Capítulo 11 revisado
Capítulo 11
Quando Júlio chegou na varanda, Leandro estava sentado na espreguiçadeira, em frente á piscina.
Usava uma blusa social branca com a metade do peito desabotoada e uma bermuda caqui que ajudavam a revelar as pernas, como estavam sobre a espreguiçadeira, as coxas peludas ficavam visíveis. Júlio desejava tocá-las, durante dias se sentia mal com as rejeições do marido.
Imaginou beijando-as, deslizando as mãos sobre elas, sentindo a maciez e o calor da sua pele.
Leandro não percebeu que estava sendo observado. Mirava para o azul das águas da piscina com um olhar apático e a tristeza estampada na bela face.
O que Júlio mais desejava era penetrar na sua mente e voltar a ser o dono do seu coração, que estava trancado para ele. Leandro se mostrava frio. Evitava ao máximo ficar próximo do marido. Sempre que Júlio chegava num cômodo, ele se retirava. Já não fazia mais as refeições na sala de jantar, optava pela cozinha ou no quarto de hóspedes que dormia ultimamente, quarto esse que teve que arrumar só.
No dia seguinte que Vanessa retornara do hospital, pediu a Patrícia para prepará-lo para ele. Júlio passou pelo corredor no momento e não gostou nada da mudança de quarto de Leandro.
_ Você não vai dormir em lugar nenhum que não seja no nosso quarto.
Leandro o ignorou.
_ Patrícia, me faça um favor de trocar as roupas de cama e levar as minhas coisas?
Patrícia pegou os travesseiros de Leandro para atender ao pedido do patrão.
_ Deixa essas merdas aí!_ Júlio gritou a assustando._ Quem paga o seu salário sou eu! Então, quem manda nesta porra desta casa sou eu!
_ Sim, senhor._ Patrícia pôs os travesseiros de volta na cama de cabeça baixa. Ela se sentia angustiada por ver Leandro naquela situação, mas precisava manter o seu emprego.
Leandro se esforçou para manter a calma. A cada dia que passava sob o mesmo teto que Júlio, Leandro se via mergulhado num mar de tristeza, com os pés atados, lutando para chegar á superfície.
_ Pode deixar, Patrícia. Eu mesmo levo. Você pode cuidar do almoço. Daqui a pouco, a Vanessa vai chegar do colégio.
_ Tudo bem.
Patrícia engolia o choro. Temia sofrer algum tipo de represália de Júlio.
Leandro pegou os travesseiros, mas levou um susto com Júlio os retirou dos seus braços e jogou na cama.
_ O seu lugar é aqui comigo. Nós somos casados.
Para não iniciar uma discussão, Leandro saiu do quarto, indo se trancar na biblioteca ficando lá até que Júlio saísse de casa.
O advogado fazia o que podia para tentar se reconciliar com o marido. Trocou os gestos grosseiros e impaciente por gentilezas.
Entrou no quarto de hóspedes e acordou Leandro com um beijo no rosto e entregou uma bandeja de café da manhã.
_ Meu amor, eu tô sentindo tanto a sua falta. Eu te amo demais. É doloroso demais te ver e não poder te tocar. Me perdoe por tudo que eu te fiz? Prometo fazer de tudo para melhorar a nossa situação.
Leandro o olhava inexpressivo. Nada dizia e só o observava.
_ Amor, vamos aproveitar que o carnaval está chegando e vamos viajar? Ter um momento só nosso. Podemos ir para aonde você quiser, dentro ou fora do Brasil, você escolhe, meu amor. Eu te amo demais!
Leandro levantou sem dizer nada e foi para o quarto de Vanessa voltar a dormir, ignorando o marido.
_ Até quando você continuar com essa frieza?
Leandro desviou o olhar da piscina e para a espreguiçadeira que estava ao lado da sua. Júlio estava sentado ao seu lado.
_ Nós vamos para Angra no carnaval, como você ainda não se decidiu e faltam poucos dias, acho melhor irmos para a nossa casa mesmo.
_ Vanessa vai viajar para Salvador com os amigos._ Leandro sério disse sem olhar para Júlio.
_ Tudo bem. Viajamos só nós dois.
