Desde pequena eu sempre me senti uma menina. Minhas primeiras lembranças da vida são com 4 ou 5 anos, quando eu vestia as calcinhas da minha irmã. De certa forma eu meio que já sabia que isso não era o esperado de mim, e fazia isso escondida. Minha irmã é um ano mais velha que eu, e no colégio particular que estudamos os meninos faziam educação física, que eu odiava, e as meninas faziam balé, que eu invejava a minha irmã por fazer. Uma da melhores lembranças da minha infância foi de me vestir com as roupas de bailarina dela, a meia calça cor de rosa, o collant vinho, a faixa de cabelo e as sapatilhas, me senti especial. Aos 12 ou 13 anos já usava um pouquinho de maquiagem e certas roupas da minha mãe. Sempre que ficava sozinha em casa, o que era raro, eu me travestia, podia ser eu mesma por algum tempo. Esse era o meu maior segredo e minha maior alegria, mas sempre tive muito medo de ser descoberta. Meu pai sempre foi muito duro comigo, e jamais entenderia ou aceitaria um filho gay ou travesti. Isso durou toda a minha infância e adolescência, era uma coisa que eu fazia pra mim e me fazia sentir muito bem comigo mesma.
Quando fiz 17 anos fui morar em uma pensão em outro estado, por causa da faculdade. Uma vida nova, com muito mais liberdade. Também foi quando perdi acesso as roupas da minha mãe e da minha irmã e dei um tempo de me vestir de menina. Sempre fui muito tímido, mas comecei a ficar com uma garota por iniciativa dela. Quase perdi a virgindade com ela, mas não consegui. Sentia uma pressão enorme em corresponder às expectativas dela, satisfaze-la. Manter uma ereção prolongada sempre foi difícil pra mim, e eu tinha muita vergonha de ter um pipi pequeno. Comecei a evitar me encontrar com ela, e ainda pensava muito nos meus tempos de me travestir de menina.
Com pouco mais de um mês morando na pensão fiz 18 anos e fui morar sozinho. Foi nessa época que meus pais se separaram, e que eu ganhei do meu pai meu primeiro notebook. Finalmente tive privacidade total, comecei a pesquisar tudo sobre o universo trans. Descobri que eu era crossdresser, que no Brasil era chamada cdzinha. Fiquei viciada em pornografia trans. No começo me imaginava estar com uma travesti, mas rapidamente isso mudou e eu me via como a travesti, e queria ser como elas. Como morava sozinha e tinha acesso a algum dinheiro, pude então começar a comprar meus próprios itens femininos: lingeries, sapatos, roupas, maquiagem e acessórios.
Comecei a viver uma vida dupla, menino na faculdade e na rua, e passando cada vez mais tempo como menina dentro de casa. Deixei de ir a festas, e a qualquer lugar que não fosse relacionado aos meus compromissos de faculdade. Economizava cada centavo possível para custear minha vida paralela, chegava a ir a pé para a faculdade para economizar o dinheiro do ônibus. Era excitante e maravilhoso ser eu mesma, mas sempre que eu me masturbava sentia um misto de culpa e vergonha horrível depois de gozar. Isso me deixava afastada da minha vida de menina por algum tempo, mas a vontade sempre retornava, e sempre mais forte. Foi uma época confusa. Acredito que eu mesma tivesse muito preconceito contra mim mesma e o que sentia de verdade, preconceitos herdados do meu convívio familiar, e era difícil pra mim me aceitar completamente.
Foi por causa dessa culpa que decidi evitar ao máximo me tocar e gozar. Comecei a viver mais tempo como menina de que como menino. Protegida dentro de casa, vivia como menina, estudava, cuidava da casa, cozinhava, dormia de camisolinha. Assistia pornografia, e se ficasse muito excitada tentava me concentrar em alguma outra coisa ou tomava um banho gelado. Permanecia num estado constante de excitação controlada. Assim pude desenvolver mais minhas habilidades femininas, aprendi a arrumar o cabelo, andar de salto alto, me maquiar, modular a voz de modo mais feminino, e também a vestir uma calcinha e manter tudo escondido no lugar. Tirava muitas fotos que eu não mostrava a ninguém, me filmava para poder corrigir minha postura e ter um gestual mais delicado.
