Queria, antes de mais nada, agradecer o apoio que tenho recebido de todos os leitores, inclusive das orientações e puxões de orelha do Leon, do Max e outros.
Só queria lembrá-los que sou um iniciante nessa "arte" que tão poucos dominam com qualidade. Escrever contos não é fácil! Sobre a vida real imensamente mais difícil. Ainda assim vou tentando compartilhar alguns aspectos de minha vida com vocês, claro, com uma certa "liberdade" para narrar e apimentar os fatos.
Agradeço a todos ainda que puderem comentar e avaliar meu trabalho. Isso é muito importante para minha própria evolução.
Forte abraço.
Do Mark.
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Fui em direção ao banheiro, não sem antes dar uma última olhada nela que estava sentada sobre suas pernas no assento do sofá. Vi que ela ainda me olhava com um sorriso malicioso e mantinha um dedo na boca. Não sei se acendi um fogo nela com essa estória, mas eu estava queimando de tesão.
No banheiro, já embaixo da ducha, peguei-me rindo da situação:
- Um sonho! - Falei baixinho para mim mesmo.
Pouco depois eu já saía e vou dizer, nós homens temos uma vantagem evolutiva em relação às mulheres e isso ninguém pode negar: somos rápidos para nos arrumar. Em 15 minutos ou menos eu já estava pronto, púbis depilada (Nanda prefere, exige assim para não engasgar), barba aparada, cabelinho penteado (brincadeira, sou careca), camisa polo, calça jeans e sapatênis.
Não sou o mais bonito dos homens, mas também não sou feio. Descendente de uma mistura de índios, italianos e portugueses, acabei me tornando um homem “interessante”. Quase 1,80m de altura, pouco menos de 80 kg de peso bem distribuídos, olhos amendoados da herança indígena, pele branca da ascendência europeia, careca herdada não sei de que lado e uma barba sempre aparada para conferir um pouco mais de respeito. Nanda não gosta da barba, diz que me envelhece, mas eu gosto do efeito que ela proporciona.
Ela estava lindíssima como sempre. Aliás, eu gostaria que ela pudesse se enxergar pelos meus olhos uma única vez na vida. Se pudesse, com certeza se produziria um mínimo no dia a dia, porque ela é muito bonita, mas produzida ela fica maravilhosa. Já é alta por natureza, mas em cima de um salto alto fica majestosa, imponente, altiva. No salto, aquela bunda deliciosa fica ainda mais ousada, empinada, convidativa, ressaltando ainda mais suas curvas. O batom vermelho que ela passou a usar sempre que saíamos, tornava sua boca mais suculenta que a mais vermelha das maçãs e seus olhos castanho-esverdeados, emoldurado pela maquiagem completavam um quadro de rara beleza.
Depois que decidimos entrar nesse meio liberal, seu vestuário começou a seguir o mesmo mundo. Em casa ela costuma usar blusinhas justas ou não, mas sempre sem soutien. Acrescentava ainda shorts curtos ou mini saias, às vezes sem calcinha. Ela sabe que isso me deixa louco! Se aproveitava disso para me tentar, inclusive na presença de nossas filhas, muitas vezes roçando sua bunda em mim, pois sabia que fico em ponto de bala, mas não poderia fazer nada naquele momento.
Seu pai se horrorizava quando a via vestida daquele jeito. Aliás, não poucas vezes eu soube que ele fora reclamar com sua mãe de suas roupas, dizendo que aquilo não era coisa de mulher decente, “honesta”. A mãe dela, por sua vez, passou a se deixar influenciar pouco ou quase nada pelas opiniões dele desde que se divorciaram, e quando ele insistia, ela deixava bem claro que se o marido dela não se importava quem era ele para querer dar opinião na vida dela.
Pronto, voltei até a sala e a encontrei tomando uma taça de vinho, mas sei que, pela cor de suas bochechas, ela já havia tomado outra ou outras. Isso inclusive é uma coisa que me diverte bastante nela: por ter a pele branquinha, quando bebe, suas bochechas ficam facilmente ruborizadas, quanto mais bebida, mais vermelhas ficam:
- Vamos, então? - Perguntei: - Ou quer ficar por aqui mesmo?
