Capítulo 2
A proposta
O celular estava tocando, fazendo o criado mudo vibrar. Leandro despertou resmungando, pois como passou a noite em claro, havia pegado no sono há pouco tempo. Ele tateou em busca do aparelho, sem abrir os olhos e sem despertar completamente.
Por um instante, sentiu uma esperança de ser uma ligação de Júlio. Talvez tivesse se arrependido de ter procurado o Outro e o ligava para pedir perdão.
Sorriu com a possibilidade. Sorriso esse que foi desfeito ao ver que no lugar do nome de Júlio era o de Valéria que estava na tela do celular.
Pelo tom da voz de Leandro, Valéria soube que o amigo passou a noite chorando.
_ O que o cafajeste do Júlio aprontou dessa vez?
Leandro contava entre lágrimas.
_ Calma, amigo. É incrível a capacidade do Júlio em fazer o meu ranço por ele aumentar a cada segundo. Eu estou indo para aí. Chego num instante.
Leandro ficou aliviado quando a empregada disse que Vanessa já havia ido ao colégio. Ele não queria que a filha o visse com os olhos inchados, e nem que soubesse que Júlio passou a noite fora de casa.
Valéria entrou sem bater, como era muito íntima de Leandro, possuía uma cópia da chave da casa, o que deixava Júlio revoltado.
_ Oh, meu amor!_ Valéria disse com os braços abertos indo de encontro a Leandro._ Olha, esse nojento do seu marido está me dando nos nervos.
Leandro reparou que ela vestia uma saída de praia de renda branca, óculos escuros nas mãos e um chapéu de palha na cabeça.
_ Você vai a algum lugar?
_ Mergulhar na sua piscina maravilhosa, e tomar um drink maravilhoso que a Patrícia vai preparar. Se for pra passar raiva do seu marido, que seja numa piscina, em frente à praia.
As ondas do mar estavam agitadas, o céu parcialmente nublado e um vento agradável pairava no ar.
Valéria ouvia com o canudo na boca, saboreando o segundo drink de morango e vodca.
Leandro estava ao seu lado, cansado, encostado com a cabeça na espreguiçadeira.
_ Eu não tô aguentando mais, Val. Eu tô muito exausto. A Vanessa não me respeita, o Júlio a mima e tira a minha autoridade. E agora fica se esfregando com um qualquer...chegando ao ponto do Outro ligar para a minha casa! Eu não suporto mais isso.
_ Huuum! Isso tá muito bom. Vou querer outro._ Valéria depositou a taça numa mesa de vidro ao lado e olhou no fundo dos olhos de Leandro._ O negócio é o seguinte, veado: a sua vida é merda e sempre será.
Leandro a olhou espantado.
_ É isso mesmo! Porra! Acorda pra vida, caralho!_ Valéria segurou no queixo dele._ Meu amor, quando o seu marido sair para procurar macho na rua, dar um tapa no look e saia para arranjar outro macho também. Pegue o cartão daquele merda e torra tudo se divertindo com outro.
'Você já tá muito velho para ficar sonhando com um casamento de contos de fadas. Júlio é um pilantra e sempre será. Ontem mesmo, você ficou igual um otário chorando e ele comendo o rabo do Outro.
Se você fosse esperto, teria me ligado e a gente teria feito o furdunço na balada.
'E sobre a chata da Vanessa, caga pra essa garota. Você fica aí se mantando de tanto se estressar com ela, enquanto o bonito do Júlio sai como o paizinho legal e você a madrasta da Disney. Dar um gelo naquela chata. Quando ela vier te pedir alguma coisa, manda ela pedir ao paizinho._ a última palavra foi dita em tom de deboche._ 'Vá viver, porra! Quer ver a sua vida melhorar? Pare de bancar a Amélia arranje um belo amante bem dotado, que te faça gozar até você ver estrelas.'
_ Não sei por que perco o meu tempo te pedindo conselhos. Você ao invés de me ajudar, me humilha.
_ Em primeiro lugar, quem me pediu conselho foi você, então me escute sem reclamar. Eu não te humilho coisa nenhuma. Você é que se humilha se sujeitando a essa situação. Meu bem, veja o meu caso. O safado do Telles começou com a gracinha de me trair, eu o mandei para a puta que o pariu. Sabe por que fiz isso? Porque eu não dependo de homem pra porra nenhuma. Tudo que eu tenho eu conquistei com o suor do meu trabalho para justamente não ter que aturar desaforo de boy lixo. Já você quis brincar de casinha e bancar a Amélia, foi atrás do Júlio, que sempre te podou para que você comesse nos pés dele.
'Amigo, você precisa de um trabalho. Além de te dar uma independência financeira, você pode ocupar a sua cabeça e parar de focar na sua família que tanto te estressa.
'Júlio nunca vai mudar, Vanessa vai ficar cada vez mais abusada e você vai se acabar. Se livra desse peso que você chama de marido. Divórcio é a solução. '
_ Você fala em divórcio como se fosse fácil.
_ Eu sei que não é, já passei por três e a boa notícia é que não mata._ Valéria o olhou de um jeito doce e segurou em sua mão. _ Você pode vir trabalhar comigo...Claro que não posso te pagar um salário compatível ao seu padrão de vida, mas você terá uma ocupação e um pouco de independência financeira.
Leandro a olhava em silêncio. Ela segurou em sua mão.
_ Venha. Você precisa se libertar um pouco dessa vidinha sofrida. Precisa manter a cabeça ocupada. Você pode ser o meu assistente. Lá na empresa você vai conhecer tantas pessoas.
Valéria falou de muitas possibilidades de mudanças na vida de Leandro. Aos poucos, ele foi se empolgando.
...
O sol se despedia no horizonte, deixando o céu alaranjado salpicado de nuvens brancas. Leandro assistia ao crepúsculo sentado na poltrona de veludo branca, na sacada da varanda do seu quarto.
Ao ouvir a porta se abrir, levantou esperançoso por ver Júlio.
_ Até que em fim lembrou o caminho de casa._ ironizou, sentindo uma tristeza profunda.
