Do nada, me peguei pensando no Maurício.
Eu havia acabado de acordar e já fazia três semanas que ele tinha ido viajar.
Depois de sua última mensagem, respondi que desejava uma boa viagem e que seria impossível esquece-lo.
Depois desse dia, não nos falamos mais.
Será que ele estava com outra pessoa?
Eu estava sendo patético, pois mal éramos amigos e eu preocupado se ele estava tendo algum caso lá na Argentina.
"Cresça, Tavinho! Até parece que um homem maduro como ele iria se interessar por um moleque como você."
Eu estava sonhando alto demais!
Me levantei, tomei um banho e desci até a loja.
Meu tio já me esperava e jogou um monte de serviço no meu colo, naquele dia.
Passei toda manhã dando entrada na mercadoria e entrando em contato com fornecedores para o pedido de mais peças.
Pelo menos o tempo que eu estava trabalhando, não me fez pensar em ninguém. Me distraí com o trabalho e só fui almoçar porque meu tio entrou no escritório e praticamente me arrastou de lá.
Eu nem estava com tanta fome. Queria apenas que o tempo passasse logo.
Já estava quase na hora de encerrar o expediente e, assim que comecei a subir as escadas, meu celular vibrou no bolso da calça.
Era ele! Eu estava ansioso e curioso em saber o porquê dele não ter mais falado comigo, desde a última vez que lhe respondi.
Esperei as mensagens pararem de chegar e só então fui ler o quê ele tinha mandado.
Confesso que meu coração parecia sair pela boca e, quando li, fiquei extremamente feliz.
Primeiro ele me pediu desculpas por ter demorado a responder, mas não me disse o motivo.
Aí disse que estava em uma zona rural e que chegaria em Buenos Aires somente no dia seguinte.
E, por fim, a mensagem que fez meu coração ficar todo abobalhado:
ㅡ Ei, eu não me esqueci de você, e nem que te convidei pra jantar lá em casa. Espero não demorar tanto, quanto a última vez que estive aqui. Ah, você está muito bonito nessa foto de perfil, se me permite te elogiar, claro?! Sabe, eu estive pensando: estava falando sério quando convidou o Lucas e eu para acampar nas trilhas? Podemos planejar isso juntos quando eu voltar. Estou mesmo precisando de um fim de semana de folga na natureza. Minha última vez nem conta, pq meu carro enguiçou na volta e ficamos poucas horas por lá. Bom, pelo menos você nos salvou."
Minhas mãos suavam. Ele era um homem muito gentil. Me sentei na escada e respondi:
ㅡ Claro que eu estava falando sério sobre o acampamento. Jamais enganaria uma criança só para deixá-la feliz. Sei que ele vai amar. Ele adorou andar na Lata Velha e eu vou adorar mimar seu filho. Como ele está? Como você está?
Conversamos mais um pouco e ele me disse que o Lucas estava meio chateado na casa da avó, pois não tinha ninguém pra ele brincar.
Foi então que eu tive a brilhante ideia de perguntar se eu poderia levar o Lucas até a praia.
Ele disse que por ele não haveria problemas, contanto que não me incomodasse, pois o menino não tinha o hábito de sair com "estranhos".
ㅡ Vou falar com ele amanhã e perguntar se quer que você passe lá. Seria bom pra ele fazer outra coisa e sair da frente da TV. Nem sei como te agradecer, Tavinho.
ㅡ Me agradeça trazendo um bom vinho, já está ótimo. ㅡ Disse rindo.
ㅡ Hum, ideia maravilhosa! Jantar, um bom vinho e sua agradável companhia. Eu vou adorar e o Lucas também, claro!
ㅡ Poxa, conseguiu me deixar sem graça.
ㅡ Não fique! Agora preciso me organizar e jantar. Nos falamos?
ㅡ Claro! Fique a vontade pra quando quiser entrar em contato.
ㅡ Bom saber! Se cuida e boa noite.
Subi e fui tomar um banho. Me senti um garotinho, todo bobo.
Ousei pensar que estava rolando um clima entre nós.
Eu sabia que o Maurício era educado e extremamente simpático, mas eu também sentia que estávamos flertando, mesmo que de uma forma mais sutil.
Tomei um banho bem demorado, organizei algumas coisas em meu quarto e ouvi a porta da sala batendo.
Era meu tio e ele parecia muito nervoso.
Cheguei a pensar que eu tinha feito algo de errado, pois ouvi ele me chamando e seu tom de voz estava meio alterado.
Perguntei o quê ele queria e se eu tinha feito algo de errado com as contas, mas fui surpreendido com ele desabando em um choro pra lá de sofrível.