- Não. Vamos sim. - Respondeu e continuou: - Vamos aonde, por falar nisso?
Então... Morar no interior tem suas vantagens e desvantagens. É vantajoso porque a qualidade de vida tende a ser muito boa, com baixo custo de vida e índices de criminalidade igualmente baixos e é desvantajoso porque o retorno financeiro não costuma ser elevado e a vida noturna, quando existente, tende a ser bem tediosa e sem novidades.
Naquele dia não haveria nenhuma festa na programação da região. Então, teríamos a opção de sair e lanchar num “podrão” qualquer, ou comer uma pizza ou jantar num dos restaurantes locais. A única cervejaria da cidade se achava um ambiente requintado e normalmente era realmente frequentada pela “elite” da cidade, mas, na realidade, não passava de um restaurante bem montado num ponto central e que vivia de uma fama que já não se justificava nos dias atuais. Impor a ela uma “saidinha” dessas não era justo depois dela ter passado a tarde se aprontando para mim:
- Vamos para a metrópole. - Falei: - Prefere no lado de São Paulo ou de Minas Gerais?
- Tá falando sério? - Respondeu: - Pensei que fôssemos dar apenas uma saidinha rápida?
- E porque não? Você já teve todo o trabalho para se produzir, não seria justo esconder do mundo sua beleza... - Falei, piscando um olho para ela.
- Sei! Quem não te conhece que te compre, “Mor”. - Pensou um pouco e completou: - Se você está disposto mesmo, vamos mudar um pouco de ares e sotaque.
Peguei então a rodovia e rumamos para a metrópole mais próxima do lado paulista que dista aproximadamente 80km de nossa casa. Metrópole era uma forma de expressão, claro. A cidade não era grande, pouco maior que a nossa, mas era turística e estávamos em alta temporada, logo, haveria movimento, pessoas e sabíamos que lá a vida noturna era bem variada.
Por incrível que pareça, apesar da relativa pouca distância, nunca havíamos estado nessa cidade. Então, ficamos meio perdidos até encontrar o centro gastronômico do lugar. Vários bares, restaurantes e pizzaria ficavam instalados numa mesma avenida, o que facilitava nossa árdua tarefa de escolha:
- Quero brincar! - Ela me falou, sorrindo, enquanto eu estacionava.
- Brincar? - Perguntei sem entender.
- É. - Já enxergava uma conotação safada por trás de suas palavras: - O que você acha de escolhermos um bar e entrarmos separados?
Eu a olhava sem entender nada:
- Tipo uma aposta. - Continuou: - A gente entra separados, como solteiros, e quem conseguir arrumar alguém primeiro, chama o outro, mas só para assistir. Se o ficante me perguntar, vou falar que você é meu amigo gay e se sua ficante te perguntar, você fala que sou sua amiga sapatona.
- Você não parece nada com uma sapatona! - Enfatizei.
- Tá. Divorciada, solteira, prima... Ah, sei lá. Você inventa algo na hora. Lábia não te falta.
- Você tem certeza disso? Pensa bem!... - A adverti: - Não faz muito tempo você estava chorando por eu ter transado com a Laura.
- E quem disse que você vai ganhar? Vou arrumar um ficante antes de você, só para me vingar do chifre. - Disse, rindo.
- E se o ou a ficante não gostar da ideia de ter alguém assistindo? - Perguntei.
- Aí a gente dispensa a pessoa e parte pra outra, ou paramos a brincadeira e ficamos curtindo nós dois...
Numa bolsa de apostas, ela estaria me vencendo por 10 a 1. Claro que ela chama muito a atenção quando está produzida; além disso uma mulher se aproximar e conseguir um homem é muito mais fácil que o contrário. Nós somos educados desde cedo para caçar as incautas mocinhas; já elas são educadas para evitarem assédios. Ela já estava na minha frente antes mesmo de começarmos. Se eu topasse, teria que me esmerar para conseguir vencê-la:
- Certeza? - Perguntei uma vez mais.