_ Eu tive um dia cheio. Dormi mal no hotel, tô com as costas doendo e tive que ir direto para o escritório. Eu só quero um pouco de paz dentro da minha própria casa.
Leandro entrou para o quarto e encontrou Júlio sentado na cama, afrouxando o nó da gravata.
Aproximou-se em silêncio e esticou a mão, entregando a aliança a Júlio.
_ Que porra é essa?
_ Eu quero o divórcio.
Júlio arqueou a sobrancelha e gargalhou.
_ Qual é graça?
Júlio levantou e pôs as mãos na face de Leandro. Olhava-o sorrindo como se o marido fosse uma criança graciosa.
_ Coração, o nosso casamento é para sempre. Você só se livra de mim morrendo._ Após dizer isso beijou os lábios de Leandro, segurando em sua nuca._ Mande servir o jantar, que estou morrendo de fome.
Leandro observava Júlio caminhar em direção ao banheiro se sentindo ridículo. Ele amava Júlio e não pretendia se divorciar, mas esperava que o marido reagisse de forma distinta a que agiu. Esperava que se sentisse ameaçado e o prometesse que tudo ficaria bem e que se livraria do Outro.
Quando Júlio chegou na sala de jantar, a mesa já estava posta com bacalhoada, uma garrafa de vinho do Porto no centro e uma taça com suco natural de laranja ao lado do prato de Vanessa.
Ela chegou saltitante e abraçou Júlio pelo pescoço, beijando-lhe o rosto.
_ Paizinho!
_ Oh, minha princesinha. Como foi o seu dia hoje?
Vanessa narrava com entusiasmo a sua ida à praia após sair do colégio. Júlio não tinha o maior interesse no dia a dia de uma adolescente, mas a amava tanto, que tudo que ela dizia, soava para ele como interessante.
_ E você, coração? O que fez hoje?
Leandro não respondeu, mantendo a cabeça abaixada, enquanto mastigava.
Vanessa o olhava girando a cabeça negativamente. Ela julgava como injusta a forma como Leandro trava Júlio.
_ Huuum! A Patricia caprichou deste peixe._ Júlio comentava gemendo e fechando os olhos, demonstrando que o gelo de Leandro não o incomodava. _ ótimo para saborear com um bom vinho.
_ Também posso experimentar um pouco de vinho, paizinho?
_ Nem pensar! Você é menor de idade!_ Leandro respondeu num tom áspero. Estava a ponto de explodir.
_ Eu não vou ficar bêbada! É só um pouco! Deixa de ser chato!
_ Minha gatinha, é melhor não contrair o seu pai. Deixa para a próxima.
_ Que saco!_ Vanessa cruzou os braços, com a cara emburrada.
Leandro se sentiu aliviado por não ser desautorizado na frente da filha, como sempre acontecia.
_ Não fique assim, meu amor. Para te dar um pouco de alegria, você pode comer a sobremesa que quiser.
_ O quê ? Frutas? É a única coisa doce que o Leandro deixa a Patricia servir.
_ Peça pelo Ifood, meu amor._ Júlio respondeu acariciando o queixo da filha.
Mesmo contrariada, Vanessa não protestou. Usou como consolo o fato de poder comer uma gorda fatia de torta de chocolate com nozes.
_ Eu vou trabalhar.
Júlio olhou para Leandro surpreendido.
_ Que piada é essa?
_ Não é piada. Eu estou falando sério.
Júlio e Vanessa começaram a rir.
_ Eu não vejo motivo para risadas.
_ Você trabalhar, pai? Você não sabe fazer nada. Ou pretende prestar consultoria de como ser um grande estraga prazeres?
_ Eu vou trabalhar com a Val. Vou ser assistente dela na empresa de festas.
O sorriso de Júlio se desfez, se convertendo numa expressão de raiva.
_ Você não vai.
_ Isso não é você quem decide.
_ Eu não vou falar duas vezes, Leandro. Eu não vou admitir que o meu marido trabalhe num buffetizinho chinfrim. O que as pessoas vão dizer? Que eu estou falindo e por isso o meu marido está trabalhando por um salário mínimo qualquer?
'Sem contar nos seus pais que vão jogar na minha cara que eu não fui competente o suficiente para te dar uma boa vida.'
_ Eu não devo satisfação a ninguém.
_ Deixa de ser ridículo, Leandro! Você está querendo me humilhar publicamente?_ Júlio socou a mesa._ Olha...isso é coisa da desgraçada da Valéria. Essa mulher é um problema na minha vida! Eu te proibo de vê-la novamente.
_ Você não tem o direito de me proibir nada. Não sua propriedade.
_ É incrível como você estraga tudo, pai! A gente tava tão bem num jantar em família e você fica de picuinha querendo estressar o meu pai Júlio.
_ Vanessa, não se meta nisso.
_ Me meto sim! Você vive procurando brigas! Tira a nossa paz! Puxa, o meu pai trabalhou o dia inteiro e ele mal põe os pés dentro de casa e você começa.
_ A culpa disso tudo é da Valéria. Ela está colocando caraminholas na sua cabeça._ Júlio disse irritado.
_ Com licença. Eu perdi a fome._ Após dizer isso, Leandro se retirou.
Júlio perdeu a fome e também se retirou da mesa, deixando Vanessa só.
Aproveitando a ausência dos pais, a menina olhou sorrindo para a garrafa de vinho e depositou um pouco em uma das taças.
_Huuuum! Muito bom._ disse sorrindo, limpando um gole que caiu nos seus lábios.
....
As luzes do quarto casal foram acesas com brutalidade. Leandro contraiu os olhos para amenizar o efeito da luz. Cobriu ainda mais o corpo com o lençol egípcio de seda branca, que lhe causavam uma sensação de conforto.
Júlio parou diante do marido, mirando-o com fúria.
_ Se você pensa que vai me desobedecer, está muito enganado.
_ Por acaso eu preciso da sua autorização para fazer alguma coisa? Eu não entendo o porquê o fato de eu trabalhar te ofende tanto.
