ Se fosse só o seu Leandro não precisaríamos nos preocupar tanto. Mas o seu Júlio...aquele lá é osso duro de roer.
_ Pare logo com essa ladainha e vá levar essa bandeja. Antes que o patrão se estresse. Ainda mais que a chata da dona Angela está aí. _ Lurdes comentava olhando para a porta, para verificar que ninguém estava se aproximando.
Apesar de odiar receber ordens de Lurdes, Martins obedeceu sem fazer protestos, pois sabia que a mulher tinha razão.
Martins se apressava antes que alguém reclamasse da sua demora.
Fazia tempos que os patrões não iam ao sítio, avisaram de última hora que serviriam um almoço para amigos íntimos, ou alguém que o seu Júlio Medeiros queria bajular para fins financeiros, Martins não sabia ao certo. Somente tinha a consciência que tudo deveria sair na mais impecável perfeição.
A grama estava muito bem aparada e de um verde vivo. A água da piscina fora higienizada, no seu azul tão perfeito semelhante aos olhos da jovem Vanessa, que gargalhava com os amigos, jogando bola na piscina, proporcionando uma alegria adolescente ao ambiente.
Júlio Medeiros exibia o seu melhor sorriso ao lado dos convidados, portando um copo com de caipirinha na mão.
Não tinha a aparência altiva e arrogante como de costume, vestia a máscara de homem amável e gentil.
Envolveu os braços em volta da cintura do marido, puxando-o para si, apoiando o queixo sobre os ombros nus de Leandro. Este tentava fingir felicidade com um sorriso amarelo, na tentativa de ocultar de todos a tristeza que sentia pela briga conjugal que teve na noite anterior.
Diferente de Júlio, Leandro não dominava a arte da dissimulação. A tristeza cortava o seu coração e o seus olhos pesavam,devido às lágrimas que derramara durante toda a noite.
_ Quer dizer que daqui a algumas semanas teremos uma festa de comemoração aos 10 anos de casamento das bonitas! Gente! Eu tô chocado como um casal pode ficar tanto tempo juntos assim! Eu se ficar dez meses com o mesmo boy piro total. Imagina 10 anos!_ Rubens comentava revirando os olhos e gesticulando com as mãos, com um trejeitos afeminados.
_ Isso é prova que o meu filho tirou a sorte grande e encontrou um grande amor numa época em que esse sentimento está tão desvalorizado. O meu genrinho vale ouro.
_ Obrigado, sogrinha. Você que é uma luz em nossas vidas._ Júlio sorria contendo o nojo que sentia da falsidade da sogra. Observava como ela relaxava o corpo na espreguiçadeira, usando um maiô amarelo brilhante e um grande chapéu de palha sobre os cabelos loiros e longos.
Ambos odiavam-se com intensidade. No entanto toleravam-se por trocas de interesses, ela para continuar desfrutando da gorda mesada que recebia do genro e ele, para que Angela usasse de sua influência sobre Leandro para convencê-lo a continuar submisso aos caprichos do marido.
_ Modéstia parte o sortudo sou eu. Leandro e a nossa filha são o que mais tenho de precioso na vida. Nosso amor é o que me fortalece a cada dia. Eu fico orgulhoso quando olho para trás e vejo tudo o que enfrentamos para ficarmos juntos. É gratificante demais depois de um dia duro de trabalho, chegar em casa e encontrar essa família maravilhosa que tenho. O nosso casamento é um diamante bruto, que lapidados a cada dia. Não é, meu amor?
Leandro sorriu, sentindo os lábios macios do marido beijar a sua face.
_ Isso é tão lindo! Ah, Júlio , meu amor, Você já pode ganhar o troféu marido do ano. Essas palavras me emocionaram. Tão verdadeiras como promessas de políticos em campanha eleitoral._ Valéria ironizava batendo palmas, provocando risos em todos, exceto em Leandro, que a olhava de um jeito repreenssivo.
Júlio não perdeu a compostura. Já estava acostumado com as alfinetadas de Valéria. Manteve o sorriso, que tanto a irritava.
