Valéria aguardava por Leandro no restaurante do aeroporto, este era exclusivo dos clientes da primeira classe.
Antes de se sentar á mesa, mandou uma mensagem para o amigo perguntando se ele estava a caminho e teve uma resposta positiva. Leandro disse que estava chegando num táxi.
Enquanto aguardava, Valéria pediu duas latas de Coca cola zero, dois hambúrgueres e duas porções de batatas fritas.
Não tocou no lanche até avistar Leandro se aproximando da sua mesa, trazendo a bagagem e usando óculos escuros.
_ Uh, é! Por que está usando óculos dentro do aeroporto? Não vai me dizer que pegou conjuntivite.
Leandro sentou ao seu lado e retirou os óculos, revelando os olhos vermelhos e inchados.
_ Amigo, você tá chorando?! O que aconteceu?
_ Eu odeio chorar! Odeio!
Leandro relatou a briga que teve em casa. Narrava pausadamente para não chorar novamente.
_ A minha sorte é que tinha alguns trocados na minha carteira e pude pagar o táxi.
_ Ele não tinha o direito de fazer isso contigo! Você é marido dele! Tem os seus direitos!
_ Eu me senti muito humilhado. Muito mesmo. Amiga, foi horrível! Eu nunca mais quero depender do Júlio pra nada. Você vai ver. Eu vou me estabilizar financeiramente. Vou chegar a um ponto que não vou precisar do dinheiro do Júlio pra nada. Nunca mais eu vou passar por isso de novo.
_ Você sabe que não precisa dele. Você tem a mim, Leandro! Pode ficar na minha casa e trabalhar pra mim.
_ Eu só vim porque achei que foi muito desaforo! Porra! Eu não fiz nada de errado! Deixei a casa toda cuidada, organizei tudo direitinho e é assim que sou tratado?! Júlio sempre me sacaneou nos carnavais. Eu ainda fui honesto de informar sobre a minha viagem. Já ele não, só saía porta a fora, desligava a porra do telefone e só dava as caras uma semana depois. Eu não achei justo ceder a vontade dele.
_ Você fez muito bem. Fez muito bem mesmo._ Valéria estava tão revoltada, que mordeu o sanduíche com raiva._ Que ódio desse filho da puta!_ disse com a boca cheia.
_ Amiga, eu não tenho um real para gastar em Maceió. Se você quiser, segue viagem sem mim. Eu vou me acalmar e ver o que vou fazer...voltar para a casa eu não volto. Se não for abusar demais, você pode me emprestar as chaves da sua casa? Eu fico quieto lá e...
_ Cala a boca, Leandro! Que mané ficar na minha casa. Você vai viajar comigo e ponto final. Não se preocupe com as despesas da viagem. Para de palhaçada!
"E outra, você tem que aceitar a minha ajuda! Caso contrário, vai ficar o resto da vida naquele inferno."
_ Eu não quero te envolver mais. Eu conheço o Júlio. Ele já me ameaçou te prejudicar caso você me ajude. Eu não vou deixar que você saia prejudicada.
_ Eu quero que o Júlio vá pra puta que pariu! Eu não tenho medo dele! Leandro, para pra raciocinar um pouquinho. Pensa só. Quando você der entrada no divórcio, Júlio não vai reagir bem. Ele vai procurar te coagir de todas as formas. Vai pisar onde mais te dói: a chata da sua filha. Ele vai querer te proibir de ver a garota.
_ Ele não pode fazer isso! Eu sou tão pai dela quanto ele. Também tenho os meus direitos.
_ Leandro, você tem noção que vai travar uma briga judicial com um dos advogados mais importantes advogados do Brasil? Quantas causas o seu marido já perdeu? Pouquissimas! Você tem noção que a equipe jurídica dele é um time peso pesado?
"Como você pretende lutar pela guarda da Vanessa com o advogado Júlio Medeiros tendo um defensor público ou um advogadozinho porta de cadeia? Porque é isso que você poderá pagar."
Leandro sentiu o pavor perturbar o seu coração. Não havia parado para pensar nessa possibilidade.
_ Eu não posso perder a minha filha.
_ Se continuar com esse orgulho vai perder. E não será só a guarda. Júlio vai fazer a cabeça daquela menina contra você e ela vai te odiar.
_ Valéria, você não está ajudando.
_ Mas posso ajudar e muito. Me deixe pagar a advogada. Ela não é tão renomada quanto o seu marido, mas está um pouco a altura.
_ Ai meu deus!_ as lágrimas já se formavam nos olhos de Leandro.
_ Ei! Nem pensa em chorar! Parece até homem hétero recebendo crítica. Gente como nós temos que erguer a cabeça para lutar contra as batalhas da vida. Você não é mulher, mas lute como uma.
_ Tá bom. Eu aceito a advogada.
_ Ótimo! Assim que voltarmos vou procurá-la. Ela vai te orientar a cerca do divórcio e da guarda da chatinha.
_ Não fale assim dela.
_ Toma. Coma._ Valéria esticou a cestinha com o sanduíche e as batatas fritas.
_ Ah, Val, eu não posso comer isso a esta hora da manhã.
_ Ah, deixa de ser tão certinho, Veado. Relaxa pelo menos um vez na vida. Você já tá todo fodido mesmo.
Leandro segurou o hambúrguer com as duas mãos, o queijo cheddar escorria entre os lados.
_ Quer saber? Foda-se a vida!_ deu uma mordida com vontade, fechando os olhos para saborear._ Huuuuum! Tá muito bom!
Valéria sorriu, comendo também.
O avião partiu uma hora depois.
Leandro não se sentia confortável com o fato da amiga arcar com todas as despesas. Mesmo Valéria não sendo mesquinha e pagando tudo com gosto, ele se sentia um peso para ela e, com isso, envergonhado.
A tristeza de Leandro era nítida na sua expressão melancólica e os olhos cansados. Por isso, Valéria jurou a si mesma que faria de tudo para que o amigo tivesse a melhor viagem da sua vida.