ㅡ Pelo amor de Deus, tio, o quê está acontecendo? ㅡ Ele literalmente desabou sobre o sofá.
ㅡ Fudeu! Agora já era!
Eu o abracei e ele se encolheu em meu colo.
De repente, ouço passos na escada e um estrondo na porta ecoou por toda a sala.
ㅡ Não abre, Tavinho! Não abre!
ㅡ Por Deus, o quê houve? Está me deixando preocupado. Quem está batendo?
ㅡ É o papai!
ㅡ Por que meu avô está batendo desse jeito?
ㅡ Está furioso comigo! Acabou de me flagar com o Lourenço.
ㅡ Puta que pariu! Onde? Vocês não tinham terminado?
ㅡ Sim, mas ele acabou voltando pra cidade e veio na loja me ver; chegou quando você subiu. Não tinha mais ninguém e estávamos nos beijando no meu escritório e seu avô chegou. Eu não tive reação. Lourenço só se desculpou e saiu correndo. Ele vai me matar.
ㅡ Caramba, tio! Fica aqui!
Pedi que ele fosse para o quarto e meu avô o chamava com uma fúria que jamais imaginei ser possível aquele tom de voz, vindo dele.
O pior disso tudo, era meu tio se escondendo dele como se fosse uma criança que tinha acabado de fazer alguma bagunça.
Me acalmei e fui até a porta. Girei a chave e, mesmo antes de eu abrir, meu avô empurrou com todas as forças me fazendo cair sobre o sofá
Fui até ele pedindo que se acalmasse, mas ele me segurou pelo braço quase me esmagando.
ㅡ Onde está aquele sem vergonha?
ㅡ Vô, fica calmo! Por favor!
ㅡ Não o defenda, Otávio! Porque no mínimo ele já deve ter contado o quê eu vi lá em baixo. Que decepção, que desgosto! O quê eu vou dizer pra sua vó? Como dizer que vi o filho dela se agarrando com outro homem?
Eu não sabia o quê fazer, nem o quê dizer.
Se ele se sentia daquele jeito com meu tio, imagina quando descobrisse que eu também era gay?
Minha única saída era não deixar ele colocar as mãos no meu tio e tentar amenizar toda aquela situação, mas meu avô estava em um estado de nervos tão grande, que se pegasse meu tio, o mataria.
Pedi que ele fosse embora e que conversassem outro dia, mas ele disse que se eu não saísse da frente, passaria por cima de mim.
Jamais vi meu avô daquele jeito. Não se parecia em nada com o homem que sempre me tratou com tanto carinho e que sempre dizia que meu tio era motivo de orgulho.
ㅡ Só acho que nada vai se resolver, se o senhor estiver alterado desse jeito. Vai pra casa, vô, amanhã vocês conversam.
ㅡ Não se meta que esse assunto não é contigo, Tavinho.
ㅡ Ele é meu tio e me criou, então, é meu assunto também.
ㅡ Eu vou acabar com o raça desse sem vergonha!
Não sei o quê deu em mim, mas por impulso, acabei falando mais do quê deveria.
ㅡ Se acabar com ele, vai ter que acabar comigo também. Sou igual a ele, igual! ㅡ Disse e meu tio abriu a porta.
Meu avô se calou. Meu tio me abraçou e pediu que eu ficasse calado, mas continuei...
ㅡ Chega de mentiras! Está mais que hora deles saberem. Eu não tenho vergonha de ser quem sou, muito pelo contrário. E você tio, é a pessoa mais maravilhosa que existe. Chega de ficar se escondendo.
Vi a mão de meu avô se levantando em câmera lenta e antes que eu fechasse meus olhos, meu tio me empurrou e, ficando na minha frente, segurou meu avô, que ficou mais furioso ainda.
ㅡ Nele o senhor não encosta a mão! Quer descarregar sua raiva, descarregue em mim, mas no Tavinho, não! Melhor o senhor se acalmar ou essa discussão não vai terminar de maneira amigável.
Não sei o quê houve, mas meu avô apenas nos encarava com raiva e saiu derrubando tudo que estava sobre o aparador perto da porta.
Respirei aliviado quando tive a certeza que ele não mais voltaria e corri trancar a porta.
A sala estava um caos. Meu tio parecia estar em estado de choque e o ajudei a se sentar.
ㅡ O quê deu na sua cabeça, seu maluco? Agora ele vai ficar com raiva de nós dois.
ㅡ Fiz o quê achei certo! Ele já sabia sobre você, mesmo. Agora está feito e ele já sabe sobre mim também. Não precisamos mais nos esconder de ninguém. Agora é só esperar a poeira baixar.