_ Você sabe muito bem qual é o motivo. Você lembra muito bem das palavras dos seus pais, quando nós nos casamos "Esse morto de fome vai te levar para a miséria junto com ele."
'Leandro, você sabe muito bem todas as humilhações que tive que suportar para poder me casar com você. Você sabe o nível de crueldade dos seus pais para comigo. Eles não admitiam que o sobrinho da empregada, o morto de fome, como eles diziam, se casasse com o filhinho deles. E agora você quer demonstrar pra todo mundo que eu não sou capaz de te bancar?'
_ Júlio, tudo isso é passado. Você deu a volta por cima e hoje quem trabalha para você é o meu pai. Agora vê se cresce e pare de palhaçada. Vá dormir. Você não vive dizendo que é um homem ocupado? Pois então, vá descansar para trabalhar amanhã. Eu também tenho que acordar cedo para resolver a minha vida.
Júlio deu a volta ao redor da cama, deitou ao lado de Leandro e apagou as luzes do quarto pelo aplicativo do seu smartphone.
_ Veremos se você ou não trabalhar para a puta da Valéria. Você vai vê quem é que dá a última palavra aqui. _ Leandro sentiu o hálito quente no ouvido com a voz de Júlio em tom ameaçador.
_ Júlio, se quiser brigar faça isso sozinho. Eu estou com sono.
Enquanto Leandro fechava os olhos, tentando dormir, Júlio o olhava com ódio.
A bela menina de cabelos loiros presos num coque estava sendo observada com olhos admiradores.
Vanessa estava sentada com as pernas cruzadas num banco sob uma árvore de Carvalho. Distraída, sorria enquanto teclava no seu smartphone. Vestia uma calça jeans justa e rasgada nas coxas grossas, e a blusa branca com o brasão do colégio era justa realçava os seus seios firmes de menina.
Franziu o cenho, estranhando a notificação que recebeu no Whatsapp. Não era comum que Júlio a enviasse mensagem a aquela hora.
"Olhe para a frente, princesa". Após ler isso, direcionou os belos olhos azuis para o portão da escola. Sorriu radiante ao ver o seu pai sorrindo para ela.
Seu coração se encheu de orgulho ao ver o belo homem magro e alto, com uma expressão elegante e inteligente vestindo um terno preto Armani. Os seus cabelos castanhos claros e ondulados estavam perfeitamente penteados. Seu sorriso era de um chamar sedutor, contornado finos, bigode e cavanhaque.
A menina correu em direção ao pai, atirando-se em seus braços. Recebeu vários beijos afetuosos , repletos do mais sincero amor paternal.
_ Que surpresa boa te ver aqui, paizinho! Geralmente, você está trabalhando neste horário! Aconteceu alguma coisa?_ na última frase, o tom de voz de Vanessa mudou de alegre para preocupado.
_Aconteceu sim, minha princesa._ Júlio respondeu envolvendo os braços no ombros da filha, a conduzindo para o estacionamento. _ Aconteceu que um pai resolveu tirar uma tarde de folga para curtir com a sua adorada filha.
_ Sério?!_ os olhos da menina brilhavam de alegria._ E o meu pai Leandro?
_ Eu ia convidá-lo, mas ele saiu com a Valéria e eu não quis fazer o chato.
_ Como sempre a Valéria sendo uma pedra no nosso sapato. Já tô tomando ranço dessa mulherzinha.
Júlio se alegrou internamente com a raiva da filha por Valéria.
_ Mas não vamos esquentar as nossas cabeças com isso. Vamos aproveitar o dia juntos.
_ Aonde vamos almoçar, pai?
_ Onde você quiser, meu amor.
_ Obaa! Podemos ir a uma hamburgueria, que fica aqui perto. Você vai adorar o cardápio de lá.
Vanessa caminhava pela escola com a cabeça erguida, exibindo o pai, de quem tanto se orgulhava. O fato de sentir na pele a dor do preconceito por parte de alguns colegas por ser filha de um casal gay a fazia ter ainda mais orgulho dos pais. Ela foi educada por Júlio a nunca se sentir inferior a nenhum dos colegas que pertenciam a uma família tradicional. Aprendeu que o importante era o amor e o afeto que recebia em casa.
Apesar de ser muito jovem, Vanessa tinha consciência que o problema não estava na sexualidade dos seus pais e sim na homofobia alheia.
Ela admirava Júlio pela sua trajetória de vida. O homem pobre, que ficara órfão ainda criança venceu as dificuldades impostas pela vida e se tornou o dono de uma rede de escritórios de advocacia mais bem conceituada do Rio de Janeiro. Para homenagear a filha que tanto ama, Júlio batizou a sua empresa de Vanessa Medeiros, fato que a deixava ainda mais apaixonada pelo pai.
_ Eu fui ao paraíso agora e voltei! Isso aqui tá muito bom!_ Vanessa disse fechando os olhos e gemendo, saboreando o sundea de chocolate, pedaços de morango e calda do mesmo sabor.
_ A senhorita tá ciente que essa extravagância terá um preço, né? Comer hambúrguer, batatas fritas e esse sundea de sobremesa foi muito bom. Mas, você terá que correr atrás do prejuízo...literalmente. Amanhã a noite, correrá comigo no calçadão.
_ Ah, pai! Sério isso?
_ Muito sério. Senão você engorda e o Leandro vai ficar a vida inteira falando na minha cabeça.
_ Ele nem precisa saber. E aliás, a culpa de eu cair em tentação com comidas gordurosas é toda dele. O meu pai só quer me empurrar mato e frango grelhado. Sem contar que a Patrícia não cozinha tão bem assim, mas o papai insiste em mante -la na nossa casa. Ele tem pena dela, porque apanha do marido e tem que sustentar os filhos sozinha.
'Eu sou muito mais a comida da Lurdes. Por mim ela vinha trabalhar na nossa casa e a Patrícia ia para o sítio... Ah, pai, você sabia que o filho da Lurdes é chefe de cozinha?'