Sentada na cadeira ao lado, segurou em sua mão e olhou de um jeito carinhoso.
_ Esquece aquela praga por esses dias. Faz o seguinte: mantenha o celular desligado até voltarmos.
_ Eu não posso! Preciso manter contato com a Vanessa.
_ Use o meu para falar com a Patrícia. Caso você fale com a sua filha, ela pode acabar sendo manipulada por Júlio e te perturbar. Já a Patrícia é de confiança. Ela sim vai te deixar a par de tudo que está acontecendo.
_ Está bem.
Valéria acariciou o seu rosto e o beijou.
O hotel Morada do sol ficava localizado em frente á praia. Era um prédio de mais de vinte andares de cor branca e azul. Era rodeado por árvores floridas, que refrescavam o ambiente.
O hotel oferecia serviços de spar com massagens relaxantes em frente ao mar, salões de festas, bares com músicas ao vivo, salas de jogos para adultos e crianças e piscinas imensas.
Os restaurantes eram amplos e serviam pratos deliciosos para todos os gostos.
No hall, as recepcionistas vestiam uniformes com saias justas pretas e blusas sociais brancas com o emblema do hotel no bolso. Os cabelos eram pressos num coque e tinham os rostos maquiados na medida certa.
Desconcertada, uma delas se desculpava pelo equívoco.
_ Me desculpe. Como vocês dois são um homem e uma mulher, eu pensei que fossem um casal e reservei um quarto com uma cama.
_ É só trocar o quarto, bonitinha._ Valéria disse acendendo um cigarro. Era proibido fumar no hall, mas a recepcionista estava tão envergonhada pelo equívoco, que nem teve coragem de pedir para que não fumasse.
_ Sinto muito, mas estamos com todos os quartos ocupados. Mas podemos reverter de alguma forma?
Nem Valéria e nem Leandro se importavam em dividir a mesma cama. Mas, ela não perdeu a oportunidade de pedir um desconto.
Eles foram conduzidos ao escritório do gerante, que liberou vinte por cento de desconto para ela.
_ Você é demais, Val. Precisava disso?
_ Claro que precisava. Desconto nunca é demais.
O quarto era amplo com a parede da frente toda de vidro, proporcionando uma linda vista para a praia. Duas portas, ao serem abertas davam acesso á varanda com piscina, e espreguiçadeiras.
O lugar era muito confortável e luxuoso. Uma TV de setenta polegadas em frente a cama. As paredes eram brancas e a metade revestida de madeira. No banheiro, havia uma enorme banheira de hidromassagem.
_ Amiga, sinto muito. Sei que essa estadia aqui vai te custar um dinheirão.
_ Não se preocupe com isso. É para isso que me mato de trabalhar. Nós merecemos.
Valéria ocultou o fato que dividiu as despesas no cartão de crédito em grandes parcelas. Ela não se incomodava. Via como um investimento para o seu descanso e, principalmente, para a felicidade momentânea do amigo. Para ver Leandro feliz, ela não mediria esforços.
_Vamos de banho relaxante, com os meus sais maravilhosos que comprei na Índia?
_ Sério que você trouxe os sais para o hotel? Você é louca mesmo.
Cobertos de espumas, Leandro se localizava em frente a Valéria, recebendo massagem nas costas. Fechava os olhos, relaxado.
_ Que mãos incríveis!
_ Eu sei. Sou muito boa nisso.
_ "Modesta" também.
_ Eu não preciso de modéstia. Eu sei que sou foda.
Leandro olhou para trás sorrindo.
_ Disso não tem como negar._ disse sorrindo, dando um selinho na amiga.
Ao lado da banheira havia incensos e velas aromáticas. Próximo a elas estavam os celulares. O de Leandro tocou.
Antes que ele atendesse, Valéria o pegou e desligou.
_ Nada de celular. Esse foi o nosso combinado.
_ Ah, mas poderia ser a minha filha.
_ Não se preocupe. Era o Dimitri.
_ Ah, eu quero falar com ele.
_ Nem pensar! Esse cara vai ficar te ligando direto todo enciumado. Não, não! O que mais tem por aqui é homem. Esquece os seus dois machos e vamos atrás de figurinhas novas.
...
Leandro despertou com o barulho dos saltos de Valéria batendo no chão. Abriu os olhos aos poucos, e percebeu, pela vidraça, que já havia anoitecido.
_ Até que enfim a bela adormecida acordou. Pensei que teria que mandar chamar o príncipe para te acordar com uma mamada.
_ Como você é baixa._ Leandro cobriu o corpo com o lençol. Estava exausto.
Na noite anterior não havia dormido bem. Estava ansioso, com medo da reação de Júlio quando avisasse da viagem.
Tentou dormir no avião, mas estava tenso demais para isso. Depois do banho da banheira, ele e Valéria foram almoçar no restaurante.
_ Ponha algo gostoso nesse prato. Você só come frango grelhado._ Valéria disse pondo um bife á milanesa no prato dele.
_ E você ponha legumes nesse prato. Você pode não engordar de ruim, mas as doenças causadas por uma má alimentação não escolhem só corpos a cima do peso.
Valéria se espantou com a quantidade de saladas de legumes coloridos que Leandro pôs em seu prato.
Sentando á mesa, Valéria olhou para frente e sorriu, avistando ver um belo homem negro de olhos pequenos olhar para Leandro.
O homem estava acompanhado por um grupo de pessoas, todas falavam em espanhol.
_ Aquele muchacho não para de olhar para você._ Valéria apontou com a cabeça e sorria.
_ Pare de apontar! Que vergonha!
_ Ele é bonito! De que pais deve ser? Será que é da Espanha? O ruim é que não falo espanhol e não posso dar uma ideia nele.
_ Que dar idéia? Ficou louca?
_ Ele tem uma pele negra linda e brilhante, braços fortes, costas largas, cabelos rente ao coro cabeludo, boca carnuda e cílios grandes...o pau deve ser imenso. Imagine um homem desse te pegando de jeito, hein, bijuzinho.