ㅡ Como consegue ficar tão calmo?
ㅡ Eu respeito muito meu avô e o amo, mas você é como se fosse meu pai. Não gosto que ninguém fale de você. Além do mais, ninguém aqui é mais criança, tio, pelo amor de Deus.
ㅡ Estou me sentindo um idiota, mas discutir com ele seria bem pior. Nossa, você é mais corajoso do quê eu.
ㅡ Bobagem! Se não fosse por você, ele teria me batido.
ㅡ Eu jamais deixaria ele encostar em você! Pode ter certeza disso!
Ele me abraçou e ficamos um bom tempo olhando pro nada e remoendo tudo o quê acabara de acontecer.
Me levantei e sequei minhas lágrimas e meu tio as dele.
Decidimos limpar toda àquela bagunça e, antes de levarmos o saco de lixo pra fora, o interfone tocou.
Atendi e era minha vó. Pediu que eu abrisse o portão e a deixasse subir.
Olhei em direção ao meu tio e ele disse que era melhor encarar os dois no mesmo dia, afinal, o mais poderia dar errado?
Destravei o portão e, quando abri a porta, ela olhou o resto da bagunça que ainda tinha e suspirou profundamente.
ㅡ Ele está bem irritado e me ameaçou colocar pra fora de casa se eu defendesse vocês dois. Então, se não for muito incômodo, vou ficar um tempo com vocês. Tudo bem?
Ela estava tão calma, que meu tio e eu não entendemos nada.
ㅡ Mãe, eu...
ㅡ Me poupe de suas explicações, Leandro. Eu sei o quê você é, bem antes de você mesmo. Meu erro foi nunca te fazer saber que eu não me importo, porque nunca soube chegar em você e conversar. Me desculpe por isso?! Agora, sobre o Otávio, nunca desconfiei. E também não me importo, mas seu pai está furioso e se eu fosse vocês, não falaria com ele por um bom tempo.
Meu tio a abraçou e eu jamais imaginei que minha vó ficaria tal tranquila diante tudo aquilo.
De certa forma, me senti aliviado e meu tio também, pois ele sempre se manteve no armário com medo de minha vó não o apoiar.
Foi um final de dia bem intenso.
No dia seguinte a toda àquela tragédia grega, desci para trabalhar e deixei meu tio em casa descansando. Ele precisava.
Meu avô não estava brincando quando disse que não queria minha vó nos defendendo.
Eu estava limpando o balcão da loja, quando vi minha vó chegando, com uma mala de mão.
ㅡ O vô não pode fazer isso com a senhora!
ㅡ Deixa ele lá, quieto e sozinho. Vai ser melhor pra todo mundo. Eu que não vou ficar lá olhando pra àquela cara feia dele.
ㅡ A senhora não existe, sabia?
ㅡ Faço o quê acho certo e, além do mais, vocês andam se alimentando muito mal. Vou aproveitar esse tempo aqui pra alimentar vocês direito. E vamos mudar de assunto? Porque ficar lembrando, não vai resolver nada. Nada melhor que o tempo pra acalmar os ânimos. Vida que segue.
ㅡ Eu fico muito feliz que pelo menos a senhora não esteja surtando. Meu tio chegou branco aqui em casa, ontem, parecia um fantasma.
ㅡ Seu avô disse que viu ele beijando um rapaz aqui na loja. Ele é o bonito, pelo menos?
ㅡ Hahaha! Sim, vó! Lourenço é muito bonito.
ㅡ E você? Não namora com ninguém? ㅡ Fiquei meio sem graça, quando ela perguntou, mas me senti seguro e acolhido e acabei respondendo.
ㅡ Não, eu não namoro ninguém. Tem um cara aí que...sei la, eu nem sei direito o quê eu sinto. Ele é viúvo, tem um filho de quatro anos e... ㅡ Ela me interrompeu.
ㅡ Se ele tem um filho, só te digo uma coisa: antes de você começar a gostar do pai, primeiro você precisa gostar do filho. Entendeu?
ㅡ Sim, senhora! Entendi perfeitamente. Obrigado pelo conselho.
ㅡ Não por isso! Bom, eu vou fazer o almoço. Se precisar conversar, eu estou aqui. Vou ver se seu tio precisa de alguma coisa.
Ela me deu um beijo e subiu pra ver como meu tio estava e fiquei emocionado por ela ser tão compreensiva.
Imprimi alguns relatórios para mandar pra contabilidade e ouvi meu celular tocando. Era o Maurício em uma chamada de vídeo.
Disfarcei minha alegria e atendi tentando ser o mais natural possível.