_ Como você é espirituosa, Val! Uma mulher enérgica. Tanta energia que o meu amigo Telles não soube lidar...aliás, antes que eu me esqueça, ele mandou lembranças.
_ Você esteve com Telles, Júlio? Faz tempos que não o vejo.
_ Estive sim, Rubens._ Júlio pausou a fala para tomar um gole da caipirinha._ Eu o vi quando fui a Buenos Aires, no mês passado. Estava ótimo! Com uma pele bronzeada ao lado da nova namorada. Ela até se parece com um pouco contigo, Val. Se eu não soubesse do seu divórcio com o Telles podia jurar que ela era a sua filha.
Rubens gargarlhou erguendo a cabeça para cima. Leandro a olhava se desculpando em silêncio, sentido sobre os ombros o peso do constrangimento.
Valéria semi cerrava os olhos, desejando degolar o pescoço de Júlio. Apesar de ter se passado um ano desde que o seu ex-marido a trocou por uma mulher com a metade da sua idade, Valéria ainda sentia as feridas do seu orgulho feminino tão abertas quanto no primeiro instante que soube da insistência da rival.
Júlio gostava do efeito que causava na mulher, sorria sentindo orgulho de si mesmo. Iniciou uma sessão de elogios a nova mulher de Telles, sempre ressaltando a sua juventude e beleza.
Incomodado, Leandro tentava mudar o rumo da conversa para amenizar o desconforto da amiga. Todavia, Júlio exagerava na dose de inconveniência.
O toque e vibração do seu celular interromperam o seu gozo de humilhar Valéria.
Ao retirar o aparelho do bolso, o desligou, pondo as pressas de volta no mesmo lugar de antes.
As desconfianças de Leandro estavam nítidas em seu rosto, o que Júlio fez questão de ignorar, deixando Leandro ainda mais humilhado.
O celular tocava sem parar. Irritado, Júlio o desligou.
_ Não vai atender, amor?_ A última palavra saiu estridente na boca de Leandro.
_ Não, meu bem. Estou num momento tão relaxante com a minha família e amigos. Nada vai me atrapalhar.
_ Atenda logo, Julinho! Vai que é algum negócio importante lá do escritório! Ou pode ser um amigo seu tão especial, que merece ser apresentado para os seus amigos.
O jogo havia virado. Desta vez, era Valéria quem sorria presunçosa e Júlio que a olhava sério.
_ Não é ninguém importante.
Percebendo a aflição de Leandro, segurou em sua mão e o puxou para si, depositando um selinho respeitoso em seus lábios frios.
O peito de Leandro subia e descia num mesmo ritmo acelerado que o seu coração. Respirava fundo, franzino as sobrancelhas, como sempre fazia quando estava tenso.
Uma das empregadas se aproximou em passos respeitosos e olhar temeroso.
_ Com licença, seu Júlio, tem um telefonema para o senhor. É um tal de Abner e , ele disse que é urgente.
Leandro arregalou os olhos brilhantes e confusos. Tremia dos pés a cabeça, furioso pela ousadia do rapaz.
Valéria balançava a cabeça negativamente, em sinal de reprovação.
Com um tom de voz serena e o mesmo sorriso que manteve durante toda a manhã, Júlio pediu licença a todos para ir atender o telefone.
Angela iniciou um assunto trivial para tentar contornar o clima tenso.
Leandro respirava fundo, sentindo as palavras reprimidas sufocá-lo.
Sentou em uma das espreguiçadeiras com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos no queixo. A raiva transparecia em seu rosto.
Não suportando conter-se, Leandro levantou num rompante e se dirigiu até a casa, andando com os braços abanando o ar.
Angela, de imediato, foi atrás do filho.
_ Gente! O que está acontecendo? Quem é esse tal de Abner, que fez pesar o clima?_ Rubens perguntou a Valéria.
Ela o olhou erguendo a cabeça, tragando o cigarro que tinha entre os dedos com as unhas pintadas de escarlate. Seus lábios esboçaram um gesto desdenhoso dizendo:
_ É o amante do Júlio.
Rubens arregalou os pequeninos olhos castanhos, abrindo a boca espantado.