Leandro pegou o celular e ligou a câmera frontal, mirando um pouco para o lado. Pela lente percebeu que o homem o olhava, ignorando o grupo. Arrepiou-se dos pés a cabeça. De fato, o homem era atraente e, internamente, estava feliz por ser sentir desejado.
_ Pelo sotaque, ele é mexicano.
_ Eu fico pasma contigo. Além das línguas, você conhece os sotaques. Minha deusa, como invejo esse cérebro.
"Bijuzinho, vamos fazer igual aos filmes? Vamos pedir ao garçom que entregue o seu número de telefone para ele...aliás, o meu né, pra você falar com ele."
_ Nem pensar, maluca! Nem se atreva!_ Leandro advertiu entre os dentes, a olhando de um jeito repreensivo.
_ Se solta pra vida, bijuzinho! Eu heim! Eu trouxe uma porrada de preservativos. Senta e quica á vontade.
_ Eu vou fingir que nem ouvi.
Após o almoço, deram uma volta na piscina. Leandro lia um livro, enquanto Valéria curtia na piscina. Fez amizade com um grupo de turistas e gargalhava com eles.
Sentiu os olhos pesarem de sono e se aproximou de Valéria.
Ela o apresentou ao grupo em inglês, e Leandro, gentilmente, os saudou.
_ Amiga, vou para o quarto tirar uma soneca. Tô morto.
_ Vai lá, meu amor._ Valéria respondeu mandando um beijo.
Leandro, devido as tensões diárias, sempre fazia usos medicamentos para dormir. Antes de ingerir a pílula, procurou pele celular sem sucesso. Valéria o havia escondido muito bem. Ligou o notebook e verificou se Vanessa estava online no Instagram. Para a sua alegria, ela estava.
_ Oi, meu amor. Como você está? Já almoçou?
_ Oi, pai. Tá uma merda aqui! Um saco ficar presa dentro de casa olhando para a cara do meu pai. Desde que você saiu, ele tá num mau humor insuportável._ Ela teclava sentada na espreguiçadeira, próxima á piscina. Vestia um biquíni rosa contornado de preto.
_ Sobre o almoço, se alimentou direitinho?
_ Sim. A Patrícia fez salmão grelhado com legumes ao vapor. Agora, tenho que ir. A Glorinha chegou. Eu pedi para vir me ajudar a gravar uns vídeos pra postar no Tik Tok.
_ Ok. Beijos, querida. Eu te amo.
_ Beijos. Eu também te amo.
Após encerrar a conversa, Leandro se entregou ao sono. Adormecendo até a noite.
_ Que horas são?
_ Nove horas da noite.
_ Gente! Eu dormi tanto assim?!
_ Você apagou.
Valéria cheirava muito bem com o seu perfume amadeirado. Usava um short rosa choque, cintura alta, saltos brancos scarpin e um boddy branco de renda, que valorizava o seu colo. Ela terminava de ajustar o batom vermelho nos lábios.
_ Aonde você vai?
_ Nós vamos cair na folia.
_ Ah, não amiga! Tô sem clima e muito cansado.
Valéria o olhou séria, pondo as mãos na cintura.
_ Cansado porra nenhuma! Vai tomar um banho, por uma roupa fresca para descer comigo. Vai rolar a maior festa aqui no hotel.
Valéria sentou na cama brava por sentir os pés doerem com os saltos. Irritada, os retirou jogando longe.
_ Quer saber? Eu é que não vou me foder de dor e estragar a minha noite por causa destes malditos sapatos.
Ela pegou um par de sandálias rasteirinhas rosa choque e pôs nos pés.
_ Assim está bem melhor.
A festa rolava num espaço aberto num gramado perto da praia.
No chão, tapetes felpudos de cor marrom, com mesas rasteiras e redondas cobertas com uma toalha branca e um lampião sobre elas, ajudando na iluminação. Em volta, colchões e almofadas coloridas.
Correntes de lâmpadas pequenas eram ligadas a postes improvisados. Na entrada, uma grande mesa com aparelhos de jantar de porcelanas e alimentos diversos.
Um palco estava montado e um DJ no lado oposto, comandava a festa tocando Sweet Dreams.
_ Olha quanta coisa naquela mesa, bijuzinho! Vamos lá?
_ Eu tô sem fome, Val. Me empresta o celular? Preciso falar com a Patrícia.
Valéria retirou o smartphone da bolsinha e o entregou.
_ Pega uma mesa para nós._ Valéria disse antes de sair.
Leandro sentou no colchão, cruzando as pernas, próximo á mesa mais afastada de todos. Como o som estava alto, optou por mandar mensagem, trocando para Patrícia responder de imediato.
_ Boa noite, Patrícia. Como estão as coisas aí? Vanessa jantou direitinho? Está se comportando?
_ Boa noite, Leo. Tudo bom? Vanessa já jantou sim e está no quarto dela de fofoca com as amigas, numa vídeo chamada. Eu estou aqui deitada. Já acabou a minha novela e estou vendo o desfile das escolas de samba do grupo de acesso. Tá quase tudo tranquilo por aqui, exceto pelo Júlio, que tá cuspindo fogo pelas ventas. Tá com muito ódio por você ter viajado.
"O Rubens esteve aqui hoje de manhã... não gosto desse homem. Acho um falso. Ele e Júlio ficaram de fofoca lá na piscina. Pelo que ouvi, Júlio tá pau da vida, porque a Valéria bloqueou os dois do Instagram e fechou o perfil. Ele tá doido para te monitorar e não sabe como."
Ler sobre o Júlio o deixou num mau estar emocional, acabando com o pouco de alegria que estava sentindo. Temeu o que teria que enfrentar quando chegasse em casa. Apavorou-se imaginando que Júlio poderia fazer algum tipo mau a Valéria.