ㅡ Que surpresa boa! ㅡ Disse e ele deu aquele sorriso perfeito.
ㅡ Estou atrapalhando? Posso ligar depois, se preferir.
ㅡ Não está! Acabei de terminar uns relatórios e estou livre. Como estão as coisas por aí?
ㅡ Está tudo bem. Acho que consigo voltar pra casa no fim de semana, se tudo der certo. Ah, falei com meu filho e ele está doido pra te ver. Tem certeza que quer passar o dia com ele?
ㅡ Tenho, sim! Quero ser seu amigo e passar um tempo com ele vai ser bom. Além do mais, ele deve estar super entediado. A menos que não confie em mim e vou entender. Sei que mal nos conhecemos e...
ㅡ Ei?! Eu confio você! Não sei por quê, mas eu confio. E obrigado por se oferecer a ficar um pouco com o Lucas, de verdade!
ㅡ Imagina, não precisa me agradecer por deixar seu filho um pouco mais feliz. Ele é um menino bom e se ele fizer alguma birra, dou meu jeito.
ㅡ Eu sei que sim! Caramba, não vejo a hora de voltar pra casa...
ㅡ Está com saudades dele, não é mesmo? Eu também ficaria, se ficasse longe do meu filho.
ㅡ Sim, dele também!
Apenas nos encaramos por alguns segundos e, eu ali, tentando não sentir muita coisa em relação àquele homem, mas eu já estava transbordando.
Meus sentimentos por ele parecia querer sair pela minha boca.
Bastaram apenas dois dias pra que eu me apaixonasse por ele e foi tão fácil.
Pedi que me passasse o endereço de onde o Lucas estava,para que eu pudesse buscá-lo no dia seguinte.
Eu queria mesmo, com toda a certeza, conhecer melhor aquele garoto. Era algo que lá no fundo, eu precisava fazer.
No dia seguinte, logo de manhã, avisei meu tio que levaria o Lucas a praia.
Desci até a loja, organizei uma papelada e, com a Lata Velha, fui até a casa da avó do Lucas.
Assim que cheguei, fui recebido com o mais belo dos sorrisos. Fiquei extasiado.
Ele veio correndo de encontro a mim e pulou em meu colo. Me abraçou, disse que queria andar no meu carro-casa e depois tomar sorvete.
Disse a ele que faríamos tudo isso, se ele se comportasse direitinho e cruzando seu dedo mindinho com o meu, prometeu me obedecer.
Cumprimentei, a avó do Lucas, que veio trazendo consigo, uma mochila com coisas do menino.
ㅡ Maurício me ligou dizendo que você pegaria o Lucas, acho que vai ser bom pra ele. Aqui não tem criança e meu marido está meio doente, então, não posso sair de perto dele. Obrigada!
ㅡ Imagina, não precisa agradecer. Eu vou levar ele a praia, depois vamos tomar um sorvete e dar uma volta por aí. A senhora pode me ligar se quiser. Se importa se eu levá-lo pra almoçar?
ㅡ Se ele quiser ir, por mim tudo bem. Não tem problema.
Lucas se despediu da avó, subiu na Lata Velha e o ajudei a colocar o cinto de segurança.
Fomos a praia. Perguntei se ele sabia nadar, mas disse que não. Então, não quis arriscar e fomos comprar um colete salva vidas em uma loja que ficava no outro lado da rua.
Voltamos pra areia, vesti o colete nele e ensinei como ele deveria ficar sobre a prancha.
Era fofo vê-lo me imitando e dizendo que não era para eu o soltar, pois tinha medo de ficar sozinho.
O mar estava calmo e o dia maravilhoso.
Não tinha onda no mar, mas tinha o Lucas e sua alegria por conseguir parar em pé sobre a prancha.
Ensinei ele a segurar a respiração e se acalmar, caso caísse na água.
Mantive minha atenção exclusivamente nele, para que nada de ruim acontecesse.
ㅡ Eu tenho medo de me afogar. ㅡ Ele disse enquanto estava deitado sobre a prancha.
ㅡ Pode ser que caia, ou não, mas precisa confiar em mim. Eu estou aqui, vou te segurar, fique tranquilo.
ㅡ Tá bom! Tavinho, você tem filho?
ㅡ Não! Nunca pensei sobre isso...
ㅡ Às vezes meu pai fala que ter filho cansa. Queria que ele não se cansasse comigo, como faço? ㅡ Eu não sabia o quê dizer, mas tentei explicar da melhor maneira possível, pois ele parecia estar chateado.