Júlio fez um sinal negativo com a cabeça, torcendo os lábios para baixo.
_ Acho que ele está estudando gastronomia ou se formou há pouco tempo...não me lembro direito. Mas, imagino que deva cozinhar tão bem quanto ela.
Enquanto a menina tagarelava, Júlio abaixou a cabeça simulando uma expressão de tristeza. Para dar mais veracidade a sua encenação, deixou os olhos umidecerem, limpando-os antes que as lágrimas caíssem.
Percebendo a falsa tristeza do pai, que ela acreditava ser verdadeira, Vanessa parou de falar sobre comida e segurou na mão do pai.
_ O que houve, pai? Você está triste?
Júlio acariciou o queixo da filha, dando um sorriso apático.
_ Não é nada, meu anjo. Coisa de adulto. Continue falando...
_ Como assim coisa de adulto, pai? Eu não sou mais criança! Eu estou muito preocupada contigo. Confia em mim, Paizinho.
_ Eu não quero te envolver nos meus problemas.
_ Eu sou a sua filha. O que dói em você, doi em mim também.
_ Você é um anjo. Apesar de que sempre será a minha garotinha, você já não é mais uma criança. Eu me sinto muito angustiado com tudo que está acontecendo. Vanessa, eu preciso de ajuda.
_ Pra que, pai?
_ Para salvar o meu casamento. Eu amo o seu pai mais do que a mim mesmo. Leandro e você são tudo para mim...Eu nem deveria está te contando isso, mas uma hora ou outra você vai acabar sabendo mesmo. Ontem, o Leandro me pediu o divórcio.
Essa revelação doeu em Vanessa como uma lâmina cortando a carne. O desespero foi imediato. Sentiu o corpo gelar e o coração bateu em disparado. Arregalou os olhos assustada. Amava os pais de um jeito incondicional. Pensar na possibilidade dos dois separados a apavorava.
_ Não! Isso nunca!
_ Eu também não quero. Não posso perder o homem que amo.
_ Mas por que o papai quer o divórcio?
_ Por culpa da Valéria. Ela nunca gostou de mim e tem inveja da felicidade da nossa família. Foi incompetente nos dois casamentos e por isso quer destruir a felicidade alheia.
'Ela inventou para o seu pai que eu tenho um amante. Leandro é cabeça fraca e se deixou levar por ela. Agora que os dois vão trabalhar juntos, Valéria vai fazer de tudo para o pôr contra mim. Ela terá mais tempo para fazer isso.'
Júlio deixou as lágrimas caírem, cortando o coração de Vanessa. Ela nunca vira o pai chorar antes. Sentiu um aperto no peito, se compadecendo de um dos homens que mais amava na vida.
_ Você sabe o quanto o seu pai é importante para mim. Ele é o meu sol. Amo-o desde o primeiro momento em que o vi na piscina da casa da sua avó. Fiquei hipnotizado por aqueles lindos olhos castanhos. Não eram olhos qualquer, eram singulares e tinham uma doçura que me atraía.
'Você conhece a nossa história, minha filha. Sabe que os seus avós não aprovavam a nossa relação e quanto tive que lutar para ficarmos juntos. O amor que tenho por Leandro é o que me fortalece. Eu jamais teria coragem de trair aquele anjo. Pra mim, ele é único.'
_ Eu sei disso, paizinho. Você é um homem de caráter e ama o meu pai. Jamais seria canalha de botar galha nele.
_ Mas, a Valéria diz o contrário e ele acredita nela. Vanessa, eu não posso perder o seu pai. Eu morreria se isso acontecesse.
_ Puta maldita! Eu não vou permitir que ela destrua o casamento de vocês! Eu vou acabar com aquela mulherzinha! O meu pai não vai trabalhar com ela.
_ Não há nada que possamos fazer, meu amor. O Leandro está decidido.
_ Ah, mas você me conhece, pai. Você sabe muito bem que quando eu quero, eu consigo. Eu vou fazer aquela cobra engolir o próprio veneno e morrer com ele. E uma coisa eu te garanto, o meu pai não vai trabalhar com ela. Ninguém vai destruir o casamento de vocês.
Vanessa abraçou o mais forte que pode, chorando de raiva. Por trás de suas costas, Júlio mostrava o seu verdadeiro estado de espírito: sorria mordendo os lábios_ Bom dia, minha vida.
Leandro foi surpreendido com um arrepio percorrendo o seu corpo, quando a sua nuca foi beijada por Júlio, que o abraçava por trás, completamente nu. Leandro estava terminando de se barbear, quando ouviu aquele sussurro roco ao pé do ouvido.
A face foi beijada e as mãos de Júlio retirava a toalha preta, que envolvia a sua cintura. Ela caiu ao chão molhada, desnudando o corpo de Leandro.
_ Volta pra cama. Quero desfrutar do seu corpinho gostoso.
_ Não dá, Júlio. Hoje é o meu primeiro dia de trabalho.
Mesmo ficando com raiva das palavras de Leandro, Júlio conteve a raiva para satisfazer o seu tesão. Estragava o pau ereto na nádegas macias lisas de Leandro.
_ É só um pouquinho, meu amor. Que saudades que tenho de entrar em você.
Júlio o virou para si com brutalidade. Com força, encostou-o na parede, encaixando as pernas abertas de Leandro no seu quadril.
Beijava-o de forma brutal, desfrutando da língua e se deleitando chupando os lábios.
Sua boca buscou pela pele fresca e macia do companheiro, percorrendo pelo pescoço e mamilos, sugando-os.
Leandro tinha total consciência que se permanecesse ali poderia se atrasar, mas o seu corpo não o deixava resistir. Entregava-se gemendo, sentindo as penas bambas e o pau pulsar, esfregando-o com o de Júlio.
Suas unhas cravaram nas costas largas, fazendo Júlio gemer, sentindo o tesão se apossar do seu corpo.
Ambos os corpos estavam sedentos um do outro, entregavam-se num beijo caloroso.
Leandro foi posto de costa com as mãos apoiadas no granito preto da parede do banheiro.