Olhou para ela, pondo comida no prato e seus olhos se umideceram, triste por envolver a amiga nos seus problemas. Arrependeu-se de ter viajado.
_ Ele está te tratando mal, Patrícia?
_ Que nada! Estou na minha quietinha no meu canto. Ele nem tá falando comigo.
_ Você está sendo sincera?
_ Lógico, Leandro! Pare de se preocupar e vai curtir a sua viagem. Você merece.
_ Ele tá fazendo a minha caveira com a minha filha?
_ Não. Ela nem tá falando com ele. Está com raiva por estar de castigo.
Leandro detestava conflitos familiares, mas essa informação o deixou mais aliviado. Temia que Júlio transformasse Vanessa em sua inimiga.
Despediu-se de Patrícia antes que Valéria chegasse com o prato abarrotado de comida.
_ Você vai dar conta de tudo isso?
_ Lógico! Aproveitando que tá incluso no pacote do hotel. E aí? Tá tudo ok na sua casa?_ Valéria perguntou dando uma garfada no risoto de camarão.
_ Segundo a Patrícia, sim. O único problema é o mau humor do Júlio.
Valéria gargalhou, escandalosa, batendo palmas.
_ Adoorooo! Eu queria ser uma mosquinha para ver aquele desgraçado todo putinho. Agora ele vai pagar por todos os carnavais que te fez sofrer.
Começou a tocar La isla bonita e Valéria se empolgou mexendo os braços, cantando.
_ Adoorooo a minha rainha Madonna.
_ Amiga, a Patrícia tava me dizendo que o Rubens esteve lá em casa. Ela ouviu o Júlio dizer que você trancou o seu perfil e os bloqueou.
_ Sim. Eu quero deixar o Júlio se corroendo de curiosidade para saber o que você está fazendo. E Rubens, é um linguarudo safado. Com certeza, ia bater para o Júlio. Abre o olho com ele, bijuzinho.
_ Eu tô ligado na do Rubens. Ele é como os meus pais, puxa saco do Júlio.
Assim que Valéria deu a última garfada, o DJ tocado Prederemos Fuego Al cielo.
Leandro se empolgou.
_ Adoro esta música! Vamos dançar?
_ Não conheço.
_ É de Francisca Valenzuela, uma cantora chilena. Ah, vamos dançar? Vamos? Por favor?_ Leandro pedia fazendo beicinho, cruzando as mãos.
_ Bora!
O casal de amigos se jogou na pista, pulando com a música remixado. Um globo de luzes coloridas iluminava-os e fumaças coloridas inundavam o ar.
Leandro e Valéria pulavam e gargalhavam como ele não fazia há tempos.
Por um segundo, ele parou para pensar o quanto sorrir era tão bom! Amou a liberdade, que estava disposto a lutar por ela.
Ao fim da música, estava ofegante.
_ Caraca! Ah, tempos que não fico assim! Tô velho._ disse com a mão no peito, tentando recuperar o fôlego._ Preciso molhar a minha garganta.
Valéria não estava nenhum pouco cansada. Ao contrário de Leandro, estava acostumada a adrenalina da vida noturna.
_ Venha, vamos ao bar._ Ela disse sorridente.
Chegaram no local de mãos dadas. Uma mulher olhava para Leandro, mordendo os lábios e piscando o olho.
Leandro sorriu de volta, por educação.
_ Bonita ela. Vai encarar?_ Valéria perguntou sorrindo.
_ Claro que não, amiga. A mina é uma beldade, mas não faz subir.
_Mas o mexicano faz.
_ Lá vem você com essa história!
_ Olha alí._ Valéria apontou com a cabeça, mostrando o rapaz numa mesa próxima.
Leandro ficou envergonhado e desviou o olhar para o bar.
_ Uma água com gás para mim. Você vai querer o quê, Val?
_ Dois Blue Hawaii.
_ Nem pensar. Eu tenho que ficar sóbrio para a segurar a senhorita, quando perder a linha.
O bar Man entregou as bebidas num copo comprido, com guarda-chuvinhas na borda. Era um coquetel azul, feito com rum, suco de abacaxi, blue de coração e vodka.
Valéria o entregou e disse:
_ Você vai beber sim, e vamos perder a linha juntas.
_ Mas Val...
_ Não tem mais Val nem menos Val. Beba, caralho!
O DJ parou de tocar e uma mulher entrou no palco, cumprimentando a todos. Ela anunciou uma banda de forró desconhecida do grande público.
O som animou todos da festa, que se prontificaram a dançar.
Leandro gostou do drink e não protestou, quando Valéria sugeriu que tomasse o segundo copo. O efeito da bebida o proporcionava uma alegria gostosa de sentir. Sorria com mais vontade, esqueceu de todos os problemas. O mundo era só dele e dela.
Leandro pôs a mão na cintura dela, encaixou as pernas nas dela. Valéria dançavam junto a ele.
_ É tão bom ser feliz! Queria ser assim pra sempre._ Leandro gritou ao pé do ouvido da amiga.
_ Você será, meu amor! Você merece.
Os amigos se divertiam como se não houvesse amanhã. Eles sabiam que haveria, mas queriam acreditar que não, para que não pensassem em nada que não fosse aquele momento.
_ Olhe! É o grupo de mexicanos de hoje cedo!_ Valéria exclamou, chamando o grupo com a mão.
_ Valéria, pelo amor de Deus! Pare com isso!
_ Ah, eles são meus amigos! Enquanto você dormia no quarto do hotel, eu fiz amizade com eles. Eu não falo uma palavra de espanhol e nem eles de português, mas a gente se entendeu.
No grupo havia duas moças e dois rapazes. Todos abraçaram Valéria animados. Adoraram o jeito extrovertido da brasileira.
_ Esse é o meu amigo Leandro. Leo, esta é a Carmem, Lupita, Juan e Pablo.
_ Mucho gusto!_ Leandro respondeu envergonhado, apertando as mãos de todos.
