O espião da bunda tesuda
Antal Sergeyevich Volkov, um jovem engenheiro em 1950, filho abastado de mãe húngara e pai russo trabalhava na construção de uma ponte ferroviária na ex-República Democrática Alemã quando conheceu a proeminente artista plástica Imgard Schelwis, cujas obras eram ofertadas como presentes caros para diplomatas, generais e políticos do alto escalão do bloco comunista europeu, algumas inclusive chegaram às galerias da Europa Ocidental e da América do Norte por meio de contrabando, tornando-a mundialmente famosa e apreciada nesse círculo restrito de endinheirados. Eu, Adrian Volkov, sou o caçula do casal e, assim como meu irmão mais velho, Gero Volkov, nascemos em Budapeste, na Hungria, em 1954 e 1952 respectivamente. Morávamos numa casa assobradada cercada por um amplo quintal onde minha mãe exercia sua segunda paixão, o cultivo de flores, na Alpár Utca, 55 na capital húngara. Desde a minha mais tenra infância me recordo da casa sempre cheia, ora com os amigos e parentes do meu pai, ora com artistas e marchands amigos da minha mãe. Assim, meu irmão e eu crescemos num ambiente intelectualizado do qual faziam parte a extensa biblioteca do meu pai e os cavaletes de pintura de minha mãe, sem mencionar o piano de cauda e o violoncelo que ocupavam a saleta da lareira logo à direita do gabinete do meu pai. Era uma vida doce, eu me lembro. Da cozinha com seus dois janelões para a horta, seus armários brancos e piso em forma de tabuleiro em mármore branco e preto emanava todas as sextas-feiras o perfume adocicado de canela, o cheiro intenso dos cremes de baunilha que recheavam as camadas do mil-folhas e uma infinidade de outras delícias que a Teçá Irány Török, nossa cozinheira, preparava; sempre atenta e pronta para colocar a mim e ao Gero para correr com a colher-de-pau em punho, quando invadíamos o recinto e filávamos porções de nozes, pistaches, colheradas de chocolate derretido ou o que quer que estivesse ao alcance de nossos olhos gulosos. Hoje tenho até que rir desses episódios, ainda mais sabendo que Teçá significa ‘aquela que tem olhos atentos’ e Irány, que significa ‘abelha enfurecida’, melhor descrição não poderia haver para aquela mulher de meia idade com pouca paciência para lidar com dois fedelhos inquietos.
Há pelo menos três gerações, os Volkov faziam parte dos altos escalões militares da Rússia e a guerra só fez aumentar seu prestígio. Meu avô foi marechal, meus dois tios eram generais da União Soviética, enquanto meu pai era visto como a ovelha negra da família por não ter seguido a carreira militar, mas principalmente por ter se casado com uma alemã que, ao contrário das demais mulheres da família, não era uma dona de casa dependente e submissa, e sim, uma mulher conhecida entre a elite intelectual mundial. Meu pai vivia sendo criticado pelos irmãos por conta da criação liberal que nos dava; onde, segundo eles, faltava disciplina e rigor para que nos tornássemos homens aptos a defender os interesses da URSS. Era especialmente o tio Gueorgui quem se intrometia nos assuntos familiares do irmão e com isso acabava tendo altos paus com o meu pai. Minha mãe o detestava, assim como eu, mesmo não compreendendo bem o porquê. Naquela época eu não gostava de suas sobrancelhas largas e peludas que se assemelhavam a duas taturanas, àquela cova no queixo quadrado que lhe dava um aspecto sinistro e, àqueles olhos em que nunca se podia enxergar o que se passava em sua mente. Para dizer a verdade, na época, eu tinha medo dele. Durante as discussões com o meu pai, sua voz forte e tronante se sobressaia dando a impressão de que era ele quem estava vencendo a briga. Felizmente, nós o víamos pouco, geralmente só nos raros encontros familiares na casa dos meus avós em Moscou, para onde meus pais evitavam ir.
Até a adolescência meu irmão e eu nos dávamos muito bem. Embora não dividíssemos o mesmo quarto, dividíamos todos os nossos brinquedos. Por ser mais velho, ele era quem montava as cidades imaginárias com as inúmeras caixas de blocos de madeira que tínhamos, era ele quem fazia o traçado dos trilhos da estrada de ferro que serpentava entre as construções, puxados por uma locomotiva vermelha de lata e seus vagões verde-escuros e pretos com emblemas em dourado. Ele nunca se zangava comigo quando, afoito e com minha pouca destreza motora, um braço ou uma perna esbarravam nos edifícios e espalhavam os bloquinhos para todo o lado. Eu sempre, logo em seguida, ficava calado, olhando fixamente para ele enquanto meus olhos começavam a marejar temendo que ele se enfurecesse por eu ter destruído suas construções. Porém, mesmo sabendo que levaria horas para reconstruir tudo outra vez, ele sorria para mim, e dizia que por aquela vez eu estava perdoado. Ele sempre me perdoava e era disso que eu gostava nele.
A morte prematura do meu pai aos 42 anos atingido pela queda de uma grua durante a construção de edifícios de blocos residenciais populares bem ao estilo socialista foi um choque para a família. Minha mãe recebeu a notícia em Leipzig onde fazia uma exposição de suas obras e tinha agendado umas palestras sobre a pintura contemporânea com o advento da era comunista, na Faculdade de História e Artes da Universidade de Leipzig, um tema polêmico que alguns amigos mais próximos haviam-na desaconselhado de apresentar. Foi um golpe do qual ela nunca mais se recuperou. Minha mãe nunca foi uma mulher forte, tinha ideias fortes e progressistas, mas não se podia dizer o mesmo de sua personalidade. Meu pai era seu alicerce, foi depois de o conhecer que sua arte ganhou notoriedade e entrou no apogeu, de alguma forma ele a inspirava ou, talvez, o imenso amor que ambos sentiam um pelo outro. Ela nunca mais abriu o piano para tocar seus compositores preferidos, e se recolhia no gabinete que tinha pertencido ao meu pai enquanto meu irmão e eu tínhamos nossas aulas de piano com o velho Sr. Szalai. Depois de meses de luto, eu comecei a ouvi-la tocar composições tristes ao violoncelo durante a madrugada. Os acordes líricos e melancólicos de Mélodie de Alexander Glazunov, ou então os pesarosos do adágio do Concerto em B menor de Antonín Dvorák ecoavam pela casa silenciosa e imersa na penumbra, que vinha através das cortinas abertas e que permitiam ver a neve caindo lá fora. Eu sentia uma coisa indefinida no peito, não sabia que nome dar àquela sensação, e então eu voltava a subir os degraus e me enfiar debaixo dos cobertores. Eu estava com doze anos, não houve festa como das outras vezes, pois a data coincidia com a da morte do meu pai. Gero ia completar 15 em poucos meses, mas parecia um adulto. Ele estava se incumbindo cada vez mais dos negócios da casa, à medida que minha mãe ia perdendo o controle de tudo, até de sua própria vida. Muitas vezes voltávamos da escola e ela estava sentada num canto do jardim, pensativa e distante, alheia a tudo que a cercava. O Gero e eu a trazíamos para dentro quando a Teçá nos avisava de que ela não havia comido nada desde que se levantara.
Tio Gueorgui estava lá naquela tarde abafada de verão, quando voltei da minha aula de balé, com sua mão enorme no pescoço do Gero que o ouvia encantado relatando como era interessante e agitada a vida no colégio militar. Perguntei-me por que ele estava com aquela cara alegre quando todos na nossa casa detestavam aquele homem. Teçá estava debruçada na mesa da cozinha soluçando e enxugando as lágrimas, quando me viu na porta abriu os braços e me apertou no meio deles até quase minhas costelas estalarem.
- Ah, meu pequeno Adrian, quanta saudade não vou sentir de você seu abelhudo? – balbuciou ela. Ela quase sempre me tocava da cozinha, por que estaria me recebendo de braços abertos hoje?
- Por que Teçá? Você vai viajar? – indaguei curioso.
- Antes fosse meu querido, antes fosse! Teçá está de partida para Baranya, para a cidade dos meus pais, Pécs. Lembra que já lhe contei histórias de Baranya? Pois é para lá que estou indo. – ela soluçava entre uma frase e outra, o que me fez começar a chorar também, embora eu não soubesse bem porquê.
- Por que você vai embora? Não gosta mais da gente?
- Não, meu querido, não é por isso! Você sabe que a Teçá te ama e a todos nessa casa. O general me demitiu. – revelou ela.
- Ele não pode fazer isso! Vou falar com a mamãe e ela vai deixar você ficar, eu prometo! – exclamei corajoso e disparando à procura da minha mãe.
Demorei a encontrá-la, ela estava reclinada no sofá de couro de porco da biblioteca e havia um homem e uma mulher vestida como enfermeira do lado dela. Minha mãe estava pálida, acho que seus olhos não me viram entrar, nem seus ouvidos me ouviram chamar.
- Saia imediatamente daqui! Você não perdeu nada nessa sala. Ande, saia! – esbravejou a voz grossa do tio Gueorgui, ao mesmo tempo em que sua mão se fechava como uma garra no meu ombro arrastando-me para fora.
- Você não manda em mim! Você não manda em nada dessa casa! É você quem deve sair daqui! – berrei em protesto, o que foi o mesmo que não ter feito nada, pois ele nem se deu ao trabalho de me ouvir.
- O que está acontecendo Gero? Por que a mamãe está lá dentro com aquelas pessoas? Quem são eles? O que o tio Gueorgui estava falando para você que o fez ficar com aquela de bobão alegre? – despejei sobre meu irmão que parecia concordar com tudo o que estava acontecendo em nossa casa.
- Quer fechar essa matraca por um minuto e me ouvir? Aquelas pessoas são o médico e uma enfermeira que vieram buscar a mamãe que precisa ser internada num manicômio para ficar curada. – respondeu ele
- Mani... o quê? Curada do que, se ela não está doente?
- Manicômio, se diz manicômio o lugar onde tratam de pessoas com doenças na cabeça, entende? – respondeu ele
- E onde fica esse ‘nanicônio’? Eu vou junto com a mamãe, você também e a Teçá também, vamos todos!
- Presta atenção Adrian, é manicômio que se diz. E, ninguém pode ir junto com ela. Lá as pessoas ficam sozinhas, entende. – eu não estava entendendo nada, e nem queria, porque estava começando a ficar com medo e a sentir que algo de muito ruim ia acontecer.
- E onde você vai com aquelas malas que estão lá na sala? E eu, para onde eu vou? Não podem me deixar sozinho aqui. – eu já estava chorando outra vez, embora tenha feito uma baita de uma força para isso não acontecer.
- Eu vou para o colégio militar em Moscou, vou aprender a ser marechal como o tio Gueorgui! – exclamou meu irmão com orgulho e um brilho besta no olhar.
- Você não vai ficar comigo?
- Não! Você já é grandinho e vai para um colégio interno, aqui mesmo em Budapeste. O tio Gueorgui disse que não quer levar você para Moscou porque você está ficando muito esquisito. – respondeu ele.
- Eu não quero ir! Por que eu sou esquisito?
- Não sei, ele não falou, mas eu acho que é por causa dessa sua mania de ficar pintando como a mamãe e, principalmente, por frequentar a escola de balé. Você não podia escolher uma coisa que os meninos fazem e não as meninas? Eu acho que você é viado! – devolveu ele.
- Eu sei o que é viado, e eu não sou viado! Viado é você! – retruquei berrando.
- O que está acontecendo aqui? A mãe de vocês está muito doente e vocês estão brigando como se fossem dois moleques de rua! – gritou tio Gueorgui, ao mesmo tempo em que me dava um safanão.
- Ele disse que eu sou viado! Eu não sou viado! – exclamei, encarando a expressão irada do meu tio que, por algum motivo, naquele momento não me inspirava medo.
- Chega dessa conversa! Se você não fosse viado não estaria dando saltinhos com esses trajes ridículos. – afiançou meu tio. Foi a primeira vez que senti ódio por alguém.
Eu esperneei quando tentaram me segurar enquanto colocavam minha mãe na ambulância. Eu chamei por ela, mas ela não respondeu. Quando a ambulância dobrou a esquina da rua, eu sabia que minha vida estava mudando para pior. Chorei no meu quarto até o tio Gueorgui vir me tirar de lá. Estava anoitecendo e eu queria a minha cama e Kerge, meu ursinho de pelo de mart, que já fazia um tempinho estava largado na prateleira, mas de quem eu ia precisar muito agora.
- Ande, a Teçá já arrumou as suas coisas, vou te deixar no colégio antes de voltar para casa. – sentenciou meu tio, como se estivesse dando ordens a seus subordinados no quartel.
- Eu não vou! Vou ficar aqui mesmo!
- Adrian, eu não vou repetir, moleque! Saia dessa cama e venha comigo, não posso me atrasar.
- Eu já disse que não ..... – antes de eu completar a frase senti a mão pesada dele na minha face esquerda, junto com um zumbido no meu ouvido. Sua mão se fechou com força no meu cangote e eu precisei andar ligeiro para não ser lançado metros à frente. Eu nunca havia apanhado antes, e isso me fez ver que eu precisava obedecer aquele homem desprezível se não quisesse viver sob suas surras.
Já estava escuro quando o táxi estacionou em frente ao edifício cinza e monolítico circundado por centenas de janelas distribuídas em seus quatro andares. Não fosse uma placa de bronze onde reluziam as letras num dourado brilhante dizendo – Instituto György Lukács – não se saberia que ali funcionava uma instituição de ensino. Uma das folhas da ampla porta de madeira entalhada foi aberta com o chiar das dobradiças, por uma moça esguia trajando um tailleur justo e preto que lhe acentuava as curvas enxutas e as pernas bastante longas. Ela nos sorriu com simpatia, pareceu-me que as inúmeras medalhas, distintivos e divisas que forravam a candola do general fizeram com que se sentisse lisonjeada por estar diante de pessoa tão ilustre. Ela nos conduziu a um luxuoso gabinete no primeiro andar, paredes trabalhadas, janelões em arco revestidos de cortinas pesadas e uma mobília reluzente de móveis escuros compunham o ambiente austero. Um homem baixinho e troncudo, careca e com uma barba negra que lhe escondia o pescoço e um par de óculos redondo se levantou tão logo viu meu tio.
- Vossa excelência Marechal Gueorgui Volkov! É um prazer atender seu pedido. – disparou, numa postural servil quase canina.
- Sr. Bertók Balóg! Boa tarde! – devolveu meu tio, sem esboçar nenhuma empatia.
- Então esse é o garoto que nos incumbiu de educar! Olá, meu rapaz! Vai gostar de estudar conosco, temos ótimos mestres. – continuou o homenzinho, cuja mão esticada em direção ao meu tio não havia sido tocada.
- Terão muito trabalho com esse menino! Adrian Volkov, é o nome dele. Creio que se faz desnecessário repetir o que conversamos ao telefone, e o que espero dessa instituição em relação a educação do meu sobrinho. – sentenciou meu tio.
- Sim, claro! Está tudo perfeitamente entendido. Não o decepcionaremos, esteja certo! – que aquele homem estava sendo regiamente pago pelo que havia sido contratado não restava dúvida.
- Bem! Não tenho mais tempo a perder com você. Trate de se comportar, a mais insignificante reclamação que eu receber do Sr. Bertók quanto ao seu comportamento lhe custará caro, está me entendendo? – meu tio estava novamente com aqueles olhos de águia sobre mim e apertava meu ombro com tanta força que o fez estalar.
- Sim! – respondi, fazendo força para não chorar.
Eu era um garoto de doze anos que estava tendo dificuldade de assimilar tudo o que estava acontecendo. De uma hora para outra, eu havia perdido meu pai, minha mãe estava sendo encarcerada num manicômio, meu irmão parecia um tonto deslumbrado com a promessa de estudar num colégio militar e se tornar um homem tão importante quanto nossos tios, e minha casa que sempre foi um abrigo perfumado havia sido deixada para trás, quem sabe o que seria feito dela agora. A partida do meu tio Gueorgui não fazia a menor diferença para mim, mas, pela primeira vez, eu me senti sozinho e abandonado. Não havia um único rosto conhecido ao meu redor que pudesse servir de apoio.
Depois de ouvir uma ladainha de regras do Sr. Bertók, fui liberado para me dirigir ao meu quarto, guardar as minhas coisas pessoais e me dirigir para o refeitório, pois faltava menos de uma hora para o jantar ser servido. O que imaginei ser meu quarto no terceiro andar era, na verdade, o de mais quatro garotos. Eu nunca havia precisado dividir o quarto com outra pessoa, e isso me fez sentir ainda mais o quanto eu havia perdido. Eles levantaram a cabeça dos livros sobre os quais estavam debruçados para me encarar.
- Este é o novo colega de vocês, Adrian Volkov! Ele é sobrinho do marechal soviético Gueorgui Volkov! – disse a moça que havia nos recebido na porta, e que achou importante citar meu parentesco, como forma de expressar o prazer que havia sentido ao estar diante de figura tão importante. Para os garotos pouco importava se filho, sobrinho, neto ou, seja lá de que porra fosse, de quem eu era aparentado.
A despeito da enorme guinada que minha vida deu, eu me enturmei com meus colegas de quarto e de classe. Era um pouco mais calado e retraído que os demais, mas era um excelente aluno, o que me fez ser popular quando alguém precisava de ajuda com alguma disciplina. A impressão que o Sr. Bertók fez de mim quando meu tio o contatou ao telefone logo se dissipou; pois o monstrengo que ele esperava receber e os problemas que anteviu ter que solucionar sem ferir os brios do marechal não se confirmaram. Eu era um garoto meigo, mantinha as lições sempre em dia, tinha meus pertences cuidadosamente dobrados e guardados no meu armário, e até tinha com isso, induzido os outros garotos a me copiarem. O Instituo György Lukács foi minha casa durante os três anos seguintes. Eu só me ausentei uma única vez, no primeiro Natal depois da minha chegada ao colégio, quando recebi permissão para passar três semanas na casa do meu outro tio, o General Konstantin Volkov, o outro irmão do meu pai. Eu mal me lembrava da fisionomia do tio Konstantin, ele estivera apenas duas vezes em nossa casa e eu era bem pequeno nessa época. Kerge, meu ursinho de pelo de marta, foi presente dele. Como eu adorava meu urso, transferi um pouco desse sentimento para aquele homem que estava me recebendo em sua casa.
Nem de longe aquele Natal se assemelhou aos que havia em nossa casa. Foi uma festa fria como a espessa neve que cobria tudo lá fora. Eu tinha feito a viagem de um dia e meio de trem entre Budapeste e Moscou sonhando com o reencontro com o Gero. Meu irmão era tudo que me restava, uma vez que nunca mais tive acesso à minha mãe. Certa ocasião ouvi, por acaso, um comentário do Sr. Bertók com um dos meus professores, no qual ele fez menção ao falecimento da minha mãe. Eu não acreditei nas palavras dele porque não queria que aquilo fosse verdade. Que decepção. Aquele rapaz de pouco mais de dezoito anos, cujo corpo sofrera uma tremenda modificação tornando-se forte, musculoso e tão desenvolvido quanto o de um homem e, que estava diante de mim com aquele ridículo uniforme de um marrom esverdeado, composto de uma calça com duas largas listras vermelhas laterais ao longo das pernas, um paletó mal-ajambrado fechado por uma carreira de botões metálicos, que só não parecia pior devido ao tórax e ombros largos do Gero; e ainda, aquele chapéu de pala plástica preta com uma fita vermelha que o contornava, onde estava afixado o emblema com o brasão de fundo vermelho no qual estavam as letras РСФСР ladeado por espigas de trigo, afundado em sua cabeça, não podia ser meu irmão. Havia também duas divisas sobre seus ombros com uma estrela em cada um, indicando tratar-se de um cadete, além de uma insígnia acima do bolso do paletó da pendia uma estrela dourada. Meu irmão parecia ter orgulho dela, acho que por isso mantinha aquele peito enfunado feito um peru. Eu não quis saber o que ela significava. Ele estava frio e distante, não era mais o Gero que montava cidades imaginárias comigo deixando minha imaginação voar livre. Seus movimentos eram curtos, bruscos, feito os de uma marionete, ou de um robô, resultado dos treinamentos militares. Crescia em sua cabeça a soberba de ter nascido homem, de ter tios poderosos, de estar dando o melhor de si para a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, de ter inimigos espalhados pelos quatro cantos do planeta, mesmo que isso tenha apenas lhe sido incutido na mente sem nenhuma comprovação ou evidência real. E, o maior desses inimigos eram os Estados Unidos da América, um complô de capitalistas exploradores que estavam determinados a reger a ordem mundial e, por isso, precisavam ser aniquilados. Foi esse o assunto central da conversa entre ele e meu tio durante a ceia de Natal, deixando a mim, à minha tia e às minhas duas primas alheias a essa discussão sem perspectivas.
Depois de deixar o Instituo György Lukács, fui levado a Moscou por ordem do tio Gueorgui, onde fui informado que também ingressaria no colégio militar.
- É o melhor para você! Seu tio Konstantin e eu conversamos a respeito e, decidimos que é o melhor que podemos fazer por você. – começou ele, num daqueles seus discursos ensaiados para os quais não podia haver objeções.
- Eu não quero seguir essa ridícula carreira militar! É um bando de palhaços sem instrução que vivem às custas do Estado oprimindo o povo e desejando ardentemente a guerra. – devolvi sem meias palavras.
- Quem foi que enfiou esse monte de besteiras na sua cabeça? Esqueceu suas origens, seu fedelho? Você descende de uma linhagem de militares proeminentes, e não de civis apalermados. – retrucou feroz
- Pois eu tenho uma opinião contrária, e não vou para nenhum colégio militar. Basta o que fizeram com o Gero, que se tornou ele sim, um grandessíssimo palerma! – retorqui.
- Seu irmão é um homem! Ainda vai fazer muito pelo país. Ao contrário de você que ocupa seu tempo pincelando telas e achando que está fazendo arte, como fazia a sua mãe. Ou pior, se enfiando em roupas de jamais um homem usaria, para ter aulas de balé. Você é um pederasta que precisa aprender a virar homem. É isso que vão lhe ensinar no colégio militar. Essa discussão acaba aqui! Semana que vem você ingressa no colégio, e de lá só sai quando eu permitir. – sentenciou ele.
- Você não pode decidir isso por mim! Não sou mais nenhuma criança! Tenho o direito de decidir o que quero ser no futuro! – berrei descontrolado.
- Ah é, seu moleque afeminado! Eu vou te mostrar pela última vez quem é que manda aqui. Enquanto você viver sob o meu teto e a minha tutela, eu determino o que você vai ou não fazer. – gritou enfurecido. Sem pestanejar, ele tirou o cinto e o desceu sobre mim sem dó nem piedade. – Viado desgraçado! Vira homem! Não pense que vou deixar você desgraçar o nome de nossa família. – gritava possesso, o que fez minha tia surgir no escritório onde ele estava me espancando e pedir para ele se controlar. – Suma daqui! Vá cuidar das suas obrigações de mulher. Isso não é assunto seu. – berrou encolerizado para a pobre coitada.
O colégio militar ficava nos arredores da cidade, um pouco distante para eu ir e vir todos os dias, por isso pernoitava quase sempre lá. Fazia-o também para não ter que ficar sob o mesmo teto do meu tio, um déspota que humilhava esposa e filhas apenas por serem mulheres e, portanto, seres de segunda classe, segundo suas crenças. O desprezo que tinha pela minha tia nunca era escondido, ele não a perdoava por ter lhe dado duas filhas e nenhum varão. Até por conta disso, sentia tanto orgulho do Gero, a quem tratava como seu próprio filho, e no qual depositava todas as suas esperanças.
Ao contrário do que ele pensava, eu estava me saindo muito bem nos estudos, liderava um grupo de colegas e era visto pelos meus superiores como alguém promissor para os cargos de Estado. Eu detestava tudo aquilo, mas não ia me subjugar a ninguém, uma vez concluídos os estudos, eu já teria minha maioridade e podia fazer o que bem entendesse da minha vida. Chegavam aos ouvidos dos meus tios os meus progressos e a incrível capacidade que eu tinha de executar com êxito tarefas que requeriam muita astucia e perícia. Ao menos isso serviu para aplacar os ânimos entre meus tios e eu. Já me chamavam com mais frequência para as suas casas e até passei a viver mais dias na casa do tio Gueorgui do que no colégio. Não era um lugar onde eu gostava de estar, mas diante de alguns acontecimentos, foi onde optei morar para não ser molestado.
Tal qual no Instituto György Lukács, os quartos do colégio eram coletivos, havendo apenas uma diferença fundamental, os ocupantes de agora, eram rapazes com a corrente sanguínea turbinada de hormônios. Os exercícios físicos extenuantes não davam conta por si sós de aplacar o desejo carnal que consumia aqueles corpos que iam se definindo e se tornando majestosamente viris. Eu já não era mais aquela criança de rosto angelical, corpo esguio e até certo ponto frágil. Eu ganhara músculos como os demais colegas, os exercícios físicos ajudaram a moldar um corpo sensual, um par de coxas muito grossas, uma bunda tão perfeita que podia figurar numa revista de nu explícito. Meu rosto era o único imberbe da turma, emoldurava dois olhos de um azul intenso e vívido, era menos angulado e mostrava ossos mais delicados e harmônicos sob a pele lisa, o que dava ao meu sorriso um ar de graça, de uma inocência que já não era tão inocente quanto aquela que havia nele nos tempos da casa da Alpár Utca, 55 de Budapeste.
Havia sido um dia tranquilo no colégio, afora uma rápida formação logo após a alvorada, o dia 1 de maio foi dedicado ao descanso em comemoração ao Dia Internacional dos Trabalhadores. Os alunos, que por algum motivo ficaram retidos, estavam agitados não acostumados a tanta calmaria. Pelos corredores havia grupinhos jogando xadrez, na quadra de esportes ensaiavam-se alguns dribles, no mais, outros alunos apenas jogavam conversa fora falando de garotas, de sexo, de perversões que rolavam nos puteiros que frequentavam quando estavam de folga. Portanto, ao final do dia, aquelas cabeças estavam cheias de bobagens típicas da idade. Cerca de duas horas depois do sinal de recolher, senti um dos rapazes entrando debaixo do cobertor comigo. Antes de conseguir protestar, sua mão cobriu minha boca e minha cabeça foi afundada no travesseiro. Ele se esfregava freneticamente em mim, roçava minha bunda com sua ereção e gemia tomado pelo tesão. Eu me debati por um tempo debaixo dele, mas percebi que meus esforços seriam inúteis, ele era mais forte do que eu. Subitamente, parei de reagir, ele mal acreditava que estava sendo tão fácil. Senti a mão quente arriando meu pijama, o cacete duro roçando minhas nádegas nuas, ele arfando no meu cangote, cheio de fantasias.
- Nikolai! – exclamei, pois conhecia aquele corpo que se esfregava no meu. Ele não respondeu, pareceu ter levado um choque e hesitou por uns instantes em continuar com aquela safadeza.
