Capítulo 3
Sopa de feijão branco remete a infância para Abner. Sentia o coração aquecido ao se lembrar da panela fumegante, borbulhando no caldo espesso. O aroma perfumava o ar e abria o seu apetite.
Na primeira colherada sentia o aconchego e o afeto maternal que Lurdes depositava ao cortar os legumes, selecionar os melhores grãos, pensando em oferecer o melhor à família, alimenta-los não só de comida, mas também de amor.
A paixão de Abner pela gastronomia era muito maior do que uma satisfação profissional. Para ele, o ato de cozinhar era fazer poesia para ser degustada.
Desde criança, a cozinha era o seu cômodo favorito da casa. Era um cômodo grande, com armários e mesa rústica, um fogão de seis bocas, um freezer e refrigerador que seus pais ganharam de presente de casamento, a qualidade dos eletrodomésticos era tão boa, que eles nunca precisaram substituir por novas.
Ainda menino, Abner refletia sobre o prazer que uma boa comida causa nas pessoas que ama e quis dominar a arte da culinária para agradar a todos. Contudo, sempre ouvia de Lurdes que cozinha não era lugar para homens, e era proibido de circular por ela enquanto o fogão estivesse ativo.
Ousado, Abner nunca aceitou um não com facilidade. Escondia-se debaixo da mesa para observar como a mãe preparava os alimentos. As escondidas e autodidata, Abner aprendeu muito sobre o preparo de uma comida caseira: sabia qual era a quantidade de água e tempero de cada alimento, o tempo de cozimento e o ponto certo de tudo.
Quando o seu pai não teve forças para vencer a luta contra um câncer de estômago, Abner viu a sua mãe se entregar ao desespero, passando dias trancada no quarto chorando pela eterna ausência do homem que amava. Ele ficou aos cuidados de uma tia, que se hospedara em sua humilde casa, na periferia do Rio de Janeiro.
Lurdes mirava o pôr do sol pela janela do seu quarto. Estava sentada na beira da cama, com as mãos sobre ela. A tristeza castigava o seu coração e saudade se concretizou em forma de lágrimas, que faziam os seus olhos arderem e o seu peito dolorido.
Ouviu a porta de madeira se abrir rangindo. Observou com o coração apertado o seu lindo menino de pele morena e lindos cabelos lisos e negros entrar no quarto segurando um prato de porcelana azul, era o favorito de seu pai.
Ele a olhava de um jeito tão meigo, que ela se sentiu abraçada pela doçura daquele olhar amoroso. Ofereceu a ela as chipas, que estavam no prato.
Lurdes não conseguiu se controlar e desabou no choro novamente. O biscoito de polvilho e queijo era o preferido do seu marido. No primeiro encontro, quando o casal foi ao um circo ele a deu um dos biscoitos preparados pela sua mãe antes de beijá-la. Chipa era a receita que ela sempre fazia quando queria dizer a ele que o amava sem fazer das palavras.
O filho a olhava em silêncio de um jeito angelical, e Lurdes pode ver naquele rostinho traços da herança genética do grande amor da sua vida.
Provou o biscoito. Fechou os olhos, gemendo degustando o prazer daquele sabor especial. Sentia naqueles simples biscoitos o zelo, afeto e o amor que Abner colocou em cada detalhe no processo de preparo.
Lurdes sorriu sentindo-se acolhida. Ver aquele sorriso iluminar o rosto de sua mãe e saber que ele foi o causador fez Abner ter certeza que nasceu para cozinhar.
Dois anos depois de superar a dor da perda do marido, Lurdes abriu as portas do seu coração para a chegada de um novo amor. Conheceu Martins numa tarde chuvosa, enquanto voltava de ônibus para a casa depois de um dia exaustivo de trabalho num restaurante italiano.
Também viúvo, Martins se deixou render pela paixão e um ano depois do primeiro encontro, trocou alianças com ela numa pequena capela. Levando a sua única filha Lorena para viver junto com eles.
De imediato, os dois adolescentes se deram muito bem, criando profundo laços afetivos. Laços esses que abordarei com detalhes mais adiante.
Abner recebeu o apoio da família para realizar o seu sonho, estudar gastronomia.
Trabalhava duro como cozinheiro de um restaurante para pagar uma parte da mensalidade da faculdade, a outra era paga com a ajuda da sua família.
Era dedicado e focado na realização do seu sonho em ter o seu próprio restaurante com um cardápio exclusivo, criado por ele.