- Claro que sim. E aí? Topa? - Perguntou olhando em meus olhos.
- Tá bom. Topo. Vamos ver onde isso vai dar.
Tiramos nossas alianças e íamos guardando elas no porta luvas do carro, mas achei melhor coloca-las no meu molho de chaves. Se roubassem o carro, o seguro pagaria, mas as alianças seriam uma perda inestimável:
- Ai que fofinho! Por isso que eu te amo. - Ela disse ao ver minha iniciativa.
- O seguro morreu de velho... - Disse, piscando para ela e perguntei: - Já passamos dando uma olhada em quase tudo, onde quer ir?
- Que tal naquele bar ali? - Apontou para local cheio, tanto dentro como na porta, de jovens vestidos de preto: - Parece legal...
- Parece um barzinho para roqueiros e motociclistas. Pode ser legal... ah, há!
Comecei a rir e me virei para pegar um embrulho que estava no banco de trás. Abrindo-o, mostrei uma camiseta do Iron Maiden que nossa filha mais velha havia comprado para mim:
- O presente vai ser estreado e agora! - Falei ainda rindo enquanto tirava minha camisa polo.
- Ah, mais aí não vale! - Protestou: - Eu não tenho uma camisa dessas.
- Você já está vestido de preto. - Retruquei.
Ela acabou aceitando minha justificativa. Retocou o batom, deixando os lábios ainda mais vermelhos e dobrou seu vestido de forma que ficasse um pouco mais curto e exibisse levemente a renda de sua meia calça 7/8. Saímos do carro. Demos uma olhada ao redor para nos certificarmos que não havia nenhum conhecido nas redondezas:
- Não! Não. Tira a mão. Que liberdade é essa? Somos apenas amigos agora. - Me repreendeu quando tentei pegar sua mão para irmos ao bar: - Você vai por aqui e eu vou por ali. Lá dentro, a gente até pode se encontrar, como amigos.
Entrei na brincadeira dela e assim fizemos. Chegamos quase juntos no bar. Eu fiquei em uma fila e ela em outra, pouco atrás de mim. Eu até que me misturei fácil aos demais homens: todos nós vestíamos praticamente o mesmo estilo de roupa. Ela, por sua vez, já chamou a atenção assim que chegou: alta, com um vestido preto de decote que ameaçava expulsar seus seios e relativamente curto. Completava o visual um par de botas de couro pretas, de salto alto. Era difícil não notá-la, não admirá-la. Sorri e me voltei para a frente, esperando a fila andar.
A minha fila estacionou, morreu. A dela começou a andar e logo ela já estava a minha frente, mas também parou:
- Difícil essa fila, hein? - Me perguntou de maneira rápida.
- Difícil é ver uma mulher como você e não se impressionar. - Joguei um charme pra cima dela que me sorriu em resposta.
Pouco depois vimos dois caras descerem para o local das filas, selecionando várias mulheres e alguns poucos homens para entrar no bar:
- Você não tem cara de roqueira, morena! - Disse um deles, cabeludo, na faixa dos 50 anos, para ela.
- E roqueira tem que ter cara? Que eu saiba basta bom gosto... - Retrucou em alto e bom som, fazendo-o sorrir.
- Entra lá, morena. - Disse enquanto lhe entregava um cartão que ele ainda fez questão de assinar: - Mostra na porta e você passa direto, e com minha assinatura ainda vai beber na faixa.
Ela se virou para mim e parecia confusa, certamente não queria entrar sem mim. O cara, depois de dar uma olhada ao redor e não identificar nenhuma outra presa em potencial, se voltou e a viu ali ainda parada:
- Vem comigo, morena. Vou te apresentar o espaço. - Disse já envolvendo sua cintura e a puxando para acompanha-lo em direção ao bar.
Ele não parecia agressivo, apenas interessado nela mesmo. Vi que ela ainda parou na porta antes de entrar e lhe disse alguma coisa, colhendo uma resposta que somente fez com que “desse de ombros”, concordando. Nessa hora ouço meu nome e me viro:
- Dr. Mark! Há quanto tempo não nos vemos? Um, dois anos? - Disse-me um moreno alto, com mais de 2,00m de altura e cara de poucos amigos.
