Por mais que estivesse em uma fase de encantamento e, quem sabe, paixão com Leticia, aquela súbita notícia da gravidez me aborreceu ainda dentro do carro, pois era certo de que agora o elo entre eles ficaria mais forte. Sem contar que com um irmãozinho ou irmãzinha, Andressa ficaria tão apegada que era capaz de ficar cada vez mais distante de mim, não deixar de gostar, claro que não, nosso laço já era forte demais, mas as coisas mudariam e aí os 4 (Adriana, Alexandre, Andressa e o bebê) formariam uma linda família, viajando juntos, fazendo passeios etc.
Como citei, meu romance com Letícia ia evoluindo bem, mas eu temia que de uma hora para outra, ela pudesse querer terminar, não sou um cara inseguro, mas naquele momento, meu receio de ficar sozinho, acordou meus velhos fantasmas obscuros que tanto me atormentaram no ano anterior.
Estava me preparando para o banho, com a cabeça bem quente, enquanto Andressa comia um lanche que eu preparara pouco antes, nesse momento Leticia chegou e minha filha já foi contanto a novidade. Pensei “PQP! Terei que disfarçar bem porque se Leticia notar que a gravidez da Adriana me chateou, o caldo vai entornar”. Tomei um longo banho e fiquei ensaiando uma resposta rápida que demonstrasse que pouco me importei.
Quando saí, as duas estavam vendo TV, mas logo Leticia subiu e curiosa questionou:
-A Andressa falou que a Adriana está grávida. É verdade?
Fingindo escolher uma camiseta no closet, respondi.
-É... Ela falou isso para mim no carro, mas como não conversei com os avós dela hoje, não sei se é verdade. A Adriana disse por alto há um tempo que queria ter um filho com ele, pelo visto conseguiu.
Leticia ficou um tempo pensativa sentada na cama, mas tratei de encerrar o assunto:
-O que me importa agora é você e minha filha. A Adriana que vá ser feliz com suas escolhas.
Fomos os três jantar fora e quando voltamos, já com Andressa dormindo, Leticia e eu tivemos uma boa transa, claro que ela segurando os gritos e palavrões, mas ainda sim, muito boa e me deixando em meu corpo seu perfume natural que eu tanto gosto. Senti que apesar de ter gozado, ela estava com cara de preocupada.
Acordei no meio da madrugada com uma baita sede e ao chegar à cozinha, tive um estalo assustador. “Será que minha transa em janeiro com Adriana, pode ter... Não, nada a ver, já tínhamos passado um pouco da metade de abril e se a criança tivesse sido gerada no começo de janeiro, lá para o meio de março, ela teria revelado ou até antes”.
Impressionante como tudo mudou na minha cabeça, poucas horas antes estava muito chateado porque Adriana teria um filho com Alexandre, tanto que nem me toquei que ainda que remotamente, havia uma pequena chance de eu ser o pai, porém agora eu queria com todas as forças que o filho fosse dele, pois se fosse meu, perderia Leticia e minha situação com Adriana se embaralharia de um modo imprevisível.
Não consegui dormir direito e entendi por que Leticia tinha ficado um tanto calada a noite toda, ela pescou a possibilidade antes de mim, pois eu contei a ela sobre minha transa com Adriana em janeiro, na chácara. Decidi tirar a prova no dia seguinte, não deixaria essa nuvem na minha cabeça por muito tempo e resolvi ligar cedo para Adriana, bancando o gentil:
-É verdade mesmo que o que Andressa falou? Você está grávida?
-Sim! Estou. Alexandre e eu estávamos tentando desde o ano passado, mas agora deu certo.
-Bacana! Parabéns! E de quantas semanas você está?
-Oito.
Fiz uma conta rápida e pensei “Passamos da metade de abril, esse filho foi gerado lá pela metade de fevereiro. Sem chance de ser no comecinho de janeiro, não é meu!”.
-Desejo sinceramente uma boa gravidez e muita saúde à criança.
Adriana ficou surpresa com minha boa receptividade e me agradeceu bastante. Quando desliguei o celular, senti que tinha tirado um peso de 500 toneladas das costas.