_ Vamos pegar uma mesa?_ Valéria perguntou arrastando o grupo para a mesa em que eles estavam antes de dançar.
Um garçom servia as bebidas e o grupo gargalhava, mesmo sem se entender muito bem. Todos estavam sobre o efeito das bebidas.
_ Bijuzinho, traduz para eles sobre aquela vez que bebi tanto que conversei com um carro.
_ Não! Tá louca?
_ Então, eu falo...
Enquanto Valéria falava, Leandro se aquietou no canto da mesa, em silêncio. Pablo o olhava sorrindo.
_ Creo que usted está triste. (Creio que o senhor esteja triste)
_ ¡ No! ¡No! Solamente estoy un poco boracho. No soy acostumbrado a salir de copas. (Não! Não! Só estou um pouco bêbado. Não sou acostumado sair para beber)
_ ¿No le gustan Las copas? (Não gosta de bebidas alcohólicas?)
_ Un poco, pero no mucho. Bebo solamente em ocasiones festivas. ( Um pouco. Não muito. Só bebo em ocasiões especiais.)
_ Comprendo. Es un chavo muy guapo. (Entendo. Você é um cara muito lindo)
_ Gracias. Usted también. (Obrigado. O senhor também)
_ Me encanta, Leandro. Su boca me cae muy bien. Puedo besarte? (Você encanta, Leandro. Gosto da sua boca. Posso te beijar?
Leandro arregalou os olhos, espantado, diante da ousadia do homem.
_ Yo no lo Sé lo que decir. ( Eu não sei o que dizer.)
_ No diga nada.
Pablo o segurou pelo queixo e o beijou.
Todos da mesa gritaram batendo palmas.
Envergonhado, Leandro levantou.
_ Me voy al cuarto de baño. Con permiso. (Com licença, eu vou ao banheiro).
Ao entrar no banheiro, Leandro molhou o rosto e se olhou no espelho. Estava tenso. Era a primeira vez que era beijado em público. Não que não tivesse gostado da experiência, muito pelo contrário, o beijo o tirou o fôlego e aflorou um tesão danado no seu corpo. Mas, a timidez era maior.
_ Para de palhaçada e vai lá dá para aquele deus de ébano.
Leandro ficou assustado ao ouvir o som da voz de Valéria entrando no banheiro.
_ Tá louca?! Este é o banheiro masculino!
Um homem saiu do mictório fechando o zíper e olhou assustado para Valéria.
_ Boa noite._ Ela disse a ele, e se encostou na bancada da pia._ Ah, Léo! Curte a vida, amorzinho. Experimenta uma pica diferente que não seja a do Júlio e a do Dimitri. A vida é uma só. Não é não, moço?
Envergonhado, Leandro a pegou pelo braço e a levou para fora do banheiro.
Retornaram á mesa, dessa vez Leandro se sentou próximo a Valéria, fingindo ignorar os olhares de Pablo.
A DJ voltou a assumir o comando do som da festa. Desta vez, optou por embalar com funk, a música Ela me falou que quer Rave.
_ Iiiihhh! É a minha música! Adoooro!
Leandro não queria ir, mas foi puxado pelo braço. Como não gostava de funk, ficou parado enquanto eles dançavam e dividiam o baseado.
Uma das moças o ofereceu e ele recusou com a mão.
_ Esse momento deve ser registrado._ Valéria disse, pegando o celular para fazer um story._ Miren la pantalla! Miren! (Olhem para a tela! Olhem) _ Valéria gritava as poucas palavras que sabia em espanhol.
Todos colaram os rostos, erguendo os copos, dançandoAs ondas do mar iam e viam proporcionando um som relaxante. Leandro desejou que aqueles dias ao lado da amiga nunca acabassem.
Banhos de mar, gargalhadas espontâneas, sol, piscina, nada de críticas, nada de aflições e medos, só alegria e tranquilidade. Como a vida podia ser boa! Como é bom ser livre!
Valéria amava ver o rosto corado do amigo. Percebeu que Leandro ganhou mais uns quilos e a sua pele tinha um frescor que não tinha há anos.
Durante os dias, os amigos curtiam o spar no hotel, a piscina e caminhavam pela praia. A noite, iam aos blocos ou festas do próprio hotel.
Na noite de terça-feira de carnaval, ambos estavam tão confortáveis no quarto, vestidos com pijamas e assistindo filmes, que Leandro sugeriu:
_ Amiga, hoje bem que poderíamos não sair. Tá tão bom aqui!
Valéria o olhou sorrindo, com uma expressão tranquila.
_ É mesmo, né. Vamos ficar. Mas, vou pedir um balde de batatas fritas com molho de cheddar e coca cola zero.
_ Nem pensar. Já comi muitas besteiras nesta viagem. Eu vou ter que suar a camisa na academia para recuperar o prejuízo.
_ Ah, para, Leo. Você vai comer mato o ano inteiro. Se despede das coisas boas agora._ Valéria digitava no celular, fazendo o pedido.
_ Eu escolho o filme.
_ Ok, bijuzinho.
Leandro apagou as luzes e deitou ao lado dela. O ar condicionado estava ligado no nível máximo, deixando o quarto muito frio. Com isso, eles usaram o edredom para se aquecer.
_ Não sei para que esse exagero todo no ar condicionado, Léo.
_ Eu gosto do friozinho.
Não demorou muito para o garçom tocar a campainha, trazendo os pedidos. O rapaz arregalou os olhos, espantado, ao ver Valéria usando uma camiseta branca transparente e uma calcinha preta.
_ O que foi? Nunca viu uma mulher de calcinha?
O garçom era muito jovem e tímido. Corou de vergonha e ficou excitado ao mesmo tempo. Valéria amou o desconcerto que provocou no rapaz.
_ Você não é mole né? Garanto que o cara correu para a banheiro.
_ É bom pegar um novinho desses. Eles têm tanta sede em meter, que se deixar vão a noite inteira. Às vezes, mesmo depois que gozam,continuam metendo. Você deveria experimentar, Leo.