_ Eu não vou.
_ Leandro, não precisa ser tão radical. Vai ser bom para nós dois darmos uma espairecida.
_ Leve o Abner. Ele vai te ajudar a relaxar.
_ Lá vem você de novo com essa história de Abner! Eu não já te disse que...
_ Júlio, eu não quero ouvir as suas desculpas. Só quero ficar quieto no meu canto. Pode ser?
Vanessa se aproximou sorrindo saltitante. Vê-la fez Leandro se sentir aliviado, já que assim não precisaria ouvir mais Júlio.
_ Meus amores da minha vida!_ Vanessa ficou entre os dois, os abraçando._ A Lorena me convidou para sair com ela na sexta-feira á noite. Eu posso ir? Por favorzinho?
_ Te convidou para ir aonde?_ Leandro perguntou.
_ Para um bloquinho pré-carnaval lá do bairro onde ela mora.
_ Não sei não. Esses bloquinhos de rua costumam ser uma zorra._ Júlio respondeu, demonstrando que não aprovaria, o que deixou Vanessa preocupada. Uma desaprovação de Leandro podia ser facilmente contestada se Júlio quisesse, mas a dele era irrevogável.
_ Paizinho, a Lorena me garantiu que é seguro. Só vai ter pessoas do bairro mesmo. A casa dela fica próximo da concentração. Depois da folia, vamos dormir na casa dela. Por favor? Eu quero tanto ir.
_ Não acho uma boa ideia.
_ Por que não?
_ Porque não gosto que você ande pelas ruas sozinha. Está cidade é muito perigosa.
_ Mas, pai...
Leandro interveio.
_ Filha, peça para a Lorena falar conosco. Vamos conversar com ela e te damos uma resposta.
_ Posso ter um fio de esperança?
Leandro confirmou com um sorriso.
Vanessa o abraçou.
_ Obrigada! Pensem com carinho tá bom?
Para fugir de Júlio, Leandro teve uma ideia repentina:
_ Vamos aproveitar a tarde para pegar um cineminha, meu amor? Faz tanto tempo que não saímos juntos.
_Fechou. Vamos nós três?
Antes que Júlio respondesse, Leandro disse:
_ Infelizmente, o Júlio vai ter que ir para o escritório. Ele tem um compromisso e não vamos atrapalhar o trabalho do seu pai. Mas na próxima vez, vamos os três.
_ Já é, então.
Júlio o olhava insatisfeito. Sabia que Leandro usou a saída com a filha para fugir da sua presença.
....
O celular vibrou anunciando uma notificação de mensagem. Júlio estava atendendo uma cliente, quando o retirou do bolso para verificar qual era o conteúdo da mensagem. Sentiu o membro pulsar vendo a foto do nudes traseiro que Abner o enviou.
Devido ao gelo de Leandro, há dias não fazia sexo. Seu corpo vibrou de desejo com as nádegas macias e arredondadas do amante. Na foto, Abner estava completamente nu diante de um espelho de frente para o outro. Tinha em mãos um celular para se auto fotografar.
Desconcertado, Júlio tentava mandar a atenção na cliente. Olhava-a fingindo interesse no que dizia, mas em pensamento, desejava ver Abner.
"Quero te ver agora. Estou em frente ao prédio do seu escritório." Essa foi a segunda mensagem que Júlio recebeu. Não respondeu até que a cliente foi embora.
Júlio priorizava o profissionalismo. O seu ambiente de trabalho era, para ele sagrado. Contudo, o desejo pulsava em seu corpo. Ficou excitado com a possibilidade de comer Abner numa tarde útil, naquele ambiente inadequado.
Autorizou a entrada do amante. Trancando a porta, quando esse entrou.
_ Caralho! Que escritório foda! Parece até de novela!_ Abner dizia olhando em volta.
Levou um leve susto quando foi agarrado por Júlio, que o beijou, prendendo o seu corpo para si.
_ Calma, bebê! Que fogo é esse?
Júlio o jogou entre a parede de vidro, se esfregando por trás e devorando o seu pescoço. Abner conseguia ver toda a cidade, com a cabeça colada no vidro.