Eu o olhei por um momento. Não o reconhecia. Ele vendo a dúvida estampada em meu rosto se adiantou:
- Sou eu, o Agenor. O senhor foi meu advogado numa reclamação trabalhista há uns anos.
Na hora eu me lembrei dele. Agenor era um mulato claro pouco mais alto que eu, mas bem forte. Realmente tinha sido meu cliente numa reclamação contra uma indústria em minha cidade. Ali me contou rapidamente que tinha se mudado para aquela cidade e agora trabalhava na segurança daquele bar:
- Ô, Agenor. Bom te encontrar. Essa fila tá muito parada, amigo. Será que vai demorar muito para eu conseguir entrar? - Perguntei: - Tô a fim de curtir hoje e o bar me pareceu muito legal!
- Tem fila pro senhor, não, doutor. Vem comigo. - Disse já se dirigindo para a porta.
Lá na portaria ele me apresentou a dois outros seguranças com quem troquei umas poucas palavras e fui autorizado a entrar. Quem via de fora não imaginava o tamanho lá de dentro. Possuía dois níveis: um ao nível da portaria e outro inferior, no qual, do lado contrário à portaria, bem no fundo, havia um palco. No nível superior, várias mesas se amontoavam perto de uma mureta, como se fossem camarotes. Ambos os níveis eram iluminados por luz negra e algumas luzes neon despontavam em pontos estratégicos. Deu para notar que estava bastante cheio e já não estavam deixando ninguém mais entrar. Várias gatinhas, gatas, gatonas de preto, cabelos coloridos, bem roqueiro mesmo. Umas mais maduras até chegaram a me lançar uns olhares curiosos, mas naquele momento eu queria encontrar a Nanda, nem que fosse só para me certificar que estava bem:
- Se quiser sentar numa mesa, arrumo pro senhor, doutor. - Agenor furtou-me de meus pensamentos.
- Agenor, vou te falar. Vi uma morena gostosa pra caralho, com um vestidinho preto e bota, decotão, que entrou um pouco antes de mim, junto de um colega seu. Aquele que estava escolhendo a mulherada para entrar... - Joguei uma indireta.
- Também vi, doutor. Uma morenaça alta com os peitos quase de fora... - Deu uma parada e continuou: - Posso te falar, escolhe outra. Aquele cara é o Brunão, o dono daqui. Se ele trouxe ela para dentro é porque vai ficar com ela e ele não gosta de disputa. O último que fez isso tomou uma coça. Esquece ela...
Pronto. Era tudo que eu precisava naquele momento. Estar num lugar diferente, com pessoas possessivas e agressivas:
- Ela é uma velha conhecida minha, Agenor. É que a gente estava batendo um papo quando ele chegou e praticamente a puxou para dentro...
Depois de me olhar um tempo em silêncio, parecendo estranhar alguma coisa, fez sinal para eu aguardar e foi conversar com um colega dele. Voltou em seguida:
- Ó, doutor, não sei deles e meu colega também não viu o Brunão. Vou arrumar uma mesa pro senhor e vou ver se vejo eles...
- Não precisa de mesa, não, Agenor. Vou ficar na pista mesmo...
- O senhor vai ficar na pista? - Perguntou, surpreso: - O senhor nunca veio num show desse, né!? Quando o show começar só vai ter maluco batendo a cabeça e dando porrada. Se o senhor ficar lá, eles vão te atropelar.
- Fica tranquilo. Só vou ficar no rolê mesmo. Onde fica o bar?
- Vem comigo.
Eu o segui e então ele me apresentou a galera que me liberou um “vale cerveja”. Peguei duas latas, agradecendo a gentileza e sai andando pela esquerda do bar. Ainda precisava encontrar a Nanda.
[...]