Tive que acordar Leticia para dar a boa nova e na mesma hora ela sorriu e depois me disse:
-Você não sabe o medo que senti de que esse filho fosse seu e ela conseguisse fazer você voltar para ela.
-Isso é algo fora de questão. Meu medo não foi pensar que teria que voltar com ela, mas que isso me faria te perder, logo agora que as coisas estão engrenando.
Ficamos um bom tempo deitados, abraçados e aliviados. Depois, fomos nos preparar para um sábado divertido com Andressa.
Confissões e fantasias sexuais
Após a viagem que fizemos em fevereiro para o Ceará, lembro-me que ficamos mais desenvoltos para falar sobre fantasias e experiências e uma noite, creio que em março, começamos a fazer um jogo de perguntas, eu comecei questionando:
-Você já teve a experiência ou fantasia transar com dois homens?
-Nunca fiz. Há alguns anos, eu cheguei imaginar como seria, ficava vendo os filmes que o cretino do Mauro colocava, me imaginava no lugar da atriz e ficava curiosa, mas não encararia, porque gosto de focar no cara que estou transando. E você já teve a experiência ou fantasia ter de transar com duas mulheres?
- Já, uma vez apenas, antes de conhecer a Adriana, coisa de universitário, só que para minha decepção não rolou nada entre elas, só transaram mesmo comigo, sem se tocarem. Mesmo assim, foi gostoso.
-Hum! E você gostaria de ver as duas transando mesmo se pegando, se chupando na sua frente?
-Porra! Não só eu, mas muitos homens. Ver duas mulheres ali e depois entrar no meio e transar com as elas, ia ser o máximo. Agora, me fala qual a maior loucura que você já fez?
-Ah! Não! Morro de vergonha.
-Conta aí, Leticia, que bobeira não vou te julgar, prometo.
-Tá bom! Tem meio a ver com a sua fantasia aí. Quando trabalhei uns tempos como modelo, fiquei duas vezes com uma garota que também era modelo, a diferença é que não tinha nenhum cara no meio, só nós duas.
Fiquei surpreso e excitado. Perguntei como que começou a rolar:
-Ela era bi, mas super feminina e uma noite após uma festa, ficamos juntas e ela começou a me beijar, fui deixando me levar e nossa! A garota sabia chupar bem demais, não ganha do meu boquinha safada aqui, mas olha, era show. Já eu, devo ter sido uma negação, pois mesmo já estando alegrinha porque tinha tomado umas, sei lá, chupar boceta para mim hummm é meio complicado, não me dá tesão, acabei só passando a mão, brincando com os dedos e ela gozou. Depois rolou outra vez, porém a garota começou a querer sempre, e eu disse que gostava mesmo é de homem. Depois, nunca mais, mas foi bom não nego, só que foi uma coisa de matar a curiosidade e pronto.
-Eu queria ter visto essa transa - disse brincado.
Ela riu e respondeu:
-Quem sabe um dia aparece uma linda e a gente faz a três, mas tem que ser uma bonita e muito cheirosa.
Fiquei um pouco surpreso e dei corda:
-Mas você está falando de nos tornarmos liberais, tipo fazer swing e ménage?
-Não! Mesmo respeitando quem faça, não é minha praia, já pensou, eu transar com um monte de caras e ver você com um monte de mulheres, nem ferrando, sou ciumenta e não curto ficar trocando de cara assim como quem troca de roupa. O que eu falei é que para atender esse desejo seu, eu toparia a gente ir para cama com uma garota, claro, eu querendo também, mas seria coisa de uma vez só, depois não veríamos mais a mulher.
-Você já me basta, Leticia, não quero que faça algo só para me agradar. Para falar a verdade, também não conseguiria viver como um casal liberal.
-Tá, mas se um dia surgir a oportunidade de irmos para a cama com uma mulher, eu vou e quero ver sua reação.
-Quem sabe, um dia.