Cada prato criado, Abner anotava no seu caderno de receita e nomeava-o com os nomes do seus entes queridos.
_ Huuum! Que cheiro bom!_ Lorena exclamou fechando os olhos e aspirando ainda mais para desfrutar daquele cheiro maravilhoso.
_ Chegou na hora certa, Lo. Preciso de uma cobaia.
_ Obaaa!_ a jovem branca de cabelo longo, castanho claro e cacheados, dizia empolgada ,dando pulinhos e batendo palmas. Abner achava fofo como as sardinhas dela se contraíram quando estava animada e o seu narizinho arrebitado erguia.
Lorena abriu os belos lábios carnudos pintados de vermelho para provar o docinho redondo que Abner colocava em sua boca.
_ Huuuum! Que delícia! É suave e levemente picante...huuum! Gostinho de quero mais!_ ela dizia enquanto mastigava e os seus belos olhos de esmeraldas brilhavam.
_ Modéstia parte, o saber deste doce é incrível mesmo. Finalmente, cheguei na minha obra prima.
_ Vai entrar para o seu menu?_ Lorena disse a última palavra imitando um sotaque francês.
_ Com toda certeza. Mas, a parte ruim é que ele ainda não tem nome.
_ Põe o meu.
_ Você sabe que já há uma receita com o seu nome.
_ Sim, sei, que é muito boa por sinal.
Abner segurava o doce branco entre os dedos, fitava-o apaixonado e orgulhoso pela sua obra.
_ Esse doce é muito especial e terá o nome de alguém tão especial quanto...mas, que ainda não sei quem é.
_ Bota Júlio._ Lorena sugeriu debochando e lambendo os dedos para aproveitar os resíduos do doce.
_ Nem pensar! Eu já tô de saco cheio daquele mentiroso. Eu já dei o ultimato, mas pelo visto ele preferiu o veado vagabundo do marido.
_ O que te dá certeza disso, Abner?
_ Ele não me procurou.
_ O que você queria? Ligou para a casa dele! Leandro estava lá no dia. Foi a maior saia justa. Eu fiquei muito mal com o Júlio. Você faz as suas loucuras, mas eu é que boto a minha cabeça na guilhotina. Júlio é meu patrão. Foi muito difícil conseguir aquele emprego de secretária.
_ Você disse a ele que roubei o seu telefone e peguei o número na sua agenda?
_ Disse, mas mesmo assim ele me deu um puta esporro. Quase perco o meu emprego. O pior mesmo será você enfrentar a ira do papai e da Lurdes. Eles estão putassos contigo.
_ Eu não ligo. A vida é minha e não devo satisfações a ninguém.
_ Você acha mesmo que o Júlio vai largar o marido para ficar contigo?
_ Eu não sei. Mas a minha palavra é uma só: ou o corno ridículo ou eu. Amo o Júlio demais para dividi-lo.
_ Olha! Você está mesmo decido! Ah, já tenho uma ideia de nome para o seu doce. Que tal Le-an-dro?_ Lorena provocou esticando a mão para pronunciar silabicamente o nome do rival de Abner.
Ele a olhou furioso, batendo nela com a ponta do pano de prato que estava em seu ombro. Ela gargalhava, repetindo o nome de Leandro a medida que apanhava.
...
A chuva batia no telhado causando um barulho aconchegante, além de aliviar o calor escaldante do Rio de janeiro.
O microondas apitava anunciando que a pipoca estava pronta. Era noite de quarta-feira, dia destinado ao cinema em casa. Era o dia de Lorena escolher o filme da vez.
_ Nada de carnificinas! Esses filmes são horríveis. Só cenas nojentas de corpos desmembrados e o mesmo clichê de sempre: um grupo de adolescentes idiotas sendo assassinados por louco mascarado. Tenho muita preguiça desse tipo de filme._ Abner advertia, sentando ao lado dela, envolvendo os seus braços nos ombros da mulher.
_ Como você é chato, heim meu velhinho reclamão._ Lorena disse sorrindo tocando na ponta do nariz dele. Ela amava os momentos em que estavam a sós. Como trabalhavam como empregados e caseiros do sítio, raramente Lurdes e Martins estavam em casa, o que deixava o ambiente livre para Lorena e Abner.
O toque do celular interrompeu a discussão fútil dos dois. Abner olhou para a tela com a cara amarrada, desligando o aparelho.
_ Júlio não vai desistir de falar com você.
_ Problema dele. Vai perder tempo.