Como nada aconteceu, ele criou coragem outra vez. Ele pincelou o cacete ao longo do meu rego, cada vez mais afoito e se atrapalhando todo. Eu estava numa expectativa sem tamanho, e tinha apenas uma certeza, não ia fugir, ia enfrentar por mais difícil que fosse, pois era assim que estava encarando tudo ultimamente. O gemido que quase acordou todo mundo não foi o meu que havia sido sufocado pela mão dele e pelo travesseiro no qual meu rosto estava enfiado, foi o dele, resultado do prazer que sentiu quando meus esfíncteres úmidos e quentes encaparam sua jeba. Estava doendo bastante depois que senti o cuzinho rasgando como se uma faca tivesse me dilacerado, parecia um corte liso, profundo que levou a uma abrupta contração de toda minha musculatura pélvica. No meio dela, estava entalado aquele intruso quente e pulsátil, a espera não sei do que.
- Adrian! – gemeu ele, ainda perplexo com aquele prazer que nascia na pica, tomava toda sua virilha e entrava em seu corpo como uma onda.
Eu já não estava mais imobilizado por conta da força com que seus braços me continham, nem pelo peso do corpo dele cobrindo o meu, eu estava imóvel porque assim não corria o risco daquele cacete deslizar para fora do meu cu. Ele percebeu que eu estava me entregando, chupou a pele da minha nuca, aspirou o frescor que ela emanava e, lentamente, foi forçando o caralho para dentro do buraquinho apertado que o seduzia. Seus impulsos eram bruscos, até um pouco abrutalhados, e faziam o membro afundar na minha mucosa receptiva. Depois daquela dor inicial, eu comecei a sentir tanto tesão no cu que mal conseguia ficar parado debaixo dele, comecei a rebolar a bunda para sentir a verga rija dele roçando minhas entranhas. Ambos estávamos gemendo, gemendo mais do que a prudência recomendaria. Algumas camas além, alguém acordou.
- Aí seus putos, dá para parar de se masturbar? Ninguém consegue dormir com essa putaria toda! – a voz sonolenta se calou quando o silencio voltou a reinar.
O Nikolai e eu continuávamos engatados, eu rebolando feito uma vadia, ele socando aquele caralhão no meu rabo. Ele devia ser tão inexperiente quanto eu, pois não levou nem três minutos para soltar jatos e mais jatos de porra no meu cuzinho, sem me dar a chance de gozar também, uma vez que puxou a pica para fora tão logo terminou de gozar. Ele praticamente fugiu de volta para a cama dele, me deixando com o cu queimando, seu sêmen se espalhando nas entranhas e as pregas dilaceradas sangrando e tingindo o lençol com o meu cabaço.
No dia seguinte, ele fingiu que não havia sido ele a me foder. Porém, olhava para mim de um jeito diferente, seus olhos brilhavam de tanta cobiça e a simples aproximação de mim provocava-lhe uma ereção.
- Eu sei que foi você! – exclamei quando estávamos sob os chuveiros depois dos treinos diários, e ele não conseguia desviar o olhar sedento da minha bunda.
- Vai me dedurar? – ele estava mais preocupado com sua honra do que com o prazer que havia sentido entre as minhas pernas.
- Por que eu faria isso? Você não é homem suficiente para suportar as consequências, se eu abrisse minha boca. – devolvi.
- Obrigado! Juro que não vou tornar a fazer isso de novo! – ser verbalmente desmascarado de sua masculinidade o deixou envergonhado, mas contra a verdade não encontrou como se defender.
- É uma pena! – balbuciei. O olhar de incredulidade que ele me lançou me fez rir. Ali estava outro general ou marechal sendo criado e, no futuro, tido como um grande homem.
O mais estranho daquilo tudo, foi eu ter gostado de sentir aquele rapagão de ombros largos, bíceps salientes e um belo e vigoroso par de coxas, se satisfazendo no meu cuzinho. A lembrança da umidade morna e cremosa que ele havia deixado em mim, me impediu de sentir raiva dele. Era um babaca, mas ainda assim, podia render outros coitos como o da noite anterior, talvez até mais prazerosos quando ele aprendesse a dominar sua inexperiência e ansiedade. Numa noite daquela mesma semana, fui eu quem me enfiei nu sob os lençóis dele. Dormindo pesadamente, ele só percebeu minha presença quando eu já estava com a pica dele na mão, afagando-a e punhetando-a para provocar uma ereção. O rosto idiota dele se iluminou com um sorriso ao sentir-se manipulado onde residia toda sua hombridade. Sem pestanejar, ele se lançou sobre mim e me fodeu deliciosamente. Além do Nikolai, concedi ao Vladimir e ao Petror o mesmo privilégio de se satisfazerem no meu cuzinho. Eles faziam parte dos rapazes mais atraentes e fogosos do colégio e, me divertir com a intrepidez de seus cacetes me proporcionou momentos de muito tesão e prazer. Eram tão desprovidos de inteligência que nunca se sentiram usados, pelo contrário, eles achavam que estavam levando a melhor.
O que funcionava muito bem no colégio era um sistema de comunicação onde nunca se descobria de onde vinham as informações. Foi através desse sistema que o comandante do colégio abastecia meu tio Gueorgui com notícias do meu progresso como cadete, da desenvoltura com a qual liderava os companheiros, do potencial que via em mim e, que sua intuição lhe assegurava, de poder vir a ser uma peça interessante para a KGB e, obviamente, da minha audaciosa predileção pelos falos de alguns colegas. Eu nunca duvidei que meu tio recebia esses relatórios sobre o meu comportamento no colégio, portanto, fazia de tudo para que ele pensasse que ainda podia haver um futuro militar para mim, mesmo que determinadas falhas de personalidade precisassem ser corrigidas no meio do caminho. E, para isso, ele tinha meios mais que suficientes para atuar.
À medida que se cientificava da minha evolução, começou a me chamar com mais frequência para a sua casa, foi seu modo de conferir se as informações que recebia correspondiam à verdade. Eu não suportava o clima daquela casa, opressor, despótico, melancólico e regido pelo medo que se lia nos olhares da minha tia e das minhas primas. Contudo, não estava em condições de recusar aqueles convites para passar o fim de semana ou uma data comemorativa qualquer, pois eu mesmo vivia sob o jugo atroz do marechal. Ele continuava me detestando, seu esforço para manter uma relação minimamente cordial era imenso, a recíproca também era verdadeira.
Minha prima Ikatrina, a mais velha das filhas do tio Gueorgui, então com vinte e dois anos, estava estranha quando cheguei para aquele fim de semana. É certo que nunca vi um sorriso genuíno naquele rosto até bem bonito, mas ela me pareceu abatida, tinha os olhos fundos e vermelhos de quem passava horas chorando, também estava assustadiça, especialmente quando ouvia os berros constantes do pai pela casa por qualquer motivo sem importância. Eu não tinha afinidade alguma com as minhas primas, por isso nem me preocupei com as mazelas que afligiam aquela família. Intuitivamente, desconfiei que ela escondia algo muito grave, mas como não conhecia sua rotina, não conseguia estabelecer um elo que justificasse aquele comportamento. Era madrugada, o goluptsi que minha tia serviu no jantar estava bastante salgado, o que lhe rendeu uma ofensa seguida de palavrões que meu tio soltou sem o menor pudor, e que também me obrigou a descer até a cozinha a procura de água. Ao acender a luz da cozinha, meu grito só não ecoou pela casa devido a ligeireza com que tapei a boca com a mão. Meus olhos demoraram a se fixar naquela cena horripilante. Ikatrina estava sentada no chão envolta numa poça de sangue, encostada às portas do gabinete da pia, com a camisola arregaçada até acima da cintura permitindo que se distinguisse claramente sua vagina e, entre ela e o umbigo, um corte profundo que ia de um lado ao outro de seu ventre todo aberto e, de onde pendia a cabeça de um bebê parcialmente expulso com parte das entranhas dela. Não sei de onde veio a imediata e intensa frieza que tomou conta de mim e, que me levou a voltar rápida e furtivamente ao meu quarto, pegar a máquina fotográfica e fazer uma série de fotografias daquela tragédia. No mesmo instante que me deparei com ela, eu soube que viria a me ser muito útil num futuro qualquer. Somente depois de fotografar a cena e me assegurar de esconder a câmera, soltei o grito que estava entalado na minha garganta. Como eu esperava, segundos depois, toda a família estava na cozinha. Minha tia gritava feito uma histérica antes de levar uma bofetada na cara com a mão pesada do meu tio, ele mesmo mais confuso e perdido do que uma barata tonta, passando as mãos pelos cabelos desalinhados. A irmã dela, pálida e estática, mantinha o olhar arregalado para a irmã morta. Por um breve instante, tive a impressão de ver naquele olhar os mesmos sinais que li no olhar de minha mãe no dia em que a levaram para o manicômio. Algo me dizia que ela teria o mesmo destino trágico.
Tio Gueorgui demorou a encontrar uma solução para ocultar aquela tragédia. Tão logo o impacto da cena permitiu que voltasse a raciocinar, ligou para o irmão pedindo que viesse o mais urgente possível. Tio Konstantin ficou tão abalado quanto o irmão, mas não pela sobrinha morta, e sim, pelas consequências nefastas que aquilo podia causar à imagem deles. Amanhecia quando terminaram de articular um plano que solucionasse aquele problema, e logo o puseram em prática. Um médico e mais três mulheres corpulentas apareceram pouco mais de uma hora depois das ligações que tio Gueorgui tinha feito. Fazia um tempo que eu tinha me afastado da cozinha, o cheiro do sangue coagulado misturado com o conteúdo das vísceras da minha prima estava me causando enjoo. Afora isso, ver a cara do meu tio, tão transtornada, estava me dando uma satisfação mórbida. O corpo foi embalado num grande saco plástico e carregado pelas mulheres até um furgão estacionado nos fundos da casa. Só então os empregados foram liberados para fazer a faxina da cozinha e, acostumados a não ver nem ouvir nada que pudesse comprometer suas vidas, não deixaram um único vestígio do que sucedera ali. Tio Gueogui começou, horas depois, as investigações para descobrir o infeliz que havia preenchido o ventre da filha, nem as prisões da Sibéria seriam opção para o desdito que não chegaria a fazer duas inspirações antes de ser morto após ser descoberto.
Tio Konstantin achou por bem me levar consigo quando voltou para casa. Não houve nenhuma menção à família sobre a sua repentina ausência no meio da madrugada e, muito menos, da catástrofe na casa do irmão. O olhar dirigido a mim não precisou de palavras, eu não estava autorizado a abrir a minha boca sobre o assunto nem agora, nem nunca. O pacto de silêncio era condição indispensável para todos que presenciaram a cena continuarem respirando. Eu entendi isso prontamente, sem deixar que o sorriso que carregava comigo pelo trunfo que tinha mãos pudesse ser notado. O sumiço da minha prima foi justificado com uma doença que lhe havia comprometido os pulmões e precisava ser tratada com a ajuda das águas termais de Turinsk na Região de Sverdlovsk, a mais de dois mil quilômetros de Moscou, garantindo assim, que nenhum bisbilhoteiro se pusesse ao encalço dela.
A partir desse incidente e, devido à instabilidade que passou a reinar na casa do tio Gueorgui, eu passei a ficar na casa de Konstantin em mais finais de semana. Eu pouco conhecia esse homem. Ele não diferia em muito do caráter do irmão, mas parecia ser mais sereno, viver uma vida privada mais solta, e tirar proveito de tudo que lhe caia nas mãos, ou era usurpado dos que não tinham sua influência. Também logo notei que o interesse que tinha por mim era diferente do que o do tio Gueorgui, uma vez que este já tinha meu irmão Gero como seu pupilo. A primeira vez que percebi que podia tirar algum proveito daquele homem foi quando ele entrou na sauna do pavilhão de lazer que ficava nos fundos do imenso quintal da casa. Como, até então, eu estava sozinho na cabine revestida de tabuas de bétula, não me preocupei em manter a toalha enrolada à cintura quando fui molhar as pedras sobre o gerador de calor, mas fui surpreendido pela entrada repentina do tio Konstantin, que eu julgava ainda estar no trabalho, no gabinete de Leonid Brejnev de quem era auxiliar pessoal de assuntos estratégicos. Ele olhou para a minha bunda protuberante como um lobo cobiça uma lebre, tirou o robe grosso e sentou-se nu próximo de onde eu havia deixado a minha toalha. Tio Konstantin era um cinquentão forte, aparentava bem menos idade, não era tão gordo quanto tio Gueorgui, sua estrutura óssea era mais bem desenvolvida e seu corpo tinha algo de sedutor com aqueles pelos que pontualmente apresentavam-se grisalhos num local ou outro. A primeira coisa que me chamou a atenção foi seu falo grosso e o enorme sacão sobre o qual pendia. Não era uma pica grande, mas a grossura a fazia parecer maior. Assim como eu, ele também logo notou para onde meu olhar havia se desviado. Reconheci aquele sorriso que ele me dirigiu no mesmo instante, embora nunca o tinha visto noutros homens, mas sabia que estava impregnado de tesão, de um desejo carnal pelo meu corpo jovem e esculpido. Com uma lenga-lenga sobre as minhas obrigações no colégio militar, ele começou a puxar assunto. Recostou-se à parede, levantou a perna esquerda e apoiou o pé na beirada do banco onde estávamos sentados, o que fez a genitália pesada escorregar sobre a coxa direita e ficar livremente exposta ao meu olhar. Velho pilantra – pensei comigo mesmo, você sabe que sou gay e que posso me impressionar com o que carrega entre as pernas, mas o surpreendido aqui vai ser você antes de deixarmos essa sauna. Enquanto conversávamos, eu lambia meus lábios, olhava sem disfarce para o cacete dele e fazia como se aquele membro fosse meu velho conhecido. Mais do que o calor da sauna, o que começou a içar aquela pica foi o calor que queimava dentro do meu tio. Isso mesmo, velho safado, deixa o tesão te dominar, eu vou te mostrar como sei cuidar bem dele. Tio Konstantin levou a mão ao cacete à meia-bomba, precisou coçá-lo para abrandar a comichão que o consumia. Eu o acompanhei com o olhar e coloquei no rosto o mais doce e compreensivo sorriso que consegui criar. Foi o que bastou para o velho perder o pudor. A mesma mão que coçara a jeba foi levada com delicadeza para o meu rosto, fazendo-o encaixar-se nela.
- Você é um rapaz tão lindo, Adrian! Nenhum de seus colegas no colégio te molesta com toda essa exuberância e beleza? – ele falou pausadamente, com a voz empostada, procurando criar um clima de empatia.
- Claro que não, titio! – exclamei apressado e fingindo encabular. Eu ia dizer apenas ‘tio’, mas o ‘titio’ ia dar ao velho a impressão de inocência de desamparo, como eu queria.
- Você sabe que pode contar comigo, aliás, deve contar comigo, se alguém tentar fazer qualquer coisa de mal a você, não sabe? Seria um pecado alguém se valer da sua virtude em proveito próprio. – isso excetuando você, não é mesmo, seu cretino falso.
- Todos lá sabem que tenho dois tios maravilhosos me apoiando e guiando meus passos, ninguém se atreveria. – retruquei, colocando uma extrema candura no olhar que, propositalmente, mantinha cabisbaixo para deixar aquele velho sufocado de tanto tesão. E funcionou.
- Você me acha um tio maravilhoso? – questionou, caindo na armadilha
- Claro, tio Konstantin! Eu gosto muito de você! – respondi, passando mais uma vez a língua nos lábios de forma sedutora.
O caralho do velho parecia um pino brotando da virilha pentelhuda, estava duro e começando a babar com a cabeçorra toda exposta. Ele me puxou para um abraço e colocou um beijo quase paternal na minha testa. Eu deixei a mão cair displicentemente sobre a coxa peluda dele, antes de deixá-la escorregar na direção do sacão. O suspiro que ele soltou indicava que estava a um passo de se deixar levar pelo tesão, esquecendo sua posição, esquecendo nosso grau de parentesco, esquecendo que eu tinha menos da metade de sua idade e que era homossexual. Ele só pensava foder aquela bunda carnuda e musculosa que estava ao alcance de suas mãos. Ao fechar uma delas sobre a minha nádega e amassá-la com volúpia, eu soube havia vencido a batalha. Dali para a frente era só dar corda que o velho ia não só se perder no meu rabo, mas nos ardis que pretendia usar para tê-lo em minhas mãos.
Ele me puxou com força contra si, segurou meu queixo e grudou a boca sobre a minha. Por um bom tempo, eu precisei inspirar pelo nariz, uma vez que ele não parava de chupar meus lábios, cobrir devassamente minha boca e enfiar a língua dentro dela. Eu espalmei as mãos sobre seus ombros e gemia como nunca tivesse sentido a voracidade de um homem, o que o ensandecia. Ele estava tão desesperado para enfiar a caceta no meu cuzinho, onde seu dedo deslizava sobre as preguinhas, que queria partir com tudo para cima de mim. Confesso que por uns instantes senti bater uma insegurança e um receio de que ele, naquele estado, me fodesse com violência com aquela rola tremendamente grossa que eu acariciava com uma das mãos. Comecei a escorregar para fora do banco ao mesmo tempo que minhas mãos procuravam se segurar por onde passavam deslizando suavemente sobre a pele e os pelos dele. Percebendo que meu rosto se aproximava cada vez mais de seu falo, ele não me reteve até eu sentar no chão no meio das pernas abertas dele. Olhei para o cacete empinado e olhei para o rosto dele, como se estivesse embevecido com aquela maravilha que pulsava diante de mim e soltava o indefectível aroma de macho. Com a mão na minha nuca, ele foi me trazendo lentamente para junto do cacete, até ele tocar meu rosto. Demorei a esboçar uma reação, como se não soubesse o que fazer com aquilo, até começar a abrir vagarosamente a boca e fechá-la ao redor da glande empapada de pré-gozo. Extasiado, meu tio rugiu como um leão velho, agarrou-me pelos cabelos e socou a pica na minha boca. Querendo demonstrar inaptidão, movi desajeitadamente os lábios ao redor da pica, até que, aos poucos, imprimi chupadas firmes sorvendo o sumo que a jeba vertia. Ele urrou como se fosse ter um treco. Fiquei imaginando a quanto tempo esse velho não tinha a pica chupada, e comecei a sugar com uma devassidão pecaminosa, enquanto bolinava aqueles testículos globosos. Até que foi bem gostoso brincar com o sexo dele, que deixava transparecer uma maturidade que eu desconhecia. Chupei-o com tanta devoção que ele não demorou a gozar. Não me preveniu de nada, apenas deixou o gozo aflorar e eu me encarregar de degluti-lo na urgência com que os jatos enchiam minha boca. Pensei que a intensidade dos grunhidos do velho fosse despertar a atenção de alguém em pouco tempo, pois ele não os impedia de saírem graves e guturais do fundo do tórax. Só larguei a pica, já ligeiramente flácida, quando terminei de lamber toda a porra na qual estava lambuzada.
- Ai titio, eu... eu... – comecei a gaguejar como se precisasse de perdão pela insanidade que havia cometido. Ele abriu um sorriso generoso, voltou a me puxar para seus braços e me beijou.
- Não foi nada, não se preocupe, está tudo bem, você não fez nada de errado! Você é tão doce, Adrian! Estou tão feliz! – era tudo o que eu queria ouvir.
- Não está zangado comigo?
- Não meu querido, pelo contrário, foi maravilhoso o que você fez. Espero ser merecedor das tuas carícias muitas outras vezes. – afirmou, tentando garantir mais boquetes para o futuro.
- Será, eu prometo, titio! – esse ‘titio’ meio sussurrado meio gemido ofuscava-lhe os pensamentos.
Como ele havia me puxado para cima me fazendo encaixar entre suas pernas, ao me aprumar, sentei-me sobre uma de suas coxas. As nádegas se ajustaram sobre a coxa dele como se estivessem num selim. Ele conseguia sentir os espasmos que contraiam meu cuzinho. Eu me inclinei na direção da boca dele e o beijei com uma suavidade que se assemelhava ao toque de uma pluma. A ereção dele voltou, rija e determinada. Suas mãos rumaram na direção da minha bunda e ele me apalpou. Ergui a pelve e sentei sobre a ereção fingindo que não a sentia. Ele enfiou outra vez um dedo no meu cu e eu gemi. Sem tirar os olhos dos meus, ele movia o dedo penetrando de leve a portinha enrugada, gemi como se estivesse implorando por aquilo. Ele começou a chupar um dos meus peitinhos, sugava como se estivesse mamando uma teta. Eu erguia a bunda e afagava sua cabeça junto ao meu peito. Rebolei até encontrar a pica em riste, ele a firmou com uma das mãos e eu deixei o peso do meu corpo cair lentamente sobre a jeba, gemendo e mastigando até fazê-la desaparecer no meu cu.
- Ah, Adrian! Sinto que estou no paraíso. – grunhiu meu tio, antes de começar a estocar a vara no meu rabo.
Comecei a ganir e demonstrar que estava sentindo dor, o que de fato estava, uma vez que nunca tinha sentido uma caceta grossa como aquela. Ele me apertava em seus braços como que querendo me acalentar pelo sofrimento que estava me infligindo, sem interromper as estocadas vigorosas. Cavalguei-o como se estivesse trotando um garanhão, a pica me preenchia, esfolava minha mucosa sensível e me enchia de prazer, sem que eu pudesse refrear o tesão e o gozo que me fez ejacular sobre a barriga peluda dele, não escondendo a satisfação que sentia. Pouco depois, ele estava inundando meu cuzinho de porra, feliz como um garoto que acabava de conseguir uma proeza. Não deixei passar a oportunidade de mostrar que ele havia me machucado quando o filete de sangue começou a escorrer pela minha perna, eu precisava sensibilizá-lo e esse era o momento.
- Me perdoe, meu querido, não quis te machucar! – penitenciou-se condoído.
- Não sei como isso foi acontecer, titio! Devo ter feito alguma coisa errada. – devolvi capcioso
- Não querido, a culpa é toda minha, fui muito bruto com você!
- Se foi eu não percebi, estava gostando tanto. – se vocês quisessem ver o que é um velho babão, teriam que ter visto a cara do meu tio, parecia um criminoso arrependido. Era exatamente assim que eu precisava dele.
Ele entrou no meu quarto tarde da noite quando todos já dormiam, com o pretexto de saber se eu estava bem, se não estava sentindo dores na bundinha, se ele podia fazer alguma coisa por mim. Pendurei-me no pescoço dele e disse que só precisava dele ali do meu lado. Antes de amanhecer, ele enfiou mais uma vez a pica no meu rabo com a minha mais irrestrita concordância. A atitude retraída dele durante o café da manhã e aquele olhar que se fixara em mim me deu a certeza de eu ter ganho um aliado. Com um pouco de dengo e alguns afagos nos lugares certos esse homem atenderia a todos os meus caprichos.
O resultado dos coitos com meu tio logo apareceu. Ele começou a questionar abertamente as atitudes do tio Gueorgui que se opunham à minha vontade. Afirmou categoricamente que ele se encarregaria dali para frente de guiar os meus passos, sem que interferências outras fossem necessárias. Pareceu-me que o tio Gueorgui tirou um peso de suas costas ao se ver livre de mim e dos problemas que eu criava. Eu não podia estar mais satisfeito de me livrar daquele homem asqueroso, de seus desmandos e de suas surras.
Chegaram aos ouvidos do próprio Leonid Brejnev as qualidades que eu vinha demonstrando no colégio militar, o que deixou meu tio Konstantin ainda mais enfunado e cheio de si.
- Me disseram que seu sobrinho tem todas as qualidades para se tornar um membro da KGB, já pensou nessa possibilidade, meu camarada Volkov? – perguntou o líder supremo.
- Sim, camarada! Na verdade, estou me empenhando pessoalmente nisso. O rapaz é muito culto, fala fluentemente alemão, húngaro, inglês e obviamente russo, apesar de não ser cidadão russo, ainda tem excelentes notas em todas as disciplinas e sugere ser não apenas um líder nato, como alguém capaz de encontrar saídas inteligentes para dificuldades aparentemente insolúveis. – meu tio sabia que isso faria com que Brejnev me abrisse pessoalmente as portas do sucesso.
No dia seguinte à conclusão da minha formação como cadete aspirante do exército soviético, eu estava cara a cara com Brejnev, recebendo uma carta de recomendação para que a KGB se empenhasse em fazer de mim um espião internacional que pudesse obter informações valiosas do mundo ocidental, em particular, da CIA e dos departamentos de Estado dos Estados Unidos. Foi assim que, aos vinte e um anos, eu assumi o cargo de agente secreto e de espionagem da temida KGB, depois de três anos de instruções, desenvolvimento de técnicas para aniquilar inimigos, usar de estratégias para me infiltrar onde fosse necessário, aparentar ser apenas um jovem cidadão comum com um talento nato pela pintura e pela música e, possuidor de diversas identidades tanto de países do bloco soviético quanto de nações ocidentais. Eu podia entrar e sair de muitos países com relativa facilidade, circular em ambientes requintados com o histórico de pertencer a uma família nobre da Hungria que havia sido desmantelada durante a guerra, deixando-me como único herdeiro de uma fortuna cujas cifras ninguém queria citar por pura modéstia.
Instalei-me num apartamento com varanda no terceiro e último andar de num edifício de tijolos aparentes na Ulitsa Barvikha, 346 no bairro de mesmo nome. Era uma área nobre da cidade, bastante arborizada e com todas as comodidades a alguns quarteirões a pé. Meus vizinhos juravam que eu era um pintor cujas obras se espalhavam numa velocidade impressionante por mansões distribuídas em todos os países da URSS, até galerias famosas de Nova Iorque e Londres tinham obras minhas à venda, o que obviamente era um exagero, embora eu estivesse recebendo cada vez mais retornos positivos com as minhas telas. As pinceladas feitas no Instituo György Lukács tinham não só a leveza pueril como o traço suave, enquanto as das obras mais recentes, feitas na solidão do meu quarto na casa do tio Konstantin, ganharam traços firmes, mais carregados tanto nas cores quanto na pressão do pincel sobre a tela. Eram promissoras, afirmaram alguns experts. No momento, elas tinham mais importância como parte do disfarce e da duplicidade da minha vida.
Ingenuamente, pensei que estava livre dos grilhões que me prendiam aos meus tios poderosos, embora soubesse que continuavam a me vigiar com o mesmo afinco de antes. Contudo, o que eu não esperava, era ter que aceitar um completo estranho vivendo no quarto ao lado do meu.
- Como assim, titio? Esse, esse ..... bem, não importa, vai morar aqui comigo? – questionei estupefato quando tio Konstantin trouxe um sujeito que mais parecia um armário dizendo que ele ia ser meu parceiro não só de domicílio, mas de cama.
- Dimitri Yurchenko, o nome dele é Dimitri Yurchenko! – esclareceu meu tio. – Ele é um belo rapaz, não é Adrian? Para um homossexual como você um presente irrecusável, concorda? Ele tem permissão para te foder o quanto quiser, contanto que não te machuque e jamais bata em você. – emendou num cinismo impressionante.
- Eu pensei que você me amava. – afirmei, aproximando-me do meu tio e sussurrando em seu ouvido para que o brutamontes não desconfiasse dos outros laços estreitos que me ligavam ao meu tio, além dos familiares.
