Desesperado diante do que acabara de ouvir, perguntei:
-Mas o que ocorreu ?! Eu a vi ainda hoje pela manhã!!
-Ninguém sabe, os vizinhos ouviram uma briga dela com o Alexandre, acho que ele estava reclamando porque ela demorou, mas isso foi uma duas da tarde e às seis, ele voltou para casa e viu a Marianne desacordada.
Corri para o hospital para entender melhor o que tinha sido tudo aquilo. Quando cheguei à entrada de emergência, vi minha irmã mais velha com o seu agora marido, August, minha mãe, meu pai e Gleice. Alexandre estava lá para dentro. Quando me viram, todos me olharam como se tivessem visto um fantasma. Meu cunhado veio ao meu encontro, já me puxando para fora e dizendo:
-É melhor você sumir daqui ou as coisas sem complicarão ainda mais!
-Sumir? Como assim?
-Cara, não sei como te dizer, a Marianne está muito mal, engoliu uma penca de remédios de tudo que é tipo, produtos de limpeza e acho que até veneno. Pior que deixou uma carta, dizendo que te ama. O Alexandre tá surtado dizendo que você matou a mulher dele e que vai te matar.
Foi como se eu tivesse sentido um paulada na cabeça. Imaginei que um dia minha família poderia descobrir tudo ou porque nos flagraram ou porque algum conhecido viu, mas nunca dessa maneira trágica. De toda forma, eu era a última pessoa que poderia virar as costas e ir embora daquele hospital, por isso mesmo agradecendo, August, disse-lhe que queria saber informações e ver se seria possível ajuda-la.
Voltei para dentro e a primeira coisa que ouvi, foi minha mãe chorando:
-Filho, não acredito que você pôde fazer isso.
-Eu não tenho caso com a Marianne, mãe, o que ocorreu foi anos atrás quando eu morava aqui, mas isso eu explico outra hora.
Meu pai, o velho canalha, que ao contrário dos outros não aparentava a menor preocupação, tanto que rodava o molho de chaves do carro calmamente na mão, falou alto:
-É mentira desse safado. Hoje! Hoje! Eu vi os dois juntos numa lanchonete e ele estava dando beijinhos na mão dela. Vai ver que iludiu a coitada da moça dizendo que iria leva-la para São Paulo, ter uma vida boa, aí depois que fez o que fez, despachou a cunhada. Isso já deve vir desde muito tempo, isso é lobo em pele de cordeiro, nunca me enganou.
Minhas irmãs me olhavam não com cara de raiva, mas de decepção. Nesse momento, Alexandre voltou de dentro da UTI chorando e ao me ver gritou:
-Taí o desgraçado que matou minha mulher!
Ele veio com tudo para cima de mim e me desferiu um soco violento no queixo e mais uns dois no peito. Nem pensei ou tive tempo de reagir, acabei caindo e levei um chute forte nas costelas. Por sorte o segurança da portaria e August o seguraram. Levantei-me sentindo muitas dores, especialmente pelo chute e disse:
-Não vou sair daqui até saber o que ocorreu! Na hora certa, contarei a verdade, mas agora quero saber sobre Marianne.
Seguro pelos dois, Alexandre disse:
-Ela contou numa carta, seu invejoso de merda, se aproveitou de um momento de carência dela para bancar o pé de pano (amante na gíria de minha cidade), mas eu vou te matar, te capar!
Eu não acreditei que Marianne tivesse colocado coisas que não ocorreram, por isso, queria saber o conteúdo da carta, mas primeiro precisava saber de seu estado. Finalmente, pude ouvir Alexandre dizendo para a família que tinham feito uma lavagem estomacal além de outros procedimentos, ela estava cheia de tubos como ele descreveu e respirando com a ajuda de aparelhos. O médico disse que as próximas horas seriam cruciais.
Minha irmã Gleice me chamou lá fora e disse:
-Custo acreditar que vocês eram amantes. Diego, você sempre foi o mais centrado, se envolver com a própria cunhada?
-Gleice, te contarei tudo com mais calma no momento certo, mas só para antecipar os fatos, eu errei sim e me cobro sempre, a Marianne começou a se insinuar para mim ainda antes de ir morar com o Alexandre, resisti por um bom tempo, houve uma festa de fim de ano que fomos numa chácara, você vai se lembrar, ela tentou de tudo para ficar comigo e me esquivei. Depois insistiu e um dia foi até meu quartinho e acabei me envolvendo com ela. Tempos depois, saímos algumas vezes, mas aí eu botei um ponto final, mesmo sentindo algo por Marianne e ela muito por mim. Há anos não temos mais nada.