Os passos apressados de Leandro eram ouvidos por toda a casa. Olhava com fúria para a porta no fim do corredor, com a intenção de pegar o marido no flagra falando com o amante ao telefone do escritório. A sua respiração era ofegante, proporcionando um peso em seu peito.
Sentiu uma mão fina e delicada tocar em seu braço, interrompendo os seus passos.
_ Controle-se! A casa está cheia de gente, vê se não dá vexame!
_ Eu não estou nem aí para o que vão dizer de mim, mãe! Eu não posso aceitar essa situação humilhante!
Angela o puxou até a biblioteca e fechou as portas francesas para que ninguém os visse.
_ Você perdeu juízo, Leandro?! O seu casamento está em frangalhos e você ainda quer arranjar brigas com o seu marido? Pense um pouco!
_ Eu não tô aguentando mais isso, mãe!_ Leandro dizia entre lágrimas. Olha a que ponto chegamos! Esse sujeitinho está ligando para a minha casa! Olhe a ousadia dele!
Leandro atirou-se nos braços da mãe e soluçava de tanto chorar.
_ Leandro, pelo amor de deus! Tenha compostura! Daqui a pouco, Você terá que voltar para os seus convidados e eles ficarão curiosos para saber o motivo do seu choro.
_ O mundo está desabando na minha cabeça e a única coisa que te preocupa é o que as pessoas vão pensar?_ Leandro se afastou, e sentou numa das poltronas.
Angela sentou na poltrona ao lado, segurando o queixo do filho. Olhava-o com doçura.
_ Meu amor, você não pode entregar o ouro ao bandido. Deve manter o clima harmônico na sua casa. Se ficar brigando com o Júlio vai acabar empurrando-o para os braços do outro.
'Nós sabemos que Júlio nunca foi santo...sempre deu as suas puladas de cerca, mas nunca cogitou em separação. Esse rapaz é como os outros, algo passageiro. Você é o marido dele e pai da filha dele. Não jogue o seu precioso casamento fora por puro descontrole.'
_ A senhora fala como se gostasse do Júlio. No início nem o nosso relacionamento aprovava.
_ E mesmo assim você me desobedeceu e se casou com ele! O Júlio deixou de ser um morto de fome e agora nos dar uma vida confortável. Você quer abrir mão de tudo isso para que o outro desfrute? Você quer que outro homem ocupe o seu lugar e se torne pai da sua filha?
O medo se manifestou no corpo de Leandro em forma de arrepios e um aperto no peito.
__Vocês homens precisam aprender com nós mulheres. O seu pai mesmo nunca foi santo, mas eu é que não ia facilitar para as vagabundas. Você como homem sabe muito bem que fidelidade conjugal não é da natureza de vocês... sabedoria é saber conviver com isso sem deixar a peteca cair.
_ A senhora está muito enganada. Eu sou muito fiel ao Júlio.
_ Porque é burro!
Leandro a olhou surpreso.
_ Se fosse esperto, teria um caso para se divertir e não sofreria tanto pelas escapadas do seu marido.
"Papai! Papai!" Leandro sentiu o coração bater acelerado ao ouvir a voz da filha chamando do outro lado da porta.
_ O seu pai está ocupado, Vanessa.
_ Vovó, tá todo mundo com fome. O vovô está perguntando pelos meus pais para poder mandar servir o almoço.
_ Vá lá e diga que já vamos.
_ Tá bom.
Leandro ficou aliviado ao ouvir os passos da filha se afastando pelo corredor.
_Agora, limpe essas lágrimas, se recomponha e volte para lá.
Leandro respirou fundo, sentindo a tristeza e a humilhação castigaram o seu coração.
_ Tá maluco de ligar para a minha casa?! Que merda você tem na cabeça?_ Júlio perguntava ao telefone em tom tempestuoso, andando de um lado para o outro, tentando conter o nervosismo.
_ Você me prometeu que viria, mas não veio. Não foi homem de cumprir com a sua palavra. E ainda por cima ignorou as minhas ligações. Se fosse acha que eu sou algum otário, Júlio, Você está muito enganado.