Leandro sorriu, mordendo os lábios, sentindo o membro pulsar.
_ Eu sei bem como é.
_ Ah, que puta!
Valéria se jogou na cama, o abraçando.
_ Me fala aí, qual é o tamanho do pau do Dimitri?
_ Valéria!_ Leandro exclamou, sentindo a face arder de vergonha.
_ Ah, para! Ele parece fazer muito gostoso. Para te deixar todo gamadinho._ Valéria disse fazendo cócegas em Leandro.
_ Vamos ver o filme.
_ Aff! Que bicha puritana!
_ Não sou nada. Sou apenas reservado.
_ Tá bom...a pergunta que não quer calar: Dimitri é ou não é bom de cama?
_ Muito._ Leandro disse sorrindo, cobrindo o rosto com o travesseiro.
_ Aaaaaa! Eu sabia! Eu sabia!
_ Ele é maravilhoso! Me deixa de pernas bambas! Me leva á loucura! Sabe aquele tipo de loucura que te faz detestar a sanidade. Quando eu tô com ele parece que o mundo para. Ah!_ Leandro suspirou sorrindo.
_ Tá apaixonado, amigo?
_ Não sei... Eu gosto dele...gosto de estar com ele, mas eu não sei se estou apaixonado como eu fui um dia pelo Júlio.
_ Com Júlio não foi paixão, foi feitiço. Garanto que aquele bruxo te enfeitiçou com magia negra.
_ Só você mesmo pra vir com essas pérolas. Eu tô com saudades dele. Queria muito ficar agarradinho com ele agora.
_ Eu não acredito que você tá tendo uma recaída com o maligno.
_ Não! Tô falando do Dimitri._ Leandro disse sorrindo, sentindo o coração ser preenchido por bom sentimento, que ele não sabia definir em palavras.
_ Olha sóóó! É tão bom te ver assim, todo felizinho. Eu só queria que você se jogasse um pouco mais para a vida. Mas, se o Dimitri te faz bem, então vai fundo. Que filme vamos assistir?
_ Doce Novembro.
_ Ah, não bijuzinho! Em plena terça-feira de carnaval e nós aqui assistindo filme meloso. E que garanto que você já viu mil vezes.
_ Val, não é um filme meloso. É um filme lindo! A realidade já tá uma merda, eu preciso de um pouco de romantismo. Nem que seja nos filmes.
_ Tá bom! Tá bom! Só vou assistir porque você foi filho da puta de usar esse argumento, que quebrou o meu coração.
Leandro a abraçou e beijou.
Eles se acomodaram na cama, ficando confortáveis e pondo o balde de batatas fritas sobre um dos travesseiros, que ficou entre os dois. Valéria despejou todo o molho nas batatas e as latas de refrigerantes ficaram nas cabeceiras.
_ A única coisa boa neste filme é o Keanu Reeves. Gente! Esse homem é um gato. Mas, dizem que ele é tão gentil, que deve ser péssimo na cama.
_Como assim?
_ Ah, não tem cara de quem tem pegada. Deve dizer "com licença, posso retirar a sua calcinha?"
_ Cala a boca, Valéria!_ Leandro disse sorrindo.
_ Você também tem carinha de bonzinho como ele. Não vai me dizer que pede licença para retirar a cueca do Dimitri.
_ Mulher do céu! Você não existe!
O momento deles era tão confortável. Ficar despreocupado, comendo batatas sem se preocupar com nada era tão bom!
Mesmo não gostando muito do gênero do filme, Valéria decidiu se entregar e prestar atenção no filme. Não estava adorando, mas achou o filme legalzinho.
Já Leandro, se emocionou como na primeira vez que o viu no VHS que a sua mãe alugou, quando ele tinha doze anos.
_ Que merda! Não gostei do final! A mulher é foda pra caralho! Viveu um romance lindo com o gostoso e no final os dois não ficam juntos! Porra!
Leandro sorria, vendo a amiga brava com o final do filme.
_ Foi triste mesmo. Mas a vida dele não foi mais a mesma depois dela. Ele se tornou um novo homem. A vida é tão breve! Sortudos são os que vivem momentos incríveis!
"Sabe, Val, você me ajudou a realizar um sonho ."
Ela o olhou confusa. Não fazia ideia do que ele estava falando.
_ Sempre que eu assistia a esse filme, eu sonhava em ter um doce novembro com alguém especial. Sabe ter pelo menos um dedinho de felicidade. E você está me dando Isso nesses dias. Esta viagem é o meu doce novembro e você é a minha Sara Deever! Eu te amo tanto! Obrigado por tudo que está fazendo! Você não faz ideia o quanto sou agradecido por isso."
_ Ah, meu amor! Por você eu sou capaz de buscar a lua e botar aos seus pés.
Eles se abraçaram por alguns segundos. Permaneceram em silêncio, somente curtindo um ao outro.
Com muita dó no coração, Leandro arrumava as malas para voltar para a casa. Se por um lado morria de saudades da filha, por outro se sentia aflito em ter que confrontar Júlio.
Segundo Patrícia e Vanessa, Júlio andava num mau humor insuportável, devido a sua viagem. Os últimos dias foram tão bons! Seria horrível conviver naquele inferno.
_ Não abaixa a cabeça para ele. Se o seu marido aprontar, não hesite em fazer as suas malas e ir para a minha casa.
_ Já posso ter o meu celular de volta?_ Leandro perguntou esticando a mão. Valéria o retirou da bolsinha e o entregou.
_ Todinho seu.
Ao ligar, Leandro percebeu que havia várias chamadas perdidas, a maioria de Júlio, mas também dos seus pais e Dimitri.
No whatsapp mensagens ameaçadoras de Júlio. "LEANDRO, ATENDE ESSA PORRA DE TELEFONE!" "Você não sabe o que te espera. Você quer guerra? É guerra que terá."
Leandro gelou de medo. Temendo a desconhecida vingança do marido.
