Estava no táxi voltando do aeroporto. Me sentia outra pessoa, depois de tantas paisagens, tantos lugares e tantas experiências.
Tinha sido bom ficar afastado da minha vida esses dois meses. Na cama a noite, é claro, lembrava do calor do corpo de Luiz colado no meu, quando ficávamos de conchinha. Do pau dele buscando meu cuzinho, da respiração no meu pescoço. Nesses dias, só conseguia sossegar depois de me masturbar. Mas era só gozar, que reafirmava minha resolução de deixar essa vida de sexo de lado e voltar ao Dan antigo.
Era um domingo, eu ia olhando as paisagens conhecidas do meu bairro e sentia um misto de satisfação e aperto no peito.
A aula já tinha começado há uma semana, mas com certeza não me faria falta visto que praticamente não temos matéria nova na primeira semana, só uma revisão.
Cheguei em casa, já sabia que meus pais não estavam. Eles haviam me avisado em ligação na semana anterior, que estariam essa semana e metade da próxima fora a trabalho.
No outro dia cedo, cheguei a escola e ao ir pra sala indicada constatei que minha turma era praticamente a mesma do ano anterior. O pessoal fez um pouco de festa com minha chegada, mesmo o professor já iniciando a aula, e fui me sentar no lugar de sempre.
No intervalo, algumas pessoas vieram falar comigo, perguntar da viagem e tal. Assim que o pessoal dispersou, fui até a cantina comprar um lanche e percebi alguém andando e vindo ao meu lado. Virei e vi que era Lucas.
- Acho que eu fui uma má influencia hein? Já começou o ano matando uma semana de aula – ele falou me zoando e dando seu tradicional soquinho no ombro. Abri um sorriso, tinha sentido falta até disso nele.
- Foi só agora, o nerd voltou com força total, esse ano tem vestibular aí.
- Putz, nem me fala isso.
- é, estamos ficando velhos – falei já parado na cantina, esperando fazer meu pedido – por falar nisso, próxima semana é meu aniversário. Meus pais tinham falado de fazer uma festa, está convidado.
- eita é mesmo?
- Sim, você e mais a galera da sala...se não vou ter que aguentar só meus parentes mais velhos e funcionários dos meus pais – falei rindo.
- Pois pode contar comigo, não dispenso uma festa, ainda mais sua.
Fiz o pedido, ele também e fomos pra um banco mais isolado. Depois de um tempo criei coragem e perguntei:
- E como o Luiz está?- Falei e Lucas se virou abrindo um sorriso.
- Olha, difícil definir como ele está, mas posso dizer que vai ficar feliz que você voltou e que ainda perguntou dele.
- Por que? Aconteceu alguma coisa com ele?
- Acho que só sentiu sua falta, nunca vi o coroa assim.
- Eu lamento saber, mesmo. Eu falei pra ele não ficar culpado aquele último dia saímos pra jantar, não queria fazer mal pra ele mesmo, desculpe.
- Hey, relaxa, Dan. Você não fez mal nenhum. Mas ele vai gostar de saber de você.
Naquela hora o sinal tocou e voltamos pra sala. Fiquei um pouco triste com o que Lucas falou do Luiz ter ficado mal esse tempo. Ele tinha sido ótimo pra mim e desejava mesmo a felicidade dele.
Acabei de me inteirar aquele dia do que tinha rolado na semana anterior e vi que realmente não tinha perdido praticamente nada.
A noite estava em casa, deitado no sofá da sala depois do banho e escutei a campainha tocar. Achei estranho alguém chamar aquela hora da noite.
Aproximei do portão e perguntei quem era, meio assustado. A voz que respondeu me fez congelar por um momento de surpresa e ao mesmo esquentou meu peito de um jeito inesperado pela satisfação.
Abri e ali estava Luiz, vestindo uma calça jeans, camiseta vermelha e com um sorriso assim que me viu.
- Luiz, que surpresa – falei e não resisti me jogar em cima dele em um abraço. Nem tinha percebido quanto tinha sentido falta dele. Ele passou os braços em volta de mim, meio surpreso com minha reação, mas evidentemente satisfeito com ela.
- O Lucas me contou, não aguentei esperar mais tempo pra vir te ver.