_ Abner, eu estou com a minha família! Tenha mais respeito! Aliás, quem foi o filho da puta que te deu o número da minha casa?
_ Isso não importa! Você não pode mentir pra mim! Eu não sou o seu consolo quando o merda do Leandro não te satisfazer.
_ Não fale no nome dele!
_ E por que não?! O Leandro é melhor do que eu? É tão sagrado que nem o nome pode ser tocado? Foda-se ! Leandro! Leandro! Leandro!
_ Deixa de ser infantil!
_ Deixa de ser canalha! Se continuar me tratando com mentiras, eu sou capaz de ir na sua casa e dizer umas boas verdades na cara da songa monga da sua "mulherzinha"._ Abner dizia a última palavra com tom de enojado .
_ Não me provoque!
_ Não me provoque você, Júlio! Eu sou muito capaz de ir aí agora mesmo.
Júlio respirou fundo, tentando conter a raiva e manter o equilíbrio.
_ Abner...Eu estou com a minha família. Não dar para conversar agora. Amanhã nós nos encontramos e conversamos melhor.
_ Eu já tô cheio das suas promessas! Não nasci para ser segunda opção. Vou te dar o ultimato, ou ele, ou eu.
Júlio socou o ar e disfarçou a voz num tom brando. Ele gostava de Abner e de gozar dos momentos prazerosos que tinha com ele. Não desejava o fim da relação, mas também não tinha a intenção de abrir mão do seu casamento.
_ Meu amor, eu vou resolver a nossa situação. Mas, isso não pode ser feito de um dia para o outro. Eu estou casado com o Leandro há anos e temos um filha adolescente. Tudo deve ser feito com calma.
'Amanhã eu vou até aí e vamos conversar melhor.'
_ Amanhã você virá aqui com uma resposta definitiva. Cansei da sua lábia. E se não aparecer, eu mesmo vou procurar o Leandro e contar tudo para ele.
Abner desligou o telefone sem se despedir de Júlio.
_ Merda!_ Júlio disse antes de jogar o telefone no chão.
A família chegou em casa no final da noite. Durante o percurso do sítio até a cobertura no Leblon, Leandro permaneceu calado, olhando para o lado oposto a Júlio, que tentava conversar com o marido enquanto dirigia.
Vanessa, sentada no banco de trás, ouvia músicas em um volume tão alto, que quem estava do lado conseguia escutar.
_ Vanessa, abaixe esse som. Está alto demais._ Ordenou Leandro, dando um leve tapinha na perna da menina.
Ela retirou os fones de ouvido.
_ Não precisa ouvir música tão alto assim!
_ Até com isso você vai implicar? Será que você quer se meter até nos meus fones?
_ Ouvir nesta altura pode prejudicar a sua audição.
Vanessa pôs os fones de volta, ignorando as ordens do pai.
_ Vanessa!_ Leandro gritou irritado, socando a porta do carro.
_ Calma, amor. Não precisa ficar nervoso com a menina.
Leandro estava tão tenso que até a voz de Júlio o irritava.
_ Vanessa, meu amorzinho... filha.
_ Ela não ouve. Está com a porta dos ouvidos entupidos de músicas ruins.
_ É por isso que ela fica brava contigo. Olha a maneira como você fala. Deixa a menina em paz.
Leandro virou a cabeça para o lado oposto a Júlio. Olhava para a estrada arborizada, desejando abrir a porta e se atirar na rua.
A humilhação por não ser respeitado pela família o sufocava nas próprias angústias.
Na sua garganta estava aprisionado um grito de socorro.
Assim que entrou na sala de estar, Vanessa se jogou no sofá, deitando com os pés descalços sobre ele, digitando no celular.
_ Sente-se com modos! E tire os pés do sofá!_ Leandro ordenou entre os dentes.
A menina obedeceu revirando os olhos para cima debochada.
Ela levantou e sentou ao lado de Júlio, que estava no sofá em frente, destraido com o celular.
_ Paizinho, bem que poderia rolar pizza hoje._ Vanessa pedia com um jeito meigo, deitando a cabeça no ombro dele. Júlio a olhou sorrindo, afagando os seus cachos dourados.