Depois que o Brunão me deu seu cartão, ainda olhei para o Mark na esperança dele falar alguma coisa e entrar junto comigo, mas nem tivemos tempo porque logo o Brunão voltou e já foi me pegando pela cintura e puxando com ele. Ainda tentei falar para ele que tinha visto um grande amigo de infância na fila e que queria voltar lá para chama-lo, mas ele me disse que ele era tudo o que eu precisava ter naquela noite.
Não gostei do jeito dele, era muito abusado, mandão. Eu já ia dispensando a cortesia dele quando me distrai vendo o Mark conversando animadamente com um funcionário do bar, um moreno fortão. Voltei-me para agradecer o Brunão, a fim de voltar para o Mark, mas ele nem me deixou falar, já foi me pegando e puxando para dentro do bar:
- Caramba, Bruno! O meu amigo, o que te falei, quero chamar ele para entrar comigo. Não conheço ninguém aqui. Vou lá buscar ele ou nem vou ficar. - Reclamei.
- Você não precisa de ninguém além de mim, morena. Vamos chapar legal hoje porque o show vai ser muito louco! Vamos pegar um Whisky. - Falou, já me puxando.
Eu tentei me soltar das mãos dele, várias vezes, mas ele era forte e me puxava pela mão sem pestanejar. Vi várias meninas me olharem feio por estar ali com ele e só então entendi que ele devia ser uma espécie de celebridade local para elas. Eu pessoalmente estava me lixando para isso. Já estava querendo ir embora. Ele pegou dois Whisky’s e me ofereceu um que recusei:
- O que que cê gosta de beber, morena? Pede o que quiser. Tá liberado pra você. - Me falou enquanto virava um dos copos.
- Não quero beber nada. Acho que vou embora... - Falei, fula da vida, com a cara fechada.
- Um refri. Só bebe um refrigerante comigo e te prometo que voltamos lá fora e vamos procurar o teu amigo. - Disse, parecendo ter entendido que tinha pisado na bola: - Melhor ainda: um refri com energético para dar gás para aguentarmos a noitada. E aí? O que me diz?
Eu já estava com a boca seca mesmo de tanto reclamar com ele e ele não me ouvia. Não vi mal nenhum na proposta dele:
- Tá bom. Mas a gente pega a bebida e vai procurar o meu amigo. Falô? - Procurei frisar bem.
- Falô, gata. - Virou-se para uma barwoman com cabelo pintado de pink: - Pega um refri com aquele energético pra mim, linda.
Pouco depois ela voltou com um copão com duas ou três pedras de gelo e uma bebida azul. Eu experimentei e tinha apenas gosto de refrigerante:
- Vamos lá? - Perguntei, já indicando o caminho da portaria.
- Vambora! - Ele falou entusiasmado, tomando mais um gole de seu Whisky: - Só deixa eu dar umas ordens para a galera aqui.
Fiquei ali tomando aquela bebida despreocupadamente. Não tinha gosto de álcool, nem de energético. Como estava com sede, aquele copo se esvaziou ainda antes dele terminar de dar suas ordens. Ele falava com eles e não tirava o olho de mim, literalmente me comendo com os olhos. Eu já estava ficando incomodada. Logo, se voltou para mim:
- Desculpa, morena. Qual seu nome mesmo? - Perguntou.
- Fernanda. - Falei sem dar intimidade.
- Certo... Nandinha, selvagem gatinha! - Falou se dando uma intimidade: - Espera só mais um pouquinho que já pedi outro refri pra você. Parece que você está mesmo com sede...
- Estava mesmo! Gostoso esse negócio aqui, mas tenho certeza que não é só refrigerante. O que que é isso? - Perguntei.
- Não sei. As meninas que inventaram. Sei que tem refrigerante e energético para dar um gás a mais pra aguentar a noite... - Despistou.
Eu, na inocência, aceite o outro copo e saímos andando pela direita do bar, em direção à portaria novamente. O local já estava ficando cheio e éramos sempre parados por alguém que vinha cumprimenta-lo, meninas, mulheres, homens, uma turma de motoqueiros que se vestiam todos com a mesma jaqueta e emblema. Ele realmente parecia ser bem conhecido e respeitado ali. Ele educadamente me apresentava a todos, dando a entender que eu seria sua companheira. Dois dos motoqueiros me comeram com os olhos de cima a baixo sem que ele se importasse. Isso me deu calafrios.