_ Que cara é essa? Parece que viu um fantasma.
_ Nada... Nada demais. Só estou chocado com o número de mensagens que recebi.
"Esqueceu que tem mãe?" Esta foi a única mensagem de Angela. Leandro a ignorou.
Ainda estava magoado com ela.
Leandro tentava ocultar a tensão durante a viagem de volta para a casa. No avião, tentava se manter concentrado lendo um livro. Mas não conseguia processar o que lia, só pensava nas ameaças do marido.
O que mais temia era que Júlio usasse Vanessa para atingi-lo. Também se apavorou com a possibilidade de Júlio ter descontado em Patrícia todo o seu ódio. Júlio sabia da afeição que Leandro tinha pela empregada e poderia prejudica-la por vingança.
Também pensou que Júlio poderia ter feito algo para prejudicar Valéria. Não achava justo que outras pessoas pagassem pela sua atitude.
Estava amargamente arrependido de ter viajado. A medida que o tempo passava, temia chegar em casa. Desejou que o tempo parasse.
_ Vou sentir tanta saudade!_ Valéria disse, o abraçando no aeroporto._ É por isso que odeio despedidas. Tchau, meu amor.
_ Nada de tchau. Meu pai odeia essa palavra. Por isso, ele sempre diz "até logo".
Valéria retirou da carteira uma nota de cem reais e o entregou.
_ Toma. É para o táxi.
_ Nem pensar, Val. Isso é muito.
_ Deixa de ser tonto, Leandro. Como que você vai voltar para a casa? Voando?
_ Cem reais é muito.
_ O valor do táxi daqui até o Leblon é quase isso. Beijos.
Ela se despediu com um selinho na boca e partiu para pegar um táxi. Apesar de adorar viajar, Valéria estava exausta e não via a hora de chegar em casa. Ao contrário de Leandro, que o coração batia mais apertado cada vez que o táxi se aproximava do seu condomínio.
A lua já brilhava no céu, quando ele entrou no elevador. As suas mãos suavam e tremiam.
Tinha esperanças de não encontrar Júlio em casa, ou dormindo.
_ Ainda são sete da noite. Ele não dorme a essa hora.
Diante da porta, o seu coração batia apertado e um nó se formava na sua garganta.
Trêmulo, digitou a senha na porta, temendo a possibilidade do marido ter a trocado.
Quando a porta se abriu, sentiu um pouco de alívio.
Para a sua infelicidade a sala não estava vazia.
Júlio o aguardava próximo a parede de vidro, com as duas mãos nos bolsos da calça social.
_ Seja bem-vindo, coração._ Júlio disse sorrindo, erguendo o copo com whisky.
Leandro arregalou os olhos, olhando em volta. Surpreso com o que viu.
_ O significa isso, Júlio?!
...
Não ter a sua ligação atendida deixou Abner extremamente incomodado. Estranhou o fato de Leandro rejeitar a sua chamada e não entrar em contato durante todos os dias do carnaval.
Antes de Valéria fechar o perfil, Abner a seguia num perfil fake. Ele procurava por Leandro e não o encontrou. O moreno detestava redes sociais e optou por não ter um perfil em nenhuma.
Abner monitorava os amigos pelos posts e stories de Valéria. Leandro parecia tão feliz! "Com certeza não sente a minha falta! Nem pensa em mim."
Ele e Lorena decidiram passar os dias de carnaval em Saquarema, na casa de uma tia da moça. Os pais não foram, porque tinham que vigiar o sítio da família Medeiros.
Ver Leandro nos stories abraçado com um grupo de pessoas, sorrindo e próximo a Pablo o fez arregalar os olhos.
Sentiu uma raiva tão grande, que ficou vermelho, com as veias do pescoço inchadas. Os seus olhos estavam em brasa de ódio.
_"Não é possível! Não é possível!"_ gritava jogando o celular na cama.
Lorena entrou na mesma hora. Vestia uma fantasia de melindrosa, com o vestido preto, com tiras vermelhas nas pontas, saltos altos e meia calça preta. Na cabeça usava uma peruca preta, com o corte dos anos trinta e uma pena vermelha amarrada numa faixa preta.
A maquiagem era de acordo com a época e fez uma pintinha preta no canto da boca.
_ Vamos, Abner! Não sei o porque desta demora.
Abner vestia uma fantasia de malandro, com calça, paletó e chapéu branco e uma blusa listrada de vermelho e branco. Os sapatos eram sociais pretos, com as pontas brancas.
_ Maldita hora que eu fui ser burro e me apaixonar! Maldita hora!_ Abner dizia com lágrimas no rosto.
_ Do que você está falando?
_ Eu sou mesmo um idiota. Leandro, não quer saber de mim. Nem me atender ele me atende. Fica lá postando fotinho com o rosto colado com um desgraçado...um sujeitinho muito do furreca.
_ Abner, eu não acredito que você está com ciúmes daquela songa monga.
_ Tô sim! Eu tô com ciúmes! Muito ciúmes! Aaaaa que merda!_ Abner afundou o rosto nas mãos.
_ Acho que você não está entendendo uma coisa aqui. Quem tem que ter ciúmes dele é o Júlio, que é marido dele. Você é só um cara gostoso, que ele usa para se aliviar e chamar a atenção do marido.
_ Claro que não! Ele gosta de mim! Ele disse que estava disposto a deixar o marido por mim.
Lorena ergueu a cabeça para gargalhar, com a mão na cintura.
_ Acorda, Abner! Você acha mesmo que Leandro vai deixar aquela vida de rei para ficar com um fodido feito você? Um pé rapado, que não tem onde cair morto?_ Lorena disse em tom de deboche._ Querido, Leandro e Júlio sempre brigam, aí a songa monga faz a ofendida, Júlio dá um presentinho absurdamente caro e ele se arreganha todo para o marido. Sabe o que o Júlio vai dar para ele? Uma BMW modelo deste ano. É isso mesmo, queridinho. Júlio vai dar algo que você nunca poderá dar. Leandro é a prostituta de luxo, que você não pode comprar.
