— Moça, você não está entendendo. Eu preciso entrar. — protestei na entrada da Joalheria Arnault, localizada na Avenida Paulista.
A mulher que me impedia estava nervosa e confusa. Sua expressão era de medo. Ela deveria ter uns 1,50 altura, ou seja, quase eu tinha o dobro do seu tamanho. Ao ser confrontada por mim, ela começou a se perder no próprio discurso. Uma hora falava que os donos estavam em uma reunião, outra que não havia ninguém no prédio.
Realmente, não havia ninguém no interior da Joalheria. Sem clientes, vendedores ou seguranças. Tento passar algumas vezes, porém, a mulher continua me impedindo. Estou perdendo a paciência com essa filha da puta.
— Senhor, estamos fechados. Os donos estão em uma reunião e...
— Com licença. — pedi a tirando do caminho, uma das coisas mais fáceis que já fiz na vida.
— Ei, eu vou chamar a polícia! — ela gritou, mas eu sabia que era um blefe de sua parte.
Segui para o interior da Joalheria. A mulher ficou para trás, talvez temendo alguma coisa, mas eu ainda não sabia o motivo. Que lugar grande da porra. Sala e mais salas. O Miguel não está em lugar nenhum. O meu coração fica acelerado. Até que chego em uma porta de vidro. Para a minha surpresa, encontro Miguel e Klaus amordaçados. Eles estão presos em duas cadeiras. Pés e mãos atados.
No impulso, eu entro e tento desamarrar o Miguel. Ele tenta me dizer alguma coisa, mas sua boca está tapada com um pano. De repente, eu apago. Porra. Como eu caí neste plano? Devo ficar desacordado por alguns minutos, mas tempo o suficiente para ser amarrado também. Escuto os protestos de Miguel. O choro de Klaus. A minha cabeça está ardendo.
— Acorda, gigolo! — William me dá um tapa no rosto e me traz de volta.
— Que porra está acontecendo? — questiono, tentando me movimentar, porém, percebendo que estou amarrado.
— Cala boca, idiota! Cala boca! Isso é tudo culpa sua. — recebo outro tapa no rosto e um ódio sobe dentro de mim.
Estou com cara de cú. Como a culpa é minha? Eu não fiz nada para o William, mas deveria ter dado uma surra nesse filho da puta quando tive a oportunidade. Do meu lado, Miguel e Klaus parecem desesperados. O Klaus, aparentemente, apanhou. Já o Miguel está apenas assustado.
— O que você quer? — perguntei, tentando me soltar das amarras.
— O que eu quero? Eu quero poder. Eu quero dinheiro. Eu ia conseguir tudo isso. Se você não tivesse salvo o Miguel daquele ataque. Filho da puta. — dando um soco no meu rosto
— Hum! — Miguel protestou se mexendo loucamente na cadeira.
Caralho. Essa doeu. Eu preciso me livrar. Eu preciso salvar o Miguel. Ele não é forte o suficiente para enfrentar essa situação. Outro soco. Dessa vez, eu fico zonzo, mas a dor é o de menos. O William continua seu discurso. Ele está possesso com a família Arnault.
— E qual é o seu plano, William. Nos matar? — perguntei de maneira irônica.
— Claro. — William disparou para o nosso desespero. — Eu tenho todas as mensagens que você trocou com o Klaus. Ou esqueceram que eu sou hacker? — rindo e jogando os cabelos para trás. — Já estou vendo as notícias , — erguendo as mãos. — Garoto de Programa mata família Arnault.
— Você está louco? — dessa vez, a voz falhou e tentei, mais uma vez, me livrar das amarras.
— Não. Louco eu fiquei no dia que matei os pais de Miguel. — William soltou como se essa informação fosse a coisa mais normal do mundo.
Os olhos de Miguel ficaram marejados. Caralho. Eu preciso me soltar. Eu preciso revidar. Pensa, Stefano. Você não pode deixar o William ganhar. Sabe Deus o que ele pode fazer. De repente, o filho da puta do William sai da sala e tenho a oportunidade de criar um plano.
— Miguel. Eu vou tirar a gente daqui. — avisei para tentar acalmá-lo.
Sinto alguma coisa pontiaguda no meu bolso, então, lembro da tesoura que roube das mãos de Izzy. Na pressa, acabei colocando a tesoura no bolso e esqueci. Caralho, como eu sou tão sortudo? Com muita dificuldade, pego a tesoura e tento cortar a fita que o William amarrou nos meus pulsos.
Droga, câimbra. Eu não posso parar. O rosto de Miguel me dá forças. Aos poucos, sinto as amarras se soltando. Chupa, William. Consigo liberar meus braços e uso a tesoura para cortar as fitas dos meus pés. Na hora, o crápula aparece e a minha única reação é voltar para a posição de antes, com os pés e mãos juntos.