Lorena ouviu essa resposta sorrindo.
_ Vamos de La casa de papel?_ Abner pediu com carinha fofa, inclinando a cabeça para o lado, juntando as mãos suplicando.
_ Ah, nem pensar, série modinha. Quando todo mundo começa a falar de uma série, eu perco logo a vontade de ver.
_ Por favor! Por favor!
Abner pedia fazendo cócegas em Lorena. Perdendo as forças de tanto rir, ela deitava no sofá. Por cima dela, Abner investia muito mais nas cócegas só para ver aquele belo sorriso.
Seus olhos se encontram, fixando-se em ternura. Lorena mordeu os lábios.
Abner gemeu sentindo as mãos macias da mulher sobre o seu pênis. Ela penetrava pelo short, deixando-o ereto.
Gemeu sussurrando quando sentiu os seios serem tocados por ele.
_ Aaaaah! Eu te amo, Abner._ Ao terminar de expressar os sentimentos em palavras, Lorena se atirou, indo de encontro a sua boca, num beijo quente , molhado em volúpia.
Lorena sentiu uma vibração gostosa entre as pernas. Abner desceu a mão e deslizando sobre a calcinha, sentindo a sua umidade. A mulher sugava a sua boca, querendo aproveitar o máximo dela.
_ Abneeerr! Abneer!
As mãos dele deslizavam pelas suas coxas, levantando o vestido, retornando-o.
Foi dominado pelo tesão ao ver aquelas belos seios carnudos de mamilos rosados. Beijo-os e chupou, provocando uma sensação estranhamente gostosa a dominasse.
Desceu a boca até sua vagina, retirando a calcinha com os dentes.
_ Que bocetinha gostosa! Toda molhadinha pra mim.
O sorriso cafajeste deixava Lorena ainda mais úmida. A língua dele explorava o seu clitóris, fazendo sentir borboletas no estômago.
As suas unhas arranhavam a pele dele por baixo da blusa branca de algodão.
Abner retirou o short e a cueca ao mesmo tempo. Encaixou as pernas dela sobre os seus quadris. Segurava-a pela cintura enquanto metia. Ela o queria mais dentro dela, envolveu as suas pernas na cintura dele para que não escapasse.
_ Mete em mim, Abner! Mete gostoso...Hum! Que delícia! _ Lorena dizia entre gemidos altos não se importando em ser ouvida pelos vizinhos.
_ Bocetinha maravilhosa! Perfeita pra foder!
Abner a virou de quatro, dando um tapa no seu bumbum, antes de beijá-lo. Encaixou de uma vez, fazendo Lorena aumentar o som dos gemidos.
Seus corpos se chocavam, ela rebolava empinando o bumbum, enquanto ele estavam com força.
Lorena sabia que estava viva, mas ao mesmo tempo se sentia no paraíso.
_Isso! Eu amo receber esse melzinho!_ Abner disse sussurrando, sentindo o orgasmo dela molhar o seu pênis. Puxou os cachos dela com carinho, beijando o seu rosto, metendo até gozar.
Os gritos de Júlio vindos do portão interrompeu a luxúria do casal, deixando Lorena furiosa.
Abner levantou-se de imediato, vestindo-se, indo até a janela. Sorriu ao vê-lo sob a chuva forte.
_ Vai abrir pra mim, ou eu vou ter que acordar a vizinhança inteira?
Abner tentou se controlar para não se derreter diante daquele sorriso ousado que tanto amava. Júlio vestia o terno preto de advogado, o preferido de Abner, deixando-o completamente atraído.
Correu para fora de casa ao encontro do amante, que o recebeu com os braços abertos.
Era a primeira vez que Júlio o visitava aquela hora da noite, levando Abner a pensar que, finalmente, havia se separado do marido.
Beijou-o segurando a face com as duas mãos, não se importando em se molhar com a chuva.
Lorena observava através da janela, tinha o olhar turbulento numa cólera voraz, consumida pelo ciúme.
_ Venha comigo, meu amor?
_Pra aonde?
Júlio retirou um chaveiro do bolso e balançou as chaves no ar, sorrindo.
_ Para o nosso apartamento.
Abner sentiu uma felicidade tão intensa,que as emoções afloraram. O seu sorriso era diferente do que costumava a dar, esse era irradiante.
_ Ah, eu te amo tanto, Júlio!_ Abner disse antes de beija-lo.
....