_ Nem pensar. Você já comeu muitas besteiras esta semana. Vai comer algo saudável.
Ela olhou com raiva para Leandro.
_ Eu não estou falando com você!
_ Não me interessa. Não vai comer pizza e pronto.
Júlio o olhou de um jeito repreenssivo.
_ Leandro, não precisa ser tão radical. Não tem nada de errado a menina comer pizza.
_ Claro que tem tudo de errado! Vanessa está em fase de crescimento, precisa se alimentar de forma adequada.
_ Olha só que honra! O doutor Leandro está me consultando de graça. O melhor nutricionista sem diploma do Rio de Janeiro. Bravo!_ Vanessa debochava batendo palmas.
_ Filha, não fale assim com o seu pai. Não provoca também.
_ Tá bom, pai. Eu vou ou não vou poder comer pizza? É só hoje, por favorzinho! Eu tô com tanta vontade.
_ Tá bom, meu amor! Pode pedir. Mas, vá tomar um banho.
Vanessa pulou de alegria e deu vários beijos no rosto de Júlio.
_ Te amo, paizinho! Você é o melhor pai do mundo.
Vanessa subia as escadas correndo numa alegria que ofendia a Leandro.
_ Você tem prazer em me humilhar, não é? Tira a minha autoridade com ela por puro prazer.
_ Deixe de ser dramático, meu bem._ Júlio se aproximou, segurou em seu queixo e o beijou._ Não custa nada a menina comer pizza hoje. Você tem horas que age como um ditador.
Leandro estava tão exausto emocionalmente, que não teve ânimo para responder. Foi para o quarto em silêncio.
Após o banho, vestido com o seu pijana de seda azul, mirava-se no espelho do banheiro reparando a expressão cansada e os olhos depressivos. O brilho dos cabelos negros e lisos já não lhe causavam mais orgulhos.
A beleza ainda dominava o seu rosto triste, mas a baixa autoestima não o permitia enxergá-la. Não se sentia feliz com a maciez de sua pele, os seus belos lábios finos e rosados contornavam dentes alvos e bem alinhados eram para ele sem nenhuma graça.
_ Será que ele é mais jovem do que eu? Com certeza deve ser mais bonito._ Leandro perguntava a si mesmo diante do espelho, fitando os seus olhos castanhos escuros afundados numa olheira deprimente.
Observava as leves linhas do tempo em torno dos seus olhos. Seus trinta e dois anos causavam-lhe medo de ser substituído por alguém com uma década a menos que a sua idade.
Criava em sua mente a imagem do seu rival. Imaginava-o jovem, belo, com um sorriso atrevido e um olhar de superioridade.
Mergulhava no desespero imaginando Júlio tendo-o nos seus braços, deleitando-se em volúpia. Um outro desfrutando do que era seu! Ah, como essa possibilidade feria o seu coração.
As lágrimas começaram a brotar pela sua face exausta.
_ Pai, Você não vem? A pizza já chegou.
Leandro se afastou do espelho e respondeu que não sem olhar para a filha. Não queria que ela o visse chorar.
_ Você tá chateado comigo?_ Vanessa se aproximou e o beijou no rosto._ Você tá chorando pai?_ perguntou preocupada.
_ Estou com dor de cabeça.
_ Quer que eu pegue o seu remédio?
_ Não precisa. Eu já tomei. Vou deitar para relaxar, esperar que ele faça efeito.
_ Ok. Qualquer coisa é só chamar, paizinho. Te amo._ Ela o beijou antes de sair do quarto.
Quando Júlio entrou no quarto vestido com apenas uma cueca boxer preta, o quarto estava imerso na escuridão.
Leandro ainda estava acordado, deitado virado para a parede.
Júlio enfiou-se nos lençóis, abraçando-o por trás. Envolveu os braços em sua cintura e, entrelaçou as pernas entre as suas.
Aproximou a boca no pescoço do marido beijou e mordeu levemente.
Leandro sentia o membro duro de Julio roçando entre as suas nadegas.