- Adrian, meu querido, eu sou um homem vivido, há tempos venho sendo condescendente com as tuas artimanhas para ganhar a minha confiança. Não se iluda achando que não sei onde você pretende chegar ao trepar comigo. Só que agora estamos falando de questões de Estado, você não é mais o moleque gostoso que sabe como ninguém brincar com a minha pica. Não o culpo pelo que se tornou, mas não posso permitir que alguém se aproxime de você valendo-se de seus pontos fracos para obter informações que podem colocar em risco decisões de Estado. Um pederasta é alvo fácil de charlatães e, principalmente, de inimigos ocidentais com suas liberalidades promíscuas. Dimitri está aqui exatamente para isso, para garantir que você não caia em tentações. – sentir meu tio me escapando entre os dedos como um punhado de areia me deixou furioso. Eu agora era controlado não apenas pela minha família, mas por toda uma organização de serviços secretos da União Soviética, cujos membros podiam estar à espreita em cada esquina monitorando todos os meus passos, isso sem mencionar o troglodita que estava diante de mim.
- Vejo que não gosta de mim como eu achava. – se aprendi alguma coisa durante esses anos em que me burilaram para ser um membro do serviço secreto, foi jamais demonstrar meus sentimentos, nem rancor, nem raiva, nem admiração e, muito menos amor, pois com esses sentimentos nos controlando, a razão não tinha a frieza necessária para sermos eficazes em nossas missões. – Não me importo que faça um julgamento errado a meu respeito, mas não me abandone, titio. – continuei, enquanto levava discretamente a mão sobre o cacete dele. Eu ainda não estava derrotado, querido tio. Sei que essa pica não é indiferente a mim e, enquanto ela carecer dos meus cuidados, seu telhado continuará sendo de vidro.
- Engano seu, Adrian! Eu gosto muito de você, e gosto como é carinhoso comigo. Porém, na minha posição, eu preciso ser prático acima de tudo. É por isso que preciso tomar essas precauções. Você continuará frequentando a minha casa, e eu virei aqui muitas vezes para apagar o fogo que arde nesse cuzinho. – afiançou ele. Como eu suspeitava, a situação ainda não estava perdida.
- E, mesmo assim, vai me deixar nas mãos desse brutamontes? – me vitimizar mexia com os sentimentos do meu tio, eu precisava me valer dessa arma.
- Um jovem fogoso como você precisa ser satisfeito, é o que o Dimitri fará. – por hora, eu precisava aceitar os termos dele.
O troglodita, além de desajeitado, era até meio tímido, o que não deixava de ser engraçado para um sujeito daquele tamanho e com toda aquela energia que vicejava em seus músculos enormes. Ele trazia pouca coisa consigo, uma mochila surrada do exército com algumas peças de roupa todas engruvinhadas, uma fotografia embaçada de um casal de meia idade, uma daquelas bolas de vidro que ao serem viradas deixam cair flocos de neve sobre alguma figura, no caso, uma miniatura do palácio do Kremlin com os quatro relógios dourados em sua cúpula central e, uma semiautomática Makarov, igual a minha, apenas mais surrada. Em que condições ele a devia ter usado para estar assim gasta, era uma questão que me veio à mente.
Depois que meu tio partiu, deixei o Dimitri se familiarizando com seu quarto, que ficava anexo ao meu. Eu precisava de um tempo para digerir aquela novidade, e começar a pensar num plano para tirar esse sujeito do meu encalço. Meu pensamento era mais criativo quando estava pintando ou tocando piano, por isso me sentei diante dele e comecei a dedilhar o Noturno Op.48 de Chopin cuja partitura eu começara a ensaiar alguns dias antes. Não demorou para o Dimitri aparecer de torso nu trajando uma calça de moletom larga e debotada. Atraído pela música, ele deu a volta por trás de mim, acompanhou por alguns minutos as minhas mãos percorrendo o teclado e depois foi se sentar no largo peitoril da janela onde ficou calado contemplando os primeiros pingos de chuva que começavam a estourar contra a vidraça. Era um homem atraente, havia uma tatuagem sobre o imenso bíceps direito – NEVER GIVE UP – escrito com a fonte Wide Latin, e outra acima do mamilo direito constando de seis linhas escritas numa letra cursiva cujo conteúdo não consegui ler de onde estava. Um russo com uma tatuagem em inglês, seria de se espantar não fosse eu saber como é que os soviéticos prepararam jovens para se infiltrarem no ocidente sem despertar suspeitas. Ele não era membro da KGB, era bronco demais para isso, além de seu biótipo não enganar ninguém, seus fortes traços eslavos não desmentiam sua origem. Fiquei me perguntando de quantas facetas era composto o exército soviético. Aquele rapaz de vinte e poucos anos, não era um soldado comum apesar de seus movimentos confirmarem tratar-se de um militar, não estava atrelado a um quartel, que tipo de serviço estaria prestando à nação?
Deixei-o ali mergulhado em seus pensamentos, ele pareceu não ter notado que eu havia parado de tocar, e fui preparar um sanduiche para o que seria o meu jantar. Será que vou ter que bancar também a cozinheira e faxineira desse intrometido? De forma alguma, isso não. Já estava aturando demais ao ter que viver com ele sob o mesmo teto, me restringindo a liberdade. Eu estava fatiando um pepino em conversa para forrar as fatias de pão com queijo, frango desfiado e uma pasta de iogurte temperado quando senti a presença dele atrás de mim. Descalço, eu não ouvi seus passos, mas senti o calor irradiado pelo corpanzil e a respiração roçando minha nuca. Fingi não tê-lo notado e continuei a preparar meu lanche. Ao tampar o sanduiche com a fatia de pão, uma travada forte de seus braços me comprimiu contra o balcão da pia. Numa fração de segundos minha calça e minha cueca estavam entaladas nos meus joelhos, uns 110Kg caíram sobre as minhas costas e minhas nádegas estavam sendo apartadas por uma mão determinada que guiava um cacetão para dentro do meu cuzinho. Eu me agarrei ao mármore frio e liso e soltei um grito quando meu cu foi rasgado como se fosse um tecido desgastado. Tive a sensação de estar sendo fodido por um garanhão, com aquele peso debruçado nas minhas costas e uma pica que parecia não terminar nunca entrando no meu rabo. Eu gania choroso, não havia espaço para eu me mover e tentar escapar, levava as estocadas brutas no cuzinho sem poder reagir. Implorei para ele parar. Mas, tão calado como estava, também se fez de surdo. O único som que escapava entre seus dentes cerrados era o rosnado da respiração acelerada. O ponteiro dos minutos do relógio na parede à minha frente, saltava de traço em traço, parecendo ditar o vaivém daquela rola entrando e saindo do meu cu. Depois de seis saltos, meu rabo se encheu de porra, um grunhido no meu cangote indicava que o Dimitri concluiu sua missão. Eu tremia da cabeça aos pés, uma cólica pungente vinha das minhas vísceras, mal me permitindo ficar de pé. Olhei para trás e o vi parado a poucos centímetros de mim, com o pauzão à meia-bomba gotejando um esperma denso e esbranquiçado, e o olhar fixo na minha bunda, de onde escorria um rutilante filete de sangue que já estava chegando ao meu joelho. Ele sumiu atrás da porta do quarto dele que bateu com força fazendo trepidar o batente. Chorando, eu me arrastei até o banheiro e, ainda tremendo feito uma vara verde com os espasmos que não paravam de sacudir meu corpo, me enfiei debaixo do chuveiro quente. “Ele tem permissão para te foder o quanto quiser, contanto que não te machuque e jamais bata em você”, foram essas textualmente as palavras do tio Konstantin quando trouxe esse sujeito para dentro do meu apartamento, eu acabava de compreender o peso de cada uma delas. Ser obrigado a transar com o Dimitri não era uma questão de escolha de hora e lugar, de concordar ou não, de estar afim ou não, era simplesmente me sujeitar quando ele quisesse.
Não vi o Dimitri até a manhã seguinte, quando ele deixou o quarto com os mesmos trajes do dia anterior, ou seja, aquela calça de moletom desbotada e nada mais. Ele me rosnou um – bom dia – que não respondi, vasculhou pelos armários da cozinha até encontrar o que queria e começou a preparar seu desjejum. Comeu feito uma fera faminta, lavou a louça que sujou e não me dirigiu a palavra, voltando ao peitoril da janela e olhando para a manhã de sol fraco através da vidraça.
Contive um impulso instintivo de não partir para cima dele feito um cão raivoso. Tudo o que eu não podia fazer era perder a cabeça, isso me aniquilaria. Como meu cavalete de pintura e o piano ficavam naquele mesmo ambiente, sentei-me com dificuldade sobre a banqueta e comecei a misturar algumas tintas, até sentir que estava inspirado o suficiente para dar a primeira pincelada na tela que tinha mais da metade de sua superfície coberta de traços multicoloridos sobre um fundo berinjela.
- É só isso que você faz na vida? – perguntou o Dimitri depois de quase uma hora de silêncio. Eu não respondi.
Deixei-o e fui para o meu quarto, caminhando com dificuldade, pois ele havia acabado com o meu cu e eu não estava me sentindo bem com aquela dor que não cedia e a falta de inspiração para continuar pintando. Era assim que eu ia continuar vivendo? Prisioneiro na minha própria casa e sendo fodido por um Hércules que, à semelhança do semideus grego, estava executando um dos trabalhos que lhe foram incumbidos, eu pensei que talvez a única maneira de me livrar daquilo tudo, seria matar aquele sujeito. Treinado para isso eu havia sido. Fizeram parte dos meus treinamentos na KGB quebrar o pescoço de um homem com um simples giro de sua cabeça até o estalar da coluna, mesmo que esse homem tivesse o dobro da minha compleição física. Subitamente, minha memória viajou para o passado indo parar no jardim da casa da Utca Alpár em Budapeste onde um camundongo atrevido teimava vir para vasculhar o tambor de lixo que Teçá deixava junto à porta da cozinha.
- É hoje que vamos nos livrar dele, Adrian! – exclamou a Teçá munida de uma vassoura, enquanto colocava outra nas minhas mãos. – Acerte a cabeça dele com uma pancada forte, Adrian, não o deixe escapar. – recomendou ela.
O bichinho assustado correu ao longo do canto da parede com a calçada que circundava a casa tentando salvar o próprio pescoço e acabou revelando sua toca entre as raízes de um arbusto florido de Silindra. Minha vassoura estava prestes a dar um golpe certeiro na cabeça dele quando vi os quatro filhotes, pouco maiores do que um amendoim, se agitando no fundo do buraco. Naquele dia descobri que jamais conseguiria matar outro ser vivo.
Por quatro dias não tive notícias do Dimitri, ele não dormiu em casa. Na tarde em que voltou, eu estava recebendo a ligação do meu chefe na KGB, me designando para um trabalho, implantar escutas e vigiar um general que, suspeitava-se, estava repassando informações ao ocidente através de um contato na República Democrática Alemã. Eu estava de saída para estudar as possibilidades de como penetrar tanto na casa como no gabinete do suspeito para instalar as escutas quando o Dimitri bloqueou minha passagem junto à porta de saída.
- Agora não! – exclamei, tentando tirá-lo da minha frente.
- Quero falar com você!
- Eu já disse, agora não! Saia da minha frente! – esbravejei. Eu não ia deixar ele me foder e me machucar para depois mal conseguir andar e executar a tarefa que me fora designada.
- Não me obrigue a usar a força! – devolveu ele, imperturbável.
- Então explique-se com o meu tio. Fui incumbido de uma missão e você está me retardando, se ele te liberar, pode me foder o quanto quiser. – retruquei. Ele me deixou passar sem dizer nada.
Era madrugada quando entrei em casa, estava cansado, ainda podia sentir nas veias a adrenalina correndo com a tensão que foi invadir a casa do general. O gabinete num quartel nos arredores da cidade havia sido mais fácil, encontrei o caminho praticamente livre pronto para receber uma invasão planejada por escalões superiores. Ao mesmo tempo, estava contente por tudo ter dado certo, uma equipe especializada dentro de furgões estacionados a pouca distância conseguiria ouvir cada palavra que seria dita nos telefones do gabinete ou da casa. Foi mais uma missão desempenhada com sucesso, meus tios não tinham do que se queixar.
Tomei uma ducha e fui me deitar, ignorando os reiterados pedidos do meu estômago vazio, estava tenso demais para digerir qualquer coisa. Comecei a sonhar coisas desconexas que tornaram meu sono inquieto. Eu ia da coragem ao medo, do riso ao choro, da raiva ao perdão, mas as imagens que desfilavam na minha mente não se relacionavam com esses sentimentos. Acordei abruptamente, sobressaltado, empapado em suor embora fosse uma noite fria de outono. O vulto gigantesco dele me observava ao pé da cama. Meu grito já estava para escapar da garganta quando o reconheci.
- O que faz aqui? Veio executar sua tarefa diária? – perguntei petulante. Ele não disse nada, apenas continuou ali, feito uma estátua. Fiquei me perguntando que técnicas para executar alguém haviam ensinado a ele durante sua formação nos quarteis.
Se sua missão fosse dar cabo de mim, já o teria feito, seria fácil para um homem com o físico dele. Não, ele havia sido plantado na minha vida para me aniquilar aos poucos, para deixar minha mente tão perturbada que seria tomado por louco e jogado nalgum hospício qualquer nos confins da tundra russa onde ninguém saberia quem sou.
- Saiu-se bem na sua missão? – perguntou ele afinal.
- Acho que sim. O que sabe sobre isso? – perguntei apressado, pois esse homem podia estar a par de tudo que acontecia comigo.
- Nada! Absolutamente, nada! Foi só uma pergunta! – asseverou.
- Então não as faça! Não estou autorizado a compartilhar minhas informações. – retruquei. Ele deu de ombros.
Como ele não mostrava a menor intenção de deixar o quarto eu cogitei sair da cama, talvez comer alguma coisa na cozinha, talvez me sentar ao piano, talvez voltar à minha tela para a qual vinha faltando inspiração. Mas, lembrei-me que estava usando apenas uma cueca e me retraí. Compreendi que desfilar diante dele em trajes sumários seria o mesmo que pedir para ser estuprado.
- Pode sair, não vou me atirar sobre a sua bunda! – ele pareceu ler meus pensamentos. Repentinamente, desconfiei que ele tinha erguido o cobertor e constatado minha quase nudez. – Guardei um pouco de sopa para você na geladeira, podemos esquentar. – emendou, afastando o temor da minha cabeça.
Joguei um robe sobre os ombros e fui procurar a sopa. Ele me seguiu e ficou me observando esquentar a comida. Estava deliciosa, não porque estava faminto, mas porque seu sabor era maravilhoso. Sorri para ele do outro lado da mesa. Ao menos tinham encontrado um carrasco bonito e com algumas qualidades para dar fim a minha existência.
- O que queria falar comigo antes de eu sair? – perguntei.
- Queria me desculpar pelo que fiz no dia em que cheguei! Não sabia que você era tão apertado. – afirmou.
- É bem estranho esse seu trabalho, como aceitou se prestar a esse papel? – questionei
- Acho que da mesma maneira que você e mais outros tantos milhares como nós que não temos como nos opor aos nossos ditadores. – respondeu ele. Fiquei surpreso com sua sinceridade.
- Então odeia tanto o que faz como eu?
- No início sim! Foi muito difícil estuprar o primeiro viado. Precisei vomitar logo em seguida. Mas, me trouxeram outros, e mais outros e mais outros, até eu pouco me importar se estava metendo a pica num cu ou noutro buraco qualquer, apenas me aprimorando para fazer o que me mandavam procurando pela excelência. – esclareceu ele.
- Posso me atrever a perguntar como ficou nas mãos dessas pessoas?
- Me obrigando a ingressar no exército quando foram arrancar de suas casas os rapazes da minha cidade, Noiabrsk, no distrito autônomo de Iamália-Nenets, sob a ameaça de não deixar ninguém vivo se nos recusássemos a acompanhá-los. – revelou.
- É muito longe daqui? – vi que o assunto lhe trazia dores suprimidas a muito custo.
- Sim, muito! Não sei precisar quanto, foram dias e dias para chegar a São Petersburgo onde fiquei aquartelado até seu tio me designar para cá. – não podia deixar de ser, meus famosos e poderosos tios sempre estavam envolvidos em qualquer coisa que fosse me trazer problemas.
- Conhece o general Konstantin?
- De forma alguma! Apenas recebi ordens do meu superior para embarcar num comboio que estava sendo deslocado para Moscou, com a incumbência de me apresentar ao general e ficar ao completo dispor dele. – se não estivesse mentindo, era um infeliz como eu, sem opções.
- E como castigo foi designado para foder um viado! – exclamei irônico. Ele não revidou. – Desculpe, não quis ser sarcástico. – emendei ligeiro
- Não estou encarando isso como um castigo. É tão somente mais uma missão. – ao menos sincero ele estava sendo.
- Bem, talvez então esteja na hora de você a cumprir. – retruquei, colocando o prato e os talheres na pia e me aproximando dele.
- Se é assim que prefere! – devolveu, se pondo de pé.
- Posso te pedir um favor?
- Qual?
- Não me machuque tanto dessa vez! – ele sorriu e me guiou para o quarto.
Ele prometeu que não me machucaria, que só colocaria a cabecinha, o que me fez rir, pois o que ele chamava de cabecinha era uma glande gigantesca que se destacava do já calibroso cacetão e, por si só, era capaz de escavar um túnel num cuzinho estreito como o meu. Imóvel, de bruços debaixo dele, recebi seu membro colossal procurando evitar demonstrar qualquer reação. Mal haviam se passado dois ou três minutos, e ele percebeu que não conseguiria cumprir sua promessa; minha pele lisinha e adamascada rescindindo ao perfume do banho, a mucosa anal úmida e quente que agasalhava seu falo e, aqueles meus gemidos lascivos superaram a sua determinação de manter só cabeçorra entre meus esfíncteres, e ele se deixou levar pelo tesão, enfiando progressivamente a caceta no meu cu até sentir o sacão prensado contra o meu reguinho. Apenas gani algumas vezes quando as estocadas socaram minha próstata contra o púbis. Fingi ser apenas um boneco, sem sentimentos.
Se existissem máquinas de sexo, o Dimitri seria o topo de linha delas. Ele fodia com eficácia, fazendo com que meu corpo todo se ressentisse de sua habilidade. Deixava como prova da sua eficiência uma quantidade absurda de esperma no meu cuzinho, encerrando o coito arfando levemente, e deixando qualquer consequência para trás. Era como se um cão perambulando pelas ruas encontrasse uma cadela no cio, ele a montava, a inseminava e a deixava prosseguindo seu caminho sem nenhuma expectativa quanto ao resultado de seu ato. Meus tios sabiam como destruir a dignidade de uma pessoa fazendo parecer que eram parentes preocupados com meu futuro.
Eu estava me saindo bastante bem nas minhas missões. Graças a elas, dois generais do alto escalão haviam sido fuzilados por alta traição, um agente duplo da KGB fora envenenado em pleno voo entre Londres e Nova Iorque, pelo menos uma dúzia de políticos insurgentes contra o regime haviam sido presos e mortos nos Gulag, o sistema de campos de trabalhos forçados para onde eram enviados os presos políticos opositores do regime comunista, entre elas a temida fortaleza de Tobolsk, tudo resultado de um trabalho executado com extrema maestria. Eu não gozava da confiança apenas dos meus tios, mas do próprio Brejnev e outros comandantes da KGB.
Quando não estava em serviço, voltava a assumir o papel do homossexual pacato apreciador de óperas, balé e artes plásticas. Apesar do regime comunista, eu consegui que um bom soldo fosse crescendo numa conta secreta na Suíça, onde marchands inescrupulosos e gananciosos depositavam os valores das aquisições dos meus quadros. A corrupção nos altos escalões do governo e entre pessoas privilegiadas pelo regime, não conhecia limites.
Eu estava totalmente adaptado à presença do Dimitri sentado no peitoril da mesma janela, embora houvessem duas na sala que eu usava para tocar piano e pintar. Assim que me via seguindo para lá ele vinha atrás. Um dia me confessou que gostava de me ouvir tocar, que as notas pareciam entrar em seu peito e reverberar lá dentro. Chegou até a guardar o nome das composições preferidas e me pedia para tocá-las para ele, enquanto ficava segurando os joelhos com as mãos e reclinava a cabeça na direção da vista dos arredores. Eu próprio sentia falta dele nos dias em que, por alguma razão, ele precisava se ausentar. Havia me acostumado a vê-lo ali quase sempre com o torso nu e, ocasionalmente, apenas de cueca, era assim que ele costumava andar pelo apartamento, como se as roupas o aprisionassem. Pela posição do cavalete de pintura, ele não podia ver, daquela janela, o que eu estava tracejando. Certo dia, cansado do que via na tela à minha frente, substitui-a por uma em branco, e comecei a desenhar aquele corpo viril e lindo que, sob a luz que incidia sobre ele, me fazia sentir tesão. A imobilidade dele facilitava a captura dos ângulos certos, do jogo de luz e sombra, a riqueza de detalhes anatômicos que se desenhavam debaixo de sua pele. Embora ele nunca posasse nu, eu o estava desenhando totalmente pelado. O que a cueca cobria, estava nitidamente gravado na minha memória das vezes em que senti aquele caralhão pulsando indomável do meu cuzinho. Fazia quase uma semana que eu estava trabalhando na pintura quando em dado momento ele deixou o peitoril e veio conferir o que eu estava pintando. Eu quis cobrir apressadamente a tela, mas achei que seria mais ridículo do que ele constatar a verdade.
- Me acha tão bonito quanto pintou no quadro? – perguntou, depois de uns instantes parado em silêncio observando a tela.
- Você é um homem muito bonito, sabe disso! – afiancei. Ele sorriu.
- Como conseguiu tamanha fidelidade de detalhes do meu cacete, se eu sempre estava com ele coberto quando sentado na janela?
- Esquece que já o vi sob diversas incidências de luz, sem luz, sentindo tanto sua consistência e rigidez resvalando contra a minha pele quanto sua energia pulsátil nas minhas entranhas. – devolvi sincero.
Não resisti à tentação ao tê-lo ali parado ao meu lado vendo o cacete enrijecer debaixo da cueca com o efeito das minhas palavras. Toquei levemente no imenso contorno latejante, deslizando apenas as pontas dos dedos, o que não me impediu de sentir o calor e a energia contidas nele. Em pouco tempo começou a se formar um crescente círculo úmido no tecido da cueca. Eu aproximei o rosto e comecei a mordiscar a cabeçorra de onde vinha aquela umidade. O Dimitri se retesou e soltou um discreto grunhido. Puxei a cueca para baixo e soltei o colossal caralhão que pendeu com seu próprio peso. Peguei-o numa das mãos e o levei à boca. A glande mais parecia uma bola de golfe arroxeada, estava toda melada de pré-gozo. Eu a engoli e suguei o sumo perfumado e ligeiramente salgado que começava a minar com mais abundância. O Dimitri trotou sobre os próprios pés sem sair do lugar, na tentativa de resistir ao imenso prazer que vinha de sua pica. Meus lábios se moviam sobre a cabeçorra envolvendo-a com suavidade. Lentamente, fui explorando toda a extensão da verga grossa coberta de veias saltadas pelas quais pude sentir o fluxo sanguíneo dele latejando. Ele me encarava com uma expressão entre surpreso e incrédulo, tendo um brilho no olhar que refletia gratidão e luxúria. Era a primeira vez que lhe chupavam a rola sem aqueles movimentos mecânicos e profissionais. O que ele estava sentindo agora eram carícias verdadeiras, lambidas e sugadas que estavam interessadas em seu sabor de macho, e não algo feito em troca de pagamento. Ele afundou os dedos nos meus cabelos, pelos quais tinha verdadeira adoração, desde que sentiu o perfume e como eram sedosos aqueles cachos cor de caramelo e, gemeu meu nome por duas vezes. Meu rosto já estava imerso nos densos pentelhos de sua virilha e minha voracidade parecia não ter fim, abocanhando ora um ora outro daqueles testículos de consistência borrachoide que preenchiam o enorme sacão, e chupando-os numa afoiteza desregrada. O Dimitri jogava a cabeça para trás, encarava o teto como se estivesse orando aos céus, envolto no prazer delirante da minha boca trabalhando seus genitais. A pica estava tão dura que eu mal conseguia movê-la, tendo que acoplar a minha boca na posição ereta em que estava. A glande totalmente estufada mal cabia na minha boca, mas isso não me impedia de ficar lambendo e sugando o sumo que ela vertia. Como uma das minhas mãos estava sobre o ventre dele, senti quando começou a ficar contraído e quase tão rijo quanto uma pedra. As contrações aumentavam e desceram para a virilha, ele parou de trotar, deu um frenético impulso contra a minha boca alojando a cabeçorra na minha garganta e gozou. O ar que se acumulara em seus pulmões explodiu simultâneo ao jato de porra. Com o primeiro nada pude fazer, mas o segundo eu degluti tão logo ele inundou minha boca. O Dimitri me encarava com os olhos úmidos, incrédulo por estar sentindo tanto prazer. Engoli até a última gota da saborosa porra amendoada que ele ejaculou na minha boca, para depois lhe sorrir em agradecimento pelo presente. Ele se inclinou, me puxou para seus braços e me beijou com uma ternura e suavidade que jamais pensei existir naquele macho gigantesco. A língua dele foi entrando em mim aos poucos, eu a recebi com chupadas suaves, até ela se entrelaçar com a minha numa dança lasciva. Minutos depois, ele estava deitado em cima de mim na cama, movimentando a pelve em estocadas curtas e profundas, com o cacetão comprimido pela minha mucosa anal estreita e generosa, enquanto eu fincava as pontas dos dedos em suas costas, gemia e franqueava meu cuzinho para suas arremetidas. Ele não me abandonou depois do coito, ficou comigo em seus braços e apoiava o queixo sobre a minha cabeça deitada em seu peito. Ele começou a ronronar quando caiu no sono, e ali eu tive a certeza de que ninguém nunca o tinha tratado com tanto carinho e nem lhe dado tanto prazer. O Dimitri era um dos tantos jovens arrancados à força do seio familiar em aldeias pobres perdidas na vastidão gelada da tundra siberiana para compor as forças militares da União Soviética que, por não conseguir melhorar as condições de vida de sua população, fortalecia as forças armadas para se precaver de rebeliões e manter os países do ocidente distante das nações recém englobadas aos seus domínios.
A dinâmica da nossa rotina no apartamento mudou muito depois dessa trepada que foi diferente em tudo das que vínhamos tendo até então. Ele ficou dengoso, não me pegava mais com aquela brutalidade costumeira, ficava me rondando cheio de tesão para mostrar o que estava querendo, praticamente pedia permissão para me foder, e só o fazia quando eu demonstrava que estava afim. E eu o queria, como queria. O sexo com ele me injetava forças, me dava inspiração, me fazia feliz.
Numa tarde de dezembro, eu estava finalizando uma tela, o Dimitri, como sempre, estava a ver os flocos de neve caindo acocorado no peitoril da janela enfiado em nada mais do que a cueca. Eu costumava zoar com ele por conta dessa desregulagem de seu sensor de temperatura, o cara nunca sentia frio. Ele riu quando voltei a caçoar dele naquela tarde.
- Toca para mim? – pediu, depois de me criticar por caçoar dele.
- O que quer ouvir?
- O que você quiser tocar, sendo para mim já está valendo!
- Vem cá! – peguei-o pela mão e me aproximei do piano. – Sente-se!