Abriu as pernas sem residência, quando sentiu o membro duro de Júlio roçando entre as sua nádegas.
Com os olhos fechados, ouviu o barulho de Júlio cuspindo na própria mão e sentiu o dedo úmido o invadir as intimidades. Em instantes, o dedo foi substituído por vinte e dois centímetros de pau duro, que já era íntimo do seu ânus.
_ Empina mais esse rabo gostoso.
Leandro obedeceu, o que facilitou a penetração.
Júlio ia metendo cada vez mais rápido, pujante, brutal e doloroso, atingindo a próstata a cada estocada, entorpecendo o marido de prazer.
"Ele ainda me deseja!" Leandro pensava feliz por saber que não tinha o perdido completamente para o Outro.
Rebolou com maestria, competindo internamente com o desagradável desconhecido.
Queria proporcionar ao macho o máximo de prazer que pudesse oferecer. Alimentava-se da esperança da salvação do seu casamento.
Júlio deleitava-se desfrutando do corpo que julgava com a mais deliciosa de suas propriedades, sentia o pau pegar fogo dentro daquele buraco quente, que contraia o seu membro. Puxava aqueles cabelos negros e macios, sentindo orgulhoso de ser dono daquele homem.
_ De quem esse cuzinho gostoso?
_ É seu...todinho seu, meu amor.
Júlio se sentia ainda mais envaidecido por possui-lo, metendo com mais força.
Leandro se sentia afortunado pela utilidade de servir ao prazer do seu homem.
Um líquido quente o invadiu, jorrando pelas suas pernas abertas. Júlio urrava de prazer, despertando um sorriso em Leandro.
"Será que o Outro o faz gozar assim ?" Leandro se perguntava e ao mesmo tempo se respondia que não, querendo acreditar que venceu a competição.
Júlio se afastou com o pau meio molhe e molhado do gozo. Leandro ainda estava duro e desejava gozar também.
Virou- se para o marido sorrindo e se atirou em seus braços, beijando-o.
Júlio acariciou os seus cabelos e beijou o seu rosto, antes de se afastar, indo para o box tomar banho.
_ Coração, peça para a Patrícia me preparar ovos mexidos, mas nada de gema molenga, eu morro de nojo.
Leandro o observava tomar banho. Estava decepcionado por Júlio não o fazer gozar como fazia antes.
Há tempos que Júlio o trata como depósito de esperma e isso o fazia se sentir usado. Abaixou a cabeça entristecido. Sentia carência de afeto e palavras carinhosas, de sentir um abraço aconchegante e protetor, que Júlio o dava outrora. Perguntou-se, em pensamento, aonde estava aquele Júlio amoroso do passado.
Não quis reclamar para não provocar uma discussão e empurrar o marido para os braços do Outro...do maldito Outrosilêncio incômodo pesava sobre todos na mesa do café da manhã. Vanessa enterrava a colher no mamão sem comê-lo, sua boca tinha uma expressão dura e o seu olhar colérico.
Júlio mastigava os ovos mexidos com tranquilidade, quase sorria sem mostrar os dentes. Estava presunçoso pelo efeito que causara na filha.
_ Filha, você não vai comer? Só vejo mexendo nesse mamão e nada de pôr na boca.
Vanessa direcionou o olhar a Leandro.
_ Você vai me vai me levar ao colégio hoje?_ a pergunta soou de um jeito agressivo. Ela falava entre os dentes.
_ Eu não posso. Mas, pode deixar que já estou providenciando um novo motorista para você.
Leandro estava preocupado com o estado de espírito da filha. Ele sentia-se incomodado com o clima tenso daquela manhã.
_ Você prefere que um motorista de táxi estranho leve a sua filha para o colégio do que você mesmo me levar?
_ Vanessa, eu não tô entendendo o porquê você está fazendo tanta questão que eu te leve ao colégio. Você está sem motorista há duas semanas e tem ido de táxi todos os dias. Qual é o problema desta vez?
_ Eu só quero que o meu pai me acompanhe. É pedir demais?
_ Você sabe que hoje é o meu primeiro dia de trabalho. Eu não posso te levar.
_ Você vai mesmo trabalhar para aquela puta?! Vai deixar aquela vadia acabar com a nossa família?!
Leandro se espantou ao ouvir a filha gritando e socando a mesa.
Júlio apenas observava numa expressão serena.
_ Vanessa, olha a boca!
_ Será que você não vê que essa mulherzinha está acabando com o seu casamento? Ela é uma encalhada, que não sabe segurar macho e quer destruir a vida dos outros. Ela te chamou para trabalhar para ela só para humilhar o meu pai.
_ Vanessa, cale a boca! Você não sabe do que tá falando!
_ Não calo, porra!_ Vanessa gritou o mais alto que pode. _ Ela mente que o meu pai tem um amante, ela vive fazendo a sua cabeça contra ele e você cai que nem um patinho? Será que você não enxerga que essa mulher é uma cobra?
_ Vanessa, você não sabe do que está acontecendo?
_ Claro que sei! O cego aqui é você!
_ Já chega! Eu não sou os seus amiguinhos que você fala do tom que quiser. Eu vou trabalhar sim, queira você ou não!
_ Você facilita para que aquela mulher acabe com a nossa família. Prefere acreditar nela do que no meu pai! Ele te ama e nunca seria capaz de te trair, faz de tudo por você. Mas você é ingrato! Prefere acreditar na vadia. O meu pai não merece alguém tão ingrato como você!
Vanessa levantou agressiva, pegando a mochila que estava na cadeira ao lado. Saiu em passos agastados, ignorando o pedido de Leandro para que retornasse à mesa.
Ao sair, Vanessa bateu a porta com tanta força, que provocou um som perturbador.
Leandro penetrou os dedos entre os cabelos, abaixando a cabeça dolorida, devido a tensão. Sentiu um desânimo, perdendo a vontade de sair de casa.
_ Você não diz nada? Ela faz o que quer e você não diz nada._ Leandro disse sem levantar a cabeça.
_ A discussão foi entre vocês dois, coração.