Enquanto Júlio ardia de tesão, desejoso pelo corpo do marido, Leandro sentia -se incomodado.
A mão de Júlio penetrava dentro da sua calça, acariciava o seu pênis, que permanecia adormecido. Com a outra mão, Júlio percorria pelo peito, tocando na ponta dos mamilos.
_ Eu não quero.
Júlio ignorou as palavras do marido, virando-o de costas, subindo sobre ele, roçando o pênis enquanto devorava o seu pescoço.
_ Eu já disse que não quero.
_ Fica quietinho._ Júlio sussurrou ao pé do ouvido, com uma voz roca.
Retirava a calça de Leandro, ao mesmo tempo que colocava para fora o seu pênis ereto.
Irritado, Leandro levantou num rompante, derrubando Júlio do outro lado da cama.
_ Que porra é essa, Leandro?! Vai ficar de gracinha?
_ Eu já estou farto de toda essa merda! Estou cansado dessa vida de merda, fingindo que está tudo bem! Não está nada bem! Eu tô infeliz, porra!_ Leandro gritava chorando, sentado na beira da cama.
Júlio pôs as mãos nos olhos. Sentia raiva por não ter o seu tesão saciado e pela possibilidade de uma DR.
_ Isso tá indo longe demais! O desgraçado ligou para a nossa casa! E eu tive que fazer o bom anfitrião e fingir que nada estava acontecendo, enquanto vocês dois conversavam ao telefone debaixo do meu teto!
_ Do que você tá falando? Isso é que acontece quando você bebe demais. Sabe que é fraco para a bebida.
_ Pare de me tratar como se eu fosse um louco!
_ Fala baixo! Vai acabar acordando a menina com a sua histeria ridícula.
_ Histeria?
_ Histeria sim. Histeria e surto.
_ O Abner não é um surto meu. É o seu amante!
Dissimulado, Júlio gargalhou erguendo a cabeça para cima.
_ Que mente criativa! Já pensou em escrever um livro, coração?
_ Não deboche de mim. Eu não sou burro!
Eu sempre te respeitei. Não é justo que faça isso comigo.
_ Sabe qual é o seu problema? É falta de problema. Você tem uma vida muito boa. Não faz nada de útil e fica aí, imaginando coisas.
_ Ele ligou para a nossa casa! Vai negar isso?
_ Abner é um cliente. O processo judicial que ele está enfrentando é muito complicado. Por isso, o escritório está dando uma atenção especial. Se tudo der certo, vamos receber muito bem por isso, e o principal beneficiado será você, que vai torrar tudo batendo pernas no shopping com aquela sua amiga cabeça oca.
'É sempre assim, eu me fodo de tanto trabalhar para te dar uma boa vida e você me agradece com acusações estapafúrdias!'
_ Júlio, eu não sou burro! Eu ainda vou pegar vocês dois no flagra.
Júlio levantou da cama com raiva.
_ Quer saber de uma coisa? Eu não vou ficar aqui batendo palmas para palhaço que não me faz rir. Que viajar na maionese? Faça isso sozinho.
Julio foi até o closet. Leandro foi atrás.
_ Já vai correr para os braços do outro? Seu imundo! Traíra! Já vai se esfregar com um puto qualquer?
_ Eu bem que deveria fazer isso, já que no lugar de sexo você me dar aborrecimentos.
Adormecida, Vanessa não ouvia os gritos dos pais.
Júlio se arrumou o mais rápido que pode e saiu batendo a porta.
Desesperado, Leandro andava de um lado para o outro, com os pés descalços sobre o carpete italiano da sala de estar.
Pentreva os dedos entre os cabelos, sentindo o corpo trêmulo.
Perdeu as forças das pernas, caindo no carpete. Sentia um aperto no peito e um nó se formar na garganta.
_ Ele está com o outro! Ele está com o outro!
Não conseguiu mais conter as lágrimas e desabou no choro, soluçando sentindo o peito cansado.
Os olhos vermelhos e umidos miravam as luzes da cidade e o mar através da vidraça da parede da sua sala.
_ Ele está com o outro...O meu casamento está morrendo.