ㅡ Bom, filho cansa, mas ele não falou isso por mal. Cuidar de uma criança é uma tarefa muito importante, na verdade, mas não quer dizer que ele não te ama ou não queira mais ser seu pai e cuidar de você. Entendeu?
ㅡ Entendi. É igual a Luna, minha gata, ela faz muita sujeira na caixa de areia, mas eu gosto dela do mesmo jeito.
ㅡ Isso mesmo! Sabe, minha mãe morreu quando eu tinha 10 anos. Meu tio cuidou de mim e mesmo eu, às vezes, fazendo muita bagunça e o deixando cansado, ele sempre esteve comigo. Então, fique tranquilo! Garanto que você é a pessoa mais importante na vida do seu pai.
ㅡ Tá bom! Sabia que a minha mãe também morreu?
ㅡ Sabia, sim!
ㅡ Meu pai sempre fala que ela me amava muito e que eu não preciso ficar triste, porque ela tá sempre comigo.
ㅡ Olha, eu acredito no seu pai! Posso te contar um segredo?
ㅡ Pode! Prometo não contar pra ninguém.
ㅡ Às vezes, quando eu estou sozinho e pensando na minha vida. Eu sinto meu país comigo. Eu também perdi meu papai e quando eu quero conversar com os dois, eu venho aqui, na praia, e fico olhando o sol se pôr.
ㅡ Que legal! Será que eu consigo conversar com a minha mãe, agora?
ㅡ Consegue, sim, quer tentar?
Pedi a ele que se sentasse, cruzasse as pernas e que fechasse os olhos.
Ajudei o Lucas a controlar sua respiração e que imaginasse sua mãe em um lugar bonito e ele parecia muito concentrado no quê estava fazendo.
Devagarinho, fui levando o garoto até a areia novamente e vi o Lucas respirando profundamente. Ele abriu os olhos e, me olhando, disse:
ㅡ Um dia, se meu pai deixar, pode me trazer aqui de novo? Eu gostei de conversar com a minha mãe...
ㅡ Prometo que trago! ㅡ Lhe dei um abraço apertado e, mais que rapidamente, ele tirou o colete e perguntou se poderíamos comer alguma coisa.
Fomos até um restaurante que ficava bem perto de onde estávamos e o levei para almoçar.
Conversamos, comemos e rimos muito quando ele tomou o suco e ele se engasgou, espirrando suco em mim.
Ele estava tão feliz!
Depois do almoço, demos uma volta pela cidade com a Lata Velha e o levei novamente pra casa de sua vó.
Ele estava tão cansado que dormiu durante todo o caminho.
Tirei o Lucas do carro, ele ainda dormia e sua vó pediu que eu o colocasse na cama.
O acomodei, deixando ele o mais confortável possível e, antes de eu sair, Dona Luzia me ofereceu um café que prontamente aceitei.
Estávamos na cozinha e conversávamos sobre o passeio que o Lucas e eu fizemos, quando ela disse:
ㅡ Quando minha filha morreu, achei que o Maurício fosse morrer junto com ela.
Os dois sempre foram muito amigos, desde pequenos. Ele ficou muito abalado com a morte da Andressa. Fiquei com medo dele não dar conta de cuidar o menino sozinho, mas olha ele aí, forte, inteligente e feliz. Só acho que está na hora dele seguir em frente. Eu e meu velho não vamos viver pra sempre. Queria muito que ele conhecesse alguém.
ㅡ Um dia ele vai encontrar...
ㅡ Deus te ouça! Obrigada, mais uma vez, por ter levado o Lucas pra sair. Ele cansou tanto que voltou dormindo.
ㅡ Foi um prazer! Ele adora meu carro e estamos combinando de irmos acampar, quando o Maurício voltar.
ㅡ Que bom! Vai fazer bem pra àqueles dois, ficarem um pouco na natureza...
Antes de eu ir embora, Dona Luiza me agradeceu mais uma vez e, no caminho, decidi caminhar um pouco pela orla.
Meus olhos estavam fechados, quando senti meu celular vibrando.
Era o Maurício!
Uma lufada de ar fresco acertou meu rosto e bagunçou meu cabelo, me fazendo jogar minha franja pro lado e foi nesse momento que li a mensagem que fez meu coração saltar de alegria.
" Estou voltando amanhã bem cedo. Chego a tarde. O jantar será servido às 20hrs, do mesmo dia. Te espero em casa. Você já conhece o caminho! Ah, estou levando o vinho que me pediu, você vai adorar! Até amanhã e boa noite."
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Continua...
Espero que estejam gostando! Como vcs estão? Muito obrigado por não me abandonarem 😆, agradeço a consideração!
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