_ Eu te quero agora!
_ É mesmo?_ Abner perguntou sorrindo.
Júlio tentava abrir o zíper da calça jeans do amante, sem deixar de beijar o pescoço. No entanto, Abner retirou a sua mão e virou para frente o beijando.
Empurrou-o para o sofá branco, fazendo com que Júlio caísse sentado.
Foi até ele e o beijou a boca e em seguida o pescoço, enquanto desatava o nó da gravata e retirava o paletó. Desceu esfregando as mãos em suas pernas. Ajoelhou-se abrindo a fivela do cinto do advogado e o zíper em seguida.
O membro duro saltou para fora. Júlio erguia a cabeça gemendo, sentindo a boca de Abner o chupar. Puxava-a, fazendo um movimento de vem e vai.
_ Que boquinha deliciosa! Que saudade que eu estava disso.
Abner retirou a boca e lambeu todo o pau, como se tivesse chupando um picolé, em seguida sugava a cabeça do pau, voltando a chupar.
Júlio sentia as pernas tremerem. Mordia os lábios para não gritar, sentindo que ia gozar.
_ Vai, puta! Mama logo esse caralho!
Abner parou e olhou para o relógio.
_ Desculpa, tenho que ir._ Levantou limpando a boca.
_ Como assim tem que ir?!
_ Tenho hora marcada com um cliente. Sinto muito. São ossos do ofício._ Abner respondeu dando um selinho em Júlio e foi caminhando até a porta.
Júlio levantou as pressas, sem ao menos se recompor, deixando as calças caírem. Puxou o amante pelo braço com brutalidade.
_ Você tá maluco?! Não pode me deixar neste estado._ Júlio soava muito, ofegava de excitação.
_ Uh, é, bebê! Quem mandou demorar para gozar? Não posso deixar o cliente esperando.
_ Para de palhaçada, Abner!
_ Eu sou profissional!
_ Abner, volte aqui! Me faça gozar pelo menos.
_ Não posso. Tô atrasado.
_ Eu cubro a merda do seu cliente.
_ Não dá. Ele já depositou o dinheiro na minha conta.
Abner saiu correndo para que Júlio não o alcançasse.
_ Puta que pariu! Filho da puta!_ O advogado fechou a porta com brutalidade. Foi até o banheiro e se aliviou com uma masturbação sentindo ódio.
_ Esses dois estão me enlouquecendo, Rubens. Eu vou surtar!
_ Calma, chefinho!
_ Não tem como ter calma!
Rubens entregou um copo de whisky e gelo para Júlio. Sentou em frente a ele com o seu copo na mão.
_ A sua situação é um pouco complicada mesmo. Logo você que é ninfomaníaco. Marido e amante negando fogo deve estar sendo torturante. Eu já sabia que Abner era ousado, mas vir aqui, no seu escritório, te provocar e negar fogo foi o auge._ Rubens gargalhou.
_ Vai rindo! Vai rindo, Rubens! Pimenta no cu alheio é refresco.
_Arrume outro boy, use o Grinder ou contrata um garoto de programa, você sempre faz isso.
_ Eu não quero outros. Quero os meus homens! É torturante ter o Leandro todo lindo e sexy e não poder tocá-lo, nem um beijo ele me dar. E o Abner? Ele me leva á loucura! É tão gostoso, aquela boca deliciosa...aquele cuzinho quente! Puta que pariu! Eu devo ter jogado pedra na cruz para merecer tanto castigo.
_ Eu aposto que Abner está fazendo esse joguinho só para te convencer a largar o Leandro e o assumir como marido.
_ Se for isso, ele vai morrer querendo. Não me separo o Leandro por nada.
_ Afinal, qual dos dois você gosta?
_ Dos dois. Mas gosto de cada um de um jeito diferente. O Abner é fogo, desejo, paixão. Quero-o só para mim, me satisfazendo a hora que me der vontade. Já o Leandro, é algo mais intenso. É amor. Ele é o homem da minha vida. Ele me satisfaz de todas as formas: na cama dar(dá)um show e fora dela também.
_ Um só não te satisfaz?
_ Eu sou insaciável._ Júlio respondeu bebendo um gole.