- O que vou fazer aqui, não sei mexer nesse troço!
- Apenas sente-se e não resmungue! – ele me obedeceu, sem saber o que eu pretendia.
Assim que ele se posicionou, eu me sentei no colo dele, puxei seus braços para frente e coloquei suas mãos sobre o teclado.
- Coloque cada um dos seus dedos exatamente sobre o correspondente dos meus. – orientei, ele não escondia o tesão que já o fazia se atrapalhar todo. – Toque-os de leve, não desse jeito parecendo a pata de urso, só encoste nos meus e acompanhe os movimentos que vou fazer. – continuei, sentindo a ereção dele cutucar as minhas nádegas.
As primeiras notas de Claire de Lune de Debussy preencheram o ar, capengas e falhas de início quando os dedos grossos dele escorregavam dos meus e caiam na tecla errada. Ambos rimos da falta de coordenação dele, ou seria da falta de delicadeza daquelas mãos enormes e vigorosas? Aos poucos ele foi ajustando a pressão e deixou que meus dedos conduzissem os dele. Um sorriso largo apareceu no rosto dele quando a música deixou de ter tropeços, ecoando clara e ritmicamente. Às vezes era eu quem errava, distraído com aquela pica espetando minha bunda, com aqueles braços envolvendo meu tronco e o hálito morno dele roçando meu cangote.
- Adoro o cheiro da sua pele! – exclamou ele, aspirando o ar junto ao meu pescoço.
- Preste atenção, está me fazendo errar tudo! – devolvi, já sem a menor concentração no que estava fazendo.
Ele baixou a calça de moletom que eu estava usando e assentou minha bunda sobre a pica. Eu me movi de um lado para o outro até sentir que a cabeçorra estava encaixada na portinha do meu cu. Ele forçou e enfiou a rola em mim, precisei me agarrar à borda do piano para suportar a penetração. Gemi, joguei a cabeça para trás no ombro dele, rebolei e voltei a tocar, enquanto ele sobrepôs novamente as mãos sobre as minhas e se movia num vaivém fazendo o cacete mergulhar por inteiro no meu cuzinho. Meus jatos de porra melaram minhas coxas, os dele encharcaram minhas entranhas.
- Você é um carinha muito especial, Adrian! Muito, muito especial! Estou feliz por ter te conhecido. – confessou ele, enquanto o pinto amolecia no meu rabo.
- Você também, Dimitri! Estou feliz por você estar aqui comigo. – pela primeira vez eu estava me sentindo abalado por um homem. Não era amor aquilo que eu nutria pelo Dimitri, mas era um sentimento precursor de algo que eu sabia que podia me tornar muito frágil, e isso me assustou.
Numa tarde de fevereiro voltei das compras no supermercado e encontrei a porta da frente apenas encostada. Um calafrio percorreu meus ossos, mais intenso do que aquele que senti nas ruas cobertas de gelo.
- Dimitri! Você está aí, Dimitri? – não houve resposta. Comecei a tremer.
Desde que me tornei membro da KGB sentia que sempre havia um par de olhos acompanhando cada um dos meus movimentos, embora nunca os tivesse visto. Mas, eu sabia como atuar exatamente dessa maneira quando precisava realizar as minhas missões. Estar num lugar e ao mesmo tempo não se mostrar presente era uma das técnicas aprendidas no serviço secreto. Como também sabia, que minha vida valia tanto quanto uma moeda furada de 1 kopek, que podia ser descartada assim que algum mandachuva assim o desejasse. Tirei a Makarov do bolso do sobretudo e tornei a chamar, silêncio total. Pé ante pé fui me aprofundando no apartamento, estava vazio. No quarto do Dimitri dei pela falta do grosso sobretudo cinza forrado com lá de carneiro e com gola de pele de raposa. No mais, tudo parecia em ordem nos ambientes. Respirei um pouco mais aliviado e voltei a colocar a Makarov no lugar costumeiro, de fácil acesso, caso precisasse. Era estranho ele não ter me avisado que ia sair. Nos últimos tempos, já não fazíamos tanto mistério sobre as nossas saídas e seus destinos, preservando apenas aquilo que podia comprometer nosso trabalho. As horas foram passando, uma chuva fina e gelada começou a cair lá fora, e eu apertava as mãos perambulando pelo apartamento numa aflição crescente. Nenhum telefonema, também isso não estava normal. O Dimitri me ligava quando algo o retinha por mais tempo fora de casa, e costumava acrescentar que era para eu o esperar com o cuzinho preparado para o tesão que ele estava sentindo, antes de desligar rindo.
Passava das 22:00 horas, os pelmeni com molho de cogumelos que eu havia preparado para o jantar já estavam frios formando uma maçaroca única na panela sobre o fogão. Eu ia e vinha da janela da sala que dava para a varanda e para a esquina das ruas lá embaixo. Ele não ia fazer isso comigo, me deixar sem notícias, sabendo que eu atualmente era a única pessoa que se preocupava com o bem-estar e felicidade dele. Alguma coisa está errada. Meu peito começou a palpitar quando esse pensamento veio à minha cabeça. Liguei para o tio Konstantin. Ele já havia deixado o gabinete e minha tia disse que ele ainda não havia chegado em casa, a voz dela falhava, indicando que estava mentindo; a infeliz submissa se tremia toda diante do marido opressor e, aquele gaguejar me dizia que ele devia estar ao lado dela, forçando-a a mentir. Ela quis mudar o rumo da conversa, perguntando como eu estava e que iria me fazer um almoço para o próximo domingo, quando ouço pneus cantando vindo da esquina, seguido de uma gritaria das poucas pessoas que ainda estavam na calçada. Larguei o telefone sem me preocupar em desligar e corri em direção à saída sem nenhum abrigo para o frio de -11°C que fazia lá fora. A chuva havia se intensificado quando saí pela porta do prédio em direção a uma rodinha de pessoas alvoroçadas próximas aos arbustos que antecediam o edifício. Em meio aos galhos cobertos de neve estava o corpo do Dimitri, os olhos arregalados, a boca inchada e deformada sangrando no lábio inferior, o rosto coberto de hematomas que contrastavam com a lividez da pele sem vida. Meu grito ecoou através da noite escura, eu me agachei junto ao corpo e puxei sua cabeça para o meu colo, afaguei seu rosto gelado e beijei sua testa, uma dor aguda e profunda abria caminho no meu peito e me impedia de respirar. Para o Dimitri, era o fim clássico de alguém que não estava seguindo as regras como deveria. Uma peça que se descarta quando não tem mais serventia. A ninguém, exceto a mim, importava de ele voltar a se juntar aos pais nos confins daquele país que só atendia aos privilégios de uns poucos.
Tio Konstantin veio me ver cinco dias depois, havia sido informado do final trágico do rapaz tão promissor. As palavras dele me enojaram, minha vontade era a de alcançar a Makarov na caixa de pinceis e descarrega-la na cara daquele cínico. Ao invés disso, deixei-me conduzir mansamente até o quarto onde ele me despiu, me deitou de bruços, abriu as bandas da minha bunda e lambeu meu cuzinho sem mais nenhum vestígio do cacete intrépido do Dimitri. O pinto grosso dele entrou em mim sem que eu soltasse um suspiro sequer, me fodeu até o velho ficar quase sem ar e todo suado, antes de deixar sua gala escorrendo pegajosa no meu cuzinho. Eu só via o rosto do Dimitri na minha frente, ora com aquele sorriso ladino que surgia antes de transar comigo, ora com a palidez da morte quando o embalei no meu colo sob a chuva, e deixava as lágrimas copiosas rolarem sem disfarce.
- Sabe que é um erro se apegar às pessoas, não sabe Adrian? Você não devia ter se envolvido tanto com esse rapaz, podia colocar tudo a perder. – disse meu tio, quando guardava o pinto na calça, antes de se despedir de mim, com um beijo na testa.
A sensação de que eu era um assassino, mesmo não tendo cometido nenhum ato nesse sentido, não me abandonou por semanas. Quem matou o Dimitri fui eu, e essa culpa eu ia carregar até o último dos meus dias.
Duas semanas depois, eu estava entrando no edifício de tijolos amarelos na praça Lubianka no final de uma manhã de céu parcialmente azulado, para onde havia sido chamado por volta das seis horas da manhã. Conduzido quase que imediatamente para o terceiro andar, não esperei nem dois minutos antes de ser recebido pessoalmente por Iuri Andropov em seu gabinete. A secretária foi sumariamente despachada assim que tomei assento. Embora soubesse de quem se tratava, eu nunca tinha visto aquele homem antes. Ele usava um terno elegante e discreto, me recebeu com um sorriso afetuoso e falso e foi logo ao assunto.
- Meu caro Adrian, é um prazer conhecê-lo! Só tenho recebido boas informações a seu respeito. E isso me levou a indicá-lo para uma missão muito importante para esse serviço e, por que não dizer, para toda a nação. – o início desses discursos travestidos de generosidade já não tinham o menor efeito sobre mim. – Daqui você segue diretamente para o aeroporto onde embarcará num voo para Berlim Oriental, onde uma suíte está a sua espera no Hotel Adlon. Esteja pronto logo pela manhã do dia seguinte, pois um carro o levará até o outro lado da fronteira e o deixará num apartamento na Knobelsdorffstrasse que passará a ser seu novo endereço. – continuou ele, sem esperar por qualquer contestação.
Enquanto despejava seu discurso sobre mim, apertou uma tecla no telefone que tinha sobre a mesa e a secretária voltou com um grande envelope pardo nas mãos, fez uma deferência e o colocou nas mãos de Andropov. Ele o colocou na minha frente.
- Vai precisar de tudo o que está aí dentro. Seja especialmente cauteloso na guarda dos passaportes e documentos de identidade. – recomendou, enquanto eu abria o envelope pesado.
Christian Becker era o nome que aparecia nos cinco passaportes de países distintos, bem como das respectivas carteiras de identidade. Outros dois, um britânico e outro americano, levavam o nome Ethan Colton Hughes como titular. Em todos eles aparecia uma fotografia recente minha e precisavam apenas da minha assinatura para parecerem verdadeiros.
- São verdadeiros, meu caro Adrian, ou devo me acostumar a chamá-lo de Christian, ou ainda Ethan? – o sarcasmo em sua voz me irritou. – Podem ser conferidos em qualquer fronteira, são absolutamente legítimos! Não é uma maravilha o que se consegue nos dias de hoje? – prosseguiu ele. – Bem, era só isso! Em breve chegará as suas mãos uma correspondência lhe indicando o que fazer. A partir daí, conto com a sua criatividade para obter as informações de que precisamos. – concluiu.
- Preciso pegar alguns pertences pessoais antes de seguir para o aeroporto. – afirmei
- Como eu disse, daqui direto para o aeroporto. Tudo do que vai precisar, ou estará à sua espera no destino final, ou você terá tempo e dinheiro suficientes para adquirir, não se preocupe com isso. – esclareceu não deixando margem a contestações. E, esboçando um disfarçado riso de escárnio, acrescentou – Se estiver se referindo ao quadro do macho nu, não há o que temer, ele chegará até você com seus pertences pessoais. – a forma como pronunciou essas palavras demonstrava todo o desprezo que sentia pela minha pessoa.
Dois homens em ternos baratos entraram no gabinete, pareciam dois pinguins, fora a cabeça e o rosto que os distinguia um do outro, de resto, dava a impressão de terem sido produzidos em série. Eles se postaram ao meu lado e eu soube que minha entrevista com Andropov se encerrava ali. Eles me acompanharam porta afora como duas sombras e me conduziram até o subsolo do edifício onde um motorista com o mesmo traje padrão sentado ao volante de um GAZ-13 Chaika preto nos aguardava com o motor ligado. Fui direcionado ao banco traseiro do carro, os dois ocuparam os espaços junto às janelas. Numa tentativa desesperada de poder voltar ao apartamento, comecei a soluçar discretamente procurando comover a minha ‘escolta’. O que estava à minha esquerda, o mais novo dos três, que não havia disfarçado o interesse pela minha bunda desde que deixamos o gabinete do Andropov, rompeu o silêncio quando me viu secando as lágrimas com as costas da mão.
- Está tudo bem com você? – perguntou, procurando disfarçar o quanto minhas lágrimas o estavam desconcertando.
- Sim! Ou melhor, não! Tenho lembranças de valor afetivo inestimáveis no apartamento e gostaria de tê-las comigo, pois pressinto que nunca mais vou voltar a vê-las. – balbuciei, ao mesmo tempo em que deixava cair displicentemente a mão sobre a coxa grossa dele.
- Nossas ordens foram bem claras, devemos levá-lo ao aeroporto sem nenhuma escala. – afirmou ele, desejando que minha mão estivesse pousada sobre sua pica, de onde partia um calor abrasador.
- Eu entendo, vocês são tão vítimas quanto eu! – devolvi, deslizando minha mão até o volume que se movia dentro da calça dele. O que estava do outro lado, precisou ajeitar a própria pica quando notou para onde havia deslizado a minha mão no companheiro.
- Então compreende bem a nossa posição. Não é nada pessoal, são apenas ordens que não podemos deixar de cumprir. – disse o que acabara de ajeitar a pica. E, para onde levei a minha outra mão, fechando-a sobre a ereção em curso. Ele suspirou e voltou o rosto para a rua, sob o risco de perder o controle e sugerir que o motorista me levasse até o apartamento onde talvez os três pudessem ser agraciados com a minha gratidão satisfazendo seus falos.
O Tupolev da Aeroflot Soviet Airlines partiu rumo ao aeroporto Schönefeld em Berlim Oriental com poucos passageiros a bordo. O cidadão russo comum tinha escasso acesso ao luxo de viagens internacionais. Não precisei mais do que um quarto de hora para identificar o agente que controlava meus passos, assegurando que eu estava seguindo minhas ordens conforme determinado. Eu tinha quase sete horas de voo pela frente e resolvi reclinar a poltrona e mergulhar nas minhas últimas semanas junto do Dimitri, no jeito dengoso como ele me deixava acariciá-lo enquanto seu pauzão pulsava no meu cuzinho, na maneira afetuosa com a qual me acordava todas as manhãs, no brilho sereno de seus olhos quando me contemplava pintando ou tocando as composições que me pedia. Eu podia jurar que aqueles meses em que dividiu seus dias comigo foram os mais felizes de sua curta vida, foi onde sentiu que também era merecedor de afeto e cuidados. Pagou com a própria vida esses poucos instantes de felicidade. Meu rosto estava banhado em lágrimas quando a aeromoça veio me oferecer a refeição que recusei. Minutos depois, eu dormia encolhido e recostado ao espalhar da poltrona, induzido pelo ronco monótono dos motores.
O apartamento da Knobelsdorffstrasse era amplo, tinha uma vista privilegiada da rua ao mesmo tempo em que era resguardado pelas copas altas das árvores. Estava completamente vazio quando fui até lá, após receber as chaves num envelope deixado na recepção do hotel luxuoso de Berlim Ocidental. Junto com as chaves, havia um bilhete de poucas linhas manuscritas sobre um papel da chancelaria da República Democrática Alemã – decore-o com seu bom gosto – dizia a letra inclinada de traço firme. Dentro do envelope ainda havia o número de uma conta bancária junto ao Deutsche Bank, onde vim a descobrir dias depois, quando me dirigi à agência, haver uma polpuda quantia de marcos depositada. Seria esse o pagamento pela vida do Dimitri? Esse pensamento me torturou durante dias.
Espantosamente, conforme as palavras do Andropov, tudo o que havia no apartamento da Ulitsa Barvikha me foi entregue ainda naquela semana. Um misto de tristeza e solidão encheu meu peito quando passei suavemente a mão sobre o piano, o cavalete de pintura, a cabeceira meticulosamente entalhada da cama de casal que assistiu as centenas de vezes que trepei com o Dimitri, e a tela dele nu. Verti lágrimas copiosas enquanto acariciava a figura daquele corpo que tantas vezes incendiei com o mesmo toque delicado das pontas dos dedos. Por quanto tempo, um jovem de vinte e dois anos como eu, poderia viver de tantas lembranças tristes do passado? A resposta não me importava, pois já admitia como certo que minha vida nunca mais gozaria da felicidade.
Minha missão era descobrir como estavam sendo aparelhadas as bases militares da OTAN nos países europeus pouco após o auge da guerra fria e, principalmente, conseguir informações sobre um satélite que a NASA estava para lançar e que teria, em tese, condições de mapear todo o território da URSS em detalhes nunca antes imaginados. Para isso, eu devia me aproximar do oficial general de quatro estrelas da Força Aérea Americana Curtis Holztrapp Jr que estava no comando geral das forças aliadas na Europa. Investigações apontaram que a esposa, Ava Bex Holztrapp, era uma ávida consumidora de obras de jovens artistas que o marido lhe presenteava como compensação por não ter lhe dado filhos. No dossiê que recebi também constava a predileção do general sexagenário por garbosos cadetes, alguns deles tendo uma ascensão meteórica na carreira depois de um breve estágio no gabinete do general.
Chegar à mulher esguia e agitada que não aparentava seus cinquenta e poucos anos foi mais fácil do que imaginei. Uma festa em comemoração ao aniversário do general ia se desenrolar naquela noite nos jardins do Hotel Grezfall onde, dois dias antes, reservei a suíte do sexto andar com terraço na cobertura, tão logo fui informado dos arranjos para a festa do general. A notícia de que o jovem e promissor talento artístico de Christian Becker, já consagrado em diversas galerias de arte europeias estava hospedado no hotel, foi plantada com destaque por jornalistas em jornais de grande circulação. Quando vi minha fotografia e duas das minhas telas acompanhando a reportagem eu mesmo me espantei com a facilidade com que se conseguiam as coisas quando o poder, a ganância e, principalmente, as estratégias militares estavam sendo disputadas num tabuleiro de intrigas e supremacia. O que não me surpreendeu foi eu ter sido interpelado pelo concierge do hotel quando regressei de uma caminhada após o desjejum. Havia um convite, quase uma intimação, segundo as palavras constrangidas do concierge, da Sra. Ava Holztrapp para que aceitasse um almoço nas mesas do jardim às 12:30 horas se me fosse conveniente, pois ela estava ansiosa para me conhecer pessoalmente.
O general e a esposa já me aguardavam quando cheguei ao jardim. Ela se apressou a vir me abraçar e a agradecer encarecidamente por eu ter aceito o convite. O general se levantou e apertou a minha mão com firmeza como se quisesse me colocar a par de sua posição e seu poder, eu retribuí com passiva aquiescência e um sorriso tímido, o que o fez saber com quem estava lidando. Enquanto a mulher falava num entusiasmo desmedido, ele me media da cabeça aos pés, aturdido pelos traços harmônicos do meu rosto e pelo corpo escultural que transbordava jovialidade. De quando em quando eu dirigia meu olhar para ele, mantendo o sorriso generoso nos lábios que propositalmente umedecia com sutis passadas da língua sobre eles. Que o velho não estava nem um pouco interessado na conversa da mulher ficava óbvio, ele via as fantasias, com meu corpo a sua mercê, em sua mente se multiplicarem com a energia de uma levedura. Claro que eu aceitava o convite para a festa dessa noite, certamente eu a visitaria em sua casa ainda naquela semana, com toda a certeza eu a acompanharia num tour pela Alte Nationalgalerie apesar das principais obras terem ficado do lado Oriental, o que era uma lástima, segundo as palavras da mulher. Ela estava encantada com meu desprendimento, com a minha amabilidade, com a minha paciência em dar ouvidos a uma senhora enquanto podia estar rodeado de belas garotas, expressava ela com doída inveja; ao passo que o marido já se via atendido em suas necessidades biológicas por aqueles lábios carnudos e vermelhos que o estavam fazendo sentir os colhões cada vez mais abarrotados.
Conforme prometi, estava na festa de aniversário, sendo apresentado e bajulado em cada rodinha a que me juntava. Isso vai me ser útil daqui para frente, pensei. Quanto mais acesso tiver a essa gente mais fácil se tornarão as minhas missões. Passava das duas da madrugada quando me dirigi até o spa, onde sabia que o general havia reservado horário para uma massagem após a sauna. Ele já estava recebendo a massagem de uma mulher corpulenta que lhe apertava as costas com mãos que pareciam patas. Fingi que não o tinha notado entre as quatro outras mesas ocupadas de hóspedes notívagos quando entrei na sala de massagens e deixei cair o roupão antes de me deitar nu numa das mesas.
- No momento só há um rapaz disponível para as massagens, senhor! – esclareceu a moça que veio até mim. – Se preferir esperar um pouco, logo haverá uma massagista disponível para atendê-lo. – emendou.
- Não me importo de ser atendido pelo rapaz. – respondi, dirigindo um sorriso ao loirão de braços musculosos que não tirava os olhos da minha bunda roliça.
A contragosto ele cobriu minha nudez da cintura para baixo com uma toalha e iniciou a massagem. Minha cabeça estava de frente para ele apoiada num suporte onde meu rosto se encaixava, mesmo assim, eu conseguia acompanhar o engrandecimento da ereção que ele experimentava dentro da calça justa. As mãos dele me amassavam e escorregavam cada vez mais para baixo sumindo debaixo da toalha e se aproximando dos meus glúteos com uma cautela estudada. Num desses momentos, eu puxei meu corpo mais para cima procurando um novo apoio sobre a mesa, e as mãos quentes e oleosas dele cobriram minhas nádegas. Como nenhuma objeção foi pronunciada, ele as apertou com força, não com o profissionalismo de um fisioterapeuta, mas com a cobiça de um macho. No mesmo instante, levei minha mão discretamente até aquela ereção que só eu conseguia ver. O rapaz ficou incomodado com a aproximação do general coberto por uma toalha enrolada na cintura, obrigando-o a esconder a safadeza que crescia em sua virilha.
- Também sofre de insônia, meu jovem? – perguntou o general, lançando um olhar recriminatório para o rapaz e aquelas mãos posicionadas onde não deveriam.
- General Holztrapp, não tinha visto o senhor, perdão! – exclamei, girando ligeiramente o corpo e lhe estendendo a mão em cumprimento, o que fez a toalha escorregar para o lado e expor minha bunda.
- Vou me zangar se me chamar de senhor mais uma vez! – retrucou ele, insatisfeito por não ter mais nem a juventude nem a aparência do massagista que queria ver longe daquela protuberância farta e tentadora.
- Mais uma vez, perdão! É uma questão de hábito, de formação. – devolvi com sensualidade.
- Pronto senhor! Se quiser seguir para a piscina aqui está o robe e a toalha. – disse o massagista, vendo-se obrigado a interromper prematuramente a sessão.
- Também vai para a piscina? – posso jurar que o velho nem cogitava de se dirigir à piscina antes de ouvir as palavras do rapaz.
- Sim! Me concede o privilégio de sua companhia por mais alguns minutos? – indaguei, fazendo surgir um sorriso abobalhado na cara balofa do general. Estou com sorte hoje, conclui com meus botões, os dois Holztrapp nas minhas mãos num mesmo dia, isso até merecia uma condecoração.
Deixar o general fora si não levou mais do que meia hora. Entrei nu na água morna da piscina, no que logo fui seguido pelo velhote. Em poucos minutos ele se esfregava na minha bunda e me implorava por um espaço no meu buraquinho. Um pouco de falso constrangimento, timidez e até indignação terminaram de deixar o general babando de tanto tesão. Interrompi a encenação abruptamente, deixando-o com aquele gosto de vitória perdida, alegando que se fazia tarde e que eu tinha tido um dia exaustivo e precisava dormir. Diante da porta da minha suíte, dei-lhe um beijo contido na bochecha, agradecendo-o pelo dia maravilhoso que tinha me proporcionado. Ele me agarrou e me apertou contra a parede, colou sua boca na minha e começou a bolinar minha bunda num frenesi ensandecido. Fui empurrado para dentro do apartamento e conduzido afoitamente para a cama, onde ele me despiu com a urgência a lhe saltar das vistas.
- Ah, general Curtis, o senhor está me deixando maluco! – gemi, quando ele, já completamente nu, voltava a esfregar seu sexo nas minhas coxas.
- Posso lhe garantir que estou sentindo o mesmo desde o primeiro instante que te vi esta manhã. – retrucou ele.
Comecei por afagar seus ombros peludos enquanto nos beijávamos, como se estivesse impressionado com seu físico avantajado que, na verdade, estava mais para gordo do que para musculado. Mas, ele entendeu como se eu sonhasse com homens como ele. Espalmei minhas mãos sobre os pelos grisalhos do peito dele simulando que sua investida estava me assustando. O pensamento militar dele lhe garantia que estava a ganhar terreno, que a conquista do que almejava era uma questão de tempo. Por torturantes minutos, ele sentiu minhas mãos afagando seu tronco, brincando com seus pelos, tateando inseguras a caminho de sua virilha. Ele conduziu uma delas até o matagal denso de pentelhos que envolviam seus genitais. Eu sorri como uma criança que havia conseguido seu intento, o velhote quase pirou. Eu segurava e acariciava aquela coisa tosca que era seu pinto, ainda flácido e tentando alucinadamente enrijecer sob aquela profusão de estímulos. A rola mal parecia ter onze centímetros e também não era grossa e nem cabeçuda, o que me levou a lembrar da do Dimitri, seguramente com mais do dobro daquele tamanho, e que não precisava de mais de dois segundos depois de estimulada para estar distendida e dura como uma barra de ferro. Foi pensando nela que levei minha boca até a rola do general, envolvendo-a com meus lábios e chupando-a como se fosse a primeira vez que tinha uma caceta na boca.
- Christian, meu querido, chupa minha pica, chupa! Gosta de pica de macho, não é? Eu soube assim que te vi. – gorgolejava assanhado, pincelando a jeba na minha cara.
- É tão maravilhosa general! – exclamei, para insuflar ainda mais o ego distorcido do velho.
- Será toda sua, a hora que quiser! – asseverou
Chupei-o por uns três minutos, a urgência dele era tanta que voltou a me agarrar a se lançou sobre mim, procurando desesperadamente a fendinha úmida que acabara de dedar com devassidão. Empinei o rabo contra a virilha dele esperando a penetração, cheguei mesmo a soltar um gemido quando a glande em forma de flecha pressionou minhas preguinhas. De repente, senti meu rego molhado, algumas gotas de um líquido quase translúcido e ralo escorreram dele para o lençol. A pau do general já tinha aquela consistência de uma fruta murcha.
- Isso nunca me aconteceu antes! – exclamou retraído e frustrado; mentindo, talvez pela centésima vez, diante da mesma situação.
- Não se atormente por isso! O senhor foi maravilhoso! Estou me sentido nas nuvens! – devolvi com falsa comoção. Nas nuvens eu estava mesmo, mas pela satisfação de não ter sido obrigado a sentir aquele protótipo de caceta no meu cu.
Ele quis me deixar, sentia-se derrotado diante da minha sexualidade aflorada. Eu, porém, me enlacei no tronco dele e pedi que me deixasse terminar a madrugada em seus braços. Antes de eu pegar no sono desfrutando a certeza de que meu cuzinho estava a salvo de qualquer predação, ele já reassumira a altivez que as estrelas nos ombros de seu uniforme lhe garantiam. Ficou claro para mim que aqueles homens que a todos inspiravam medo e respeito pela posição que ocupavam, escondiam atrás das fardas e dos cargos a debilidade e imprestabilidade de suas picas. Eram machões de fachada. Acho que foi por isso que o contorno da minha boca esboçava um riso guardado quando adormeci.