O apartamento ficava localizado num condomínio discreto e familiar, com porteiros discretos, lugar perfeito para que os seus encontros extra-conjugais. A rua era arborizada com pequenos arbustos podados para fins decorativos. O condomínio oferecia serviços de lazer como duas piscinas (uma para adultos e outra infantil), área gourmet, academia, e sala de jogos.
O apartamento não era tão luxuoso quanto a cobertura que Júlio vivia com a sua família. Mas, não era nenhum moquifo. Era pequeno, bem iluminado com grandes janelas, uma porta de vidro na sala que dava acesso a sacada da varanda. Um balcão feito com tijolos de vidro e um granito vermelho brilhante dividia a sala da pequena cozinha com mobília semelhante a um apartamento estadunidense, com os móveis devidamente planejados, entrado em sintonia com o ambiente.
O apartamento estava todo mobiliado para o conforto do casal, um sofá muito aconchegante em frente a um painel onde ficava TV de setenta polegadas, que emita um som e imagem semelhantes aos de um cinema.
O quarto era aconchegante e convidativo ao descanso e ao prazer.
Abner sorria deslumbrado não só pelo apartamento, que para um pobre cozinheiro era como se fosse uma mansão. O seu deslumbre se dava pelo fato de acreditar que, finalmente, poderia viver uma vida a dois com o homem pelo qual estava completamente apaixonado. A pedra no sapato nomeado como Leandro fazia parte do passado. A vida agora seria feliz. Ele e Júlio poderiam se amar de cabeça erguida, sem esconder nada de ninguém.
Júlio o olhou com o seu sorriso mais safado, o sorriso que deixava Abner completamente arrebatado, sentindo como se uma corrente elétrica percorresse pelo seu corpo.
Foi puxado pela cintura, indo de encontro ao peito de Júlio. Suas bocas se deleitavam num beijo molhado. Abner sentiu o seu membro pulsar dentro do short. Percorria as mãos pelas costas do amante, sem interromper o beijo, descendo até chegar a bunda de Júlio, o lugar tão desejado.
Teve as mãos retiradas e desviadas para o pênis do advogado, que estava tão duro quanto o seu.
_ Deixa eu te comer hoje? _ Júlio sentiu o hálito quente de Abner pedindo, surrando ao pé do seu ouvido.
Júlio o virou com brutalidade, encostando os seus braços na parede.
_ Nós já conversamos sobre isso, querido._ Júlio respondeu enquanto devorava o seu pescoço com beijos e mordidas, e esfregava o membro nas nádegas do amante.
_ Você nunca libera pra mim. Só eu que dou. Eu também gosto de ser ativo, cara. Sinto falta.
Júlio ignorou os apelos de Abner e o jogou na cama, subindo sobre ele. Enquanto a sua boca percorria pelo corpo, do amante, provando gemidos, desnudava-o.
Abner virou o jogo, empurrando Júlio para a cama, sentando num sobre ele. Puxava-o pela gravata, dando uma bofetada no seu rosto.
Júlio sorria sentindo o pau latejar e a face arder de prazer.
_ Quer me comer, filho da puta?_ Abner perguntava roçando a bunda na virilha de Júlio.
_ Sim! Quero muito!
_ Então, peça!
_ Dar esse cuzinho gostosinho pra mim?
Outra bofetada sonora foi despejada.
_ Peça com as palavras mágicas?
_ Por favor!
Júlio o puxou pela nuca e o beijou, com a outra mão apalpava a sua bunda, em busca do ânus. Ao emcontrá-lo penetrou o dedo.
Abner retirou a gravata de Júlio.
_ O que você está fazendo?
_ Cala a boca, putão.
Abner amarrou as mãos de Júlio na cabeceira da cama. Com brutalidade abriu a sua camisa e paletó. Beijava e mordia o seu peito, deslizava a língua pelos mamilos e um umbigo.
_ Aaaaah, caralho! Puta que pariu! Você é muito gostoso!_ Júlio dizia com a voz rouca.
Abner abriu a sua calça, a retirava enquanto beijava o seu pau e coxas peludas.
Provocava beijando o membro e punhetando. Levava a boca, sorria malicioso para Júlio e retirava em seguida.
_ Pare de me castigar desse jeito, safada!
_ Não me chame do feminino! Eu não gosto! Não sou a bichinha poc poc que você foi casado.
_ É sério que você vai falar em Leandro a uma hora dessas? Puta que pariu, Abner!
Abner sorriu, deslizando a boca até a de Júlio e o beijou.