-E o que o pai disse hoje?
-Eu a encontrei no calçadão e sei lá pela vigésima vez, quis me desculpar, pois apesar da iniciativa sempre ter sido dela, eu não deveria ter cedido. Ela desabafou um pouco sobre querer se separar de Alexandre, perguntou se não tinha uma chance para nós, expliquei que era difícil (nesse momento, comecei a chorar, pois caiu a ficha de que talvez o meu último não, a tivesse levado a tal extremo).
Minha irmã notou meu desespero, tratou de me acalmar e depois estendeu a mão e disse:
-Toma, o Alexandre estava mostrando essa carta para todo mundo quando chegamos aqui, mas acho que o conteúdo dela, mostra que de marido bonzinho não tem nada.
Olhei para a carta escrita numa folha de caderno e abri lentamente, achei que lá teriam muitas informações sobre o porquê de tal atitude, mas fui surpreendido, pois, na verdade, eram poucas palavras com uma letra tremida de quem estava nervosa:
“Peço desculpas à minha família, mas não aguento mais essa dor, essa vida sem graça, essas brigas sem fim com Alexandre. A verdade que preciso dizer para todos: eu amo Diego e jamais consegui esquecer dos poucos momentos românticos que tivemos. Você não sabe como eu te queria para sempre, Diego. Adeus”
Ao contrário de outros bilhetes suicidas que às vezes explicam detalhadamente a dor, a raiva e outras coisas, Marianne foi breve, mas ficou claro para quem leu que tivemos um caso, só não sabiam dos detalhes.
Eu parecia anestesiado, decidi procurar o médico que havia atendido Marianne para saber se poderíamos leva-la para um hospital com mais recursos, porém ele disse que naquele tipo de caso, tudo que poderia já fora feito e o jeito era esperar. O doutor disse ainda que não havia necessidade de ficar todo mundo ali, pois ela não acordaria, mas eu não quis ir nem Alexandre, então a família ficou também tentando convencer um dos dois a ir embora.
Fiquei sentado um tempo do lado de fora, relembrando das palavras de Marianne de manhã na lanchonete, apesar de sua declaração de amor, não senti nada que pudesse suscitar um indício de depressão, muito menos algo trágico. Comecei a chorar copiosamente me culpando, mas também pensando que se o pior ocorresse, eu sofreria não só pelo remorso, mas por ter negado que gostava dela todos esses anos.
Alexandre passou a madrugada me ameaçando dizendo que ali não, mas em outro lugar me pegaria. Eu não respondia, haveria o momento certo para isso, mas não era aquele.
O dia amanheceu e outro médico nos chamou...
O médico contou que Marianne ainda corria riscos, mas o fato de ter sido socorrida prontamente, ajudou muito. Ela ainda estava em coma e precisaria ficar mais uns dias internada. Depois, liberou para que apenas duas pessoas fossem vê-la, Alexandre e minha mãe foram e eles voltaram bem preocupados e com os olhos cheios de lágrimas. Meu irmão disse que não permitiria que eu fosse vê-la, então acabei voltando para o hotel e Gleice ficou de me ligar quando Alexandre fosse descansar e assim, eu poderia fazer uma visita rápida.
Horas mais tarde, Gleice disse que todos tinham ido um pouco para casa e que era para eu aproveitar e ir ao hospital. Fiquei muito mal impressionado quando vi Marianne, seu rosto estava sem cor e ao mesmo tempo parecia um pouco esverdeado, havia tubos, sondas e sei lá mais o quê. Bateu um certo desespero em pensar se ela sobreviveria mesmo e se não teria sequelas.
Eu tinha que voltar para São Paulo no dia seguinte e não sabia o que poderia fazer para ajudar. Fui ainda mais uma vez ao hospital para vê-la e depois disse a Gleice que me avisasse de qualquer coisa e que eu ligaria várias vezes por dia para saber também.
Passei dias bem tensos e acho que descobri ali que gostava de Marianne bem mais que eu esperava. Vi o quanto tinha sido burro, por bloquear isso dentro de mim e tentar tocar a vida.