Quando acordei, estava sozinho na cama. Um bilhete na mesa de cabeceira me agradecia pela noite maravilhosa e me pedia uma segunda chance num passeio ao Viktoriapark para aquela tarde. No horário combinado eu estava lá, inquieto e faceiro como uma gazela querendo cruzar, era tudo o que ele queria para deletar de sua mente aquela cena do pinto não dando conta de pegar aquele cuzinho macio e quente que teve nas mãos.
Por um ano frequentei a casa do Holzpratt em Berlim com uma assiduidade invejável, o que me permitiu ter acesso ao escritório particular do general e a alguns documentos confidenciais que consegui fotografar enquanto ele roncava nu na cama do quarto de hóspedes onde eu costumava ser alojado pela esposa. Em três ocasiões, fui companhia para o general, que com isso tinha privacidade para desfrutar dos inebriantes boquetes que eu lhe fazia, em visitas que fez a ‘K-Town’ a base militar americana de Ramstein-Miesenbach. Enquanto ele limpava o gozo de suas calças que não conseguiu ejacular no meu cuzinho, eu vasculhava apressado os armários de arquivos à procura de informações que pudessem ser de valia para Moscou. Apenas numa delas consegui algo realmente importante, o que me foi repassado junto com um elogio escrito de próprio punho por Brejnev.
Nesse período conheci outro assíduo frequentador das festas e jantares dos Holzpratt, Chris McHale, o namorado da filha da mais íntima amiga da Ava. Ava e essa amiga se conheciam desde os tempos do colégio, Ava era madrinha da filha dela, Julie e, embora os maridos tivessem aquele estilo de vida errante, sempre conseguiam articular as coisas para que morassem próximas uma da outra.
- Chris, este é Christian Becker, o solteiro mais cobiçado de Berlim e, meu mais recente amigo. Foi presente dele a tela que está sobre a lareira, e que ninguém nos ouça, mas eu tive a curiosidade de mandar avaliar por uma meia dúzia de marchands daqui e de Londres, e eles me garantiram que em suas galerias a tela seria vendida facilmente por US$, não é um luxo? Christian esse é Cris McHale, uma das maiores fortunas do Estado do Mississipi e está na Europa tratando dos negócios da família. – sentenciou eufórica a Ava quando me apresentou o homem.
- Fiquei impressionado quando vi a tela, você é uma mulher de muito bom-gosto Ava e, de muita sorte também. – devolveu o homem, enquanto me lançava um sorriso.
- Faço questão que vocês sejam amigos também. Em comum já tem os nomes, espero que encontrem outras afinidades, pois gosto muito de vocês. – afirmou a Ava.
Se muito, o Chris tinha uns três, talvez quatro anos mais do que eu. Mais parecia um bon-vivant do que o filho engajado de algum rico empresário. Em todas as ocasiões que estivemos juntos, ele parecia querer saber demais sobre a minha vida, meu passado na Hungria como descendente de uma família de nobres, e minhas atividades atuais. Alguns gestos, certas atitudes dele me fizeram desconfiar daquele cartão de visitas com o qual era apresentado pelos Holzpratt. Se meus instintos não estivessem me ludibriando, eu podia jurar que aquele sujeito era um agente secreto, embora não tivesse o mesmo comportamento dos agentes soviéticos. Britânico, talvez americano suspeitei. Havia milhares deles infiltrados nas mais inofensivas organizações por toda a Europa desde os primórdios da guerra fria. Meu palpite, pelo qual até poria minha mão no fogo, espião da CIA. Durante meu treinamento, centenas deles e seus modos de agir me foram apresentados, e aquele sujeito, embora um tremendo e lindo macho, me parecia tão perigoso e ameaçador à minha integridade quanto uma naja.
Ao ser transferido de volta para os Estados Unidos, o general induziu a esposa a fazer o convite para que eu os acompanhasse. Uma rápida consulta ao meu superior na KGB e que foi parar no escritório de Andropov, me autorizava a mudar de país para futuramente obter informações ainda mais valiosas. A mudança para Bay St. Louis no Mississipi, aconteceu poucos meses antes do final do ano; não sei porque estava tão empolgado em cruzar o Atlântico pela primeira vez, já que nada me esperava do outro lado.
O McDonnel Douglas C-9 que decolou de Berlim rumo ao Centro Espacial John C. Stennis com um seleto grupo de passageiros, o general Curtis e a esposa, o general DeWright e a família, Cris McHale, eu e mais três coronéis, um brigadeiro-general e um tenente-general, cruzou o Atlântico numa noite fria e estrelada. Os passageiros estavam agrupados em pequenas rodinhas, de não mais que três ou quatro pessoas. No meu estava a Julie e o Chris, de quem eu estava tentando arrancar mais informações, uma vez que a KGB não conseguiu me municiar com nada mais do que eu já sabia. Havia uma família McHale no Mississipi, com muito prestígio entre a classe empresarial mundial. Se havia um filho do magnata atuando na Europa não estava claro, os escritórios da empresa já faziam negócios com os países europeus havia quase duas décadas. Chris McHale cursara direito internacional na Universidade da Califórnia graduando-se há apenas quatro anos atrás, seu paradeiro atual era desconhecido. Ou esse tesão de macho é um daqueles ricos discretos, ou nunca se chamou Chris McHale. Depois de mais de quatro horas conversando com ele e a namorada, eu continuava tão ignorante a respeito dele quanto antes, mas tendendo a achar que estava diante de um bem treinado agente da CIA, instinto, puro instinto. Assim como era instintiva a atração que sentia por sua virilidade latente.
A família do general DeWright tinha uma casa de praia num condomínio em Waveland no Golfo do México que vivia cheia de convidados quase todos os finais de semana. O general Holzpratt e a Ava eram presença constante devido a longa amizade que unia as duas. Passei a fazer parte também nesses momentos de lazer, com jantares ao ar livre nas noites amenas que predominavam praticamente o ano todo, dos passeios de lancha até praias próximas, das baladas para as quais a Julie era convidada e mais uma infinidade de programas. Isso fez com que eu também me aproximasse muito tanto da Julie quanto da mãe, e da amiga da Ava. Foi esse trio que, de repente, resolveu encontrar uma namorada para mim. Conheci todas as amigas solteiras da Julie, filhas de famílias próximas dos DeWright e toda e qualquer garota que não estivesse comprometida e pertencesse ao círculo de amizades deles. Quem se divertia com isso era o general Holzpratt. Cada vez que me apresentavam uma garota, ele piscava na minha direção e levava a mão à pica, expressando a alegria de saber que minha bundinha carnuda, também cobiçada pelas garotas, tinha quem se valesse dela, muito embora o general nesse tempo todo, não tenha conseguido, mais do que em duas ocasiões, enfiar pouco mais que a cabeça de sua rola no meu cuzinho e dado umas cuspidinhas ralas a título de gozo. O velho sofria de ejaculação precoce, suas ereções duravam poucos minutos e nesse breve intervalo já sobrevinha o gozo que, invariavelmente, era constituído de um jato fraco e aquoso. A soberba não o deixava procurar ajuda médica, na única vez que fiz referência a isso ele se enfureceu comigo. Não que eu estivesse particularmente interessado no desempenho sexual daquele homem, mas como gostava muito da Ava pensava na vida sexual insossa que aquela mulher devia ter. Eu estava até contente com o desempenho sexual sofrível daquele homem, pois isso significava que meu cuzinho não precisava se ressentir de um coito com ele. Coitos esses, diga-se de passagem, que nem chegavam a sê-lo, uma vez que o velho não conseguia se segurar até a penetração se efetivar, antes disso, o pinto já gotejava aquele fluído chocho e inofensivo. Mas, o fato de eu o excitar, deixar que ele bolinasse com a minha bunda e guardasse seu segredo, já o contentava.
Numa das vezes em que a Julie me apresentou uma garota, eu resolvi abrir o jogo. Estávamos ela, a Ava e eu almoçando no terraço ao ar livre de um restaurante junto ao cais da baía quando surgiu a garota. Estava tudo ensaiado para aquilo parecer uma coincidência, pois elas já haviam percebido que eu ficava incomodado com aquelas repetidas apresentações. A garota era linda, como a maioria das amigas da Julie e, ela própria. Conversamos animadamente por uma hora aproximadamente quando a garota se despediu, também numa atitude já previamente combinada entre elas.
- E então, Christian, gostou da Maggie? Ela é linda, não é? Ela vem de uma família tradicional de fazendeiros do Mississipi e estudou em Yale. – propalou a Julie
- Sim, é linda!
- É só isso que você tem a dizer? – questionou a Ava
- Sei o que estão querendo fazer, mas eu juro que estou bem como estou, solteiro e livre. – respondi
- Mas você é um cara lindo, charmoso, culto, não pode ficar sozinho. Ou existe alguém e nós não sabemos? – indagou a Julie
- Não, claro que não! Não existe ninguém. – apressei-me a responder.
- Então não estou entendendo, quer ficar solteiro, deixou alguém na Alemanha? – insistiu a Ava.
- Não! Eu sou gay. – a Julie me encarou perplexa e a Ava quase derrubou o copo que estava a sua frente.
- Gay, como assim, gay? Você não tem cara de gay! – exclamou a Julie.
- E gay lá tem cara, Julie? – questionei
- Bem, acho que tem. Isto é, a gente sabe quando o cara é gay e você não é assim. – sentenciou a Ava.
- Eu só imploro em nome da nossa amizade, se é que vão querer continuar sendo minhas amigas agora que conhecem meu segredo, não contem isso para mais ninguém, eu não suportaria. – consegui até marejar discretamente os olhos enquanto minhas palavras saiam sussurradas como se eu estivesse fazendo uma confissão. Isso as comoveu.
- Jamais, Christian! Você é o que é, te adoramos desse jeito e isso não tem a menor importância para nenhuma de nós, não é Julie. – devolveu a Ava.
- Claro que não! A gente te ama, seu bobão, não precisa ficar tão envergonhado. – endossou a Julie. Mais uma vez, minha estratégia funcionou. Se eu já tinha uma proximidade enorme com aquelas duas, depois de partilhar meu ‘segredo’ nossos laços se estreitaram ainda mais, o que continuaria garantindo meu livre acesso às casas de ambos os generais, que era o que, de fato, me importava.
O Chris se valia da amizade da namorada comigo para me sondar. Ele desconfiou desde a primeira vez que nos vimos, que eu não era o Christian Becker que queria aparentar ser. Ele não conseguia atinar exatamente com o que o fazia sentir seus instintos lhe aconselharem cautela para comigo. A questão dos sorrisos joviais, da empatia que logo fazia com que as pessoas se sentissem confortáveis ao meu lado, da minha beleza inegável com aquele corpão escultural, da bunda tentadora que em algumas situações já o tinha feito sentir que estava prestes a ter uma ereção eram coisas com as quais ele conseguia lidar e até sublimar. Porém, o azul intenso e profundo dos meus olhos guardava um segredo, e era esse que ele precisava descobrir a qualquer custo. Essa intensa e sólida amizade de um alemão com dois generais do alto escalão do governo que tinham acesso a projetos espaciais e militares de suma importância para os Estados Unidos é que o levava a desconfiar de mim, enquanto agente da CIA. Amigos e contatos dele dentro do FBI também não haviam descoberto nada sobre mim, exceto aquilo que eu mesmo não escondia; o que mais uma vez me confirmou que a KGB e o governo russo haviam trabalhado muito bem ao criarem as minhas personagens e muni-las de documentos de identidade que não eram contestados em lugar algum, tamanha a autenticidade deles. Eu estava envolvido numa teia tão complexa e bem urdida, com milhares de pessoas executando suas missões em absoluto segredo que dava medo só de pensar. Demonstrações do que podia acontecer a cada elo daquela teia que falhasse eu já conhecia de sobra.
O Chris havia me convidado num dia de semana, para nos encontrarmos para um almoço, a pretexto de estar impressionado com as minhas telas que ele e a Julie tinham visto numa galeria em Nova Orleans na semana anterior. Para um agente da CIA você é pouco criativo, meu caro, pensei com meus botões. Você está me sondando, desesperado para informar aos seus chefes que encontrou um espião russo infiltrado na casa de dois generais da Força Aérea Americana e, com isso, conseguir uma promoção, quem sabe. Mas eu gosto de você seu tolinho, até gostaria de poder te dizer isso pessoalmente, e preferencialmente, numa cama onde ambos estivéssemos nus e eu pudesse me divertir com esse volumão que você carrega no meio das pernas. Vou aceitar seu convite, mas não vou permitir que monopolize a conversa nem me coloque numa saia justa se, por acaso, eu distraidamente cair numa de suas armadilhas. Vou levar a Julie e você não vai conseguir ser tão assertivo quanto pretende.
Induzi a Julie a me acompanhar, e logo ao nos aproximarmos da mesa onde o Chris já me aguardava consegui distinguir a frustração por não ficar a sós comigo e, portanto, livre para me encher de perguntas que soariam estranhas na frente da namorada. Ele me lançou um sorriso amarelo, eu o abracei com entusiasmo, era sempre maravilhoso sentir aquele corpão gostoso tão perto e tão quente. Ele conduziu a conversa, bastante perdido, pois tudo o que havia ensaiado não poderia ser usado. Intimamente me diverti com o embaraço dele, mas diante de algumas perguntas fingi constrangimento e até um pouco de temor. Isso o intrigou a ponto da Julie perceber.
- Agora que estamos só nós três aqui, eu gostaria de pedir a sua permissão, Christian para contar seu segredo para o Chris. Ele é meu namorado, vamos nos casar um dia e eu não gostaria de ter segredos para o meu marido, entende? Por isso, você me deixa contar seu segredo, juro que vai ficar só com o Chris e a Ava, não vamos envolver mais ninguém nisso. Eu sei o quanto isso pode ser perigoso para você. – interpelou a Julie.
O Chris até se ajeitou na cadeira, inspirou profundamente se preparando para desvendar o que tanto procurava, havia chegado a hora, pensou ele. Agora vamos desmascarar esse embusteiro, era o que lhe dizia sua mente.
- Do que se trata? Você está tão solene, Julie, e o Christian tão acabrunhado, que segredo é esse, não me deixem esperando mais, por favor! – por pouco não caí na risada.
- Posso Christian, ou conta você com as tuas palavras e só aquilo que acha que deve? – indagou a Julie, pegando na minha mão.
- Pode contar, querida! Não sei se encontraria as frases certas para não chocar seu namorado, nem deixá-lo pensando horrores a meu respeito. – devolvi. O Chris estava se roendo todo com aquela embromação.
- O Christian é gay! – disse ela, num tom de voz tão baixo que mal dava para ouvir. – Nem parece, não é querido? Diga a ele que isso não tem a menor importância para nós, que continuamos a gostar dele do mesmo jeito. – acrescentou, procurando a conivência do namorado.
- Ele é gay! – a exclamação do Chris foi tão insossa quanto a informação que acabara de receber. Disso eu já sei. Quem é cego a ponto de não ver que esse cara é bonito demais, bem vestido demais, gentil demais e, só cá entre nós para que ninguém duvide de que sou macho, tem essa boca sensual e essa bundona tesuda para caralho que já me deixou de pau duro um bocado de vezes? Essa informação não me serve de nada, o que eu preciso é o que ele mantém secreto, o que ele é na realidade, pois essa de artista plástico e exímio pianista não cola comigo.
- Espero que realmente não se importe com isso, Chris! Eu gosto muito de você, isto é, me entenda bem, por favor, não como homem, mas como namorado e futuro marido da Julie e como um amigo muito especial. – declarei tímido.
- Claro que não Christian! Prezo muito a nossa amizade! Nada vai mudar entre nós! – devolveu ele, pouco se importando se àquela altura do campeonato eu era gay ou não. Primeiro porque isso não o ajudava em nada, segundo porque enquanto estivesse infiltrado na vida desse grupo de pessoas, pouco se lhe dava se ia ter mais uma dúzia de ereções por conta do tesão de cara que eu era. Ele não ia me comer mesmo, a menos que com isso fosse agraciado com as informações de que precisava.
Aconteceu durante o feriado de 4 de julho, na casa de praia de Waveland só estavam os DeWright, os Holzpratt, o Chris, eu e mais um casal recém-casados amigos da Julie. A manhã estava amena, havia um sol brilhante, mas que não esquentava, quando disputávamos partidas de tênis em duplas numa das quadras do condomínio. Quando, formando uma dupla com o general DeWright, estava enfrentando a Julie e o marido da amiga dela, notei que subitamente o Chris havia desaparecido do quiosque à sombra onde todos estavam reunidos. Como estávamos ganhando, apressei-me ainda mais para completar os pontos que nos levariam à vitória, o que consegui cerca de um quarto de hora depois, sob uma avalanche de protestos da Julie, que era ótima tenista e detestava perder.
- O Chris desistiu de nos enfrentar? – perguntei ao me juntar ao grupo após o final da partida.
- Não, ele disse que precisava fazer algumas ligações e foi para casa. – esclareceu a Sra. DeWright. Imediatamente, senti um alerta se acendendo dentro de mim. Ligações, em pleno feriado? E, que não podiam ser feitas na presença da namorada e dos amigos? Ligações o cacete, concluí. Esse cara foi bisbilhotar meu quarto agora que não havia ninguém na casa.
Com uma desculpa qualquer, me afastei do grupo enquanto procuravam formar novas duplas e segui direto e ligeiro para a casa. Caminhando feito um felino, fui de cômodo em cômodo procurar pelo sujeito, até chegar a ala dos quartos no andar superior. O meu ficava no fim do corredor, providencialmente, ao lado do dos Holzpratt, para que o general pudesse fazer suas incursões noturnas para a minha cama sem ser visto. Pouco antes de subir a escada, peguei um taco de beisebol que estava num armário-vitrine junto com alguns troféus conquistados pelo general DeWright quando ainda jovem.
Ele não me percebeu chegar, estava de costas para a porta aberta e vasculhava freneticamente a minha mochila sobre a cama, algumas gavetas estavam abertas e as portas de correr do closet também. Lamento muito meu tesão de macho, mas você não vai ter acesso ao meu passaporte russo e, muito menos, à pistola .45 M1911A1 que me encarreguei de esconder muito bem escondida. Quanto à identidade húngara e ao passaporte britânico que estão no bolso interno da mochila e, onde pelo visto você até o momento não chegou, sinto informar que não vou lhe dar essa brecha. No mesmo instante, desci o taco de beisebol na cabeça dele e presenciei sua queda sobre a cama se envergando sobre o abdômen e escorregando com todo o peso do corpanzil até o chão. Ele não soltou um pio, a cacetada lacerou o couro cabeludo fazendo verter um filete de sangue que entrava pela gola da camiseta fazendo crescer uma mancha purpura em suas costas. Com a certeza de que ele não ia sair dali, e que continuava vivo apesar de inconsciente, apressei-me a voltar às quadras antes que dessem pela minha falta.
- Holzpratt, o que me diz de desafiarmos o Christian e o Chris na próxima partida? Vamos mostrar a esses garotos que ainda temos fôlego para derrotá-los. – exclamou o general DeWright, mesmo sabendo que ia perder.
- Por falar em Chris, já faz um tempo que ele sumiu! – observou a Julie.
- Quer que eu vá com você? Estou mesmo querendo trocar essa camiseta. – ofereci.
A Julie começou a chamar pelo namorado assim que entramos na casa. Como não obteve resposta, saiu à procura dele. Sugeri que ele talvez estivesse no quarto, e ela prontamente subiu a escada comigo. Não o encontrou no quarto obviamente, eu comecei a sentenciar que talvez ele tivesse saído para algum lugar próximo, enquanto caminhava na direção do meu quarto. Interrompi a fala e estanquei junto a porta, ela me acompanhava com olhar.
- Christian, o que foi? Ah, meu Deus, Chris! Chris! Está me ouvindo, Chris? – gritou desesperada quando viu o namorado largado no chão envolto numa poça de sangue.
- Calma, Julie! Vamos ligar para a polícia, alguém deve ter invadido a casa e o surpreendeu. – afirmei.
- Espere, vamos chamar meu pai primeiro! A polícia, só ele concordar. Meu pai é avesso à polícia, especialmente quando isso pode gerar um escândalo. – retrucou ela, ainda sob o efeito da visão trágica que estava diante dela.
Exatamente, Julie, minha amiga, vamos primeiro chamar seu pai, eu tenho certeza de que ele não vai querer a polícia dentro da casa dele. Com isso, ninguém vai ficar fazendo perguntas, examinando o cenário, tirando impressões digitais e todas essas coisas que poderiam me incriminar como autor da pancada. Ademais, teu Chris é forte, não vai ser uma pancadinha que vai desmontar esse touro tesudo, pensei comigo mesmo.
Os dois generais amigos conseguiram contornar a situação sem envolver a polícia como eu havia calculado. O Chris foi levado para a emergência de um hospital com a história de ter sofrido uma queda na quadra de tênis do condomínio. Tomografias mostraram que não havia nenhuma lesão importante no cérebro, que a concussão sofrida devido a pancada logo se reverteria, o que realmente aconteceu enquanto suturavam a laceração, e que só precisaria ficar em observação por pelo menos vinte e quatro horas. Caso encerrado. Eu continuava tão incógnito quanto antes, o bisbilhoteiro ia amargar umas dores de cabeça por alguns dias antes de voltar a ser aquele tesão de macho com pleno domínio de suas forças, e tudo ficaria bem.
Depois do incidente, eu me empenhei em descobrir quem era esse sujeito que se fazia passar por Chris McHale, pois que ele não era quem dizia ser já estava claro para mim. Comecei a seguir os passos dele, não havia outra maneira de alcançar meu objetivo, mesmo sabendo que eu corria um grande risco, podendo inclusive, colocar a minha identidade em jogo. Sempre trajando um terno alinhado que, na minha opinião só o deixava mais sexy e gostoso, ele chegava por volta das nove horas da manhã a um edifício de esquina da Convention Center Boulevard com a Poydras Street, no centro financeiro de Nova Orleans, estacionava no segundo subsolo e tomava o elevador até o décimo primeiro andar, que era o andar menos requisitado por quem aguardava no saguão dos elevadores. Na tabuleta que indicava as empresas de cada andar não havia menção aos ocupantes do décimo primeiro.
- É uma repartição pública. – disse-me a moça da recepção quando a indaguei sobre o andar. – Mas, o que exatamente funcionava ali ela não sabia dizer, nem o colega dela que ouvia nossa conversa.
Conseguimos introduzir um faxineiro no staff do edifício que, tão logo estava entrosado com a rotina, me facilitou a entrada no décimo primeiro andar numa madrugada de quinta-feira logo após o escandaloso Mardi Gras, que ainda não havia devolvido às pessoas da cidade o bom-senso e a responsabilidade tornando minha invasão bastante fácil. Era um escritório do FBI, muito provavelmente provisório, por isso não constava nos endereços oficiais do Bureau Federal. Antes de destravar a porta sem arrombá-la, o ‘faxineiro’, na verdade um expert do serviço secreto russo em tecnologia, inutilizou todo o sistema de monitoramento por câmeras do andar. Por cerca de três horas vasculhei as gavetas, computadores e o que mais havia nas salas, inclusive um cofre que também consegui abrir, apesar de ter perdido um bom tempo antes de abri-lo. Encontrei dossiês de agentes secretos soviéticos que estavam sendo monitorados em diversos países europeus e também nos EUA, correspondências soviéticas interceptadas, planos para o envio de agentes da CIA para as Alemanhas, dossiês de altos funcionários do Kremlim que provavelmente seriam sondados para se tornarem agentes duplos e, no computador da sala que deveria ser a do chefe daquela seção, pela decoração mais elaborada, a ficha do agente da CIA Mike Anderson Olsen, que eu conhecia por Chris McHale. Quase soltei um – Hurra! – de alegria. Peguei você tesudo safado, vibrei com meu sucesso.
Antes do amanhecer, as informações que obtive, bem como algumas fotografias de documentos que capturei estavam seguindo em código reservado, via telex, para o prédio da Praça Lubianka em Moscou. Eu até já podia ver o riso arrogante na cara do Andropov ao receber meu relatório.
A partir dessa descoberta, o Chris, ou seja, Mike Olsen, teve cada um de seus passos monitorado por agentes russos que me repassavam as informações antes de eu filtrá-las para seguirem rumo a KGB.
Ele ficou ainda mais desconfiado quando notou que eu havia mudado meu comportamento em relação a ele, eu parecia mais confiante, parecia conhecer exatamente o perigo que ele representava, parecia saber até a marca de sua loção de barba, às vezes nas quais tinha se masturbado pensando na minha bunda quando a Julie não estava ao alcance de seu falo priápio. Enquanto isso, tive bons meses me divertindo com a insegurança dele cada vez que meu olhar se demorava sobre ele. Ele tinha a impressão de estar nu diante de mim, e isso o deixava furioso. Chegou a cogitar em me seduzir, talvez me dando uns amassos e metendo seu caralhão na minha bunda ele conseguiria descobrir mais coisas a meu respeito, além de se satisfazer com aquela tentação de corpo que eu tinha.
Pena que isso durou menos de dois anos. Recebi ordens para voltar à Alemanha Ocidental, minhas informações quanto a um projeto secreto, à época em que consegui interceptar parte dele, estavam sendo discutidas com os países aliados. Tratava-se de uma estação espacial ainda sem nome definido, que foi anunciada como sendo para fins pacíficos, mas que secretamente levava um satélite espião que monitoraria todo o território da União Soviética e países da Ásia Central. Eu precisava ter acesso ao papel de cada país aliado nesse projeto, e a Alemanha Ocidental seria a minha base de atuação com incursões para a França e a Inglaterra quando necessário. Para os Holzpratt minha despedida foi uma realidade inevitável a ser profundamente lamentada. O general chegou a chorar nos meus braços na nossa última noite juntos. Acabaram ali suas tentativas inúteis de um dia conseguir enfiar sua rola rija e sedenta no meu cuzinho, até me ouvir gemer de prazer e me galar com sua porra insípida. Prometi à Julie vir para o casamento que, naquela altura, eu já sabia que jamais ia se realizar. Muito certamente o Chris/Mike ia desaparecer pouco depois da minha partida, pois seus serviços que nada trouxeram de importante para a CIA em relação a mim, não seriam mais necessários e talvez, o designassem para outra missão. De qualquer forma, me sentia triste quando o avião decolou, estava deixando para trás mais uma parte da minha vida, que provavelmente nunca mais resgataria, como das outras vezes.