_ Claro que não! Eu não vou deixar que aquilo estrague o nosso momento. A songa monga é passado.
Abner retornou ao pênis, sugando-o com a boca, deixando Júlio de pernas bambas.
Depois de perguntar pelo lubrificante, Abner o pegou e se lambuzou. Posicionou- se em cima de Júlio com as pernas abertas, encaixando.
Mesmo não gostando muito de ser passivo, Abner sentava com maestria. Subia e descia numa velocidade frenética, deixando em transe. Normalmente, em suas relações sexuais, ele era o ativo, gostava de estar dentro tanto de homens quanto de mulheres. Contudo, nunca teve o coração arrebatado por alguém como teve por Júlio. Estava tão apaixonado que fazia o que fosse possível para agradá-lo.
Cobiçava a bunda de Júlio, sonhava em um dia entrar nela e gozar muito. No entanto, Júlio era irreversível em sempre ser o ativo da relação.
Além disso, havia a sombra irritante de Leandro entre eles, deixando Abner louco de ódio. Queria ser melhor que o marido em todos os aspectos, por isso, procurava dominar a arte do sexo anal.
Júlio era bem dotado, e sabia manejar o dote, atingindo a sua próstata e o deixando louco de tesão. Apesar de não ser completamente satisfatório, o sexo era muito prazeroso.
Enquanto rebolava, tocava-se. Gozaram juntos.
Atirou o corpo sobre o peito de Júlio. Ambos estavam satisfeitos e suados. Beijaram-se desejosos, antes de Júlio se liberto das tiras da gravata.
Abner o envolveu em seus braços, sentindo o seu corpo nu e quente. Afagava-lhe os cabelos, enquanto o olhava com doçura.
_ Como a sua filha reagiu a separação?
Júlio o olhou de um jeito triste.
_ Então, é sobre isso que preciso conversar contigo.
Abner sentiu que não ia gostar nada do que Júlio o diria a seguir. Afastou-se, olhando-o com raiva.
_ Júlio, não vai me dizer que você não se livrou da songa monga?
_ Abner, as coisas estão complicadas lá em casa!
_ E você acha que sou algum idiota? Porra! Tu espera acabar de me comer para me dizer que ainda tá casado?! Esse apartamento aqui é cenário do seu teatro, caralho?
_ Claro que não! Eu o comprei para você.
Nu, Júlio levantou e foi até a gaveta do criado mudo, retirou um documento e entregou a Abner.
_ Aí está a escritura. O apartamento é todo seu.
Abner jogou a escritura de lado.
_ Você acha que isso é o suficiente? Eu não tô atrás do seu dinheiro. Apartamento eu poderei comprar daqui a alguns anos, quando eu conseguir realizar o meu sonho. Eu batalho muito pra isso. Não sou um encostado vagabundo, como o seu maridinho.
'Eu quero você! Eu te amo, porra!'
_ Eu também te amo, meu amor._ Júlio tentou acariciar o seu rosto, mas recebeu um tapa na mão.
_ Ama porra nenhuma! Se amasse largaria aquele veado preguiçoso e ficaria comigo. Seria homem para me assumir.
Júlio sentou na cama. Olhou para Abner com os olhos molhados.
_ Eu não posso.
_ Ah, Júlio! Conta outra! Poder você pode, não separa porque não quer.
Júlio deixou as lágrimas cairem. Atirou-se nos braços de Abner, soluçando.
_ Você não sabe o inferno que passo naquela casa! Eu não aguento mais! Leandro bota a nossa filha contra mim. Ela está me odiando e me trata com rebeldia. Quando eu disse, que não o queria mais, Leandro disse a nossa filha que iria se matar caso eu fosse embora. Ela ficou desesperada coitada. Me implorou para que eu não deixasse que ele cometesse essa loucura.
_ Que sujeito sórdido! Fazer tortura psicológica na própria filha! Agora mesmo que você deve dá um pé na bunda desse cara e afastar a Vanessa da presença tóxica dele.
_ Eu queria muito fazer isso. Mas, Vanessa é muito ligada a ele. Ela o ama mais que a mim. Não aceitaria vir morar comigo.
_ Vanessa é menor de idade. Ela não tem querer! Você é um advogado e pode muito bem provocar os desequilíbrios mentais do Leandro e consegui a guarda dela.
_ Eu sei. Vou fazer isso com calma. Mas antes, eu preciso esperar que Leandro se estabeleça. Ele nunca quis trabalhar nem estudar. Não posso deixa-lo a míngua. Vanessa me odiaria ainda mais.