Voltamos a andar e, de repente, a iluminação foi ficando mais fraca e dei uma tropeçada, me amparando nele. Ele não perdeu a oportunidade e passou um braço pela minha cintura, puxando-me ainda mais para ele:
- Fica tranquila. Você está em minhas mãos. - Disse.
[...]
Eu continuava sem encontrar a Nanda. Rodei a parte inferior duas vezes e nada dela. Já estava começando a ficar preocupado. O local até parecia não se encher mais, mas com a quantidade de pessoas que ali já estavam, nem poderia. Resolvi subir para o nível superior e nada de encontra-la também. Lá de cima vi que uma galera se dirigia para uma porta lateral no nível inferior que eu não havia percebido ainda. Decidi dar uma olhada por lá também.
Era um espaço aberto, como se fosse um quintal. Havia várias meses espalhadas e grupos que as ocupavam. Num canto vi outra porta com uma placa escrita “fumódromo – favor fechar a porta”. Nem sei para que existia, porque as pessoas fumavam em todos os ambientes sem qualquer restrição. Ali, embora fosse reservado para o fumódromo, funcionava na verdade como uma espécie de “amassódromo”, pois a única coisa que havia eram casais se pegando.
Aliás, se pegando apenas não, literalmente transando. Havia uma loira de cabelos curtos que se esmerava em fazer um boquete em dois carinhas, eles encostados numa parede e ela de joelhos de frente para eles. Me lembrei da Laura naquele momento. Ela, a loira, se revezava entre eles, usando sua boca ora em um ora em outro enquanto os masturbava. Num banquinho mais no canto uma moça de cabelos verdes cavalgava sem nenhuma inibição o pau de seu homem, subindo até o limite e descendo com vontade. Outros casais somente se beijavam, mas pela forma e intensidade acabariam transando em pouco tempo. Lembro, que pouco antes de sair, um dos carinhas que estava sendo “boqueteado” pela loira, segurou sua cabeça e urrando deu uma forte gozada na sua boca, inclusive sujando sua blusa.
Tive que dar uma ajeitada no pau que insistiu em acordar antes de sair para voltar a caça da Nanda. Fui para o meio daquele “quintal” e sabendo da dificuldade que seria encontrá-la, decidi ligar no seu celular. Seu celular tocou uma, duas, três vezes e nada. Aguardei pacientemente até que a ligação caiu. Liguei novamente e novamente tocou uma, duas, três vezes:
- Alô!? - Ouvi uma vozinha feminina em meio a muvuca.
- Alô! Nanda!? Onde você está? - Perguntei.
- Oi? O quê? - Ela retornou.
Quem já foi em um show de rock sabe que falar não é fácil, num celular então é quase impossível. Nossa sorte é que o show ainda não havia começado, mas era tanta gente que ouvi-la claramente era um desafio:
- Nanda não consigo te achar. - Falei.
- O quê? Não estou entendendo? - Ela retornou.
- WhatsApp! ZAP. Olha o ZAP. - Falei.
- ZAP?
- É. Olha o ZAP. - Disse e desliguei.
Já que ela não me ouvia, imaginei que seria mais fácil ela ler. Lembro que começamos a trocar mensagens: Eu: “Não consigo te encontrar”; Ela: “fomos até a portaria te buscar, mas não te vi”. Bem, pelo menos ela parecia estar bem. Continuamos, Eu: “encontrei um antigo cliente, segurança do bar, e ele me passou. Onde vc tá?”; Ela: “não sei”; Eu: “e como vou te achar?”; Nanda: “não sei”; Eu: “você tá segura?” e nada dela responder. Comecei a ficar preocupado. Insisti: “Nanda, onde você está? Me dá uma referência para eu te buscar!”. O silêncio continuava. De repente vi que surgiu aquela informação de que ela estava respondendo a mensagem, então recebi um áudio:
- Qual é malandro!? Vai procurar outra mulher pra tu! Essa aqui já tem dono. Para de encher ou EU VOU TE ACHAR e te escorraçar daqui! - Disse uma voz masculina em meio a uma muvuca de conversas. Ainda assim tive a impressão de ouvir uma voz feminina que parecia a dela no fundo da gravação mandando ele devolver seu celular.