Num hotel suspeito da Oyuncu Cıkmazi no distrito de Sultanahmet em Istambul onde meu alvo estava hospedado há três dias sem ter deixado o quarto, eu finalmente consegui entrar no quarto para checar quem era aquele sujeito de barba cerrada, cabelos pretos, tez escura e modos desconfiados, quando o vi sair do hotel olhando desconfiado para todos os lados e se precavendo de não estar sendo seguido. Parecia ser muçulmano, pois estando no quarto ao lado, eu conseguia ouvir uma espécie de ladainha vindo do quarto vizinho pouco depois dos megafones instalados nos topos das mesquitas ecoarem o chamado para as orações. Era a minha chance, pensei, quando ouvi a porta do quarto sendo trancada e, instantes depois, vê-lo atravessando a rua em frente do hotel e dobrando a primeira esquina. Um punhado de roupas amarfanhadas, itens de higiene pessoal, um Walkman, uma pequena agenda de bolso com anotações no alfabeto persa ou talvez arábico e uma pistola semiautomática estavam na mala degastada de cantos esfolados que arrombei com a ajuda de um canivete. Eu esperava mais. Minhas informações davam conta de que ele estava de posse de uma lista de agentes secretos de organizações terroristas atuando na Europa, e eu precisava dela, isto é, o Kremlim a queria. Vasculhei por cada canto do quarto e do banheiro, talvez ele a tivesse escondido numa fresta qualquer, pois o quarto estava cheio de rejuntes e trincas onde cabia muito bem uma folha de papel dobrada. Ouvi o ranger das dobradiças da porta quando estava inspecionando o banheiro, meu corpo gelou e entrou em alerta, os cabelos da nuca se eriçaram e eu estava apavorado. Não tinha nada em mãos, exceto aquele canivete, para me defender de um ataque. Embora o sujeito não fosse muito forte fisicamente, eu também estava longe de ser. Escondi-me atrás da porta do banheiro e segurei a respiração, mas tive a sensação de que qualquer surdo podia ouvir os meus batimentos cardíacos. Não era o sujeito, alguém mais havia invadido o quarto e estava vasculhando tudo sem muita sutileza. Pensei que meu coração fosse sair pela boca quando ouvi os passos pesados vindo na minha direção. A porta do banheiro foi jogada com brutalidade e, se não tivesse colocado as mãos para apará-la teria levado com ela na cara. Quem parou exatamente no meio do cômodo era um sujeito alto com mais de um metro e noventa, ombros muito largos e fortes, cabelo castanho claro bem curto e braços musculosos que intimidavam só de ver. Ele examinava o banheiro do teto ao chão, para se deparar comigo seria uma questão de segundos, eu tinha que agir e contar com o fator surpresa a meu favor. Peguei a toalha que estava pendurada num gancho atrás da porta e, junto com todo impulso que consegui imprimir ao meu corpo, lancei-me sobre o sujeito. Ele se debatia comigo montado em suas costas enquanto procurava arrancar a toalha da sua visão. Minhas tentativas de derrubá-lo dentro da banheira foram inúteis. Antes que pudesse empreender a fuga, ele me lançou sobre sua cabeça e quem foi parar dentro da banheira fui eu, soltando um grito quando minhas costas se estatelaram no fundo dela e vi quem era o sujeito.
- Você! Christian! – exclamou o troglodita que eu conhecia por Chris McHale e Mike Olsen. – Então minhas informações estavam mesmo certas, você nunca foi Christian Becker, mas um infiltrado que até o momento ninguém sabe dizer a origem. Mas, isso eu vou elucidar agora mesmo. – sentenciou ele, apertando meu pescoço e me mantendo colado ao fundo da banheira.
- Me larga! Você também não é Chris McHale e, sim, um agente da CIA. – ele me encarou com espanto e surpresa.
- Mais um motivo para eu descobrir quem é você afinal, antes de te mandar para o inferno. – grunhiu ele, ao ter sua falsa identidade revelada.
Consegui alcançar o canivete no bolso e o armei com a maior lâmina antes de espetá-lo no braço dele. Imediatamente, me vi livre daquela mão sufocante e consegui me colocar de pé, enquanto ele cobria o sangramento com a toalha. Não dei mais do que dois passos, quando fui trazido de volta e lançado contra a parede feito uma lagartixa. Ele bufava de raiva, me prensava com seu corpo enorme, enquanto eu tentava lutar e me desvencilhar dele. Então aconteceu o improvável. Ao me debater, fazia com que minha bunda encaixada em sua virilha atiçasse o tesão que aquele macho já sentira por mim muitas vezes nos tempos em que convivíamos no Mississipi.
- O que está fazendo, seu cretino? – berrei, quando percebi que ele tentava arrancar a minha calça.
- Primeiro te dar uma lição, depois saber quem é Christian, o falso santinho! – exclamou ele, tomado de uma insanidade libidinosa.
Dei alguns coices para trás para ver se conseguia atingir o que ele tinha de mais precioso entre as pernas, o que só o deixou ainda mais furioso.
- Quer me colocar a nocaute, é isso, seu safado? – rosnou ele, junto ao meu cangote. – Vamos ver quem vai a nocaute primeiro. – àquela altura, eu já sentia o cacete sendo pincelado no meu rego e estava apavorado.
Gritei o quanto pude quando meu cuzinho foi trespassado por algo gigantesco e duro; por alguns segundos, pensei que fosse um objeto qualquer e não uma pica, pois aquilo que estava me arregaçando era incompatível com uma pica humana. No entanto, eu estava enganado, era sim um caralho. Um caralho que poderia estar abaixo do ventre de um cavalo e não de um homem. Eu o sentia pulsar cada vez mais forte à medida que ele era enfiado brutalmente no meu cuzinho, junto com o arfar ganancioso do Chris/Mike.
- Então vamos lá! Não tente me enganar, só vai doer mais, isso eu te garanto. Quem é você de verdade? Que é um agente secreto disfarçado isso eu já sei, que tem pelo menos meia dúzia de passaportes falsos também já sei, que estava mandando informações para um escritório da KGB também já sei. Me conte o que eu ainda não sei! – grunhia ele, ao mesmo tempo em que socava aquela jeba furiosamente no meu cuzinho.
- Você já sabe de tudo! Não há nada mais do que o que já sabe, eu juro! – fintei, torcendo para que ele retirasse logo aquilo do meu rabo, pois pressentia que ia desfalecer se aquilo continuasse a me destroçar.
- Mentira! Minha paciência está no limite! Anda, diga a verdade. – insistiu ele.
Minha cara comprimida contra os azulejos frios, o vigoroso braço dele apertando meu pescoço e aquela dor crescendo no meu baixo ventre, começaram a fazer com que uma espécie de penumbra começasse a se formar diante da minha visão, até vir a escuridão completa e eu não sentir mais meu corpo.
Recobrei a consciência deitado sobre uma cama num quarto limpo, arejado, e bem iluminado pelo sol alaranjado que descia no horizonte sobre o Estreito do Bósforo. Tão logo consegui me colocar de pé, apesar da dor que sentia entre as pernas e abaixo do abdômen, fui em direção à porta e girei a maçaneta. Eu estava trancado. Afastei as cortinas de tecido fino e a janela estava aberta. Até a rua seriam, no mínimo, trinta metros, portanto, pular estava fora de cogitação. Preso ali é que eu não ia ficar. Meu pavor de altura foi-me arrancado durante os treinamentos nos quarteis da KGB. Coloquei o corpo para fora e apoiei o pé sobre o friso de concreto estreito, no qual mal cabia um pé, e que circundava a fachada do edifício interligando as janelas dos apartamentos. Cravei as pontas dos dedos na parede áspera e, de costas para o chão, fui percorrendo a fachada até encontrar uma janela parcialmente aberta. Lancei-me para dentro e voltei a respirar, pois até então não tinha colocado ar algum nos pulmões. O baque da minha queda no chão despertou a atenção de alguém – é você, Kemal? – questionou a voz feminina que vinha do cômodo anexo. Corri até a porta e ganhei o corredor até a escadaria que desci aos tropeções. As luzes haviam acabado de ascender quando cheguei à calçada, estava livre. Estropiado, mas livre. Num dos meus bolsos, eu levava um pedaço de papel craft amassado com uns dezesseis nomes, alguns seguidos de codinomes, e diversos endereços e telefones pelos quais aqueles nomes haviam passado; era a tal lista, estava enfiada atrás de um dos azulejos no qual a minha cara ficou grudada enquanto meu cu era arrombado.
Debaixo da ducha na suíte do hotel de luxo no distrito de Besiktas, eu lavava o sangue coagulado grudado nas minhas nádegas e coxas, tocar no meu cuzinho era impensável, apenas a água morna escorrendo sobre ele já doía muito. Aquele animal, pensei comigo, você não tarda por esperar, vou à desforra e você vai me pagar caro por isso aqui, jurei a mim mesmo. Vou encontrá-lo, nem que seja no inferno.
Não precisei descer ao lugar destinado ao suplício dos condenados às penas eternas, nem me encontrar com satanás, nem esperar muito tempo para reencontrar meu algoz. Percebi que estávamos perseguindo o mesmo homem sardento e ruivo enfiado num ridículo terno xadrez na Paddington Station do metrô de Londres na noite da última segunda-feira de maio, dia da Festa da Primavera. Não se sabia bem a sua origem, apenas que era um homem astuto e perigoso e, aparentemente, trabalhava para quem lhe pagava mais, mesmo que isso significasse trair pagamentos já recebidos. Segundo informações de um dos meus contatos, ele acabara de tomar posse de uma espécie de dispositivo que precisava ser inserido no slot de um computador Mir-3 para ser lido, que lhe foi entregue pelo negociador que já estava sob a mira de uma arma de dois militares soviéticos num depósito abandonado próximo a estação. O sujeito havia conseguido fugir por estar mais familiarizado com a região, e eu estava na retaguarda exatamente para garantir que ele não escapasse se os planos não se desenrolassem como planejado. Portanto, agora eu estava só, com a responsabilidade de arrancar aquele dispositivo a qualquer custo dele. Toda vez que algo assim sobrava nas minhas costas, eu entrava numa espécie de transe, pois essa perspectiva de matar ou morrer me apavorava. Um computador semelhante foi enviado ao meu apartamento duas semanas antes de eu encontrar o sujeito ruivo e sardento. A partir de então, comecei a segui-lo e só me daria por satisfeito no momento em que o dispositivo estivesse nas minhas mãos. Tratava-se do projeto roubado de uma base militar, não se tinha até então certeza se soviética ou americana, de um míssil de longo alcance capaz de levar uma ogiva nuclear que não podia cair nas mãos dos aliados da OTAN.
A extremidade da plataforma estava vazia, foi para lá que o sujeito de terno xadrez se dirigiu à espera da composição, o que lhe permitiria embarcar nos últimos vagões. Aproximei-me dele pedindo uma informação, antes de obter a resposta, mostrei-lhe a .45 M1911A1 camuflada dentro do meu sobretudo e apontada para ele.
- Tire lentamente o que tem no seu bolso esquerdo, e não seja tolo a ponto de achar que não vou disparar se fizer qualquer movimento em falso. – ordenei. Ele ficou momentaneamente desnorteado.
E foi aí que me surge o estrupício. Com o mesmo tato de um elefante, ele deu uma gravata no pescoço do sujeito que não levou apenas uma, mas ambas as mãos para dentro dos bolsos do casaco e sacou uma Baby Eagle III e começou a disparar criando o caos na plataforma com pessoas gritando e correndo rumo as escadas. Chris/Mike o desarmou com facilidade, mas a arma não caiu longe e os dois continuaram a se atracar. Numa rodopiada, o Chris perdeu o equilíbrio e bateu violentamente com a cabeça contra a parede de concreto da estação. Atordoado, ele cambaleou dando tempo suficiente para o sujeito pegar novamente na arma que não consegui chutar na direção dos trilhos. Fiquei petrificado quando vi o cano prateado da pistola a pouco mais de um metro do meu coração. Eu precisava apertar o gatilho da minha pistola, mas meu dedo não reagiu quando fiquei cara-a-cara com o sujeito. Quando o estampido ecoou sob a cobertura abobadada da estação, ampliando-o, o Chris e eu caímos no chão. Eu estava respirando, não sentia nada de diferente no meu corpo, portanto, concluí, estava vivo. O tumulto na estação ia trazer a polícia, era uma questão de minutos. O sujeito saltou para trilhos e correu para dentro do túnel escuro, antes de eu me colocar em pé, ele já havia desaparecido na escuridão. Tinha empreendido alguns passos na direção da escada para deixar a estação quando vi que o Chris/Mike continuava no chão. O casaco impermeável tinha um furo na altura do ombro esquerdo e a camisa abaixo dele começava a se empapar de sangue, que ele tentava estancar apertando a mão sobre a ferida.
- Ele quase te matou, seu incompetente! Por que demorou a atirar? – bradou zangado, fazendo uma careta de dor quando se movia.
- Não fosse se intrometer onde não devia tudo estaria certo agora! Mas não, você precisava estragar tudo mais uma vez! – devolvi exasperado.
- Estaria certo como, com você morto e ele fugindo com o dispositivo? – questionou, falando um pouco mais do que devia.
- Bem que você queria que eu estivesse morto, não é, seu bestalhão? Por que foi se meter na minha frente? Olha aí o resultado, quem podia estar morto agora era você, bestalhão atrapalhado! E o que você sabe sobre dispositivos? De que besteira está falando? – retruquei, como se não soubesse de nada. Eu já nem sabia mais se odiava aquele cara por atravancar o meu caminho, ou se o amava por ter salvo a minha vida usando o próprio corpo como escudo para me proteger.
- Mentiroso do caralho! Eu sei muito bem atrás do que você estava, seu espião de meia tigela! – vociferou. – Tinha que ser você no meu caminho outra vez. Pôs tudo a perder! Agora ninguém mais acha esse sujeito e muito menos o ..... Deixa para lá, já fez a cagada mesmo! O que continua fazendo aí parado feito uma estátua que não vai atrás do sujeito? – emendou.
- Quem sempre está no meu caminho é você! Nem sei como ainda se mantém na CIA. É um poço de incompetência! – afirmei. Estava com tanta raiva dele ter feito eu perder a chance de pegar aquele dispositivo que podia estrangulá-lo ali mesmo. – Sei muito bem onde encontrá-lo, e te garanto que ainda hoje terei o que quero nas minhas mãos.
- Incompetente é você! Não fosse por mim, estaria aí estirado e morto, sua toupeira!
- Deixa eu dar uma olhada no estrago que ele fez aí! Está doendo? – eu sabia que devia tê-lo deixado ali, encarando a polícia sozinho; mas; burlando todas as regras e o bom senso, continuava ao lado do panacão.
- Não, não está doendo! Parece com os beijos carinhosos de uma mulher. Claro que está doendo! Que pergunta mais besta! – respondeu irado.
Eu disse à polícia que fomos vítimas de uma tentativa de assalto. Descrevi o autor de maneira totalmente diversa da aparência do sujeito. Não podia correr o risco da polícia encontrá-lo antes que eu o fizesse. Os policiais acharam que o ferimento do Chris/Mike não era tão ruim assim, por isso tivemos que prestar depoimento na delegacia antes de ele ser encaminhado para o hospital.
- Aonde pensa que vai? - questionou-me quando pedi que o motorista do táxi nos deixasse na emergência do hospital mais próximo. – Não tem nada melhor a fazer? No seu lugar eu ia atrás do sujeito, ou a KGB é capaz de pedir o seu pescoço por incompetência.
- Para de reclamar seu resmungão! Se você não tivesse aparecido eu já teria feito meu trabalho! – exclamei
- Ha... Ha... Ha...Ha! Como? Morto? Que eu saiba, defuntos não conseguem fazer nada!
- Idiota!
O tiro fez um estrago maior do que supuseram os policiais. Apesar do ápice do pulmão não ter sido atingido, o que seria ainda mais catastrófico, o projétil fraturou a clavícula e abriu um rombo no local da saída. Fizeram a assepsia do ferimento, suturaram músculos e pele, e colocaram o braço numa tipoia, dando-lhe alta depois de umas cinco horas. Vi que ele me procurou com o olhar quando o trouxeram para o saguão de entrada antes de despachá-lo. Senti uma alegria inexplicável por ver que ele estava bem, e que não foi mais um a morrer por minha causa. O diabo daquele homem era lindo, viril e gostoso mesmo depois de levar um tiro, e eu era uma besta que me deixava impressionar por homens como ele.
- Ainda aqui? Vou me empregar na KGB, pois vejo que vocês recebem seu salário sem trabalhar!
- Vá se foder! Onde quer que eu te deixe?
- Qualquer lugar! Até esta manhã eu estava no The Bloomsbury, mas a essa altura já devem ter jogado minha bagagem na calçada. – respondeu, mal humorado.
- No Bloomsbury! Depois é a KGB que paga bem quem não trabalha, sei! – devolvi irônico.
Já tendo cometido erros suficientes para mais de um mês, ainda assim, estava para cometer mais um. Levei o Chris/Mike para o discreto apartamento que a KGB havia colocado à minha disposição na Lyndhurst Road em Hampstead. Ao descermos do táxi, ele ficou encarando o edifício.
- É aqui que pretende dar cabo da minha vida?
- É bom não me atentar! Ia tirar do caminho um estrupício que só atrasa a minha vida. – respondi. Ele deu uma risada tão gostosa que, em sendo outras as circunstâncias, eu o teria beijado ali mesmo.
Ajeitei-o, o mais confortavelmente possível, na cama do quarto sobressalente, depois de ajudá-lo a tirar as roupas manchadas de sangue. Ele devorou meia dúzia de bagels com recheio de parmesão e tomou duas xícaras de Earl Grey. Junto com a última, dei-lhe o comprimido de oxicodona receitado pelo médico. Um quarto de hora depois, ele ressonava tranquilo como se nada daquilo tudo tivesse acontecido. Joguei um cobertor leve sobre aquele corpão másculo, pois a visão daquele caralhão dentro da cueca não me deixava raciocinar direito.
Ainda não eram vinte e uma horas, o sujeito do terno xadrez devia ter buscado abrigo naquele muquifo em Peckham, depois do que aconteceu na estação do metrô. Com a suspeita de talvez estar sendo procurado pela polícia, ele não devia ter procurado o contato para quem teria que entregar o dispositivo. Com sorte, e pegando-o de surpresa, minhas chances de obter sucesso eram grandes, pensei comigo mesmo. Vou estar correndo mais perigo nas ruas de Peckham a essa hora do que nas mãos daquele sujeito. Dei uma última olhada para dentro do quarto onde estava o Mike e ele continuava dormindo feito um bebê. Enfiei a pistola no bolso do casaco e ganhei a rua, era mais para eu me sentir seguro, uma vez que dispará-la contra alguém seria um problema que não precisava estar ocupando espaço na minha mente nesse momento. Uma luminosidade embaçada aparecia por trás das janelas da espelunca, o homem estava em casa. Na escadaria de madeira escura com degraus desgastados pelo uso cruzei com duas prostitutas seguindo para o trabalho. Elas riram, me fizeram uma série de elogios obscenos e me convidaram para um programa, duas por uma, já que eu era tão lindo, como afirmaram durante a abordagem. Não foi nada bom eu ter cruzado com essas duas, caso algo saísse errado dentro do muquifo do sujeito e eu precisasse usar a arma, elas teriam como fazer uma descrição detalhada da minha pessoa. Esqueça, já foi. Trate de fazer o que veio fazer o mais rápido possível e suma, mesmo que isso signifique se enfiar num avião nas próximas horas.
O disparo que estilhaçou a fechadura foi abafado por uma briga de casal no andar acima. O sujeito estava praticamente nu sentado numa poltrona com um prato de espaguete no colo, o movimento do olhar dele em direção a arma me fez descobrir onde estava a Baby Eagle, longe do alcance dele. Por garantia, joguei-a no vaso sanitário do banheiro cuja porta estava aberta.
- Me entregue a encomenda! Agora somos só eu e você! E, como pode ver, estou novamente em vantagem. – exclamei com a voz firme.
- Não sei do queCala essa boca e faz o que estou mandando, o dispositivo, agora, na minha mão! – gritei, quase sobrepujando a berraria do casal se estapeando lá em cima.
- Não está co..... – recomeçou ele. Coloquei um tiro a menos de um palmo do cacete dele, estourando o prato e lançando o espaguete para todos os lados. No minuto seguinte, uma caixinha metálica estava nas minhas mãos e dentro dela algo que se parecia com uma fita cassete, exatamente igual as fotografias que a KGB havia me mandado.
- Se não for o que quero, vou encontrá-lo novamente, esteja certo, como fiz nas últimas três vezes, mas na nossa despedida você não estará vivo para me dizer adeus. – ameacei. Ele balançou a cabeça e garantiu que era aquilo que procurava, sentindo-se aliviado por ainda estar com o caralho inteiro no meio das pernas.
Corri escadas abaixo como se houvesse um leão no meu encalço, o táxi continuava me esperando, fruto das £100, que eu já havia colocado na mão do taxista como parte do pagamento para uma corrida de pouco mais de dez quilômetros. Cheguei ao apartamento suando e tremendo. Joguei o sobretudo para um canto e fui na direção do armário onde havia enfiado o ultrapassado Mir-3, e rapidamente meti o cassete no slot, digitei uma senha que havia me sido enviada junto com as instruções daquela missão e a tela se abriu. Eram linhas e mais linhas com caracteres em cirílico que continuavam por páginas e páginas. Não eram nomes, devia ser algo cifrado que não fazia sentido, ao menos para mim, que provavelmente também não deveria saber do que se trata em pormenores. Por fim, nas últimas páginas, começaram a surgir nomes sob parágrafos titulados com nomes de países da Europa e América do Norte, tudo escrito no alfabeto latino. Já era madrugada, minha vista estava cansada, eu estava exausto com tudo o que aconteceu naquele dia, mas os nomes Ava Bex, Mike Olsen e o do general DeWright estavam lá, quase gritando para os meus olhos. Abaixo dos nomes seguia um breve dossiê de cada um. Eu me ajeitei na cadeira, estiquei os braços para me espreguiçar e comecei a ler.
Ava Bex era uma judia que trabalhou para o serviço secreto americano durante a guerra, escondendo-se sob uma falsa cidadania alemã que permitiu com que não fosse capturada pelo regime nazista. Poucos meses antes do final da guerra, ela foi sondada por Moscou para virar de lado e se infiltrar na vida do general Holzpratt. Casou-se com ele para ter livre acesso a tudo que esse homem sabia. Agora eu conseguia compreender por que continuava ao lado de um homem que sofria de ejaculação precoce e mal conseguia manter uma ereção por alguns minutos. Ela estava sendo muito bem paga por Moscou para interpretar seu papel de boa e resignada esposa.
O general DeWright não chegou aos postos que almejava, apesar de seu brilhante e eficaz desempenho durante a guerra, ele queria ser o Chefe das Forças Armadas Americanas, mas estava estagnado no posto de general desde o final da guerra, sem perspectivas e mudanças à vista. Resolveu negociar com Moscou tudo o que sabia sobre as estratégias e planos da OTAN. Aquela vida luxuosa não era, portanto, fruto de uma fortuna familiar, mas de uma enxurrada de dólares e libras esterlinas que caiam em sua conta num paraíso fiscal.
Mike Olsen era, na verdade, cidadão alemão e, ainda criança foi levado para os Estados Unidos pelo pai alemão e mãe inglesa, criado e educado como um americano típico. Engajado na Marinha Americana, foi treinado num grupamento de forças especiais, seu excelente desempenho o qualificou para atuar junto à CIA, onde permanecia até o momento, atuando na divisão militar da OTAN. Ao final de cada dossiê havia um parágrafo sob o título – Situação Atual – na dele figurava em negrito – A ser eliminado – eu estremeci. Se me vinculassem a ele, me mandariam matá-lo.
Escondi tudo novamente e fui até o quarto onde havia instalado o Mike. Encostei no batente da porta e fiquei olhando para aquele macho enorme que dormia sem desconfiar que seu destino já havia sido traçado. Senti as lágrimas descendo pelo rosto, eu estava me apaixonando por aquele estrupício que corria perigo de morte se continuasse perto de mim. Ele se mexeu e afastou o cobertor, fazendo surgir o abdômen trincado, as coxas grossas e peludas e uma ereção que mais parecia um poste. Senti meu cuzinho se revolvendo, a lembrança dele me fodendo prensado contra a parede do banheiro do hotel fuleiro em Istambul não continuava viva só na minha mente. A oxicodona havia derrubado o gigante, ele não sentiu o beijo suave e carinhoso que coloquei sobre seus lábios, antes de deixar o quarto.
- Christian! Christian! Você está por aí? – ouvi chegar aos meus ouvidos quando estava no melhor do sono, apesar de ser quase meio-dia. A voz grave vinha do quarto ao lado.
- Bom dia! – cumprimentei, me espreguiçando e esfregando os olhos para me acostumar à claridade.
- Seria bom dizer boa tarde ou quase boa noite! – respondeu ele, ainda estirado na cama com a mão enfiada dentro da cueca, quando entrei no quarto. – Afora ter me dopado, que outras vilanias aprontou comigo inconsciente?
- Você sempre dorme e ronca desse jeito, parecendo um urso em hibernação? – devolvi.
- Achei que estivesse atrás do nosso homem! E pensar que ele estava nas minhas mãos quando você o deixou escapar. – provocou ele.
- Não me faça rir! Nas tuas mãos, é sério isso? Você gosta de fazer piada, não é mesmo! – retruquei. – Dá para você fazer o favor de tirar essa mão aí de dentro que já estou começando a sentir enjoo!
- Enjoo ou vontade de me fazer um boquete? Não seria nada mal começar esta manhã com um. – respondeu sarcástico.
- Quer que eu te jogue lá para baixo? Vá procurar abrigo noutra freguesia, seu mal-agradecido! – exclamei zangado, deixando-o sozinho.
Ele apareceu na cozinha pouco depois, enquanto eu preparava uns ovos mexidos com presunto e queijo. Não tinha se vestido e a pica formava uma barraca distendendo a cueca. Apesar da imensa vontade de acariciar aquele caralhão, eu estava prestes a censurá-lo e a despejar uma batelada de impropérios sobre ele, quando me lembrei que suas roupas ainda estavam na secadora.
- Hummmm, que delícia! – murmurou ele.
- Vai querer os seus com um pouco de ervas frescas? – perguntei, havendo me esquecido que também não usava nada além da cueca.
- Hã? Com o que? – titubeou ele, com o olhar fixo na minha bunda. – De qualquer jeito é gostoso!
- Tarado!
- Hein?
- Se toca, Mike! Deixa de ser safado! – exclamei zangado. Ele continuava me secando e rindo.
- Chris, você quis dizer! Você sempre acorda tão mal-humorado? Quando me casar com você nossa vida vai ser um inferno com esse seu mau-humor! – foi a minha vez de soltar uma gargalhada.
- Enquanto você dormia feito uma bela-adormecida, eu encontrei o sujeito, se é que isso te interessa. – revelei. Ele ficou sério e se aproximou de mim; tanto que quase derramei o bule de café com o qual estava enchendo as xícaras, pois aquela rola resvalou na minha coxa, me arrepiando todo. – Chris, por que? Eu sei quem você é, esqueceu, Mike?
- Você está de gozação! Sozinho, você encontrou o cara! – devolveu incrédulo. Eu pensei se devia contar que também havia recuperado o dispositivo, ou se isso era o mesmo que entregar munição ao inimigo. – Assim que terminar de comer essa gororoba, vamos atrás dele. Onde ele está? – emendou apressado.
- Agora? Não faço a menor ideia! Deve estar se explicando para quem o contratou que não está mais de posse do dispositivo, e feliz por conseguir mijar com o próprio pinto. – afirmei irônico.
- Como assim? Você não acabou de dizer que encontrou o sujeito, como não sabe onde ele está? Que brincadeira é essa? – questionou impaciente.