_ Como você pode se preocupar com um cara tão tóxico?! Leandro é um abusador. Ele não vai se matar porra nenhuma! Ele só disse isso para te torturar e a filha também. Ele é um preguiçoso, quer viver pra sempre as suas custas. E sem contar, que vive pondo a sua filha contra você. Será que não percebe que esse cara está te fazendo mal?
_ Eu sei, meu amor. E no meio de todo esse caos, você é um alívio tão gostoso._ Júlio disse sussurrando perto da boca do amante, molhando-a com as suas lágrimas._ Eu prometo que vou resolver essa situação. Só me dê um pouco de tempo...por favor, minha vida? Este apartamento foi comprado com a intenção de ser a nossa casa._Júlio segurou em seu queixo e o beijou.
_ Eu te amo, Júlio. Te amo demais para te dividir com outro. Só de pensar que você toca nele...eu fico louco.
_ Você sabe que só tenho pau pra você. Eu e Leandro dormimos em quartos separados. Há anos não temos relações sexuais.
_ Ele é bonito?
Júlio sorriu, olhando a raiva estampada no rosto de Abner.
_ Não.
_ Você tá mentindo! A minha mãe e Lorena dizem que ele é muito bonito.
_ Leandro já foi mais bonito. Hoje perdeu a graça._ Júlio mentiu descaradamente, pois apesar dos anos de convivência, nunca deixou de admirar e se orgulhar da beleza do marido.
_ Mentiroso.
_ Nem Leandro e nem ninguém tem uma beleza como a sua._Julio o beijou, mentindo outra vez. Era certo que ele achava Abner bonito e sexy, mas para ele, Leandro era ainda mais belo.
...
_ Bom dia, meus amados! Bom dia!_ Júlio distribuia gentileza naquela manhã de quinta-feira.
Os funcionários agradeciam pelo bom humor do patrão, que costumava ser exigente e rígido. Ele sorria e tinha os olhos brilhantes. Lorena sabia o motivo. Tentava ocultar a sua raiva, retribuindo a gentileza do patrão.
Peculiar, Rubens entrou no escritório do chefe vestindo um terno amarelo vivo, com uma blusa social preto por baixo do paletó. Era o único advogado que Júlio conhecia que se vestia fora do padrão. A princípio, os clientes estranhavam o advogado negro alto e magro, vestido de um jeito único, com trejeitos delicados. Contudo, devido a super eficiência do seu trabalho, era um dos mais requisitados do escritório Vanessa Medeiros.
A simpatia e competência de Rubens não só conquistou os clientes, como também o patrão e sua família. Era sempre o convidado ilustre da família nas festas e reuniões. Era estimado por todos da família Medeiros.
A sua descrição e seu hábito de não fazer julgamentos fizeram com que conquistasse a total confiança de Júlio.
_ Pela carinha de felicidade, com certeza, passou a noite trepando. Agora só não sei dizer se foi com o digníssimo esposo ou com o Outro._ Rubens disse sorrindo, sentando numa cadeira em frente a mesa de Júlio. Tendo como vista, além do patrão, o mar azul do Rio de Janeiro, através das paredes de vidro do prédio.
_ Com os dois. Depois de me encontrar com o Abner, comi o Leandro quando cheguei em casa._ Júlio sorria como um cafajeste.
_ Nossa! Você tem uma piroca entre as pernas ou uma pistola carregada?
Ambos riram.
_ Só toma cuidado quando for comer o Outro. Da última vez, você deu mole de ir parar no mesmo motel que a Valéria. A mulher reconheceu o seu carro e bateu para o Leandro. Eu tive que fazer a ignorante lá no sítio, quando ela me disse que você tinha um amante.
_ Valéria sempre sendo uma pedra no meu sapato. Mas, eu já resolvi isso. A puta nunca mais vai pôr os pés na minha casa e muito menos os olhos no meu marido.
_ Tem certeza disso, veado? Val me disse que ia levar o Leandro para trabalhar com ela.
_ Ela tentou, mas já tá resolvido. Leandro não vai trabalhar em lugar algum. Vai ficar dentro de casa, que é o lugar dele.
_ Júlio, você é o veado mais hétero top que conheço. Parece aqueles maridos das antigas, que queriam manter as esposas dentro de casa, sobre o domínio deles.
_ Leandro deveria dar graças a deus que tem tudo o que quer sem precisar correr atrás. E sobre o motel, isso também já foi resolvido.