_ Ela te respeita! Se você tivesse falado com ela as coisas não chegariam aonde chegaram. _ dessa vez Leandro olhava-o decepcionado.
Júlio afastou o prato e passou o guardanapo no rosto. Levantou, olhando para baixo.
_ Eu trabalho o dia inteiro, não tenho tempo para educar a nossa filha. Essa tarefa coube a você, que mesmo não tendo nenhuma ocupação não teve competência para educá-la. Agora que vai se dedicar ao buffetzinho da sua amiga e a Vanessa ficará mais negligenciada do que é._ Júlio segurou em seu queixo, aproximando a boca. _ Você criou o monstro, coração, agora aguente as conseqüências. _ terminando de dizer isso, deu-lhe um selinho e saiu, deixando Leandro ofendido.
....
Receber ordens é algo que Valéria sempre detestou. Nunca se habituou a ser funcionária de nenhuma empresa, o que a levou a aposentar o seu diploma de jornalista para se dedicar a sua própria empresa. Ela uniu a sua autonomia com a sua paixão por festas e fundou a seu buffet para festas e eventos.
Resultado de muito esforço e dedicação, a empresa cresceu no ramo, proporcionando a ela a tão sonhada independência financeira e um padrão de vida confortável: tinha um apartamento em Copacabana, trocava de carro a cada ano e sua conta bancária nunca chega no vermelho.
Apesar disso, financeiramente estava muito abaixo de Júlio. Não possuía nenhum um quarto do valor da fortuna dele, sendo por isso não poder oferecer a Leandro um salário compatível ao seu padrão de vida.
Ela desejava ser tão rica quanto ou mais que Júlio, para poder libertar o amigo daquele relação, que ela julgava abusiva.
Leandro a observava altiva, caminhando em cima dos seus saltos altos scarpin, um macacão preto de decote V e um longo cordão entre os seus seios pequenos. Os cabelos expressavam um pouco da sua personalidade por causa da praticidade, eram negros e curtos rente à nuca, com as pontas espichadas e uma franja que batia no meio da testa. Os seus olhos eram inteligentes, de um verde tranquilizador, contornados por um delineado preto.
Apesar de não ser bonita, Valéria tinha uma elegância singular, um sorriso simpático e afetuoso, alta e magra, caminhava involuntariamente com o porte de mulher dona de si.
_ Este será o nosso santuário de trabalho. Você ficará naquela mesa ali. Não é tão confortável, porque é improvisada. Mas, com o tempo, vamos ajeitar tudo.
Valéria mostrava com orgulho o seu escritório modesto, porém decorado com diversas plantas e com cheiro agradável de limpeza. Ela estava radiante por tê-lo junto a ela.
_ Está tudo ótimo, amiga.
Leandro a admirava com o olhar. Observava como Valéria era respeitada pelos funcionários sem precisar ser autoritária como Júlio era com os dele. Ela era admirada por todos, alegrava o ambiente com as suas palavras brincalhonas. Ele desejou ser como ela, quis saber como é ser respeitado e dono do próprio destino.
_ Que cara é essa, Leandro? Quem te aborreceu desta vez, o Júlio ou a Vanessa?
_ Ninguém me aborreceu.
_ Leandro, eu tenho 40 anos e não quarenta dias. Eu te conheço muito bem. Sei que está aborrecido.
_ É impressão sua, mulher! Agora, me explique como devo organizar a sua agenda. Não é porque sou seu amigo que vou fazer um trabalho meia boca. Quero mostrar competência._ Leandro disse sorrindo, para desviar o assunto e fugir dos interrogatorios da amiga.
_ Olha! Tô gostando de ver.
Leandro ainda estava triste pela briga que teve mais cedo com Vanessa, mas não quis transparecer para que isso não afetasse o seu trabalho.
A medida em que se envolvia com o trabalho e interagia com os colegas, a tristeza de Leandro ia se dissipando. O ambiente era muito descontraído, o que o fez perder um pouco da timidez.
Quase no fim do expediente, Leandro se sentia cansado, porém orgulhoso de si mesmo por estar sendo produtivo.
Sorria feliz consigo.
Valéria estava atendendo um casal de clientes que queria o serviço para o seu casamento. A mulher fazia inúmeras perguntas e o homem só concordava, apressado, olhando o relógio. Leandro estava ao lado da amiga/patroa anotando tudo que ela pedia e oferecendo com eficiência tudo o que era solicitado.
A conversa entre empresária e clientes foi interrompida por gritos femininos que ecoavam no corredor. A porta foi aberta com brutalidade, deixando todos surpreendidos.
_ Não encoste em mim, caralho!_ Vanessa gritava afastando uma funcionária, que tentava detê-la.
_ O que está acontecendo aqui?_ perguntou a cliente.
_ Eu se fosse você não entregaria a sua festa de casamento a essa piranha destruidora de lares.
Leandro arregalou os olhos envergonhado. De imediato, pegou a filha pela braço a arrastando para fora do escritório.
_ Me solta! Que eu vou falar umas poucas e boas para essa piranha!
_ Cala a boca, Vanessa!
Tomado por um ódio feroz, Valéria não deu importância aos clientes e foi atrás deles.
_ Você é muito petulante, pirralha abusada! Com que direito você vem ao meu trabalho me desacatar desse jeito?
_ Me desculpa, Valéria! Me desculpa mesmo!_ Leandro falava trêmulo de tanta vergonha que sentia.
Vanessa puxou o braço, conseguindo se libertar do pai. Olhou para Valéria com o nariz empinado e ar de arrogância.
_ Você é uma infeliz!
_ infeliz é você, garota.
_ Infeliz, despeitada e invejosa! Não foi capaz de segurar três casamentos e agora quer destruir o dos meus pais! Você não é capaz de segurar um homem e fica aí morrendo de inveja da felicidade dos meus pais.
_ Que felicidade, doida? Desde quando os seus pais são felizes?
_ Já chega, Vanessa! Vamos embora!