Ao todo foram cinco dias de coma, quando voltou a si, Marianne falava muito pouco, dormia muito, estava fraca. Alguns familiares dela vieram do Mato Grosso do Sul e a intenção era levá-la com eles, quando tivesse alta, porém Alexandre surpreendeu e disse que sua esposa ficaria morando com ele e após mais uns dias dispensou os familiares dela e ainda repetiu o velho discurso do machão violento:
-Você vai continuar morando comigo, se não for minha não será de ninguém. A gente esquece esse assunto e recomeça a vida. Se quiser, já que não pode ter filho, adotamos um.
Nos dias seguintes, continuou ameaçando-a. Gleice me contou os detalhes e disse que apesar de estar se recuperando, Marianne estava morrendo de medo de Alexandre e não queria voltar para casa.
Pedi a Gleice que me avisasse assim que Marianne tivesse alta. Numa quinta-feira cedo, minha irmã me ligou e disse que Alexandre já estava indo buscar a esposa no hospital.
Desmarquei todos os compromissos que tinha para aquele dia e fui encarar três horas de estrada. Hospedei-me no mesmo hotel em que já estava ficando sempre que ia para lá. Alexandre sabia qual era o meu carro, então era dar bobeira aparecer em minha minúscula cidade com ele. Aluguei outro e montei uma discreta campana na rua deles de onde eu podia ver se ele saísse.
Fiquei frustrado e cansado, pois após horas ali, Alexandre continuava dentro da casa e pelo visto não sairia mais naquela noite. Muitas coisas se passaram pela minha cabeça, mas acabei convencido de que ele não seria maluco ao ponto de fazer qualquer coisa a Marianne no mesmo dia em que a tirou do hospital. Mesmo assim, fiquei tenso e após mais algumas horas decidi voltar para o hotel, dormir um pouco e voltar com a campana no dia seguinte.
Antes de amanhecer, eu já estava de volta à rua deles. Finalmente vi Alexandre saindo provavelmente para o trabalho na prefeitura. Esperei alguns minutos e decidi entrar, por sorte, eles não trancavam o portão da frente, então entrei sem chamar a atenção e fui para a porta dos fundos que era a da cozinha. Bati algumas vezes e chamei por Marianne.
Ela estava um pouco sonolenta, mas quando me viu teve um choque e ficou bem desperta. Sua cor já tinha voltado ao normal, mas ainda estava um pouco abatida. Primeiro, Marianne deve ter sentido vergonha, abaixou a cabeça e disse:
-Por favor, Diego, vai embora, eu ainda não estou bem e não quero falar sobre isso.
-Marianne, na hora certa nós falamos sobre o que você fez, vamos buscar um acompanhamento profissional, mas agora não temos muito tempo, pois pode ser que o Alexandre volte ou alguém tenha me visto entrar aqui. O que eu quero saber é, você quer ir embora daqui agora?
-Querer eu quero, mas ele me deixou sem dinheiro até para pegar um ônibus. Quando acordei no hospital disse que queria ir para casa da minha família, mas ele enrolou todo mundo e fez eles irem embora.
-Tá. Vou te perguntar uma coisa séria. Vamos comigo para São Paulo?
-O quê?!!
-Sei que é loucura, mas a sorte que você teve de escapar viva dessa loucura, me fez pensar que a gente pode ter uma chance juntos. Claro que não queria que fosse assim às pressas, mas tenho que voltar para São Paulo e se você aceitar, vamos morar juntos, depois a gente vê o que vai ser.
Marianne parecia desconfiar do que eu dizia.
-Eu não quero que você tenha pena de mim ou se sinta culpado e decida ficar uns tempos comigo.
-Entendo seu receio, mas é que até agora você era esposa do meu irmão, mas após esse ato extremo, sei que não quer mais essa vida, então te pergunto, quer vir comigo? Se você não gostar, te levo para onde quiser ir.
Marianne ficou pensativa:
-Mas temos que sair já?
-Sim pega só umas roupas e o resto a gente compra depois.
Marianne ainda hesitou, mas acabou aceitando, pegou suas melhores roupas, botou numa mala e saímos. Fui direto para o hotel, de lá devolvi o carro que havia locado, peguei minhas coisas e as de Marianne, botei no carro e pegamos a estrada.
Foi sorte minha ter agido com rapidez, pois como eu esperava, alguém nos viu saindo da casa de meu irmão e o informou. Desesperado, ele foi para lá e depois para o hotel, onde não nos encontrou por coisa de cinco minutos. Já na metade do caminho, parei para tomarmos um café e vejo que minha irmã havia me ligado. Decidi ver o que era e ela me contou que Alexandre estava alucinado dizendo que iria me matar, pois havia “roubado” Marianne. Respondi que ela não queria continuar sendo prisioneira dele e que eu decidi ficar com ela mesmo que minha família me ache um canalha.