- Filho da puta!! - Disse para mim mesmo. A questão agora é como eu conseguiria encontrá-la?
[...]
Agenor andava de um lado para o outro analisando todo o ambiente e possíveis focos de briga. Apesar de cheio, o ambiente ainda estava tranquilo.
Depois de muito andar e ainda andaria muito mais naquela noite, ele se aproximou do palco para ver se a corda de segurança ainda estava lá. Viu seu chefe, Brunão, do lado esquerdo do palco, acompanhado da morena que eu havia comentado antes. Eles pareciam discutir. Lembrando-se que eu havia dito que ela era uma grande amiga e ainda imbuído de um sentimento de gratidão pelo bom serviço que eu lhe havia prestado, decidiu se aproximar para ver melhor o que estava acontecendo:
- Vai tomar no cú! Eu não vou ficar com você. Devolve meu celular. - Dizia a morena.
- Vou devolver porra nenhuma, gata! - Disse e a pegou pelo braço, aproximando-a ainda mais de si: - Você está comigo e não vai ficar de papinho furado com nenhum outro macho, a menos que eu deixe. Entendeu?
- Eu não vou ficar aqui. Me solta! Vou embora. - Disse tentando se soltar.
Ele, ao invés de soltá-la a abraçou e a beijou mesmo aparentemente contra sua vontade. Viu quando ela colocou suas mãos em seu peito e tentou empurrá-lo, mas ele era mais forte que ela e não deixou se afastarem. Ela acabou se deixando beijar. Quando enfim pararam, ela o encarou firmemente:
- Não. - Ela disse, séria e o advertiu: - Vou fazer um escândalo aqui.
- Foi só um beijo, gata...
- Não! - Foi mais enfática.
Antes que continuassem, ela deu uma balançada na cabeça, como se tivesse ficado tonta e o encarou, mas parecia não estar conseguindo focalizá-lo. Brunão então pegou seu cabelo e puxou, fazendo-a empinar sua cabeça. Ele então começou a beijar e lamber seu pescoço:
- Não... - Ela ainda repetiu timidamente.
- Chefe!? - Agenor se aproximou, tentando cortar o clima, pois sentiu que algo não estava certo.
- Que que foi, caralho? - Respondeu, bruto: - Não vê que estou ocupado!?
- A moça não está bem, chefe.
Brunão o encarou com cara de que sabia bem o que estava fazendo. Antes porém de dar um esporro no segurança, a morena começou a coçar os olhos e, de repente, se pôs a chorar:
- Quero meu celular! Quero ir embora...
Num momento de aparente lucidez, Brunão devolveu seu celular:
- Desculpa, Nandinha! É que você é tão linda, tão gostosa, que acabei não me segurando. - Desculpou-se, pelo menos é o que parecia: - Você está bem?
- Só tô um pouco nervosa... - Disse baixinho.
Ela pegou o aparelho e se encostou na parede:
- Vamos fazer assim: você vem comigo no camarim, toma uma água, te apresento a banda e já os coloco para fazer o show. Daí peço pro Agenor encontrar o seu amigo e trazer ele até nós. Te prometo que não vou fazer mais nada contra a sua vontade. O Agenor está aqui de testemunha. Eu não cumpro o que prometo Agenor? - Insistiu Brunão.
- Claro que sim, chefe.
- Promete mesmo? - Pediu Nanda, agora tentando encará-lo e já sem forças para brigar.
- Dou minha palavra! - Falou e se voltou para Agenor sem que ela pudesse ouvir: - Não sei quem é esse carinha, mas não quero ele perto da gente. Ainda quero dar uns “pegas” nessa mulher...
- Chefe!... - Disse Agenor, com uma entonação de advertência.
- Faz o que eu tô mandando, homem. Vai!
Agenor sentia que aquilo não ia terminar bem.
[...]