_ Ah, mas ela não vai embora agora não. Se você não botou essa pirralha no lugar dela, eu vou pôr. Escute aqui, fedelha dos infernos, o seu paizinho não é esse anjo todo que você pensa. Ele não passa de um adultério cretino que está traindo o Leandro e o fazendo infeliz. Não só ele, como você também com a sua petulância. Leandro não merece nem você e nem o seu paizinho filho da puta.
_ Vadia! Mentirosa! O meu pai é um homem de caráter. Ele jamais teria coragem de cometer uma canalhice dessas!
_ Você pensa que é esperta, mas não passa de uma otária! É uma marionete nas mãos daquele pilantra.
_ Não fale assim do meu pai, piranha imunda! Eu vou fazer você engolir cada mentira que está dizendo contra ele!
Vanessa avançou para cima de Valéria puxando os seus cabelos.
Valéria fez o mesmo. Ambas mulheres se estapeavam aos gritos e xingamentos.
Leandro puxou a filha pela cintura, erguendo-a, enquanto ela se debatia xingando Valéria.
Um dos funcionários fez o mesmo com a patroa.
Leandro sentia a face queimar de constrangimento. Conteve-se para não chorar. Arrastava a filha pelo braço até o carro. A pôs para dentro com violência e fechou a porta com força.
Entrou sério e sentou no banco do motorista. Dirigia trêmulo, tentando se conter para não desabar.
_ Você é muito cego! Essa mulher está acabando com a nossa família com as fofocas dela! Ela tá te pondo contra o meu pai.
_ Cale a boca, Vanessa!
Vanessa não obedeceu e esbravejavou até chegar em casa. Leandro estava vermelho e tenso contendo a raiva.
Ela entrou na sala da cobertura como um furacão. Estava descontrolada nos gritos.
_ Você é injusto! O meu pai se dedica a você e a nossa família! Mas você joga tudo fora por causa de uma puta mentirosa!
O ódio fervia em Leandro. Sentou no sofá, afundando a cabeça nas mãos.
_ Você deixou aquela mulher difamar o meu pai! Fez pior, você ficou do lado dela, ajudando a tripudiar o homem que te ama! O meu pai deveria processar aquela puta por calunia e difamação.
_ Vanessa, ou você cala a boca, ou eu não respondo por mim!
_ É fácil me mandar calar a boca, mas você não é homem defender o seu marido!_ a menina gritava vermelha, as lágrimas desciam com intensidade.
Leandro levantou num rompante e começou a gritar:
_ Eu já tô farto desse seu jeito arrogante e mimado de ser! Eu não sou um lixo como você me trata! Eu sou o seu pai e você me deve respeito! O que você fez foi um absurdo! Agiu como uma moleca largada na vida, como se não tivesse recebido nenhum tipo de educação!
'Meu Deus! Você não tinha o direito de invadir o trabalho da Valéria e a tratar daquele jeito! Nem a ela você está respeitando! A mulher que sempre te tratou com todo carinho! Você me mata de vergonha e decepção!'
_ Quem me mata de decepção é você! Você é cruel com o homem que te ama. Você pisa nos sentimentos dele como se fosse um dos seus carpetes!
_ Você não sabe o que tá dizendo. Júlio não é o santo que você imagina.
_ Eu não admito que nem você e nem ninguém fale dele! Já não cansa as suas falsas acusações de adultério?
_ Não são falsas! O seu pai está me traindo!_ Leandro gritou se arrependendo em seguida.
Vanessa o olhou com ódio, franzindo o cenho, com a cara amarrada.
_ O meu pai não é assim! Mas você tá merecendo levar um belo par de chifres para deixar de ser ingrato!
Tomado pela raiva com a ofensa, Leandro perdeu o controle de si e deu uma bofetada no rosto da filha. O impacto foi tão grande, que a menina caiu no chão.
Ver a filha caída no chão o olhando, em prantos, com a mão no rosto o fez sentir completamente arrependido. Desabou em lágrimas, sentindo-se a pior das criaturas.
_ Você me bateu! Você nunca me bateu! Agora fez isso por causa daquela sua amiga cobra! Eu te odeio! Eu te odeio! Eu quero que você morra!
_ Filha, Me desculpe eu...
Vanessa levantou e subiu as escadas correndo. Leandro foi atrás chamando por seu nome.
Ela trancou a porta do quarto, e se jogou na cama chorando.
Leandro se sentia sem chão. Nunca ecostara um dedo em ninguém, muito menos na sua menina.
Entrou no quarto aos prantos, deslizando as costas na parede, até sentar no chão. Soluçava de desespero. Não suportava mais todo aquele inferno que estava vivendo. O tapa que deu em Vanessa doía muito nele, como se fosse ele a ter a face machucada.
Sentia um misto de sentimentos tortuosos: remorso por bater na filha, vergonha de Valéria e humilhação pela traição do marido.
Envolveu os braços nos joelhos e pôs a cabeça entre eles chorando como uma criança desprotegida.
....
Júlio atendeu a ligação de Vanessa enquanto dirigia o carro a caminho de casa.
_ Fala, minha princesinha.
Vanessa narrou aos prantos como foi a agressão que sofrera de Leandro. A menina tinha a voz trêmula e rouca, deixando Júlio espantado. Em 17 anos de relacionamento (sete de namoro e 10 de casamento) nunca presenciou Leandro ser violento com alguém, muito menos com a filha que ele tanto ama.
A sua fúria se deu pelo marido ter machucado a pessoa que ele mais ama na vida. Vanessa é a sua joia preciosa, ele não admitia que ninguém a fizesse mal.
A sua ira foi invocada ao ouvir o choro da menina.
_ Pai, ele nunca fez isso comigo! _ chorava ainda mais. _ Meu pai me agrediu por causa daquela vadia da Valéria...Ele ama mais a ela do que a mim.
_ Calma, Vanessa. Tô chegando aí.
Júlio encontrou Leandro sentado no chão com a cabeça apoiada na cama. Tinha os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar.
Olhou para cima e viu Júlio numa expressão assustadoramente brava. Tinha o punho fechado.