- Em primeiro lugar não estou te obrigando a comer essa gororoba. Em segundo lugar, estropiado desse jeito você é ainda mais inútil do que de costume. Em terceiro lugar, eu também já recuperei o dispositivo. Está bem assim para você, ou quer mais? – ele me encarava boquiaberto.
- Caralho! Você só pode estar zoando com a minha cara!
- Para você ver que não me conhece! Caso contrário, não estaria aí com essa cara de bestalhão. – zombei.
- Se está com o dispositivo, me mostre. O que tem nele?
- Vou pensar no seu caso! Por enquanto ele fica onde está, longe do seu alcance. Se, por acaso, eu vier a confiar um pouquinho em você, talvez lhe diga mais alguma coisa. – asseverei.
- Puto! Eu devia te enrabar como fiz em Istambul até você me dar o serviço todo! – exclamou, sentindo-se derrotado.
- Quem sabe eu não aceite! No entanto, quanto a te dar o serviço, está fora de cogitação. – dei uma piscadela na direção da cara perdida dele.
- Aqui para você, ó! – revidou amuado, chacoalhando acintosamente o cacetão que tinha tirado da cueca. Coloquei um beijo nos lábios e o assoprei na direção dele.
Antes mesmo de terminarmos de tomar o café, ele voltou a reclamar de dor no ombro ferido, o efeito da oxicodona estava terminando. Ele quis recusar o comprimido que coloquei diante dele, alegando que eu o estava dopando com alguma finalidade escusa. Mandei-o à merda. Ele tomou o comprimido como um bom menino obediente. Quinze minutos depois, dormia como tal.
Voltei a me concentrar no que havia naquelas páginas que não consegui decifrar. Se é o projeto de um míssil, deveria haver desenhos, croquis ou algo assim nesse arquivo, e não uma infinidade de linhas. A menos que fosse a descrição de como construir o míssil, passo-a-passo, aventei. Porém, nenhuma dessas linhas contém uma única palavra identificável, as letras do alfabeto cirílico não estão formando palavras, como pode ser. Entrei tarde adentro pensando e tentando de tudo que havia aprendido sobre formação de mensagens codificadas, maneiras de interpretá-las, e tudo mais. Continuava tão perdido quanto quando comecei, quando o Mike acordou e veio ter comigo.
- O que é isso?
- É o que tem no dispositivo! Está em código, eu acho. Mas, não consigo decifrá-lo. – revelei, mais por conta aquele corpão debruçado sobre os meus ombros e aquele hálito morno que roçava minha nuca quando ele falava.
Você arrancou mesmo a coisa da mão do sujeito! – exclamou alegre. – Como conseguiu isso?
- Da próxima vez, pense bem antes de duvidar da minha capacidade! E, vê se vai pegar suas roupas na secadora e vem me ajudar aqui. Vamos ver se sua cabeça serve para alguma coisa. – sentenciei.
- Pode estar certo que as duas ainda vão te surpreender, e muito! – retrucou ele.
Ficamos mais algumas horas debruçados sobre aquele mistério, até ele me sair com essa.
- Você disse que as letras do alfabeto russo não estão formando palavras inteligíveis, perceba que a cada determinado número de letras, algumas agrupadas em conjuntos de duas, três, quatro e cinco, se repetem entre as demais, está vendo aqui, olha. Isso é uma linguagem de computação. – declarou com um sorriso de quem acaba de vencer uma partida de xadrez.
- Tem certeza?
- Está duvidando da minha capacidade?
- Digamos que não ponho fé nos teus talentos!
- Christian, se você não fosse tão gostoso e, eu não estivesse tão a fim de enrabar essa sua bunda, eu já teria te dado umas boas porradas, sabia! – asseverou agressivo. – Já ouviu falar em programação de computadores? E, em ASCII? – questionou.
- Sim! Quer dizer, mais ou menos. – respondi.
- Ou seja, não sabe! – afirmou categórico, dando uma de sabichão. Dei uma cotovelada na costela dele, infelizmente me esquecendo que era do lado estropiado dele. Ele gemeu. – O ASCII é um código numérico que representa os caracteres, usando uma escala decimal de 0 a 127. Esses números decimais são então convertidos pelo computador para binários e ele processa o comando. Sendo assim, cada uma das letras que você digitar vai corresponder a um desses códigos, entendeu, ou foi demais para você? – eu ia dar outra cotovelada, mas ele se esquivou, e emendou – eles apenas trocaram o alfabeto latino pelo cirílico. Se você me ajudar a converter as letras de um para o outro, estaremos aptos a descobrir o que está escrito aqui. – concluiu.
De fato, nos esquecendo de comer e até retendo, prolongadamente, as necessidades fisiológicas, chegamos a um texto compreensível. Como eu supunha, era a descrição detalhada, de cada passo para a construção do míssil. Ao final da leitura, nos encaramos em jubilo, voei no pescoço dele e tasquei um beijo naquela boca deliciosa, deixando-o atônito.
- Só tem um porém! Está claro que o projeto desse míssil não é russo, e sim, americano. – afirmei. – Por que então utilizaram um código em cirílico? Não faz sentido.
- Se você quiser fazer parecer que o projeto é soviético, sim! – respondeu ele. – Quem estava interessado nesse projeto, não é nem americano, nem russo, é alguém que quer tirar vantagem de um dos lados. Isso aqui não passa de uma armadilha, duvido até que esse projeto seja verdadeiro. – sentenciou.
- É verdadeiro! – assseverei.
- Como pode saber?
- Pelo general Holzpratt!
- Como assim pelo general Holzpratt? Ele num belo dia, por acaso, acordou de bom-humor e te contou os projetos secretos que a NASA está desenvolvendo, simplesmente porque gostou a sua carinha de bom moço? – caçoou ele.
- Quase isso! Precisei entrar numa área reservada com o código de acesso dele e fotografar alguns projetos, além de invadir alguns computadores com uma senha que me foi passada por um agente infiltrado. – revelei.
- Cara, você me surpreende a cada dia! Você é um pilantra! Mas, espere um pouco, o código de acesso do general não estava dando sopa por aí, como o conseguiu? – ele estava chegando aonde eu não queria. – Aqueles passeios demorados fora de casa, as pequenas viagens para as quais ele te convidava sem a presença da Ava, você e o general ..... Não acredito, você deu o rabo para aquele velho em troca de acesso a áreas restritas e secretas da NASA! – meu silêncio respondeu por mim.
- Esqueceu quem eu sou? Eu preciso prestar contas, minha vida depende disso! – afirmei.
- Ele te enrabou!
- É só nisso que consegue pensar?
- No momento, sim! Ele se esbaldou no seu cuzinho. – resmungou inconformado.
- Se ele fosse capaz disso, talvez!
- Como assim, o que quer dizer com isso?
- Ele sofre de ejaculação precoce, nas inúmeras vezes em que estivemos juntos, ele só conseguiu enfiar um pouco do pinto flácido dele em mim, segundos antes de se esporrar todo. – eu não sei porque estava dando essas explicações.
- Foi usando esses métodos que conseguiu o dispositivo? – havia revolta no questionamento dele.
- Não! Mas já precisei, ou fui obrigado, a usar esse método muitas vezes para conseguir certas coisas, ou para salvar a minha vida. – afirmei, sem perceber que a umidade concentrada nos olhos estava rolando pelas minha face. Ele não disse mais nada, ficou me encarando. Talvez, se soubesse o quanto isso estava doendo em mim, não ficaria ali me julgando.
Era um pouco tarde, saímos para jantar num restaurante das redondezas, caminhando lado a lado em silêncio. Não trocamos mais que uma dúzia de palavras depois de eu fazer a revelação. Também comemos em silêncio um de frente para o outro, como dois estranhos. Na metade do caminho de volta, nossa caminhada precisou ser apressada por conta da chuva fina que despencou do céu enegrecido. Ele entrou no quarto dele e fechou a porta, eu no meu e, ao me deixar cair sobre a cama, estava chorando feito uma criança perdida. Eu tinha me apaixonado irremediavelmente por aquele homem que, àquela altura, certamente estava sentindo nojo de mim. Um tempo depois, a porta do quarto se abriu, ele entrou e tornou a fechá-la, deitou-se nu ao meu lado e me puxou para junto dele. Eu me virei, através das lágrimas vi o rosto másculo dele vindo na direção da minha boca. O beijo foi longo e apaixonado, me perdi do tronco largo e imenso dele, enquanto sentia suas mãos devassando minha bunda ao abaixar a calça do meu pijama. Cada pegada forte que ele me dava vinha acompanhada de um gemido lembrando-o do ombro ferido e cerceando o tesão que o dominava. Beijei-o ao longo do trajeto peludo que levava até sua virilha, onde o caralhão cavalar enrijecia a olhos vistos. Abocanhei-o assim que o alcancei, o gemido dele dessa vez não foi por conta do ombro, e sim da sensação maravilhosa da cabeçorra da pica estar dentro da minha boca, sendo afagada pela minha língua inquieta. Chupei-o devota e demoradamente. Ele mantinha as pernas grossas e peludas bem afastadas e o olhar perplexo na maneira como eu degustava sua jeba.
- Para Christian, vou gozar! – advertiu. Eu continuei mamando e chupando a cabeçorra até ouvir seu grunhido selvagem e rouco, engolindo um jato de porra atrás do outro, até ele estar satisfeito. – Amo você, seu putinho! – balbuciou ao sentir que o sacão ingurgitado já não o torturava tanto.
- E eu a você, seu bestalhão! – asseverei com um sorriso contornando meus lábios.
Livrei-me da calça do pijama e sentei sobre a virilha dele. A jeba que caminhava contrariada para a flacidez reagiu, com a primeira empinada, veio parar dentro do meu rego estreito. Ambas as mãos dele agarraram minhas ancas, ele gemeu e tirou a esquerda, do ombro ferido. Eu me inclinei e o beijei. Ele puxou minha cabeça com a mão direita para que aquele beijo durasse a eternidade que aquele momento pedia. Eu rebolei sobre a verga dura feito ferro, trabalhando para que ela me penetrasse. Ele ergueu a cabeça do travesseiro e abocanhou um dos meus mamilos, mastigou-o por uma perpetuidade infindável, deixando-o inchado e com o biquinho arroxeado e sensível. Eu ergui minhas ancas, guiei o cacetão melado de pré-gozo até a portinha do meu cu, sentando lentamente sobre ele e fazendo-o afundar no meu cu macio. Eu gania o tempo todo deixando me conduzir unicamente pelo tesão, enquanto minhas preguinhas se dilaceravam e minha carne era rasgada por aquele cacete enorme.
- Você me deixa maluco, Christian! – grunhiu o Mike, lançando-se sobre mim ao girar nossos corpos engatados e começando a movimentar o caralhão num vaivém prazeroso e dolorido no meu cuzinho úmido.
- Ai Mike, não me machuca! – gemi, pois estava sentindo a mesma dor que senti naquele dia em que ele me fodeu no hotel em Istambul, e cujas consequências eu bem conhecia.
- Abra as pernas, Christian, a bunda e esse cuzinho, abre, Christian! Eu preciso desse rabo como preciso do ar que respiro, meu amor! – bramia ele, estocando minhas entranhas com o maior cuidado que sua gana desenfreada permitia. Enquanto o cobria de beijos, eu erguia minha pelve me oferecendo desabrochado feito uma flor na primavera.
Comecei a gozar assim que as primeiras estocadas atingiram fundo a minha próstata, envolvendo-o nos meus braços o mais ávido que podia sem tocar seu ombro. Levou poucos segundos antes de eu sentir que ele ejaculava abundantemente no meu cuzinho, enchendo-o com sua porra espessa e esbranquiçada, ele não grunhiu nem gemeu enquanto gozava, só duelava com a minha língua em sua boca. O que eu senti naqueles instantes nunca havia sentido antes com homem algum que me fodeu. O foco não era o coito em si, mas aquela fusão que unia nossos corpos e nossas almas, e ia muito além de um pinto enfiado e gozando dentro de um cuzinho. Aquilo significava que estávamos ligados um no outro para todo o sempre, mesmo que nossos corpos estivessem a milhares de quilômetros um do outro.
A ligação veio numa manhã quinze dias depois de eu ter meu cuzinho preenchido com o sêmen do meu macho e o coração com o seu amor. Eu devia me encontrar com o sujeito que pronunciaria – ПОКОЙНЬІЙ (defunto) – ao cruzar comigo sobre a Chelsea Bridge à uma da tarde daquele mesmo dia. Minha mão tremia quando coloquei o fone no gancho, um pressentimento ruim tomou conta de mim, procurei em vão afastar o pensamento que começava a tomar forma na minha mente.
- O que aconteceu, você está pálido? – perguntou o Mike, quando me viu parado no meio da sala olhando para o infinito.
- Uma coisa horrível vai acontecer, você precisa sair daqui imediatamente. – despejei alucinado.
- Por que? O que foi que te disseram? Eu não vou deixar você sozinho aqui! – respondeu ele.
- Vai embora, Mike! Agora! – berrei enfurecido, esse cara parece que nunca faz o que eu peço. Ele percebeu que eu estava perturbado demais para continuar argumentando. Meia hora depois, ele saiu pela porta da frente me deixando aos prantos sem saber se na primeira esquina não dariam cabo da vida dele.
Reconheci o russo caminhando na minha direção algumas dezenas de metros antes de ele chegar a mim com aquele andar que mais se parecia com um militar marchando. Dois metros antes ele parou e se debruçou sobre a lateral da ponte tirando uma profunda baforada do cigarro e lançando a fumaça no ar, virou o rosto na minha direção e rosnou o – ПОКОЙНЬІЙ – sem nenhum sotaque. Eu acenei com a cabeça e ele colocou um papel amarelo dobrado na minha mão, voltou a se aprumar e seguiu na direção de onde eu tinha vindo. Não olhei para trás, assim como não tive coragem de desdobrar o papel para saber de seu conteúdo. Caminhei a passos largos por algumas ruas próximas à ponte sem um rumo definido, até encontrar um café com mesas na calçada e me sentar numa delas. O homem que veio me atender ficou me encarando como se tivesse visto um fantasma, antes de me perguntar o que eu desejava. у вас есть два дня, чтобы убить вашего гостя (Você tem dois dias para matar seu hóspede) lia-se no papel que tremulava na minha mão.
Como pude ser tão imbecil, levando o Mike para o apartamento e mantendo-o lá ao meu lado? Minha vontade era voltar à ponte e me atirar no Tâmisa. Eu nunca ia ter paz nessa vida. Se eu não o matasse, alguém o faria de bom grado para receber algum elogio fingido ou uma promoção sem importância. O mundo no qual eu vivia não era regido por nada parecido com o das pessoas normais, eu já devia saber disso. Joguei as minhas coisas numa mala e corri para aeroporto, determinado a estar no primeiro voo para Berlim por onde cruzaria e fronteira antes de pegar outro voo que me levasse a Moscou. Eu ia pedir, implorar, fazer o que fosse preciso ao tio Konstantin para me libertar dessa maldição. Eu não aguentava mais viver essa vida que não pedi, essa vida nômade que só me trazia infelicidade. Se ele se negasse, que me mandasse para alguma Gulag na Sibéria, me envenenasse ou me desse um tiro no peito, pois morto eu já me sentia. Topei com o Mike assim que abri a porta de entrada do edifício.
- O que significa isso? Onde pensa que vai com essa mala sem me dizer nada? – perguntou, fechando meu caminho com seu corpão.
- Você não devia estar aqui! Eu já te mandei embora. Estou com pressa, saia do meu caminho. – retorqui sem paciência.
- Ei, ei, ei! Calma lá, mocinho! Você não vai a lugar algum antes de me contar o que está acontecendo. Anda, vamos subir! – ordenou ele, agarrando meu braço e me conduzindo escada acima.
- Eu tenho que estar no aeroporto em uma hora, não posso ficar trocando figurinhas com você.
- Christian, você só sai daqui depois de me contar o que deu em você para me expulsar do seu apartamento e para onde está indo. – exigiu
- Me enchi da sua presença! E tenho uma nova missão, você já está me atrapalhando de novo.
- Se encheu da minha presença. Depois de se entregar para mim e me dizer que me ama. Está certo, conta outra! Que raios de missão é essa, se nem a que estávamos solucionando você terminou. Não mente para mim, Christian. Quem era aquele sujeito na Chelsea Bridge de quem você pegou um papel antes de sair correndo feito um desatinado? -
- Que saco, Mike! Você anda me perseguindo?
- Digamos que estou cuidando do que é meu! É bem diferente!
- Eu vou lhe entregar o dispositivo. Vou dizer ao meu chefe na KGB que o sujeito o destruiu bem diante dos meus olhos quando o encurralei. Eles nunca vão saber se é verdade ou não. Ademais, o que ele contém é de interesse da OTAN e do seu governo, mais do que do meu. – afirmei
- Não estou falando daquela porra, Christian! Estou falando de você, caralho! Estou falando de nós dois, cacete! – berrou encolerizado
- Não tem ‘nós dois’, será que você não vê? Nunca vai haver um ‘nós dois’! Estamos em lados opostos nesse jogo, Mike, enfia isso na tua cabeça dura! Eles me mandaram matar você! Consegue enxergar agora que nunca vai haver um ‘nós dois’? – revelei, não aguentando mais segurar aquele nó na garganta que me sufocava.
- E aí você resolve fugir para sabe-se lá onde, sem me dizer nada, sem se despedir de mim. – questionou
- Eu não posso, Mike! Eu não posso! – caí no sofá e deixei o choro extravasar, ou ia morrer ali mesmo.
- Vamos encontrar uma solução juntos, não fique assim! – garantiu ele, me apertando contra o peito. – Você já se deu conta de que somos mais fortes juntos, de que encontramos soluções melhores e mais rápidas quanto trabalhamos juntos. Havemos de resolver essa questão também, confie em mim, meu amor! – eu jamais queria deixar aquele tronco viril que me parecia o mais seguro dos bunkers.
Depois de ver que tinha conseguido controlar meu choro e me tranquilizar, o Mike me levou para o quarto. Foi me despindo aos poucos, colocando uma porção de beijos em cada parte nua do meu corpo, despindo seu corpo másculo e se inclinando sobre mim, antes de enfiar lenta e cuidadosamente a gigantesca jeba no meu cuzinho, que eu descerrava generoso e gentil para receber aquele macho dentro de mim.
Naquela mesma noite fomos para um hotel onde nos registramos em quartos separados com um dos nomes que escolhemos aleatoriamente entre nossos diversos passaportes. Dividimos a mesma cama pela noite toda. Quando sussurrei o – boa noite – continuávamos engatados e a verga grossa dele amolecia caprichosa e morosamente no meu cuzinho encharcado de porra. No dia seguinte, voamos ambos para Berlim com o que achávamos ser a solução para as nossas vidas.
Enquanto o Mike fazia contato com a CIA através da embaixada americana em Bonn, eu atravessava a fronteira da Alemanha Oriental e rumava num voo da Aeroflot para Moscou. Ambos carregavam uma cópia do dispositivo recuperado e do qual conhecíamos muito bem os pormenores, facilitando as coisas numa mesa de negociações que teria muitas exigências antes de entregarmos as cópias, tipo, quem dá mais leva.
- Você está blefando meu jovem! Quero ver esse dispositivo para saber se o conteúdo dele vale mesmo à pena. – disse um Andropov exaltado com as jugulares visíveis e pulsando em seu pescoço depois da minha introdução.
- Vocês me ensinaram a não bancar o tolo, e agora quer que eu seja um, chefe? – retruquei ante a exigência. – Eu lhe garanto que o conteúdo vale à pena. O governo soviético só vai ter acesso a ele quando minhas cláusulas forem atendidas. A minha morte, ou qualquer outro destino que pretenderem dar a mim, só vai fazer com que nunca coloquem os olhos sobre esse míssil. Quando ele explodir sobre as suas cabeças, o senhor terá a certeza de que eu não estava blefando. Pena que tarde demais.
- Você é um porco, Adrian Volkov! Um porco que eu devia destrinchar com as minhas próprias mãos. – berrou Andropov, tomado de uma fúria incontrolável, que fez objetos voarem pelo gabinete, despertando a atenção da secretária e dos dois seguranças que estavam do outro lado da porta. – Saiam daqui seus imbecis, eu não mandei chamar ninguém. – gritou quando eles enfiaram a cabeça porta adentro. – Voltando ao nosso assunto. Seus tios sabem dessa sua traição? – indagou, ao voltar a se sentar atrás da mesa.
- Por enquanto não! Se quiser metê-los nesse assunto, fique à vontade. Aqueles dois já me prejudicaram muito, a raiva que sinto deles não tem palavras que exprimam, será um prazer encerrar as negociações no instante em que eu vir uma daquelas duas caras me lançando olhares de recriminação. A escolha é toda sua! – respondi.
- Você não sairá vivo daqui, sabe disso, não sabe, Adrian Volkov? – rosnou ele
- Então a OTAN e os americanos terão o prazer de construir o míssil! Mais uma vez, é você quem escolhe, chefe! - a minha ironia o fez dar um violento soco na mesa. Eu sabia dos meus talentos para deixar generais de pinto duro, mas estava descobrindo naquela sala, como deixar um cara que se julgava o mais controlado dos homens, perder o chão diante das ameaças de um jovem de quem ele podia ser o pai.
- Não posso tomar essa decisão sozinho! – o brilho indecente no olhar dele dizia que estava querendo ganhar tempo para reverter o jogo. Embora estivesse morrendo de medo, fiz das tripas coração para não demonstrar o quanto estava assustado.
- Pode, pode sim! E, se for o caso, coisa que eu duvido, pegue esse telefone e consulte o Brejnev em pessoa, ele lhe dirá o que fazer. – afiancei
- Atrevido! Você se julga muito esperto, não é moleque? Sua esperteza não o levará longe, escreva o que lhe digo! – respondeu ele. Mas, acabou fazendo o que sugeri. Eu podia ouvir a voz histérica do outro lado berrando a plenos pulmões – Negocie e aceite os termos do acordo. Uma vez que deixou a situação chegar esse impasse, negocie! – pela primeira vez desde que entrei naquele gabinete, o ar que entrou nos meus pulmões me fez respirar direito.
Aquilo não era garantia alguma de que o acordo seria respeitado, nem que minha vida estava a salvo, uma vez que a mais notória qualidade dos soviéticos era quebrar acordos unilateralmente. Eu tinha, pelo menos, meia dúzia de agentes seguindo meus passos assim que deixei o gabinete de Andropov. Eu os enxergava por todos os cantos, em cada esquina, em cada lugar onde meu olhar pousava, talvez mais do que eles na realidade eram, fruto do pavor que não me abandonava.
A milhares de quilômetros dali, na embaixada americana em Bonn, o Mike é quem dava as cartas para um comitê reunido às pressas, oferecendo a devolução do projeto roubado do míssil, antes de cair em mãos inimigas; em troca, basicamente, das mesmas coisas, à exceção de uma, que os EUA dessem garantias de vida, anonimato e asilo em território americano ao ex-agente da KGB responsável pela recuperação do projeto, Adrian Volkov, também conhecido como Christian Becker ou Ethan Colton Hughes. Dois dos componentes do comitê esboçaram um sorriso contido ao ouvirem os nomes com os quais tinham bastante familiaridade.
- Está nos querendo fazer crer que está mancomunado com esse ex-agente, senhor Olsen? – precisou responder o Mike.
- Isso pode lhe custar a própria carreira, como deve saber! – exclamou outro dos componentes da reunião.
- Isto é traição, Mike! – afirmou o representante da CIA que conhecia o colega de longa data quando ingressaram novatos na Agência.
- Traição, David? Chama de traição eu lhes devolver um projeto secreto da NASA que foi roubado debaixo das fuças de vocês? Se isso é traição, David, então não sei o que essa palavra significa. – revidou o Mike, numa postura firme e autoritária.
- Está bem Mike, posso ter me expressado de forma errada! Me desculpe! – devolveu o David
- De forma inconveniente, você quer dizer! - corrigiu o Mike. – Afinal, querem ou não o projeto de volta? – intimou
Os membros do comitê se entreolharam e fecharam o acordo. Havia uma garantia explícita do governo americano que eu teria asilo e que minha identidade, fosse ela qual fosse a partir dali, seria mantida em anonimato. O Mike inspirou profundamente, respirou aliviado e voltou para o hotel onde ficaram de lhe entregar meus novos documentos e o salvo-conduto para os Estados Unidos, tão logo fosse reconhecido que o projeto contido no dispositivo era o mesmo que tinha desaparecido do Centro Espacial John C. Stennis cerca de um ano antes sob condições suspeitas e até então não esclarecidas.
Quiseram me levar para o Hotel Metropol, ali perto, na Teatralny Proezd antes de me escoltarem no dia seguinte ao aeroporto rumo a Berlim. A entrega do dispositivo ia acontecer no dia seguinte à minha chegada a Berlim Ocidental, na Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche. O horário exato em que o pacote encaixado num vão das ruínas do arco voltado para a Kurfürstendamm, só seria revelado pouco antes, não haveria num contato pessoal. Foi a minha imposição, para que não me matassem antes de eu ter dado dois passos após largar o pacote nas ruínas da igreja. Andropov caçoou das minhas exigências com uma gargalhada forçada, como se elas fossem um joguinho de gato e rato.
Diante da recusa de ficar no hotel, onde certamente seria o palco de um assassinato que só seria descoberto pelos funcionários no dia seguinte, eu exigi que me deixassem na casa do tio Gueorgui. Lá eu estaria relativamente seguro, outra morte suspeita naquela casa seria algo que ele teria dificuldade de explicar às autoridades e ao próprio Comitê Central. Ele me recebeu com uma avalanche de acusações, insultos e, por pouco não tive minha cara estapeada por sua fúria animalesca. Deixei-o vociferar e gesticular seus braços enfurecidos como se fosse um touro bravio, fazendo como se aquele ataque de histeria não me dissesse respeito. Até esbocei um risinho sarcástico, o que quase custou o bofetão.
- Não se atreva, assassino! – gritei quando a mão estava a centímetros do meu rosto. Ao ouvir a palavra ‘assassino’ ele perdeu o prumo.
Todos naquela casa sabiam que a responsabilidade pela morte da Ikatrina era responsabilidade dele. Mantinham-se calados por estarem sob um jugo ferrenho. A irmã caçula da Ikatrina tinha voltado do hospício há poucos meses, e nunca mais seria a mesma pessoa. Vivia sorumbática, recolhida pelos cantos com um olhar ora assustadiço, ora vagando por um mundo que era só dela. Estava de casamento marcado com meu irmão Gero, que aceitou a imposição do tio em troca de uma escalada vertiginosa na carreira. Segundo ele mesmo me contou, seria general em menos de quatro anos, casar-se com a louca era um preço barato a se pagar. Eu queria encontrar naquele olhar o meu velho e querido irmão Gero, aquele da Utca Alpár de Budapeste, mas só via um homem frio e sem escrúpulos que, definitivamente, não era meu irmão.
- Você deu sorte, irmãozinho! Não fosse a bondade do tio Gueorgui e do tio Konstantin, você estaria apodrecendo numa sepultura qualquer. Dê-se por feliz de ainda estar respirando! Apenas não abuse da sorte, ela é fugaz, pode não estar a seu lado por muito tempo. – disse meu irmão, já com a mesma soberba e arrogância dos meus tios.