Claro que minha irmão achou que eu tivesse pirado de vez, mas conseguimos chegar em São Paulo.
Nos dias seguintes, nossa cidade só falava da história do homem que roubou a mulher do irmão. Alexandre virou uma piada para amigos e conhecidos, mas isso não ficaria de graça, ele prometeu que acabaria comigo e com Marianne. Pelo que soube, desesperado, meu irmão quebrou várias coisas em sua casa, pois a sensação de que não teria mais Marianne sob seu comando, o enlouqueceu.
Já em São Paulo, eu tinha como missão primeiro cuidar de Marianne e depois decidirmos se levaríamos uma vida de casados dali em diante. Porém nem Alexandre nem meu pai aceitariam tão fácil. Bons e maus momentos já se avizinhavam e viriam de diferentes frentes.
Galera, essa foi a primeira temporada. Na segunda temporada serão 14 capítulos com a continuação da história, a entrada e volta de alguns personagens e mais de 20 mil palavras. Lembrando que na primeira temporada da história, foi contado até os 22 anos do protagonista e na segunda será até os 36, então haverá mudanças consideráveis.
Seguem abaixo, os títulos dos 14 capítulos e alguns trechos de diferentes pontos da 2ª temporada que terá surpresas, reviravoltas, drama, ação e, claro, sexo. E-mail para contato: laelocara@gmail.com
I – Emboscada
II-- Numa tarde de autógrafos
III- Armadilhas da fama
IV- Léia
V- As infidelidades de Marianne
VI- Confusão ao vivo na TV
VII- A chegada de Matheus
VIII- Cuckold- Maridos liberais
IX- Velhos e novos inimigos se aliam
X- Os canalhas também envelhecem
XI- Tiros e morte em Franca
XII- A segunda gravidez
XIII- Por onde andará, Marianne?
XIV- Divagações no meio da madrugada em um quarto de hotel em Curitiba
e-mail para contato: laelocara@gmail.com
Valor simbólico R$ 11,00
“Eu nunca imaginaria isso de você! De você não! Bater no próprio pai e por pouco não matar o irmão enforcado por causa dessa sem-vergonha? Achei que você já tinha feito estrago demais na nossa família, mas nessa você se superou. Nunca mais nos procure nem quando eu morrer!”
“Seu pai dizia que você não tinha contado nem aos irmãos, então que era para ela ficar sossegada, pois apesar de ser...Desculpe-me, palavras deles “um paspalhão” você era bonzinho demais para me contar o que sabia. E aí chegamos ao ponto chave, Diego, o que de tão grave você sabe que eu não sei?”
“Quando cheguei em casa, fiquei com medo de você notar, mas sua preocupação é só com sua carreira e suas biscatinhas, agiu como um perfeito corno me cumprimentou com um beijo sem saber que meus lábios estavam pouco tempo antes roçando na pica de outro. Depois disso, passei a transar com ele uma vez por semana, até na nossa cama ele já me comeu numa das suas merdas de viagem. Mas não foi só ele...”
“Aqui na frente das câmeras, você está fazendo o personagem do engraçadão, que veio do povo, o galã caipira que se acha moderno, mas minutos antes de entrar no estúdio, você estava tendo uma crise de estrelismo com a produção desse programa, dizendo que nem os seus porcos comeriam as frutas que colocaram em seu camarim e que a pior coisa era lidar com pobre. Bastaram dois minutos perto de você para eu imaginar o quão difícil deve ser para o seu staff ter que aguentar um pedacinho de bosta sem talento, mas que acredita ser ouro puro cantando essas merdas de músicas de dor de corno”
“Acho que nem bicho age assim. Me senti uma fêmea sendo coberta por um garanhão”.
“...sua sentença final foi de quase 21 anos em regime fechado, mas como sabemos, ele não cumpriria toda pena preso”
“...dava-lhe a sensação de que ele estava no comando, mesmo tendo atitudes totalmente submissas como a de ir se deitar para dar mais privacidade à sua esposa e ao amante. Porém, seu medo é que falassem isso abertamente”.
“Tudo mancomunado! O safado combinou com a Helena e com a putona, fizeram uma casinha de caboclo para a gente cair, Alexandre! E nem o almofadinha aí todo emplumado percebeu. A putona veio toda arrumada, parecendo atriz de cinema, se bobear, o Diego está esperando ela na esquina para irem para o motel e rirem da nossa cara!”