Confusão com Alexandre
As semanas seguintes foram de calmaria. Leticia retomou um antigo hooby que começara na adolescência, o da pintura, mas que Mantovani a havia desmotivado. Seguíamos cada vez mais próximos e a essa altura não dava mais para negar que eu sentia algo especial por ela. Quanto a Adriana, por ter muita moral na empresa em que trabalhava, conseguiu tirar uma espécie de Ano Sabático, mas para passar a gravidez com tranquilidade, já que na primeira, trabalhou até o oitavo mês. Porém, inquieta, aproveitou a pausa também para se fixar no desenvolvimento de um projeto ligado à segurança de tecnologia que há tempos ela queria fazer, mas faltava-lhe tempo.
Lá pelo final de maio, começo de junho, notei sua barriga, ela estava muito bonita, assim como quando estava esperando Andressa. Pelo fato de Alexandre estar viajando constantemente a trabalho, ela optava por ficar na casa dos pais nesses dias. Eu a tratava bem e parecia que estávamos seguindo em frente, ainda que não a tivesse perdoado pela traição em nossa cama.
Numa das vezes em que fui levar Andressa à casa dos avós, fiquei conversando com meu ex-sogro e com Adriana brevemente na varanda. Ele estava tirando um sarro de mim porque meu time perdera para o dele, eu dizendo que tinha sido roubado e Adriana rindo. A casa dele era aquela das antigas, com uma gostosa varanda virada para a rua e alguns degraus para descer quando fosse para o portão. Já ia me preparando para sair, quando vejo Alexandre chegando, provavelmente para buscar Adriana e Andressa (aos poucos, minha filha estava aceitando ficar com eles). Despedi-me de todos e ele ficou na calçada estancado como um dois de paus me olhando, não queria entrar enquanto eu estivesse lá. A impressão que tive é de que ele não gostou de voltar de viagem e me ver ali numa conversa divertida com meu ex-sogro e com Adriana. Passei pelo portão e Alexandre continuou me olhando, entrei no carro e ele seguiu com o mesmo gesto. Decidi encará-lo também, enquanto colocava o cinto e o cara ali me olhando, até que perdi a cabeça, soltei o cinto com força, abri a porta com tudo e disse:
-Tá olhado o quê, filho de uma puta? Tá me olhando o quê, seu merda?
Fui em direção a ele, que abriu os braços como finge que não está entendendo a minha reação e falou baixo:
-Vamos conversar...
Não sou de briga, mas cego de ódio daquele cara, lembrei-me do olhar debochado dele no maldito dia em que fui levar flores a Adriana e também da transa dos dois na nossa cama, e sem pensar, nas consequências lhe dei um violento pontapé de lado na perna que o fez se desequilibrar e cair de lado de maneira até patética. Do momento em que sai do carro berrando, até o começo da briga, Adriana começou a gritar para que parasse, meu ex-sogro saiu correndo da varanda para vir tentar separar e, coitado, quase caiu ao enroscar o chinelo no portão. Já minha ex-sogra segurou Andressa do lado de dentro para não ver a cena. Alexandre se levantou rapidamente e nos atracamos, pelo jeito ele também não era muito de briga, então ficamos como aqueles garotos que brigam na porta de escola, mas o que mais rola é um tentando dar uma gravata no outro, e meu ex-sogro tentando apartar. Num dado momento, nos separamos e ele me deu um soco forte no peito quase no pescoço. Fui para cima dele imprensando-o contra o meu carro, ficamos ali,um segurando os braços do outro, até que lhe dei uma cabeçada forte no rosto. No mesmo momento, quatro homens de um bar ali próximo, ouvindo a gritaria chegaram e nos separaram.
Dois caras me puxaram para o outro lado da rua, naquela conversa típica do “deixa disso”. Enquanto isso, vi Adriana, muito nervosa e meu ex-sogro, tentando ajudar Alexandre estava com o nariz sangrando e erguendo a cabeça, outros dois caras olhavam. Seu nariz não quebrou, mas seu sangue deu uma bela respingada na calçada e em suas roupas. Quando, eles finalmente entraram, fui embora.
Não me arrependi de ter confrontado o filho da puta, mas me senti muito mal pelo nervosismo que fiz meu ex-sogro e Adriana grávida passarem. Ainda fiquei uns dois dias com uma leve dor no peito, e mesmo tendo resgatado um pouco de minha moral interna, imaginei que passado o susto, era capaz de Adriana ainda se sentir lisonjeada por ver dois homens “brigando” por ela.