Até então me vestir, agir como menina, era algo muito pessoal, muito particular. Sempre morri de medo de alguém descobrir esse meu lado, mas lentamente foi crescendo em mim uma necessidade que eu nunca havia sentido, de me mostrar pra um homem, ser desejada por um homem, de perder a minha virgindade de menina. Fantasiei muito com isso, e se isso fosse acontecer, tinha que acontecer nos meus termos. Tinha tudo os meios necessários para ter essa experiência, e assim o faria. Eu já tinha na minha mente o jeito que eu queria que as coisas acontecessem, uma espécie de roteiro.
Eu sabia exatamente como queria me produzir para a minha primeira vez. Sempre fui apaixonada por lingeries e sabia o que queria. Usaria um conjunto de espartilho de renda preto, uma calcinha fio dental e meias 7/8, . Sapatos de salto alto fino e unhas postiças vermelhas. Para maquiagem batom vermelho, base, pó compacto, sombra, cílios postiços, mascara para os cílios, blush. Para a pele creme de depilar, óleo de amêndoas, perfume. Alguns acessórios, brincos, colar, anéis. Comprei a maioria das coisas pela internet, algumas coisas no centro. Sempre havia me montado pra mim, mas agora era chegada a hora de me montar para estar com um homem, e eu queria estar perfeita.
Para conseguir encontrar esse homem eu recorri a um conhecido bate papo da internet. O meu foco era em mim, em como eu estaria produzida, o que eu sentiria, entendia o homem como um acessório disso tudo. Algumas coisas eu sabia: eu queria um homem mais velho, experiente e paciente, e que também fosse alto e totalmente ativo. Que fosse casado, sigilo era fundamental pra mim, tinha pavor de alguém do meu círculo próximo ficasse sabendo. Aparência física não era tão importante assim. Procurei por vários dias até selecionar o candidato que se aproximasse do ideal. Conversei bastante com um homem durante alguns dias, expliquei toda a situação, trocamos fotos. Deixei claro que era virgem e tudo que eu queria, o que eu esperava da minha primeira vez, e como queria que as coisas acontecessem. Eu tinha esse roteiro na minha cabeça, procurava alguém que me ajudasse a realiza-lo. Deixei algumas coisas bem claras, eu não queria ser beijada, não estava preparada para isso, e também não queria ser tocada nas minhas partes de menino. Eu tinha esse preconceito de beijar um homem ainda forte dentro de mim. Ele foi atencioso, calmo e tinha boa conversa, foi muito educado. Deu a atenção que eu precisava, me escutou. Ele gostou do meu roteiro, e disse que gostaria de me ajudar a realizar minha fantasia. A conversa foi boa, senti uma certa conexão com ele, tanto que acabei me decidindo, seria com ele que eu perderia minha virgindade. Marcamos para a sexta-feira seguinte, no começo da noite, quando ele teria tempo.
Acordei tarde nesse dia e não fui pra faculdade. Cheguei a pensar muito sério em desistir. Estava muito nervosa, com o estômago enjoado, e durante o dia nem consegui comer. Um misto de medo, curiosidade e excitação. De tarde já aceitava melhor a situação e comecei a minha pré-produção. Fiz a pouca barba que eu tinha. No meu corpo todo usei o creme para depilar, tirando os poucos pelos que eu tinha, só deixando um pequeno retângulo de pelos pubianos. No mais fiquei completamente lisa, inclusive nos braços. Depois um banho demorado, passei óleo de amêndoas no corpo todo para deixar a pele macia. Fiz a minha higiene íntima. Acertei as sobrancelhas, escovei meus cabelos castanho escuros que chegavam aos ombros, deixando bem lisos.
Mas eu ainda não tinha certeza de que conseguiria ir até o fim. Como estava um pouco frio, vesti uma calça de moletom, camiseta e uma blusa de lã, amarrei os cabelos em um rabo de cavalo e fiquei esperando César. Nosso primeiro contato seria assim, eu de menino, pois tinha muito receio de receber um estranho já de menina. Se eu não gostasse dele? Se eu quisesse desistir? Não gostaria de estar toda menina pra dizer não a ele se fosse o caso, me sentiria vulnerável demais.
CONTINUA...