Puxei ele pela mão e fomos andando pra dentro de casa conversando animados. Nem parecia que tinha ficado mais de dois meses sem vÊ-lo.
Ele perguntou tudo da viagem, interessado e eu fui contando os lugares que passei e as coisas diferentes que vi.
- Que bom que voltou, fiquei morrendo de medo de se apaixonar por um americano lá e não voltar mais – ele falou tentando parecer descontraído, mas percebi uma certa melancolia.
- E você como tá hein? – falei pegando a mão dele, que passou a dele por cima.
- Agora estou ótimo
As horas voaram que nem vi passar. Quando Luiz olhou no relógio e viu que já eram 23h, falou que ia embora pra me deixar dormir, mas pediu pra eu jantar com ele na noite seguinte e concordei.
Só Quando estávamos saindo até o portão, ele foi lembrar de perguntar onde estavam meus pais e contei que estavam viajando até o meio da semana seguinte.
- Aqui, semana que vem meu aniversário, vai ter uma festinha, você tá convidado – falei após dar um abraço de despedida em Luiz.
- O Lucas me falou, mas eu não quero invadir... você deve estar com seus amigos, parentes...
- Eu quero que você venha, é uma pessoa importante pra mim – falei e Luiz se iluminou vindo me abraçar de novo antes de ir embora.
A semana passou tranquila com pouca matéria nova na escola e muitas saídas com Luiz pra jantar, cinema, passeios.
Na semana seguinte a casa já estava cheia, quando Luiz chegou junto com Lucas. Ele estava lindo com uma camisa de botão branca, calça preta mais justa e aquele sorriso bonito ao me ver. Além disso, na hora me abraçou, senti o perfume gostoso dele.
Luiz me entregou uma sacola com presente, fui pra dentro guardar e ele veio atrás. Abri e vi que era um boneco de coleção que eu tinha comentado com ele. Levantei os olhos satisfeito, olhando Luiz e aposto que ele também se lembrou na mesma hora de como eu tinha comentado desse boneco que eu tinha visto no shopping: nós dois deitados abraçados na cama, quase cochilando depois de transar a noite quase toda. Fiquei impressionado dele lembrar. Não resisti dar um abraço apertado antes de guardar o presente e voltarmos pra festa.
A noite transcorreu tranquila, aproveitei bastante e até apresentei Luiz pros meus pais, finalmente. Ele parece ficou satisfeito de conhecÊ-los e logo caiu na graça deles.
As vezes via Luiz de longe e sentia um calor subindo pelo abdômen até meu peito. Principalmente quando ele parecia adivinhar que eu estava olhando e se virava pra mim.
Fui dormir aquela noite com uma sensação leve no peito. Segunda-feira estava voltando pra casa andando, e quando cheguei em casa reconheci o carro de Luiz na frente.
Ele estava muito gato, todo de social e me convidou pra almoçar. Ele perguntou se eu tinha programa pro fim de semana e se meus pais deixariam eu fazer uma pequena viagem.
- Deixam, claro, mas viagem pra onde?
- Um amigo me emprestou o chalé dele na serra, tem umas cachoeiras, trilhas...anima?
- Luiz, parece ótimo, mas...não sei se seria bacana – falei hesitando
- VocÊ ainda não me desculpou né? – Luiz falou meio sentido
- Não é questão de desculpar...é que realmente continuo com a minha resolução, nem fiz nada esse tempo todo
- Nem eu
- Nem com aquele carinha? – falei antes que pensasse em me refrear
- Não, Dan. Só fiz aquela besteira aquela vez e você não tem ideia quanto me culpei e martirizei esse tempo todo.
- Não precisa, não quero isso pra você, é só que não é quem eu era, como disse
- Mas a vida é isso bebe, evoluir, talvez você não seja mais mesmo quem era e isso é bom.
- Não sei – falei meio confuso e Luiz pegou minha mão em cima da mesa.
- Dá mais uma chance pra gente, dessa vez vou fazer tudo certo, quero namorar você, não é só uma foda. Quando você disse que estava viajando, confundindo as coisas, eu disse que não estava nada. sempre foi mais que só uma foda.
- Eu vou pensar tá, te confirmo se vou até amanhã.
- Por hora está ótimo – Luiz falou abrindo um sorriso e voltamos a comer e conversar sobre outras coisas.