Tratei de me desculpar com meu sogro ao telefone e depois liguei para Adriana, que como era de se esperar, estava cuspindo abelhas africanas e fez um longo discurso dizendo que foi um papelão armado por mim. A interrompi num dado momento e disse:
-Eu me arrependo de ter feito isso na frente da casa dos seus pais e também pelo fato de você, grávida, ter visto, por isso peço desculpas, mas acho bom apenas acertarmos de nesse pega e traz a Andressa, eu não me encontrar com ele. Esse cara debochou de mim aquela vez em que fui te levar flores no trabalho e agora ficou me encarando como se eu fosse ter medo, deu no que deu...
-Você tem aprender a superar o que passou. Logo vem outro aniversário da Andressa e como faremos? Você com a Leticia ou outra namoradinha que estiver e eu com o Alexandre, temos que entrar em um acordo, não precisam ser amigos, mas se respeitarem.
Senti certa ironia dela, ao dizer “aprender a superar” e também “Leticia ou outra namoradinha”, meio que querendo dizer que Leticia era só um passatempo meu, porém não deixei passar sem resposta.
-Superar, eu já superei, o problema é que ele é safado, pilantra e dissimulado, age sorrateiramente. Quanto a essa história de namoradinha, não tem nada de outra namoradinha, anota aí, estou muito bem com a Leticia.
Encerrei a conversa e fui tratar de trabalhar.
Tentei esconder de Leticia, a briga que tive com Alexandre, mas não adiantou, em sua inocência, milha filha na primeira vez que a viu contou:
-O meu pai machucou o nariz do Alexandre e saiu um montão de sangue.
Na mesma hora, Leticia olhou para mim com surpresa e com um olhar que era de cortar. Não tardou para me chamar para uma conversa no quarto, longe de Andressa. Como um garoto que faz coisa errada e vai levar um esfrega da mãe, me sentei na beirada da cama cabisbaixo, enquanto Leticia ficou em pé de braços cruzados, me fitando brava. Contei detalhadamente a ela, a provocação que ele me fez e também o episódio das flores e disse que perdi a cabeça.
Leticia ficou muito chateada e acabamos tendo nossa primeira discussão, pois ela disse que a minha atitude deixava claro que eu ainda tinha sentimentos fortes pela Adriana e que saber que ela estava grávida do Alexandre me deixou com ciúmes. Acabei me irritando, também, pois queria que Leticia entendesse que eu pretendia seguir em frente com ela, mas não dava para ficar fazendo papel de otário, mais do que já tinha feito no passado.
Não teve jeito, Leticia disse que precisaria pensar, mas que por ora deveríamos dar um tempo. E assim eu vi aquela linda e alta mulher saindo do meu quarto enxugando uma lágrima e descendo para se despedir de Andressa. Desabei no sofá, não poderia ficar bravo com minha filha, ela não tinha feito por mal, a culpa de tudo era minha e do meu comportamento impulsivo.
Fiquei mal demais naquela noite, prostrado no sofá com a TV ligada sem ter a mínima ideia do que estava passando, só pensando no tamanho da merda que fiz. Eu já sabia que sentia algo por Leticia, mas não imaginei que ficaria tão chateado. Fiquei horas ali imaginando que agora livre, não tardaria a arrumar um cara bem melhor do que eu e infinitamente melhor do que Mantovani, ou ela poderia simplesmente sair com as amigas e começar a curtir a vida sem nada fixo.
Devo ter pegado no sono no sofá mesmo lá pelas 3h, mas pouco mais de uma hora depois, acordei com o celular tocando. O coração veio à boca, pois àquela hora, se não fosse trote, só poderia ser notícia ruim, primeiro me veio Andressa à cabeça, mas aí me lembrei que ela estava comigo, dormindo lá em cima, então pensei em alguém da família e comecei a procurar o celular que em meio a tanta agitação eu nem sabia o que era.
Agradeço aos que puderem comentar sobre o que acharam. Em breve, volto com a próxima parte.