Rubens arregalou os olhos, apoiando a mão no peito.
_ Biiicha! Você comprou mesmo o apartamento para o seu amante?
_ Claro que não! Comprei para a minha filha! Tudo o que compro é pensando no futuro dela.
_ Uh, é! Eu não entendi.
_ Eu comprei um apartamento sim. Num condomínio onde a desgraçada da Valéria nunca terá dinheiro para morar. Lá terei meus encontros com o Abner, mas o apartamento foi comprado no nome da minha filha.
_ Mas você me disse que iria mostrar uma escritura para o Abner, para que assim ele achasse que vocês iam se casar um dia.
_ E apresentei. Apresentei uma escritura tão falsa quanto a sua menstruação.
_ Olha só que maligno!_ Rubens disse gargalhando._ Você é terrível, Júlio. Não é atoa, que sou seu fã. É muito esperto.
_ Claro que sou. Bicha burra nasce e morre pobre. Se eu não fosse esperto não chegaria aonde cheguei. Apresentei uma escritura falsa para Abner...olha esse falsificador é tá de parabéns. O documento parece muito com o real. Ficou perfeito.
_ Mas por que você se deu a esse trabalho?
_ Porque eu não sou imbecil de gastar o meu dinheiro com um gostosinho qualquer. Abner vive enchendo o meu saco para que me separe de Leandro. Espero que ele sossegue com esse apartamento.
_ Você não vai mesmo se divorciar?
_ Nunca! Só a morte me separa de Leandro. Ele é o homem da minha vida. É o meu marido e sempre será. Eu batalhei muito para ficar com aquele homem. Você acha que vou trocá-lo por um qualquer? Abner é muito bonito e gostosinho, mas é só um passa tempo.
_ Ok. Mas quando vocês terminarem, você e o Abner, o que vai ser do apê?
_ Vou pegar as chaves de volta.
_ Júlio, homem do céu! Como você consegue ser mais dissimulado que os olhos de Capitu?
....
Os dias se passaram até chegarmos a noite da véspera de natal.
Os empregados se dividiam entre preparo da ceia, que seria servida numa mesa quilométrica em frente a piscina, e na ornamentação da decoração natalina, retocando a árvore de natal de dois metros, a cortina de luzes na parede e etc.
Vanessa estava em seu quarto numa vídeo chamada como uma amiga. Mostrava a ela as suas duas opções de vestidos para usar na noite natalina. Um era vermelho de renda no colo, com o decote cigano, e a saia rodada de cetim, batendo até o meio das coxas grossas. O outro de mesmo cumprimento, revestido em renda de rosa bebê, com decote high neck e um cinto fino da cintura.
_ O rosa é muito meigo não combina nada com você.
_ Que absurdo, amiga! Eu sou uma flor de delicadeza!
_ An ham... Sei!
Ambas gargalharam alto.
_ Usa o vermelho. Faz o tipo mulher fatal. É a sua cara.
_ É... é... Concordo._ Vanessa disse sorrindo, pisando o olho para a amiga.
No quarto do casal, a cama tremia.
Leandro gemia com as pernas abertas, sobre os ombros de Júlio. Esse distribuia beijos pelo seu rosto e pescoço, metendo sedento.
_ Você é maravilhoso, coração! Puta que pariu! A cada dia você tá mais gostoso.
Júlio foi puxado pela nuca e beijado com desejo. As suas línguas se entrelaçam, se exploram, se deliciaram.
Júlio atingiu ao orgasmo, sem deixar de beijá-lo, sentindo o seu pau apertado naquele buraco que se contraia.
_ Puta que pariu! Você tem um demônio no corpo, que mata de prazer, coração.
Júlio caiu para o lado com os braços abertos. Leandro aproveitou para descansar as pernas, deitando-as na cama. Olhava para o teto respirando ofegante.
Júlio o puxou para os seus braços, beijando a sua cabeça.
_ Eu te amo muito, Leandro. Nunca duvide disso.
_ Eu também te amo.
Leandro se sentia feliz em ouvir aquela declaração sobre o olhar carinhoso do marido. Ele gostava de se sentir amado e isso raramente acontecia.
_ Agora temos que tomar um banho e nos arrumarmos. Quero que você use a roupa que te dei. Quero exibir pra todo mundo que tenho o marido mais lindo da festa.