Leandro estava com tanto remorso, que não reageria se fosse agredido, sentiu -se merecedor.
Júlio desejou retribuir na mesma moeda, mas, apesar de estar com raiva, não teve coragem de machucar o homem que ama.
Sentiu raiva de si mesmo por se acovardar diante da vulnerabilidade do marido. Para descarregar a raiva, atirou um dos abajur na parede. O barulho foi estrondoso e os cacos se espalharam pelo quarto. Leandro se encolheu tapando os ouvidos.
_ O que você tem na cabeça, Leandro?! Como teve coragem de levantar a mão para a minha filha?! Você é um homem e ela uma menina! Olha o tamanho da sua covardia. Porra! Que merda você tem na cabeça?
Leandro não conseguia responder, apenas chorava.
_ Me responda, porra!_ Júlio gritava o sacudindo pelo braço e o jogando na cama._ Você se deixar envenenar pela Valéria e me fazer acusações estapafúrdias, que tenho um amante é tolerável! Agora chegar ao ponto de agredir a nossa filha é o fim! Você foi longe demais!
_ Eu sei que errei! Mas você só me julga sem saber o que aconteceu! Vanessa foi até o escritório da Valéria, armou o maior barraco! Foi vergonhoso! Ela estava descontrolada e me agrediu verbalmente. Eu sei que eu deveria ter me controlado! Mas você não tem noção do quanto as atitudes dela me machucam.
_ Se a Vanessa é rebelde contigo, a culpa é inteiramente sua, que não soube educá-la, agora não use da sua incompetência para punir a menina de uma forma tão sórdida.
'Você foi longe demais!'
_ Eu sei disso._ Leandro concordou com a cabeça abaixada, chorando.
Júlio sentou na cama, apoiando os cotovelos no joelho. Respirava fundo, tentando se acalmar.
_ Leandro, o que está acontecendo com você? Você não nos ama mais?
_ Claro que amo! Amo muito vocês dois!
_ Você está mentindo!
_ Você não pode dizer isso, Júlio.
_ Leandro, você tem noção da gravidade do seu ato? Você agrediu uma mulher e isso é crime. A Vanessa está insegura ao seu lado. E como pai devo zelar pela segurança da minha filha. Eu vou te denunciar.
Júlio o olhou espantado, arregalando os olhos.
_Eu vou agora mesmo a uma delegacia da mulher e amanhã cedo vou pedir uma medida protetiva para a Vanessa. Você será impedido de chegar perto da minha filha! Nunca mais vai pôr os olhos nela. Eu vou mover céu e Terra para que isso aconteça.
Leandro se ajoelhou na cama, ao lado de Júlio .
_ Júlio, pelo amor de deus não faça isso comigo! Júlio, não me machuque desta forma, por favor!
_ Você procurou por isso. A Valéria vive te envenenando contra mim e agora te botou contra a nossa filha, te levando a agredi-la. Qual será o próximo passo? Matá-la?
_ Eu nunca faria isso, Júlio! Você sabe disso.
_ Não. Eu não sei. Eu olho para você não reconheço o homem doce e carinhoso que eu me casei, o amoroso pai da minha filha. O que vejo é um agressor de mulher. Eu não posso pôr a segurança da minha filha em risco.
_ Eu errei! Errei muito! Eu reconheço isso, mas não posso ficar sem a minha filha. Eu a amo muito. Não faça isso comigo, Júlio!
_ A escolha foi sua! Eu vou agora mesmo pegar a minha filha e ir a uma delegacia.
Júlio levantou e caminhou em direção à porta. Leandro se atirou no chão, ajoelhado, abraçando as suas pernas.
_ Júlio, pelo amor de deus! Não faça isso comigo! Por favor! Me puna do jeito que quiser, mas não me deixe sem a minha filha.
Júlio puxou a porta, abrindo-a.
Leandro soltou as pernas do marido e gritou:
_ Por que você me odeia tanto? O que foi que eu te fiz?
Júlio virou para ele, olhando-o. Fechou a porta e ofereceu a mão para que Leandro pudesse se levantar.
De pé, Leandro era olhado com espanto e um pouco de carinho.
_ Eu não te odeio! Eu te amo! Te amo muito, coração!_ Júlio secava as suas lágrimas e beijava o seu rosto._ Eu sei que você não é violento. Sei que é um dos seres humanos mais adoráveis que já conheci na vida. Mas está se deixando levar pela má influência da Valéria.
'Você acha que não me dói, quando o homem que amo e tanto me dedico para fazê-lo feliz me acusa injustamente de ter um amante? E esse mesmo homem chegou ao ponto de agredir a nossa adorada menina? Isso me dói a alma, coração. '
_ Não faça isso comigo, Júlio. Eu imploro!
_ Esta situação não pode mais continuar assim. Você acha que quero te denunciar? Te afastar da minha filha e de mim? Claro que não, coração! Você é a minha vida. Seria horrível viver sem você, meu amor! Mas eu não posso permitir que essa mulher te leve à loucura! Preciso proteger a nossa filha...mesmo que isso me doa.
_ Eu não vou mais fazer mais isso, Júlio! Eu prometo que vou me controlar.
_ Você promete, coração?_ Júlio perguntava de um jeito carinhoso, beijando a boca de Leandro.
_ Eu posso até esquecer esse horrível incidente! Amanhã posso conversar com a Vanessa. Mas, você terá que colaborar.
_ Eu faço tudo o que for preciso.
_ Então..._ Júlio acariciava o seu rosto._ Você terá que escolher entre a sua família, ou aquele mísero emprego e aquela mulherzinha. Ou a nossa família, ou a sua amiga.
Leandro o olhou decepcionado, com as lágrimas saindo dos olhos, percorrendo a face.
_ Estou esperando uma resposta, meu bem. Ou ela, ou nós?
Leandro abaixou a cabeça.
_ Vocês.
Júlio sorriu, tornando-o nos braços. Acomodou a cabeça de Leandro em seu colo, acariciando-a.
_ Bom garoto!_ disse Júlio, beijando -lhe a cabeça.