A melhor parte do treinamento? O boxe. Caralho, eu sou apaixonado pela modalidade. De acordo com o Júnior, o meu personal trainer, o boxe era uma modalidade clandestina que conseguiu evoluir e se tornou um evento olímpico.
Há duas maneiras de escolher um vencedor de uma luta de boxe: pelo número de golpes contabilizados pelos juízes e através do K.O (knock out). Ou seja, você ganha por força bruta ou agilidade. Foda, né? Eu, pelo menos, acho que é.
— Quer dizer que o burguesinho te conquistou? — perguntou Júnior, guardando as luvas de box, após pegar uma surra de mim.
— Vai se foder, caralho. Respeita o meu mino. — esbravejei.
— Eu sou mais bonito e musculoso! — gritou Júnior de dentro do almoxarifado da academia do condomínio.
— Ele é um filezinho, porra. Nunca achei um cara tão gostoso. Desculpa, J, mas esse pedaço de mau caminho já tem dono. — falei, sorrindo e dando um pescotapa em Júnior, que protestou.
— Claro. Quero ver até onde vai o amor. Afinal, você ainda vai ter que trabalhar, né? Garoto de Programa não tem sorte no amor, Stefano. Não viaja. Já vi vários clientes se fodendo por causa de relacionamentos fracassados. — comentou Júnior, pegando a bolsa e a chave do carro.
— Vai agourar a puta da tua mãe.
— Te vejo semana que vem?
— Claro. Vem preparado para outra surra.
Os dias seguiram no marasmo, quer dizer, sexo extremo. Comi o Miguel em todos os lugares do apartamento. Sala, cozinha, quarto, banheiro, varanda e área de serviço. Inclusive, transar com a máquina de lavar ligada é um tesão.
Aproveitamos uma viagem da Nicky e Izzy. Elas foram gravar um pornô no Rio de Janeiro, ou seja, dinheiro extra entrando na casa. Assim pude descansar dos programas, porque a Izzy prometeu pagar os próximos dois aluguéis. Eu estava com dinheiro guardado para qualquer emergência, então, curti o meu gato.
— Você é muito gostoso, Miguel. — disse ofegante, depois de uma sessão colossal de sexo.
— Claro, falou o profissional, né? Eu sou apenas um estagiário. — brincou Miguel, limpando o suor da testa e saindo de cima de mim.
— Você é um ótimo aluno. — afirmei, tirando a camisinha do pau e jogando fora.
Depois do sexo, o Miguel preparou um sanduiche de atum. Fomos para a sala e assistimos um filme romântico, o preferido dele. Até que foi legal, eu não dormi. A história mostrava a saga de um casal que era separado por problemas de saúde. Eles tinham uma boa química.
À noite, o frio apertou. Uma notícia da TV informou que vários moradores de rua estavam sofrendo devido ao clima. Escolhi alguns edredons antigos e deixei na caixa de doações do condomínio. Já passei muito perrengue nessa cidade e não desejo o mesmo para ninguém.
Voltei para o apartamento e encontrei o Miguel com cara de cú. Ele estava nervoso. De início não entendi, mas aparentemente, o Klaus recebeu uma de suas mensagens e pediu um encontro.
— Calma, Garoto Zumbi. Ele não pode te fazer mal. — garanti o abraçando.
— São quase dois meses fugindo do titio. E, parece que ele não tem nada haver com a surra que levei, ou seja, alguém está armando. — deduziu Miguel se aninhando em meus braços.
— Primeiro, você vai marcar em um lugar público. Segundo, vou acompanhar todo o encontro, de longe, mas vigilante. Vamos ficar nos comunicando pelo celular, assim posso ouvir tudo. — eu sugeri, afinal, não queria deixar o Miguel sozinho.
— Você não existe. — Miguel me beijou no rosto e o meu coração acelerou, droga.
Sim, o putão se apaixonou. Só que não é difícil se apaixonar pelo Miguel. Ele é o tipo de cara que agrada todo mundo, principalmente, as velhinhas. No mercado, o Miguel faz sucesso entre a terceira idade.
Finalmente, o momento do encontro em sobrinho e tio chegou. Marcamos em um Shopping movimentado na Avenida Paulista. Comprei um jornal para usar de disfarce, sempre quis fazer isso. O Miguel colocou um dos fones de ouvido bluetooth, do outro lado da praça de alimentação eu fiz a mesma coisa.
— Garoto Zumbi na escuta? — perguntei me sentindo o próprio James Bond.
— Sim. — Miguel respondeu acenando na minha direção.
O Shopping está lotado, por isso, fico mais tranquilo com a possibilidade do Klaus tentar qualquer besteira contra o sobrinho. De repente, o cheiro de um burrito faz o meu estômago roncar.
— Foca, Stefano. O Miguel precisa de ti. — pensei.
Não demora muito e o Klaus chega. Ele está usando um cardigan cinza, muito apropriado para o clima frio de São Paulo. Do nada, o Klaus dá um forte abraço em Miguel que não reage. Coloco o jornal na altura dos olhos, temendo que o Klaus me reconheça.
— Onde você estava? — Klaus perguntou.
— Vai dizer que não sabe? Fiquei fora da área por causa da surra que os seus capangas me deram. — explicou Miguel, ainda de pé na frente do tio.
— Miguel. Eu não mandei ninguém te bater. Eu sei que tivemos nossas diferenças, mas você é a única família que eu tenho. Vamos sentar e me explicar essa história direito. — pediu Klaus, parecendo confuso.