_ Eu não acho uma boa ideia dar uma festa este ano. As coisas estão péssimas aqui em casa. A Vanessa nem olha na minha cara. Eu me sinto muito mal por sorrir para um bando de gente, sendo que na verdade estou triste.
_ Ninguém precisa saber dos nossos problemas, coração.
_ Pra você é fácil viver de aparência. Parece que isso não te afeta. Todo ano enchemos a casa de gente, muitas bebidas, muita música, sorrisos, fartura de comida ... Mas é tudo tão vazio. Nenhuma daquelas pessoas são os nossos amigos de verdade. Garanto se tivermos uma crise, nenhum deles irão nos ajudar. Eu só queria estar bem com a minha filha, ficar quietinho numa ceia modesta com vocês dois.
_ Para que vou fazer uma ceia modesta, se posso dar um banquete? Leandro, ao contrário de você, eu nasci numa família muito pobre. Houveram natais que não tínhamos nem o que comer. Cresci morrendo de inveja de quem tinha uma mesa farta e hoje eu posso ter isso. Prometi para mim mesmo que todo natal será uma festa e vou cumprir essa promessa até morrer.
Leandro manteve os olhos direcionados ao teto. Amargurava a saudade que tinha de Valéria. Queria que a amiga estivesse presente na ceia, fazia dias em que não falava com ela.
Júlio sentou na beira da cama com o pau mole entre as pernas abertas. Acendeu um cigarro.
_ Ah, Júlio, antes que eu esqueça, a minha mãe nos convidou para o aniversário de casamento dela. Ela quer fazer um churrasco no nosso sítio. Será domingo.
_ Engraçado, os seus pais viviam dizendo que iam acabar nos sustentando e que viveríamos de favor na casa deles. E hoje, são eles que querem a nossa casa para exibir para os amigos.
_ Você não vai deixar que eles comemorarem lá?
_ Claro que vou! Você acha que vou perder essa chance de jogar na cara deles depois?
_ Deixe de ser mesquinha, Júlio!
Júlio sorriu.
_ Só não contem comigo. Eu vou viajar.
_ Como assim viajar?_ Leandro ergueu a cabeça, olhando estupefato._ Júlio, as coisas estão desmoronando, o clima nesta casa está muito pesado e você quer viajar?! E sem contar na festa de casamento que você fez tanta questão de dar na noite de réveillon. Vai cancelar agora?
_ Claro que não! A nossa festa será o evento do ano! Disso eu não abro mão. Eu vou viajar por uns dias, a trabalho, mas volto antes do dia 30.
_ A trabalho em pleno fim de ano? Sei!
_ A trabalho sim. Vou visitar um cliente, em São Paulo, que tem uma empresa no ramo da moda. Ele quer contratar a minha equipe jurídica para prestar serviços para a empresa dele. Como o cliente é importante, eu vou fechar negócio pessoalmente. E nem adianta fazer essa carinha brava, coração. Você será o maior beneficiado de tudo isso. Vou te dar o novo modelo da BMW.
_ Eu não quero um carro novo. O meu está ótimo.
_ Então, te dou uma iate, coração._ Júlio falou, segurando em seu queixo e o beijando. _ Eu vou tomar um banho, venha comigo?
_ Nem pensar. Eu sei muito bem como você fica tarado debaixo d'água. Se depender de você, não saímos daquela banheira tão cedo. E daqui a pouco, os convidados já estarão lá em baixo.
_ Ah, só um pouquinho. Adoro comer o seu cuzinho na banheira._ Júlio pedia, beijando o pescoço do marido, deixando-o arrepiado.
_ Não, amor!_ Leandro negava sorrindo, tapando o pescoço com a mão._ Você toma banho primeiro, depois eu vou.
_ Menino mau!
Leandro gargalhou ao ver Júlio com a cabeça inclinada para o lado, fazendo beicinho.
Júlio ainda tentou investir com beijos e carícias, mas Leandro se manteve firme.
_ Tudo bem! Tudo bem! Você venceu. Mas já sabe que quando todo mundo for embora eu vou te foder até a minha porra secar.
_ Palhaço.
Leandro sorriu, olhando o marido ir em direção ao banheiro. Estava feliz pelo pouco de carinho que recebera no sexo.
O celular tocou no criado mudo de Júlio. Virou para o lado para pegá-lo.
O coração bateu em disparado quando viu o nome de Abner na tela. Sentiu uma raiva tão grande, que o peito doía. Atendeu com fúria:
_ Seu verme nojento! Como se atreve a ligar para o meu marido, seu desgraçado?!