_ Uma coisa que está me deixando intrigado, Júlio. Leandro sempre comeu na sua mão. Mesmo você vacilando, dois dias depois a bicha estava nos seus pés. Agora te pergunto, você não acha estranho Leandro te ignorar deste jeito por tanto tempo?
_ Estranho por quê? O que você quer dizer com isso?
_ Eu se fosse você, Júlio, abria o olho. Leandro é jovem e bonito, e negando fogo. Eu se fosse você ficaria de olho para ver se não há outro visitando a sua cama.
_ Eu não tô gostando nada nada desta conversa._ Júlio o olhava furioso.
_ Não precisa ficar bravo. Só quero te ajudar a não ser feito de bobo.
_ Eu conheço o Leandro como a palma da minha mão. Sei muito bem que ele nunca me trairia. Nesse requisito, eu confio no meu marido de olhos fechados.
_ Se você confia, não está mais aqui quem falou.
***
Passava das vinte e duas horas quando Júlio invadiu o apartamento de Abner, gritando pelo seu nome. O moreno levantou sonolento, vestindo um short xadrez em diferentes tons de azul e uma blusa branca de algodão.
Abner sentou na beira da cama, tentando despertar. Júlio acendeu a luz, fazendo os seus olhos doerem. Para aliviar o incômodo, tapou os olhos com as mãos.
_ Ooooh, pra que essa violência toda?
_ Você não pode mais me tratar como me tratou hoje. Eu exijo respeito. Quem você pensa que é para me provocar e me deixar chupando o dedo?
_ Ei, para de show Lady Gaga. Desce do palco. Eu sou o seu caso e não o seu marido. Você não pode me cobrar nada. Se quiser uma horinha comigo, tem que agendar.
_ Deixa de ser ridículo!
Júlio sentou ao lado de Abner. Beijava o seu pescoço, alisando o seu peito por baixo da blusa.
_ Eu tô sacando qual é a sua, minha delícia! Tá querendo me enlouquecer._ deslizava a boca pela nunca de Abner, dava chupões._ Você conseguiu. Olha como me deixou maluquinho por você.
Abner teve a mão levada até o pau de Júlio, que mesmo por cima da calça social dava para perceber que estava duro.
Abner se afastou e deitou de bruços na cama, abraçando o travesseiro. A bunda empinada excitava Júlio ainda mais. Deitou sobre ela a beijando e mordendo.
Abner puxou o lençol para cobrir o seu corpo.
_ Não vai rolar. Estou morrendo de sono.
_ Pode continuar dormindo. É só ficar peladinho e quietinho. Deixa o resto comigo._ por cima de Abner, Júlio o beijava nos ombros e alisando os braços.
_ Não vai rolar! Estou cansado. Dei pra caralho hoje! Meu cu tá em brasa.
Júlio parou e o olhou sério.
_ Eu não quero que faça mais programa.
Abner o ignorou, fechando os olhos.
_ Você me ouviu, Abner? Eu te proibo de fazer programa.
_ Haaaaa.... tô com sono. Amanhã a gente conversa.
Júlio deitou ao seu lado, com a barriga para cima.
_ Eu não tenho um minuto de sossêgo. Vou ficar louco sem sexo.
Abner abriu os olhos.
_ Uh, é! O seu maridinho não está dando no couro?
_ Tivemos uma briga e Leandro está frio comigo há dias.
Abner sorriu. Adorou saber que Júlio não estava tocando em Leandro.
_ Que mole em Júlio! Você com aquele espetáculo de marido em casa, tá na seca.
_ Espetáculo! Fique você casado há dez anos com ele para ver como é aturar aquela geladeira.
_ Ah, deixe de drama. Você nem deveria estar reclamando. Muito pelo contrário, deveria está dando graças a deus por ter um homem como o Leandro. Deveria se atirar aos pés dele. E se eu fosse o marido dele, eu já tinha derretido aquele gelo há muito tempo. Ele ia gozar tanto que ia venerar o meu pau.
_ Você não acha que tá muito abusado não? Como é que é? Tá com tesão no meu marido?
Abner sorriu, mordendo os lábios.