- Tenho pena de você, meu irmão! Por um lado, fico feliz dos nossos pais não estarem mais aqui para ver no que você se transformou. Eles certamente estariam chocados e tristes, por verem que o amor no qual te criaram não ter feito você enxergar as coisas como elas são. – retruquei.
- E o que não diriam de você? Um pederasta promíscuo que sobrevive trepando com qualquer um para se manter vivo. – devolveu ele
- Agora você disse tudo, para me manter vivo. Pergunte ao seu idolatrado tio Konstantin, como foi que ele me desvirginou e me enviou para missões nas quais eu precisava ceder o meu corpo para alcançar o que o governo soviético queria. E olhe bem para estas fotografias da sua prima eviscerada que colocam seu ídolo numa situação para a qual não tem justificativas. Contudo, a sua opinião a meu respeito não me importa, sei que sou muito mais decente do que você ou qualquer um deles, sob todo e qualquer aspecto. – afirmei, jogando as fotografias que tirei no dia da tragédia sobre a mesa. – É isso que ainda me mantem vivo, caro irmão! – emendei, deixando-o perplexo ao saber que o tio Gueorgui estava nas minhas mãos.
Ao me recolher, trancar a porta de quarto e empurrar uma cômoda contra ela para me assegurar de ninguém invadir o quarto e me matar, eu comecei a cogitar a possibilidade de não entregar aquele dispositivo. A troco de que eu daria o projeto desse míssil para os soviéticos? Não havia sido criação deles. Receberiam algo que não lhes pertencia apenas em troca da minha vida. Pela manhã, minha decisão estava tomada, jamais colocariam as mãos no projeto. Iam receber um cassete com músicas folclóricas russas. O verdadeiro seria devolvido a quem de direito. Há muito eu já não me considerava mais um ousado, mas um louco. Estava dando uma cartada muito perigosa, e precisava meditar bastante antes de pôr meu novo plano em prática. Acima de tudo, precisava ter a certeza de que o homem que eu amava, não estava correndo risco algum.
No início da semana seguinte, numa manhã de chuvisco frio em Bruxelas, Mike colocava nas mãos do secretário-geral da OTAN para assuntos militares o dispositivo contendo o projeto do míssil e, simultaneamente, recebia de uma secretária, minha nova identidade, meu passaporte e um salvo-conduto que me permitiria chegar aos Estados Unidos são e salvo. Eu esperava por ele havia três dias no Hotel de Orangerie, no centro da cidade, depois de ter deixado meu falso pacote no arco da Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche e tomado às pressas, o primeiro trem para a capital belga. Ele bateu na porta do quarto do terceiro andar pouco depois do meio-dia, três pancadas curtas seguidas de duas espaçadas, nosso código, desde que nossas vidas passaram a valer menos do que um Kopek ou um Dime. Ele entrou circunspecto, ombros um pouco caídos e me abraçou com um daqueles seus – boa tarde – pronunciados lentamente. Meu coração que já batia acelerado, descompassou de vez, algo deu errado.
- Como foi? O que aconteceu? Eles deram para trás na negociação? Você não conseguiu os documentos? – perguntei aflito com todo aquele suspense.
Ele me soltou, tirou do bolso do paletó um envelope acinzentado e o colocou diante dos meus olhos. Minha mão tremia quando o peguei e abri, sob o olhar compenetrado dele. Os documentos estavam todos lá, novinhos em folha, cheirando a papel novo, salvo-conduto, identidade e passaporte de Adrian Schelwis, nascido em Stuttgart, Alemanha, coincidentemente no mesmo dia, mês e ano que eu. Pulei no pescoço dele e enrosquei minhas pernas próximo à cintura e colei minha boca à dele, enquanto ele rodopiava comigo em seus braços, mal acreditando que aquele milagre estivesse acontecendo.
- Amo você, Mike! – balbuciei emocionado, e encantado por aquele rosto másculo que me encarava como se eu fosse um tesouro.
- Agora você é todinho meu, Sr. Adrian Schelwis! Todinho meu! – exclamou ele em meio a um daqueles seus lindos sorrisos.
Depois de mais um longo e caloroso beijo, ele me soltou sobre a cama. Ficou com o olhar cravado em mim, enquanto tirava sua roupa, peça por peça, com uma sensualidade provocante e um risinho pervertido nos lábios que ainda tinham meu sabor. Quando o cacetão pesado caiu fora da cueca ao arriá-la, eu quis tocá-lo com minha mão afoita, ele me empurrou de volta sobre o colchão.
- Apressadinho! – sussurrou ele, ampliando o sorriso. Aquele macho lindo e vigoroso que não conseguia esconder o tesão que sentia por mim vindo feito um lobo voraz para cima de mim me levava à loucura. Eu o amava tanto que jamais sonhei um dia poder existir um sentimento tão avassalador. Eu o amava com o coração, com a mente, com as vísceras.
Para ficar sem a minha calça não levou mais que alguns segundos. As coxas grossas e lisinhas não paravam de se mexer, tornando o olhar dele cada vez mais cobiçoso. Em seguida foi a vez da camiseta, ela foi subindo em direção à minha cabeça escoltada pelas mãos espalmadas dele que a empurravam ao mesmo tempo em que deslizavam sobre meu ventre, peito e tetinhas com os biquinhos despudoramente eriçados. Ele lambeu os lábios de maneira safada. Eu respirava afetado, sonhando com o momento em que aquele corpão estivesse ao alcance das minhas mãos, para ser apalpado e afagado até o Mike ficar tão excitado que se atiraria sobre mim e enfiaria aquele cacetão, agora já completamente rijo e colossal, no meu cuzinho acolhedor. Como a encenação dele estava demorando demais para o tesão que eu estava sentindo, eu o puxei pelos braços. Ele resistiu e só lentamente, foi se aproximando, o que deixou o caralhão todo úmido e perfumado praticamente relando meu rosto. Ele foi trazendo a pelve para frente e minha boca conseguiu abocanhar ao verga suculenta. Ouvi o gemido dele quando meus lábios se fecharam ao redor da cabeçorra e minhas sugadas generosas começaram a sorver o pré-gozo aromático dele. Eu estava brincando com a pica há mais ou menos dez minutos, tinha lambido e mordiscado delicadamente toda a sua extensão, tinha chupado cada uma das globosas bolas peludas, e constatava que ele pisoteava o chão naquela agonia porque não conseguia mais segurar o gozo iminente. Eu ergui meu olhar na direção do rosto dele. Ele sabia o que aquilo significava, só tinha visto essa candura num olhar quando eu engoli seu esperma pela primeira vez. Desde então, ele via nesse meu gesto, a mais sublime e devotada entrega, a submissão mais compartilhada, uma idolatria quase divina de seu ser. Era-lhe impossível segurar o tesão, segurar o gozo prazeroso, segurar a porra que eu devoraria em júbilo. Me admirando em êxtase, ejaculou o creme consistente e viscoso na minha boca, deleitado com a maneira bonançosa como eu o engolia.
- Amo tanto você, Adrian, por me fazer o mais feliz dos homens. – confessou. – Estou cheio de planos para quando chegarmos ao Estados Unidos. Vou te levar para onde sempre sonhei morar quando era criança, o Estado de Montana, onde meu pai nasceu, e onde eu fui algumas vezes passar férias. É no meio daquela natureza quase selvagem que eu quero construir um rancho e fazer amor com você todas as noites, ouvindo você gemer debaixo de mim enquanto os coiotes uivam para a lua numa colina próxima. – divagou ele, enquanto eu torcia os pelos do peito dele entre as pontas dos dedos, quando terminamos de fazer amor e a pica que, minutos antes, tinha esfolado e enchido meu cuzinho de porra, estava largada sobre a coxa peluda dele feito um atleta que acabou de vencer uma maratona.
Eu só queria voltar a sentir aquela paz e liberdade que tinha na casa dos meus pais antes de tudo desmoronar. O Mike representava essa esperança, era ao lado dele que eu queria viver até o último dos meus dias, amando aquele homem com todas as minhas forças.
Não passamos mais do que uma semana na Pensilvânia onde moravam os pais do Mike, tempo suficiente apenas para que soubessem que o filho tinha se apaixonado por outro homem, e que esse homem era um ex-agente da KGB foragido e asilado no país. Deixei-o ter essa conversa em particular com os pais a pedido dele. Creio que ele já sabia que não seria uma conversa agradável, mas queria me poupar de ouvir as indignações deles. De uma dessas conversas, melhor dizendo discussões, ouvi alguns trechos e nunca senti tanto orgulho daquele homem que soube se impor e me apresentar não como um inimigo a ser odiado, mas o sujeito que rompeu com seus últimos laços familiares para devolver ao governo americano o que poderia ser uma arma muito letal num eventual enfrentamento das nações. Os Estados Unidos viviam o auge da Guerra Fria, tudo o que estava atrás da cortina de ferro era para ser odiado e combatido. O Mike só quis provar que ali também viviam pessoas sofrendo e sendo massacradas pelo regime comunista. Embora o pai dele tivesse nascido nos confins de Montana, e ainda tinha parentes por lá, eles também não aprovaram a escolha dele de viver naquele território distante. Mais uma vez, e dessa vez na minha presença, ele defendeu seus pontos de vista, defendeu sua escolha, defendeu sua opção de vida.
Numa tarde, fiquei a sós com o pai dele. Procurei quebrar aquela barreira invisível, porém sólida como concreto que eles ergueram contra a minha pessoa. Foi uma conversa civilizada que progredia em meio a frases que demoravam a sair de ambos os lados, como se nenhum de nós quisesse falar algo que aumentasse ainda mais o grande abismo que havia entre nós. Fui sincero, objetivo e comedido ao falar dos meus pais e da minha vida, após ele me fazer alguns questionamentos sobre o assunto. Acho que falei demais dos meus sentimentos, pois em dado momento, ele repentinamente segurou minha mão entre as dele, e me chamou de filho. Lágrimas desceram pelo meu rosto e eu, encarando o olhar azul límpido dele, confessei que acreditava só estar vivo ainda devido ao amor que sentia pelo filho dele. Nos abraçamos demoradamente e eu senti que teria naqueles ombros o mesmo abrigo que um dia meu pai representou. Algumas horas mais tarde, quando o Mike e a mãe estavam novamente conosco, nenhum deles atinou com o poderia ter acontecido, para que eu e o pai dele estivéssemos tão entrosados como se ele me conhecesse desde o dia em que nasci.
- O que fez para dobrar o velho em tão pouco tempo? – perguntou o Mike naquela noite quando se enfiou nu e priápico debaixo do cobertor de plumas comigo, faminto pelo meu cuzinho metido numa cueca.
- Vai aquietando esse facho, não vou trepar com você com seus pais no quarto ao lado, portanto, vá apagando esse fogo! – sentenciei, quando a mãozona glutona dele tentava arriar minha cueca. Ele protestou fazendo uma cara feia. – Não fiz nada para dobrar seu pai, apenas conversamos sobre a minha família e o meu passado. Seu pai é bom homem, dá para sentir quando se ouve ele falando. – afirmei
- Qual o problema dos meus pais estarem no quarto ao lado, ou você acha que foi a cegonha quem me trouxe? – questionou, conscientizando-se de que teria que arranjar outra solução para aplacar os espasmos de sua virilha. – Então você quer me convencer que de lobo ele se transformou em cordeiro com apenas uma conversa? Eu precisei quebrar o pau com eles e, mesmo assim, não os deixei satisfeitos com meus argumentos. Estou começando a acreditar que além do cara mais tesudo, gostoso e ardiloso você também é um bruxo. – retrucou ele, rindo.
- Quem sabe? Afinal, você ainda não conhece todas as minhas qualidades. – caçoei.
- Mas vou desvendar uma por uma quando tivermos a nossa casa em Montana, e te asseguro que não vai haver cueca ou argumento que vá me impedir de pegar esse cuzinho toda vez que você me deixar nesse estado. – revidou ele, me mostrando o cacetão em riste.
- Bestalhão! – devolvi, junto com um beijo amoroso e cheio de carinho.
O pai dele ligou para os parentes, com os quais já fazia anos não conversava, para que nos acolhessem, cuidassem de nós, não nos deixassem entrar em apuros e, nos convencessem a voltar para a Pensilvânia o mais rápido possível.
- Minha mãe faria exatamente o mesmo Sra. Olsen, por isso não estou nenhum pouco surpreso com a senhora. – afirmei, quando ela me abraçou na despedida, já um pouco mais acostumada com a situação.
- Vocês são dois desmiolados! Já não me bastasse o Mike, agora tenho mais um para me deixar com os cabelos brancos. – disse ela ao marido, enquanto secava as lágrimas e não nos deixava seguir na direção do saguão de partida do Aeroporto Internacional da Filadélfia, onde a partida do nosso voo já estava sendo anunciada pela terceira vez.
Nosso destino final era Belgrade, uma cidadezinha charmosa entre as imensas planícies a perder de vista e as montanhas Bridger que a cercavam. Fizemos outra breve escala de uma semana na casa de um primo de segundo grau do Mike, para que se concretizassem os arranjos da aquisição de 960 hectares de terra, cerca de oito quilômetros a sudoeste da cidade.
Soprava um vento gelado no final de fevereiro quando o Mike estacionou a caminhonete e me disse solene – É aqui que vamos morar, meu amor – além de uma casinha caiada de branco que estava caindo aos pedaços, não havia mais absolutamente nada até onde a vista alcançava.
- Você me trouxe para a Sibéria? – brinquei, pois a desolação e os cinquenta centímetros de neve que cobriam o chão se assemelhavam à tundra russa. Ele riu.
- Acha que consegue viver aqui? – havia uma preocupação real dele ao me fazer essa pergunta. Era o sonho dele morar num lugar como aquele, cercado por algumas poucas colinas baixas, uma exuberância de vida selvagem e longe de uma civilização que ele definitivamente não acreditava mais. – Não se assuste com a casinha, é temporária, vamos derrubá-la depois de eu construir uma do jeito que você quiser. Também vamos erguer um estábulo onde está aquele amontoado de arbustos de licopódio, onde vamos criar cavalos. Já imaginou os potros galopando livres por essas planícies? – seus olhos brilhavam, o timbre da voz ganhava força à medida que ele ia se empolgando.
- Consigo viver em qualquer lugar desse mundo, contanto que você esteja ao meu lado! Vamos ser felizes aqui, amor, muito felizes! – devolvi, abraçando aquele tórax firme como uma rocha.
- Eu já te disse o quanto eu te amo? – indagou ele, sorrindo feito uma criança.
- Não me lembro! – devolvi zombeteiro
- Então vou te mostrar o tamanho do meu amor! – retrucou ele, antes de me derrubar sobre a neve gelada, arriar minha caça até as nádegas se arrepiarem com o vento gelado, e ele ir metendo lentamente o cacetão no meu cuzinho, me fazendo ganir num misto de dor e prazer. – Está sentindo agora o tamanho do meu amor? – sussurrou ele no meu cangote.
- Estou, Mike! Estou, amor! - Esse homem era a minha vida, era tudo que eu tinha, era a minha felicidade personificada.
O sonho do Mike, que também passou a ser o meu, foi sendo realizado aos poucos, com muito esforço e trabalho durante os seis anos seguintes. A casinha de paredes brancas, depois de reformada e ter nos abrigado por dois anos, virou abrigo para os funcionários temporários que o Mike contratava nos períodos de maior demanda na fazenda. Nos campos de relva baixa havia agora dois longos galpões de estábulos, um celeiro, diversos piquetes formados por pranchas de madeira pintadas de branco, e uma casa confortável e rústica revestida de pedras e coberta por um telhado de duas águas de onde emergiam duas mansardas. Um plantel de 44 cavalos quarto-de-milha formado de garanhões e matrizes constituía a principal atividade da fazenda, seguida por cultivos sazonais de trigo e cevada.
Assim que o vi invadindo a cozinha, onde eu estava reabastecendo a tigela de comida do cachorro, eu soube que veio para me matar, a pistola Smith&Wesson em punho só confirmava essa certeza. O cubano veio com dois jovens americanos pedir emprego ao Mike na época da colheita do trigo, estávamos às portas do outono e havia muito trigo no campo para ser colhido e silado. Um dos americanos tinha partido naquela manhã, aproveitando uma carona com o Mike que fora expor dois garanhões jovens numa exposição em Billings a pouco mais de 200 quilômetros de distância. Ele me encarou como se quisesse me dizer alguma coisa, mas acabou optando por fazer o serviço sem se justificar, apenas pronunciando – Adrian Volkov – com um discreto sotaque russo, como se precisasse dessa certeza. Demorei alguns segundos depois de ouvir o estampido que ecoou pela cozinha, para sentir a queimação que perfurava meu peito como se uma brasa estivesse sendo introduzida em mim. Permaneci com o olhar estupefato mirando o sujeito que me encarava esperando o resultado do ato que havia cometido. Skazhi im, chto oni vyigrali (diga a eles que venceram) afirmei com uma voz que ia perdendo sonoridade ao mesmo tempo em que me equilibrar sobre as próprias pernas estava me custando um esforço demasiado. Vi o rosto do Mike começando a ficar embaçado no final de um túnel revestido de uma luz branca muito intensa, eu chamava por ele, mas parecia que não conseguia me ouvir e ia se afastando mergulhando naquela luminosidade que chegava a me cegar as vistas, até desaparecer por completo.
A mesma luz voltou a brilhar envolta numa espécie de bruma, como nas manhãs de inverno na planície da fazenda, trazendo junto consigo o rosto tenso do Mike. Eu quis tocá-lo e ao mesmo tempo proteger meus olhos daquela luminosidade que os penetrava como se fossem flechas. Porém, alguém impediu que meu braço se movesse. Minha garganta estava seca e ardendo, balbuciar o nome dele fez arranhar alguma coisa dentro dela.
- Estou aqui, meu amor! Estou aqui! – era voz embargada dele, eu podia jurar.
- Não se agite senhor Schelwis, vai soltar os tubos! – disse uma voz feminina que parecia vir de um lugar muito distante.
- Mike! – tornei a sussurrar
- Sim, querido, eu estou bem aqui ao seu lado, nada vai te acontecer, você está seguro comigo. – era, definitivamente, a voz dele, um tanto chorosa, mas a voz tranquilizadora do meu Mike. Fechei os olhos e voltei a dormir. Fosse lá o que tivesse acontecido, o pesadelo havia terminado.
Cada inspiração parecia rasgar meu peito desencadeando uma dor lancinante. Eu conhecia esse tipo de dor, mas até então só a havia sentido no cuzinho, quando o Mike entrava em mim arreliado como um touro no cio. Tive medo de abrir os olhos e descobrir que já fazia parte de outra dimensão, alheia ao mundo onde até então vivi. Porém, os sons que me cercavam começavam a parecer mundanos, conversas em tom baixo, tilintar de objetos, sons indefinidos que formavam um ruído de fundo, tudo tão semelhante ao que sempre ouvi. Eu só posso estar vivo.
- Ele está agitado! – exclamou a voz do Mike.
- Vou chamar o doutor Phillis, a sedação está terminando. – disse a voz feminina antes de eu ouvir o baque de uma porta se fechando.
- Senhor Schelwis, como está se sentindo? – era uma voz grave e determinada. Eu tinha que abrir os olhos e saber o que estava acontecendo a minha volta.
- Oh, Adrian, Santo Deus! – ou eu muito me enganava ou aquela era a voz da mãe do Mike. Era a voz dela, pois a vi em pé ao meu lado segurando a minha mão.
- O que .... Onde es .... Quem é ....? – eu estava imerso numa dimensão de dúvidas.
- O senhor está no hospital, senhor Schelwis. Está tudo caminhando bem, o senhor vai para casa em poucos dias. – garantiu a voz grave do homem de cabelos negros e jaleco branco.
- Acabou, Adrian. Tudo acabou, você vai ficar bem e eu vou te levar para casa. – esse homem é mesmo lindo, é todinho meu, só meu, mesmo quando está com essa cara de quem não dormiu há dias.
- Eu te amo! – murmurrei com todas as forças que consegui juntar.
- Eu sei! Eu também te amo, querido. – eu também sabia disso. Soube quando ele me pespegou contra a parede do banheiro no quarto do hotel em Istambul e meteu o pauzão no meu cuzinho sem nenhum alento.
O projétil sofreu um pequeno e providencial desvio ao se chocar contra o osso externo, seguindo uma trajetória que passou a um centímetro do ventrículo direito e outro tanto da veia cava inferior, raspando de leve no lobo inferior do pulmão direito e estacionando junto a um arco costal. Foi como me explicou o doutor Phillis quando voltei a ter plena ciência das coisas, e de que estava recém operado para remover o projétil.
- Foi quase um milagre, não foi doutor? – questionou o Mike
- Pode-se dizer que sim! – confirmou o médico.
Juan Ortega Parranhos morreu com um tiro na cabeça da própria pistola minutos depois de efetuar o disparo contra mim. Foi durante a luta corporal com o jovem americano que tinha ouvido o tiro partindo da cozinha e veio ver do que se tratava. Para se defender e não virar a segunda vítima do cubano, eles se engalfinharam e, por fim, o disparo aconteceu, a um palmo da cabeça do cubano, espalhando seus miolos sobre o piso frio. Ele era um extremista de esquerda, tinha Fidel Castro como seu ídolo, e tinha passado os últimos seis anos na Rússia recebendo treinamento militar e aprendendo o idioma russo, onde conheceu o general Gueorgui Volkov que o incumbira de uma missão muito especial e particular. Foi a promessa de alguns milhares de dólares numa conta na Flórida, após o cumprimento da missão, que selaram o acordo dentre ele e o general. Com alguma ajuda, ele chegou facilmente ao território americano, recebendo até um visto que se provou ser falso durante as investigações.
- Nunca vamos ter paz, Mike! Se esse homem chegou até nós, outros virão. – afirmei, quando já estava em casa e restabelecido. – Não podemos mais continuar aqui, temos que fugir! – eu estava angustiado com a possibilidade sermos mortos a qualquer momento.
- Calma, meu amor! A CIA e o FBI vão redobrar os esforços para barrar a entrada de agentes secretos nos Estados Unidos, depois do que aconteceu. Não somos apenas nós dois que estamos correndo perigo, mas outros milhares de agentes que tiveram suas identidades descobertas e seus serviços a favor do ocidente identificados. Não adianta fugir, é aqui que estaremos seguros, confie em mim. – ele falava com tanta convicção que eu não encontrava argumentos para revidar. Além do mais, lugar algum desse mundo seria seguro e teríamos que viver fugindo até o último dos nossos dias. – Um dia isso tudo vai acabar, meu amor. Não seremos mais perseguidos devido as nossas condições de ex-agentes. – emendou.
O sol estava se pondo no último sábado da primavera, o Mike e eu estávamos tomando uma cerveja na varanda banhada pelos últimos raios dourados de sol, contemplando a brisa inclinar as hastes amarelas das espigas de trigo à medida que soprava na direção noroeste. Sob a copa de três olmos enfileirados num dos piquetes, algumas éguas pastavam ao som das cigarras agarradas aos troncos. Sam, o jovem que ajudou a salvar a minha vida, e que agora trabalhava contratado na fazenda enquanto ajeitava sua vida para se casar com uma garota que morava em Bozeman, tocava-as em direção aos estábulos para passar a noite. Ao passarem diante do piquete onde um garanhão premiado se impacientava com o cheiro do cio de uma das éguas; que lhe chegava as narinas trazido pela brisa vespertina, a égua trotou em direção à cerca. O garanhão relinchou, empinou agitando as patas dianteiras no ar, deixando bem visível o enorme cacetão sob o ventre desfraldado, galopou até a cerca onde a égua no cio se esfregava como se fosse uma puta aliciando o cliente. Em segundos estavam engatados através do vão entre os travessões do piquete. O garanhão socou o cacetão na égua que relinchava com as ancas tracionadas contra a cerca pelas patas enroscadas nos seus flancos.
- Esta noite é você quem vai relinchar assim para mim! – exclamou o Mike, virando-se na minha direção com um risinho libidinoso
- Vou precisar esperar até a noite? – questionei, provocando-o com um olhar sensual.
- Pensei que fosse mais confortável fazermos isso na nossa cama, mas estou aberto a sugestões. – devolveu sacana como sempre, quando se tratava de satisfazer sua pica.
Eu me levantei e caminhei até a cadeira na qual ele estava sentado. Só a aproximação já o fez se empertigar e encontrar uma posição mais favorável para abrir aquelas coxas grossas e musculosas que estavam dentro do jeans. Certifiquei-me de o Sam estar entretido em apartar o garanhão da égua quando a monta estivesse concluída para poder guiá-los até as baias, e me despi ali mesmo. Parte do meu corpo fulgurava com os raios dourados do sol e faziam o caralhão do Mike dar pinotes dentro da calça. Desafivelei o cinto dele, abri a braguilha do jeans e tirei o gigante impaciente lá de dentro. O Mike acompanhava cada movimento meu com um olhar interessado e cheio de tesão. Eu sorri na direção dele e coloquei a cabeçorra na boca, começando a chupá-lo com movimentos suaves e voluptuosos, fazendo o caralhão crescer e começar a minar pré-gozo. Liberei os testículos e os acariciei entre as pontas dos dedos. Os testículos do Mike pareciam estar sempre cheios, afogueando-o e respondendo por boa parte daquela energia viril e inquietante que o caracterizava. Ele gostava de se entregar pachorrento às minhas carícias em seus colhões. No começo do nosso relacionamento, ele sempre me advertia que estava para gozar, mas agora deixava rolar, sabendo o quanto eu adorava saborear seu sumo viril. Não precisei esperar muito mais para me ver engolindo sofregamente os jatos abundantes que ele ejaculava na minha boca, agarrando meus cabelos e grunhindo de prazer.
- Adrian, seu safado! Você é um perigo para qualquer macho, especialmente com essa pele refletindo esse dourado lascivo. – ronronou ele, enquanto me sentava em seu colo com as pernas abertas e virado de frente para seu rosto risonho e hirsuto.
- Eu safado? Quem é que acabou de me fazer uma proposta indecente só porque viu dois cavalos trepando? – ele apenas sorriu e me envolveu com seus braços.
- Eu te amo, sabia? Não sei o que teria sido de mim se tivesse te perdido com aquele tiro. Jura que nunca vai me abandonar! – eu coloquei um beijo carregado de carinho e tesão nos lábios dele, movendo meu quadril nu sobre a virilha pentelhuda dele.
- É desse amor que eu vivo, Mike! Você já devia saber disso. Amo você cada dia mais, meu bestalhão tesudo! – respondi, sentindo que, aos poucos, meu cuzinho estava sendo invadido pelo caralhão dele, e abri as preguinhas para aconchegar aquele falo indômito.
Uma lua em quarto crescente já começava a se esboçar no céu, que perdia ligeiro o brilho, e servia de ouvinte para os últimos acordes das cigarras. Eu continuava nos braços do Mike, a cabeça encostada em seu ombro, os braços envolvendo seu pescoço, uma das mãos afagando sua nuca e o cuzinho encharcado de porra, onde o cacetão consistente dele permanecia alojado e abrigado no meu amor. A promessa dele de que eu estaria seguro ali se confirmara, ele sempre tinha razão, mesmo quando ele mesmo não sabia se tinha.