_ Isso não pode ser verdade!
_ Mas, é. Eu vou te mostrar os recibos de compras.
_ Como ele se atreve a tentar conquistar o meu Leandro?!
_ Seu?_ gargalhada._ O seu baseado tava estragado, né? Leandro não é seu e nem de ninguém. Tanto ele quando o Júlio usam o seu corpo. E se você fosse esperto, se dava bem as custas dos dois, mas fez a burrice de se apaixonar pelo pior. Sim, porque Júlio faz tudo que faz na cara. Já Leandro é sonso e dissimulado. Você não é o primeiro amante dele.
_ Isso é mentira sua. No outro dia mesmo você me disse que Leandro só teve a mim e o Júlio.
Lorena ficou séria e sentou na beira da cama.
_ Eu também acreditava nisso, até eu descobri pelo pai da songa monga, que a bicha donzela, não passa de uma puta cretina, que destrói corações. Ele se faz de santo, seduz rapazes com aquele jeitinho doce e depois quebra o coração deles. Leandro está com Júlio por interesse financeiro e com você para se divertir. Os dois gostam dele, mas ele não gosta de ninguém.
"Abner, pelo amor de deus! Ponha essa cabecinha linda no lugar. Você sabe muito bem que esse negócio de se envolver com o casal ao mesmo tempo da merda. Lembra daquela louca, que se matou? Se duvidar o marido dela deve estar atrás de você até hoje."
_ Eu não tive culpa de porra nenhuma! O Franklin era um doente por me pagar para comer a mulher dele. Não sabia foder direito e ficava só assistindo. Resultado, fiz gostoso, ela gamou na minha pica.
_ Aí passou a te perseguir e querer até largar o marido por sua causa. Se matou e o cara quase te matou. Mas, você não se deu por satisfeito de sair vivo dessa furada. Quer morrer de qualquer maneira, tanto que tá todo apaixonadinho pelo marido do seu amante, que por sinal só está te usando.
Abner sentou ao lado dela, retirando o chapéu e jogando no chão.
Lorena o abraçou por trás, beijando o seu pescoço e acariciando os seus cabelos pretos.
_ Eu não quis te magoar te falando essas coisas. Digo porque quero seu bem. Não quero que caia nas armadilhas do Leandro. Agora vamos, antes que os primos começam a nos apressar.
_ Tô sem clima. Não vou a porra de bloco nenhum._ Abner disse, retirando os sapatos e as roupas, ficando só de cueca.
_ Como assim não vai? Não acredito que você vai fazer isso comigo! Porra, Abner!
_ Eu já disse que tô sem clima.
Lorena levantou furiosa.
_ Então vá tomar no cu, otário! Fique aí chorando por causa da mosca morta, que a essa hora está trepando com outro!
_ Lorena, cala a boca!_ Abner gritou. As palavras da moça fazia o seu ciúme aumentar ainda mais.
_ Vá pro inferno, seu idiota! Desgraçado!
Lorena saiu batendo a porta.
Abner deitou com a barriga para cima e as mãos no peito. Olhava para o teto, deixando as lágrimas cairem.
...
Durante os dias de carnaval na casa dos parentes, Abner não fez questão nenhuma em esconder o seu mau humor. Ficava sempre no seu canto, interagindo pouco com os outros e quase sempre não saía. Tudo isso deixava Lorena furiosa. Ela já estava acostumada a ver Abner com outras pessoas, mas era a primeira vez que o via apaixonado.
_ Que cara é essa, Abner? Brigou com a namoradinha?_ perguntou o tio, perto da churrasqueira.
O local estava cheio. Pessoas se espalhavam pelo quintal e na piscina comendo churrasco e tomando cerveja. Nenhum deles sabiam da profissão obscura do moreno, exceto Lorena.
_ Sim, tio. O meu irmão brigou com a namorada, porque descobriu que ela é uma vadia.
Abner a olhou furioso.
_ Cala a boca!
_ Uh, é! Eu nem sabia que Abner tava namorando! Quem é a felizarda, que pelo visto não te merece?_ perguntou uma das tias.
_ Abner faz jus ao sangue da família. Não é de namorar não. Só de passar o rodo. É o meu ídolo._ O tio churrasqueiro respondeu.
Irritado com todo o interrogatório sobre a sua vida amorosa, Abner se retirou, dizendo que iria dar uma volta para espairecer.
Não quis usar a moto e pegou a chave do carro de Lorena sem a sua autorização. O objeto estava dentro de uma das bolsas da mulher.
Andou pela pequena cidade, ouvindo música no último volume.
_ "Ele não vale nada
Fica com todo mundo e diz que é namorada
Só não cola comigo
Porque abri o olho para esse bandido."
Estava muito decepcionado com Leandro. "Como ele pode me usar desse jeito?" "Porra! Nem atender as minhas ligações ele atente. Também, deve tá trepando com outros. Infeliz!"
_ "Para de dizer que fui louca por você
Porque agora tanto faaaaz!
Todo esse tempo não me deu valor
Pegava uma e outra e jurava amor
Acabou a com a minha vidaaaa."
Seu canto foi interrompido com o som do toque do celular. Estacionou para atender. O número era desconhecido, mas decidiu atender cogitando a possibilidade de ser um cliente.
_ Alô.
_ Dimitri? É o Dimitri que está falando?
Abner reconheceu a voz grave e masculina do outro lado da linha, o que o deixou assustado.
_ Quem está falando?
_ Você sabe muito que sou o Franklin. Pensou que eu não ia te achar, desgraçado? Eu sei que você está no Rio. Eu vou acabar com você! Os seus dias estão contados.
Dimitri ficou paralisado por alguns ouvindo o som da ligação sendo desligada.
_ Porraaaaaaaa! Puta que pariu! Porraaaaa!_ gritou bravo, socando o volante.