Porra. As conversas paralelas dificultam o meu entendimento da conversa. Em alguns momentos, o áudio falha e preciso me concentrar para entender o contexto.
De maneira calma, Miguel conta para o tio tudo o que viveu no dia em que apanhou de um grupo de seguranças.
— No dia 23, a gente teve uma conversa acalorada, lembra? — questionou Miguel, cruzando os dedos.
— Sim. Eu pedi para você assumir os negócios da família. Desculpa, a maneira como te tratei foi desumana, mas eu tenho demônios internos, Miguel. Assim como você, os meus pais esperaram muito do meu futuro. Pensei que o Gustavo, o seu pai, fosse assumir a dinastia da família, mas... — Klaus parou por um segundo, respirou fundo e continuou. — Eu sinto muito.
— E quem mandou me atacar?
— Eu não sei. Um minuto. — Klaus pegou o celular e analisou uma planilha online. — Miguel, no dia 23 de julho, toda a equipe de segurança estava participando de um evento da Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho. Não havia ninguém na empresa. Posso pedir as imagens das câmeras.
— Isso. O ataque aconteceu por volta das 22h. Eu consegui fugir e consegui abrigo na casa de um conhecido.
Cara, os poderosos são fodas. Com apenas uma ligação, o Klaus conseguiu acesso completo ao sistema de câmeras da joalheria no dia do incidente. Ele tirou um notebook da mochila e Miguel se aproximou para analisar os vídeos.
Para a surpresa dos dois e a minha também, todos os registros das 22h foram apagados do sistema,a empresa responsável pela manutenção dos equipamentos eletrônicos pertencia ao William, ou seja, havia um dedo dele no ataque.
— Tio, o senhor precisa ter cuidado. Eu estou bem. Não posso falar muito sobre o local onde estou. — garantiu Miguel.
— Miguel. — Klaus pegou na mão do sobrinho e acariciou. — Eu jamais te faria mal. Tenho uma revelação para fazer, eu sou gay.
— Sério? — perguntou Miguel, em uma péssima atuação, me fazendo rir. — Eu não desconfiava, tio. Sempre te achei homofóbico.
— Eu fui muito duro com você. Sentia inveja de você, sobrinho. Sempre alegre, lutando pelos seus sonhos, mesmo quando o Gustavo te impedia. Eu te prometo que a pessoa que te agrediu vai pagar. — lágrimas escorreram pelo rosto de Klaus e Miguel o deu um forte abraço.
— Obrigado, tio. Obrigado.
No fim, o Klaus não é um monstro. Apenas vivia com ciúmes do sobrinho. No fim, o Miguel seguiu até uma loja de roupas. Fiquei atrás, esperando para encontrá-lo. O meu Garoto Zumbi se destaca da multidão. Seus cabelos violetas são lindos demais. Antes de viajar, a Izzy deu uma tonalizada nos fios do meu gato.
O abracei por trás. Miguel dá uma estremecida, mas não se afasta. O Shopping é conhecido por ser frequentado pela comunidade LGBTQIA+, então, o que mais tem é casal gay. Aproveito a proximidade para dizer palavras carinhosas. Sim, eu sou um babaca quando estou apaixonado. Inferno!
— O que achou? — ele quis saber minha opinião sobre o tio.
— Pareceu sincero. Só que existe um agravante: alguém quer te matar. — digo, o virando de frente para mim. — Só que eu vou te proteger, bebê.
— Obrigado, Stefano. Você está sendo maravilhoso. — ele me envolveu em um abraço.
— Existem formas divertidas de você me agradecer. — brinquei.
Com uma carinha de safado, o Miguel pega em minha mão e me leva para um dos provadores da loja. Eu não sou muito fã de sexo público, mas o Miguel tem uma boca deliciosa. Eu preciso de um boquete bem gostoso.
Tiro o cinto e baixo a calça até os joelhos. Com uma das mãos, o Miguel punheta o meu pau e passa a língua na glande. Puta que pariu. O meu corpo estremece, e o safado sabe disso. Seguro os cabelos violetas e controle os movimentos.
Uma das qualidades do meu namorado? Ele não usa os dentes, nem por acidente. A boca dele é quente e molhadinha. Tenho vontade de socar tudo, mas o ambiente não é propício para tal. Estamos frenéticos no provador. Olho para o espelho e fico mais excitado.
Seguro o queixo do Miguel e me masturbo com força. Quero que ele engula toda a minha porra. Mordo os lábios para não fazer barulho e gozo dentro da boca do meu putinho, que engole tudo sem cerimônia.
— Olha só, o meu putinho gostoso. — falo, guardando o meu pau na cueca e vestindo a calça.
— Estou feliz. Você me faz feliz. — confessa Miguel limpando a boca e ficando em pé. — Vamos para casa?
— Vamos.
— Deixa eu só arrumar o meu cabelo. Você deixou todo zoado. — reclamou Miguel, olhando para o espelho e passando as mãos nos fios violetas.
Casa. Vamos para casa. Puta merda. Apesar de todas as merdas, a vida começou a ser generosa comigo. Eu só preciso programar os meus próximos passos. A vida de GP já deu para mim. Mas, o que posso fazer? Em que eu sou bom? Eu mal terminei o ensino médio.
Ao sair do provador, damos de cara com o Klaus. Fudeu. Fudeu real. Ele nos olha, confuso. O Miguel fica bege de tanto nervoso. Eu não sei como reagir. O meu namorado e meu cliente, que pela ironia do destino são parentes, se encaram.
— Alejandro? — pergunta Klaus segurando duas sacolas da loja. — Vocês se conhecem?