_ Vai dizer que você não queria uma brincadeirinha a três, hein?_ Abner sussurrou no ouvido de Júlio, o deixando arrepiado._ Imagina, hein! Você metendo esse pauzão em nós dois ao mesmo tempo.
Júlio sorriu, excitado e o beijou, pondo, em cheio a mão em sua bunda.
_ É sério. Não vai rolar. Tô com sono e amanhã tenho que acordar cedo. Vou levar a minha mãe ao médico.
_ Vai ficar me rejeitando pro resto da vida?
Abner apertou o seu queixo e lhe deu um selinho.
_ Claro que não, amorzinho. Tava pensando em passar o fim de semana contigo. Só nós dois num lugarzinho gostoso._ Abner o beijava no pescoço._ Que tal um chalé em Petrópolis? Igual aquele que você me levou da outra vez, que tinha lareira. Hã? Na sexta-feira á noite._ um beijo na boca. Um vinhozinho._ outro beijo._ Nós dois pelados, fazendo loucuras.
_ Huuuum, que ideia tentadora. Gostei.
_ Gostou, amor? Então, na sexta, eu te encontro lá. Estarei te esperando peladinho no quarto.
_ Que delícia! Vamos brincar um pouquinho hoje? Só um pouquinho?_ Júlio pedia fazendo beicinho.
_ Só um pouquinho?
_ Sim.
_ Não, não. Espere para sexta-feira. Falta só dois dias.
Abner virou para o lado e fechou os olhos, fingindo adormecer.
_ Abner! Abner! Dormiu o filho da puta.
....
Júlio olhou impaciente para a cadeira vazia que Leandro costumava sentar. Estava revoltado com o distanciamento do marido. Vanessa chegou o beijando no rosto e sentando ao seu lado.
_ Tô morrendo de sono! Ainda bem que o carnaval está chegando. Eu acho uma palhaçada as aulas não retornarem só depois do carnaval. Será que esse povo não entende que o ano só começa depois do carnaval?_ ela dizia passando geleia na torrada. Mordeu em seguida._ Ah, paizinho, vai me deixar ir na casa da Lorena hoje?
_ Filha, na previsão do tempo apontou chuva para hoje.
_ Ah, pai, a chuva durar a noite inteira. Me deixe ir, por favor? Prometo me comportar.
_ Eu já tô de saco cheio desse joguinho do Leandro. Agora está com essa palhaçada de não sentar á mesa conosco.
_ Ele só senta quando você não estar. Nós sempre almoçamos juntos.
_ Leandro tem que entender que as refeições em família devem ser respeitadas. Vá lá e chame para tomar café da manhã aqui.
_ Mas, ele não quer, pai.
_ Você quer ir á casa da Lorena?
_ Lógico.
_ Então, o convença a tomar o café da manhã conosco.
_ Ok.
Vanessa levantou apressada. Correu para o quarto de Leandro. Implorou para que descesse, disse que sua alegria dependia disso.
Mesmo contrariado, Leandro desceu, em silêncio, e se sentou á mesa. Contudo, não sentou no mesmo lugar de sempre e sim afastado de Júlio.
_ Hoje a noite, eu tenho um compromisso. Vou ter que pegar um avião para São Paulo. Surgiu um compromisso inesperado. O Rubens é um incompetente mesmo. Poderia ter resolvido tudo, mas deixou tudo pra mim. Eu terei que ir pessoalmente, resolver com os clientes.
_ Uma reunião sexta-feira á noite, pai? Que estranho.
_ Não será na sexta-feira e sim no sábado pela manhã bem cedo. Por isso, tenho que viajar hoje.
_ Ah, tá.
_ Coração, até domingo eu estarei em casa.
_ Eu não estou interessado. Chegue o dia e a hora que você quiser.
_ Pô, pai, precisava fazer essa grosseria com ele?
Ver Júlio saindo como vítima diante da filha o deixou revoltado.
_ Não se meta nisso, Vanessa!
A menina arregalou os olhos diante da resposta inesperada de Leandro.
***
Lorena ficou assustada quando chegou na sala e viu Abner apertando a mão de dois homens. Eles estavam na soleira da porta se despedindo.