Para o desespero de todos, o William volta com um galão de gasolina. Realmente, ele quer nos matar. E a pior parte? Me incriminar por todos os seus crimes. Em quem você acha que a sociedade vai acreditar? No Garoto de Programa ou no empresário de sucesso? Puta que pariu.
Aproveito a distração do William que joga gasolina em todo o escritório e pego o celular. Coloco no gravador. Eu não vou me ferrar.
— Já que você vai destruir as nossas vidas, pode dizer o motivo desta loucura? Dinheiro e poder não são os seus motivos reais. — comentei, no intuito de tirar alguma informação importante do maluco.
— A família Arnoult acabou com os negócios do meu pai. — explicou, parando de jogar gasolina no chão e olhando para nós. — Primeiro, me infiltrei na família. Ganhar a confiança do Miguel foi fichinha. Nem precisei foder com ele. Depois, estudei e me tornei o técnico de TI da joalheria. A partir de então, comecei a jogar uns contra os outros. Eles eram meus brinquedos. Tapear o Klaus foi a coisa mais fácil do mundo e ainda gerei documentos contra ele. Enfim, eu ganhei.
Aparentemente, o vilão da história esqueceu algo para iniciar o incêndio e usei o tempo para liberar o Miguel. Ele estava desesperado e pediu para que eu saísse de lá. Libertei seus pés e suas mãos. Só que a paz não durou muito tempo. O William correu na minha direção e me atacou com toda força. O desgraçado era forte e tentou aplicar vários golpes.
Na confusão, o Miguel pegou a tesoura e liberou o tio. Diferente de nós, o Klaus estava fraco e não conseguia andar sozinho. O William me jogou contra uma mesa e pulou em cima de mim. Com os pés, o empurrei e ele ficou no chão gritando de dor. Pedi para o Miguel levar o tio para um lugar seguro, chamar a polícia e entreguei o meu celular.
— Vai! — gritei.
— Cuidado, por favor. — pediu Miguel levando o tio.
Puta que pariu. O cheiro de gasolina estava impregnado minhas roupas. O William levantou e partiu pra cima. Um soco. Dois soco. Três socos. Obrigado, aulas de boxe. O Júnior ficaria orgulhoso da surra que eu dei no escroto do William. Usei uma violência extra, porque não havia ninguém na área.
Um dos socos derrubou o William. Ele saiu se arrastando pelo chão. Andei, calmamente, e puxei os seus cabelos. Ele protestou, mas fui mais forte e o levantei pelos cabelos. Não podia deixar todos os seus pecados impunes. O filho da puta matou os pais de Miguel. Tentou destruir seu sustento.
O seguro pelo colarinho. Sua camisa azul está coberta de sangue. Eu dou outra sequência de socos. Do nada, o Miguel grita o meu nome, então, jogo o William no chão. Ando em sua direção. Ele está com lágrimas nos olhos. Eu só quero que esse pesadelo acabe. O meu namorado não merece passar por uma situação tão pavorosa.
— Você está bem? — ele perguntou ao me abraçar.
— Sim. Cadê o Klaus?
— O deixei na loja. Já chamamos a polícia. Vou entregar as provas, o William vai pagar. — avisou Miguel me abraçando.
— Eu vou ser pego? Vocês não entenderam que eu não vou para a cadeia? — questionou William cuspindo sangue no chão e tirando uma caixa de fósforo do bolso.
— Cara, não faz isso. — eu peço, então, percebo as minhas roupas que estão com gasolina.
— William, por favor. — Miguel tentou se aproximar, mas eu o puxei. — William, pensa. Você pode sair dessa. Eu te arrumo advogados, bons advogados.
— Acabou, Miguel. Eu só lamento uma coisa. Eu lamento não ter te matado junto com os teus pais. — acendendo o fósforo e jogando no chão.
O fogo começa a se alastrar rapidamente. Quase fomos acertados por uma labareda. Descemos correndo e encontramos o Klaus desmaiado no chão. Agoniado, o pego no colo e o levo para a área externa que está cheia de curiosos. A fumaça toma conta do andar superior. Não demora muito e a polícia chega. Eles pedem reforço do Corpo de Bombeiros.
Finalmente, o pesadelo terminou. Eu só queria voltar para casa com o Miguel. Só queria nossa vida de volta. Como as coisas podem mudar tanto em poucos dias. A Izzy está destroçada. A Nicky se sente culpada. O Miguel descobriu o culpado pela morte de seus pais. Dias atrás, estávamos na praia. Dias atrás, estávamos felizes. Será que esses dias vão retornar?