A mulher acabara de despertar. Vestia uma das blusas do amigo, que a cobria até o início das pernas, por baixo dela, usava uma minúscula calcinha de renda entre as nádegas.
_ Vê se fazem tudo direitinho.
_ Pode deixar, maluco.
Abner fechou a porta sorrindo.
_ O que estes caras barra pesada estavam fazendo aqui, Abner? Que merda você tá aprontando?
_ Nada demais. Só uma surpresinha para o Júlio. Paga com o dinheiro dele._ Abner disse com um sorriso malicioso.
_ Aaaabner, pare de brincar com fogo! O Júlio é um demônio. Você pode se foder muito com isso.
_ A culpa foi dele. Quem mandou mexer com o Leandro? Há de pagar por isso.
"Mudanças de planos. Não vou poder te esperar no chalé. Aconteceu um imprevisto. Vou me atrasar um pouquinho. Me espere naquele bar, que sempre gostamos de ir." Júlio leu a mensagem no carro. Reclamou, em pensamento, pelo atraso do amante.
_ Odeio esperar. Mas fazer o que, né? É melhor do que nada. Pelo menos vou tirar o atraso.
Sentou na cadeira do balcão do bar, e pediu um copo com de whisky. Á medida que o tempo passava, a sua angústia aumentava.
Um estrondo forte de trovão o assustou. Não que tivesse medo de tempestades, e sim, pelo barulho ter sido inesperado.
_ Parece que vai cair uma tempestade feia. Chuva de verão.
Júlio não respondeu ao balconista. Concluiu que Abner se atrasaria ainda mais devido á tempestade.
"Onde vc está?"
Abner respondeu em seguida: "Sinto muito, amor. Não vou poder ir. A minha mãe comeu alguma coisa, que não a fez bem. Vou ficar com ela"
Júlio bufou de raiva. Ligou para Abner na mesma hora.
_ Não há ninguém que possa ficar com ela? Cadê a Lorena e o seu padrasto?_ perguntou impaciente.
_ Sim. Todos estão aqui. Mas, eu não quero deixar ela. Estou preocupado.
_ Você está pensando que sou algum otário?!
_ Júlio, deixa de ser insensível! Ela é a minha mãe! Não é porque você não tem mãe que o resto também não tenha.
_ Vá pra puta que pariu, Abner! Você tá fugindo de mim direto, e eu não vou tolerar!
_ Deixa de ser mimado. Eu vou ficar com a minha mãe e ponto final.
Abner encerrou a ligação antes que Júlio falasse qualquer coisa. O advogado tentou ligar novamente.
_ Deixe o seu recado. Após o sinal você será atarifado...piiii._ A voz eletrônico o irritou, constatando que Abner desligou o telefone.
_ Merda! Puta que pariu! Porra!
Do lado de fora, a chuva desabou com força.
_ Ei, amigo. Me vê a conta.
Após pagar com o cartão de crédito, Júlio decidiu ir ao Chalé para passar a noite. Com aquela tempestade, seria complicado descer a serra. Além disso, mentiu para Leandro que estaria em São Paulo. Com que cara chegaria em casa? Teria que inventar alguma desculpa, talvez eles brigassem, e estava irritado demais para tudo isso.
O carro estava estacionado em frente ao bar.
Ao abrir a porta, sentiu o impacto de uma pancada nas costas. Caiu gritando de dor. Havia sido acertado com um cacetete.
_ Passe tudo que tiver. Rápido! Rápido!_ disse um dos homens encapuzados.
Júlio quis gritar, mas teve medo de receber um tiro. Temeu perder além do dinheiro, o carro.
_ Calma! calma!_ disse contorcendo de dor. Entregou o celular, a carteira e o relógio.
Recebeu um chute nas costelas, no estômago e no rosto. Seu sangue se misturava com água da chuva que caia na calçada. Apanhava com força, ficando com hematomas pelo corpo e rosto.
Um dos funcionários do bar viu a cena e gritou:
_ Parem! Parem!
Assustados, os homens subiram na moto e partiram, deixando Júlio machucado no chão.
Dois homens o socorreram.
_ O senhor está bem?
_ Claro que não estou! Aqueles filhos da puta acabaram comigo._ Júlio respondeu, segurando o nariz sangrando.
_ A sorte foi que não levaram o seu carro. Venha para dentro. Vamos ajudar o senhor.
Horas antes, os homens foram instruídos por Abner a só baterem e roubarem pequenos objetos, para disfarçar que a surra fora encomendada. Já o carro, eles foram instruídos a não roubarem, para não serem rastreados.
O aparelho celular também possuia rastreador e, por isso, foi jogado no meio da estrada.
Leandro observava a tempestade pela parede de vidro da sala escura. Vestia o pijama e tinha uma taça de vinho tinto nas mãos.
Alguns minutos atrás, estava preocupado com Vanessa sair naquela tempestade. Ligou para ela e a menina disse que ficaria na casa com Lorena e sua família, jogando videogame e comendo pizza.
_ Que bom, meu amor! Assim posso dormir tranquilo.
_ Ok. Agora tenho que desligar. Tchau.
_ Beijos, meu amor. Te amo.
_ Eu também.
Era a primeira vez que Leandro se sentia tranquilo com a saída de Júlio. Sempre que ele não passava a noite em casa, Leandro chorava de angústia por saber que o marido estava com o Outro. Porém, desta vez, estava até grato ao tal de Abner por o livrar da presença incômoda de Júlio.
Sentou numa das poltronas confortáveis, com os pés apoiado nela. Para relaxar ligou o celular num aplicativo de música na música Take A toke. O smartphone estava conectado ao som interno da casa. Adorava ouvir está música mesmo não sendo sucesso na sua juventude. Cresceu a ouvindo na casa dos seus pais, por sua mãe gostar muito.
Sentia uma paz consigo. Não se sentia mais conectado a Júlio como antes e isso o agradava.
O interfone tocou.
_ Quem será?_Estranhou, imaginando que o porteiro anunciasse a chegada de alguém. Levantou para atender, deixando a taça de vinho numa das mesinhas de vidro da sala, que estava próxima á poltrona.
_ Boa noite, seu Leandro. Tem um rapaz aqui querendo muito falar com o senhor.
_ Comigo?
_ Sim. O seu nome é Dimitri.
Leandro arregalou os olhos, sentindo uma onda elétrica invadir o seu corpo. O coração bateu a mil. "Como assim Dimitri está na portaria do meu prédio?! Que loucura é essa?! Como ele descobriu o meu endereço."
No mesmo instante, o seu celular tocou.
_ Vai me deixar aqui nesta chuva? Eu vim de moto e estou todo molhado._ Abner disse com uma voz ousadamente sensual, que Leandro amou ouvir.
_ Isso é loucura!
_ O seu marido não está em casa e nem vai voltar hoje. Me deixe subir?
_ Como você sabe?
_ Um passarinho me contou.
_ E por caso esse "passarinho" se chama Valéria?
Leandro segurava o smartphone de um lado da orelha e o interfone do outro.
_ Posso autorizar a entrada do rapaz, seu Leandro?
Leandro se viu paralisado. A sensação do perigo em receber Dimitri em seu apartamento era muito gostosa, o excitava. Além disso, estava com saudades. Sentia falta de um abraço carinhoso e de um beijo acalorado.
_ Tudo bem...deixe-o subir._ disse sorrindo, mordendo os lábios.
_ Ele autorizou a sua entrada. Pegue o elevador privativo da esquerda. Tenha uma boa noite, senhor.
_ Boa noite.
O som da campainha fez o coração de Leandro bater ainda mais forte. Foi tomado por uma alegria.
Quando abriu a porta, a música foi trocada, automaticamente, para Meu bem querer, de Maurício Manieri.
Abner estava muito sexy todo vestido de preto, com as cabelos molhados caídos. O seu sorriso era tão tranquilizante!
Sem pensar, Leandro se atirou em seus braços, encaixando as pernas nos seus quadris.
Abner sentiu a mesma alegria ao vê-lo. Segurou em seu rosto com as duas mãos. As pontas dos seus narizes se tocaram e sorriram um para o outro.
_ Meu amor!_ Abner disse antes de beija-lo.
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